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Geografia. Os Grandes Projetos Econômicos. Professor Luciano Teixeira.

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Os Grandes Projetos Econômicos

Professor Luciano Teixeira

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Geografia

OS GRANDES PROJETOS ECONÔMICOS

Amazônia torna-se uma Região-programa

A partir da década de 1950 houve, no Brasil, a consciência de que o Pará e a Amazônia não deviam mais ficar isolados do resto do país. A Amazônia, por sua enorme riqueza natural, co- meçou a ser cobiçada por alguns países, que defendiam a tese de que a Amazônia era um pa- trimônio extraordinário, não explorado, e que devia ser internacionalizada: desta forma, um conjunto de países poderia supostamente gerenciar os recursos naturais da Amazônia. É assim que o Governo Federal teve a idéia de implantar um desenvolvimento planejado para a região.

Para desenvolver a Amazônia, marcar a presença do governo federal na região e protegê-la da cobiça internacional, foi criada a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Ama- zônia (SPVA), em 1954. Foi a primeira experiência no país de um plano governamental visando a valorização de uma região. Com o Primeiro Plano Quinquenal (1955-59), o governo federal queria constituir uma economia rentável e estável na região e converter a população extrativis- ta numa sociedade assentada em uma economia de base agrícola. O governo não cogitou, de fato, de explorar a riqueza da floresta e dos rios da Amazônia, embora este propósito estivesse no Primeiro Plano Quinquenal:

1 – produção de alimentos, em uma proporção pelo menos equivalente as suas necessidades de consumo;

2 – produção de matérias-primas e produtos alimentares necessários à economia nacional e que o país precisa importar;

3 – exploração das riquezas extrativistas e minerais;

4 – conversão da economia extrativista e comercial numa economia agrícola, industrial e pecu- ária;

5 – aperfeiçoamento dos transportes;

6 – elevação do nível de vida e da cultura política e técnica de sua população.

O plano do governo federal possuía de fato diversos equívocos. A maior riqueza da região co- nhecida na época eram a floresta e os rios. Mas o plano visava dominar o meio de forma agres- siva, isto é, derrubar a floresta a fim de produzir a agricultura e a pecuária, após a derrubada ou a queimada da mesma. Nesse período verifica-se o desenvolvimento do setor madereiro que teve como consequência a derrubada de grandes extenções de mata, sem qualquer preocupa- ção com o reflorestamento. A produção de matérias-primas estava voltada para serem expor-

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tadas, ou seja, gerando lucros no exterior. De fato, o governo federal não aprendera a lidar com a Amazônia.

Nesse período criaram-se as universidades e centros de pesquisa científica como a Universida- de Federal do Pará - UFPA, a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará - FCAP (atualmente UFRA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Estado do Pará – EMBRAPA, em Belém. Em Manaus foi criado o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.

Os Grandes Projetos

O Estado do Pará, pelo seu potencial energético e mineral, passou a ser foco de atenção. No Pará houve instalação de Grandes Projetos econômicos voltados para o mercado internacional ou destinados à produção de insumos para indústrias localizadas em outras regiões do país.

A década de 1970 no Brasil irá marcar um momento em que emerge no âmbito político e econô- mico brasileiro um novo padrão de desenvolvimento baseado na ocupação territorial, coman- dado pelo Estado e pelos Grandes Projetos, postos em ação no âmbito dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs). Isto surge inicialmente no governo do general Emilio Garrastazu Médici (1970-1974).

A estratégia de desenvolvimento do governo Médici, que buscava a recuperação econômica e a superação do subdesenvolvimento do Brasil, pretendia realizar isto através de uma política nacional que visava transformar o país em “nação desenvolvida” dentro de uma geração.

Texto e Contexto

“O objetivo síntese da política nacional é o ingresso do Brasil, até o fim do século, no mun- do desenvolvido. Para isso, construir-se-á, no País, uma sociedade efetivamente desenvolvida, democrática e soberana, assegurando-se, assim, a viabilidade econômica, social e política do Brasil como grande potência.”

(SUDAM. Amazônia: política e estratégia de ocupação e desenvolvimento. Política Nacional. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1973. p. 5.)

