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love lasts forever endless love in love in love in love

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Academic year: 2022

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INTRODUÇÃO

A pesquisa relatada aqui visa ao levantamento de metáforas relacionadas ao tema da amizade no corpus do seriado norte-americano Friends, por meio dos recursos oferecidos pela Lingüística de Corpus em conjunto com a Teoria da Metáfora Conceptual proposta por Lakoff e Johnson (1980/2002).

Mais especificamente, a pesquisa aqui descrita tem como objetivo levantar as metáforas lingüísticas presentes no corpus de estudo e categorizá-las em metáforas conceptuais associadas ao tema da amizade. O ensino de língua estrangeira foi o elemento motivador do projeto, o que influenciou notadamente a escolha do corpus de pesquisa. Porém, como havia pouco tempo para a condução da investigação, não foi possível de fato entrar no mérito do aprendizado de vocabulário com metáforas. Por esse motivo, a pesquisa se restringiu à detecção das metáforas. A aplicação dos resultados ao aprendizado de vocabulário, mais especificamente, deverá ficar para estudos futuros.

Como mencionei acima, a motivação da pesquisa surgiu de minha atividade profissional.

Sou professora de inglês e o que me levou a realizar este estudo foi o fato de perceber a dificuldade que sempre tive de ensinar vocabulário aos aprendizes de inglês como língua estrangeira. Muitos materiais didáticos para ensino de vocabulário em inglês como língua estrangeira parecem inadequados para tal finalidade, pois não apresentam expressões lingüísticas como algo que seja realmente usado pelos falantes nativos de inglês. Nesse sentido, a partir do uso desses materiais didáticos, eu ensinava um vocabulário artificial que é geralmente apresentado em várias situações irreais de comunicação. Conseqüentemente, os alunos não conseguiam vincular o que aprendiam ao que vivenciavam e precisavam usar em inglês como língua estrangeira.

Além disso, levando-se em conta minha experiência como professora de inglês, foi possível perceber que os alunos geralmente têm de aprender uma multiplicidade de itens, ou seja,

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muitas palavras novas em listas de termos isolados e não em situações reais de uso da língua inglesa. Na verdade, o que acontece é que os alunos não estão estudando a linguagem, mas expressões isoladas em listas sem que haja nenhum vínculo com a realidade. Conseqüentemente, não conseguem associar o que aprendem a nenhum tipo de conceito de vida que possa auxiliá-los na compreensão e retenção do novo vocabulário.

Considerando-se, dessa forma, que minhas dificuldades em ensinar inglês como língua estrangeira recaíam no ensino de vocabulário e que isso é parte essencial da minha prática como professora de inglês, decidi que tenho de ensinar aos alunos expressões idiomáticas e colocações, tais como as seguintes realizações lingüísticas retiradas do corpus de estudo desta pesquisa:

‘love lasts forever’ (o amor dura para sempre),

‘endless love.’ (amor infinito equivalente a uma viagem sem fim).

‘in love with’ (em estado de amor / apaixonado),

‘still in love’ (ainda em estado de amor/apaixonado),

‘been in love’ (estar em estado de amor/apaixonado).

Como qualquer professor de inglês pode relatar, a quantidade de itens de vocabulário a aprender é muito grande. Como vim a descobrir depois, muitas dessas expressões e colocações são, na verdade, expressões lingüísticas relacionadas a metáforas conceptuais. Assim, nos exemplos acima, os dois primeiros exemplos são da metáfora conceptual AMOR COMO VIAGEM e os demais, da metáfora conceptual ESTADOS COMO RECIPIENTES (Lakoff & Johnson, 1980/2002).

Diante disso, comecei a perceber que as metáforas conceptuais poderiam ser um auxílio ao professor, mais especificamente a mim, no ensino de vocabulário. Muitas das expressões que pareciam isoladas poderiam, na verdade, ser agrupadas conceptualmente ao redor de uma metáfora conceptual apenas.

De fato, segundo Boers (2000), no momento em que os aprendizes de uma língua estrangeira são conscientizados a respeito dos conceitos metafóricos que permeiam a linguagem cotidiana, eles se tornam capazes de reter o vocabulário utilizado nessa língua de forma coerente

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e natural, porque nosso pensamento e modo de vida estão estruturados de acordo com o que esses conceitos nos ditam.

Metáfora conceptual pode ser entendida como um mapeamento entre domínios que faz parte de um sistema conceptual: ‘A cross-domain mapping in the conceptual system.’ (Lakoff, 1993:203).

