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Agricultura familiar, Serviços Ecossistêmicos e Desserviços Ambientais: o manejo influencia na percepção?

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Academic year: 2021

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Agricultura familiar, Serviços Ecossistêmicos e Desserviços Ambientais: o manejo influencia na percepção?

Family farmers, Ecosystem Services and Environmental disservice: the management influences the perception?

BATTISTI, Luiz Fernando Z1,2; SCHMITT FILHO, Abdon L1,2,4; ALARCON, Gisele G1,2; FARLEY, Joshua1,3,4; SIMIONI, Gisele F1,2

(1) Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Sistemas Silvipastoris/LASS,

lfernandobattisti@hotmail.com, abdonfilho@hotmail.com, giselegalarcon@yahoo.com,

gisafranci@yahoo.com.br

(2) Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas PPGA-UFSC

(3) CDAE University of Vermont UVM USA, joshua.farley@uvm.edu. (4) Gund Institute for Ecosistem Services/GUND IEE UVM USA

Resumo: A agricultura pode comprometer a provisão de serviços ecossistêmicos (SE) e

gerar uma série de desserviços ambientais (DA). A despeito da relevância desta temática, poucos estudos buscaram compreender a visão de agricultores acerca deste fenômeno. Neste contexto, este estudo procura compreender a percepção de agricultores familiares convencionais e agroecológicos sobre a provisão de SE e DA associados à agroecossistemas em Santa Rosa de Lima, SC. No total, agricultores agroecológicos citaram 448 SE e 213 DA, enquanto os convencionais reconheceram 277 SE e 142 DA. A ciclagem de nutrientes foi o SE mencionado com maior frequência por ambos os grupos, seguido por qualidade e disponibilidade hídrica. Quanto aos DA, erosão e assoreamento e competição por recursos ecológicos foram os mais relevantes. As informações obtidas a partir deste estudo podem subsidiar um processo participativo de planejamento a respeito do uso e cobertura do solo em Santa Rosa de Lima.

Palavras-chave: desserviços ambientais, serviços ecossistêmicos, agricultura familiar

Abstract: Agriculture can compromise the provision of ecosystem services (ES) and

generate innumerous environmental dis’services (EDS). In despite of the significance of this issue, few studies have sought to understand the vision of farmers about this phenomenon. In this context, this study aims to understand the perception of conventional and agroecological family farmers about the ES provision and EDS associated with agricultural ecosystems in Santa Rosa de Lima, SC. In total, agroecological farmers cited 448 ES and 213 EDS, whereas conventional farmers recognized 277 ES and 142 EDS. Nutrient cycling was the ES mentioned most often by both groups, followed by water quality and availability. Regarding the EDS, erosion, silting and competition for ecological resources were the most relevant ones. Information obtained from this study can support a participatory planning process regarding land use and land cover in Santa Rosa de Lima.

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Introdução

Segundo dados da FAO (2009) para atender a demanda de alimentos em 2050, a produção atual global deverá aumentar em 70%. Diversos estudos chamam atenção para o desafio de se compatibilizar o aumento da demanda para produção de alimentos com a manutenção da provisão de serviços ecossistêmicos (SE) e conservação da biodiversidade (MARTINELLI et al., 2010).

No Brasil, a agricultura constitui a principal causa de mudança na cobertura do solo, levando ao desmatamento, a perda dos serviços ecossistêmicos associados (FAO, 2009) e à geração de uma série de desserviços ambientais (DA) (ZHANG et al., 2007). Não obstante, práticas agroecológicas poderiam aumentar a produtividade agropecuária brasileira, garantindo conservação da biodiversidade e provisão de múltiplos SE (ALTIERI, 1999; AEM, 2005).

Trabalhos recentes vêm apontando a importância de compreender como os agricultores entendem os SE e os DA associados às práticas agrícolas como forma de gerar subsídios para a tomada de decisão e para implementação de políticas públicas locais. Neste sentido, este artigo tem como objetivo comparar a percepção de agricultores familiares convencionais e agroecológicos sobre a provisão de serviços ecossistêmicos e desserviços ambientais associados à agroecossistemas em Santa Rosa de Lima, Santa Catarina.

Metodologia Área de Estudo

A pesquisa foi conduzida no município de Santa Rosa de Lima, localizado na região sul do estado de Santa Catarina, Brasil. Segundo dados do IBGE (2010), a cidade possui cerca de 2.122 habitantes com a grande maioria residindo no meio rural, onde predomina a agricultura familiar.

Métodos

Os dados foram levantados por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas com 60 agricultores familiares de Santa Rosa de Lima. Os agricultores foram divididos em dois grupos: 30 produtores agroecológicos e 30 convencionais. A amostragem foi aleatória do tipo não probabilística, os entrevistados foram

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escolhidos por meio de um sorteio utilizando o programa R (R CORE TEAM, 2013), a partir de uma lista de produtores rurais disponibilizada pela prefeitura municipal. Para estimular os agricultores entrevistados a enumerarem os serviços ecossistêmicos e desserviços ambientais associados aos diferentes tipos de uso e cobertura do solo, foram utilizadas 26 imagens que representam os cenários mais característicos da região. A classificação dos serviços ecossistêmicos foi baseada na Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM, 2003), enquanto a classificação dos desserviços ambientais foi baseada em (BLANCHE et al., 2002).Os dados coletados foram analisados a partir de estatísticas descritivas (BARBETTA, 2002).

