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O QUE TORNA UM DESTINO TURÍSTICO BIKE- FRIENDLY?

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CAMPUS SOROCABA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA, TURISMO E HUMANIDADES BACHARELADO EM TURISMO VITOR PRADO

ALÉM DAS CICLOVIAS: O QUE TORNA UM DESTINO TURÍSTICO BIKE-FRIENDLY?

SOROCABA

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VITOR PRADO

ALÉM DAS CICLOVIAS: O QUE TORNA UM DESTINO TURÍSTICO BIKE-FRIENDLY?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Turismo da Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba, como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientador Prof. Dr. Carlos Henrique C. da Silva

SOROCABA 2019

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AGRADECIMENTOS

Agradeço meus amados familiares, em especial Yara Prado, Antônio Prado e Mirian Prado por juntos formarem minha base e suporte para crescer.

Aos meus amigos de graduação Calim Jacob, Cíntia Diniz, Camila Cardoso e Victória Rufino. Pois, longe de casa, encontrei morada ao lado de vocês.

Ao orientador Prof. Dr. Carlos Henrique Costa da Silva, pela paciência e bom humor com os quais me orientou com este trabalho até sua etapa final.

Ao corpo docente da Universidade Federal de São Carlos e pela equipe técnica do curso de Turismo Regina Miranda e Gilselene Morais, meu sincero obrigado pela formação acadêmica e extraclasse. Explorar e vivenciar novos horizontes tornou-se possível e, gratificante, graças a vocês que acreditaram.

À Universidade Maior de San Andrés e Associação de Universidades Grupo Montevidéu, serei eternamente grato pela experiência de vida e por reavivar em mim a paixão pelo turismo. La Paz maravillosa!

Por fim, agradeço a todos meus amigos de pedalada. Na velocidade dos automóveis, pedalar é resistir e encarar o mundo cinza das rodovias com novas cores.

(4)

“When the spirits are low, when the day appears dark, when work becomes monotonous, when hope hardly seems worth having, just mount a bicycle and go out for a spin down the road, without thought on anything but the ride you are taking.”

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RESUMO

O presente trabalho analisa quais são as principais infraestruturas e serviços relacionados ao uso da bicicleta em destinos turísticos classificados como bike-friendly. Diante do crescente incentivo ao uso da bicicleta, o objetivo da pesquisa é demonstrar a bicicleta como um meio de transporte sustentável, econômico e, por suas peculiaridades, responsável por contribuir para o desenvolvimento do turismo, seja como produto ou como modalidade. A pesquisa tem caráter explicativo, usando dados quantitativos e qualitativos para ilustrar o movimento bike-friendly, baseado nos critérios adotados por três diferentes iniciativas. Os resultados obtidos apontaram que, além das infraestruturas mínimas relacionadas ao uso da bicicleta, como ciclovias, uma cidade bike-friendly também expressa nas esferas sociais e culturais um movimento pró-bicicleta, que afetam diretamente na experiência turísticas de um visitante. Com este estudo, pretende-se contribuir com o fomento de novas publicações sobre o movimento bike-friendly e suas possíveis implicações para o turismo.

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RESUMEN

El presente trabajo presenta un análisis sobre cuáles son las principales infraestructuras y servicios relacionados con el uso de la bicicleta en destinos turísticos llamados bike-friendly. El objetivo de la investigación es vincular la bicicleta como un medio de transporte sostenible, económico y, por sus peculiaridades, responsable por el desarrollo responsable del turismo, sea como producto turístico o como segmentación cicloturismo. La investigación tiene carácter explicativo, utilizando datos cuantitativos y cualitativos para ilustrar el movimiento bike-friendly, basándose en los indicadores de tres diferentes iniciativas que renquean ciudades bike-friendly. Los resultados obtenidos apuntaron que, además de las infraestructuras mínimas relacionadas al uso de la bicicleta, como ciclovías, una ciudad bike-friendly también expresa en las esferas sociales y culturales un movimiento pro-bicicleta que afectan directamente la experiencia turística de un visitante. Con este estudio, se pretende contribuir con el fomento de nuevas publicaciones sobre el movimiento bike-friendly y sus posibles posibilidades para el turismo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

CAPÍTULO 1: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 13

1.1 Turismo sustentável ... 14

1.2 Mobilidade urbana sustentável ... 17

1.3 Bicicleta: pedalando pela sustentabilidade ... 21

CAPÍTULO 2: O USO DA BICICLETA COMO ESPORTE, LAZER E MEIO DE TRANSPORTE ... 22

2.1 O uso da bicicleta como esporte ... 23

2.2 O uso da bicicleta como transporte ... 26

2.2.1 Principais eventos de ciclismo no mundo ... 27

2.3 O uso da bicicleta como lazer ... 33

2.3.1 Ciclismo de Longa Distância ... 33

2.3.2 Ciclismo Recreativo ... 34

2.3.3 Cicloturismo ... 34

2.3.3.1 Roteiros de bicicleta e pacotes para cicloviajantes ... 36

2.3.3.2 Tendências para bike: cicloturismo de luxo ... 39

CAPÍTULO 3: MOVIMENTO BIKE-FRIENDLY ... 41

3.1 Indicadores bike-friendly ... 41

3.1.1 Bicycle Friendly Community ... 41

3.1.2 Copenhagenize Design Co ... 43

3.1.3 RAMC ... 43

3.2 Discussão dos Indicadores bike-friendly ... 47

3.3 Destinos bike-friendly ... 48

3.3.1 Rio de Janeiro ... 49

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CAPÍTULO 4: O IMAGINÁRIO BIKE-FRIENDLY NO INSTAGRAM ... 53

4.1 Materiais e Métodos ... 54

4.1.1 Rede Social Instagram ... 55

4.1.2 Hashtags ... 55

4.2 Procedimentos de seleção de fotografias ... 56

4.3 Análise dos resultados ... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 62

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do turismo se apresenta como um fenômeno amplo e crescente, gerando impactos no meio ambiente e espaço em que ocorre. Diante do entendimento das variáveis envolvidas na prática do fenômeno turístico, é importante esclarecer que turismo é, na visão de Beni (1998), um

elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros fatores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica. Que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transportes e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetiva dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios (BENI, 1998, p. 37)

A referida definição de Beni (1998) elenca os meios de transportes como parte do processo decisório de um destino, sendo o mesmo influenciado por fatores múltiplos e variáveis de acordo com cada turista.

Durante a prática de deslocamento do viajante, seja ela a de uma cidade a um destino, de um destino até um atrativo ou de um hemisfério a outro dentro de um avião ou navio, o turista movimenta-se e transita entre distintos modais de transporte – sendo que o próprio modal, em si, pode se tornar um atrativo turístico. Encontra-se exemplos como o bondinho Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, o Trem da Morte, que leva de Puerto Quijarro, na divisa com o Mato Grosso do Sul, até Santa Cruz de la Sierra, cidade boliviana, ou o funicular, que leva o turista até o alto Cerro San Cristóbal, na região de Santiago, Chile.

Uma vez indispensável para o deslocamento de turistas, porque não planejar e incentivar o turismo sustentável a partir da ótica da mobilidade? Muitos pesquisadores, atentos às mudanças constantes que afetam o turismo, se dedicaram aos estudos sobre mobilidade sustentável. Como mostra Santos (2014) a respeito da prática do turismo, é necessário inserir no cenário urbanístico espaços para o uso de meios de transporte alternativos.

A bicicleta, que traz impactos mínimos ao meio ambiente, se destaca como meio de transporte sustentável. Apresenta baixo custo, fácil manutenção, qualidade de vida e

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flexibilidade do turista no local visitado, podendo diminuir o tempo gasto durante o deslocamento no âmbito dos destinos (e também em escala regional) e lhe propiciando melhor uso de seu tempo de lazer.

Tema de destaque nos dias de hoje e eleita pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2010) como o transporte ecologicamente mais sustentável do planeta, muitas cidades buscaram nas últimas décadas se adequar a inserção da bicicleta. Contudo, para a efetividade de sua inserção de forma segura, integrada ao espaço urbano e estrategicamente pensada para facilitar o deslocamento, é preciso estruturar um planejamento cicloviário no âmbito da gestão urbana – como já vem sendo feito em muitas cidades do mundo e também do Brasil, de forma a constituir um espaço com mobilidade segura e convidativa ao turista (e também ao morador).