Ao pensarmos, por exemplo, na metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA, concebemos isso como verdadeiro. Ao falarmos sobre guerra usamos certas expressões lingüísticas típicas desse conceito, como, por exemplo, ‘defender’, ‘acabar com alguém’, ‘atacar’, ‘matar alguém’,

‘vencer’, ‘ganhar’, etc. Ao falarmos sobre o conceito de discussão, também usamos essas expressões. Isso ocorre porque compreendemos a discussão verbal em termos de conflitos físicos, ou seja, a partir de nossa experiência de guerra. Mesmo que nunca tenhamos participado de uma guerra ou de qualquer outra luta, podemos compreender e usar as realizações lingüísticas que dizem respeito a esse conceito. Assim, percebemos que todas essas formas que temos para nos referirmos ao conceito de guerra geram uma maneira sistemática para discorrer a respeito de discussão. Usamos uma parte do conceito de guerra que conhecemos em nossa cultura para que possamos nos comunicar sobre o conceito de discussão. Tudo isso porque a metáfora conceptual

DISCUSSÃO É GUERRA está presente no “sistema conceptual da cultura na qual vivemos” (Lakoff

& Johnson, 1980/2002:49/136).

Durante o exercício de minha atividade profissional, notei que muitos alunos diziam que gostavam de assistir à série de TV Friends. Essa série é veiculada por vários canais de televisão em todo o mundo, e busca reproduzir o comportamento, as atitudes e a maneira de falar sobre as coisas típicas dos jovens norte-americanos.

Desse modo, escolhi como material de pesquisa um corpus de roteiros do seriado Friends.

Minha intenção era encontrar itens de vocabulário que dissessem respeito ao mundo dos jovens norte-americanos e que fossem relacionados ao tema da amizade.

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Motivada pelo meu desejo de ensinar vocabulário com auxílio de material áudio-visual de apelo para os jovens decidi coletar um corpus com todos os episódios da série. Escolhi como arcabouço teórico para identificação das metáforas a Teoria da Metáfora Conceptual (Lakoff &

Johnson, 1980/2002). Nesse momento, surgiu um desafio: como dar conta de todo esse material?

Como encontrar as metáforas em um corpus tão grande (89 episódios, relativos a 10 anos de exibição da série)?

Foi nesse momento que decidi recorrer à Lingüística de Corpus, uma abordagem teórica metodológica capaz de levantar, no corpus de estudo, as expressões ou metáforas lingüísticas (‘de alto astral’, ‘sentir-se para baixo’, ‘estar apaixonado’, etc.) que revelam metáforas conceptuais (AMOR É VIAGEM , ESTADOS COMO RECIPIENTES, FELICIDADE É PARA CIMA e TRISTEZA É PARA BAIXO,etc.), a fim de propiciar o ensino de vocabulário em inglês como língua estrangeira. Meu objetivo era a análise qualitativa das metáforas conceptuais reveladas pelas expressões lingüísticas anteriormente encontradas por meio de instrumentos computacionais.

A Lingüística de Corpus é uma área que se dedica à coleta e análise de corpora (plural de corpus) extraídos por computador com a finalidade de servirem para estudo de ‘uma língua ou variedade lingüística’ (Berber Sardinha, 2004a:03). Sendo assim, um corpus é definido como:

‘Um conjunto de dados lingüísticos (pertencentes ao uso oral ou escrito da língua, ou a ambos), sistematizados segundo determinados critérios, suficientemente extensos em amplitude e profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade do uso lingüístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de tal modo que possam ser processados por computador, com a finalidade de propiciar resultados vários e úteis para a descrição e análise.’

Sanchez (1995:8-9)

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Ademais, em Lingüística de Corpus, há uma importante distinção entre a pesquisa corpus- based e aquela que é chamada de corpus-driven (Tognini-Bonelli, 2001). A pesquisa realizada segundo a abordagem corpus-based restringe-se a utilizar um corpus como fonte de exemplos, geralmente a fim de verificar intuições e/ou a freqüência de amostras de fenômenos lingüísticos (palavras, estruturas gramaticais, etc). Por exemplo, a recente gramática Longman de inglês falado e escrito (Biber et al., 1999) foi escrita utilizando-se de dados provenientes de corpus eletrônico, mas ainda é uma gramática restrita por apresentar uma realização em corpus-based (Sinclair, 2001). Uma pesquisa corpus-driven como a que é realizada nesta pesquisa, por outro lado, propõe observar o corpus como algo que capacita o pesquisador a descobrir aspectos novos e desafiadores presentes na linguagem. A pesquisa tipicamente percorre um caminho indutivo, extraindo evidências de um corpus e observando padrões como meio de expressar regularidades nos dados (Sinclair, 2001:350).

