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Inovação e Pesquisa Responsáveis: aplicações ao contexto brasileiro e a sua relevância para a indústria

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Inovação e Pesquisa Responsáveis: aplicações ao contexto brasileiro

e a sua relevância para a indústria

Luis Reyes-Galindo

Marko Monteiro

Luciana Lenhari

(2)

Sumário

I. Uma introdução à Pesquisa e Inovação Responsáveis ... 5

i. RRI em uma perspectiva histórica ... 6

II. RRI: uma abordagem europeia para governança ... 7

III. Os componentes politicos da RRI ... 8

ii. As cinco ‘chaves’ da RRI ... 8

A chave ética ... 9

A chave da igualdade e diversidade de gênero ... 10

A chave do acesso aberto e da ciência aberta ... 10

Educação científica ... 10

Engajamento social/público ... 11

iii. RRI e o processo organizacional ... 11

Antecipação e reflexibilidade ... 11

Diversidade e inclusão ... 12

Abertura e transparência ... 12

Capacidade de resposta e adaptação ... 12

iv. Medidas do potencial de RRI: perspectivas organizacionais ... 13

Direcionadores e barreiras ... 14

Direcionadores para RRI ... 15

(3)

IV. Etapas preliminares para um estudo de caso de RRI: desenvolvendo uma compreensão inicial

de um contexto nacional ... 17

v. Contexto Nacional ... 17

Análise documental ... 17

Engajamento como pesquisa: workshop nacional e grupos focais... 19

Resumo do mapeamento do contexto nacional ... 20

O Sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação ... 21

Instituições de pesquisa brasileiras ... 23

Relevância do mapeamento nacional ... 23

Desigualdades regionais ... 24

Representatividade de instituições parceiras... 24

O Sistema de pesquisa de São Paulo... 25

V. ‘Responsabilidade’ dos parceiros institucionais em RRI-P do Brasil ... 25

vi. Notas sobre pesquisas empíricas nas instituições parceiras ... 25

vii. Perspecitivas gerais sobre responsabilidade ... 26

UNICAMP ... 26

FAPESP ... 29

VI. Operacionalização das chaves de RRI... 30

viii. A chave ética ... 31

Ética nas organizações ... 31

ix. Barreiras éticas ... 32

x. Direcionadores éticos ... 32

(4)

xii. Indicadores éticos ... 32

xiii. Todos os pontos de melhoria ... 33

xiv. Apresentação dos resultados ... 33

xv. Principais conclusões do estudo de caso brasileiro ... 35

(5)

I. Uma introdução à Pesquisa e Inovação Responsáveis

esquisa e Inovação Responsáveis (ou RRI na sigla em Inglês para Responsible Research

and Innovation)

abrange uma série de ações que buscam explorar como a responsabilidade pode ser introduzida na política púbica e em contextos organizacionais que envolvem pesquisa e inovação tecnológica. RRI busca “uma nova relação entre sociedade, pesquisa e inovação para alinhar tanto o processo como os seus resultados com os valores, necessidades e expectativas da sociedade.”1 Concretamente, promover responsabilidade é entendido como o avanço de:

a) Atores públicos e responsáveis engajados no campo da ciência e da inovação, e b) Aceitável e sustentável eticamente e socialmente desejável como resultado da

pesquisa e da inovação que estão alinhados com as necessidades e desafios da sociedade.

Dada a complexidade de ambos os empreendimentos, não há uma abordagem única ao RRI, mas sim um conjunto de estruturas de prática relacionadas que se concentram em como atingir esses dois objetivos em organizações dedicadas à pesquisa e inovação.2 Dentro dessas estruturas, os

componentes do RRI podem ser agrupados em três camadas de ações:

Estudos orientados academicamente, os quais analisam as aplicações do RRI no “mundo real”,

em conjunto com propostas teóricas que buscam por que e como enquadrar a

responsabilidade.

Estudos de políticas que usam pesquisas empíricas e estruturas teóricas para considerar como

as políticas existentes podem ser melhoradas com o aumento da responsabilidade.

Estruturas orientadas ao profissional as quais estabelecem ações específicas para sondar e,

em seguida, aumentar a responsabilidade nas organizações.

1 Wittrock, C., Forsberg, E.M., Pols, A., Macnaghten, P. and Ludwig, D., 2021. Implementing Responsible Research

and Innovation: Organisational and National Conditions, Springer, pp. xi.

2 See Owen, R., Macnaghten, P. and Stilgoe, J., 2012. Responsible research and innovation: From science in society to science for society, with society. Science and Public Policy, 39(6), pp. 751-760;

(6)

i.

RRI em uma perspectiva histórica

Historicamente, a RRI é resultado de programas que visam repensar e reorganizar a forma como a ciência e suas instituições estão inseridas nas sociedades contemporâneas.3 O reconhecimento no pós

guerra da ciência e da pesquisa em nível estadual e global, bem como a influência da ciência e da

tecnologia nas sociedades e culturas contemporâneas na primeira metade do século XX produziu preocupações que começaram a crescer nos anos 1960 sobre a necessidade de a ciência responder diretamente às exigências das sociedades, por exemplo, para aumentar a governança pública da ciência.4 Esta posição contrastava com a ideia e otimismo pré-guerra que colocavam as instituições

científicas para além do escrutínio, com base na ideia de que a ciência autônoma trouxe enormes benefícios para a sociedade com apenas pequenas desvantagens quando era incorretamente “aplicada”.

A proposta de repensar a ciência sugeria orientar a pesquisa científica e tecnológica para que pudessem responder mais diretamente às necessidades da sociedade. Isso incluía a implementação de novos mecanismos políticos para proteger o público de danos como resultado da pesquisa. Essa virada para uma ciência socialmente reflexiva ressoou com novos movimentos acadêmicos voltados para o escrutínio da forma como a ciência era de fato praticada, tanto em suas dimensões políticas e sociais “internas” e “externas”, e um afastamento da ideia de ciência como uma empresa impecável e puramente racional.

As décadas de 1970 e 1980 consolidaram esforços sociais e acadêmicos nessa direção. Além disso,

particularmente nas democracias ocidentais (em outras palavras, Europa e Estados Unidos), na segunda metade do século XX, também viram intensas reorganizações de financiamento de ciência e tecnologia – às vezes empresas originadas em instituições públicas nacionais e com forte financiamento governamental, em outro, com financiamento compartilhado nas esferas pública e privada em diferentes graus, para o ambiente de financiamento misto de hoje.5 Embora essa

reorganização não tenha sido universal – em muitas partes do mundo em desenvolvimento até hoje, o investimento em pesquisa científica ainda tem o Estado como principal benfeitor, e a parcela do investimento, mesmo nas nações desenvolvidas é heterogênea – a alta influência da Europa e dos EUA nas agendas globais de pesquisa também significou que sua preocupação regional com a governança científica se tornou um importante assunto de discussão sobre como estruturar a política científica global.

3 Rip, A. 2016. The clothes of the emperor. An essay on RRI in and around Brussels. Journal of Responsible

Innovation, 3(3), 3: 290-304; Reber, B., 2018. RRI as the inheritor of deliberative democracy and the precautionary principle. Journal of Responsible Innovation, 5(1), pp. 38-64.

4 Kuhlmann, S., Stegmaier, P. and Konrad, K., 2019. The tentative governance of emerging science and technology—A conceptual introduction. Research Policy, 48(5), pp. 1091-1097.

