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VIVENCIANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA: CONCEPÇÃO DOS/DAS ACADÊMICOS/AS

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VIVENCIANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA: CONCEPÇÃO DOS/DAS ACADÊMICOS/AS

Juliana Cristina Silva

Graduada em Educação Física/Universidade Federal de Uberlândia E-mail: juliana.silva@ufu.br

Dra. Solange Rodovalho Lima

Professora Associada da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia

E-mail: rodovalho@ufu.br Ms. Leandro Rezende

Professor do Colégio de Aplicação da Escola/Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia

E-mail: Leandro.eseba@ufu.br

Eixo temático Educação Física e Esportes Adaptados

RESUMO

A pesquisa de campo de caráter descritivo analisou a concepção de acadêmicos/as sobre o impacto da vivência no ensino da Educação Física com alunos/as com deficiência, no projeto de bolsa de graduação, na Eseba/UFU, na sua formação inicial. Especificamente, determinaram-se: Identificar as principais contribuições do projeto para a formação inicial dos/das acadêmicos/as; avaliar quais os saberes adquiridos pelos/as acadêmicos/as durante projeto; verificar as principais dificuldades dos acadêmicos nas experiências de ensino vivenciadas junto aos/às alunos/as com deficiência;

verificar se os/as acadêmicos/as consideram-se preparados/as para trabalhar com alunos/as com deficiência na Educação Básica; Participaram sete ex- bolsistas do referido projeto que responderam a uma entrevista semiestruturada. Os resultados apontaram que se por um lado, os/as acadêmicos/as aprenderam a lidar com alunos/as com deficiência, a elaborar planejamento e formular estratégias de ensino, por outro, tiveram dificuldade com a inclusão nas aulas regulares, pois nelas ainda são desenvolvidas as mesmas atividades, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, desconsiderando as especificidades e necessidades dos/das alunos/as. Mesmo assim, a participação no projeto contribuiu para prepararem-se para trabalhar na escola comum com alunos/as com deficiência. Conclui-se que a vivência no projeto colaborou para a formação inicial dos/das acadêmicos/as do curso de Graduação em Educação Física.

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PALAVRAS-CHAVE: Formação inicial; inclusão escolar; educação física escolar.

1. INTRODUÇÃO

O direito à educação das pessoas com deficiência vem sendo mundialmente defendido e mudanças têm sido adotadas para garantir seu acesso, permanência e sucesso na escola comum. Nesse contexto, torna-se muito relevante a preparação dos/das educadores/as para aprimorar seus conhecimentos para desenvolver práticas pedagógicas de acordo com a necessidade de cada aluno/a e destaca-se o papel das universidades nessa formação, especialmente na formação inicial dos/das profissionais.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994) a preparação apropriada de educadores constitui-se um fator chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas. Independente das diferenças individuais, a educação é direito de todos, e o ensino deve ser diversificado e realizado num espaço comum a todas as crianças. Esse documento influenciou vários Países na elaboração de políticas públicas para beneficiar e garantir os direitos das pessoas com deficiência, incluindo as questões educacionais. O Brasil foi uma das nações signatárias dessa declaração.

Outras manifestações de preocupação do poder público brasileiro em promover a educação dos excluídos foi no artigo n 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). Nele entende-se por educação especial, “modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Garante-se quando houver necessidade essas pessoas terão serviços de apoio especializado e em casos específicos em que não for possível a inclusão do indivíduo o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados (BRASIL, 1996). De acordo com a Lei, a Educação Especial é um dever constitucional do Estado a partir da educação infantil, na faixa etária de zero a seis anos.

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Outro documento que preconiza a formação de professores/as e demais profissionais da educação, para a inclusão escolar é a “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, cujo objetivo é o de assegurar a inclusão escolar do Público Alvo da Educação Especial, garantindo o acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino e oferta do atendimento educacional especializado (BRASIL, 2008).

Em relação à formação de professores/as de Educação Física para essa área, algumas pesquisas realizadas referem-se ao despreparo desse/a profissional. Gonçalves (2002) explicitou que há lacunas na formação de professores no âmbito do ensino superior.

Vieira e Lima (2011) em estudo documental analisaram a formação inicial no curso de graduação em Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia para atuar com alunos/as com deficiência na educação básica.

