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O olhar do psicoterapeuta e do cliente acerca do. encontro psicoterapêutico

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Academic year: 2021

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Especialização em Gestalt-terapia

O olhar do psicoterapeuta e do cliente acerca do

encontro psicoterapêutico

Renata Teixeira Chaves Celana Cardoso Andrade

Goiânia - GO Agosto de 2010

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em nível de Especialização

Especialização em Gestalt-terapia

O olhar do psicoterapeuta e do cliente acerca do

encontro psicoterapêutico

Renata Teixeira Chaves

Artigo apresentado ao Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia como requisito parcial à conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-Senso em Gestalt-terapia chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO.

Orientadora: Celana Cardoso Andrade

Goiânia - GO Agosto de 2010

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em nível de Especialização

Especialização em Gestalt-terapia

Folha de Avaliação

Título: O olhar do psicoterapeuta e do cliente acerca do encontro psicoterapêutico Autor(a): Renata Teixeira Chaves

Data da banca: 02/09/2010

Celana Cardoso Andrade, Ms. ________

Presidente da Banca: Professora-Orientadora Nota

Marta Carmo, Ms. _______ Professora Convidada Nota

Thaís Ribari Fujioka, Ms. _______

Membro Convidado Nota

Nota Final: _______________

Goiânia - GO Agosto de 2010

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A Rodrigo, meu noivo e companheiro, a minha gratidão por ensinar-me a amar e confiar além das fronteiras da minha casa, pelo apoio e compreensão constantes, pela paciência incansável e pela presença viva e intensa de sempre.

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Agradecimentos

Agradeço a Nossa Senhora por sempre iluminar meu caminho com seu brilho e

proteger-me com seu manto sagrado em todas as ocasiões da minha vida.

Agradeço aos meus pais, José Renato e Elizabeth, por me possibilitarem vivenciar relações constituídas pelo amor incondicional, cuidado, carinho, respeito e confiança. A vocês todo o meu amor e orgulho.

Aos meus irmãos, Patrícia e Fernando, pela singularidade e preciosidade de nossas relações, pela confiança na minha capacidade e pelos momentos de desabafo e diversão.

Aos meus pacientes, por me ensinarem que eles sempre serão os meus maiores professores.

Agradeço à minha orientadora e psicoterapeuta, Celana, por ser, no nosso entre, a personificação deste trabalho. Obrigada por permitir que eu vivencie a minha pesquisa nos encontros com você. Agradeço pelo carinho dedicado a mim e ao trabalho, pelos inúmeros ensinamentos, pelas broncas duras e, ao mesmo tempo, carinhosas e suaves, pela atenção, cuidado, dedicação intensa, pelas inclusões, comemorações, risos e olhares.

À Marta, pelas contribuições e enriquecimento dados ao meu trabalho, pela participação extremamente carinhosa e calorosa durante toda a minha formação em Gestalt-terapia e por participar da minha banca examinadora como professora convidada. Obrigada pelo afeto sempre demonstrado.

À Thaís, por aceitar prontamente o convite para a banca examinadora e pelas sugestões cuidadosas feitas na qualificação.

À Virgínia por me apresentar com tanta paixão e espontaneidade a Gestalt-Terapia e pela confiança incansável em minha capacidade.

À minhas sócias e amigas, Maya e Silvia, pelo companheirismo de sempre, pela torcida, pelo cuidado e por suportarem minha ansiedade, ausência e reclamações.

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2. Método ... 4

2.1. Participantes ... 4

2.2. Material ... 5

2.3. Procedimento ... 5

3. Resultados e discussão ... 7

3.1. Vínculo como propiciador do encontro ... 7

3.2. Diálogo ... 10

3.3. Elementos do inter-humano ... 13

3.4. Capacidades pessoais do psicoterapeuta ... 17

3.5. Capacidades teóricas do psicoterapeuta ... 19

4. Considerações finais ... 21

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psychotherapeutic meeting.

Renata Teixeira Chaves2 Celana Cardoso Andrade3

Resumo: O encontro psicoterapêutico surge da relação verdadeira entre psicoterapeuta e cliente,

porém ela é pouco estudada pelos pesquisadores. A presente pesquisa tem como objetivo investigar os aspectos valorizados no encontro psicoterapêutico tanto pelo psicoterapeuta quanto pelo cliente. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, na qual foram utilizadas duas perguntas disparadoras. Os colaboradores foram dois Gestalt-terapeutas com mais de cinco anos de trabalho com essa abordagem e dois clientes de cada um, com pelo menos um ano de psicoterapia. A análise dos dados foi baseada no método fenomenológico de Amedeo Giorgi. Foram encontradas cinco categorias valorizadas no encontro psicoterapêutico: vínculo como propiciador do encontro, diálogo, elementos do inter-humano, capacidades pessoais e capacidades teóricas do psicoterapeuta. Concluiu-se que os aspectos relacionais e, sobretudo, as atitudes relacionais do psicoterapeuta são os mais valorizados no encontro psicoterapêutico.

Palavras-chave: Gestalt-terapia, encontro psicoterapêutico, relação terapêutica, diálogo.

Abstract: The psychotherapeutic meeting comes from the true relation between psychotherapist and

client, however this one is not studied enough by investigators. The present research has as main aim investigates the most valuable aspects in the psychotherapeutic meeting including the psychotherapist as much as the client. For that, a qualitative inquiry was chosen, in which two stimulating questions were used. The collaborators were two Gestalt-Therapists with more than five years of work with this kind of approach, and two clients of each one, with at least a year of psychotherapy. The analysis of the whole information obtained was based on the phenomenological method of Amedeo Giorgi. Five valuable categories were found in the psychotherapeutic meeting: meeting, dialog, inter-human elements, personal capacities and theoretical capacities of the psychotherapist. As a conclusion, the relationship aspects, but mainly the relationship attitudes of the psychotherapist are really the most aim for the psychotherapeutic meeting at all.

Key-words: Gestalt-therapy, psychotherapeutic meeting, psychotherapeutic relationship, dialogue.

1. Introdução

A pesquisa O olhar do psicoterapeuta e do cliente acerca do encontro psicoterapêutico surgiu do interesse da autora pela relação psicoterapêutica,

1

Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em terapia, do Curso de Pós-graduação Lato-sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT).

2

Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Pós-graduanda em Gestalt-terapia, pelo ITGT. E-mail: renatatchaves@hotmail.com.

3 Psicóloga clínica, especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT, Mestre em Psicologia Clínica pela

Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Professora-supervisora do ITGT, Professora

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primeiramente como cliente e acadêmica do curso de graduação em Psicologia e depois, como psicoterapeuta, ao perceber a importância de sua relação com o cliente para o sucesso da psicoterapia. Dessa maneira, torna-se relevante investigar a relação estabelecida. Para tanto, faz-se necessário ouvir tanto o cliente quanto o psicoterapeuta em relação ao que consideram relevante no processo.

Segundo Buber (2004), o princípio criador do humano é a relação. O homem é um ser de relação e em relação. É nela que ele cresce, se desenvolve, se constitui e se forma (Ribeiro, 1998). Dessa maneira, a singularidade do homem só pode ser compreendida no contexto relacional. Martin Buber enfatizou a relação inter-humana, o encontro, o diálogo, em uma atitude existencial do face a face (Andrade, 2003).

Nessa atitude proposta por Buber (2004), a pessoa busca relacionar-se por meio do diálogo e ela se humaniza e cresce. Conforme Spangenberg (2004), os seres humanos dos tempos atuais raramente entram em verdadeira relação, o que pode ser alcançado na psicoterapia. Relacionar-se é a grande arte em psicoterapia. Yontef (1998) aponta que a relação entre psicoterapeuta e cliente é o aspecto mais importante da psicoterapia.

