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GRUPO DE TRABALHO 3 MÍDIA E POLÍTICA.

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GRUPO DE TRABALHO 3

MÍDIA E POLÍTICA.

FALAS CIDADÃS NOS WEBSITES DOS

CANDIDATOS A PREFEITO NAS ELEIÇÕES DE

2008

María Alejandra Nicolás

Andressa Silvério Terra França

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FALAS CIDADÃS NOS WEBSITES DOS CANDIDATOS A PREFEITO NAS ELEIÇÕES DE 2008

María Alejandra Nicolás1 Andressa Silvério Terra França2

Resumo:

O objetivo do artigo é analisar os mecanismos de veiculação de “falas cidadãs” nos websites dos candidatos a prefeito de Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba nas eleições de 2008. Entendemos por esses mecanismos de "falas cidadãs", os dispositivos tais como envio de comentários, enquetes, chat, fórum, dentre outros, que permitem as "falas" do público em geral e não especificamente da militância partidária (BLANCHARD, 2006). Norteiam nosso trabalho as seguintes questões: Estes mecanismos representam inovações na comunicação política em campanhas eleitorais? Em que medida estes dispositivos foram utilizados pelos candidatos para interagir e se comunicar com os possíveis eleitores? Nossa hipótese de trabalho é que esses espaços de comunicação são disponibilizados de maneira desigual pelos candidatos em seus websites, se comparados com outros mecanismos que tendem a veicular principalmente a difusão de informação do candidato e da campanha. Procuraremos demonstrar nossa hipótese, por um lado, através da construção de uma planilha com uma série de itens que dizem respeito às seguintes dimensões: i) Navegabilidade/acessibilidade; ii) Informação; iii) Comunicação e mídia; vi) Participação e interação; v) Accountability. E por outro lado, através de uma análise qualitativa das principais experiências de “falas cidadãs” encontradas nos websites dos candidatos analisados.

Palavras-chave: internet; eleições; falas cidadãs.

Abstract:

This article aims to analyze the mechanisms of ordinary “citizens´speeches” on the websites of candidates from Porto Alegre, Florianopolis and Curitiba in the 2009 major campaign. Mean by such mechanisms of “citizens´speeches”, the devices such as transmission of comments, polls, chat, forum, and others, that enabling the "talk" to the public in general and not specifically of the militant party (BLANCHARD, 2006). Guide our work the following questions: They represent innovations in political communication in election campaigns? The extent to which these devices were used by candidates to interact and communicate with potential voters? Our working hypothesis is that these spaces of communication are available in unequally by candidates on their websites, if compared with other mechanisms that tend to serve mainly the dissemination of candidates´ information and campaign. Seek to demonstrate our hypothesis, firstly, by building a spreadsheet with a number of items that relate to the following dimensions: i) navigability/ accessibility ii) information, iii) communication and media; vi) participation and interaction, v)

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accountability. And secondly, through a qualitative analysis of the main experiences of “citizens´speeches” found on the websites of the candidates examined.

Key words: internet; elections; citizens´speeches.

Introdução3

O surgimento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs)4 na metade do século XX e seu posterior desenvolvimento e massificação nestes últimos anos vem suscitando importantes debates acerca de seu papel nas sociedades contemporâneas e, mais particularmente, sobre a participação civil nas democracias liberais. Teóricos, políticos, governos e imprensa têm disseminado a idéia de que, essa nova tecnologia, principalmente a Internet, ao abrir canais de comunicação mais práticos e econômicos tem modificado a forma como as pessoas se relacionam. A Política, como parte integrante do conjunto das relações sociais, também não deixaria de sofrer sua influência.

Refletindo o interesse cada vez maior dos estudiosos sobre os impactos da internet nos processos de representação política e nos sistemas políticos contemporâneos de uma maneira geral, a questão do uso das novas tecnologias nas democracias representativas vem suscitando uma produção científica expressiva, que busca analisar os diferentes usos da web pelos governos, parlamentos, candidatos políticos, parlamentares, partidos políticos, ou ainda, movimentos sociais. Para fins da presente pesquisa, interessa-nos, mais especificamente, os estudos dedicados a analisar o uso da internet pelos candidatos em campanhas eleitorais.

Neste sentido, devemos mencionar a existência de uma bibliografia crescente, especialmente nos EUA e no continente europeu, sobre o uso de websites, blogs e redes sociais na Net nas campanhas eleitorais (DAVIS, 1999; IRELAND & NASH, 2001; BIMBER & DAVID, 2003; CORNFIELD, 2004; TRIPPI, 2004; LUSOLI & WARD, 2005; LUSOLI, 2005; COHEN, 2006; NORRIS & CURTIS, 2006; PARKIN, 2007; GAINOUS & WAGNER, 2007). Também neste sentido, começam a surgir no Brasil alguns estudos dedicados especificamente a analisar o papel da Internet na organização de pleitos eleitorais, tendo especialmente por objeto de estudo os usos da web pelos candidatos às diferentes eleições.

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A presente pesquisa foi desenvolvida no Núcleo de Pesquisa: “Democracia, Instituições Políticas e Novas Tecnologias”, do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, do qual as autoras fazem parte. Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no XIV Congresso Brasileiro de Sociologia, 28 a 31 de julho de 2009, Rio de Janeiro (RJ).

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As Tecnologias da Informação e Comunicação compreendem três áreas: as telecomunicações, as emissões radiais e televisas e a Internet (FRICK, 2006, p.175).