(7)

Na década de 1990

, os olhares críticos sobre a ciência passaram a ter uma influência definitiva nas políticas públicas, bem como a permear a academia. Tais mudanças influenciaram o surgimento de programas que tratassem diretamente de questões como a gestão de risco científico e tecnológico; de aumentar a participação direta do público nas agendas de políticas científicas; e de lidar com as injustiças associadas aos desastres tecno-científicos – mas também para aumentar a aceitação da ciência e da educação científica como ‘bens públicos’. Além disso, naquela época os discursos de políticas públicas sobre ‘ciência e tecnologia’ começaram a ser reformulados em termos de ‘inovação’ para incorporar novos modelos econômicos que relacionavam os interesses públicos e privados para o desenvolvimento da pesquisa.

II. RRI: uma abordagem europeia para governança

Embora as agendas destinadas a reorientar reflexivamente as dimensões sociais e culturais da ciência e tecnologia tenham sido influenciadas pela política científica dos EUA,

a criação de estruturas

políticas reais para sua realização foi particularmente prolífica na Europa.

Enquanto nos Estados Unidos da América a ciência, a tecnologia e a educação se beneficiam imensamente de recursos públicos e são naturalmente moldadas pela política de Estado, foi o crescimento e a consolidação da União Europeia e a sua cultura de buscar marcos de política comum que produziram os primeiros esforços para enfrentar a governança da ciência como um objetivo formal. 6

Consequentemente, vários documentos e ações de política da década de 1990 na Europa Continental e no Reino Unido são normalmente reconhecimentos como pontos de partida para discussões de Estado sobre a governança científica. Em última análise, isso conduziu a mudanças importantes na forma como a ciência foi conceituada, organizada e financiada dentro da União Europeia, o que estabeleceria as raízes do que mais tarde se tornaria a RRI.

No início dos anos 2010, a RRI começou a consolidar ideias decorrentes de projetos de ciência genômica de alto impacto social da ‘Big Science’ (principalmente, o Projeto de Genoma Humano, HGP, na sigla em Inglês) para os quais questões de ética e interações ciência-sociedade foram visivelmente trazidas à tona, graças ao imediatismo das preocupações éticas levantadas pelo HGP e à visibilidade dos programas em grande escala que procuravam envolver diretamente o público nessas discussões éticas. A política da União Europeia (EU) tornou-se orientada para os objetivos de formas mais ‘a montante’ (upstream) de governança científica e tecnológica, por exemplo, a ideia motriz de que o impacto das agendas científicas deve ser investigado muito antes de a ciência estar ‘terminada’ e dever

6 De Saille, S., 2015. Innovating innovation policy: the emergence of ‘Responsible Research and Innovation’.

(8)

ser parte do próprio processo de pesquisa/inovação.7 Essas ideias foram institucionalizadas pela EU

quando, em 2013, o desejo de enfrentar essas questões de frente se tornou um dos principais componentes da pesquisa e a principal bandeira política para financiamento do Programa Horizonte 2020 da EU. Além disso,

a EU reconheceu, simultaneamente, que abordar as dimensões sociais

e éticas da pesquisa e inovação em termos de responsabilidade era um componente

importante para orientar a pesquisa, mas também um tópico de pesquisa em si

.8 Esforços

foram então dedicados à criação de maneiras específicas de definir a responsabilidade para moldar concretamente a política, de modo que pudessem ser construídas orientações que levassem a ações organizacionais real refletindo essas preocupações.

É importante destacar as raízes europeias da RRI porque, como explicado acima, a RRI é uma

estrutura criada para responder aos desenvolvimentos históricos e à consequente

necessidade de regular as relações ciência-sociedade em contexto regional social específico

. Portanto, a RRI propõe estruturas para analisar como a ciência e a sociedade devem se desenvolver – de acordo com os modelos da ciência Europeia, conforme visto, necessários e exigidos pelas sociedades europeias. Embora muitas dessas preocupações possam se sobrepor às de outros contextos globais, a RRI como uma forte diretiva para políticas é um projeto Eurocêntrico. Outros programas influentes que formulam o ‘impacto’ da ciência e da tecnologia de maneiras mais orientadas para a sociedade, como os iniciados pela National Science Foundation dos Estados Unidos na década de 2010, certamente têm muitas sobreposições com RRI, no entanto, tendem a abordar as ações políticas reais de maneiras diferente.

III. Os componentes politicos da RRI

ii.

As cinco ‘chaves’ da RRI

Para recapitular, o resultado de desenvolvimentos históricos desde a década de 1960 levou à institucionalização da RRI na Europa: um quadro para a elaboração de políticas em ciência e inovação tecnológica, que pode conceituar e medir a responsabilidade por meio de ações concretas e específicas.

7 Zwart, H., Landeweerd, L. and Van Rooij, A., 2014. Adapt or perish? Assessing the recent shift in the European research funding arena from ‘ELSA’to ‘RRI’. Life Sciences, Society and Solicy, 10(1), pp. 1-19.

8 Owen, R., Macnaghten, P. and Stilgoe, J., 2012. Responsible research and innovation: From science in society to science for society, with society. Science and Public Policy, 39(6), pp.751-760.

Von Schomberg, R., 2013. A vision of responsible research and innovation. Responsible innovation: Managing the responsible emergence of science and innovation in society, pp. 51-74.

(9)

Em sua formulação atual, a RRI concentra-se em duas vias principais para alcançar a responsabilidade. Por um lado, ela oferece um conjunto de categorias por meio das quais organizações podem avaliar instâncias específicas de responsabilidade, ou seja, tópicos-chave por meio dos quais as organizações ‘exibem’ responsabilidade. Elas são conhecidas como as ‘chaves’ da RRI, ou seja, um conjunto de seis ‘graus de liberdade’ práticos para a responsabilidade. As chaves incluem tópicos, os quais são geralmente aceitos pela comunidade de RRI por encapsular ‘responsabilidade’ em práticas de pesquisa-inovação nos contextos organizacionais e políticos de hoje. Esses tópicos são: 9

Ética

Igualdade e diversidade de gênero

Acesso aberto e ciência aberta

Educação científica

Engajamento social/público

As seções seguintes resumem os componentes essenciais dessas chaves.

A chave ética

tica em RRI concentra-se em três principais questões:

 A integridade e avaliação reflexiva dos processos de pesquisa e inovação.

 Uma abordagem reflexiva para considerar os efeitos da pesquisa científica como parte do processo de inovação.

 Envolver as preocupações do público em discussões éticas.

As organizações refletem responsabilidade ética quando exibem sinais de preocupação com esses tópicos. Concretamente, incluem instrumentos práticos como “códigos e regulamentos éticos, comitês de ética, treinamento de integridade em pesquisa, escritórios e oficiais de ética ou integridade, bem como a inclusão de considerações éticas em projetos ou processos de pesquisa e inovação”10

9 A governança às vezes é adicionada como uma sexta chave. Para uma visão geral abrangente voltada para a implementação e um recurso rico para a aplicação prática das ideias básicas de RRI. Aqui seguimos a estrutura conceitual e de pesquisa para o projeto RRI-P no qual a governança não é uma chave separada. Compare com o portal RRI Toolkit, uma rica fonte para a RRI orientada para:

https://rri-tools.eu/

10 Witrock et al. 2020, pp. 7.

E

(10)

A chave da igualdade e diversidade de gênero

Embora em sua formulação inicial a igualdade de gênero fosse a principal preocupação em RRI, os seus desenvolvimentos recentes ampliaram a questão também para considerar a ‘diversidade’ em termos de, antecedentes culturais e étnicos, entre outras dimensões. Os principais problemas dessa chave são:

Representação igual de todos os subgrupos sociais em pesquisa e inovação, em todas

as disciplinas de pesquisa e em todos os níveis hierárquicos das organizações.

