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Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder. Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

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Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

O corpo como lócus de poder: articulações sobre gênero e obesidade na contemporaneidade

Bruna Meurer (PUC-RS); Marivete Gesser (UFSC – UNIPLAC) Corpo; Gênero; Obesidade

ST 39 - Corporalidade na Mídia Introdução

As novas formas de subjetivação na contemporaneidade estão cada vez mais relacionadas com os modelos idealizados de corporeidade. Corpos obesos, que um dia inspiraram obras de arte, são hoje condenados pelo contexto sócio-cultural e pela biomedicina. O culto à magreza e a rejeição dos corpos fora dos padrões dominantes se engajam aos discursos contemporâneos de disciplinamento e controle dos corpos femininos como forma de reafirmar as relações de poder.

A questão da obesidade na modernidade deve ser compreendida para além das fronteiras dos consultórios e das significações produzidas pelo campo dos estudos que embasam apenas dimensão biológica que permeia este fenômeno. A problematização acerca da lógica dos mecanismos de constituição da subjetividade na contemporaneidade torna-se essencial, haja vista um mundo sob influência maciça da mídia e dos discursos médicos, que produzem ideais de beleza inatingíveis, direcionados principalmente as mulheres.

A relação corpo poder

As conseqüências psicossociais da obesidade estão relacionadas com valores referentes à cultura contemporânea que considera o corpo obeso feminino como fora dos padrões hegemônicos instaurados de saúde, beleza, sucesso e aceitação social. Com relação ao corpo obeso feminino, acredita-se, com base na perspectiva da psicologia social crítica, que deve ser entendido como um fenômeno histórico e cultural, ou seja, que em diferentes momentos da história da humanidade houve a predominância de significações diversas acerca dele.

Ao longo dos séculos, os sujeitos vêm sendo examinados, classificados, e definidos pelas marcas que são atribuídas aos seus corpos. Esses significados de suas marcas são provisórios e cambiantes. As formas através das quais os gêneros se apresentam são, sempre, formas inventadas e sancionadas por circunstâncias culturais. Até mesmo o gênero - são atributos que se inscrevem e se expressam nos corpos através dos artifícios culturais. Desse modo, se as sociedades possuem algum tipo de distinção masculino-feminino, essa geralmente é relacionada ao corpo (LOURO, 2003).

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Esse culto ao corpo e depreciação ao corpo obeso, segundo Goellner (2005), tem seu início no século XVIII e se intensifica no século XIX. A partir deste período o corpo adquire relevância nas relações estabelecidas entre os sujeitos. Esse período é importante para se entender o corpo contemporâneo, pois estas significações contituem ainda hoje os corpos dos indivíduos. Nesse sentido, os meios de comunicação e as atuais ideologias existentes buscam transpor imagens que sugerem o belo, pois existe um elo entre beleza e poder (BONETTI, 1998; LOURO, 20003).

Esses discursos veiculados de corpo acabam atuando diretamente sobre os corpos dos sujeitos obesos, educando-os, moldando-os e governando-os. Ter um corpo magro na contemporaneidade, esta relacionado com a questão simbólica do “poder”. O poder em Focault (apud ANDRADE, 2004) funciona como um organizador de sistemas de classificações sociais, culturais, políticas e econômicas ajudando cada um e cada uma a ocupar seus devidos lugares nas representações sociais e culturais em jogo. Assim, o corpo sempre estabelece novas relações de poder e estas vão posicionando os sujeitos de modos diferenciados no espectro social. Nesse contexto, o corpo é entendido como uma contrução social e cultural e, como tal, é alvo de diferentes e múltiplos discursos.

Michel Foucault (1992) afirma que corpo são os nossos gestos, construções historicamente datadas. Seu objeto de investigação não está centrado no corpo, mas ainda do poder que investe no corpo diferentes disciplinas de forma a docializá-lo, a conhecê-lo e controlá-lo. Para Foucault, o controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera apenas na ideologia ou pela consciência, mas tem seu começo no corpo e com o corpo (FOUCAULT apud GOELLNER, 2005). Ou seja, nosso corpo é histórico, e nele incidem as relações de poder.

