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ANA LUCIA PEREIRA BORGES EBENRITTER. Introdução

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Academic year: 2021

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HISTÓRIA E MEMÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR PRIMÁRIA RURAL NO SUL DE MATO GROSSO: A ESCOLA PRIMÁRIA RURAL FAZENDA MIYA E A PROFESSORA TIEKO MIYAZAKI ISHY (1965-1975)

ANA LUCIA PEREIRA BORGES EBENRITTER

Introdução

Este trabalho faz parte de uma pesquisa em andamento, que tem o objetivo de analisar a história de uma instituição escolar primária rural instalada por imigrantes japoneses no distrito do Guassú, município de Dourados, no Sul de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), na década de 1960. A pesquisa que dá origem a este trabalho busca analisar o papel da professora Tieko Miyazaki Ishy, no processo de criação e instalação desta escola, identificar o que a instalação desta instituição escolar representou para o distrito do Guassú e as localidades em seu entorno, caracterizar o perfil de seus alunos e ainda examinar como era o seu ensino, no período compreendido entre os anos de 1965 a 1975.

O recorte temporal entre 1965 a 1975 corresponde a períodos da história dessa escola primária rural do distrito do Guassú. O ano de 1965 marca o início da atuação docente de Tieko Miyazaki Ishy, como professora leiga ministrando aulas ainda em sua própria residência. O ano de 1975 sinaliza o período de construção em alvenaria do novo prédio dessa escola, que desde 1966 funcionava em uma construção feita em madeira.

O trabalho fundamenta-se, nos referenciais ligados à história, história e historiografia da educação, história de Mato Grosso, ensino rural, entre outros. As fontes que embasam este trabalho são constituídas por Relatórios e Mensagens de governadores do Estado de Mato Grosso, Relatórios de Secretários de Estado, dados censitários, legislação, fotografias, livros de matrículas, atas de reuniões e documentos do acervo pessoal de Tieko Miyazaki Ishy, entre outros. Recorre-se, as entrevistas com a professora Tieko Miyazaki Ishy, antigos moradores do distrito do Guassú e ex-alunos da Escola Primária Rural da Fazenda Miya.

Mestranda em Educação do Programa de Pós Graduação da Universidade Federal da Grande Dourados

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A história das instituições educacionais, no entendimento do autor português Justino Magalhães (1996) constitui-se, em domínio do conhecimento historiográfico em renovação na História da Educação. Para o autor,

Uma renovação onde novas formas de questionar-se, cruzar com um alargamento das problemáticas e com uma sensibilidade acrescida à diversidade dos contextos e à especificidade dos modelos e práticas educativas. Uma abordagem que permita a construção de um processo histórico que confira uma identidade às instituições educativas (MAGALHÃES, 1996, p.1).

As instituições educacionais não estão isoladas em seu contexto histórico e sim, tem suas especificidades de formação e apresenta uma amostra do que realmente acontece no contexto educacional do país por sua complexidade e sendo fonte de pesquisa e informações para análises sobre o processo de ensino, escolarização, cultura escolar entre outros. “A história das instituições educativas demonstra um determinado itinerário pedagógico, uma identidade histórica específica, um processo de evolução” (MAGALHÃES, 2004, p.61).

Os estudos sobre a instituição escolar consiste em aprofundar sobre as origens ou natureza dos seus sujeitos, desdobrando-se nas aproximações a educação na sua multidimensionalidade, ora visto que a escola abrange um "contexto social, econômico e cultural, uma relação com a materialidade, às práticas de representação e apropriação (MAGALHÃES, 2004, p.67)".

Ao investigar e analisar uma instituição escolar primária rural no Sul de Mato Grosso, em uma perspectiva histórica, esforça-se para "conhecer e caracterizar os atores e os sujeitos, inferir os seus objetos de ação, expectativas, formas de realização e de participação (MAGALHÃES, 2004, p. 146)". Conforme registra este autor, "a história das instituições educativas é um campo de investigação em que a instituição e a educação se articulam por ação dos sujeitos” (MAGALHÃES, 2004, p.67).