A abolição das barreiras sócio-culturais para que os indivíduos desenvolvam todo o

seu potencial em todos os contextos organizacionais.

Consideração explícita das dimensões da diversidade, como gênero ou origem étnica

em atividades e políticas de pesquisa e inovação.

A chave do acesso aberto e da ciência aberta

Aqui a abertura se refere ao crescente apelo em promover o acesso irrestrito a todos os aspectos dos processos de pesquisa e inovação em suas dimensões técnicas mais formais e da reutilização de informações decorrentes desses processos. Isso inclui acesso não pago para exploração de literatura publicada e resultados, dados científicos e técnicos e, em geral, a todas as saídas provenientes de pesquisas com financiamento público. Além disso, dois objetivos abrangentes podem ser idenfificados, dependendo se a abertura visa práticas inter-científicas ou aspectos ciência-sociedade:

Beneficiar os próprios cientistas e pesquisadores, incentivando práticas que

melhorem a comunicação científica, auxiliem no escrutínio e verificação de

resultados de pesquisas, criem bens científicos comuns, removam o acesso a

resultados de pares etc.

Para beneficiar a população em geral, postulando a pesquisa e a inovação como bens

públicos dos quais os cidadãos podem se beneficiar por meio de uma interação mais

direta

.

Educação científica

A educação científica engloba a aquisição de conhecimento científico pelos cidadãos e pela

população em geral

. A ideia subjacente é que a familiaridade com a ciência é fundamental para permitir que os cidadãos apreciem e apreendam tanto os aspectos positivos da ciência quanto suas possíveis complicações. A educação científica é abordada em todos os níveis da educação formal, mas

(11)

dentro da RRI é diferente das atividades de ‘engajamento’ e ‘divulgação’. Em vez disso, o ensino de ciências concentra-se em como a ciência, a pesquisa e a inovação estão presentes (ou ausentes) nos currículos formais.

Engajamento social/público

O engajamento abrange uma ampla gama de possibilidades por meio das quais as organizações de pesquisa e inovação podem interagir com a sociedade em geral e de maneira direcionada:

de

atividades de comunicação que informam o público sobre aspectos específicos da pesquisa;

a exercícios onde públicos, partes interessadas e organizações de pesquisa interagem de

uma forma mais dinâmica e bidirecional; as atividades buscam envolver públicos e

stakeholders específicos em ações de pesquisa e inovação

. Assim, o engajamento pode abranger atividades diversas como: conferências públicas sobre tópicos de pesquisa voltados para públicos mais amplos, atividades culturais, como clubes de filmagem que envolvem o público em debates acadêmicos; programas de educação continuada; reuniões municipais, debates abertos e atividades com várias partes interessadas focadas em tópicos de pesquisa e inovação; iniciativas lideradas por cidadãos em questões científicas; colaboradores entre organizações de pesquisa e cidadãos; recursos não curriculares de comunicação científica, como revistas científicas: entre muitas outras possibilidades.

iii.

RRI e o processo organizacional

Um aspecto de destaque das estruturas de RRI é a sua base sólida em estudos organizacionais que propõem estratégias eficazes para promover a mudança organizacional.11 Para alcançar isso,

a RRI faz

uso de conceitos analíticos, categorias e estruturas de pesquisa que investigam se as

organizações têm a capacidade de responder aso desafios colocados pela RRI

. Isso é capturado nas “dimensões do processo”, que são os segundos componentes importantes da RRI, além das cinco “chaves”.12

Antecipação e reflexibilidade

No desenvolvimento da responsabilidade, a pesquisa e a inovação estão ligadas a incertezas e riscos associados a desenvolvimentos futuros, como consequências não intencionais de descobertas científicas ou consequências imprevistas de novas tecnologias, risco e incerteza. No entanto, em sua insistência em envolver o público mais amplo e as preocupações sociais no processo de pesquisa e

11 Scott, W.R., and G.F. Davis. 2007. Organizations and organizing: Rational, natural, and open systems perspectives. Upper Saddle River: Pearson Education.

12 Stilgoe, J., Owen, R., & Macnaghten, P. (2013). Developing a framework for responsible innovation. Research policy, 42(9), pp. 1568-1580.

(12)

inovação,

a RRI convida um conjunto mais amplo de atores sociais para participar da

modelagem do futuro científico e tecnológico, desde os estágios iniciais de seu

enquadramento. Antecipação e reflexão tratam, portanto, da capacidade de as

organizações de refletir sobre o futuro de suas ações, bem como de envolver outras vozes

fora dos ciclos tradicionais de pesquisas e inovação. Além de consequências desconhecidas

e imprevistas, isso também visa trazer visões reflexivas e potencialmente críticas de

suposições, atividades, teorias, enquadramentos ou sistemas de valores que impulsionam a

pesquisa ou inovação.

Diversidade e inclusão

A inclusão aborda a

participação do mais amplo espectro possível de atores sociais e partes

interessadas dentro dos objetivos de RRI

. Por exemplo, ao realizar exercícios reflexivos e antecipatórios ou ao sondar as preocupações do público sobre as novas tecnologias, a diversidade buscaria incluir as vozes de grupos minoritários ou marginalizados como parte de um universo cultural plural impactado por pesquisa e inovação.

Abertura e transparência

Embora conectados à ‘chave’ do acesso aberto e da ciência aberta, no processo organizacional a

abertura e transparência também estão conectados à forma como as atividades de ciência

e inovação se conectam com os cidadãos por meio de canais e procedimentos confiáveis e

honestos

. Em instituições públicas, em particular, a disponibilidade de informações sobre orçamentos de pesquisa e avaliações organizacionais, a disponibilidade de canais de informações abertas e outros aspectos da responsabilidade pública são de grande importância.

Capacidade de resposta e adaptação

Dado que a RRI realmente busca aumentar a ‘responsabilidade’ conforme visto na ação organizacional, construir a capacidade das organizações de responder aos desafios também é uma meta da RRI.

A

capacidade de resposta e a adaptação, portanto, abordam os mecanismos que as

organizações têm em vigor para responder às pressões internas e externas, para promover

e realizar mudanças institucionais, para desafiar as suposições sobre o processo de pesquisa

e inovação para reorientar o momentum institucional e, se necessário, se alinhar a objetivos

modificados.

(13)

iv.

Medidas do potencial de RRI: perspectivas organizacionais

RRI tem aspirações normativas claras: subjacente à estrutura está uma visão constituída de como a ciência, a tecnologia e a inovação deveriam ser em uma sociedade saudável, democrática e inclusiva.13

No entanto,

como uma estrutura de avaliação, a RRI reconhece que investigar a

responsabilidade em pesquisa e inovação em muitos tipos de organização também requer

um grande grau de flexibilidade e adaptabilidade a todos os muitos tipos ou contextos

organizacionais onde a ciência, a pesquisa e a inovação entram em jogo

: de centros de pesquisa públicos de pequena escala a agências de financiamento científico nacionais e internacionais; de startups de inovação em estágio iniciais a participantes consolidados de tecnologia do setor privado; de universidades regionais com financiamentos público em países em desenvolvimento a faculdades privadas de alto nível e centros de pesquisa.