Constataram que o desenvolvimento dos conteúdos preconizados nos documentos não contribui para que o/a acadêmico/a se sinta orientado/a e seguro/a para trabalhar com alunos/as com deficiência na Educação Física Escolar.

Fiorinie e Manzini (2014) pesquisaram as dificuldades encontradas por professores/as de Educação Física que atuavam em Escola Municipal em um município do interior do estado de São Paulo e constataram que elas se referiam tanto à formação acadêmica quanto à formação continuada.

Borba (2014) também afirma que falta preparo durante a graduação, com lacunas que geram dificuldades para o desenvolvimento de estratégias de ensino que atendam, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, o/a aluno/a com deficiência e o restante da turma sem deficiência.

Diante do que tem sido constatado nas pesquisas que apontam despreparo do/a professor/a para o trabalho com o/a aluno/a com deficiência na Educação Física Escolar, é comum haver no cotidiano das instituições escolares, queixas de profissionais, com destaque à presença de várias dificuldades no processo de ensino e aprendizagem dos/as alunos/as com deficiência, o que reflete a necessidade de uma formação inicial e continuada

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que assegure elementos para o exercício de uma prática pedagógica no sentido de se garantir a inclusão escolar.

Dessa forma, evidencia-se a importância dos cursos de graduação em Educação Física orientar e preparar os/as futuros/as professores/as para atuar na educação inclusiva.

Buscando minimizar essas lacunas, desde o ano de 2013 vem sendo desenvolvido, no Colégio de Aplicação da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia (CAp/Eseba/UFU) um projeto de ensino de graduação que insere o/a acadêmico/a do Curso de Educação Física na realidade da Educação Básica. O projeto tem o intuito de complementar a formação inicial de modo a capacitar o/a acadêmico/a para a prática pedagógica com alunos/as com deficiência, bem como auxiliar os/as professores/as do CAp/Eseba/UFU na elaboração e aplicação de estratégias de ensino que facilitem a participação efetiva do/a aluno/a com deficiência nas aulas. Nele, acadêmicos/as do curso de Graduação em Educação Física, participam como bolsistas.

São objetivos do referido projeto:

1. Propiciar espaço onde os/as acadêmicos/as possam desenvolver junto com os/as professores/as de Educação Física da Eseba/UFU, intervenções pedagógicas que possibilitem melhorias na qualidade da educação oferecida, aprendendo com a interlocução teoria/prática.

2. Fortalecer o diálogo entre as pessoas envolvidas no ensino superior e na Educação Básica.

3. Vivenciar experiências de ensino junto aos/às alunos/as com deficiência da classe comum da Educação Básica.

4. Planejar, aplicar e sistematizar estratégias pedagógicas inovadoras que visem contemplar as diferenças dos/as alunos/as na Escola de Educação Básica e garantir a participação efetiva deles/as nas aulas de Educação Física.

5. Divulgar a produção e os resultados dos estudos e das vivências, compartilhando conhecimento práticas e integrando a pesquisa à dinâmica da Universidade e dos sistemas públicos de Educação Básica.

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6. Pesquisar o impacto da colaboração dos/as bolsistas para inclusão de alunos/as com deficiência nas aulas de Educação Física.

O projeto é anual e sua primeira versão foi desenvolvida no segundo semestre de 2013 e primeiro semestre de 2014. Até 2017, ano de realização desta pesquisa haviam participado dele nove acadêmicos/as do curso de Educação Física da UFU.

No projeto os/as ex-bolsistas acompanham as aulas de Educação Física nas turmas com alunos/as com deficiência. Suas principais funções são: fazer um registro descritivo das ações dos/as alunos/as, em relação aos aspectos afetivos, sociais, cognitivos, comunicativos e motores; registrar as ações pedagógicas dos/das professores/as, que favorecem ou não, a inclusão do/a aluno/a, bem como as atividades mais motivadoras durante as aulas. Tais registros contribuem para minimizar as dificuldades encontradas pelos/as professores/as de Educação Física, responsáveis pelas turmas, pois tornam possível à análise e discussão das ações do ensino-aprendizagem e estratégias que favoreçam o processo de inclusão escolar.