O presente texto foi organizado em duas partes. A primeira discorre sobre a imigração japonesa para o Brasil e, mais especificamente, para o Sul de Mato Grosso, focalizando a vinda da família Ishy. A segunda parte trata da atuação da professora Tieko Miyazaki Ishy no Distrito do Guassú, bem como o seu papel no processo de criação e instalação da Escola Primária Rural da Fazenda Miya, no período em estudo.

A Imigração Japonesa para o Brasil: a vinda da família Ishy para o Sul de Mato Grosso

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A vinda de imigrantes japoneses para o Brasil tem um enfoque na ordem econômica, e ideológica. O Japão estava diante as dificuldades econômicas e o aumento da população em meados do século XIX, isso fez com que o governo japonês adota-se uma política de emigração, com trabalho temporário no exterior (SAKURAI, 2014).

Em 1868, o governo japonês inicia uma série de reformas que visam a modernização e a inserção do país na economia mundial e a emigração apontou-se como uma alternativa. A emigração também está relacionada com aspecto demográfico. Os japoneses se preocupavam com problemas de crescimento populacional e procuravam novos lugares para viver. "Pelo lado dos imigrantes nota-se que o Brasil era a oportunidade de um futuro melhor para si e seus descendentes (TANAKA.2010)".

O Brasil recebeu imigrantes de vários países tendo uma vasta mão de obra, que se dispunham em recuperar o atraso econômico, o fim da escravidão, corrigindo falhas frente a expansão da agricultura e introduzindo novidades à modernização de produção. "O Brasil tem interesse pela mão de obra japonesa em 1902 quando o governo italiano restringe a vinda de novos imigrantes (TANAKA.2010)".

Além disso, a emigração era uma boa oportunidade de mandar "os camponeses pobres para fora do Japão. O governo japonês passou a financiar, organizar e divulgar a emigração (TANAKA, .2010, p.39)". O Brasil passa a ser visto como um destino para trabalhadores e mercado de investimento.

Em terras brasileiras, os imigrantes japoneses tinham o primeiro contato com os agenciadores japoneses bilíngue que fornecia as primeiras instruções. Estes faziam o itinerário desde o desembarque no Porto de Santos, até o transporte de trem para a Hospedaria dos Imigrantes (INAGAKI,2008). Ao chegar na hospedaria, eram alimentados, cadastrados, e encaminhados para as fazendas do estado de São Paulo, nas linhas ferroviárias Mogiana, Ituana, Paulista e Sorocabana, "para trabalharem nas fazendas de cafezais, nestas fazendas acabavam substituindo a mão de obra escravista. (INAGAKI, 2008, p.26)".

No entanto, os imigrantes japoneses estabeleciam relações de trabalho com o foco ajuntar dinheiro rápido, acumulá-lo e regressar para à terra natal. Mas os desafios a enfrentar

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eram muitos, entre eles a dificuldade de comunicação devido a língua, e aspectos voltados a alimentação.

Entretanto, os imigrantes japoneses que tinha como projeto a permanência temporária no Brasil, não obtinham rendimentos financeiros suficientes trabalhando nas fazendas de café. Então foram obrigados a buscar melhores salários em outras atividades. Aparecem os primeiros" mascates japoneses na região de Mogiana, que percorriam as fazendas de café negociando miudezas. Estes mascates na década de 1920, montam pequenas lojas em São Paulo, no bairro da Liberdade” (RACHI, 2003, p. 87). Assim, surgem os primeiros comerciantes japoneses que tinham os lavradores como fregueses, as primeiras pensões, barbearias, originando uma maior estabilidade financeira.