Silva (2006) aponta que a bicicleta, além dos benefícios físico-psicológicos pessoais, como expectativa de vida maior, também oferece benefícios gerais e que afetam as futuras gerações, como um espaço mais democrático – com redução da emissão de gases poluidores, redução dos impactos gerados pelos veículos automotores e consequente economia das verbas destinadas ao reparo desses problemas, entre outros pontos que favorecem e colocam a bicicleta como um meio de transporte essencial para o planejamento do turismo sustentável e como alternativa de mobilidade urbana nas cidades.

Tornando-se cada vez mais recorrentes municípios interessadas em adequar-se ao movimento bike-friendly, no Brasil diversas cidades com atividade turística consolidada já se apropriaram positivamente sobre a bicicleta, seja inserindo-a na atividade turística como meio de transporte ou em alguns de seus usos como Lazer. Aracaju (SE), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Afuá (PA), Porto Alegre (RS) entre outras diversas que, apesar das barreiras, buscam incentivar seu uso, como Sorocaba (SP), Belo Horizonte (MG), Vale dos Vinhedos (RS) ou Fortaleza (CE), e representam uma tendência mundial na gestão urbana.

Essas cidades apresentam estruturas e serviços específicos para o movimento bike-friendly. Pontos de apoio ao ciclista com uso da tecnologia, investimento em infraestruturas, novas leis de incentivo para a iniciativa privada: com as novas possibilidades, ser um destino turístico bike-friendly envolve diversos fatores.

Nesse contexto, a justificativa para esta pesquisa é fruto do interesse próprio em melhor compreender a relação entre turismo e bicicleta. Por sua abrangência,

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pretende-se estudar, especificamente, destinos turísticos no Brasil reconhecidos pelo movimento bike-friendly.

Além disso, é sabido que a produção científica no Turismo tem como objetivo apropriar-se de temas relevantes da realidade para melhor analisá-la e, assim, produzir novas propostas. Portanto, a maior produção de estudos e conteúdos sobre destinos bike-friendly e mobilidade urbana sustentável compõe uma série de investigações acadêmicas que ajudará na compreensão da relação entre turismo e o movimento amigo da bicicleta.

O objetivo geral desta pesquisa é identificar e analisar quais são as estruturas e serviços relacionados a destinos turísticos bike-friendly. Diante disso, é necessário entender os critérios hoje adotados por organizações e empresas que se dedicam a conceituar e classificar cidades em bike-friendly.

Considerando esse panorama, têm-se como objetivos específicos:

 Demonstrar que a bicicleta é um meio de transporte sustentável para o desenvolvimento do turismo;

 Elencar indicadores constituintes da classificação de um destino turístico bike-friendly;

 Ilustrar o movimento “bike-friendly” através de sua hashtag na rede social Instagram.

O caráter desta pesquisa é explicativo, apoiando-se tanto em dados quantitativos como qualitativos. Para enriquecer e ampliar os conhecimentos sobre mobilidade urbana sustentável, bicicleta, movimento bike-friendly e turismo, livros, revistas e artigos acadêmicos foram consultados. O método de abordagem adotado foi o dedutivo, e pelo cunho do trabalho, feito em monografia.

Com a proposta de complementar a pesquisa, foi elaborada, também, uma análise exploratória de fotografias, englobando os usuários da rede social virtual Instagram que usaram em suas publicações a hashtag (#) bike-friendly. A escolha dessa hashtag, além de sua ligação direta com o tema, se deu pelo fato de existir um grande número de publicações disponíveis e em constante atualização, possibilitando assim conhecer a opinião dos usuários, ao redor do mundo, de uma forma mais abrangente.

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No tocante a estrutura do trabalho, a abordagem inicial no capítulo primeiro “Turismo e mobilidade sustentável” conceitua, com diferentes fontes, o que é turismo sustentável, bem como mobilidade urbana sustentável – especificamente a bicicleta.

O segundo capítulo, “O uso da bicicleta como esporte, lazer e meio de transporte”, apresenta os diferentes usos da bicicleta, baseado principalmente na pesquisa de Roldan (2000). Pela área abrangente da pesquisa, o uso da bicicleta como lazer apresenta maior detalhamento.

O terceiro capítulo, intitulado “Movimento bike-friendly”, explica o conceito bike-friendly e o relaciona a cidades turísticas amigas da bicicleta. Para análise, três diferentes iniciativas privadas (Bicycle Friendly Community, Copenhagenize Design Co e a brasileira RAMC – Ranking das Administrações Municipais Cicloamigas) apresentam as principais características esperadas de uma cidade para considerá-la bike-friendly.

Por fim, o quarto e último capítulo, “Imaginário bike-friendly no Instagram” agrupa os principais resultados obtidos da análise das fotografias de usuários da rede social virtual Instagram que usaram em suas publicações a hashtag (#) bike-friendly. Para o desenvolvimento da pesquisa, a análise considerou o gênero e os elementos de composição fotográfica associada à hashtag.

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CAPÍTULO 1: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Pesquisadores e profissionais envolvidos pela temática sustentabilidade e turismo, com o intuito de promover o desenvolvimento sustentável e consciente, difundiram diferentes ferramentas e maneiras para facilitar a compreensão e importância no mundo moderno em implementar uma atividade turística que se empenha em gerar menores impactos nos espaços onde verifica-se sua ocorrência.

Os preâmbulos do turismo sustentável no Brasil, previstos no Plano Nacional de Turismo 2018-2022 envolvem esferas correlacionadas e indispensáveis para firmar-se como prática, sendo elas: ambiental, econômica, sociocultural e político-institucional (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2018). O planejamento turístico, quando engloba as quatro esferas acima citadas, possibilita uma atividade com menores impactos negativos, sem prejudicar o crescimento econômico da mesma.

Esse conceito surge com a Organização Mundial do Turismo, que define turismo sustentável como “o turismo que considera plenamente seus atuais e futuros impactos econômicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais” (UNWTO, 2005, p.11-12).

O desenvolvimento sustentável, ademais de um conceito aplicado exclusivamente ao turismo, nasce em pautas internacionais desde 1972, durante a primeira conferência da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento, na cidade de Estocolmo, Suécia. Pouco mais de uma década passada do evento, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com então chefia da ministra Gro Harlem Brundtland, apresentou o documento “Nosso Futuro Comum”, popularmente conhecido como Relatório Brundtland. Desde então, diversos discursos políticos e pesquisas científicas definiram desenvolvimento sustentável como

a atividade que harmoniza o imperativo do crescimento econômico com a promoção de eqüidade social e a preservação do patrimônio natural, garantindo assim que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras. (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 49)

Identifica-se, a partir da definição proposta no Relatório Brundtland, uma ruptura na antiga maneira que a sociedade garantia o crescimento econômico, no Brasil

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e no mundo. O discurso de desenvolvimento sustentável, desde então, estendeu-se para o turismo: destino e turistas, com a adoção do termo sustentável, introduziram debates diversos em pautas governamentais, ONGS, empreendimentos privados e públicos: agências de viagem e turismo, rede hoteleira, estabelecimentos de alimentos e bebidas. Temas como o uso racional da água, responsabilidade ambiental, mobilidade urbana alternativa, contratação de pessoal local, conservação do patrimônio, conscientização das comunidades, redução de gases nocivos, turismo de massa versus turismo alternativo, são exemplos de assuntos que confrontaram os setores econômicos e sociais envolvidos no fenômeno turístico.

1.1 Turismo Sustentável

As novas tecnologias e saberes, cada dia mais, são apresentados como temas desafiadores por aqueles que pensam o turismo pela ótica de desenvolvimento sustentável. O que é, afinal, desenvolvimento sustentável quando falam em turismo? Sem embargo, o Ministério do Turismo sintetiza no programa de Regionalização do Turismo (OMT, 2007), as múltiplas facetas envolvidas entre turismo e desenvolvimento sustentável, descrevendo que

Turismo sustentável é a atividade que satisfaz as necessidades dos visitantes e as necessidades socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto os aspectos culturais, a integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro. (ROTEIROS DO BRASIL, 2007, p. 25)

Nessa cartilha, torna-se claro que “O planejamento do turismo deve ter como meta a criação de benefícios socioeconômicos para a sociedade, mas, ao mesmo tempo, deve manter a sustentabilidade do setor turístico através da conservação do meio ambiente e da cultura local” (OMT, 1996, p. 74).