Resultados e discussões

Os resultados deste estudo mostraram que os agricultores agroecológicos relacionaram um número maior de serviços ecossistêmicos e desserviços ambientais às imagens apresentadas. Somando todos os serviços apontados pelos entrevistados, os agricultores agroecológicos citaram 448 serviços ecossistêmicos enquanto os convencionais reconheceram 277. Quanto aos desserviços ambientais, os agricultores agroecológicos observaram 213, e os agricultores convencionais 142. Tanto agricultores agroecológicos como convencionais perceberam com maior frequência serviços de regulação, sendo a ciclagem de nutrientes o serviço mencionado com maior frequência nesta categoria por ambos os grupos (100% e 96%, respectivamente). Esperava-se que os serviços de provisão fossem mencionados com maior frequência (ABRAM et al., 2014; ALARCON, 2014). Normalmente, serviços de provisão são importantes para manutenção dos estabelecimentos agropecuários, contribuindo para a reprodução social das famílias, ao mesmo tempo em que podem gerar renda (FAGERHOLM et al., 2012). Não obstante, Martín-lópez et al., (2012) também encontraram resultados semelhantes, demonstrando que os produtores rurais valorizam e reconhecem serviços associados ao funcionamento dos ecossistemas.

Qualidade e disponibilidade hídrica constituiu o segundo serviço ecossistêmico mencionado com maior frequência. A importância atribuída a este serviço deve estar associada à dependência que a maior parte das famílias possui dos recursos hídricos, seja para consumo humano ou para dessedentação animal. Outros serviços relevantes que merecem destaque foram provisão de hábitat (100%) e

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controle da erosão (96%), segundo agricultores agroecológicos, e provisão de alimentos (96%), segundo produtores convencionais.

Os desserviços ambientais elencados com maior frequência por ambos os grupos foram: erosão e assoreamento (100%); competição por recursos ecológicos (água, solo, luz) (100%) e envenenamento via agrotóxicos de organismos não alvos (97%). Isto pode ser explicado pelo fato de que o município está localizado em uma região com relevo bastante acidentado e uma rede hidrográfica extensa. Estas características acarretam no assoreamento dos rios e erosão do solo. A competição ecológica por sua vez, pode estar associada à percepção que possuem sobre os efeitos do eucalipto sobre os recursos hídricos da região. A alta percepção dos agricultores quanto aos efeitos negativos dos agrotóxicos aos organismos não alvos corrobora com Recena & Caldas (2008).

Com relação às imagens utilizadas, cabe destacar que os agricultores agroecológicos faziam frequentemente associações com uma ampla gama de serviços ecossistêmicos ou desserviços ambientais em comparação aos agricultores convencionais. Quando questionados sobre os desserviços ambientais ocasionados pela monocultura de eucaliptos, todos os agricultores agroecológicos mencionaram algum tipo de desserviço. Já entre os agricultores convencionais, 57% acreditavam que a monocultura de eucalipto não causa qualquer desserviço ambiental.

Quanto aos serviços ecossistêmicos associados às matas ciliares, agricultores agroecológicos destacaram 22 serviços, enquanto os convencionais destacaram apenas 12. Estes resultados assemelham-se aos de Poppenborg & koellner (2013). Segundo os autores, produtores orgânicos são mais conscientes sobre as questões ambientais do que agricultores convencionais.

Considerações finais

Em Santa Rosa de Lima, criar espaço para discussão e disseminação de informações sobre o funcionamento dos ecossistemas e a importância da conservação da biodiversidade pode constituir uma importante estratégia para despertar os agricultores convencionais a respeito desta temática.

Outras soluções passam pela capacitação de técnicos de extensão rural visando o aprendizado de técnicas agroecológicas e o apoio para acesso ao crédito rural em linhas que visem a agroecologia. Por fim, as informações obtidas a partir deste

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estudo podem subsidiar um processo participativo de planejamento a respeito do uso e cobertura do solo do município de Santa Rosa de Lima em longo prazo.

Referências bibliográficas:

ABRAM, N. K. et al. Spatially explicit perceptions of ecosystem services and land cover change in forested regions of Borneo. Ecosystem Services, v. 7, p. 116–127, mar. 2014. ALARCON, G. G. É pagando que se preserva? : limitações e oportunidades do

pagamento por serviços ambientais para conservação dos recursos florestais do Corredor Ecológico Chapecó, SC, 2014.

ALTIERI, M. Applying Agroecology to Enhance the Productivity of Peasant Farming Systems in LA. Environment, Development and Sustainability, v. 1, n. 3, p. 197–217, 1999.

BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. Ed. UFSC, 2008. BLANCHE, Rosalind et al. Services and dis-services of rainforest insects to crops in north Queensland. Cooperative Research Centre for Tropical Rainforest Ecology and

Management, Cairns, Australia, 2002.

FAGERHOLM, N. et al. Community stakeholders’ knowledge in landscape assessments - Mapping indicators for landscape services. Ecological Indicators, v. 18, p. 421–433, 2012. FAO. global forest Resources assessment 2010. FAO Forestry Paper, 2010.

FAO, U. How to Feed the World in 2050. Rome: High-Level Expert Forum, 2009.

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