Depois de 1930, a participação no processo de industrialização de pequeno porte torna-se bastante explícito aos japonetorna-ses, quando pequenas industriais de produto da culinária japonesa, nasce em São Paulo. “No pós-guerra, acelera-se notavelmente o ritmo de diversificação ocupacional entre japoneses e seus descendentes (SAITO, 1961, p.166)".

No entanto, a chegada dos primeiros japoneses a Mato Grosso está ligada a "construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que ligava Bauru (SP) às margens do rio Paraguai no Porto Esperança, próximo a Corumbá (MT) no ano de 1909. (INAGAKI,2008, p..32)". Os imigrantes japoneses foram atraídos por uma renumeração maior por este trabalho. Com o término da construção da estrada de ferro algumas famílias japonesas se interessam em permanecer residindo no estado de Mato Grosso, "com o propósito de então, de se engajar em trabalhos como arrendatários ou de ameia,1 nas plantações de café. Posteriormente, passar para o cultivo do arroz, pecuária e comercio e serviços (RACHI,2003, p.94)".

Foi em uma expectativa de um futuro mais promissor a família Ishy aposta em uma oportunidade de crescimento econômico no Brasil, imigrando-se para o Brasil em 1942 com instalação inicialmente no interior de São Paulo, especificamente na cidade de Rosália, pertencente ao município e comarca de Marília. Posteriormente, se mudaram para Bataguassu, cidade no Sul de Mato Grosso, onde passaram a ter como atividade econômica a agricultura, com o desenvolvimento do plantio de arroz irrigado. Porém, os motivos que interessaram a

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família Ishy, em se instalar no Sul de Mato Grosso foram desencadeados pelos rumores de terras férteis, para a projeção da agricultura com valor de compra baixo.

Para tanto, nesse mesmo período de vinda da família Ishy, a conjuntura do estado de Mato Grosso estava na projeção política nacionalista de Getúlio Vargas, que buscava a integração nacional tendo como pano de fundo o programa Marcha para Oeste, com foco em delimitação territorial. Na tentativa de efetivar posses territoriais e a exploração das imensas regiões fronteiriças, praticamente desertas, com uma organização administrativa em prol do desenvolvimento socioeconômico.

No entanto, a Marcha para Oeste desponta com interesses do governo pelo controle das terras ervateiras que estavam sobre o controle da empresa Companhia Mate Laranjeira2. Assim, ao colocar em evidencia o Sul de Mato Grosso com a Marcha para o Oeste, tentava imprimir um imagem de futuro: “finalmente integrada ao corpo da nação, a região de fronteira alcançava progresso e desenvolvimento que parte do país desfrutava (GUILLEN,1996, p.43)".

O presidente Getúlio Vargas que utilizou o slogan Marcha para o Oeste, com descrições em seu projeto político de ocupar e povoar os espaços vazios, nacionalizando as fronteiras do antigo Sul do Mato Grosso, com a Bolívia, e sobretudo, com o Paraguai, promovendo a colonização por meio de trabalhadores rurais, que foram conquistados pela divulgação da boa qualidade da terra, a qual poderia trazer um notável desenvolvimento da região.

A marcha para o Oeste combinava fatores econômicos e objetivos políticos, pois em um contexto de expansão do capitalismo industrial um dos objetivos do Estado Novo era atender a demanda do mercado interno por gêneros alimentícios, por meio da chamada política de nacionalismo e segurança das fronteiras, o que se dava por meio da ocupação dos espaços considerados oficialmente vazios, para assim garantir a defesa do território nacional (PONCIANO, 2006).

Foi por meio da propaganda oficial e popular, que milhares de cidadão brasileiros e imigrantes ocuparam as novas terras. Estas terras foram ocupadas, principalmente pelos

2 A esse respeito, a Companhia Mate Laranjeira era arrendatário de terras, na atuação de exploração dos ervais da região, isso acontecia de forma direta e exclusiva. Queiroz (2008, p.23) explica que, “em 1941, atendendo às recomendações da Comissão de Faixa de Fronteira e do Conselho de Segurança Nacional, Vargas não autorizou a renovação do arrendamento à Matte”.