A qualidade dessa relação é percebida no entre, visto que ele é maior que a soma de seus membros (Andrade 2003; Ferreira, 2004; Juliano, 2010). O entre surge do encontro de duas singularidades que se relacionam, e, então, um espaço comum entre duas existências é formado (Ferreira, 2004). O entre ocorre quando há envolvimento e interesse verdadeiro na outra pessoa, transcendendo o senso de identidade (Buber, 2004).

Nesse momento, dá-se o encontro, que ocorre em toda relação verdadeira. “Toda vida atual é encontro” (Buber, 2004, p. 59). O encontro é a mais bela experiência possível entre os seres vivos (Spangenberg, 2004). O sentido supremo da vida é atribuído pelo encontro, que acontece quando uma pessoa fica diante de outra, ambas movendo-se na mesma direção. Encontrar uma pessoa é, dessa forma, ficar frente a frente com ela, conhecendo-a, descobrindo-a e percebendo sua condição (Feldman, 2006).

Na interação do homem com o mundo, o encontro da pessoa consigo mesma e com o outro pode acontecer de forma espontânea. Contudo, no âmbito da psicoterapia, o encontro é intencionado, pois é nele que a cura ocorre. (Andrade, 2002).

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O diálogo ocupa lugar central na psicoterapia. Para Buber (2007), o diálogo não é somente o relacionamento dos homens entre si, mas sua atitude de um-para-com-o-outro. Nesse sentido, a psicoterapia dialógica é aquela que se baseia no encontro genuíno entre psicoterapeuta e cliente.

A Gestalt-terapia, abordagem utilizada pelos colaboradores, faz do diálogo seu principal instrumento. Por isso, pode ser definida como uma terapia dialógica (Ribeiro, 2006). O relacionamento na Gestalt-terapia é calcado na filosofia do diálogo de Martin Buber (Jacobs, 1997).

No setting psicoterapêutico, o profissional tem a possibilidade de um verdadeiro encontro dialógico (Amorim, 2003). Contudo, não é possível forçar o outro ao encontro, mesmo que haja empenho e esforço de um dos lados (Buber, 2004). Na Gestalt-terapia, os psicoterapeutas procuram ter uma atitude dialógica com o intuito de tentar desenvolver a relação tanto quanto as condições o permitirem, mesmo que seus clientes não entrem em relação semelhante (Jacobs, 1997). O estabelecimento do clima para o diálogo é responsabilidade do psicoterapeuta. Baseado nessa perspectiva, decidiu-se enfatizar as atitudes dialógicas do psicoterapeuta e não as do cliente que, de alguma maneira, aparecem nesta pesquisa.

Holanda e Karwowski (2004) afirmam que faltam pesquisas na área clínica e que a investigação científica em psicoterapia é um campo recente, que teve início no século XX. Em Gestalt-terapia, sobretudo no Brasil, são poucos os estudos nessa área.

Sousa (2006) aponta que poucas pesquisas tentam compreender a relação psicoterapêutica e como ela é vivenciada. Dessa maneira, propõe um novo paradigma de pesquisa que pretende entender como a relação psicoterapêutica promove mudanças nos clientes. É exatamente nesse paradigma que o presente estudo se baseia, buscando discutir os aspectos relacionais do encontro psicoterapeuta-cliente.

O autor realiza também um levantamento de algumas pesquisas sobre psicoterapia e aponta, dentre outros fatores, que o mais importante para o bom resultado dela é a relação psicoterapêutica, envolvendo competências interpessoais tanto do cliente quanto do psicoterapeuta.

Para Macran, Ross, Hardy e Shapiro (1999), a visão do cliente não tem sido considerada na maior parte das pesquisas em psicoterapia, embora o olhar do cliente sobre a psicoterapia seja necessário. As percepções dos clientes são tão importantes quanto as dos psicoterapeutas. É exatamente nessa perspectiva, que este estudo busca

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compreender o que, não só os psicoterapeutas como também os clientes, consideram importante no encontro psicoterapêutico.

Para tanto, esta pesquisa busca responder à pergunta: no encontro psicoterapêutico, o que é valorizado pelo psicoterapeuta e o que é valorizado pelo cliente? O objetivo é investigar o que é valorizado, no encontro psicoterapêutico, tanto pelo psicoterapeuta como pelo cliente.

Nesta pesquisa, foi utilizado o método qualitativo fenomenológico para a realização e redução das entrevistas. Posteriormente, os resultados e a discussão foram trabalhados em conjunto para facilitar a compreensão teórica das categorias encontradas. Por fim, foram apresentadas considerações finais contendo algumas reflexões a respeito do estudo realizado e sugestões para futuras pesquisas. As entrevistas foram anexadas na íntegra (anexo 1-6), para posteriores utilizações, caso outros pesquisadores tenham interesse nelas.

2. Método

2.1. Participantes

Para a realização da pesquisa, buscou-se dois Gestalt-terapeutas, que trabalham com essa abordagem há mais de cinco anos e dois clientes de cada um destes psicoterapeutas, que estivessem em processo psicoterapêutico há um ano ou mais. No primeiro caso, o tempo justifica-se uma vez que, com mais de cinco anos, o profissional deve estar familiarizado com a abordagem e também com o seu estilo pessoal de atender e se relacionar com o seu cliente. No caso do cliente, com um ano de psicoterapia, ele já tem uma relação bem estabelecida com o seu psicoterapeuta.

Decidiu-se escolher dois psicoterapeutas e dois clientes de cada um deles, para que fosse possível perceber se há ou não uma relação entre as respostas do psicoterapeuta e as respostas dos seus clientes, já que a pesquisa diz respeito ao entre. Quanto ao fato de serem dois clientes para cada psicoterapeuta, o intuito era investigar se existiriam diferenças entre as respostas de cada cliente, em virtude de cada relação ser diferente da outra, embora os clientes tenham o mesmo terapeuta.

A escolha dos psicoterapeutas ocorreu de maneira aleatória (sorteio) entre os terapeutas associados ao Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia (ITGT). Foram realizados dois sorteios com a intenção de encontrar psicoterapeutas de sexos diferentes, pois desejava-se democratizar a pesquisa nessa perspectiva. Já a escolha dos clientes foi realizada pelos respectivos

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psicoterapeutas e todos receberam nomes fictícios.

A primeira psicoterapeuta colaboradora foi Júlia, sexo feminino, 41 anos, casada, psicoterapeuta da abordagem gestáltica há 16 anos. O segundo psicoterapeuta colaborador, Diego, sexo masculino, trinta anos, solteiro, psicoterapeuta da abordagem gestáltica há seis anos.

A primeira cliente de Júlia que participou da entrevista foi Mariana, uma mulher de quarenta anos, solteira e psicóloga que também adota a abordagem gestáltica. Está com essa psicoterapeuta há três anos. A segunda cliente, cujo nome fictício é Laura, tem 37 anos, médica, divorciada e faz psicoterapia há cinco anos.

Quanto aos clientes de Diego, a primeira tem 25 anos, solteira, advogada e recebeu o nome de Gabriela. É cliente desse psicoterapeuta há um ano. O segundo cliente foi Rodrigo, um rapaz de 39 anos, solteiro, designer, em psicoterapia há dois anos.