Na continuidade de seu desenvolvimento teórico sobre as instituições do poder disciplinar e os modos de produção das subjetividades dos séculos XVII e XVIII, Foucault (1992) assinala um deslocamento a partir do século XIX desse poder soberano que incide sobre os corpos individuais para uma nova técnica de poder que tem com foco a população e vêm complementar as técnicas disciplinares. Esse biopoder se dirige a espécie humana escrutinando todo fenômeno que subtrai a força de trabalho através das estatísticas e controle dos processos sociais. Surgem, nessa perspectiva, os estudos epidemiológicos e demográficos que procuram extrair um saber a partir do seu campo de intervenção do poder: a população.

Para Foucault (1992) o poder funciona como um organizador de sistemas de classificação sociais, culturais, políticos e econômicos ajudando cada um a ocupar seus devidos lugares nas representações sociais e culturais que estão em jogo. Sendo assim, o corpo se insere e se estabelece sempre em novas relações de poder e estas relações vão posicionando os sujeitos de modos diferenciados no espectro social. Como salienta Sant’Anna (1997) sobre o pensamento de Focault, o importante não é perseguir o objeto, mas as condiçoes de possibilidades que provocam seu

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surgimento em cada época, que fazem emergir designações, divisões e formas de controle e de resistência, tornando possível assim uma visão de construção, de historicidade, para aquilo que considera-se objeto natural. Em função disso, é relevante realizar um recorte, centrando o olhar nas questões do corpo feminino obeso e no modo como essa visão de corpo foi sendo culturalmente construida através da mídia e dos dicursos médicos.

Mídia, corpo e a elaboração de sentidos

A mídia é e sempre foi tendenciosa. Trata-se, aqui problematizar os sentidos atribuídos culturalmente ao que seja o "feminino" nos meios de comunicação. Não é de hoje que tanto grupos organizados de mulheres como as próprias, individualmente, não se sentem bem representadas na tevê, nos outdoors e nas rádios. O tema mídia sempre foi algo caro ao movimento de mulheres. A forma como a mulher é tratada nos meios de comunicação, de maneira geral, reproduz a imagem que a sociedade elabora do sexo feminino. Thompson (2000) mostra que na sociedade contemporânea existe cada vez mais uma midiatização da cultura moderna, uma produção de significados, modos de vida, de pensamento e comportamento pelos meios de comunicação de massa modificando, de forma significativa, a base das inter-relações das sociedades modernas, tornando a mídia a principal fonte de coleta de dados sociais, econômicos, políticos e culturais de várias sociedades, inclusive na que estão inseridas.

Os meios de comunicação fabricam coletivamente a representação social que for conveniente sobre os gêneros, através de mensagens que sugerem um ideal a ser seguido, conseguindo interferir nos modos de subjetivação no contexto social das pessoas, afetando principalmente as mulheres que em muitas culturas são reduzidas ao seu corpo, ao espaço privado e a maternidade (GOELLNER, 2005). Apesar do crescimento das demandas por melhorias estéticas pela mídia, as mulheres, ainda, são as que estão à mercê as instabilidade e efemeridade das imagens que esse “mundo das aparências tem oferecido”.

A mídia contempla as mulheres de uma maneira muito seletiva e sempre focando o aspecto mercadológico, o emocional, as questões um pouco mais individuais, e nunca levando em conta qualquer consideração enquanto necessidade social, enquanto movimento (SANT`ANNA, 2001). Para Thompson (1995) a mídia é a peça central, responsável pela disseminação das representações sobre as imagens de homens e mulheres, manipulando escolhas e comportamentos, influenciando a formação da opinião pública em diferentes circunstâncias, inclusive na adoção de certas formas de pensar, sentir e agir no mundo.

Os meios de comunicação têm se constituído como agentes disseminadores desse movimento de globalização corporal. Observa-se o estímulo à cultura do corpo, onde se impõe uma

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necessidade de defini-lo sob um padrão homogêneo, a partir do qual as pessoas sentem a

necessidade de desenvolvê-lo para atingir o modelo estético (GAIARSA, apud BONETTI, 1998).

Sendo assim, através da análise de notícias publicadas na mídia é possível perceber as “categorias de pensamento” que expressam uma dada realidade, pois uma simples narrativa, conforme demonstrou Bourdieu (1997) “implica sempre uma construção social da realidade capaz de exercer efeitos sociais de mobilização (ou de desmobilização)” (BOURDIEU, 1997, p.28).