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migrantes paulistas, mineiros, catarinenses, paranaenses, um grande número de nordestinos e, em um momento posterior os japoneses.

No Sul de Mato Grosso, o projeto colonizador intitulado Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), corroborou não só para o desenvolvimento econômico desta região, mas para a diversidade cultural. O território da Colônia Agrícola Nacional de Dourados englobava os atuais municípios de Dourados, Fátima do Sul, Vicentina, Glória de Dourados, Jateí, Douradina e Deodápolis. ''A área total delimitada pelo governo federal a CAND era de 300.000 ha, mas acabou sendo reduzida para 267.000 ha, dividida em duas zonas, uma à esquerda do rio Dourados com 68.000ha, e o restante à direita do rio (PONCIANO, 2006)".

Entretanto, o distrito do Guassú não estava na demarcação da CAND, pois era uma região ocupada por ervais. É oportuno esclarecer aqui que, a economia ervateira perpassa toda história do Sul de Mato Grosso desde da segunda metade do século XIX até a primeira metade do século seguinte, conforme já mencionado anteriormente. Nesta parte do Sul de Mato Grosso,

A empresa Cia. Mate Laranjeira tinha a preponderância na atividade de exploração de erva mate, exportando-a ao mercado platino, principalmente, à Argentina. O ciclo da erva-mate teve início com o decreto nº 8.799 de 9 de dezembro de 1882. Por meio do qual, o governo imperial legalizava a concessão de exploração da erva-mate em terras devolutas da província de Mato Grosso à Tomaz Laranjeira" (PONCIANO,2006, p.30).

Apesar de a economia ervateira ter sido movimentada pelos produtores independentes, as terras da região do Guassú eram de terras de extração da erva nativa, esta extração era realizada por produtores independentes e com acesso ao rio Dourado. Esta terras passam a ser requeridas por políticos e alguns oficiais do governo.

Contudo, no ano de 1956, a família Ishy muda-se da cidade de Bataguassu para o distrito do Guassú, onde a frente pioneira estava no seu ápice, com a compras e vendas de grandes glebas de terras, por pessoas que antes vinculadas com a economia ervateira. A família Ishy observando que as terras eram férteis e com valores baixos, pois o interesse era em terras com pouco espigão e mais várzeas, que era para o cultivo do arroz irrigado, o que pouco interessava aos proprietários da região do Guassú, assim resolveram comprar as terras.

Inicialmente, vieram os homens da família Ishy, eles vieram conhecer a futura propriedade, verificar se agradava o que viam, se as terras eram boas, com muitas fontes de

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água, propicias para o plantio do arroz. Somente meses depois mudaram com toda a família para o Guassú, uma vez que a viagem para esse Distrito era repleta de obstáculos, referentes as estradas, enchentes e a falta de pontes.

Ao chegar ao distrito do Guassú, a família Ishy trabalhou em prol de um crescimento econômico e estabilidade financeira. Desse modo, procuraram realizar as produções agrícolas agregando algumas famílias em caráter de funcionários na fazenda para o trabalho na lavoura, o desbravamento da mata nativa e na abertura de estradas, contava também com trabalhadores em caráter de diaristas.

Estes trabalhadores brasileiros3 como eram chamados, cuidavam na lida do plantio até a colheita do arroz, como também no desmatamento, onde se catavam tocos das árvores, na abertura de estradas, na construção de cercas e outros. Em um cenário rural e distante de suas raízes a família Ishy cresceu economicamente no distrito do Guassú.