Complementando essa definição, Butler (1999) apresenta

Turismo sustentável é o turismo que se desenvolve e mantém numa área (ambiente, comunidade) de tal forma e a uma tal escala que garante a sua viabilidade por um período indefinido de tempo sem degradar ou alterar o ambiente (humano ou físico) em que existe e sem pôr em causa o desenvolvimento e bem-estar de outras

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actividades e processos (BUTLER apud PARTIDÁRIO, 1999, p.81)

O Código de Ética Mundial para o Turismo apresenta, ainda, o turismo como fator de desenvolvimento sustentável, reafirmando que

2. As autoridades públicas nacionais, regionais e locais favorecerão e incentivarão todas as modalidades de desenvolvimento turístico que permitam preservar recursos naturais escassos valiosos, em particular a água e a energia, e evitar no que for possível a produção de resíduos. (CÓDIGO DE ÉTICA MUNDIAL PARA O TURISMO, artigo 3º, p.5)

Diante de tais perspectivas, Pearce (apud BENI, 2002, p.61) apresenta, sob uma ótica econômica, o turismo sustentável como

Maximização e otimização da distribuição dos benefícios do desenvolvimento econômico baseado no estabelecimento e na consolidação das condições de segurança com as quais serão oferecidos os serviços turísticos, para que os recursos naturais sejam mantidos, restaurados e melhorados.

Governo e sociedade civil analisam parâmetros em busca de incrementar o desenvolvimento de forma responsável. Ser sustentável tornou-se parte do discurso moderno e da legislação vigente aplicada ao turismo.

Nota-se que as políticas locais e globais, no que tange a sustentabilidade, buscam garantir o desenvolvimento econômico sem afetar o propósito de proteção e manutenção do ambiente físico onde há interferência da atividade turística – um desafio, de longa data, para o mesmo.

Como exemplo de práticas sustentáveis para preservação do meio ambiente, o Programa de Regionalização do Turismo (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007) dedica um Capítulo da obra apenas para esclarecimento de quais metas são compatíveis dentro da concepção sobre o que é desenvolvimento turístico sustentável (TABELA 1):

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TABELA 1. OBJETIVOS E METAS PARA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Sustentabilidade Ambiental

Conservação e gestão do uso da água; Emissão de efluentes e resíduos sólidos;

Eficiência energética; Seleção e uso de insumos; Ruídos, poluição visual e aglomeração; Proteção das áreas naturais e da biodiversidade;

Uso sustentável dos recursos naturais; Adequação da infra-estrutura turística Fonte: adaptado de Roteiros do Brasil (2007)1

É notório, contudo, os impactos negativos previstos da atividade turística – mesmo quando apoiadas nos parâmetros de desenvolvimento sustentável (seja ele econômico, ambiental, político-institucional ou sociocultural).

Dentre as consequências do turismo não planejado e sem inclusão, encontra-se, por exemplo, a poluição em todas as suas formas, como “emissão de gases nocivos a camada de ozônio, contribuindo para o aquecimento global, causados pelos meios de transporte” (ROTEIROS DO BRASIL, 2007, p. 49). A própria Agenda 21 para a indústria de viagens e turismo prevê em suas 16 áreas prioritárias para o desenvolvimento do turismo,

(a) Desenvolver e promover, conforme apropriado, sistemas de transporte eficazes, no que diz respeito à relação custo/benefício, mais eficientes, menos poluentes e mais seguros, especialmente sistemas de transporte coletivo integrado rural e urbano, bem como redes viárias ambientalmente saudáveis, levando em conta as necessidades de estabelecer prioridades sociais, econômicas e de desenvolvimento sustentáveis, especialmente nos países em desenvolvimento (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2004)

Sempre como área a ser pensada de forma sustentável, a mobilidade urbana e suas múltiplas facetas tem sido principalmente em países em desenvolvimento, pauta de

1

Sustentabilidade Ambiental. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/images/programas_acoes_home/PROGRAMA_DE_REGIONALIZACAO_DO_ TURISMO_-_DIRETRIZES.pdf>. Acesso em: <abr. 2018>

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uma série de debates políticos sobre como inserir sistemas integrados e eficientes nos destinos turísticos, visando melhorias na qualidade de vida. A máxima desse pensamento é apoiada no art. 5º da Lei Federal nº 12.587 (BRASIL, 2012).

A Política Nacional de Mobilidade Urbana e a Política de Desenvolvimento Urbano trabalham de forma integrada no fomento a um novo padrão de mobilidade, preconizando no mesmo “o controle da demanda por viagens de automóveis e o estímulo ao uso de modos não motorizados e transporte público coletivo.” (POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA, 2013, p. 18). A partir desse contexto político e social das últimas décadas, a relação entre turismo e mobilidade urbana sustentável herda do discurso sustentável novos modelos a implantar nos destinos turísticos.

1.2 Mobilidade urbana sustentável

(COSTA et al., 2008) apresenta uma importante observação sobre o assunto mobilidade urbana sustentável. Apesar de amplamente debatido e da divulgação do tema nas mídias, para estudá-lo é preciso considerar, antes de qualquer legislação, a região onde se insere o plano de desenvolvimento. Igualmente dialogando sobre o contexto da mobilidade urbana no Brasil, Silva (2007) apresenta que existem muitos fatores envolvidos na gestão da mesma, e apenas recentemente o país está integrando a preocupação do sustentável no planejamento da mobilidade.

A própria Política Nacional de Mobilidade Urbana, criada em 2013 e com menos de uma década de implantação, enfrenta desafios para se inserir no cenário brasileiro do planejamento urbano, com diretrizes e instrumentos em construção. Antes da discussão sobre a política urbana e sua influência na atividade turística, entende-se que:

A mobilidade urbana é um atributo das cidades e se refere à facilidade de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano. Tais deslocamentos são feitos através de veículos, vias e toda a infra-estrutura (vias, calçadas, etc) que possibilitam esse ir e vir cotidiano. Isso significa que a mobilidade urbana é mais do que o que chamamos de transporte urbano, ou seja, mais do que o conjunto de serviços e meios de deslocamento de pessoas e bens. É o resultado da interação entre os deslocamentos de pessoas e bens com a cidade. (BRASIL, Ministério das Cidades, 2005, p. 03)

(18)

Tema abordado multidisciplinarmente nos Ministérios, a discussão sobre a mobilidade apresenta desafios para países emergentes como o Brasil. Não obstante,

A questão da mobilidade urbana surge como um novo desafio às políticas ambientais e urbanas, num cenário de desenvolvimento social e econômico do país, no qual as crescentes taxas de urbanização, as limitações das políticas públicas de transporte coletivo e a retomada do crescimento econômico têm implicado num aumento expressivo da motorização individual (automóveis e motocicletas), bem como da frota de veículos dedicados ao transporte de cargas. (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2012, p. 08)

Dentre as várias diretrizes discutidas no planejamento da mobilidade urbana no setor legislativo, encontra-se uma diversificada literatura, algumas quase romantizadas, sobre o conceito de mobilidade sustentável nas cidades brasileiras.