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Podemos mencionar um primeiro grupo de estudos que vem se desenvolvendo nos últimos anos no Brasil e que partem da ótica estrita do cientista político interessado nos múltiplos aspectos do uso da Internet por candidatos nas democracias representativas (FERNANDEZ, 2005; IASULAITIS, 2007; BRAGA et. al., 2007). Essa vertente de estudos visa à elaboração de estudos mais abrangentes sobre a utilização da web pelos candidatos, e busca aprofundar a reflexão sobre as múltiplas dimensões da atuação política dos candidatos em seus blogs ou websites (navegação, informação, comunicação, participação, interação, comunicação vertical e horizontal, dentre outras dimensões).

Outra vertente de estudos, parte da ótica da comunicação política, destacando-se a esse respeito o trabalho de ALDÉ & BORGES (2004) sobre o papel das home pages dos candidatos presidenciais às eleições de 2002 na construção da pauta dos órgãos da grande mídia. BRANDÃO & BATISTA (2007) analisam o perfil dos eleitores que participaram dos debates políticos na internet durante a campanha presidencial de 2006, para isso analisam os e-mails enviados aos candidatos em seus websites, a troca de mensagens nas comunidades mais importantes dos candidatos no site de relacionamento Orkut e também os websites dos candidatos.

O objetivo deste artigo é analisar em que medida o uso da internet incentiva inovações em termos de comunicação política. Sendo assim, busca-se analisar os mecanismos de veiculação de “falas cidadãs” nos websites dos candidatos a prefeito de Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba nas eleições de 2008. Entendemos por esses mecanismos de "falas cidadãs", os dispositivos tais como envio de comentários, enquetes, chat, fórum, dentre outros, que permitem as "falas" do público em geral e não especificamente da militância partidária (BLANCHARD, 2006). Norteiam nosso trabalho as seguintes questões: Estes mecanismos representam inovações na comunicação política em campanhas eleitorais? Em que medida estes dispositivos foram utilizados pelos candidatos para interagir e se comunicar com os possíveis eleitores?

Procuraremos cumprir este objetivo, por um lado, através da construção de uma planilha com uma série de itens que dizem respeito às seguintes dimensões: i) Navegabilidade/Acessibilidade; ii) Informação; iii) Comunicação e Mídia; vi) Participação e Interação; v) Accountability. E por outro lado, através de uma análise qualitativa das principais experiências de “falas cidadãs” encontradas nos websites dos candidatos analisados. Nossa hipótese de trabalho é que esses espaços de comunicação são disponibilizados de maneira desigual pelos candidatos em seus websites, se comparados com outros mecanismos que tendem a veicular principalmente a difusão de informação do candidato e da campanha.

Organizaremos nossa exposição da seguinte forma: 1) Inicialmente, faremos uma pequena revisão dos efeitos que o uso das TICs tem produzido nos sistemas políticos democráticos

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contemporâneos, principalmente no que se refere aos mecanismos de informação, comunicação; “accountability”; participação e interação. Também, destacamos alguns trabalhos que serviram de referência para a elaboração desta pesquisa, no tocante ao uso da Internet por partidos políticos e candidatos; 2) Posteriormente, apresentamos a metodologia empregada; 3) Em seguida, examinaremos algumas evidências empíricas da pesquisa; 4) A continuação, apresentamos as principais experiências de “falas cidadãs” detectadas na web. Por fim, encerraremos o artigo com algumas considerações finais.

1 Revisão da Literatura

Com efeito, diversos autores têm procurado analisar os impactos que o uso das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), especialmente a internet, provoca e pode provocar sobre a democracia contemporânea. Estes novos meios possuem potencialidades técnicas de interação mais horizontais, quando comparados aos meios anteriores como a televisão, o rádio e a imprensa escrita. Diante deste potencial interativo, haveria agora novas possibilidades de melhorar a participação do cidadão nos negócios públicos, na tomada de decisão política e até mesmo, em alguns casos, de fazer com que a própria esfera civil tome as decisões até então restritas à esfera política (SILVA, 2005).

Em princípio verificamos posições polarizadas entre os autores, que se dividem entre visões pessimistas, otimistas ou céticas sobre as potencialidades das TICs para revitalizar as democracias parlamentares e os partidos políticos contemporâneos. Alguns teóricos chegam a vislumbrar a emergência, por meio da Internet, de uma nova modalidade de democracia, a “democracia direta eletrônica”, sistema no qual os cidadãos se encontrariam em um ambiente virtual de deliberação sobre os temas de interesse comum: a “Ágora Virtual” (MORAES, 2000). Outros estudiosos “cyberpessimistas” ou “cybercéticos” reconhecem que a Internet tem um grande potencial democratizante, mas sem chegar aos extremos de instaurar, por si mesma, alguma variante de “democracia deliberativa” ou mesmo uma “democracia participativa direta” nas sociedades contemporâneas, e nem residiria aí necessariamente sua principal contribuição ao aperfeiçoamento do processo político. Baseando-se em evidências empíricas, os estudos chamam a atenção para aspectos ou dimensões mais “negativas” da comunicação on-line. Conforme argumenta Gomes:

Em suma, apesar das enormes vantagens aí contidas, a comunicação on-line não garante instantaneamente uma esfera de discussão pública justa, representativa, relevante, efetiva e igualitária. Na internet ou “fora” dela, livre opinar é só opinar. Além disso, com o predomínio de democracias digitais de primeiro grau, os sites partidários são em geral meios de expressão de mão única, e os sites governamentais se constituem como meios de delivery dos serviços públicos mais do que formas de acolhimento da opinião do público com efeito sobre os

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produtores de decisão política. Assim, se por um lado, a internet permite que eleitores forneçam aos políticos feedbacks diretos a questões que eles apresentam, independentemente dos meios industriais de comunicação, por outro lado, não garantem que este retorno possa eventualmente influenciar a decisão política (GOMES, 2005, p.221).