2.2. Material

Para o registro das entrevistas e suas transcrições, utilizou-se gravador e computador. Elas foram realizadas em consultório de Psicologia e, para tanto, efetuou-se duas perguntas disparadoras, uma para os Gestalt-terapeutas: “O que você, como Gestalt-terapeuta, valoriza no encontro com o seu cliente?” e outra para os clientes: “O que você valoriza no encontro com o seu psicoterapeuta?”.

2.3. Procedimento

Escolhidos os colaboradores, a pesquisadora realizou entrevistas, cujas perguntas disparadoras abriram espaço para o diálogo entre eles. As entrevistas ocorreram em consultórios psicológicos. A escolha do local deve-se ao fato de a sala ser um ambiente apropriado à tarefa proposta.

Cada colaborador, tanto os Gestalt-terapeutas como os clientes, foram abordados individualmente, momento em que se elucidaram aspectos inerentes à pesquisa: o tema, a sua proposta, os seus objetivos, a sua finalidade, as etapas em que foi realizada, além dos meios utilizados para a construção das informações necessárias ao estudo. Desde essa etapa, ofereceu-se a oportunidade de o colaborador aderir ou não à pesquisa, com base nos princípios da espontaneidade e do respeito à vontade dos colaboradores.

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Nesse momento, foi apresentado e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 7), de acordo com a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. No primeiro encontro, marcou-se dia e hora para a entrevista. No termo apresentado, os colaboradores receberam a explicação que haveria tantos encontros quantos fossem necessários, ou até que uma das partes percebesse que seria inviável a continuação das entrevistas por qualquer motivo.

Tendo em vista a complexidade de informações produzidas pelos participantes, os encontros foram registrados em áudio, condição antecipadamente autorizada pelos colaboradores. Houve a gravação de todas as seis entrevistas em CD, e transcrição na íntegra, para os recortes necessários na composição do artigo. Guardou-se todo o material gerado (CDs e transcrições) em local seguro, no qual permanecerá por um período de cinco anos e, depois, será incinerado.

Posteriormente à coleta de dados, realizou-se a análise baseada no método fenomenológico de Amedeo Giorgi, comumente conhecido como uma fenomenologia empírica ou fenomenologia experimental. E, por fim, os resultados foram relacionados com a teoria.

Giorgi (citado por Andrade, 2007) propõe um método fenomenológico que se baseia em entrevistas transcritas dos participantes a respeito de suas experiências vividas em relação a algum fenômeno e contém quatro passos.

O primeiro passo, descrito por Giorgi (1985), é o sentido do todo, que diz respeito à leitura de toda a transcrição para alcançar o sentido geral, imprescindível para entendimento da linguagem de quem descreve.

Segundo Giorgi (1985), a discriminação de unidades significativas com base em uma perspectiva psicológica e focada no fenômeno que é pesquisado é o segundo passo. Para tanto, é importante fazer a releitura do texto até que se consiga discriminar as unidades significativas na perspectiva psicológica, sempre focalizando o fenômeno pesquisado, sem a modificação da linguagem do sujeito.

O terceiro passo, de acordo com Giorgi (1985), diz respeito à transformação das expressões cotidianas do sujeito em linguagem psicológica com ênfase ao fenômeno que está sendo investigado. A linguagem do dia a dia do sujeito é transformada em linguagem psicológica apropriada ressaltando o fenômeno estudado.

Giorgi (1985) apresenta a síntese das unidades significativas transformadas em uma declaração consistente da estrutura do aprendizado como o último passo. O

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papel do pesquisador consiste em sintetizar as unidades significativas observadas em relação à experiência do sujeito.

3. Resultados e discussão

Após descrever o método utilizado para a realização da pesquisa, faz-se necessário iniciar a explicitação dos resultados e a sua discussão, à luz da teoria. Pôde-se observar alguns aspectos comuns nos relatos dos colaboradores. Ficou evidente também a relação do que eles descreveram com os conceitos, visão de homem, método fenomenológico e, sobretudo, com a atitude dialógica presentes na prática psicoterapêutica do Gestalt-terapeuta.

Pretende-se identificar nos resultados o que há de comum ou singular no depoimento dos colaboradores, com o intuito de elucidar os aspectos valorizados no encontro psicoterapêutico. Para tanto, foram agrupadas, pelas semelhanças, categorias encontradas nas entrevistas. Cada categoria é formada por um conjunto de unidades de significado. Elas serão explanadas teoricamente e exemplificadas por fragmentos dos discursos dos colaboradores.

As categorias encontradas foram: vínculo como propiciador do encontro, diálogo, elementos do inter-humano, capacidades pessoais do psicoterapeuta e capacidades teóricas do psicoterapeuta.

3.1. Vínculo como propiciador do encontro

O encontro pode ser um momento sagrado, raro, que deve ser reverenciado e lembrado com todo cuidado (Juliano, 2009). No encontro verdadeiro, ocorre o encontro com a alteridade do outro. A pessoa, ao entrar em relacionamento com o outro, torna-se ela mesma (Yontef, 1998). É do contato quieto, concentrado, atento e curioso, que o encontro surge (Juliano, 2010).

O terapeuta tem a responsabilidade de aparecer para o encontro preparado para chegar até o cliente, conhecendo-o e o ajudando. É pela forma como ele se estrutura antes e durante o encontro que ele se prepara para esse momento (Yontef, 1998). Diego conta como ele se prepara para o encontro:

Eu tenho um intervalo de dez minutos entre uma sessão e outra (...) eu acho que esses dez minutos dão... um tempo para você se desligar daquele cliente e se preparar para o que vai vir (...). Eu primo por uma boa alimentação e

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por um bom descanso (...) a gente tem que escutar bem e estar descansado para aquilo que o cliente vai trazer.

O terapeuta pode preparar-se para o encontro, mas, de acordo com Buber (2004), ele acontece pela graça. O encontro não é construído, é algo ao qual se dá passagem, o que pode ser percebido na fala de Diego:

Mas, esse verdadeiro encontro, às vezes, não acontece. Então, não é uma coisa que a gente tem que ir atrás. Acho que é uma coisa que a gente tem que favorecer para que aconteça e pode ser que não aconteça.

Para que o encontro aconteça, de acordo com Hycner (1995), o psicoterapeuta precisa entrar no mundo do cliente para encontrá-lo como ele realmente se apresenta. Júlia declara que “ela [a cliente] tem que aceitar que eu entre na vida dela. E eu também tenho que aceitar entrar”. Diego, por sua vez, diz: “o terapeuta tem que ter a perspicácia de saber como entrar na vida do cliente... entrar no mundo do cliente, estar em contato com ele, fazer esse vínculo, às vezes, é inclusive, ficar longe dele....”

O encontro entre dois seres humanos é permitido por um vínculo afetivo e amoroso. Dessa maneira, na relação psicoterapêutica, é fundamental o estabelecimento do vínculo (Cardella, 1994). Diego também acredita na importância do vínculo no encontro psicoterapêutico:

O vínculo é tudo (...) Eu acho que esse vínculo tem que ser muito bem feito, essa aproximação, isso que a gente está chamando de relação, de encontro terapêutico. É nesse momento que ou a terapia começa ou que a terapia nunca mais vai pra frente.

O vínculo entre terapeuta e cliente é um processo dinâmico que liga os dois e se baseia na vivência de experiências compartilhadas, que fortalecem o relacionamento entre eles (Carmo, 2006). Diego percebe que o vínculo está estabelecido:

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é difícil para a pessoa colocar, que é muito dolorido, que é muito íntimo, eu percebo que o vínculo foi feito (...) Esse momento onde a pessoa se sente nua na frente do terapeuta, no sentido de se despir de todos os a prioris e se mostrar do jeito que ele é.