Setores privados e sem fins lucrativos, igualmente, emergiram em diversas regiões do país com propostas para desenvolvimento de novas mobilidades, uma forma de apoio ao movimento contra a supremacia de veículos motorizados individuais. Exemplo de destaque, o Instituto da Mobilidade Sustentável (2014), organização não governamental criado em 1999 para difundir o tema, advoga que

Tem como objetivo a restauração da função social da rua, como espaço democrático de uso, priorizando os modos de transporte coletivo, a pé e de bicicleta; a defesa e preservação do meio ambiente e do patrimônio histórico, cultural e artístico nos projetos e ações ligados ao transporte e à circulação urbana; a promoção do desenvolvimento urbano, econômico e social de forma sustentável, conforme os princípios da Agenda 21 e da tese do "Não Transporte" (RUA VIVA, 1999, p.02)

A apropriação do discurso sustentável, evidenciado no trecho acima, se torna mais claro na definição que o Instituto da Mobilidade Sustentável apresenta (TABELA 2). Com o objetivo, principalmente, de criar diretrizes voltadas para redução de impactos tanto ambientais quanto sociais da mobilidade motorizada vigente, o conceito de mobilidade sustentável:

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TABELA 2. OBJETIVOS DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL Busca a apropriação equitativa do espaço

e do tempo na circulação urbana, priorizando os meios de transporte coletivo, a pé e de bicicleta, em relação ao automóvel.

Promove o reordenamento dos espaços e das atividades urbanas, de forma a reduzir as necessidades de deslocamento motorizado e seus custos.

Promove a eficiência e a qualidade nos serviços de transporte público, com apropriação social dos ganhos de produtividade decorrentes.

Amplia o conceito de transporte para o de comunicação, através da utilização de novas tecnologias.

Promove o desenvolvimento das cidades com qualidade de vida, através do transporte consciente, sustentável, ecológico e participativo.

Contribui para a eficiência energética e busca reduzir a emissão de agentes poluidores, sonoros e atmosféricos.

Promove paz e cidadania no trânsito. Fonte: adaptado de RuaViva2

Na busca de promover um espaço melhor para as cidades, agentes de instituições públicas e privadas, consoante aos itens que marcam o conceito de mobilidade sustentável, adotam diferentes modais e tipos de transporte sustentável.

Atualmente, predomina-se no Brasil o transporte rodoviário (FIGURA 1). Dentre os quatro setores (Aeroviário, Aquaviário, Ferroviário e Rodoviário), o rodoviário apresenta aproximadamente 125 mil quilômetros de extensão (considerando trechos pavimentados não pavimentados). O ferroviário, por sua vez, apresenta uma extensão aproximada de 29 mil quilômetros. E o modal aquaviário, composto pelo transporte hidroviário, marítimo e portuário, tem uma malha economicamente navegável de aproximadamente 22 mil quilômetros de extensão. (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, PORTOS E AVIAÇÃO CIVIL, 2018, p.16).

2

Instituto da Mobilidade Sustentável – RuaViva. Disponível em: <http://www.ruaviva.org.br/ruaviva.html>. Acesso em: <abr. 2018>

(20)

FIGURA 1. INFRAESTRUTURAS VIÁRIAS DISPONÍVEIS

Fonte: adaptado de Política Nacional de Transportes (2018)3

Como demonstra os dados do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, a realidade brasileira é marcada pela forte presença de infraestrutura rodoviária e, por consequente, uma cultura predominante do uso de veículos motorizados.

Esse contexto, marcado não exclusivamente em território brasileiro, trouxe uma série de problemas sociais. Congestionamento, poluição sonora, emissão excessiva de gases poluentes entre outros impactos negativos totalmente contrários a nova concepção de cidades mais sustentáveis prevalecem na concretude cinzenta dos grandes centros urbanos.

Para driblar essa circunstância, algumas cidades buscam pelos transportes sustentáveis, sendo a bicicleta uma das mais eficientes respostas no combate a uma sociedade altamente dependente de veículos exclusivamente motorizados (PUCHER&BUEHLER, 2007).

3

BRASIL, Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Política Nacional de Transportes. Disponível em: <http://www.transportes.gov.br/images/2018/documentos/livro_de_estado_versao_1.0.pdf>. Acesso em: <abr. 2018>.

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1.3 Bicicleta: pedalando pela sustentabilidade

Além de acessível a diferentes tipos de perfis com idades e variados níveis socioeconômicos, a bicicleta é um meio de transporte que não produz ruídos, ameniza os impactos negativos no meio ambiente causado por veículos motorizados – além de apresentar-se como solução àqueles relacionados ao trânsito, não emite gases poluentes e, na questão de planejamento urbano, exige um investimento em infraestrutura muito baixo se comparado a outros modais.

Bastos e Silva (2006) apontam que a bicicleta, além dos benefícios físico-psicológicos pessoais, como expectativa de vida maior, também oferece benefícios gerais e que afetam as futuras gerações, como um espaço mais democrático – com redução da emissão de gases poluidores, redução dos impactos gerados pelos veículos automotores e consequente economia das verbas destinadas ao reparo desses problemas, entre outros pontos que favorecem e colocam a bicicleta como um meio de transporte essencial para o planejamento do turismo sustentável e como alternativa de mobilidade urbana nas cidades.

Em relação ao dueto bicicleta e ser sustentável, esclarece Carli (2012):

Pode-se dizer que a preocupação crescente com a sustentabilidade e com o meio ambiente gera diversas discussões acerca das maneiras de viver que não sejam tão agressivas para o meio em que se vive, e a mobilidade pela bicicleta é uma delas. Pelo outro lado, andar de bike está na moda, é cool, é estar antenado nas tendências (CARLI, 2012, p. 5).

Múltiplos outros benefícios podem ser elencados em relação ao uso da bicicleta e a melhoria na qualidade de vida da cidade ao incentivá-la. Milheiro (2016) sintetiza os benefícios da bicicleta para a sociedade, economia, ambiente e saúde, de forma que a bicicleta se torna um meio de transporte ideal a ser incentivado no planejamento para o turismo sustentável na realidade brasileira.

Diversos destinos turísticos nacionais e internacionais já se apropriaram do conceito bicicleta. No capítulo dois, a seguir, apresentam-se as apropriações e usos da bicicleta nas cidades brasileiras e, com mais ênfase, o uso na atividade turística.

(22)

CAPÍTULO 2: O USO DA BICICLETA COMO ESPORTE, LAZER E MEIO DE TRANSPORTE

A bicicleta foi, no século passado, vista principalmente como um meio de transporte destinado aos trabalhadores. O primeiro projeto de bicicleta nasce em 1817, conhecido como “máquina de andar” (FIGURA 2), do Barão Alemão Karl Orais Von Samerbronn. Desde o século XIX, mudanças significativas ocorreram tanto em sua estrutura quanto em seus usos (ROLDAN, 2000, p.17), tornando-se como é nos dias atuais.

FIGURA 2. THE WALKING MACHINE

Fonte: Evolution of the Bicycle in History4

Neste capítulo, para compreensão sobre o movimento bike-friendly, é apresentado quais relações existentes entre a bicicleta e o espaço onde é inserida.

Para tanto, seguindo a metodologia proposta por Roldan (2000), o trabalho adotará como referência o ciclismo como quaisquer atividades que envolvam o uso da bicicleta. Assim, encontra-se:

 Lazer  Esporte  Transporte

4

Timeline Evolution of the Bicycle. Disponível em: <https://www.timetoast.com/timelines/evolution-of-the-bicycle>. Acesso em:<abr. 2018>.

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Os próximos tópicos do capítulo se dedicam a um aprofundamento sobre cada uso da bicicleta e suas particularidades quando usadas em lazer.

2.1 O uso da bicicleta como Transporte

O uso da bicicleta como meio de transporte, historicamente, é uma construção social antiga, que ainda influencia nos dias atuais com o estereótipo de um ciclista urbano. Principalmente no contexto europeu – marcadamente a era da Revolução Industrial – considerando a distância existente entre os polos indústrias dos centros urbanos, diversos trabalhadores de baixa renda se apropriavam da bicicleta para o deslocamento entre casa e trabalho, encurtando tempo de deslocamento. O veículo motorizado, então, apresentava alto custo, acessível a uma pequena parcela abastada da população. Transporte de baixo custo e impacto ambiental, a cultura de seu uso só não é maior nesta modalidade devido o padrão automotivo imposto nos dias atuais (ROLDAN, 2000, p. 17).

O incentivo à utilização da bicicleta como modo de transporte resulta em diversos aspectos positivos não apenas para o indivíduo, bem como para a coletividade. A maior qualidade da vida urbana, reflexo da diminuição das taxas de ozono e de monóxido de carbono, bem como maior sentimento de segurança nas ruas, menos poluição sonora, é apenas parte dos benefícios (SILVA, 2016, p.02).