Médici foi sucedido, em 1974, pelo general Ernesto Geisel (1908-1996). O presidente Geisel, o quarto presidente da República (1974-1979) do ciclo militar, governou com dificuldades eco- nômicas devido à crise mundial do petróleo. Porém, Geisel optou por ampliar os programas de modernização econômica para consolidar a base industrial, energética e tecnológica do país.

Neste contexto, um conjunto de medidas começou a transformar a economia regional a fim de fomentar o tão pretendido desenvolvimento regional na Amazônia. Cria-se a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), em substituição à SPVEA, e o Banco da Amazônia (BASA), em substituição ao antigo Banco de Crédito da Amazônia. Estruturas estas subordina- das diretamente à tecnocracia dos Ministérios e à ação do poder central. Com isto pretendia-se afastar a influência do poder local no tocante à tomada de decisões; isto mais um dos exemplos do autoritarismo do regime militar imposto à região.

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A ação de desenvolvimento econômico para a região amazônica adotada pelo governo Geisel e consolidada no II Plano Nacional de Desenvolvimento e no II Plano de Desenvolvimento da Amazônia destacou ênfases ao processo de desenvolvimento e modernização da economia re- gional, através da estrutura industrial juntamente com a preocupação da exploração dos recur- sos naturais. A finalidade desses planos era intensificar a integração da Amazônia na economia do país e promover a ocupação territorial e a elevação do nível de segurança na área por meio do alargamento da fronteira econômica e, com isto, realizar a manutenção de altas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). De fato, a Amazônia era vista como uma região marcada negativamente pelo “rudimentarismo” de suas forças produtivas que a deixavam “à margem da evolução econômica” do país.

Texto e Contexto

Durante três séculos e meio, o eixo econômico da Amazônia se desenvolve em torno do rio, em cujas margens se instalaram as cidades e as comunidades rurais. Durante três séculos e meio, com a mentalidade dominante voltada quase exclusivamente para o extrativismo vegetal, de- pendendo tradicionalmente da coleta da borracha, da castanha, das madeiras, das peles de animais silvestres, a região se manteve à margem da evolução econômica brasileira.

(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Economia. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1972. p. 16.)

Os Planos de Desenvolvimento para a região amazônica faziam parte da ideologia da ditadura militar no Brasil; uma “ideologia do desenvolvimento”. Traçaram e sustentaram as estratégias e os planos de crescimento nacional e regional marcado por uma euforia desenvolvimentista para preservar e legitimar a própria ditadura. Desempenharam um papel essencial na canta- ta “Brasil Grande”, “Brasil Potência”, e pela busca da manutenção do “Milagre Brasileiro”. Em termos de realização de Grandes Projetos, os principais empreendimentos produtivos que se instalaram na região amazônica foram estes: a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), sobre o rio Tocantins; o da Mineração Rio do Norte (MRN), de exploração de bauxita metalúrgica, a noro- este do Estado, no município de Oriximiná; o da Albrás e Alunorte de produção de alumínio e alumina, respectivamente, localizados nas proximidades de Belém, no município de Barcarena;

o Projeto de Ferro Carajás (PFC), no sudeste do Estado, no município de Parauapebas.

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Algumas informações:

1 – bauxita: esta rocha é a matéria-prima para a produção de alumínio (ela é o minério que dá origem ao alumínio);

2 – celulose: matéria-prima retirada da madeira e usada na produção de papel;

3 – caulim: argila necessária para a fabricação de papel;

4 – bauxita refratária: utilizada para tijolos de alto-fornos que funcionam com temperatura su- perior a 1 500 graus, onde o tijolo comum não resistiria; 5 – alumina: obtida da bauxita; é a base da fabricação do alumínio;

6 – alumínio: metal utilizado na fabricação de panelas, aviões, estruturas metálicas, janelas, etc.;

7 – silício metálico: amplamente utilizado em eletrônica (chips de computadores, etc.);

8 – minério de ferro: rocha que contem uma grande proporção de ferro;

9 – ferro-gusa: ferro simples;

10 – ferro-liga: ferro aliado ao manganês; fica mais resistente que o ferro;

11 – cobre: metal muito utilizado em material elétrico;

12 – manganês: metal utilizado em ligas metálicas;

A Amazônia brasileira se insere no contexto da ideologia de desenvolvimento regional e se- gurança nacional do regime militar. Era um período marcado pelo autoritarismo, repressão, perseguição policial e militar, supressão de direitos constitucionais e da liberdade de expressão nos meios de comunicação mediante a adoção da censura prévia. Porém, contraditoriamente, foi um momento também marcado por uma euforia desenvolvimentista.