Uma postura acolhedora do terapeuta é condição fundamental para que o vínculo psicoterapêutico se estabeleça e um clima propício para o desvendamento do cliente se instaure (Cardoso, 2002). A respeito do estabelecimento do vínculo, Diego opina: “Acho que o vínculo pode ser feito através do olhar, pode ser feito através de um abraço ou através de uma palavra”.

Frequentemente, o vínculo é o que falta na vida do cliente, configurando-se, até mesmo, em um importante motivo de ele estar em psicoterapia, ou seja, os danos que seu vínculo com o mundo e com ou outros sofreu (Hycner, 1995). Mariana testemunha a respeito do seu vínculo com sua psicoterapeuta: “é uma relação verdadeira e intensa, apesar de saber que é uma relação profissional, para mim está muito longe de qualquer outro vínculo. É um vínculo afetivo acima de tudo”.

O vínculo é a forma que contém uma determinada relação, em um determinado momento. A relação está sujeita a mudanças, uma vez que está subordinada às leis do crescimento e expressão das potencialidades dos indivíduos, envolvidos em tal vínculo. Por isso, tanto relação quanto vínculo devem flexibilizar-se para permitir o crescimento da relação (Spangenberg, 2007). Ainda a respeito dessa flexibilidade, Diego acrescenta: “Eu não acho que isso [o vínculo] seja uma coisa que você faz e fica feito. Não é uma coisa que a gente tem que simplesmente: „Ah, fiz o vínculo com ele e pronto, o vínculo está estabelecido‟”.

O vínculo que se estabelece na relação psicoterapeuta-cliente tem como características a intimidade, o amor, o afeto e a confiança (Spangenberg, 2007). Algumas dessas características são tratadas brevemente a seguir.

O psicoterapeuta, por meio da atitude amorosa, permite que o cliente possa ouvir, ver, compreender, aceitar e amar a si mesmo. A aceitação e o amor incondicional são experimentados pelo cliente na relação com o psicoterapeuta. O amor psicoterapêutico distingue o encontro psicoterapêutico das outras formas de encontro (Cardella, 1994). A atitude amorosa de Júlia permite que Mariana se sinta aceita:

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É um sentimento tão pleno de me sentir amada, porque para mim o amada está muito relacionado à aceitação. Tanto é que eu vivo falando: “Eu sei que a minha família me ama, mas às vezes, eu não sinto, porque eu não sou aceita”. Que amor é esse que não me aceita? (...) E aí com a Júlia eu vejo de forma diferente. E aí eu me sinto livre para ser eu mesma. Parece que me cabe. Parece que tem espaço: “Aqui eu posso”. E me sinto segura...

No que diz respeito à confiança, Andrade (2001) assevera que, apenas em um ambiente de confiança, o cliente se desnuda. Rodrigo descreve sua relação com seu psicoterapeuta: “É uma relação muito boa, muito próxima, de muita confiança e liberdade, que é a única possibilidade que eu consigo ver para vir fazer terapia (...) A confiança é fundamental”.

A abrangência das histórias do cliente aumenta na segurança da intimidade, na confiança que se estabelece aos poucos. Um diálogo começa a tornar-se possível com a cumplicidade do psicoterapeuta, chegando até o ponto em que a história pode ser ressignificada, provocando uma mudança de olhar e ajudando o cliente a reaproximar-se do seu mundo. Histórias soterradas começam a emergir com o calor da confiança, e aparecem os sonhos, fantasias e esperanças (Juliano, 2010).

Gabriela, ao ser questionada a respeito do que ela acredita que existe na relação com o seu psicoterapeuta que a ajuda a relacionar-se com ele, responde: “Eu acho que confiança”. Mariana declara a respeito da sua psicoterapeuta: “É uma pessoa que me inspira muita confiança”. E Diego conta que por ser homem, percebe que suas clientes do sexo feminino demoram a falar sobre sexualidade, mas isso acaba acontecendo: “E aí eu percebo que teve um processo de estabelecer confiança dos dois lados”.

No processo de desnudar-se, é importante que o psicoterapeuta dê suporte para o cliente, sobretudo porque, por vezes, ele está fragilizado. O psicoterapeuta pode mostrar seu interesse, por meio de palavras e comportamentos, demonstrando assim, que se importa com o cliente, que o entende e o escuta. O suporte verdadeiro pode ser nutritivo para o cliente (Yontef, 1998). Rodrigo admite: “Eu realmente preciso de suporte”.

3.2. Diálogo

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relacional. Sendo assim, dialógico diz respeito à interação entre pessoas, em que existe o desejo de encontro genuíno com o outro (Hycner, 1995). A psicoterapia dialógica é a atitude de ir ao encontro do cliente onde ele estiver, sem controlar o outro lado do diálogo. É render-se ao entre do encontro, supondo que dessa maneira está ajudando o cliente a ter uma postura relacional mais saudável com o mundo (Mendonça, 1998).

Mariana consegue manter essa atitude em relação ao namorado atual e o compara à relação que vive com sua psicoterapeuta: “Acaba sendo a relação que eu vivo hoje com o meu namorado. Eu vejo muito refletido”.

A relação dialógica é fundamental para o desenvolvimento da pessoa no processo psicoterapêutico. Essa relação estabelece-se por meio da escuta, que é um exercício vital tanto para o psicoterapeuta como para o cliente (Cardoso, 2002).

O psicoterapeuta, como ouvinte da mensagem do problema do cliente, é parte integrante do diálogo. Ele penetra no entre e escuta o que o problema está querendo dizer, para ajudar o cliente a entender essa comunicação no contexto de sua existência global. O psicoterapeuta torna-se o intermediário e deve ser capaz de escutar o problema em um nível mais profundo que o cliente, uma vez que precisa escutar o que o cliente não está escutando (Hycner, 1995). Diego concorda com a importância da escuta verdadeira: “A gente tem que escutar bem...”

No encontro da Gestalt-terapia, escutar é considerado um ato de uma pessoa e não o receber passivo de um estímulo. O psicoterapeuta precisa escutar ativamente (Yontef, 1998). A escuta interessada do psicoterapeuta é curativa por ela mesma, pois consegue fazer que, por espelhamento, a pessoa se interesse por ela mesma. O interesse do psicoterapeuta redimensiona o cliente (Juliano, 2010).

Assim como a escuta, a fala também faz parte do encontro e é ela que enuncia o encontro. Ela é a materialização do encontro, o testemunho da situação (Augras, 2008). Mariana, a respeito da fala da sua psicoterapeuta, esclarece:

ela vai falar o que precisar falar, com jeito. E aí, outra coisa que eu acho que também é muito importante: não é deixar de falar as coisas, mas é o como você fala as coisas. (...). Ela não tem um jeito próprio que ela faz com todo mundo, mas ela tem um jeito que a Mariana vai ouvir...

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é o dia que você vem para desabafar, você vem e conta tudo.(...) Se eu vier despejar tudo também a gente não rende muito. Então, a gente acaba se preparando para poder trabalhar alguma coisa. (...) Aqui eu sei que eu vou encontrar um lugar, uma pessoa, uma estrutura, onde eu possa fazer isso.