Além disso, os/as bolsistas dialogam e participam de reuniões com os/as referidos/as professores/as e com os/as demais profissionais, que atuam no Atendimento Educacional Especializado (AEE), professores/as regentes, monitores/as e estagiários/as de outras áreas do conhecimento, que acompanham os/as alunos/as com deficiência.

2. OBJETIVOS

A pesquisa teve como objetivo geral analisar a concepção dos/das acadêmicos/as sobre o impacto da vivência no ensino da Educação Física com alunos/as com deficiência, no projeto de bolsa de graduação, na Eseba/UFU, na sua formação inicial.

Os objetivos específicos foram:

 Identificar as principais contribuições do projeto para a formação inicial dos/as acadêmicos/as;

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 avaliar quais os saberes adquiridos pelos/as acadêmicos/as durante o projeto;

 verificar as principais dificuldades dos/as acadêmicos/as nas experiências de ensino vivenciadas junto aos/às alunos/as com deficiência;

 verificar se os/as acadêmicos/as consideram-se preparados/as para trabalhar com alunos/as com deficiência na Educação Básica;

3. MÉTODO

A pesquisa caracteriza-se como estudo de campo de caráter descritivo.

A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar e pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987).

Os participantes foram sete acadêmicos/as do Curso de Educação Física da UFU que atuaram como bolsistas do projeto de acompanhamento de alunos/as com deficiência nas aulas de Educação Física na Educação Básica, entre os anos 2013 e 2016. O critério de inclusão foi o fato de os/as ex- bolsistas terem participado do projeto, por um período mínimo de três meses.

Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se uma entrevista semiestruturada, elaborada pelo/as pesquisador/as, sobre os impactos do projeto na formação inicial dos graduandos em Educação Física.

A entrevista é a técnica de coleta de dados na qual as perguntas são formuladas e respondidas oralmente (ROSA; ARNOLDI, 2006) Trata-se, portanto, de uma conversação organizada, que proporciona as informações solicitadas.

Os/as ex-bolsistas receberam uma carta convite que lhes foi entregue pessoalmente, convidando-os/as para participarem da pesquisa e assinaram o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

As entrevistas foram realizadas individualmente, em local e horário determinado pelo/a participante e duraram em média, 15 minutos. Com autorização deles/delas, os relatos foram gravados em um aplicativo de

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gravador de áudio e posteriormente foram transcritas na íntegra. Os resultados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa.

4. RESULTADOS

Na apresentação dos resultados e para assegurar a identidade dos/das participantes, eles/elas foram denominados bolsistas, seguidos do respectivo número: Bolsista 1 (B1), Bolsista 2 (B2), Bolsista 3 (B3), Bolsista 4 (B4), Bolsista 5 (B5), Bolsista 6 (B6) e Bolsista 7 (B7).

Os resultados foram organizados e estão apresentadas em quatro momentos: 1) Contribuições do projeto para a formação inicial, 2) Saberes adquiridos com a participação no projeto, 3) Principais dificuldades durante as experiências de ensino, vivenciadas junto aos/às alunos/as com deficiência e 4) Opinião sobre a preparação durante o projeto para trabalhar com alunos/as com deficiência.

As contribuições do projeto para a formação inicial

Ao apontar as contribuições da participação no projeto para a formação inicial, os/as bolsistas apontaram dois pontos comuns: 1) antes de participar do projeto, não tinham vivenciado experiências junto com crianças com deficiência no contexto da escola regular e 2) aprenderam a lidar com essas crianças nesse ambiente, como demonstram os relatos:

O que contribuiu foi conhecimento particular, eu não tinha vivenciado experiências com crianças com deficiência, nunca tinha trabalhado com criança com deficiência, só com adulto, e isso contribuiu com que pudesse investigar mais e saber lidar melhor com crianças com deficiência na escola. (B2)

... eu tive uma percepção muito diferente da deficiência principalmente na área de educação, aprendi a lidar com os alunos com deficiência. ...antes não tinha tanta experiência. (B3)

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Acredito que foram muitas contribuições validas, porém a principal foi aprender a trabalhar com alunos com

deficiência nas aulas. Então acredito que tudo foi valido que toda a experiência que eu vivenciei foi muito válida na minha formação. (B6)

O contato com os/as alunos/as com deficiência nas aulas e o aprendizado dos/das ex-bolsistas na forma de lidar com eles, foram considerados como muito importantes, pois eles conseguem perceber como é trabalhar com esses/as alunos/as no ambiente escolar.