A construção da rodovia Transamazônica e a implantação de Grandes Projetos industriais e in- fra-estruturais, como a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, tinham de certa forma um estreito rela- cionamento; faziam parte da estratégia geopolítica militar para a região. Isto representou um processo expansionista profundamente idealizado que buscava atingir o objetivo de ocupar os

“espaços vazios” da região amazônica. As consequências sobre o meio ambiente, a rica biodi- versidade regional e seus recursos naturais, e sobre o homem, em uma região de povos e cultu- ras diversificadas, eram vistas como parte de um projeto maior.

Projeto ALBRAS-ALUNORTE

O Projeto Albras/Alunorte localiza-se no município de Barcarena e está voltado para a produ- ção industrial de alumínio a partir das jazidas de bauxita do rio Trombetas (município de Orixi- miná, Estado do Pará).

A origem dos projetos está na descoberta da jazida de bauxita no rio Trombetas, entre as me- lhores do mundo. O minério encontrava-se quase na superfície. Era retirada do estéril (as ro- chas sem valor) com uma “drag-line”, máquina que retira 8 milhões de toneladas por ano. O iní-

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cio da implantação da ALBRÁS/ALUNORTE foi dirigida pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) que comunicou ao governo do Pará sobre o projeto destinado à produção de alumina e alumí- nio tendo como sócios empresários japoneses que investiram no projeto.

Lingotes de Alumínio na Albras.

O projeto Albras/Alunorte, criado durante o período do regime militar, inserido em um con- texto de busca pelo desejado desenvolvimento regional, crescimento econômico e segurança nacional, gerou (e gera) graves danos ao meio ambiente e a população existente nas proximida- des deste grande empreendimento industrial.

Na região de influência do Projeto Albrás-Alunorte, nas redondezas do município de Barcarena, ocorre com frequência danos ao meio ambiente, como os casos de poluição do rio Murucupi, situado no município de Barcarena, que geraram envenenamento em suas águas, em decor- rência de poluição provocada pela Alunorte, o que atingiu diretamente o meio ambiente e pes- cadores e ribeirinhos e suas relações de trabalho, a pesca, já que provocou a morte de várias espécies de peixes no rio.

Área de recomposição de rejeito da bauxita da Alunorte Na época de chuvas intensas no Pará, é comum está área transbordar e provocar poluição em sua área de influência (ver em Texto Complementar).

Projeto Ferro-Carajás.

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A Serra dos Carajás, serra do estado do Pará, ficou logo famosa pela imensa riqueza mineral, principalmente ferro, cujo volume foi cubado em 5.000.000 de toneladas. Formada de rochas cristalinas, corresponde a um planalto residual que tem expressão no setor meridional dos es- tados do Amazonas e Pará. Os planaltos residuais da Amazônia correspondem a um agrupa- mento de relevos interpenetrados pela superfície pediplanada da depressão amazônica. Em 1967, ricas jazidas de ferro foram descobertas na serra dos Carajás pela Companhia Meridio- nal de Mineração, subsidiária da United States Steel Corporation. A importância da descoberta originou o interesse da participação da Companhia Vale do Rio Doce, tendo sido criada, em 1970, a Amazônia Mineração S/A para desenvolver o Projeto Carajás. Outras reservas foram descobertas: cobre, manganês, bauxita, níquel, estanho e ouro. Na região, logo se deu muitos conflitos pela posse de terras.