Para estabelecer-se como pessoa, o homem precisa pronunciar-se, o que ocorre nas relações que são permeadas pelo diálogo. A necessidade de comunicar-se do homem ocorre desde a origem da humanidade, em razão de sua tarefa de sobrevivência. Para tanto, utilizava-se de instrumentos e gestos diversos (Andrade, 2001) e ainda atualmente os gestos comunicam. Júlia, ao ser questionada sobre como percebe que o cliente está engajado, responde: “É muito sutil. Têm dados objetivos que podem ser observados. Se ele vem, se ele não se atrasa, se ele tem energia durante a sessão, o olhar”. Mariana percebe que sua psicoterapeuta está verdadeiramente junto dela: “Às vezes, um toque de encostar na minha perna (...) com o olhar”.

Para Rogers (1997), a relação psicoterapêutica tem como uma de suas qualidades a permissividade em relação à expressão dos sentimentos. Quando o psicoterapeuta conhece o mundo do cliente, partindo da perspectiva dele, em uma postura acolhedora, ouvindo-o de maneira genuína e interessada, valorizando o cliente no que ele está sendo, cria uma atmosfera permissiva, facilitando a revelação do cliente na sua autenticidade (Cardoso, 2002). Mariana testemunha em relação à permissão para ser ela mesma:

quando eu comecei a fazer essa terapia, dessa vez, na primeira sessão eu já percebi alguma coisa diferente. É como se eu tivesse uma permissão diferente (...) aos poucos, isso foi se concretizando... a impressão que eu tenho é que o mais importante é me sentir aceita.

A disponibilidade do terapeuta para entrar o mais completamente possível na experiência subjetiva do cliente é inerente à abordagem dialógica (Hycner, 1995). Estar disponível significa ter um espaço interno para ir ao encontro do outro. Para acolher o cliente e estar junto dele, é preciso ter disposição física e emocional (Feldman, 2006). A respeito da sua disponibilidade, Júlia esclarece: “A minha

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disponibilidade é inteira. Eu realmente tenho, inclusive no momento do atendimento mesmo, uma disponibilidade integral”.

3.3. Elementos do inter-humano

A terceira categoria encontrada nesta pesquisa foram elementos do inter-humano. A esfera do inter-humano é o face a face, e seu desdobramento é denominado dialógico. É importante no inter-humano que cada um se torne consciente do outro, assumindo um comportamento para com ele, de maneira que não o considere como objeto, mas como parceiro. Os fenômenos inter-humanos não são encontrados em nenhum dos parceiros, nem nos dois em conjunto, mas no seu entre (Buber, 2007).

Existem algumas atitudes elementares do inter-humano que o psicoterapeuta precisa ter: confirmação, presença, inclusão e comunicação genuína (Ferreira, 2004). Essas condições tornam-se pré-requisitos para a relação dialógica psicoterapeuta/cliente na psicoterapia (Jacobs, 1997). A seguir, discute-se cada uma delas.

Friedman (1985) define que, no cerne da cura pelo encontro, está a confirmação. Buber (2007) esclarece que confirmação não significa aprovação, mas aceitar a pessoa mesmo naquilo que eu sou contrário a ela, confirmando a existência da pessoa como um ser humano com existência própria. O psicoterapeuta confirma, de acordo com Yontef (1998), que o cliente existe e que tem valor. Segundo Buber (2007), para perceber-se como ser humano, o homem precisa ser confirmado pelos outros.

O cliente tem que se sentir confirmado pelo psicoterapeuta. Júlia, como psicoterapeuta, concorda que a confirmação deva existir na psicoterapia: “a gente tem que confirmar”. A confirmação é entendida como a aceitação do ser (Ferreira, 2004), e aceitar o outro significa permitir que ele seja quem é, é considerar essa pessoa como única e valiosa por seu próprio mérito, mesmo que ela experiencie a vida de forma diferente da sua própria (Feldman, 2006). Laura conta a respeito da sua experiência em sentir-se aceita na psicoterapia:

A hora que eu falei... A gente fica imaginando que a pessoa vai fazer uma cara de espanto ou vai falar: “Nossa, você!” E na verdade não, ela fala: “hum hum... ah... mas e aí... tal”. (...) Às vezes, a gente está achando que a

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gente é a pior pessoa do mundo, que teve o pior sentimento do mundo ou a pior atitude. E não é bem assim...

Sendo assim, aceitação pressupõe a valorização do outro (Feldman, 2006). E constitui o segredo da psicoterapia bem-sucedida (Pinto, 2009). Júlia, quando questionada sobre como a aceitação interfere no encontro com seu cliente, declara:

Eu acho que [a aceitação] deixa, tanto eu quanto o cliente mais livre sem ter um estilo certo para chegar, de como a pessoa tem que ser...tem que ser do jeito que a gente vai descobrir ainda... Mesmo não sendo o jeito que eu gosto de ser, mas esse é o jeito que eu sou. (...) Eu não estou exigindo que você seja nada diferente do que você é.

Na relação psicoterapêutica, para Jacobs (1997), a aceitação do psicoterapeuta abre a possibilidade da autoaceitação do cliente. Para Zinker (citado por Jacobs, 1997) o amor-próprio surge na presença de uma pessoa que se percebe como totalmente acolhedora. Mariana confirma essa idéia ao dizer o que valoriza no encontro com sua psicoterapeuta: “A impressão que eu tenho é que o mais importante é me sentir aceita... e aí isso me incentiva a ser eu mesma... lá [na psicoterapia] eu sinto que posso ser eu mesma, do jeito que eu sou”.

A aceitação implica no não julgamento do outro, o que requer que o terapeuta seja amoral, ou seja, um terapeuta que, apesar de ter valores pessoais, não permite que eles interfiram no processo de crescimento do seu cliente (Pinto, 2009). Mariana, a respeito da sua psicoterapia, comenta: “Eu percebo que eu não sou julgada”.

A pessoa descobre como acolher-se a si mesma com tolerância e respeito por meio da experiência de ser acolhida sem julgamento (Pinto, 2009). Segundo Rodrigo, o fato de o psicoterapeuta não o julgar ajuda-o, até a entender a si mesmo, conhecer-se e entender conhecer-seus próprios julgamentos:

A confiança de que eu não vou estar sendo julgado, que o máximo de julgamento que eu vou ter é o meu mesmo. E, eu acho que vai até um pouco além disso, talvez, até a confiança de que eu vou ter alguém para me ajudar a entender os meus julgamentos.

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Os Gestalt-terapeutas respeitam a escolha do cliente, mesmo que não concordem ou não admitam essa escolha (Yontef, 1998). O psicoterapeuta esforça-se por respeitar as especificidades do cliente, para acompanhá-lo, sem impor seu ritmo ou seu circuito (Ginger, 2007). Rodrigo conta uma das coisas de que gosta em seu psicoterapeuta: “seguir o meu timer é outra característica que eu acho que é muito dele, que é muito bacana”.

O caminho é singular para cada um, sendo assim, não cabe ao terapeuta escolher caminhos para o cliente. O terapeuta pode apenas apontar trilhas não notadas, respeitando a decisão de o cliente escolher ou não essa via (Pinto, 2009). Mariana concorda e declara que vive essa situação com sua psicoterapeuta: “eu sempre me senti muito respeitada (...) ela [a psicoterapeuta] propunha alguma coisa, eu não aceitava... tudo bem!”. Laura também vivencia essa experiência com o seu psicoterapeuta:

você já sabe que vai encontrar uma pessoa que, primeiro, não vai dar opinião sobre o assunto. Não tem isso de opinião. Ela te orienta a pensar sobre o assunto e aí eu que vou definir, eu vou no caminho. São vários caminhos e eu que vou entrar no caminho que eu achar melhor.