Em contraste com a perspectiva acima, Pippa Norris (2000; 2001) representa uma linha de estudos de visão mais moderada sobre as relações entre internet e política. A autora acima rejeita a idéia tanto de autores “cyberotimistas”, segundo os quais a Internet levará a uma democracia direta virtual ou “deliberativa”, como dos “cyberpessimistas”, que crêem que nada será mudado com a emergência da web, baseados no argumento de que as TICs apenas irão reforçar os padrões de comunicação (e de poder) existentes atualmente. As TICs podem, de fato, aproximar elites dirigentes e cidadãos comuns, mas tal fenômeno ocorrerá dentro dos quadros do modelo democrático representativo parlamentar. Norris desenvolve o argumento de que há duas principais influências da Internet sobre as democracias parlamentares modernas: ampliar os canais de

informação pública acessíveis à população e dinamizar a comunicação da sociedade com as

instituições políticas representativas. Cidadãos e grupos de interesse poderão participar mais ativamente do processo político em virtude das facilidades de comunicação, partidos políticos terão à frente novas condições para a competição, a sociedade civil poderá organizar mobilizações de modo mais fácil e a transparência do poder público será ampliada, devido à difusão de informações públicas. Os efeitos cumulativos desse processo poderão potencializar a consciência cívica dos cidadãos e eventualmente redundar na criação de “subsistema político virtual” que fortaleceria as instituições políticas mais relevantes e os atores políticos mais engajados (cidadãos esclarecidos, imprensa, movimentos sociais, grupos de interesse, partidos políticos, etc.), sobretudo nas democracias em processo de consolidação.

Também dentro dessa linha representada por autores “cyberotimistas moderados”, podemos destacar o enfoque de EISENBERG (2002; 2003), que admite que a Internet produzirá impactos sobre a ação política e que poderá promover a ampliação da democratização nas sociedades contemporâneas, embora considere precipitada a visão dos otimistas de que a web criará uma “Ágora Virtual” ou de que será a solução para os problemas da legitimidade da democracia moderna, especialmente de alguns países desenvolvidos, tais como a apatia eleitoral e ou o desinteresse de segmentos consideráveis da população em relação à atividade política. A potencialidade de uma alta capacidade de interação entre receptor e emissor (o que não era possível ou, ao menos, era muito difícil, por meio das mídias tradicionais) propiciada pela Internet, é destacada pelo autor como a principal característica democratizante de tal ferramenta tecnológica, embora também sublinhe a existência de alguns riscos e aspectos negativos no uso da Internet, do ponto de vista da emergência de uma cidadania autenticamente “republicana”.

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Por fim, mais recentemente, acreditamos que vem surgindo outra vertente de estudos, formada por “cyberpessimistas moderados” que, embora reconhecendo alguns avanços propiciados pela internet no que se refere à ampliação do fluxo de informação e de comunicação entre os diferentes atores que interagem nos sistemas políticos democráticos contemporâneos, constatam o pouco espaço ocupado nos websites por linguagens mais inovadoras, fora dos limites das mídias tradicionais e do controle estrito dos dirigentes ou elites partidárias. Sobretudo, esses estudos buscam desafiar a idéia comum de “política como usual”5, segundo a qual nada mudou com os impactos das TICs sobre os sistemas políticos contemporâneos.

Dentro dessa linha podemos destacar a literatura crescente sobre campanhas políticas na internet, onde podemos mencionar os estudos de LUSOLI (2005a; 2005b) sobre a internet nas eleições parlamentares européias. Este autor contraria os argumentos de que a internet irá reverter a ignorância, a apatia eleitoral e o cinismo político; ou que a internet, em virtude de seu caráter descentralizador, necessariamente irá equalizar as disputas de poder entre os produtores de comunicação política nas democracias européias avançadas: “the „potential‟ is on display, although on the shelf”. Essa nova tecnologia propicia estruturas complexas de ação política para um número crescente de atores, mas isso depende de uma série de fatores como: interesses individuais e coletivos, sistema e recursos organizacionais, cultura política, desenho institucional e eleitoral, desenvolvimento tecnológico e anseios políticos dos cidadãos. O autor ainda lembra que a internet não se limita à extensão da infra-estrutura física da campanha, mas representa um espaço de comunicação política/pública híbrida para uma gama mais ampla de comunicadores do que simplesmente partidos e candidatos, onde estratégias inovadoras e campanhas interativas podem ser experimentadas: “The internet does attract a younger audience and forces politicians to come to terms with the new medium. It provides structure to the election and to election issues. The electoral politics enacted through the internet is both „Machiavellian‟ and discursive, as predicted by Blumler and Kavanagh”. (LUSOLI, 2005, p.160)

Mais recentemente, podemos mencionar outras pesquisas empíricas como as de Lilleker & Jackson (2009), sobre a utilização das novas tecnologias da Web 2.0 (uso de blogs e sites de relacionamento – SNS) pelos parlamentares do Reino Unido. Os autores trabalham com o seguinte modelo de análise dos websites:

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A expressão é alusiva à obra de M. MARGOLIS & D. RESNICK, Politics as usual: the Cyberspace “Revolution” (Cambridge: Cambridge University Press, 2000).