O Projeto Ferro-Carajás corresponde a exploração da região, localizada no Brasil, muito signifi- cativa em termos de riquezas minerais; uma das mais importante do mundo. Abrange o sudo- este do Pará, o norte de Tocantins e o oeste do Maranhão. A área tem potencial hidrelétrico, amplas florestas e condições que permitem o reflorestamento para produção de celulose e carvão vegetal. É cortada pelos rios Tocantins, Araguaia e Xingu. Foi em 1967, ano em que fo- ram descobertas suas riquezas minerais, que a região se tornou extremamente valiosa. Essas riquezas, estimadas em aproximadamente 20 bilhões de toneladas, consistem em jazidas de cobre, estanho, ouro, bauxita, manganês e níquel, e são passíveis de exploração por meio de tecnologia simples, o que significa baratear o custo. O minério de ferro, extraído na mina da Serra de Carajás, era então transportado para o Maranhão. Lá fazia-se os lingotes de ferro, que são exportados pelo porto de Itaqui. E o ferro ocupava, na época do início da implantação do projeto, o terceiro lugar na pauta dos produtos de exportação do Brasil. Daí vem a importância de Carajás e da sua Estrada de Ferro Carajás; esta última construída na década de 80, uma obra de 900 km, através da floresta.

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A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) foi construída pela Eletronorte no rio Tocantins, na me- sorregião do Sudeste Paraense, a treze quilômetros de Tucuruí e a cerca de 350 quilômetros de Belém.

Texto e Contexto

O Governo Federal procurando evitar e superar todos os pontos de estrangulamento que retar- dam o desenvolvimento harmônico da área amazônica envidará, no triênio 1972/74, todos os esforços no sentido de dotar o setor Energia de um complexo compatível com as reais necessi- dades.

(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Capítulo 4, Serviços Básicos. Belém-Pará, 1971. p. 65.)

O objetivo de construir a Usina de Tucuruí foi para gerar energia elétrica para atender os proje- tos de extração mineral e a industrialização, principalmente, ao Distrito Industrial de Alumínio em Barcarena e ao Projeto de Ferro em Carajás.

Texto e Contexto

A construção dessa usina permitirá a criação de um polo industrial com base na metalurgia do alumínio a partir da bauxita do rio Trombetas. Marginalmente, contribuirá para a exploração do minério de ferro da Serra dos Carajás, não somente nos aspectos relacionados à lavra, termi- nais e siderurgia, como, especialmente, no tocante ao transporte ferroviário, com a eletrifica- ção da ferrovia ligando a mina a Itaqui, no Maranhão.

(SUDAM. II Plano Nacional de Desenvolvimento; programa de ação do governo para a Amazônia (1975-1979). Capítulo 7, Ação programada do Governo Federal para a Amazônia. Belém, 1976. p. 75.)

A construção de grandes empreendimentos hidrelétricos provoca muitos impactos sociais e ambientais negativos. Pode gerar a desaparição de espécies devido ao alagamento de florestas.

Movimentos migratórios de peixes podem ser interrompidos, gerando o desaparecimento de algumas espécies, o que pode atingir a relação de trabalho da população local.

Um dos impactos sociais mais negativos diz respeito ao remanejamento das populações atin- gidas pelo alagamento causado pelos reservatórios de barragens, pois pode implicar em perda de qualidade de vida e em ameaças à existência de vários grupos sociais.

As sociedades indígenas Parakanã, Asurini (ambos grupos Tupi) e os chamados “Gaviões da Montanha” (um grupo local dos Parkatêjê, Jê-Timbira) foram diretamente afetados com a cons- trução e operação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.

Esses grupos indígenas perderam parte de suas terras devido o alagamento das mesmas pelas águas do reservatório da Usina de Tucuruí. As terras desses grupos indígenas passaram a ser invadidas com frequência, principalmente por madereiros que realizam a retirada ilegal de ma- deira e provocam queimadas nas florestas.

A população da região de Tucuruí também foi afetada devido ao enchimento do reservatório da Usina de Tucuruí, sendo que muitas foram remanejadas de suas casas, aproximadamente 1.500 famílias foram desabrigadas.