Essa vivência na realidade escolar complementa a formação recebida no curso de Educação Física. Poucos currículos de cursos de graduação em Educação Física possuem disciplinas voltadas para a Educação Especial e quando elas existem, visam a trabalhar com o sujeito com deficiência isolado, incentivando apenas a prática e a vivência do esporte adaptado, desconsiderando a necessidade da inclusão na classe comum, como nos aponta autores como Carmo (2006); Rodrigues (2006); Vieira e Lima (2011);

Gutierres Filho et al. (2014).

Segundo Mendes (2015) é necessário uma preparação adequada dos professores para lidar com alunos/as com deficiência buscando melhorar a qualidade da Educação e criando condições para que a inclusão escolar ocorra, especialmente na Educação Básica. Acredita-se que, o primeiro passo para a inclusão seja os professores aprenderem a lidar com esses/as alunos/as com deficiência, como apontam os/as participantes, pois de acordo com o relato deles/as ao participarem do projeto tiveram contato com criança com deficiência no ambiente escolar e aprenderam a lidar com esses/as alunos/as.

Saberes adquiridos com a participação no projeto

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Ao relatarem os saberes adquiridos durante a participação no projeto, todos/as apontam que o planejamento de ensino foi o mais relevante, como exemplificam os relatos a seguir.

Eu aprendi muito a montar um planejamento, adaptar uma aula para criança com deficiência. Aprendi a montar meu plano de aula baseado nisso vendo as deficiências dos alunos. (B2)

... eu aprendi a fazer um planejamento. Aprendi o que era planejamento, como que eu “montava”, o que eram os sequenciadores das aulas. (B3)

A instituição Eseba tem uma estrutura melhor os professores são mais preparados então eles conseguiram nos orientar mais tanto com relação ao planejamento a divisão das aulas eles tem uma divisão bem nítida do que eles vão trabalhar. Aprendi fazer um planejamento de aula e sobre as deficiências dos alunos. Então eles nos preparam, mostram como que é possível trazer a diversidade para a educação física inclusive para alunos com deficiência. (B4)

Os saberes eu acho que fica bem ligado a essa questão do planejamento mesmo porque como lá na Eseba os professores tem muita essa preocupação com a construção do planejamento das estratégias de ensino.

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O planejamento é uma ferramenta indispensável para atingir os objetivos propostos e contribui para que o/a aluno/a compreenda melhor as atividades e que os/as professores/as tenham um acompanhamento das aulas e atividades realizadas. Para Marques (2009) a formação inicial de professores/as deve privilegiar a prática de planejar, tanto no que se refere ao planejamento como também na elaboração do plano, proporcionando assim uma boa base teórico- metodológica. Segundo o autor, deve acontecer dessa maneira para que os/as acadêmicos/as

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Entendam sua importância e aprendam a planejar de forma responsável e organizada a fim de utilizar o planejamento como instrumento de reflexão de suas práticas no sentido de estarem sempre aperfeiçoando suas aulas tentando atingir os objetivos pré-estabelecidos (MARQUES, 2009, p. 06).

Segundo Almeida (2010), a relação do/da professor/a com o planejamento requer respeito e cuidado, visto sua importância para a prática pedagógica, oferecendo condições de maior aprendizagem para a formação do/a aluno/a.

Para Martins e Diesel (2015) utilizar estratégias de ensino pode promover aprendizagens significativas, além de despertar a consciência crítica nos/nas alunos/as, auxiliam também para o desenvolvimento de um ensino de qualidade.

Para os/as ex-bolsistas do projeto, foi importante aprender sobre o planejamento e estratégias de ensino no ambiente escolar, pois lhes proporcionou uma pluralidade de interações e percepções junto aos/às alunos/as.