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FIGURA 1: MODELO DE INTERATIVIDADE (ADAP. FERBER ET. AL., 2007)

FONTE: LILLEKER & JACKSON (2009)

Como observamos pelo gráfico acima, a interatividade pode ser agrupada em seis grupos de acordo à direção da comunicação (uma via, duas e três), e pelo nível de controle que o parlamentar faz das ferramentas de interatividade, ou seja, dos instrumentos que propiciem uma “entrada” para o internauta. A Internet permite aos representantes políticos quer entrar em diálogo ou monólogo, dependendo da forma como eles usam a Internet e quem são os destinatários. O feedback direto dos visitantes por meio de questionários, sondagens, fóruns de discussão, petições etc. é um dos elementos centrais para definição do que o autor entende por interatividade. Na comunicação de duas vias (mutual discourse, responsive dialogue) se encoraja um retorno ou resposta dos visitantes, isto pode acontecer quando os internautas deixam comentários em notícias postadas pelos parlamentares (responsive dialogue), ou quando o parlamentar responde aos comentários dos internautas (mutual discourse). A terceira via de comunicação incentiva uma abordagem mais interativa, em que três ou mais pessoas participam de um fórum, por exemplo, debatem sobre um tema específico. No entanto, os resultados apresentados pelos autores alertam para o fato de que a internet tem sido utilizada mais como ferramenta para publicar do que para engajar (LILLEKER & JACKSON, 2009, p.21).

Também VACCARI (2008) em sua análise do uso da internet pelos partidos políticos italianos nas eleições de 2006 chama a atenção para várias limitações do uso dessa ferramenta por estes atores políticos, dentre os quais, o de não alterar significativamente os padrões de competição e participação política vigentes nos pleitos anteriores, nem o amplo predomínio das mídias tradicionais (como TV e grandes redes jornalísticas) na formação da decisão de voto do eleitor. Dentre as principais conclusões a que chega a autora estão as de que, embora houvesse um aumento no uso da web pelos partidos italianos, ele não foi suficiente para alterar o predomínio da televisão:

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The 2006 Italian elections did not make history in parties‟ adoption of ICTs, nor did they generate a symbolic sucess story, as seen elsewhere. Although the data reveal improvements in website quality, Italian parties have not scratched the surface of the Internet‟s potential in mobilizing and organizing supporters. As in the last two decades, the campaign was dominated by generalist television. (VACCARI, 2008, p.75)

CHAIA, MACEDO e SANTOS (2009), em artigo recente, analisam os sites dos partidos políticos e candidatos na eleição de 2006 no Brasil, para isso, verificam a existência das categorias de informação, interatividade, facilidade de uso e estética nos sites analisados. Os autores concluem que a categoria que obteve maior pontuação foi a de informação, com destaque para os partidos: PC do B e PSB. Por outro lado, a categoria de interatividade foi a de menor pontuação, com itens tais como, link para e-mail, foros e dispositivos que permitem a manifestação dos cidadãos pelo site. Ficaram com os sites do PMDB e PSTU as piores pontuações. Para os autores, a Internet não mudou a maneira de se fazer política, o que trouxe de novo foi a possibilidade dos políticos utilizarem esta tecnologia para sua promoção:

Atualmente o que se experimenta de novo é uma renovação da comunicação política, agora mais dinâmica em termos de circulação do discurso político e das opiniões políticas. Os atores políticos e instituições políticas, os meios de comunicação e os cidadãos alteram o seu relacionamento na esfera da comunicação política, mas não necessariamente na natureza do processo político. A Internet não afetou e não mudou a política, a “hard politics”. A mudança se deu na esfera dos comunicadores políticos. Agora os políticos estariam explorando este novo meio de comunicação para promoverem sua imagem e suas posições políticas. (MACEDO, BURGOS e CHAIA, 2009, p. 29)

Para fins desse estudo, utilizamos o conceito de “falas cidadãs” abordado por BLANCHARD (2006), em trabalho que analisa a veiculação dessas falas nos websites dos partidos políticos franceses. Tal como Pippa Norris, a autora considera que os websites podem ter um papel “distintivo” no processo de comunicação política em relação às mídias tradicionais, nem tanto pelas possibilidades proporcionadas por este meio de interação entre partidos e cidadãos, mas pela possibilidade de veiculação das “falas profanas”, diferentes das realizadas pelos partidos. A autora entende a noção de “fala profana” em contraposição da fala produzida pelos membros dos partidos:

[...] devem ser entendidas como expressão de uma fala não exclusivamente produzida pelos cidadãos cativos que são os militantes do partido. De fato, trata-se aqui da “versão para o grande público” dos websites dos partidos políticos franceses, quer dizer, de uma versão visível por todo internauta e cujo acesso, portanto, não é restrito aos membros do partido. (BLANCHARD, 2006, p. 13)

Assim, a grande “novidade” propiciada pela emergência das novas tecnologias de informação é a de provocar, agora adaptada aos novos meios virtuais, uma restauração da antiga imprensa partidária que “reinou na França na primeira metade do século XIX e que declinou com o surgimento da imprensa independente em meados do século XX” (BLANCHARD, 2006, p. 16).