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Aspectos administrativos e econômicos dos grandes projetos

Todos os grandes projetos foram decididos fora do Pará, a nível nacional (governo federal) e internacional (empresas multinacionais de mineração). A sociedade local pouco pôde interferir nas negociações. Todos tratam de produção extrativa de minerais e de produção de energia elétrica e, no caso da bauxita, da primeira transformação do minério. Esses projetos todos vi- savam à exportação. Não há industria de transformação dos minérios em produtos manufatu- rados (de consumo). Não há, no caso dos minerais, empreendimento que não seja do interesse de outros países: o Pará continua a importar produtos manufaturados de ferro e alumínio. Foi o mesmo no caso da borracha e da madeira.

Todos utilizam tecnologia que faz uso intensivo de capital e poupa mão-de-obra. Assim, geram poucos empregos. Os países estrangeiros dominam o mercado da produção, de compra e ven- da dos minérios, através de empresas multinacionais que operam na região no mercado inter- nacional, controlando os preços e a própria produção.

Finalmente, parecem poucas vantagens para o Estado do Pará e os municípios da região.

Aspectos humanos dos grandes projetos

Praticamente todos os projetos provocaram uma grande mobilização de mão-de-obra durante a sua implantação. Contudo, economizaram trabalhadores na fase de funcionamento. Na fase de negociação, foram previstos 100.000 empregos na mineração e na metalurgia, mas, após a implantação foram gerados somente 2.000 pela Alunorte e Albrás e 8.000 pelo Projeto Ferro- -Carajás.

Alguns projetos tiveram efeitos piores para as famílias que antes viviam em Barcarena, onde foram construídas as fábricas dos projetos metalúrgicos e na região que foi inundada pelo lago da represa de Tucuruí, provocando a desapropriação de cerca de 10.000 famílias de pequenos agricultores e o deslocamento de povos indígenas, como os Pacuruí e os Parakanã.

O surto da garimpagem

Até os anos 60, menos de 10.000 homens garimpavam no Pará. O número subiu até 150.000 nos anos 80 (a metade do país), e cerca de 400.000 no começo da década de 90. Foi a corrida de garimpeiros vindos de muitos Estados pelas rodovias. Desde o século XVI, os portugueses tiveram grande interesse em encontrar ouro no Brasil, para isso organizando-se as entradas e bandeiras. A produção aurífera expandiu-se até 1760, quando a diminuição dos veios, a baixa tecnologia e o contrabando provocaram uma contínua decadência.

No século XIX novas tecnologias permitiram a retomada, mais modesta, da produção e no sé- culo XX descobriram-se novas reservas auríferas em outros estados, como a de Serra Pelada, no Pará.

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Foi início dos anos 80 correu a notícia de ouro em Serra Pelada. Caminhões de paus-de-arara chegavam à região, principalmente do sudoeste do Maranhão, uma das regiões mais miserá- veis do país. O Pará chegou a possuir mais de 800 garimpos em atividade. Em termos numéri- cos o Vale do Tapajós detinha a maior parte. Lá os garimpos eram flutuantes, isto é, feitos sobre balsas.

Serra Pelada, em 1982. São 80.000 garimpeiros com sacos de terra para extrair o ouro.

A extração de ouro é feita através de balsas ancoradas no meios dos rios e que servem de base para as máquinas de sucção. Estas extraem o cascalho do fundo dos rios. O trabalhador princi- pal aí é o mergulhador. Surdez, morte por afogamento são fatos corriqueiros. Mas isto é inex- pressivo se comparado com a contaminação por mercúrio.

De fato, o grande surto da garimpagem trouxe grandes consequências negativas para a região.

O uso de mercúrio no tratamento do ouro criou uma situação nunca vivida pela região em ter- mos de poluição química. O mercúrio causa danos renais e sobretudo neurológicos. A maioria das pessoas lesionadas por mercúrio ficavam definitivamente inválidas. A lesão neurológica é irreversível. Os peões “brabos” eram comumente usados no serviço de tratamento do ouro e, quando adoecem, são despedidos e quase sempre retornam a seu lugar de origem. As espécies animais expostas ao mercúrio produzem crias com deformidades congênitas. Os peixes de regi- ões contaminadas não podem ser consumidos.

Referência Bibliográfica

A FACE SOCIAL DOS GRANDES PROJETOS. Pará-desenvolvimento. Belém: IDESP, 1988.

BECKER, Berta. Geopolítica na Amazônia: a nova fronteira de recursos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1982.