Ainda assim, particularmente para a indústria privada, pode não ser totalmente claro como e se a RRI pode ter um impacto, pois de fato RRI, como originalmente formulada, tem o objetivo de abordar preocupações em torno de instituições governamentais e financiadas publicamente.14 Então,

novamente, dentro da pesquisa sobre RRI é bem estabelecido que a relevância de alguns de seus componentes nunca é, nem precisa ser, homogênea entre as organizações. Por exemplo, exercícios comparativos entre o financiamento da pesquisa e as organizações executoras de pesquisa15 mostram

que, em geral, as primeiras dão muito menos importância ao engajamento ou às atividades de educação do que as últimas. Assim, as agências de fomento podem ver o envolvimento da sociedade nos projetos que financiam como um fator positivo, mas delegam a gestão dessas tarefas às atuais universidades onde a pesquisa é realizada. Ou, por exemplo, os órgãos de fomento podem defender um maior grau de autonomia dos interesses públicos imediatos que podem não ser capazes de reconhecer a pesquisa de vanguarda, enquanto as universidades podem ter uma responsabilidade muito mais direta na adaptação às necessidades específicas das comunidades que servem.

O papel

da RRI em organizações privadas, levando em consideração essa heterogeneidade em

‘aplicabilidade’, será abordada em seções posteriores deste documento

.

13 Van Oudheusden, M., 2014. Where are the politics in responsible innovation? European governance, technology assessments, and beyond. Journal of Responsible Innovation, 1(1), pp.67-86 and Witrock et al., op. cit.

14É claro que a RRI tem seus críticos. Foi apontado que ela pode atuar como uma estrutura que, por meio de um discurso de promoção do bem para a sociedade, pode também funcionar como um discurso para simultaneamente ocultar o dano à sociedade; situação que é de particular interesse no caso da indústria privada. Para essa linha de crítica, veja Delvenne, P. 2017. Responsible research and innovation as a travesty of technology assessment?." Journal of Responsible Innovation, 4(2), pp. 278-288.

(14)

RRI, portanto, não deve ser tomada como uma ‘lista de verificação’ abrangente que mede, de forma absoluta, se uma organização “é responsável ou não”.

Diferentes organizações que atuam em

diferentes contextos em ecossistemas de pesquisa e inovação encontrarão diferentes níveis

de relevância em cada uma das chaves ou processos organizacionais

. Por outro lado, é provável que questões como responsabilidade ética, diversidade e inclusão, capacidade de resposta e adaptação e transparência sejam transversais a todos os contextos organizacionais e, neste sentido, a RRI pode ser útil como uma forma estruturada de abordar tais preocupações em muitos tipos de organizações.

Ao avaliar a “relevância” da RRI para organizações específicas, o embasamento em estudos organizacionais empíricos se mostra importante:

antes de ‘aplicar’ a RRI a um contexto

organizacional é fundamental primeiro obter uma boa compreensão de seu funcionamento

interno e do contexto sociocultural em que a organização opera

.

Os aspectos a serem considerados incluem estruturas formais e informais dentro das

organizações

. Em termos de aspectos formais, incluem-se os códigos e regras normativos, reguladores, explícitos, estatutos, documentos legais, padrões, diretrizes éticas, etc. que governam a estrutura interna das organizações; ou aspectos formais que hierarquizam e delegam operações dentro das organizações (a chamada dimensão de sistemas racionais).

Por mais importante que sejam essas estruturas formais, é igualmente importante entender a maneira como esses códigos explícitos realmente atuam (ou não) na formação das atividades organizacionais. Ou seja, para fins de RRI, deve-se também consideram os fatores não escritos, culturais e sociais que moldam essas atividades, incluindo valores, identidades, concepções, percepções e suposições tidas como certas (a chamada dimensão dos sistemas naturais).

Por fim, a RRI reconhece que as organizações estão imersas em contextos socioculturais amplos como ambientes políticos, especificidades regionais e de país, culturas nacionais industriais, influência e importância das partes interessadas, opinião pública e reputação, condições de mercado, referências externas e outros fatores externos às organizações (a chamada perspectiva de sistemas abertos). Uma compreensão completa das organizações nessas três dimensões é fundamental para uma perspectiva eficiente de RRI.

Direcionadores e barreiras

A principal razão pela qual a compreensão das perspectivas organizacionais racionais, naturais e abertas é importante, é porque a RRI recomenda enfaticamente que a mudança deve ser implementada considerando tanto os direcionadores quanto a barreiras à mudança. Ou seja,

ao

identificar as características mais relevantes das organizações, a RRI busca verificar quais

(15)

partes da estrutura podem, mais facilmente, estar em sinergia com os aspectos

organizacionais existentes; e que podem apresentar dificuldades particulares

. Por exemplo, muitas organizações podem não exibir um nível satisfatório de igualdade de gênero, mas podem ter programas iniciais ou discussões preliminares em andamento para atingir tal objetivo. Consequentemente, a atitude organizacional em reação à mudança do desequilíbrio de gênero e seu compromisso aberto com a produção de políticas ao longo do eixo dos sistemas racionais é um claro direcionador para a mudança. Por outro lado, a organização pode ser influenciada por valores culturais abrangentes que negam ou ofuscam a existência de desequilíbrio de gênero, ou o desequilíbrio de gênero pode ser uma questão não prioritária para uma organização, caso em que a atitude ou os valores relativos ao desequilíbrio de gênero são uma barreira para a mudança ao longo do eixo dos sistemas naturais.

De modo geral, uma análise de RRI abrangente consideraria como a perspectiva das organizações em todas as chaves, para cada um dos aspectos racionais, naturais e abertos, por exemplo:

 Educação científica (perspectiva de sistema racional): a organização X possui uma política para promover e melhorar o ensino científico em seu currículo?

 Educação científica (perspectiva do sistema natural): os gestores da organização X consideram a alfabetização científica um valor importante a ser promovido em sua comunidade?

 Ensino científico (perspectiva de sistema aberto): a organização X se beneficiou de abundantes fundos federais alocados para programas nacionais de ensino de ciências; ou esse financiamento é limitado pela política existente?

Direcionadores para RRI

Direcionadores racionais para RRI incluem:

 Programas, infraestruturas e ajuda organizacional dedicadas, envolvendo-se diretamente com qualquer uma das chaves de RRI ou integrando-as em um conjunto concreto de práticas recomendadas.

 Mandatos organizacionais, diretrizes, regulamentos, códigos, políticas ou documentos estratégicos que lidam com as questões de RRI.

 Critérios de avaliação e procedimentos ou incentivos que cubram uma das chaves.

 Atividades de treinamento que cubram ações relacionadas às chaves.

Direcionadores culturais incluem:

(16)

 Valores organizacionais e elementos da identidade institucional que refletem o engajamento com as chaves. Esses valores não precisam se afastar das normas “tradicionais” da ciência ou pesquisa (por exemplo, objetividade, produtividade, racionalidade etc.), mas certamente não estão limitados a eles.

 Atores institucionais que têm influência dentro da organização e podem atuar como ‘referência’ da mudança, ou que já estão comprometidos em abordar mudanças que sejam relevantes para a RRI.