A mídia e as atuais ideologias existentes buscam transpor imagens que sugerem o belo, pois existe um elo entre beleza e poder. Há uma manipulação peculiar das concepções e modelos capitalistas. A beleza, em todos os planos do design dos produtos, da moda, do comportamento das pessoas, está submetida a critérios mercadológicos (RAMONET, 1999). A busca por signos de feminilidade, por parte das mulheres, segundo a historiadora Denise B. de Sant` Anna (2001) tem gerado uma obsessão com a imagem em um número significativo de mulheres. Comparando-se com os modelos oferecidos pelos meios de comunicação, como referencias do que deve ser uma mulher, a insatisfação com a própria aparência e performance são intensificados, gerando sofrimento psíquico e uma total inadequação com a própria imagem. Mesmo diante de uma condição leve de sobrepeso, confronta-se com o ideal de magreza e beleza culturalmente demarcados pela sociedade, conduzindo, de tal forma, que esses homens e mulheres se envergonhem e sejam discriminados por sua condição (SALLET, 2001).

Atualmente, encontra-se no sujeito que apresenta um corpo fora dos padrões socialmente aceitáveis a questão do mal-estar subjetivo. Esse corpo está associado a um imaginário social próprio que ao ser divulgado pela mídia impressa, faz entrever um corpo impregnado de preconceitos e estigmas, por representar, na sociedade contemporânea, tanto um caráter pejorativo de uma falência moral quanto um corpo com falta de saúde. O “gordo” ao violar a norma social vigente, torna-se um paradigma estético negativo. Em contrapartida, o corpo magro é tido como saudável, é valorizado e desejado, acabando por se transformar em um símbolo da própria felicidade; fundamental para o sujeito ser aceito socialmente (VASCONCELOS, et al 2004).

Essa normatização presente na questão da corporeidade contribui para que corpos fora dos padrões socialmente aceitos tenham, em muitas situações, dificuldades na sua interação humana dentro do contexto social as quais pertencem. Suas atividades profissionais podem tornar-se um martírio, quando há preconceito por parte dos seus colegas. A pressão da própria sociedade que busca um modelo de magreza anoréxica como sinônimo de beleza, fama e aceitação, acaba por construir mulheres e homens com inúmeras frustrações (BONETTI, 1998).

A nossa sociedade na atualidade, supervaloriza a magreza, o corpo “belo” produzido nas academias, ou ainda produzido pela modelagem terapêutica mediante implantes de silicone, cirurgias plásticas, entre outros, revelando o culto ao corpo belo (GOLDENBERG e RAMOS,

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2002) e, ao mesmo tempo, produz julgamentos sociais negativos em relação ao corpo obeso. Adjetivos pouco honrosos como: “feio, relaxado, preguiçoso e incompetente”, são direcionados ao ser obeso desde a infância, sugerindo a idéia de que o indivíduo obeso é o responsável por sua obesidade devido à falta de vontade de se exercitar/disciplinar e de autocontrole.

Nessa perspectiva, os sujeitos não teriam a noção de que são influenciados pelos meios de comunicação de massa, desenvolvendo, por exemplo, uma postura passiva diante das mensagens por eles transmitidas, e paulatinamente anulando qualquer posicionamento crítico em relação a este conteúdo (GUARESCHI, 1993). Assim, os indivíduos e os grupos sociais não são mais do que meros receptores que aceitam opiniões prontas que vêm dos meios de comunicação e, sem cogitar como essas mensagens são constituídas em outras instâncias, aderem a tais idéias como se elas fossem de fato suas próprias produções.

Contudo, a imagem que se faz do feminino, na maioria das vezes, segue o estereótipo perseguido pela mídia: magra, alta, bonita, se distanciando da realidade que é diversa. Esse distanciamento faz com que mulheres “naturais” com seus corpos esculpidos pelo trabalho, pela gestação de seus filhos, dentre tantos outros corpos, tenham sua auto-estima reduzida ou mesmo “extinta” (DEL PRIORE, 2000). Ou ainda, faz com que muitas mulheres busquem clínicas clandestinas, tenham seu corpo mutilado, quando não a morte em busca dos padrões de beleza instituídos pela mídia.