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No entanto, os resultados a que chegou a autora mostram que os websites dos partidos políticos são utilizados mais como meio suplementar de difusão e disponibilização de informações voltadas à promoção do partido (sob o controle estrito das elites dirigentes de tais agremiações assim como dos gestores de informação que controlam tais veículos), do que como um espaço para “falas cidadãs” e para a participação política mais efetiva da opinião pública ou dos militantes e filiados nas deliberações destas organizações.

Tendo em vista as diretrizes de investigação contidas nos trabalhos mencionados, que não se esgotam nos autores acima citados, busca-se analisar a veiculação das “falas cidadãs” nos websites dos candidatos a prefeito de Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre na eleição de 2008. Interessa-nos mapear os mecanismos que propiciam a participação e a troca de mensagens com e entre os cidadãos comuns. Cabe destacar, que não temos como intuito analisar o conteúdo das mensagens que são produzidas através destes dispositivos, mas sim verificar as modalidades de sua existência nos websites dos candidatos.

2 Metodologia

Nossa metodologia estruturou-se no sentido de desenvolver instrumentos que possibilitassem uma análise comparativa da veiculação das “falas cidadãs” – entendidas como espaços de participação e interação com e entre os “cidadãos comuns” – nos websites dos candidatos. Assim sendo, podemos dividi-la em dois momentos básicos: 1) Em primeiro lugar, na avaliação das dimensões analisadas nos websites de candidatos; 2) Em segundo lugar, na ilustração das principais experiências de “falas cidadãs” encontradas nos websites dos candidatos.

Embora nosso objetivo principal seja analisar a veiculação das “falas cidadãs” nos websites dos candidatos, o rendimento analítico desse objetivo de ordem geral complementa-se com a necessidade de mapear outras dimensões que consideramos relevantes na atuação política dos candidatos em seus websites e que dizem respeito às múltiplas atividades políticas dos candidatos em campanhas eleitorais.

Procuramos cumprir o primeiro momento de nossa metodologia, através da elaboração e preenchimento de uma planilha específica com cerca de 60 itens empregados para a coleta e sistematização de informações sobre diversos aspectos ou variáveis passíveis de ser localizados em sites de candidatos. Com base na bibliografia pesquisada e através da consulta aos mapas dos sites de diferentes websites, listamos uma série de elementos presentes e que consideramos relevantes para os fins e enquadramentos teóricos da presente pesquisa. As dimensões que foram objeto de análise no presente estudo foram discutidas e elaboradas no Núcleo de Pesquisa Democracia,

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Instituições Políticas e Novas Tecnologias sob coordenação do Prof. Sérgio Soares Braga (DECISO/UFPR) e já foram aplicadas de forma um pouco distinta em estudos anteriores (BRAGA, 2007; BRAGA &NICOLÁS, 2008).

Os elementos mapeados foram reagrupados em seis categorias:

1. Navegabilidade/acessibilidade: São recursos nos websites de candidatos que estimulam o

primeiro contato do internauta com o site, ou seja, mecanismos de navegação oferecidos aos visitantes.

2. Informação: São informações básicas dos candidatos, que permitem ao internauta ter um

conhecimento sobre o candidato. Incluímos desde a biografia, trajetória política, legenda partidária até informação sobre os comitês de campanha.

3. Comunicação e mídia: Ferramentas de informação mais refinadas através de arquivos

sonoros, vídeos e imagens. Também incluímos informação mais substantiva sobre a candidatura, desde material promocional até os programas de governo ou propostas.

4. Accountability: São informações que dizem respeito à prestação de contas da candidatura,

desde lista de doações até funcionários trabalhando na campanha.

5. Participação e Interação: São dispositivos que possibilitam veicular as “falas cidadãs”, isto

é, a participação dos internautas através de diversas ferramentas, e que incentivam a comunicação entre o candidato e os eleitores. Incluímos deste chat, fóruns, comunidade no site de relacionamento Orkut, enquetes de opinião até a possibilidade de ajudar na campanha do candidato.

Deve-se sublinhar ainda que, além de constatar a presença de cada item nos sites, testamos a

funcionalidade de cada uma das variáveis analisadas, por isso atribuímos três códigos de preenchimento: i) Informação completa/satisfatória – o item funciona; ii) Informação incompleta/insatisfatória – há o link, porém funciona de maneira incompleta; iii) Não existe o item, as informações ou os links.

O segundo momento da nossa metodologia consistiu na exemplificação das principais experiências que mapeamos de veiculação das “falas cidadãs” nos websites dos candidatos analisados.

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3 Análise dos resultados

Nosso universo empírico se constituiu em 20 websites de candidatos a prefeito das capitais da região sul6. A pesquisa foi realizada na última semana de campanha e a través de diferentes programas salvamos os sítios com o intuito de realizar pesquisas mais aprofundadas. Utilizamos como fonte a base de dados dos websites dos candidatos a prefeitos nas capitais dos estados no primeiro e no segundo turno da eleição de 2008, organizada pelo Núcleo de Pesquisa. A tabela seguir apresenta a relação de websites analisados:

TABELA 1 - WEBSITES DOS CANDIDATOS A PREFEITO DA REGIÃOSUL, ELEIÇÃO 2008 - OUTUBRO 2008

N Candidato Estado Partido Website

1 JOSÉ FOGAÇA Porto Alegre PMDB http://www.fogaca15.com.br

2 LUCIANA GENRO Porto Alegre PSOL http://www.psolrs.org.br/lucianagenro/

3 MANUELA Porto Alegre PCdoB http://www.manuela65.com.br/

4 MARIA DO ROSÁRIO Porto Alegre PT http://www.mariadorosarioprefeita.com.br

5 MARCHEZAN JUNIOR Porto Alegre PSDB http://www.marchezan.com.br

6 ONYX Porto Alegre DEM http://www.onyx25.can.br/

7 AFRÂNIO BOPPRÉ Florianópolis PSOL http://www.afranio.org/

8 ANGELA ALBINO Florianópolis PCdoB http://www.angela65.com.br/

9 CESAR SOUZA JUNIOR Florianópolis DEM http://www.cesarsouzajunior25.com.br/

10 DÁRIO Florianópolis PMDB http://www.dario15.can.br

11 ESPERIDIÃO AMIN Florianópolis PP http://www.amin11.com.br/

12 NILDÃO Florianópolis PT http://www.nildao13.can.br

13 BRUNO MEIRINHO Curitiba PSOL www.brunomeirinho50.can.br

14 BETO RICHA Curitiba PSDB http://www.betoricha45.can.br

15 REITOR MOREIRA Curitiba PMDB http://www.reitormoreira15.can.br/

16 FABIO CAMARGO Curitiba PTB http://www.fabiocamargo14.can.br

17 GLEISI Curitiba PT http://www.gleisi13.can.br/

18 LAURO RODRIGUES Curitiba PT do B http://www.laurorodrigues70.can.br/

19 MAURICIO FURTADO Curitiba PV http://www.mauriciofurtado43.can.br

20 RICARDO GOMYDE Curitiba PCdoB http://www.gomyde65.can.br/

FONTE: NPDIP

O Tribunal Superior Eleitoral, em Resolução Nº 22.718, estabeleceu diretrizes sobre a utilização da propaganda eleitoral na Internet nas eleições municipais de 2008:

Art. 18. A propaganda eleitoral na Internet somente será permitida na página do candidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral. Art. 19. Os candidatos poderão manter página na Internet com a terminação can.br, ou com outras terminações, como mecanismo de propaganda eleitoral até a antevéspera da eleição (Resolução nº 21.901, de 24.8.2004 e Resolução nº 22.460, de 26.10.2006). § 3º Os

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domínios com a terminação can.br serão automaticamente cancelados após a votação em primeiro turno, salvo os pertinentes a candidatos que estejam concorrendo em segundo turno, que serão cancelados após esta votação. (TSE, Resolução nº 22.718, art.5)

Os candidatos deviam registrar os websites no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), e aqueles sites que tivessem terminações diferentes a can.br deviam ser retirados pelo candidato.

Apresentamos agora a análise das dimensões relevantes presentes nos vinte websites analisados.

3.1. Navegabilidade/Acessibilidade

A primeira dimensão da análise trata dos mecanismos de “Navegabilidade/acessibilidade” disponíveis ao público. Representa uma espécie de “porta de entrada” dos sites, onde ocorre o primeiro contato do internauta com os candidatos na web. Neste tópico, avaliamos as informações que constavam nas páginas iniciais dos websites e que buscavam facilitar e tornar mais atrativa a navegação do cidadão-internauta, tornando mais acessível seu contato com o candidato. Dentre os as ferramentas pesquisadas, podemos mencionar: existência de mecanismos de busca nos sites, existência de mapa do site e aumento/diminuição de letras.

O gráfico a seguir oferece as porcentagens das informações contidas nos websites examinados sobre o item navegabilidade/acessibilidade.

GRÁFICO 1: NAVEGABILIDADE/ACESSIBILIDADE – OUTUBRO 2008

FONTE: NPDIP

Com efeito, pelo gráfico acima podemos observar que dos itens analisados, o mecanismo de busca foi o item mais utilizado pelos candidatos (40%), seguido pelo cadastro para newsletter na página inicial e por link para página inicial, porém outras variáveis que poderiam facilitar a

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navegabilidade do cidadão-internauta, propiciando recursos básicos para uma navegação mais ativa foram quase que inexistentes. A dimensão de navegabilidade apresentou frequências relativamente baixas, pelo que nem a metade dos candidatos analisados se muniu destes itens em seus websites.

3.2. Informação

A dimensão “informação” abrange itens utilizados pelos candidatos para dar a conhecer sua candidatura, ou seja, informações básicas que permitem ao cidadão-internauta construir uma opinião sobre o candidato.

As informações constantes nos websites sobre a dimensão “informação” dos websites dos candidatos analisados estão resumidas no gráfico abaixo:

GRÁFICO 2: INFORMAÇÃO – OUTUBRO 2008

FONTE: NPDIP

Pelo gráfico acima, constamos que, à diferença do gráfico anterior, a utilização destes itens é mais homogênea, e apresenta maiores porcentagens. Todos os websites (100%) ofereciam links sobre biografia/história de vida, e 90% dos websites possuíam informações sobre o perfil político do candidato e sobre o perfil do vice-prefeito, o que revela o uso já institucionalizado destes itens. Mais da metade dos candidatos disponibilizou informação sobre o partido e a coligação, e sobre os vereadores que integravam a coligação, porém por outro lado, somente um 25% dos websites

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possuía a relação dos endereços dos comitês eleitorais, o que evidencia o baixo interesse por parte dos candidatos em incentivar ou motivar o contato do internauta com os organizadores ou militantes do partido. E por último, somente 30% dos candidatos disponibilizaram link para o site nacional do partido, e 10% para o site municipal do partido. Podemos correlacionar a fraca vinculação dos candidatos aos seus partidos e o peso do candidato nas eleições brasileiras, uma vez que o sistema de lista aberta vigente no país privilegia o voto no candidato em detrimento do partido.