Pesquisas na área médica mostram, ainda, que o uso da bicicleta com regularidade influencia diretamente na saúde de quem pedala. Estudos publicados pela New England Journal of Medicine apontam que aqueles que pedalam até 100 quilômetros semanalmente desde a idade madura dos 35 anos vivem até mais dois anos e meio (PAFFENBARGER apud SILVA, 2016).

Quais razões, então, se apresentam como empecilho no uso da bicicleta como meio de transporte? Em seus estudos, Silva (2016, p. 02) aponta que

uma das principais razões que contribui para a não utilização da bicicleta resulta da sensação de insegurança oferecida pela estrutura, nomeadamente no que concerne a ausência de uma infra-estrutura própria ou a falta da adopção de técnicas de acalmia de tráfego que promovam a compatibilização da utilização dos espaços urbanos pelos diferentes utilizadores.

(24)

Mesmo com a legislação favorável e a divulgação constante dos benefícios da bicicleta, implantar culturalmente o seu uso como transporte nos espaços urbanos ainda recebe influencias subjetivas – como aceitação social, a bicicleta reconhecida como meio de transporte para adultos, sentimento de insegurança – bem como os fatores objetivos, como velocidade, conforto, clima, relevo, entre outros (SILVA, 2016).

Segundo dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP, 2017) entre os anos 2004 e 2014, o número de viagens no Brasil em bicicleta praticamente dobrou, chegando a 4% de pessoas – do total de 40% que não utilizam veículos motorizados (caminhada ou bicicleta). A ONG Mobilize (2018) divulgou também que a malha cicloviária nas principais capitais brasileiras já passam os três mil quilômetros, e representa um crescimento, nos últimos quatro anos, de 133% (GRÁFICO 1). O destaque é Rio Branco, capital acreana, com a maior proporção de vias destinadas a bicicleta em relação à malha viária total (no valor de 13,4%) e ao número de habitantes.

GRÁFICO 1. CRESCIMENTO DE CICLOVIAS NO BRASIL

Fonte: adaptado de Mobilize (2018)5

5

Estatísticas Pesquisa GloboNews em Movimento. Disponível em: <http://www.mobilize.org.br/midias/estatisticas/crescimento-de-ciclovias-no-brasil-20142018.pdf>. Acesso em: <out. 2018>

(25)

Para aumentar o uso de bicicletas nas ruas, pesquisas de Silva (2016) resumem cinco princípios fundamentais (TABELA 3) para criação das redes cicloviárias. Os princípios, é valido afirmar, não são, por si, uma garantia de um maior fluxo de ciclistas, mas estão diretamente relacionados ao aumento do uso da bicicleta. São eles:

TABELA 3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Princípios Estratégicos de Dimensionamento

Coerência e acessibilidade Garantir uma infraestrutura lógica ao ciclista, com os principais pontos de origem e destino interligados em rede. Minimização da extensão

dos percursos

Garantir estruturas com distâncias menores entre pontos de origem e destino, evitando estender trajetos – o que aumenta a promoção da bicicleta.

Continuidade Evitar dentro do possível que a rede cicloviária seja interrompida. Quando necessário, que ocorra em espaços seguros e prazerosos ao ciclista.

Atratividade e conforto Oferecer na rede ao ciclista um espaço aprazível, com maior sentimento de segurança, circulação pouco interrompida por outros veículos, iluminação artificial e variações geométricas acentuadas.

Segurança Garantir segurança de circulação (controle de velocidade) e também segurança pessoal ao ciclista.

Fonte: adaptado de SILVA (2016)6

Para finalizar, Roldan (2000) advoga que “[...] não existe melhor solução que o uso maciço de bicicletas em ciclovias. É mais barato, não produz nenhum tipo de

6

Resultado da pesquisa “A Bicicleta como Modo de Transporte Sustentável”, desenvolvida por Silva (2016) no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra, Portugal.

(26)

poluição, ocupa menos espaço, não cria congestionamentos, além de simplesmente ser melhor para a saúde humana”.

2.2 O uso da bicicleta como Esporte

O ciclismo enquanto modalidade esportiva apresenta uma série de categorias (TABELA 4). Cada categoria criada e aceita pela UCI apresenta características singulares, que a tornam uma modalidade específica do esporte. Como o foco desta pesquisa não envolve diretamente a prática competitiva do esporte, não será aprofundada a definição de cada modalidade.

De acordo com a UCI (União Ciclística Internacional), o órgão máximo representativo do ciclismo, atualmente existem oito modalidades cadastradas, a saber:

TABELA 4. CATEGORIAS ESPORTIVAS DO CICLISMO

Modalidades do ciclismo

Ciclismo de Estrada BMX

Ciclismo de Ginásios Ciclismo de Pista

Ciclismo de Obstáculos (Bike Trial) Cyclo Cross

Ciclismo de Ultradistância Ciclismo de Montanha

Fonte: Adaptado de Union Cycliste Internationale (UCI)7

No dizer do uso da bicicleta como esporte, é válido esclarecer que para o turismo a atividade gera eventos esportivos de grande impacto. Uma diversidade de eventos ciclísticos ao redor do mundo atrai turistas e competidores interessados não apenas na atividade esportiva, bem como em visitar o local onde a prova ocorre.

Para compreensão do tema, o Ministério do Turismo define nos manuais de segmentação do setor o Turismo de Esportes como “[...] as atividades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observação de modalidades esportivas” (BRASIL, Ministério do Turismo, 2009, p.23). Os subitens abaixo apresentam quais são os principais eventos de ciclismo no Brasil e no mundo, para assim ilustrar o turismo de esportes voltado ao ciclismo.

7

UCI – Organização máxima de representação do ciclismo, fundada desde 1900 e localizada em Aigle, Suíça. Disponível em:< https://www.uci.org>. Acesso em:<abr. 2018>

(27)

2.2.1 Principais eventos de ciclismo no mundo

O ciclismo, há décadas, se consolidou como prática esportiva de destaque em diversas regiões do mundo. Com esse contexto de crescimento e notoriedade da modalidade, uma diversidade de eventos competitivos de ciclismo – e mesmo não competitivos, ocorrem em países europeus, onde a bicicleta é culturalmente marcante, até os países que aos poucos se destacam no esporte pelas condições geográficas, como Brasil, Argentina, Costa Rica, entre outros.

De acordo com a revista online Ride Bike (2018) e a Revista Bicicleta (2018), entre os principais eventos, cita-se: Tour de France, Brasil Ride, La Ruta de los Conquistadores, Giro d’Italia e Race Across America. Outros diversos eventos (A Ultramaratona Trans Pyr – Espanha, Costa da Serra Mountain Bike – Brasil, Divide Tour – Canadá) igualmente ganham destaque a cada ano, produzindo e incentivando

novas atividades ciclísticas.

 Tour de France

Competição organizada anualmente em Paris, o Tour de France existe como modalidade esportiva desde 1903, uma prova pelas fronteiras da França – se tornando a principal prova de ciclismo do mundo (GUIDE HISTORIQUE, 2018, p. 03) e também uma das mais prestigiadas entre os ciclistas profissionais. Desde sua primeira edição até os dias atuais, a prova passou por modificações diversas, e hoje é uma prova de resistência com aproximadamente 3.500 quilômetros (FIGURA 3).

O site oficial do evento (https://www.letour.fr) oferece múltiplas informações (disponíveis em francês, inglês, alemão e espanhol), como ranking e tempo desde o primeiro evento, vídeos e fotos, além de um e-book gratuito com informações gerais sobre a história do Tour de France e os principais resultados desde 1903, quando em sua primeira edição.

As categorias atuais do evento são: Individual, Points, Climber, Youth, Combative e Team. O percurso total é dividido em 21 etapas por toda a quilometragem (GUIDE HISTORIQUE, 2018). Por todo o trajeto do evento, a demanda por serviços turísticos aumenta – principalmente por hospedagem e alimentação. Sites e blogs comerciais, como o Free Wheeling France (https://www.freewheelingfrance.com)

(28)

conhecendo a grandiosidade do evento e cientes da necessidade de informações concisas para os turistas advindos do Le Tour, divulgam e comercializam os serviços na região, tanto para os competidores quanto para aqueles que prestigiam o evento.