Outro elemento do inter-humano é a presença, como afirma James Bungental (citado por Hycner, 1995), para quem a presença é o ingrediente essencial da psicoterapia. Na relação psicoterapêutica, a presença do psicoterapeuta deve preceder a do cliente. O terapeuta que não está presente em si mesmo não pode ajudar seu cliente (Ribeiro, 2006). Júlia reconhece a essencialidade da presença e percebe que ela deve estar presente antes do cliente: “O quanto eu sou presente (...) É como um solo, sem isso é difícil construir qualquer coisa (...) Porque a pessoa [o cliente] vai chegando devagar, a gente já está aqui”.

A presença do psicoterapeuta é imprescindível para a entrada no mundo do cliente. Presença é estar disponível completamente para a pessoa em um dado momento, dessa forma, não diz respeito apenas à presença física. O psicoterapeuta presente está atento à experiência do cliente e à sua ao mesmo tempo (Hycner, 1995). Júlia fala a respeito da sua presença, como psicoterapeuta: “na hora em que eu estou atendendo somos somente nós”.

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toque físico (Jacobs, 1997). Mariana consegue perceber a presença da sua psicoterapeuta de diferentes formas: “Às vezes, até numa coisa difícil e dolorosa dá para perceber que ela está lá junto. Às vezes, um toque de encostar na minha perna, às vezes, uma piadinha (...) ela sempre se mostra presente”.

Diante da dificuldade de manter-se presente, o Gestalt-terapeuta deve investigar o que pode estar acontecendo (Jacobs, 1997). Júlia confessa que já fez isso:

Já aconteceu de eu não conseguir estar tão inteira e aí é a hora que a gente pára e vai para a supervisão para ver o que está acontecendo, porque eu vejo que eu não estou ali. Realmente é um desencontro, porque naquela hora outras coisas viram fenômeno e não o cliente.

A inclusão é também um elemento do inter-humano. Conforme Buber (2004), ela é o fundamento necessário para o encontro. O psicoterapeuta precisa praticar a inclusão, um impulso audacioso de intensa mobilização do próprio ser para o interior da vida do outro. Cabe ao psicoterapeuta tentar experienciar o que o cliente está experienciando. Contudo, não é possível manter a atitude inclusiva indefinidamente, sendo, dessa forma, uma experiência momentânea. Na inclusão, o psicoterapeuta precisa também manter-se centrado em si mesmo.

Dessa forma, a inclusão é um movimento de ir e vir, ou seja, centra-se na própria experiência e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de passar para o lado do cliente. Diego esclarece sobre como considera importante esse ir e vir: “esse transladar, esse saber ir e vir do terapeuta é que é o mais importante para que o vínculo seja estabelecido”. Mariana, como cliente, testemunha a respeito da inclusão:

Essa coisa de ser como eu sou, de sentir como eu sinto, de estar comigo aqui por nada... de, às vezes, eu estar engasgada e ela [a psicoterapeuta] ajoelhar no chão do meu lado e chorar comigo. (...) De embarcar comigo... eu fui embora com aquilo e pensei: “Nossa gente, até ela se mobilizou com o meu sofrimento... até ela que é tão estudada, que entende tanto, consegue ver que a dor é grande e que dói de verdade”.

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experiência dele. Sendo assim, apesar de o ponto de vista do cliente ser compreendido profundamente, o psicoterapeuta deve ter a habilidade de sair desse lugar e lhe oferecer outra perspectiva (Hycner, 1995). Rodrigo confirma totalmente essa idéia:

uma outra capacidade que eu acho que nele [no psicoterapeuta] é muito grande é de entrar junto comigo na minha emoção, mas não continuar na emoção comigo. (...) Na alegria ou na tristeza, eu consigo sentir que ele entra nisso comigo, mas, de novo, como um guia e não como um colega de alegria e de tristeza, o que me facilita a entrar ainda mais profundamente, na alegria ou na tristeza.

Por fim, o último elemento do inter-humano, é a comunicação genuína e sem reservas. Para Buber (2007), a participação do psicoterapeuta no diálogo deve ser genuína e sem reservas, porém não quer dizer que tudo deva ser dito, visto que palavras ditas por pura impulsividade e não por real relevância só prejudicam o diálogo genuíno. A respeito da comunicação que tem com sua psicoterapeuta, Mariana diz: “ela vai falar o que precisar falar, com jeito. E aí, outra coisa que eu acho que também é muito importante: não é deixar de falar as coisas, mas é o como você fala as coisas”.

Holanda (2003) esclarece que no retomar a conversação genuína reside o sentido da reconstituição do homem na psicoterapia. Nesse contexto, remete-se à palavra verdade que, no campo do inter-humano, significa que os homens se comunicam um-com-o-outro exatamente como são (Buber, 2007). Mariana, a respeito de sua psicoterapeuta, declara: “Eu acho ela verdadeira...”

Na conversação genuína, deve-se estar pronto para dizer, em cada situação, o que verdadeiramente ocorre à mente sobre o objeto de conversação. Dessa forma, a pessoa apresenta a sua contribuição sem redução e sem desvio. (Buber, 2007). Gabriela, a respeito do seu psicoterapeuta, assinala: “Ele é direto no que ele quer ressaltar das coisas que eu conto”.

3.4. Capacidades pessoais do psicoterapeuta

A quarta categoria encontrada diz respeito às capacidades pessoais do psicoterapeuta. O processo psicoterapêutico exige grande envolvimento pessoal do

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profissional (Hycner, 1995). O Gestalt-terapeuta não se esconde em uma atitude de neutralidade permanente, ao contrário, ele se manifesta, partilha suas idéias e sentimentos. Ele lida com o cliente como um parceiro, não fala tudo o que sente, mas tudo o que fala ele sente (Ginger, 2007). Mariana valoriza essa atitude ao falar a respeito da sua psicoterapeuta: “Para mim o jeito mais importante é o do sentimento mesmo. É de perceber que ela está ali de verdade, que ela está emocionada”.

A humanidade do psicoterapeuta é assumida por meio do envolvimento como pessoa na relação (Rodrigues, 2009). A humanidade do psicoterapeuta é, pois, um ponto de encontro no plano da humanidade comum. É preciso que psicoterapeuta e cliente se encontrem nesse ponto para que haja confiança (Hycner, 1995). Mariana ressalta a relação com sua psicoterapeuta: “Foi justamente no dia em que ela me mostrou a humanidade dela, que ela me ganhou”. Posteriormente, lembra-se de uma fala da psicoterapeuta: “Mariana, é justamente na humanidade que as pessoas se encontram, não é na humanidade que elas se afastam”.

Ao considerar essa humanidade, Loffredo (1994) alega que é importante a busca do estilo próprio, uma das características que definem um Gestalt-terapeuta. Experiências, origens e interesses pessoais influenciam o estilo e a maneira de ser de cada psicoterapeuta (Juliano, 1999). Mariana comenta a respeito do estilo de sua psicoterapeuta: “Ela não tem um jeito próprio que ela faz com todo mundo (...) ela tem um jeitinho todo especial e moleca”. Gabriela também fala das características do seu psicoterapeuta: “Ele é bem extrovertido, eu acho que a gente tem algumas coisas em comum (...) Ele é bem direto...”.

Para Laura Perls (citada por Juliano, 2010), existe a mesma quantidade de estilos, quanto de psicoterapeutas. Diego afirma que cada um deve descobrir seu estilo como psicoterapeuta e não copiar outros estilos: “E eu acho que o terapeuta tem que ir se descobrindo como psicoterapeuta e não pegar um modelo do A ou do B”.