 Atitudes positivas em relação aos aspectos de RRI que são considerados bons “por si só” para uma organização.

Direcionadores para mudança da perspectiva de sistemas abertos incluem:

 Regulamentos, leis e acordos nacionais, regionais e internacionais que as organizações assinam ou devem cumprir em relação a qualquer uma das chaves.

 Órgãos reguladores, associações ou observatórios nacionais e internacionais que investigam ou regulam os aspectos de RRI.

 Monitoramento, benchmarks, métricas aceitas e outros tipos de medidas padronizadas para avaliar o desempenho que as organizações aderem ou promovem.

 Políticas e programas nacionais que buscam abordar elementos das chaves.

 Demandas explícitas de atores públicos, partes interessadas ou organizações políticas.

 Reputação organizacional.

Barreiras para a RRI

Os tipos de barreiras para RRI em organizações são frequentemente mais complicados para mapear do que os direcionadores, visto que muitos deles correspondem a características de organizações que não são fáceis de correlacionar à chaves específicas.

Aqui serão listados alguns dos problemas

mais relevantes identificados por Witrock et al. em sua análise comparativa para termos

uma ideia do que isso pode abranger:

 Falta de recursos, o que inclui dinheiro, tempo, pessoas, treinamento, experiência para abordar os elementos das chaves (mesmo quando eles são reconhecidos como importantes para cumprir a missão de uma organização.

 Falta de incentivos para atingir metas ou mudanças, muitas vezes associada à falta de recursos.

 Falta de estratégias formais, diretrizes ou códigos para abordar explicitamente as chaves da RRI.

 Pouca ou nenhuma consciência sobre a importância das chaves.  Conflitos entre valores institucionais e ações ou conceitos propostos.

(17)

 Falta de suporte gerencial para promover os elementos das chaves.  Falta de políticas ou regulamentos nacionais.

 Falta de interesse público ou político em aspectos relacionados a RRI.  Falta de mecanismos para promover ou fazer cumprir a responsabilidade.  Conflitos entre objetivos de RRI e interesses privados ou comerciais.

Este último ponto é particularmente significativo quando se discute a aplicabilidade da RRI a organizações não públicas, e será discutido com mais detalhes mais adiante. Entretanto, estudos comparativos internacionais destacaram as tensões que podem surgir da aplicabilidade dos ideais de RRI europeus a outros contextos regionais ou nacionais, causados por fortes diferenças na forma como a pesquisa e a inovação são adaptadas em diferentes contextos culturais.

IV. Etapas preliminares para um estudo de caso de RRI:

desenvolvendo uma compreensão inicial de um contexto nacional

Esta seção apresenta uma visão prática de como um estudo organizacional completo de RRI

é realizado

. Apresenta um resumo do mapeamento contextual inicial feito pela equipe brasileira que participou do projeto Horizonte 2020 Pesquisa e Inovação Responsáveis na Prática de 2016 a 1019 (RRI-P), um consórcio internacional do qual participaram 12 países e 23 instituições. O objetivo do projeto era avaliar como a RRI poderia ser usada para localizar organizações de execução e financiamento de pesquisa em diferentes contextos nacionais e, em seguida, promover a aplicabilidade da ‘tradicional’ RRI europeia a esses contextos nacionais e culturais. As organizações brasileiras selecionadas para o exercício foram a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) E A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).16

v.

Contexto Nacional

Análise documental

Os estágios iniciais do projeto RRI-P Brasil foram fortemente focados na realização de uma análise documental do contexto brasileiro de pesquisa e inovação, complementada por um pequeno número de entrevistas iniciais com atores importantes em instituições nacionais relevantes (por exemplo, o Conselho Nacional de Ciência e Desenvolvimento Tecnológico – CNpQ, o Ministério da Ciência e a própria FAPESP. Dada a dimensão e complexidade do conjunto de atores envolvidos no sistema

16 Para o relatório completo do projeto veja Reyes-Galindo, L. and Monteiro, M., 2018. RRI-Practice report from national case study: Brazil, D. 13.1. O relatório inclui uma bibliografia complete semi-anotada das evidências documentais que apoiaram a perspectiva nacional e a avaliação organizacional. Para mais informações veja também a página da web do projeto RRI-P Brazil: https://luisreyes92.wixsite.com/unicamprri

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nacional de pesquisa brasileiro, os esforço documental concentrou-se em três tipos de documentos que, juntos, cobriram os contextos do sistema racional, aberto e natural de Pesquisa e Inovação (P&I) (ver Figura 1):

• Documentos oficiais de política nacional, marcos legais, diretrizes nacionais, marcos regulatórios institucionais. O que correspondia, principalmente, à dimensão dos sistema racional no protocolo de pesquisa, mas por si só daria uma visão geral, por vezes idealizada e superficial do contexto nacional.

• Relatórios de agências não governamentais e de desenvolvimento internacional da UNESCO, da OCDE e outros relatórios de CT&I para enfrentar a ciência brasileira em escala global. O que ilustrou a dimensão do sistema aberto em nível internacional.

• Compreendeu as declarações da sociedade, manifestos e documentos de posicionamento, importantes na compreensão de discussões relevantes para RRI, como debates sobre procedimentos de ética em pesquisa em nível nacional, implementação de acesso aberto e a crise de financiamento da ciência. O que correspondeu à dimensão do sistema aberto no contexto brasileiro.

• Livros brancos, documentos de posicionamento, de perspectivas institucional, como ‘Livros de conferências nacionais’, que são semelhantes aos ‘brancos’, compilações e monografias da organização foram úteis para ilustrar as perspectivas nacionais sobre questões específicas, por exemplo, bem como alguns relatórios regionais de pesquisa ou avaliação para o Estado de São Paulo.

• Materiais online como sítios institucionais, declarações de missão, histórias institucionais, descrições organizacionais, relatórios internos etc. Ao contrário da situação enfrentada por muitos dos parceiros europeus do consórcio, no Brasil as instituições tendem a limitar a publicação de perspectivas e análises institucionais abrangentes, estatísticas e análise de programa além das análises numéricas mais básicas.

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Figure 1: Figure 1: Main actors in the Brazilian ST&I system. The rational system documentation corresponds mainly to documents from the first and second rows (executive and legislative documentation); the natural system documentation to the third row (research conducting and funding institutions, local ST&I actors) as well as the, ‘society’ column in the first row (learned societies, industry agencies); the open system perspective was mainly captured through comparative international NGO studies. Source: Ministry of Science and Technology).

Engajamento como pesquisa: workshop nacional e grupos focais

Um passo importante para complementar a análise documental, particularmente no que diz respeito aos atores regionais do Estado de São Paulo, foi a organização de diversas atividades de engajamento que faziam parte dos pacotes de trabalho do projeto RRI-P. A primeira, uma importante etapa do mapeamento, foi um workshop organizado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 17 Os

convites para os workshops buscaram cobrir uma ampla gama de partes interessadas das principais instituições do sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) brasileiro. Dentre os participantes se pode mencionar representantes acadêmicos, da indústria e da formulação de políticas, o que incluiu ministérios do governo, agências de fomento federais, estaduais, equipes de pesquisa de institutos federais e agências de cooperação e financiamento do setor privado. O maior obstáculo na organização do workshop foram as práticas burocráticas comuns a muitas instituições brasileiros; os convites

17 A importância do engajamento com atores sociais e instituições tanto para a realização do mapeamento quanto para a criação de vínculos sociais com potenciais locais de pesquisa, bem como algumas nuances das atividades de engajamento e sua relevância para o contexto brasileiro são discutidos em: Reyes-Galindo, L., Monteiro, M. and Macnaghten, P., 2019. ‘Opening up’science policy: engaging with RRI in Brazil. Journal of Responsible Innovation, 6(3), pp.353-360.