FIGURA 3. ROUTE LE TOUR DE FRANCE

Fonte: Parcours 2018, Le Tour (2018)8

 Brasil Ride

Principal ultramaratona de mountain bike das Américas, considerada uma das competições mais difíceis do mundo pela altimetria e região onde ocorre, a Brasil Ride é consagrada desde sua primeira edição em 2007 (BRASIL RIDE, 2016).

Prova organizada também em fases, como o Tour de France, na sua última edição (2018) reuniu competidores de mais de vinte nacionalidades distintas. Na edição em questão, os competidores percorreram uma distância 600 quilômetros ao todo, com uma altimetria de 13000 metros.

8

Mapa do percurso total em 2018 no Tour de France. Disponível em:<https://www.letour.fr/en/>. Acesso em:<mai. 2018>

(29)

A disputa é organizada em equipes, que concorrem em sete distintas categorias, a saber: feminino, grandmaster, mista, open, nelore, máster e corporativa (BRASIL RIDE, 2018).

Considerando a necessidade de serviços como alimentação, cuidados médicos, serviços mecânicos e outros próprios do evento e da modalidade, o Brasil Ride fechou o evento para 500 vagas limitadas – maneira encontrada para garantir maior segurança aos envolvidos e qualidade do evento.

 La Ruta de los Conquistadores

Evento de ciclismo organizado na Costa Rica, a história começa em 1993, com o ciclista e aventureiro Román Urbina. Conhecendo sobre a expedição de três conquistadores espanhóis – Juan de Cavallón, Perafán de Rivera e Juan Vázquez de Coronado – resolveu seguir o mesmo trajeto ao lado de outros 17 esportistas. Juntos, cruzaram o continente americano da costa Pacífica até a costa do Atlântico (LA RUTA DE LOS CONQUISTADORES, 2016).

A dimensão do evento cresce com os anos, atraindo ciclistas renomados no esporte a participarem da competição. Divulgado em redes sociais e canais televisivos, a Ruta de los Conquistadores é, para muitos, uma viagem de autoconhecimento e determinação (LA RUTA DE LOS CONQUISTADORES, 2016). Apresenta nível elevado de dificuldade, o que impede ciclistas amadores de percorrerem o trajeto.

A cada ano as etapas são organizadas de diferentes formas, em três dias distintos. No site oficial do evento (https://www.larutadelosconquistadores.org) é possível encontrar todos os trajetos das últimas edições, bem como um e-book explicativo sobre o evento, participações dos últimos anos e informes gerais.

 Giro d’Italia

Com duração de três semanas, o Giro d’Italia, junto ao Tour de France, se consolidam como os principais e mais divulgados eventos de ciclismo do mundo, contando com a participação dos principais nomes de ciclistas em suas competições. Historicamente, o evento ocorreu pela primeira vez em 1909, na cidade de Milão – em

(30)

oito etapas que alcançaram mais de 2.000 percorridos pelos competidores (LA GAZETTA DELLO SPORT, 2014).

Para simbolizar os vencedores de cada categoria, cores distintas foram selecionadas (FIGURA 4), sendo o rosa a classificação mais desejada. Para o nicho de ciclistas, a cor rosa se tornou marca registrada do Giro d’Italia.

FIGURA 4. LOS MAILLOTS OFICIALES

Fonte: Los maillots oficiales Giro d’Italia9

Os organizadores do evento, considerando ser a Itália um dos destinos turísticos mais visitados do mundo, perceberam a grande demanda de serviços por parte de competidores e visitantes. Na página oficial do evento

(

http://www.giroditalia.it, disponível em italiano, inglês e espanhol) encontram-se informações específicas para atendimento ao turista, tanto na coluna Giro d’Italia Hospitality, própria para informações de apoio ao visitante, como na coluna Tour Operator, que oferecem serviços distintos (FIGURA 5) para os participantes e envolvidos, como pacotes com alimentação, hospedagem e visita a atrativos turísticos já inclusos, tanto na cidade de largada como nos outros pontos do percurso onde a prova é realizada.

9

As quatro classificações e cores das categorias do Giro d’Italia. Disponível em:<http://www.giroditalia.it>. Acesso em: <mai. 2018>

(31)

FIGURA 5. PACOTES TURÍSTICOS GIRO D’ITALIA

Fonte: La Gazzetta dello Sport10

 Race Across America

O RAAM, evento norte-americano considerado como um dos mais longos percursos ciclísticos em seus mais de 8000 quilômetros totais, percorrendo doze estados (FIGURA 6) acontece anualmente no mês de junho, desde a costa oeste até a costa leste dos Estados Unidos. Sua origem data de 1982, quando quatro ciclistas se uniram para pedalar desde Los Angeles até a cidade de New York, sem caráter competitivo, mas sim de testar os próprios limites no ciclismo (RACE ACROSS AMERICA, 2018).

A cada nova edição do RAAM, pessoas de distintos lugares se reúnem para a competição, não sendo obrigatório ser esportista profissional para participar, considerando ser uma prova que exige maior resistência e não destreza técnica, como se acha entre os competidores do Brasil Ride ou La Ruta de los Conquistadores.

Os organizadores apontam que a cada novo evento, mais pessoas passam a acompanhar o evento, como prova o número de visualizações em suas páginas oficiais –

10

Serviços turísticos comercializados durante o evento Giro d’Italia. Disponível em: <http://www.giroditalia.it>. Acesso em: <mai. 2018>

(32)

na última edição totalizando mais de 250 mil artigos publicados pela mídia, de acordo com informações oficiais do site (MEDIA EXPOSURE, 2018).

FIGURA 6. LIVE TRACKING

Fonte: adaptado de Race Across America11

Visto a relação entre turismo e os principais usos da bicicleta no esporte, Roldan (2000) aponta, ainda, sobre o uso da bicicleta em seu caráter não competitivo – fora dos moldes do uso da bicicleta como esporte de competição. Tal modalidade, contudo, é vista principalmente em países norte-americanos e no continente europeu, sem eventos expressivos ou divulgados no Brasil.

Dos usos em seu caráter não competitivo, não existe uma divisão padrão nem definitiva em relação às modalidades não competitivas fora do esporte; adota-se para esse trabalho a mesma divisão apresentada pelo autor em sua pesquisa, que subdividiu o uso da bicicleta como lazer em: ciclismo de longa distância, ciclismo recreativo e cicloturismo (ROLDAN, 2000, p. 18), apresentados no tópico a seguir.

11

Percurso total da prova RAAM, divulgado ao vivo nas redes oficiais do evento. Disponível em: <http://www.raceacrossamerica.org/>. Acesso em:<mai. 2018>

(33)

2.3 O uso da bicicleta como Lazer

Desde a infância, a bicicleta é vista como uma possiblidade de usufruir momentos de lazer e recreação, seja esse momento individualmente ou em coletivos. Em curtas ou longas distâncias, dentro de destinos turísticos, de um atrativo a outro, ou em passeio em ciclovias para observar a paisagem: a faceta do lazer que pode-se encontrar no uso da bicicleta é múltiplo e variável, cada dia mais explorado e divulgado entre os adeptos e amantes do ciclismo, seja amador ou profissional.

Seguindo a metodologia proposta por Roldan (2000), apresenta-se o uso da bicicleta como lazer em três categorias, marcadas por singularidades que, por vezes, são similares entre si (ROLDAN, 2000, p. 18). Entender o uso da bicicleta nas três categorias é essencial para estabelecer uma relação entre o fenômeno turístico, o movimento bike-friendly e atual conjuntura de inserção da bicicleta nas cidades.

2.3.1 Ciclismo de longa distância

A modalidade de longa distância se caracteriza por uma atividade sem as particularidades do turismo, com principal objetivo percorrer uma grande distância independente do tempo que o ciclista leve para cumprir esse objetivo – o que a torna diferente do uso da bicicleta na categoria esportiva.