Os meios de comunicação em massa contribuem para a instalação emanutenção desse padrão de ser mulher, atrelada a magreza. Guareschi e Jovchelovitch (1994), assinalam que nas sociedades complexas a comunicação é cada vez mais mediada pelos “canais de comunicação de massa”, onde as representações e símbolos são a substância “sobre as quais ações são definidas e o poder é – ou não– exercido” (GUARESCHI & JOVCHELOVITCH 1994, p.20). Portanto, mulheres apresentam comportamentos intimamente ligados aos discursos dominates veiculados pelos meios de comunicação, discursos esses que constituem os indivíduos e os grupos sociais e deslegitimam o corpo obeso.

Considerações Finais

A obesidade foi entendida, neste estudo, como uma construção histórica e cultural, que está em destaque neste momento em decorrência do modelo padronizado de corpo, que é apropriado pelos sujeitos e que contitui a diferença. Em outros momentos históricos, em decorrência de outro padrão de corporeidade, ser obeso tinha um significado diferenciado e, em muitos casos ligados a beleza, grandiosidade e femilinidade.

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A cultura contemporânea valoriza tanto a magreza, legitimada principalmente pelos discursos da biomedicina e dos meios de comunicação, e transforma a gordura em um símbolo de falência moral, com sérias conseqüências para a subjetividade dos que não se adaptam a esse ideal de corpo. A mulher fora dos padrões e dos discursos de beleza torna-se assim, prisioneira de seu próprio corpo na medida em que o corpo que ela deseja não é o corpo que ela tem.

Apesar de toda as tentativas de se compor um novo ideal de beleza, uma beleza mais próxima das condições objetivas de existência das mulheres, esse será um processo de luta árduo, principalmente entre as mulheres brasileiras, haja vista o monopólio da mídia e dos discursos médicos sobre a constituição das subjetividades. Portanto, percorrer entre os discursos atuais e desnaturalizar o corpo de forma a evidenciar os diferentes discursos que foram e são cultivados, em diferentes espaços e tempos é necessário para que se compreenda o que é designado como sendo um corpo desejável e aceitável na contemporaneidade. Pois, mesmo sendo referências transitórias, não perdem o poder de inferiorizar e excluir determinados corpos em detrimentos de outros, como o corpo obeso.

Referências Bibliograficas

ANDRADE, S. S. Mídia, corpo e educação: a ditadura do corpo perfeito. In: MEYER, E. D. Corpo, gênero e sexualidade. Porto Alegre: Mediação, 2004.

BONETTI, A. O corpo no processo de globalização: idéias preliminares. Santa Maria: KINESIS, S. 1998.

BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

DEL PRIORE, M. Corpo a Corpo com a mulher: pequena história das transformações do corpo feminino no Brasil. São Paulo: Editora SENAC, 2000.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal. 1992.

GOELLNER, S. V. A produção cultural do corpo. In: GUACIRA, L. L; et al (org). Corpo, gênero e sexualidade. (2). Petrópolis: Vozes, 2005.

GOLDENBERG, M.; & RAMOS, M. S. - A civilização das formas: O corpo como valor. In: GOLDENBERG, M. (org) Nu e vestido- dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro: Record, 2002.

GUARESCHI, P. Comunicação e poder. 13a ed. Petrópolis: Vozes, 1993.

GUARESCHI, P. & S. JOVCHELOVITCH (Orgs.), Textos em representações sociais (p.17-25). Rio de Janeiro: Vozes, 1994.

LOURO, L. G. Corpos que escapam. Rev. Estudos feministas. n. 4. Ago/dez. 2003. RAMONET, I. Tirania da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1999.

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SALLET, J. A. Balão intragástrico: gastroplastia endoscópica para o tratamento da obesidade. São Paulo: Caminho Editorial, 2001.

SANNT” ANNA, D. B. Corpos de passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.

SANNT” ANNA, D. B. O corpo entre antigas referências e novos desafios. Cadernos de Subjetividade, v. 5, n. 2, p. 275-284, dez, 1997.

VASCONCELOS, A. N; SUDO, I; SUDO, N. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista mal-estar e subjetividade. Fortaleza, v. IV, n. 1. 2004.

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