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tinham que ser enviados primeiro aos escalões mais altos das organizações e só então, por meio deles, membros específicos podiam ser contatados. Este, por si só provou ser um elemento relevante no que diz respeito à possibilidade de ‘aplicar’ RRI ao contexto brasileiro.

No final, a falta de participação mais significativa foi a da indústria, apesar dos repetidos convites. Esse desinteresse por parte da indústria foi, na verdade, um tema que apareceu várias vezes durante as discussões dos workshops e também foi apontado como uma relevante fonte de atrito no ecossistema de P+I brasileiro. O evento, no entanto, foi bem sucedido em seus objetivos de engajamento, pois a maioria dos participantes demonstrou interesse em aprender mais sobre a RRI e na possibilidade de organizar eventos futuros de natureza semelhante.

Assim, o workshop foi tanto uma oportunidade de complementar o mapeamento nacional,

como de criar comunicação e conexões com instituições e atores sociais relevantes. Este tipo

de reunião com várias partes interessadas são uma característica comum das diretrizes de

ação de RRI e a maioria dos parceiros do consórcio de pesquisa relataram resultados

positivos do workshop

.

Outra atividade de pesquisa/engajamento de importância crítica foi a organização de grupos focais nas instituições parceiras com a ajuda de representantes da alta administração que, naquela época, haviam se familiarizado com o projeto e as conclusões do mapeamento institucional. Para os quais também foi solicitado que lessem criticamente e comentassem. Os grupos focais iniciaram com uma breve apresentação do projeto RRI, seguida por discussão dirigida sobre as opiniões dos participantes sobre os relatórios preliminares, questões que haviam sido perdidas, sugestões de melhoria, recursos não listados etc. Os comentários dos participantes foram particularmente úteis na incorporação de opiniões de perspectivas de gerenciamento intermediário e pontos de vista institucionais de nível básico que complementaram os relatórios preliminares. Uma versão atualizada dos relatórios foi enviada de volta e pequenas adições foram feitas usando comentários dos participantes.

Resumo do mapeamento do contexto nacional

O mapeamento nacional foi necessário para apreender as principais características dos

ecossistema P+I brasileiro, para colocá-lo em um contexto global, mas também para

entender como as instituições parceiras se encaixam nesse quebra-cabeça.

A heterogeneidade do Brasil como país, além de seu tamanho, fez com que fosse preciso ter cuidado para entender a representatividade das instituições parceiras no ‘contexto nacional brasileiro’. O fato de o Estado de São Paulo ter talvez o sistema de P&I mais forte, como observou um gerente da FAPESP, com uma produção individual que pode rivalizar com a de muitos países europeus – não significa que esse nível de desenvolvimento seja encontrado em todo o contexto brasileiro. Esta seção resume essas descobertas.

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O tamanho e a população do Brasil já dificultam a comparação direta com os contextos

europeus: é o 5º maior país do mundo e o 6º mais populoso, mas também apresenta grandes

disparidades na distribuição e desenvolvimento populacional, com altas concentrações

populacionais nas regiões Nordeste e Sul/Sudeste em comparação com o resto do país.

As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília são os centros do poder econômico, cultural e político (respectivamente). A região amazônica, com cerca de 60% da área do país, inclui vastas áreas de áreas naturais protegidas pela sua biodiversidade, mas também um alvo rico em recursos para o desenvolvimento, e está no centro de muitas disputas sobre responsabilidade ambiental global. O Brasil é a 8ª economia do mundo medida pelo PIB (PPP) e até 2010 era uma das economias de crescimento mais rápido do mundo, com forte influência na América do Sul e Latina, e uma potência média/status de superpotência potencial internacionalmente. Possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,79 (alto)

O português é a língua oficial e há uma forte influência da cultura portuguesa e europeia e

da religião católica e outras religiões de denominação cristã como em outras ex-colônias

latino-americanas, mas também um grande número de línguas indígenas e minoritárias são

faladas em todo o país por causa de uma rica história cultural pré-colombiana.

O Brasil é considerado um dos países com maior diversidade étnica do mundo, além de possuir um dos maiores índices de desigualdade racial, social e regional. O Banco Mundial estima que 3,4% da população vive abaixo da linha de pobreza extrema e 19,4% abaixo da linha de pobreza da classe média alta, que aumentou acentuadamente após 2015, atingindo índices particularmente altos nas regiões periféricas (por exemplo, 45% no Nordeste). Raça, classe social, gênero, nível de renda, religião e etnia estão fortemente entrelaçados nos debates políticos, culturais e sociais nacionais, que afetam a sociedade e a política brasileira de alto a baixo.

O Brasil é uma república federal, presidencialista e constitucional com uma legislatura de

duas câmaras localizada na capital Brasília.

No entanto, um importante marco histórico e cultural para o Brasil contemporâneo é a ditadura militar (1964-1985). O regime foi responsável por graves violações dos direitos humanos e políticos, incluindo execuções políticas e tortura, enquanto simultaneamente o país vivia o chamado período do "Milagre Brasileiro" de crescimento econômico excepcional e investimento e planejamento em infraestrutura do Estado, aumentando o perfil e a influência internacional do Brasil.

O Sistema brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação

Em 2016, a Despesa Bruta em Pesquisa e Desenvolvimento (DBPD) totalizou USD $ 37,705 milhões (2013 PPC $), com uma razão DBPD/PIB de 1,24%, bem abaixo dos níveis exibidos por nações altamente desenvolvidas e líderes regionais como a China, mas acima da média latino-americana e comparável a alguns países da Europa Ocidental. A participação do governo no DBPD (0,71 PIB) é alta em comparação com as nações altamente desenvolvidas, com o setor privado fornecendo menos da

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metade (0,53 PIB) da contribuição. O Brasil tem cerca de 1,4 pesquisadores Full Timte Equivalent (FTE) por 1000 habitantes, o que é uma ordem de magnitude menor do que nações líderes como os EUA, com cerca de 54% dos pesquisadores trabalhando no ensino superior, 40% no setor privado e o restante no governo. 61% dos gastos do governo em P&D vão para o ensino superior, com 10% dos gastos indo para pesquisa agrícola e não orientada, 6% para tecnologia industrial, 5% para infraestrutura, 1% para defesa e outros objetivos, como controle ambiental, ciência espacial civil, energia, exploração e desenvolvimento social capturando menos de 1%. De acordo com o relatório de CT&I do governo mais recente, os principais atores no sistema de ciência, tecnologia e inovação são:

Poder Executivo:

Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações e ministérios afins; agências reguladoras como a Agência Nacional do Petróleo, Agência do Gás Natural e Biocombustíveis e Agência Nacional de Energia Elétrica; secretarias estaduais e municipais; CONFAP (Conselho Nacional de Agências de Financiamento de Pesquisa dos Estados) e CONSECTI (Conselho Nacional de Secretários de Estado para Tópicos de CT&I).

Poder Legislativo

: Congresso Nacional e Assembleias Estaduais.