3.3. Comunicação e mídia

A dimensão “Comunicação e Mídia” abrange os itens utilizados pelos candidatos para divulgar suas atividades e informações de campanha. Trata-se basicamente dos recursos destinados a potencializar as funções de comunicação e informação estabelecidas pelos candidatos com os eleitores de uma maneira geral, utilizando recursos de mídia (vídeos, imagens, arquivos de radio). Incluímos informações que propiciam a construção não somente da imagem do candidato, mas também a formação de uma opinião ancorada em manifestações e posturas do candidato.

A presença dos diferentes itens na dimensão “comunicação e mídia” nos websites dos candidatos nós é informada pelo gráfico abaixo.

GRÁFICO 3: COMUNICAÇÃO E MIDIA – OUTUBRO 2008

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Com efeito, como pode ser observado pelo gráfico, 90% dos websites possuía arquivos de rádio de campanha, 85% acervo de fotos e 70% as propostas de políticas governamentais, notícias de campanha e matérias promocionais. Estes porcentagens revelam a vontade generalizada dos candidatos em disponibilizar na net a maior quantidade de informações sobre a campanha através de diferentes recursos. Como constatamos, em termos gerais, o uso dos itens dessa dimensão pelos candidatos foi bastante homogêneo, com exceção a artigos do candidato (20%), atualização de links (20%) e programas e ações já desenvolvidas (25%).

3.4. Accountability

A dimensão “Accountability” abrange os itens utilizados pelos candidatos para divulgar a relação de gastos de campanha, doações, patrimônio e funcionários trabalhando na campanha. Como pode ser observado, pelo gráfico abaixo, foi quase inexistente a presença desses itens nos websites analisados, não superando a 5% dos candidatos (quando houve alguma informação). Dos itens analisados, somente o candidato Bruno Meirinho (PSOL) de Curitiba possuía em seu website o link com a relação de doações e gastos de campanha, o que revela o pouco interesse por parte dos candidatos em disponibilizar aos internautas estes tipos de informações.

GRÁFICO 4: ACCOUNTABILITY – OUTUBRO 2008

FONTE: NPDIP

3.5. Participação e Interação

A análise desta dimensão é o foco do nosso estudo. Incluímos na dimensão “participação e interação” itens que dizem respeito a mecanismos oferecidos pelos candidatos que disponibilizem a veiculação das “falas cidadãs”, a saber, dispositivos que permitem aos internautas a possibilidade de

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colocar suas opiniões ou se manifestar a favor ou contra o candidato. Segue o gráfico com as porcentagens encontradas nos websites dos candidatos.

GRÁFICO 5: PARTICIPAÇÃO E INTERAÇÃO – OUTUBRO 2008

FONTE: NPDIP

Pode-se observar que dos 22 itens que avaliamos nos websites dos candidatos, o de maior freqüência foi o link “contato por e-mail ou fale conosco” (80,0%) o que revela a vontade generalizada de disponibilizar um canal mínimo de comunicação para os eleitores se manifestarem. No entanto, como constamos, não foram utilizadas outras variáveis que permitiriam a participação mais ativa dos eleitores nos websites, tais como, sala de bate-papo e chat. Verificamos que o único

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website que oferecia link de chat e efetivamente funcionava foi o do candidato Ricardo Gomyde (PCdoB) de Curitiba.7

As regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foram imprecisas sobre a liberação do uso de sites de redes sociais, como Orkut e MySpace para realizar campanha. A recomendação do TSE foi que cada zona eleitoral julgasse os casos de maneira individual. Possivelmente, este vácuo na legislação pode ter contribuído para a pouca utilização deste tipo de recurso pelos candidatos. Segundo pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet sobre o uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil de 2008, 69% do total de entrevistados participava de sites de relacionamento como o Orkut. Este dado nos proporciona um indício sobre o uso generalizado de sites deste tipo no Brasil, ou seja, se pensarmos no alto acesso pelos internautas brasileiros, resulta evidente que fazer campanha no site Orkut, teria levado informação a uma parte considerável do público que acessa a internet.

Os websites dos candidatos analisados apresentaram diversos mecanismos e ferramentas que permitem em grande parte a veiculação de informação e propaganda de campanha, pelo que foi constatado através das dimensões analisas de “informação” e “comunicação e mídia”. No entanto, o uso de mecanismos que possibilitam a veiculação das falas dos eleitores/internautas foi bastante baixo e desigual. Ilustramos a seguir alguns destes mecanismos encontrados nos websites dos candidatos a prefeito das capitais da região sul.