CARDOSO, Fernando H. e MULLER, G. Amazônia: expansão do capitalismo. São Paulo: Ed. Brasil, 1977.

PINTO, Lúcio Flavio. Carajás, o ataque ao coração da Amazônia. Rio de Janeiro: Ed. Marco Zero, 1982.

PROST, Gérard. História do Pará: do período da borracha aos dias atuais. Volume II. Belém: Se- cretaria de Estado de Educação, 1998.

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Grandes Projetos

Os seis maiores investimentos econômicos realizados no Pará nas três últimas décadas somam 13 bilhões de dólares. Esse dinheiro - aplicado na hidrelétrica de Tucuruí, na mina de Carajás, na fábrica de alumínio da Albrás, na fábrica de alumina da Alunorte, no complexo agro-minero- -industrial do Jari e na mineração de bauxita do Trombetas - o próprio Estado precisaria de mais de uma década para arrecadar. Com uma diferença fundamental: quase 90% da receita do Es- tado, incluídas as transferências federais, é absorvida pelas despesas de pessoal e custeio, so- brando algo em torno de 10% para investimento. E os US$ 13 bilhões movimentados pelos seis grandes projetos implantados em território paraense são, integralmente, puro investimento.

Considerando-se 1975 como o marco inicial dos investimentos executivos (quando começaram efetivamente as obras na usina hidrelétrica de Tucuruí), dá, em 20 anos, uma média de apli- cação contínua de capital de US$ 130 milhões a cada ano. É um programa econômico de peso em qualquer parte do mundo. Representa quase o dobro do que o governo do Pará conseguiu investir no ano passado em todo o Estado. Poderia ter como resultado o desenvolvimento da região beneficiada.

Ferrovia de Carajás

Não foi isso, porém, o que aconteceu, se faz um balanço rigoroso desses seis mega-investimen- tos. De fato, eles permitiram a interiorização das frentes pioneiras. Hoje, Belém possui menos de um quarto da população paraense. A proporção sobe um pouco se considerada a área me- tropolitana da capital, mas nela cresceu muito a participação do contingente de migrantes, que ruralizaram boa parte da periferia urbana, trazendo para a cidade inclusive doenças que dela já haviam sido eliminadas, como a malária, a mais grave endemia da Amazônia.

Se a implantação dos seis grandes projetos fez os 5,5 milhões de paraenses se dispersarem pe- los 1,2 milhão de quilômetros quadrados, reduzindo uma rarefação demográfica que é contras- tante no vizinho Amazonas (onde metade da população se agrupa em Manaus), não conseguiu dar a esse espraiamento humano uma tradução econômica positiva. Ao contrário, gerou efeitos perversos que, sem condições de encarar e resolver, transferiu para a dívida social posta na jurisdição do Estado, cuja capacidade de investimento não está nem ao nível do crescimento vegetativo de sua clientela.

O Pará tornou-se o sétimo maior exportador do Brasil, com possibilidades de subir mais dois degraus até o final do século, ocupando o quinto lugar. Em 1979, quando entraram em ope- ração os dois primeiros grandes projetos (Jari e Trombetas), a conta de exportação do Estado era de US$ 400 milhões. No ano passado bateu em US$ 2 bilhões, multiplicada, portanto, cinco vezes. Nenhuma unidade da federação pôde apresentar semelhante desempenho no período.

O saldo de divisas do Estado (resultante) da apuração entre o que exporta e o que importa) é de US$ 1,8 bilhão, contribuição apreciável para as contas nacionais cambaleantes.

Mas esses números absolutos perdem força e expressão quando relativizados. O faturamento da Zona Franca de Manaus em 1995 foi de US$ 11,5 bilhões, cinco vezes mais o conseguido pelo Pará, sem ter uma concentração de capital nem de longe parecida, já que os investimen- tos foram pulverizados por 400 empreendimentos de porte menor. É claro que, vista da ótica

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nacional, a ZF amazonense tem um efeito devastador, abocanhando um em cada três reais de renúncia fiscal no setor industrial e trocando importações desoneradas por vendas onerosas no mercado interno, deixando de proporcionar saldo líquido de divisas, como faz o Pará, por gene- rosidade compulsória. Serve, assim, de Cavalo de Troia o capital especulativo.