Visto principalmente em eventos praticados na Europa e América do Norte (ROLDAN, 2000, p.19) essas atividades do ciclismo de longa distância geralmente adotam durante sua prática um regulamento – sendo um dos mais famosos o criado pelo Clube Parisiense Audax (ACP- Audax Club Parisien). No regulamento, uma série de medidas é citada para evitar a competição no evento e garantir seu caráter de modalidade não competitiva.

No Brasil, a prática de tais eventos ainda é escassa – geralmente adotam caráter competitivo, se tornando pouco conhecido e apreciado pelo público. Roldan (2000) advoga que existe uma linha tênue que distingue o ciclismo de longa distância do ciclismo recreativo, sendo necessária atenção para distingui-los corretamente durante a pesquisa. Contudo, por ser uma prática consolidada em outros países, é necessário distingui-la do ciclismo recreativo.

(34)

2.3.2 Ciclismo Recreativo

Em aspectos gerais, entende-se que

Para o termo Ciclismo Recreativo consideraremos toda atividade de lazer realizada informalmente e sem planejamento prévio, podendo ser pequenos passeios pelas ruas de casa, ou por um bairro, parque ou área de lazer. Não existindo preocupação com tipo de bicicleta, rendimento., etc. Significa a prática informal, o ato de "dar uma volta" de bicicleta. (ROLDAN, 2000, P. 20)

Ou seja, o ciclismo recreativo – não necessariamente vinculado a um viajante ou turista – é uma categoria ampla, em diversos contextos sociais. Desde um passeio entre amigos no parque do Ibirapuera, em São Paulo, até um adulto pedalando dentro de um condomínio de luxo na área de lazer existente, são exemplos da modalidade.

O autor ressalta e inclui nessa modalidade também algumas das atividades praticadas nos moldes profissionais, mas com objetivos diferentes de outrora. Assim, a exemplo, um casal que despretensiosamente sai pedalar por uma trilha montanhosa se enquadraria em ciclismo recreativo e não ciclismo de montanha (ROLDAN, 2000, p.21).

2.3.3 Cicloturismo

O cicloturismo é uma atividade do ciclismo com definição ainda em construção. Muitos pesquisadores buscaram aclarar a modalidade, mas ainda sem um parâmetro final. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2007) apresenta o cicloturismo como uma atividade turística onde, durante sua prática, a bicicleta terá papel fundamental para realização de um roteiro.

De acordo com o Ministério do Turismo, no Manual de Incentivo e Orientação para Municípios Brasileiros: Circuitos de Cicloturismo (VIACICLO, 2011) ainda, o cicloturismo é uma atividade do segmento Turismo de Aventura, considerando suas características de deslocamento e a forma como o cicloturista interage com o meio ambiente durante sua visitação.

(35)

não tem regras nem definições rígidas, abrangendo desde pequenos

passeios de algumas dezenas de quilômetros até viagens com centenas ou milhares de quilômetros, que levam dias ou meses. Não existe preocupação com rendimento e sim com o turismo e o prazer de viajar pedalando. Qualquer que seja a distância ou duração, o espírito e as emoções são semelhantes: o importante não é o lugar para onde você vai, mas o caminho que você percorre. O maior prazer está no

percurso (ROLDAN, 2000, p. 13)

Diferente do visto no ciclismo recreativo, de acordo com Roldan (2000) o cicloturismo envolve o prazer da viagem, independente de fatores como distancia, tempo ou rendimento do ciclista no pedal.

O Manual de Incentivo e Orientação para os Municípios Brasileiros: Circuitos de Cicloturismo (2011) também acrescenta ser o cicloturismo uma mescla “que articula cinco outras modalidades: o ecoturismo, o turismo rural, o turismo de aventura, o turismo cultural e o gastronômico” (VIACICLO, 2011, p. 12). Aponta também que, diferente de outros perfis de turistas, o cicloturista realiza sua viagem de forma mais aventureira, explorando lugares mais distantes e criando vínculos com as pessoas que conhecem – uma prática mais sustentável.

Outro importante fato do cicloturismo é a pesquisa divulgada pelo Manual de Incentivo e Orientação para os Municípios Brasileiros: de acordo com resultados de mais de 300 cicloturistas brasileiros, mais da metade classifica como fraca a estrutura e serviços oferecidos na comunicação e recepção dos cicloturistas (CIRCUITOS DE CICLOTURISMO, 2014, p. 12). Esse dado aponta um segmento com demanda para investimento, mas com empecilhos para desenvolvê-lo.

Ainda de acordo com a cartilha ofertada pelo ViaCiclo (2011), desenvolver roteiros para atender cicloturistas traz uma série de benefícios (FIGURA 7) para as cidades que os recebem, diferente de outras modalidades praticadas.

(36)

FIGURA 7. EFEITOS POSITIVOS DO CICLOTURISMO

Fonte: Circuitos de Cicloturismo (2011)12

Nicho em expansão, conquistando cada vez mais novos turistas em busca de experiências diferenciadas, o Brasil oferece diversos roteiros, a cada dia mais expandindo lugares e ofertas em destinos inusitados. O subitem Roteiros de bicicleta e pacotes para cicloviajantes descreve exemplos no setor privado de agências e roteiros para atender ao público.

2.3.3.1 Roteiros de bicicleta e pacotes para cicloviajantes

Os roteiros de bicicleta, considerando o público-alvo específico o qual atendem, são criados dentro da lógica de ofertar uma experiência diferenciada aos cicloviajantes. De acordo com o proposto na Elaboração de um circuito de cicloturismo na cartilha de Circuitos de Cicloturismo (2011), um

Circuito de Cicloturismo é uma proposta de roteiro a ser seguido por turistas que usam a bicicleta como meio de locomoção, no qual são instaladas algumas infra-estruturas de apoio. Os ciclistas têm a

12

“Manual de Incentivo e Orientação para Municípios Brasileiros: Circuitos de Cicloturismo, desenvolvido pela Associação dos Ciclousuários de Florianópolis (ViaCiclo) e apresentado pelo governo de Santa Catarina durante o 6º Salão do Turismo – Roteiros do Brasil (2011). Disponível em: <http://ciclo.tur.br/arquivos/Manual-Circuitos-Cicloturismo.pdf>. Acesso em: <out. 2018>.

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liberdade de escolher qualquer caminho, mas sentir-se-ão atraídos por aqueles que oferecerem boas condições e por aqueles reconhecidos e divulgados, seja por outros cicloturistas ou por demais meios (CIRCUITOS DE CICLOTURISMO, 2014, p. 19)

Ainda, para Santos e col. (2015), existe outro aspecto relevante para desenvolver roteiros de cicloturismo: para ocorrer de forma bem-sucedida e prazerosa, é preciso considerar outros aspectos que influenciam na atividade, como a oferta de roteiros, demanda turística e a atual situação do turismo na cidade – principalmente serviços de apoio e infraestrutura para atender as necessidades especiais que demandam os cicloviajantes durante, antes e depois.

Enfatizado esse encadeamento de serviços, muitos cicloturistas e iniciativas privadas divulgam na internet roteiros e passeios possíveis de realizar com a bicicleta, como visto no site BiciMap (FIGURA 8) – disponível em espanhol e francês. É possível encontrar no blog experiência de outros cicloviajantes, quem desenvolveu o roteiro, custo total da viagem, entre outros aspectos relevantes.

FIGURA 8. PRINTSCREEN BICIMAP

Fonte: Rutas para viajar en bici por Europa, BiciMap13

13

BiciMap, criado em 2010, na Espanha, é uma agência online especializada em roteiros específicos para cicloturismo. Disponível em: < https://guiasbicimap.com/es/donde-vamos/rutas-para-viajar-en-bici-por-europa>. Acesso em: <out. 2018>.

(38)

No Brasil, é possível encontrar um vasto material online – ainda que amplo, apresenta informações muitas vezes incompletas, como falta de mapas informativos, pontos de parada ou quilometragem total – de diferentes circuitos e rotas, como Circuito do Vale Europeu (Santa Catarina), Caminho da Fé (São Paulo), Vale dos Vinhedos (Rio Grande do Sul), Chapada Diamantina (Bahia), Serra da Canastra (Minas Gerais) e Circuito Costa Verde e Mar (Santa Catarina). Em seguida, uma apresentação mais detalhada do primeiro Circuito consolidado em território brasileiro descortina elementos que compõe um circuito cicloturistico.