Na relação psicoterapêutica, o psicoterapeuta manifesta inevitavelmente a sua personalidade (Perls, 1988), e essa pessoa inteira está com o seu cliente. Assim, sobretudo, o Gestalt-terapeuta enfrenta o grande desafio de lidar com as próprias dificuldades, com os próprios limites e incompletudes (Rodrigues, 2009). Júlia revela que tem limites: “Eu posso até me esbarrar em alguma limitação seja teórica, seja minha mesmo pessoal em relação a algum tema”.

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limites devem ser estabelecidos por critérios cuidadosos e éticos. Há situações em que se torna necessário encaminhar a pessoa a um colega mais apto para fazer o atendimento (Pinto, 2009). Diego é bem claro em relação aos seus limites e a clientes que não atende: “Eu não consigo atender pessoas recentemente abusadas ou abusadores, eu tenho dificuldade, então, eu prefiro encaminhar”.

O psicoterapeuta precisa colocar-se a serviço do cliente (Costa, 1997). Estar a serviço do outro significa priorizar o cliente na relação (Cardella, 1994). Diego também defende que o psicoterapeuta precisa estar a serviço do cliente: “a gente pode se colocar na sessão, pode colocar questões pessoais, desde que esteja a favor do cliente, a favor do processo. Não a serviço do próprio terapeuta”.

3.5. Capacidades teóricas do psicoterapeuta

A quinta e última categoria foi denominada capacidades teóricas do psicoterapeuta. Muito conhecimento científico deve ser aprendido para que se desenvolva a disciplina e a objetividade necessárias para a facilitação do processo psicoterapêutico. É preciso que o psicoterapeuta tenha conhecimentos teóricos sobre os seres humanos e, ao mesmo tempo, esforçar-se para apreciar a experiência singular do seu cliente, pois ambos são aspectos essenciais para a compreensão dele (Hycner, 1995).

Ao entrar no mundo do cliente, o psicoterapeuta necessita suspender seus pressupostos, sua visão de mundo e conceitos o quanto for possível (Hycner, 1995). No momento do encontro, o psicoterapeuta precisa, dessa forma, tornar-se vazio para que seja preenchido (Perls, 1988). Apenas por meio do esvaziamento é possível receber a realidade verdadeiramente e é possível que o cliente floresça na presença do psicoterapeuta (Hycner, 1995).

Quando ocorre o esvaziamento, o vazio criativo se instala, permitindo o preenchimento pela experiência do outro. Essa abertura é essencial para o encontro verdadeiro. Não há lugar para o outro se a pessoa está repleta dela mesma. E não há cura se não há lugar para o outro (Hycner, 1995). O vazio é fértil em possibilidades, incluindo até o que ainda se desconhece (Rodrigues, 2009). Diego exemplifica:

Se a gente é uma xícara de chá, cheia de chá, a hora que o cliente chega colocando o que é dele, ou transborda ou não cabe. E aí o terapeuta fica cheio das coisas dele, de si e acaba não recebendo o que o outro tem para

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dar.

As técnicas são utilizadas na psicoterapia dialógica, porém precisam surgir do contexto da relação e não impostas na situação (Hycner, 1995). Os colaboradores da pesquisa atentaram para algumas atitudes técnicas dos psicoterapeutas, tais como: checagem do psicoterapeuta em relação à fala do cliente, focalização ou tema central, orientação para pensar, tarefa de casa. A seguir, comenta-se brevemente cada uma delas.

A respeito da checagem do psicoterapeuta em relação à fala do cliente, Juliano (1999) afirma verificar com o cliente se o que foi ouvido é consistente com o que ele disse, é ouvir em voz alta, isto é, ouvir atentamente. Segundo Romero (citado por Cardoso, 2002), o interlocutor competente possibilita ao outro ouvir o seu próprio dizer. Rodrigo comenta que essa atitude, que ele chama de checagem, é um dos aspectos que o ajuda a se relacionar com seu psicoterapeuta: “ser constantemente checado também: „O que você disse é isso, isso e isso?‟ (...) Diversas vezes eu já peguei como minhas, palavras que os outros disseram e que não era exatamente assim”.

O segundo aspecto apontado pelos colaboradores foi a focalização ou o tema central. Hycner (1995) assinala que o encontro psicoterapêutico precisa estar sempre sob foco, não podendo ser desencaminhado pelos desencontros repetidos que perseguiram o cliente ao longo de sua vida. Gabriela enfatiza que confia no trabalho do seu psicoterapeuta, incluindo o que diz respeito ao foco: “Faz parte do trabalho dele ir focando algumas coisas e, às vezes, até a gente fala alguma coisa que conscientemente a gente não estava pensando, mas sai... que você não tinha percebido antes”.

No relato do cliente, percebe-se o tema central, que se refere aos aspectos mais importantes da sua existência. Durante a escuta, dois critérios podem ser utilizados para identificação do tema central. O primeiro é a freqüência com que determinado assunto aparece. O segundo é a intensidade com que se fala de determinado assunto, normalmente dotado de emoção (Feldman, 2006). Laura, como cliente, fala a respeito do foco: “a gente começa a se dispersar na hora de falar uma coisa, de contar e não é exatamente aquele o problema. Então, quando a pessoa instiga, ela está procurando centralizar, imagino eu, a sua queixa. Onde ela está mais centrada”.

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O terceiro aspecto apontado na pesquisa foi a orientação que o psicoterapeuta dá para o cliente pensar, o que ocorre por meio de uma atitude do psicoterapeuta de acolhimento, diálogo, pontuando o que ouve, vê, questionando o desejo do cliente em determinado comportamento e o sentimento em dada situação (Barbalho, 1997). Laura conta: “E, da parte dela, ela sempre procura me instigar a pensar. Então, ela me instiga a pensar algumas coisas...”

Por fim, os colaboradores atentaram para a tarefa ou lição de casa. Conforme Polster e Polster (2001), para que haja um crescimento, algumas horas semanais não bastam. Somente pelas experiências reais da própria vida é que as possibilidades descobertas na psicoterapia assumem sensação de realidade. Laura relata como sua psicoterapeuta passa sua tarefa de casa: “ela fala pra mim: „Vamos fazer uma tarefinha para casa, você vai pensar nisso em casa‟. (...) E a gente, às vezes, retoma no mesmo ponto”.

Quando se utiliza a lição de casa, o envolvimento psicoterapêutico é ampliado além do que o cliente pode pagar, tanto em dinheiro como em tempo. Assim, o cliente pode explorar suas ações e consciência sob orientação do psicoterapeuta, mesmo que ele não esteja presente (Polster e Polster, 2001). Júlia, como psicoterapeuta, esclarece como o cliente trabalha fora do consultório e, depois, como retorna para a sessão:

Ela leva as coisas que trabalhamos para sua vida. A terapia acontece em cinquenta minutos só pra aquecer. Na sessão que vem ela chega e fala assim pra mim: “Nossa, eu saí daqui pensando naquilo que a gente falou”... Então assim, ele não trabalha só aqui... e aí quando ele volta não continua mais naquele lugar que eu deixei. Ele já andou.

4. Considerações finais

Após a leitura do trabalho, é possível responder às perguntas feitas ao longo de sua execução. Primeiramente, faz-se necessário refletir os resultados de modo a elucidar o próprio objetivo. Pôde-se perceber que os resultados confirmaram a hipótese, embora suspensa, de que os aspectos valorizados no encontro psicoterapêutico são, sobretudo, os relacionais. Tanto é que três das categorias encontradas receberam nomes que remetem à psicoterapia de base dialógica: o vínculo como propiciador do encontro, diálogo e elementos do inter-humano.