Sociedade

: Academia Brasileira de Ciências; Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; Confederação Nacional da Indústria; Movimento Empresarial pela Inovação; Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Negócios Inovadores; e sindicatos nacionais. •

Agências de Fomento

: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP); Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII);

‘Operadores de CT&I

: universidades, institutos federais e estaduais de CT&I; instituições de ciência e tecnologia; parques tecnológicos; Institutos de pesquisa do ministério; institutos nacionais de ciência e tecnologia; incubadoras; e empresas de inovação.

O sistema de P&I do Brasil é bastante jovem

se comparado ao dos países industrializados: sua primeira universidade moderna data da década de 1930 e demorou décadas para que investimentos significativos fossem feitos na construção da capacidade científica e na elevação da independência tecnológica, principalmente durante os anos da ditadura (pós 1964). Após a Constituição de 1988 e com a democratização, o Brasil passou por ciclos de crises e booms econômicos, vistos como reflexos nas agendas e debates nacionais sobre política de ciência e tecnologia. Apesar das reformas neoliberais de 1989, o investimento em ciência e pesquisa estagnou, com o sistema público sofrendo importantes restrições de financiamento.

Ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000, aumentar o investimento em P&I para alcançar um crescimento mais sustentado tornou-se mais central nas políticas. Várias políticas foram

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introduzidas para promover a inovação e melhorar os mecanismos de financiamento, como o Marco Legal da Inovação de 2004, seguido de leis estaduais que regulam a cooperação entre instituições acadêmicas e empresas privadas. Aumentos importantes no financiamento da ciência, coincidindo também com um crescimento econômico robusto, caracterizaram os anos seguintes, uma mudança de política em relação ao período anterior, que era mais focado na privatização e nos princípios liberais. Isso durou até a profunda crise política e econômica que se seguiu à recessão e ao

impeachment da presidente Dilma Roussef em 2016.

Instituições de pesquisa brasileiras

A institucionalização das atividades de pesquisa no país teve início apenas na década de 1950, com a criação de duas principais agências de fomento: CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A década de 1960 viu o discurso nacionalista e as reformas do ensino superior com o objetivo de sair de um estado de 'dependência tecnológica', enquanto a década de 1970 foi marcada pelo boom econômico da era da ditadura e uma incorporação da política de ciência e tecnologia no Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico do governo lançado em 1972. A agência FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) foi criada em 1971 para atender à necessidade de financiamento de pesquisas específicas às prioridades nacionais voltadas para a autonomia tecnológica, e tanto o CNPq quanto a CAPES foram fundamentais na profissionalização e no crescimento do escopo e da qualidade do P&D sistema. Enquanto a década de 1980 foi um período de contração e aumento da burocratização, a década de 1990 deu lugar à abertura econômica e à competição externa, o que criou uma demanda por "direcionar a pesquisa para a relevância econômica e social". A criação em 1985 de um Ministério da Ciência nacional centralizou o financiamento federal de P&D em paralelo à criação de agências de fomento regionais (estaduais) nos anos 2000, que antes existiam apenas no Estado de São Paulo (FAPESP).

Relevância do mapeamento nacional

Realizar o mapeamento não foi uma tarefa simples, o que levanta a questão prática de por que e se um exercício de pesquisa tão extenso é necessário. A resposta é dupla. Em primeiro lugar, a pesquisa documental preliminar e inicial não mostrou nenhum recurso que pudesse dar uma visão geral simultânea das três perspectivas (racional, natural, aberta) consolidadas em um ou até vários documentos, apesar de algumas referências principais fornecerem visões gerais de cada uma. Mas, principalmente porque envolve muitas dimensões tácitas ou problemas que estão ocultos ou mesmo invisíveis, até mesmo para os atores do sistema de P&I, a dimensão natural é difícil de acessar apenas por meio de fontes documentais. Na verdade, comparar as dimensões do sistema racional (por exemplo, documentos regulatórios institucionais) com as opiniões dos participantes do workshop ou entrevistados muitas vezes resultou em percepções significativamente diferentes. Alguns exemplos serão discutidos nas próximas seções.

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Em segundo lugar, logo ficou claro para a equipe de pesquisa que as instituições e organizações brasileiras apresentavam características muito diferentes das instituições parceiras europeias, por ex. uma cultura relativamente fraca de documentação relativa a objetivos institucionais e programas que abordam as chaves de RRI; ou uma falta geral de relatórios escritos abrangentes sobre responsabilidade institucional e desempenho. Isso não poderia significar que tais documentos não fossem importantes, mas sim que a cultura organizacional local e seus valores deveriam ser investigados por meio de outros tipos de instrumentos e métodos.

Por fim, quando comparado aos contextos europeus, o Brasil apresenta fortes diferenças em suas características sociais, culturais e políticas que afetam diretamente os principais aspectos da RRI.

Desigualdades regionais

Particularmente comparado ao contexto europeu, o Brasil possui um território e uma população total muito extensos. Ao mesmo tempo, há um alto nível de desigualdade entre as regiões, com um Sul-Sudeste economicamente dominante e um Norte-Nordeste comparativamente muito subdesenvolvido. Essas diferenças afetam o sistema de P&I a tal ponto que se pode falar sobre diferenças econômicas tão grandes quanto entre um país europeu desenvolvido e um país em desenvolvimento do Sul Global. Os níveis de desigualdade brasileiros são praticamente desconhecidos no contexto altamente desenvolvido da Europa Ocidental em que a RRI foi criada

Representatividade de instituições parceiras

Enquanto as regiões Sul e Sudeste que incluem o estado de São Paulo exibem altos índices de desenvolvimento, as regiões Centro-Oeste e Nordeste são significativamente menos prósperas, com a região Norte apresentando índices de desenvolvimento extremamente baixos. O estado de São Paulo, um dos 27 territórios que conformam a República Federativa do Brasil, é a potência econômica do país e responsável por cerca de 33% do PIB. Sua capital tem mais de 10 milhões de habitantes e é um dos maiores aglomerados urbanos do mundo. O estado é o mais populoso do Brasil, com cerca de 45 milhões de habitantes, e também possui os maiores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto (PIB) per capita de todos os territórios brasileiros. É um pólo cultural, infraestrutural, educacional, científico e industrial, com mais de 578 universidades, incluindo algumas das principais instituições e centros de pesquisa do Brasil, além de abrigar importantes pólos tecnológicos. Os indicadores de P&D também apresentam essas disparidades, com o estado de São Paulo captando 46% do DBPD nacional e 66% dos gastos com P&D das empresas, e suas universidades produzindo 41% dos doutores brasileiros; 44% de todos os artigos publicados com pelo menos um autor de São Paulo; e o Estado recebe 86% e 73% dos fundos de P&D do país para o ensino superior e do total dos fundos públicos para P&D, respectivamente.