O Senhor Kasutami Ishy casou-se com a senhora Tieko Miyazaki Ishy no ano de 1960. A senhora Tieko Miyazaki Ishy também imigrante japonesa, antes do casamento residia na cidade de Dracena perto de Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo. Após o casamento, a senhora Tieko Miyazaki Ishy veio residir na Fazenda Miya que estava economicamente estruturada no distrito do Guassú. O senhor Kasutami Ishy era viúvo e pai de um filho que necessitava ser alfabetizado. Assim, a senhora Tieko Miyazaki Ishy percebeu a necessidade de alfabetizar seu enteado.

A família Ishy, já estruturada economicamente e com uma estabilidade financeira, não projetava retornar para seu país de origem. E, sim, ter uma maior inserção na atividade econômica que exercia.

O exercício da docência de Tieko Miyazaki Ishy no Distrito do Guassú, a criação e instalação da Escola Primária Rural Fazenda Miya

Na década de 1960, a escolarização não tinha atingido os mais adversos extremos do Sul do estado de Mato Grosso. Um dos percalços a esta realidade era a falta de escolas suficientes para atender todas as crianças em idade escolar das áreas rurais, as dificuldades de

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funcionamento das escolas, perpassando, principalmente pela falta de docentes com habilitação, o que dificultava o processo de escolarização (FURTADO; PINTO, 2013). No caso do município de Dourados, essa questão do ensino primário rural era bem marcante e característico da época, conforme mostram os estudos de Irala (2014), que sinalizam a falta de escolas, a falta de professores, sobretudo, de professores habilitados adequadamente para o exercício da docência.

A senhora Tieko Miyazaki Ishy percebendo a necessidade de alfabetizar seu enteado, deu início aos estudos de seu enteado sendo a professora do mesmo, em casa com o anseio de ensiná-lo a ler, escrever e a calcular. No ano de 1965, a senhora Tieko ministrava aulas na varanda de sua casa. Contando com três alunos, seu enteado e mais dois filhos de funcionários da fazenda de seu esposo.

A notícia que a senhora Tieko estava dando aula se propagou, surgindo o interesse de outros moradores da Fazenda e do distrito do Guassú. No ano seguinte já havia 27 alunos, todos sobre os cuidados da senhora Tieko, na busca pela alfabetização. O material didático utilizado nas aulas era comprado no interior de São Paulo, mais precisamente, na cidade de Presidente Prudente, com recursos financeiros da própria Tieko.

No início, a senhora Tieko Miyazaki Ishy, não tinha nenhum tipo de formação específica para o exercício da docência, desenvolvia um trabalho como professora leiga. É oportuno registrar aqui que, Tieko Miyazaki Ishy tinha uma formação escolar recebida na Escola Artesanal, uma instituição de ensino primária que frequentou ainda quando morava no interior paulista. Como imigrante japonesa Tieko enfrentava desafios e dificuldades de comunicação no Brasil, pois só falava o idioma em japonês. Isso fez com que os seus pais, a matricula-se por dois anos na Escola Artesanal, que era toda paga por eles. Nesta Escola Artesanal, Tieko Miyazaki Ishy aprendeu a ler, falar e escrever, em Língua Portuguesa e a calcular. Além disso, aprendeu a costurar, bordar, cozinhar, jardinagem, ofícios esses bem voltados para o sexo feminino.

De um modo geral, pode-se dizer que a Escola Artesanal acabava oferecendo com o seu ensino, um aperfeiçoamento para as meninas também ser tornarem futuramente esposas e donas de casa. Em 1959, Tieko cursou também em Presidente Prudente, o Núcleo de Ensino

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Profissional Livre, onde teve o seu aprendizado de Corte e Costura reforçado com os seus conhecimentos já adquiridos na Escola Artesanal.

Em 1966, com o crescimento no número de alunos, foi construída uma escola em madeira de 6m x 8m pela família Ishy na sua própria propriedade. Em uma construção simples em madeira, a Escola da professora Tieko, na Fazenda Miya de propriedade da família de seu esposo, funcionava em regime multisseriado, reunindo em uma mesma sala, alunos com idades e níveis diferentes de escolarização. Stephanou e Bastos (2009, p.281) apontam que na classe multisseriada, "era comum encontrar na mesma sala de aula alunos que não conheciam as primeiras letras e outros que já sabiam ler e escrever, todos sob a orientação de um só professor".