Hidrelétrica de Tucuruí

O risco do Amazonas é esse cenário fabuloso ser bruscamente desfeito pela realidade cambial, mas até lá pode ter conseguido substituí-lo por uma economia menos artificiosa. O risco do Pará é não traduzir em realidade palpável, socialmente absorvível, a grandeza de recursos natu- rais de que dispõe, perecendo definitivamente na retórica do futuro.

Obrigado a incorporar uma "vocação" imposta pelo planejamento federal, em parceria com a nova divisão internacional do trabalho, o Pará tem, cada vez mais, o perfil do exportador, como não cabe tão bem em nenhuma outra silhueta estadual no país. Seus principais produtos destinam-se a mercados externos, o maior deles a 20 mil quilômetros do Brasil. O Japão recebe do Pará 8% do alumínio que consome e 15% do minério de ferro que alimenta os altos-fornos de suas siderurgias. Boa quantidade dos dois produtos chega também a países da Europa Oci- dental. Futuramente para lá estará seguindo o caulim que os ingleses já não podem mais extrair da Cornualha por limitação ecológica. Pelos oceanos navega a bauxita paraense, assim como o silício.

O problema é que os nossos produtos sofreram queda de preços, tanto nominal quanto real.

Quando deu sua aprovação a um empréstimo de US$ 300 milhões, que abriria o balcão dos fi- nanciadores internacionais para Carajás, o Banco Mundial calculou que o projeto só seria auto- -sustentável se alcançasse um preço de US$ 34 por tonelada. Com essa remuneração, cobriria o custo operacional e mais a despesa financeira (por conta de um orçamento que previa ir buscar junto a terceiros dois terços do investimento necessário). Mas a Companhia Vale do Doce está vendendo a tonelada a US$ Consegue o milagre de concorrer com australianos, que estão a um terço do caminho para o Japão, o principal destino final minério de Carajás, mas para isso deixa ganhar muito dinheiro mercado se computasse pelas projeções do BIRD).

O Pará foi especializado na produção dos bens industriais que mais consomem energia, mas que tiveram seus preços rebaixados quando os países mais poderosos, justamente por causa da crise de energia desencadeada a partir de 1973, deixaram de ser produtores para se tornarem consumidores desses produtos. Temos a maior fábrica de alumínio do continente, a Albrás, em Barcarena (investimento de quase US$ 1,5 bilhão, dividido entre a CVRD e um consórcio japo- nês), a principal fornecedora individual de alumínio para Japão (170 mil toneladas).

Sozinha, a Albrás representa 1,5% de todo o consumo de energia no Brasil e uma vez e meia o consumo no Pará. Para que a Albrás receba uma energia barata, a Eletronorte tem que lhe repassar US$ 100 milhões anuais de subsídio tarifário. É mais do que o que a empresa tem para investir em toda a Amazônia. Não surpreende que a Eletronorte tenha sido a segunda empresa mais deficitária do no ano passado, atrás apenas da Fepasa, responsável por ferrovias paulistas.

Também produzimos quartz, a terceira atividade industrial mais intensiva em energia. Na pas- sagem do século estaremos produzindo cobre metálico, o segundo dos eletrointensivos. No caso do quartz, o minério é transportado em caminhão de Curionópolis para Tucuruí, num per-

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curso de 300 quilômetros (porque a mina, ao lado da fábrica, não tinha a qualidade esperada pela Camargo Corrêa Metais), mas não se dá passo sequer no rumo do maior beneficiamento da tasca, componente estratégico mundo industrial dos nossos dias. Quanto se ganharia tendo acesso a microprocessadores?

Perdemos US$ 2 bilhões em divisas porque durante 10 anos exportamos bauxita (foram quase nove milhões de toneladas no ano passado) e alumínio sem ter o produto intermediário, a alu- mina, que era importada. Quando foram concebidas, e 1976, Albrás e Alunorte deveriam ser fá- bricas gêmeas, integradas. Mas a Alunorte s entrou em operação com 10 anos de atras porque a Companhia Vale do Rio Doce aceitou o raciocínio de seus sócios japoneses de que seria mais barato comprar fora d que produzir alumina ali mesmo. Decidiu e função de seu eventual défi- cit de caixa, deixando de lado os interesses maiores da Nação e do Estado. O que se gastou em divisas foi o equivalente a duas vezes e meia investimento, dinheiro que poderia ter circulado aqui dentro.