 Circuito do Vale Europeu

O circuito do Vale Europeu, formado numa totalidade de nove municípios brasileiros (Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Doutor Pedrinho, Indaial, Pomerode, Rio dos Cedros, Rodeio e Timbó) é demarcado, principalmente, pelas paisagens naturais e a cultura remanescente da colonização europeia na região. Primeiro roteiro no país pensado para a bicicleta, o circuito é usado como referência para outros municípios que planejam desenvolver próprios circuitos para atender ao cicloturista.

O site oficial (http://circuitovaleeuropeu.com.br/) desenvolvido desde 2016 como parceria entre a Secretaria de Turismo e o Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí (CIMVI) disponibiliza quatro eixos fundamentais de informações: Roteiros, Restaurantes, Hospedagem e Operadores. É possível acessar o site tanto por aparelho móvel quanto por navegação padrão, disponível apenas em língua portuguesa.

O cicloviajante pode optar quais atrativos incluir ou não nos dias de passeio, de acordo com preferências próprias e tempo disponível. Contudo, recomenda-se percorrê-lo durante sete dias, sendo possível encontrar a rota do circuito em formatos compatíveis com aplicativos de celular de georreferenciamento (Strava, Google Maps, Wikiloc entre outros aplicativos usados para a atividade).

Informa-se também no site, considerando todos os dados como altimetria total do trajeto, mapa, nível de dificuldade, que é possível autoguiar-se pelos 300 quilômetros que formam o percurso total. Todos os roteiros estão devidamente sinalizados para atender o cicloturista (FIGURA 8), o que torna o passeio menos desgastante e diminui o risco do turista perder-se ou pedalar além do previsto. Para incentivar os cicloviajantes, o percurso também oferece um “passaporte”. Em cada cidade e estabelecimento

(39)

integrante do Circuito, é possível receber um “carimbo” no passaporte. No final do trajeto, oferecem um certificado de conclusão do Circuito do Vale Europeu.

FIGURA 8. FOTO DE INDICAÇÕES DO CAMINHO

Fonte: Circuito vale Europeu14

2.3.3.2 Tendências para a bike: cicloturismo de luxo

Uma das principais tendências apresentadas por empresas para o segmento é o cicloturismo de luxo. Para esse perfil de viajante, os locais de parada, os restaurantes e os hotéis disfrutam de serviço diferenciado e exclusivo, algo atingível apenas por uma pequena parcela dos turistas (MANGORRINHA, 2012).

Pioneiros em viagens de cicloturismo de luxo, a empresa canadense Butterfield e Robinson oferece pacotes nos Estados Unidos, Europa, Ásia, África e América Latina. Serviços de alta qualidade, hotéis luxuosos e experiências singulares para tornar o cicloturismo o mais autêntico possível garantiu a empresa o prêmio World’s Best Tour Operator, da revista Travel + Leisure, tanto em 2018 e no ano anterior, 2017 (DUVINE, 2018).

No Brasil, a empresa que ganhou destaque foi a Bike Expedition, especializada em roteiros de charme. Localizada na capital de São Paulo, os roteiros guiados

14

O Circuito do Vale Europeu apresenta, além da sinalização própria para autoguiar-se, empreendimentos bike-friendly, tornando-o exemplo de parceria entre setor privado e iniciativa pública. Disponível em: < http://cicloturismo.circuitovaleeuropeu.com.br >. Acesso em: <abr. 2018>

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oferecidos são desde África até o Oriente Médio. O preço médio de um pacote, sem passagem área inclusa, é de 20 mil reais (BLOG BIKE EXPEDITION, 2018). Também há oferta de roteiros não guiados em três países europeus: França, Portugal e Alemanha.

Em cada roteiro (FIGURA 9), encontram-se disponível também o nível de dificuldade e o tempo para percorrê-lo.

FIGURA 9. ROTEIROS GUIADOS BIKE EXPEDITION

Fonte: Roteiros Bike Expedition15

Sintetizado os três principais usos da bicicleta, o terceiro capítulo apresenta o movimento bike-friendly, nascido dessas múltiplas relações entre o homem, espaço e a bicicleta. Conceito em constante transformação de significado, o que torna um destino turístico amigo da bicicleta?

15

A empresa brasileira Bike Expedition, atualmente, se especializou no segmento de cicloturismo de luxo, oferecendo roteiros de charme em diversos destinos nacionais e internacionais. Disponível em:<https://bikeexpedition.com.br>. Acesso em:<out. 2018>

(41)

CAPÍTULO 3: MOVIMENTO BIKE-FRIENDLY

O passar dos anos e as novas configurações do espaço urbano trouxeram novas dimensões da terminologia bike-friendly. O senso comum de uma cidade bike-friendly é diretamente associado às estruturas cicloviárias existentes em uma cidade. Mas inserir tais estruturas no planejamento urbano resulta em apenas uma camada formadora do movimento bike-friendly. Podemos compreender que “uma cidade bike-friendly tem o encalmamento do tráfego, ruas tranquilas, uma arquitetura urbana que favoreça o deslocamento a pé e infraestruturas de estacionamento adequadas – fáceis, acessíveis e gratuitas” (CAVALCANTE, 2018, p. 03).

Ainda, de acordo com a mesma, não existe no Brasil ou no exterior um conceito único estabelecido para definir o que é uma cidade bike-friendly. Contudo, muitas instituições estão criando seus próprios parâmetros para alcançar essa definição, visando principalmente o incentivo ao movimento, para que cada dia mais cidades busquem tornarem-se bike-friendly. Não obstante, com o objetivo de entendermos melhor as características desse conceito, demonstram-se no capítulo três iniciativas e seus respectivos indicadores de avaliação do movimento bike-friendly: Bicycle Friendly Community, Copenhagenize Design Co. e a brasileira RAMC – Ranking das Administrações Municipais Cicloamigas.

3.1 Indicadores bike-friendly

A seleção das iniciativas não pretende ser definitiva ou única, mas sim busca a compreensão das interfaces do ciclismo e relacioná-las com as cidades que receberam o título de bike-friendly. As instituições são:

3.1.1 Bicycle Friendly Community

O Programa conhecido como Bicycle Friendly Community Award (BFC), nos Estados Unidos da América, é uma forma de apoio às comunidades que incentivam o uso da bicicleta e aderem ao movimento bike-friendly. Por meio de assistência técnica, incentivos e premiação, o programa de apoio a comunidades que usam a bicicleta nasceu em 1995. Foi criado junto ao Share the Road Cycling Coalition, no Canadá, e

(42)

com parcerias com a Liga Americana de ciclistas e a Associação Canadense de Automóveis (LEAGUE OF AMERICAN WHEELMEN, 2000).

Para receber premiação pela BFC, as comunidades se inscrevem virtualmente e são julgadas de acordo com cinco indicadores pré-estabelecidos ( FIGURA 10), e de interesse para a pesquisa em questão. São eles:

FIGURA 10. CRITÉRIOS BFC

Fonte: adaptado de Bicycle Friendly Community program16

Engenharia (engineering) – são as infraestruturas e equipamentos disponíveis para oferecer apoio ao desenvolvimento do ciclismo.

Educação (Education) – avaliação dos programas existentes de conscientização em busca da segurança, qualidade e convivência harmônica dos ciclistas com outros veículos que possam trafegar nas estradas.

Incentivo (Encouragement) – quais práticas a comunidade apresenta, em forma de promoções, incentivos e novas oportunidades, para inspirar novas pessoas e aqueles que já pedalam a usarem a bicicleta.

Execução (Enforcement) – quais as leis e programas existentes que assegurem os mesmos direitos tanto aos ciclistas quanto aos motoristas.

Avaliação e planejamento (Evaluation & Planning) – os processos existentes na comunidade em prol de avaliar os resultados e o planejamento para o futuro.

16

O programa BFC oferece um mapa com instruções para guiar os municípios sobre quais diretrizes seguir para receber a premiação. Disponível em:< https://bikeleague.org/community>. Acesso em:<abr. 2018> Engineering Evaluation & Planning Enforcement Encouragement Education

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