4 Principais experiências de veiculação de “falas cidadãs” nos websites dos candidatos

Aprofundando na análise dos principais instrumentos de veiculação das “falas cidadãs” nos websites dos candidatos às eleições majoritárias nas cidades observadas, podemos partir para uma breve análise de conteúdo de algumas das principais experiências observadas.

a) - Envio de perguntas e respostas:

O website do candidato Amin (PP) de Florianópolis, disponibilizou várias ferramentas para os internautas participarem, seja enviando sugestões de governo, denúncias sobre problemas que estivessem acontecendo nos bairros ou perguntas ao candidato. Na figura a seguir é ilustrado o link “você pergunta, Amin responde”, os internautas enviavam perguntas e o candidato respondia em formato de áudio e texto. Vale lembrar que a maioria dos candidatos possuía links do estilo “fale conosco”, também como foi mencionado, 80% dos candidatos oferecia e-mail, porém somente o

7

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candidato Amin publicou as perguntas e respostas. Segundo Blanchard (2006), o que se coloca em questão com a publicação das “falas cidadãs” é a publicação de uma fala, que não a oficial, a saber, aquela produzida pelas instâncias partidárias e isso repercute na comunicação do candidato na internet. Os internautas entram em cena como um dos produtores da comunicação do candidato na web, tendo, a partir desse momento, uma participação mais ativa em todo o processo da comunicação, e assim deixam de ser meros destinatários de mensagens. Como a autora esclarece, não podemos ser ingênuos e acreditar que não existam filtros na hora das falas serem colocadas nos sites. A integração da fala cidadã comum nos websites dos partidos políticos é, em grande parte, condicionada por um novo tipo de moderador, na maioria das vezes encarnado por profissionais da comunicação responsáveis pela gestão desses sites (WOJCIK, apud BLANCHARD, 2006, p. 14).

Figura 2: Website do candidato Amin (PP)

Fonte: http://www.amin11.com.br/

b) – Participar da campanha, enquete, depoimentos:

Outro recurso de participação utilizado pelos candidatos foi a possibilidade de ajudar na campanha: divulgação do candidato pela internet, reuniões ou encontros com amigos, dentre outras opções que eram oferecidas nos sites. Outros desses recursos eram as enquetes sobre temas de campanha e depoimentos com fotos dos internautas.

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Segue o website da candidata Manuela (PCdoB/PA) e algumas experiências antes mencionadas.

Figura 3: Website da Candidata Manuela (PCdoB)

Fonte: http://www.manuela65.com.br/novo/

A candidata Manuela (PCdoB) de Porto Alegre disponibilizou enquetes sobre temas da campanha, assim como críticas ao prefeito José Fogaça (PMDB), que tentava sua reeleição. Os eleitores podiam enviar depoimentos à candidata com fotos. O website também possuía o link: “participar da campanha”, com uma série de atividades das quais os eleitores poderiam participar. As ferramentas disponibilizadas no site de Manuela ofereciam a possibilidade dos internautas emitirem algum tipo de opinião sobre a candidata ou a campanha. Blanchard (2006) se pergunta numa passagem do texto se a crítica tem espaço nos websites dos partidos, pela pesquisa que realizamos no website da Manuela, a interação com a candidata se expressava através de fotos enviadas pelos internautas com palavras de apoio. Também no website do candidato Beto Richa (PSDB) de Curitiba, verificou-se o envio de vídeos com pequenos depoimentos que, na maioria das vezes, como ilustrado a seguir, eram depoimentos de crianças. Ainda assim não constatamos críticas aos candidatos, porém sublinhamos que não realizamos um estudo aprofundado sobre esses depoimentos.

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Figura 4: Website do Beto Richa (PSDB)

Fonte: http://www.betoricha45.can.br

O website da candidata Maria do Rosário (PT) de Porto Alegre também disponibilizou mecanismos de veiculação de “falas cidadãs”, e foi um dos poucos sites, juntamente com os mencionados em que se ofereciam diversos mecanismos para os internautas emitirem suas opiniões. Podemos mencionar os seguintes mecanismos no site da candidata: “Boca no Trombone”: para realizar denuncias, “Doe Ideias”: enviar sugestões de temas e propostas de campanha, “Vem com Maria”: formas de apoiar e participar da campanha, “Depoimentos”: manifestações de apoio de políticos e internautas.

Figura 5: Website da candidata Maria do Rosário (PT)

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5 Considerações finais

Retomando os questionamentos que nortearam nosso trabalho, podemos constatar que certos mecanismos que permitem a veiculação das “falas cidadãs” foram pouco utilizados nos websites dos candidatos, a exceção de alguns exemplos como ilustramos. Esse dado nos leva em direção à nossa hipótese inicial, ou seja, a de que esses espaços de comunicação são disponibilizados de maneira desigual pelos candidatos em seus websites, se comparados com outros mecanismos que tendem a veicular principalmente a difusão de informação do candidato e da campanha.

Como constatamos, as dimensões de “informação” e “comunicação” foram as mais utilizadas pelos candidatos. Mostra-se evidente que essas funções, que dizem respeito ao funcionamento das instituições democráticas representativas e consideradas básicas na relação candidato-eleitor foram utilizadas pela maioria dos candidatos de maneira intensiva. Porém, outras dimensões-chave não foram utilizadas de maneira homogênea, o que demonstra que apesar das enormes vantagens contidas na Internet, a comunicação on-line ainda tende a privilegiar a veiculação de falas produzidas pelo candidato e sua equipe de campanha. No entanto, as experiências que ilustramos nos levam a não ser tão pessimistas, e evidenciar que esses mecanismos representam incipientes inovações na comunicação política em campanhas eleitorais.

O presente estudo se constituiu numa primeira aproximação ao tema, acreditamos que estudos futuros que conciliassem, por um lado, uma quantidade de websites de campanha significativa por regiões, e por outro, mecanismos mais sofisticados de avaliação do uso dos websites e de análise de conteúdo das falas cidadãs viriam a se constituir em importantes avanços para área de estudo. Além de oferecer um panorama do grau de uso das ferramentas que os políticos do Brasil estão dispostos a utilizar em seus sítios de campanha.

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