Adaptado colonialmente, o Pará não um exportador de banana (da Banana Republic da litera- tura recente). Minério de ferro sai muito mais barato do que banana. Até energia sai mais bara- to, em plena época de consciência universal mais barato sobre o valor e a escassez da energia.

Não chegamos a exportar energia para o Japão porque a tecnologia ainda não pode oferecer linhas de transmissão sobre o mar, mas vamos mais em frente no complemento colonial: ex- portamos energia embutida em lingotes de alumínio, a acomodação tecnológica possível para essa transferência de riqueza.

Transferência que assume uma forma explícita, como o lingote ou o minério de ferro, mas pode se realizar de maneira invisível, através de juros remetidos para fora. Nesse particular, a histó- ria da Albrás é de causar lágrimas. Quando o endividamento em yen ainda não estava finan- ceiramente protegido, como agora finalmente está (não sabemos exatamente a que custo), a cláusula de segurança imposta pelos japoneses para a paridade de sua moeda com o dólar nos causou sangrias devastadoras. Em 1987, o ano mais crítico, a variação cambial do yen em rela- ção ao dólar nos obrigou a transferir da conta do haver para a do deve um volume de dinheiro equivalente a três vezes o orçamento do Pará naquele ano. Ou seja, dinheiro escriturar que passamos a dever sem ter recebido um tostão furado em moeda sonante.

Os franceses também ganharam bastante em cima dessa relação de troca. Foram eles os prin- cipais financiadores da hidrelétrica de Tucuruí, em cujo investimento já se gastou US$ 6 bilhões (mas ainda há a pagar US$ 3 ou 4 bilhões de juros). Uma das condições de reciprocidade foi a de comprar na França metade das 12 turbinas instaladas na primeira fase da construção. Assim, financiamos a indústria francesa, como o faremos quando começar o Projeto Sivam, garantin- do emprego para 20 mil americanos em território dos EUA. A outra metade das turbinas de Tucuruí foram adquiridas no Brasil junto a fabricantes nacionais, mas que pagam royalties à indústria francesa (como a Mecânica Pesada). E ainda há os juros, como os que o Brasil pagava enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso era recebido em Paris como estadista. Car- tesianos, esses franceses.

Para o Brasil mais rico, entretanto, podemos exportar energia sem maior complicação. O Pará já é o terceiro maior exportador de energia do país. Está apenas atrás do Paraná e Minas Gerais, mas tudo indica que, no futuro, ficará em uma constrangedora primeira colocação (temos mais água e geografia adequada). De tudo o que Tucuruí gera, 65% sai do território paraense e lá fora chega mais barato, já que nas operações interestaduais (ao contrário do que ocorre intra- estadualmente) não há a cobrança do ICMS. Tirando também o consumo cativo da Albrás, com

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tarifa subsidiada, sobram uns 12% para a Celpa distribuir aos paraenses, 40% dos quais sofrem racionamento porque são servidos por velhas usinas térmicas.

Esses geradores, aliás, consomem apenas metade do óleo combustível gasto na ferrovia de Carajás, onde opera o maior trem do mundo (240 vagões e quatro locomotivas). No ano pas- sado esse trem despejou 43 milhões de toneladas de produto paraense subvalorizado para ser transferido, no porto da Ponta da Madeira, no Maranhão, a 870 quilômetros de distância da mina, para favorecidos compradores. Assim consumimos nossa relação de troca deficitária com o mundo, investindo US$ 13 bilhões em seis empreendimentos encravados em nosso territó- rio para catapultar riquezas para muito longe, deixando aqui não muito mais do que buracos, sonhos de progresso em curtas noites de verão e conflitos sociais que se espraiam como epide- mias.

http://www.orm.com.br/tvliberal/revistas/npara/edicao3/analise/projetos.htm

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Referências

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