A professora Tieko Miyazaki Ishy abria as portas de sua casa para alguns alunos que residiam durante a semana para que os mesmos pudessem frequentar as aulas, pois a distância entre a escola e a casa dos aluno era muito grande. Os alunos além de estudar eram responsáveis pela limpeza da sala, a merenda era feita pela professora e os alunos maiores ajudavam, as regras eram duras os alunos aprendiam desde como se sentar à mesa, saber se comportar, costurar as roupas quando necessário, todos os dias cantavam o hino nacional.

Durante a gestão do Prefeito Napoleão Francisco de Souza, no ano de 1966 ocorreu a oficialização do funcionamento desta Escola em caráter de ensino primário rural, multisseriada, nas propriedades da família Ishy, delegando a responsabilidade para a professora Tieko Miyazaki Ishy de atender a demanda de crianças e jovens da região do Guassú, com o desafio de ensinar a ler e escrever. A professora Tieko não era renumerada para o cargo que exercia.

Com o Decreto Municipal nº 044, de 2 de Maio do ano de 1970, que a escola é denominada de Escola Municipal de 1º Grau Fazenda Miya, e a professora Tieko passa para o quadro de funcionária municipal de Dourados. Exercendo a docência e tendo a responsabilidade com todos os aspectos de funcionamento da escola como as matriculas, as transferências, atestados e outros.

Com a municipalização da Escola Primária Rural da Fazenda Miya pelo município de Dourados. A professora leiga Tieko Miyazaki Ishy, vai em busca de uma formação escolar para atender melhor os seus alunos. No ano de 1973 cursou em caráter de supletivo na Escola Estadual de 1º e 2º Grau Presidente Vargas. Posteriormente concluiu o Curso de Habilitação

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do Magistério de 1º Grau nível I a IV, mais especificamente no ano de 1977, no Colégio Normal São Francisco em Rondonópolis em Mato Grosso, em caráter intensivo de férias, que foi uma exigência da Secretaria Municipal de Educação de Dourados para continuar as suas atividades docente no ensino primário rural no distrito do Guassú.

Desse modo, a professora Tieko Miyazaki Ishy teve uma atuação significativa no Sul de Mato Grosso, pois, ao promover a escolarização de crianças do distrito do Guassú e de seu entorno, possibilitou a criação e a instalação de uma escola primária rural, em uma época que Mato Grosso, mesmo com a expansão do ensino primário, ocorrida nas áreas da Marcha para o Oeste, no município de Dourados, segundo registram a Mensagem de Governador de Estado de Mato Grosso, do ano de 1955, ainda carecia de um número suficiente e de escolas e professores para atuar nesses estabelecimentos (FURTADO;PINTO, 2013).

Assim, pode-se dizer que a atuação da professora Tieko Miyazaki Ishy teve uma forte representação no desenvolvimento do Guassú, pois a sua iniciativa que surgiu dentro de sua casa, acabou tornando até nos anos de 1970, com o seu crescimento em uma Escola Municipal Fazenda Miya. Em realidade, o seu trabalho docente acabou modificando o cenário de analfabetismo e contribuir para um novo perfil das crianças do distrito do Guassú, no Sul de Mato Grosso, sobretudo, nas décadas de 1960 e 1970.

Espera-se que este trabalho contribuía para a produção e ampliação dos estudos em torno da história do ensino primário rural brasileiro e, mais especificamente, para a história do ensino primário rural do estado Mato Grosso do Sul (Sul de Mato Grosso).

Referências

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IRALA, Clovis. Educação Rural em Dourados: A Escola Geraldino Neves Correa

(1942-1982) / Clovis Irala. -Dourados, MS: UFGD,2014.

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