Principais dificuldades durante as experiências de ensino, vivenciadas junto aos alunos com deficiência

Em relação às principais dificuldades vivenciadas durante as experiências de ensino com os/as alunos/as com deficiência, foram evidenciados pontos comuns, quanto à inclusão do/a aluno/a com deficiência nas aulas, especialmente em relação à forma de lidar com esses/essas estudantes no mesmo espaço e tempo, conforme os relatos a seguir:

Eu acho que a inclusão é a maior dificuldade de todas, porque às vezes tinha um aluno cadeirante e é muito difícil planejar uma aula em que ele pudesse participar da mesma forma que todos. Eu acho que aula para eles sempre vai ser diferente. É muito difícil você incluir um aluno com deficiência na aula, acho que essa parte foi a

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mais difícil. Com relação a dificuldade com o todo, eu acho que é minha maior dificuldade. (B1)

Eu acho que a inclusão do aluno é a mais difícil. É passar o conteúdo para eles de uma forma que eles conseguissem fazer. (B3)

A inclusão foi algo difícil. Tentar incluir o aluno na aula não era uma tarefa muito fácil e minha maior dificuldade foi essa. (B4)

O mais difícil é incluir o aluno com deficiência nas aulas, porque como docente que eu fui o ano passado é o mais difícil por mais que o princípio da inclusão seja esse é muito difícil você conseguir chegar na real inclusão como eles pregam é muito difícil. (B6)

As dificuldades vivenciadas no projeto em relação à inclusão escolar são coerentes com o que afirma Fiorini (2011) em seu trabalho. Segundo ele, alguns professores relataram que existe uma dificuldade para incluir os/as alunos/as com deficiência nas aulas de Educação Física e que é proveniente das lacunas em relação aos conhecimentos adquiridos na formação inicial.

Para Carmo,

[...] enquanto as outras áreas do conhecimento conseguem com pequenos arranjos metodológicos trabalhar com a diversidade humana no mesmo espaço e tempo, a Educação Física somente tem conseguido este feito em espaços e tempos diferentes (CARMO, 2001, p.

106).

Este fato fica evidente na fala de um ex-bolsita quando ele afirma “...

porque às vezes tinha um aluno cadeirante e é muito difícil planejar uma aula em que ele pudesse participar da mesma forma que todos” (B1)

Fica claro que não basta apenas adaptações de materiais, regras e espaço, pois suas necessidades são diferentes e alunos/as com deficiência necessitam de outra forma de organização das aulas que contemple seu tempo

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de aprender e suas dificuldades, rompendo assim como nos diz Carmo (2001) com adequações inadequadas.

A inclusão é um processo em construção e segundo Thoma (2006) para que aconteça é necessário mais estudos, análises, discussões, problematizações sobre o que nos incomoda e porque nos incomoda. Em seu estudo, Borba (2014) constatou a partir da fala dos/das professores/as que apesar da colaboração do Projeto de graduação para minimizar as dificuldades que encontram durante o processo de inclusão escolar, elas ainda existem. Os registros realizados pelos/as bolsistas em relação aos aspectos, cognitivos, socioafetivos, motores dos/das alunos/as com deficiência, bem como os registros das atividades que colaboram ou não com a participação deles nas aulas, contribuíram a inclusão nas turmas regulares.

Preparação durante o projeto para trabalhar com alunos/as com deficiência.

Os/as ex-bolsistas apontaram que após terem participado do projeto se sentirem um pouco preparados/as para trabalharem com alunos/as com deficiência no ambiente escolar, como exemplifica os relatos a seguir.

Me sinto um pouco preparada, mas a gente tem que ver também que a Eseba oferece todo um suporte para a gente trabalhar com essa criança. Tem os monitores e tudo que ajuda muito. Hoje eu trabalharia em uma escola, não teria tanta dificuldade, mas na Eseba é mais fácil. Eu acho que na Eseba dá para trabalhar melhor por causa dos monitores. (B1)

Eu me sinto melhor preparada, mas ainda tem muita coisa para aprender. Instituições, se eu fosse trabalhar, acho que dá maior amparo é a escola. (B3)

Me sinto preparada para trabalhar com esses alunos mas não 100%, porque cada criança deficiência tem sua particularidade, então pode surgir uma criança que tenha um novo tipo de deficiência, então a gente tem que se preparar para aquilo, mais a gente já fica mais aliviado,

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mais preparado então para saber que pode surgir dificuldades e novos desafios, mas a base eu já tenho formada. (B4)