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O Sistema de pesquisa de São Paulo

A disparidade acima é afetada de maneira importante pela própria política científica semi-autônoma do Estado de São Paulo, e não exclusivamente por diferenças de infraestrutura pré-existentes. Além da prosperidade de São Paulo, há um investimento percentual fixo garantido, constitucionalmente, da receita tributária do Estado, implementado pela FAPESP, a agência de fomento do Estado, que prevê uma receita estável e independente do governo federal e metas políticas que podem ser feitas sob medida para atender suas robustas comunidades industriais e empresariais de SP.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), agência de fomento à pesquisa do Estado de São Paulo, é uma das principais organizações de fomento à pesquisa no Brasil e tem sido reconhecida, junto com seu sistema universitário de primeira linha, como um dos dois principais fatores que explicam o sucesso do estado de São Paulo na produção científica. É uma instituição autônoma vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo. Financiado diretamente pelos impostos estaduais, foi inicialmente concedido um montante fixo de 1% do total da receita tributária estadual (aproximadamente USD $ 300 milhões), além de contribuições federais e outros fundos auxiliares. Embora essa política de base tributária represente certa estabilidade de receita mesmo em tempos de turbulência econômica, a atual crise generalizada do Brasil e uma polêmica medida de transferência de recursos da FAPESP para outros programas do Ministério significou que mesmo em São Paulo a atual recessão e a consequente crise de financiamento da ciência teve efeitos significativos. Em 2017, por exemplo, a movimentação de recursos da FAPESP para outros programas ministeriais significou que a meta legal de 1% obrigatória não foi atingida. Embora a FAPESP tenha papel fundamental no sistema de ciência do estado de São Paulo, ela também é um termômetro e um exemplo para o sistema de ciência brasileiro como um todo, tanto em seus aspectos positivos como negativos.

V. ‘Responsabilidade’ dos parceiros institucionais em RRI-P do Brasil

vi.

Notas sobre pesquisas empíricas nas instituições parceiras

Em relação às instituições parceiras que foram foco do estudo (FAPESP e UNICAMP), embora

também tenha havido um trabalho inicial de mapeamento documental (em sua maioria pela

Internet), o núcleo do material empírico consistia em entrevistas com gestores de nível

médio e superior.

Particularmente na UNICAMP, encontramos pouco ou nenhum material escrito institucional referente a algumas chaves, o que em si é um resultado importante: dado o foco da RRI nas três dimensões organizacionais, a falta de diretrizes escritas ou regulamentos sobre as chaves significa um elemento ausente no tipo da cultura organizacional abrangente que a estrutura busca promover.

(26)

Voltando-se para as entrevistas, contamos com três estratégias básicas para recrutar entrevistados: contatos pessoais, informantes-chave e abordagem direta de alto nível com conhecimento do projeto; o participante da oficina e o contato existente com a gestão de nível superior para realizar os mapeamentos institucionais iniciais foram cruciais para encontrar informantes com conhecimento sobre chaves específicas. Um resultado importante do workshop foi a compreensão de que as perspectivas da gerência média e de nível básico às vezes estariam fora de sincronia com as perspectivas da alta gerência, uma situação que foi confirmada em várias entrevistas:

 Duas entrevistas de perspectiva geral com a alta administração de cada instituição parceira.

 Uma entrevista em cada instituição com alta ou média gerência considerada especialista em cada chave específica de RRI. Cada chave foi então complementada com entrevistas especializadas e gerais com a gerência intermediária, pessoal acadêmico e equipe de trabalho profissional, quando apropriado. Algumas dessas entrevistas abordaram temas tanto da FAPESP quanto da UNICAMP, por seus fortes vínculos institucionais.

 A amostra total foi de 13 entrevistados da FAPESP/UNICAMP, exceto um áudio gravado, a pedido do entrevistado.

 Todas as entrevistas (exceto uma única não gravada) foram transcritas para análise posterior.

As seções a seguir se concentrarão, primeiro, na perspectiva geral de "responsabilidade" que caracterizou as instituições parceiras e, em segundo lugar, resumirão os resultados em resultados-chave especificamente para a FAPESP, como parceira mais ampla. O relatório completo pode ser consultado online.

vii.

Perspecitivas gerais sobre responsabilidade

UNICAMP

UNICAMP,

a Universidade Estadual de Campinas, é uma das três universidades estaduais do estado de São Paulo (1992), se destaca por seu foco em educação de pós-graduação, publicação e produção de patentes, muitas vezes entre as melhores universidades da América Latina. Com 34.000 alunos, representa 12% das matrículas no ensino superior do Brasil. A UNICAMP é uma instituição pública, autônoma, mas sujeita aos marcos regulatórios das instituições públicas brasileiras. Funcionários, incluindo acadêmicos, são admitidos por meio de concursos altamente competitivos para o serviço público e tornam-se funcionários públicos quando contratados. A UNICAMP foi concebida especificamente para atender à crescente necessidade de pessoal qualificado no interior do Estado de São Paulo na década de 1960, com cerca de 40% da capacidade industrial total e 24% da população economicamente ativa do Brasil. A UNICAMP, portanto, ressoou com a ênfase no desenvolvimento tecnológico brasileiro como um projeto nacional naquele momento.

(27)

Seu estatuto geral atualmente estabelece que as missões da Universidade incluem a criação de pessoal científico, de artes liberais, artístico, docente e cultural; estimulando a pesquisa em todos os tipos de campos; estudar as problemáticas socioeconômicas da comunidade e fornecer soluções adequadas; colocar a produção acadêmica ao alcance da comunidade local; integrando todos os tipos de grupos técnicos e sociais na universidade.

A sociedade é um importante impulsionador institucional, principalmente por meio da construção de vínculos com a indústria tecnológica local, por exemplo, por meio da prestação de serviços técnicos e científicos e de contratos como a Agência de Inovação (Inova) com vínculos com as empresas e indústrias locais de Campinas (muitas delas derivadas dos programas empresariais da UNICAMP). O engajamento social também é realizado por meio de atividades de "extensão", incluindo aulas extracurriculares, cursos pagos, serviços à comunidade e eventos artísticos. Os docentes realizam atividades de pesquisa e ensino. A Universidade recebe a maior parte de seus recursos diretamente do governo do estado de São Paulo: um percentual fixo sobre os impostos. Isso se traduz em uma relativa independência de flutuações no orçamento do governo federal, uma vantagem incomum para as universidades públicas brasileiras.

Um tópico abrangente que se repetiu durante as entrevistas foi que a UNICAMP é percebida como uma instituição 'fragmentada', no sentido de haver um campus ativo onde acontecem muitas atividades e muitos programas notáveis de RRI, mas que há poucas ferramentas disponíveis para a comunidade se organizar ou informar a si mesma e a outros.

Aspectos de responsabilidade na política e prática organizacional

O conceito de "responsabilidade" está implicitamente embutido na declaração de missão geral da UNICAMP. Isso inclui conceitos claramente mapeáveis por RRI, como:

Participar na formação científica e no ensino Promover e estimular a investigação

Aceitar e buscar soluções para as necessidades da comunidade local de forma democrática

Colocar a produção acadêmica da universidade nas mãos da comunidade local

Integrar diferentes grupos sociais e culturais na vida universitária

Promover o pensamento ético na comunidade da Universidade.

Essas mesmas diretrizes são reiteradas do Livro de Regras Gerais da Universidade.

A ‘responsabilidade’ como um todo foi envolvida por um discurso relacionado com “devolver à sociedade” os recursos destinados à universidade; transparência e responsabilidade nas ações; e boas práticas científicas que promovam a excelência em pesquisa. O reitor definiu publicamente o conceito de responsabilidade como incluindo a manutenção de uma perspectiva financeira saudável em uma época de cortes profundos e limitações orçamentárias, mantendo os altos padrões da universidade. Em termos reais, deve moderar sua missão social entre a sustentabilidade financeira, o direito à governança autônoma e a necessidade de responder ao financiamento público.

Referências

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