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Além de referirem-se a aspectos relacionais, é interessante ressaltar que as categorias mencionadas tratam, mais especificamente, de atitudes que o psicoterapeuta tem que assumir na relação. Assim, para que o encontro ocorra, o psicoterapeuta precisa entrar no mundo do cliente para percebê-lo como ele se apresenta. Necessita ainda propiciar o surgimento de um vínculo por meio de uma postura acolhedora, amorosa, que dê suporte e inspire confiança. Na categoria diálogo, as atitudes encontradas para o psicoterapeuta foram a escuta interessada e ativa, a fala, a permissão para que o cliente seja o que é e se expresse livremente e a disponibilidade para ir ao encontro do cliente onde ele estiver. Por fim, a categoria elementos do inter-humano apontou, como atitudes relacionais do psicoterapeuta, a confirmação, a presença, a inclusão e a comunicação genuína e sem reservas.

Essas posturas, embora sejam obrigatórias para o psicoterapeuta que queira possibilitar o encontro, e não para o cliente, foram mencionadas pelos psicoterapeutas, mas também pelos clientes. Foi possível perceber que, mesmo com uma linguagem comum e não técnica, os clientes também reconhecem e valorizam essas atitudes na relação que estabelecem com seus psicoterapeutas. O reconhecimento dos clientes, nesta pesquisa, confirma o trabalho dos Gestalt-terapeutas, que se preocupam com a relação psicoterapêutica.

A pesquisa vai além, ao indicar ainda as categorias: capacidades pessoais do psicoterapeuta e capacidades teóricas do psicoterapeuta. Nelas também foram apontadas atitudes do psicoterapeuta necessárias para a possibilidade do encontro. Na categoria capacidades pessoais do psicoterapeuta, apareceram o envolvimento pessoal do psicoterapeuta na relação com o seu cliente, a expressão dos sentimentos, a participação da humanidade do psicoterapeuta no processo, a busca do seu estilo próprio, o conhecimento das suas limitações e, por fim, o colocar-se a serviço do cliente. No que diz respeito às capacidades teóricas do psicoterapeuta, as atitudes mencionadas foram: busca de conhecimentos teóricos, suspensão de pressupostos, esvaziamento, checagem do psicoterapeuta em relação à fala do cliente, focalização ou tema central, orientação para pensar, tarefa de casa.

Estas duas últimas categorias, embora não tenham recebido nomes diretamente ligados à teoria dialógica, também estão relacionadas a ela, porque o encontro, o diálogo e os elementos do inter-humano não ocorrem na psicoterapia se o psicoterapeuta não estiver presente como ser humano e se não dominar as teorias e métodos nos quais se baseia.

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Em relação à escolha dos colaboradores, decidiu-se escolher dois psicoterapeutas e dois clientes de cada um desses psicoterapeutas com o intuito de averiguar se haveria alguma relação entre: a) as respostas dos psicoterapeutas, b) as respostas dos clientes, c) as respostas do psicoterapeuta e as respostas dos seus clientes, d) as respostas dos clientes do mesmo psicoterapeuta.

No conjunto das respostas dos psicoterapeutas, notou-se o aparecimento de todas as categorias; contudo, na categoria elementos do inter-humano, eles não se referiram a nada que remetesse à comunicação genuína e sem reservas. Este aspecto foi mencionado apenas pelos clientes. Ainda sobre os relatos dos psicoterapeutas, é interessante ressaltar que as unidades de sentido semelhantes que surgiram entre eles foram: encontro, presença, limites teóricos e pessoais do terapeuta, supervisão, intuição, vínculo e entrada no mundo do cliente. Todas as demais unidades de sentido apareceram apenas em um deles, o que ressalta a singularidade dos colaboradores, que interfere também na maneira como cada um percebe e vivencia a relação psicoterapêutica, mesmo que ela se fundamente em uma mesma abordagem.

No conjunto de respostas dos clientes, percebeu-se a presença de todas as categorias, sem nenhuma exceção. No que diz respeito às semelhanças encontradas nos relatos de todos os clientes, surgiram as seguintes unidades de sentido: ausência de julgamentos, confiança e características pessoais do psicoterapeuta, ou seja, aspectos valorizados por todos os clientes entrevistados.

Considerando as respostas dos psicoterapeutas e seus clientes, observou-se que Júlia e Mariana têm, em comum, as seguintes unidades de sentido: presença, olhar, vínculo, aceitação e liberdade. Entre Júlia e Laura, apareceram as unidades: foco, tarefa de casa e aceitação. Nas respostas de Diego e Gabriela, as semelhanças foram confiança e sexo do terapeuta, e, entre esse terapeuta e Rodrigo, confiança e inclusão.

Esses últimos dados apontados entre psicoterapeutas e seus clientes evidenciam que, ao contrário do que se esperava, os aspectos valorizados pelo psicoterapeuta e pelos seus clientes não coincidiram significativamente. Supunha-se uma maior sintonia entre eles, e, por essa razão, no corpo deste estudo, a relação entre as respostas dos psicoterapeutas e dos clientes não foi enfatizada. Tal resultado confirma ainda mais a necessidade e a relevância desta pesquisa, sobretudo para os psicoterapeutas, responsáveis pelo estabelecimento do clima dialógico na psicoterapia. Saber de forma clara quais são os aspectos valorizados por cada um de

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seus cliente pode facilitar o construção dessa atmosfera.

Percebeu-se que é de extrema importância a investigação que envolve tanto psicoterapeuta quanto cliente, pois de acordo com Yalom (2006), o que o cliente considera útil na psicoterapia nem sempre é o mesmo que o psicoterapeuta.

Em relação às semelhanças e diferenças apresentadas pelos clientes do mesmo psicoterapeuta, as de Júlia coincidiram nas seguintes unidades de sentido: permissão, aceitação, ausência de julgamento, características pessoais da psicoterapeuta e confiança. Já os clientes do Diego apresentaram em comum as unidades de sentido: confiança, características pessoais do terapeuta, ausência de julgamento e empatia. Tais dados validam a idéia de que ainda que o psicoterapeuta seja o mesmo, a sua relação com cada cliente é sempre singular, tanto que cada um valoriza aspectos semelhantes, mas sobretudo aspectos diferentes na relação com seu psicoterapeuta.

De maneira geral, concluiu-se com esta pesquisa que os aspectos valorizados no encontro psicoterapêutico são principalmente os relacionais, e mais especificamente, as atitudes relacionais do psicoterapeuta. Essa constatação confirma a teoria dialógica de Martin Buber, na qual a Gestalt-terapia se baseia.

A predominância dos aspectos relacionais justifica-se pelo fato de que a existência humana é relacional, e, partindo desse princípio, é de fundamental importância que a atitude do psicoterapeuta seja também relacional. A atitude dialógica do psicoterapeuta pode possibilitar o encontro e convida o cliente a experimentar-se de uma nova maneira (Pinto, 2009).

Por fim, considera-se que este estudo é apenas um ponto de partida para reflexões a respeito de um tema tão importante como o encontro psicoterapêutico. Sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas buscando respostas para questões que não foram respondidas neste estudo: as implicações na prática clínica dos aspectos valorizados pelos colaboradores desta pesquisa; a importância da identificação do cliente em relação ao psicoterapeuta; as atitudes do cliente que podem possibilitar também o encontro genuíno, mesmo que não seja obrigatório para ele; a sintonia ou falta dela nos aspectos valorizados pelos psicoterapeutas e seus clientes e ainda, como pode interferir no processo psicoterapêutico.

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Referências

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