Depende muito, se for uma escola preparada como a Eseba sim, eu me sinto preparado. Mas dependendo da escola não, isso vem muito da infraestrutura da escola que a pessoa está. Não adianta você ter boa vontade se o instituto não te oferece bom amparo. (B7)

Segundo Lima (2002), a maioria dos/das futuros/as professores/as sentem-se inseguros/as diante da probabilidade de ter uma criança com deficiência na sala de aula regular. A formação dos/das professores/as é um aspecto que requer destaque quando se aborda inclusão e segundo Rodrigues (2006) ela tem sido uma dificuldade para atender aos princípios da inclusão escolar, pois poucos currículos de cursos de graduação em Educação Física possuem disciplinas voltadas para a Educação Especial.

De acordo com os relatos dos/das ex-bolsistas, após terem participado do projeto, eles/elas estão mais seguros para trabalhar com alunos/as com deficiência na escola, pois tiveram contato com o futuro ambiente profissional.

5. CONCLUSÃO

Pode-se concluir que a participação no projeto, permitiu aos/às ex- bolsistas conhecer a realidade da Educação Física numa perspectiva de educação inclusiva.

Em relação aos saberes adquiridos no projeto, constatou-se que os/as ex-bolsistas aprenderam muito sobre as deficiências dos/as alunos/as, sobre o planejamento de aula e sobre a elaboração de estratégias de ensino. Estes aspectos são muito importantes e enriquecedores, para ampliar os fatores que perpassam o processo de ensino aprendizagem e contribuem para a inclusão escolar.

A maior dificuldade enfrentada pelos/pelas ex-bolsistas foi incluir o/a aluno/a com deficiência nas aulas de Educação Física.

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Considerando que a inclusão é um processo em construção, o qual encontra inúmeros desafios, o importante é aproximar-se, cada dia mais, dos objetivos da inclusão no sentido de se trabalhar com o/a aluno/a com deficiência junto com alunos/as que não possuem deficiência em uma mesma turma.

Os/as ex-bolsistas sentem-se preparados/as e atribuem isso ao fato de terem participado das atividades propostas dentro do projeto e assim obtiveram conhecimentos importantes para a formação docente.

Pode-se concluir que o projeto de acompanhamento das aulas de Educação Física com alunos/as com deficiência, contribuiu para a formação inicial dos/as acadêmicos/as do curso de Educação Física, pois eles aprenderam a trabalhar com alunos/as com deficiência nas aulas, elaboraram planejamento, conheceram sobre o processo de inclusão e sentem-se preparados/as para trabalhar com alunos/as com deficiência no âmbito escolar.

6. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F. F. V.; DUDECK, T. S.; MOREIRA, E. C. O professor de

educação física e a relação com o planejamento de ensino-aprendizagem, Brasília, CONDICE, Set. 2010.

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Educação Nacional. 20 de dezembro de 1996. Diário oficial da União.

Brasília, DF: MEC, 1996. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 20 de set. 2016 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva.

Brasília, 2008. Disponível em:

http://peei.mec.gov.br/arquivos/politica_nacional_educacao_especial.pdf.

Acesso em: 20 de set. 2016.

BRASIL. Ministério Público Federal. Processo nº. 3157-96.2013.4.01.3803.

30/09/2013. Uberlândia, 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria No- 959, de 27 de Setembro de 2013. Brasília, DF, 27 set. 2013.

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BORBA, D. M. Projeto de bolsas de graduação para a inclusão escolar de alunos com deficiência: concepções de professores de educação física da Eseba/UFU. 2014. 26 f. Trabalho conclusão de curso. Curso Graduação em Educação Física. Uberlândia: 2014.

CARMO, A. A. Atividade motora adaptada e inclusão escolar: caminhos que se cruzam. In: RODRIGUES, D. Atividade motora adaptada: a alegria do corpo.

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FIORINI, M. L. S; MANZINI, E. J. Inclusão de Alunos com Deficiência na Aula de Educação Física: Identificando Dificuldades, Ações e Conteúdos para Prover a Formação do Professor. Revista Brasileira Educação Especial, Marília, v. 20, n. 3, p. 387-404, Jul.-Set, 2014.

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Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.

GUTIERRES FILHO, P. J. B. et al. Aspectos curriculares da formação

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<https://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/19578>. Acesso em: 20 de dez. 2016.

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