Com base no que foi exposto acima, as questões de pesquisa investigadas são elencadas abaixo:

1) Quais são as metáforas lingüísticas relacionadas ao tema da amizade, existentes no corpus deste estudo?

2) A quais metáforas conceptuais essas metáforas lingüísticas estão relacionadas?

3) Como a Teoria da Metáfora Conceptual, em conjunto com a Lingüística de Corpus, podem servir como instrumento para o ensino de vocabulário de inglês como língua estrangeira?

Há uma série de publicações e trabalhos na área da Teoria da Metáfora Conceptual (Lakoff & Johnson, 1980; Deignan, 1999a e 1999b; Gibbs, 1993), e, atualmente, tenho notado um número crescente de pesquisas em Lingüística de Corpus na interface com a Teoria da Metáfora Conceptual (Berber Sardinha, 2002; Deignan, 1999a e 1999b; Cameron & Deignan, 2003; Charteris-Black, 2004; Markert & Nissim, 2003; Peters & Wilks, 2003; Wikberg, 2003;

Barnden, Lee et al, 2003a e 2003b), mas nenhuma que busque metáforas em um corpus de seriado de TV para futuros fins pedagógicos, como feito aqui.

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O presente estudo, dessa maneira, buscará contribuir para o crescimento da pesquisa em Teoria da Metáfora Conceptual na interface com a Lingüística de Corpus, através do levantamento de metáforas recorrentes em um corpus de estudo, como meio de, em estudos futuros, auxiliar a aprendizagem de vocabulário.

O leitor encontrará a presente pesquisa organizada da seguinte forma:

O Capítulo 1 discute a Fundamentação Teórica e discorre sobre a área da Lingüística de Corpus, enfatizando a linguagem como sistema probabilístico e a padronização da língua como meio de aprendizagem de uma língua estrangeira. Além disso, aborda os fundamentos da Teoria da Metáfora Conceptual segundo Lakoff & Johnson (1980), a fim de embasar a pesquisa no que diz respeito à análise de metáforas. Será também realizada, nesse capítulo, uma retrospectiva de estudos baseados na Teoria da Metáfora Conceptual em conjunto com a Lingüística de Corpus.

O Capítulo 2 apresenta a metodologia de pesquisa adotada neste estudo. Tanto o perfil do corpus de estudo como os procedimentos metodológicos de análise de dados e as ferramentas computacionais utilizadas nesta investigação serão detalhados.

O Capítulo 3 trata da apresentação e da análise dos dados. O leitor encontrará as análises referentes às metáforas lingüísticas levantadas por meio de instrumentos computacionais disponíveis no programa utilitário WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998), com base na Lingüística de Corpus e na Teoria da Metáfora Conceptual proposta por Lakoff e Johnson (1980/2002).

Além disso, o leitor observará a análise e a categorização das metáforas lingüísticas em metáforas conceituais neste mesmo capítulo.

As Considerações Finais encerram o corpo da dissertação.

Por fim, o leitor poderá encontrar as Referências Bibliográficas utilizadas para a feitura deste estudo.

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CAPÍTULO 01

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, será apresentado o embasamento teórico que sustenta esta pesquisa.

Primeiramente, serão apontados os princípios teóricos da Lingüística de Corpus, especialmente aqueles que dizem respeito à padronização da língua como meio de aprendizagem de uma língua estrangeira; neste caso, o inglês.

Em segundo lugar, serão abordados os fundamentos da Teoria da Metáfora Conceptual segundo Lakoff e Johnson (1980/2002), a fim de embasar a pesquisa no tocante à análise de metáforas propriamente dita.

Por fim, será apresentada uma retrospectiva de estudos realizados com base na Teoria da Metáfora Conceptual na interface com a Lingüística de Corpus.

1.1 Lingüística de Corpus

De acordo com o que foi mencionado no capítulo introdutório desta pesquisa, a Lingüística de Corpus é uma abordagem teórica metodológica importante para a realização desta investigação. Particularmente, no que diz respeito ao uso de ferramentas computacionais oferecidas por ela a fim de fazer o levantamento de metáforas lingüísticas presentes no corpus de estudo.

Primeiramente, torna-se fundamental discutir se a Lingüística de Corpus pode ser definida como uma abordagem teórica, como uma metodologia para a análise lingüística ou como ambas.

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Segundo o que nos propõe Leech (1992/2000), a Lingüística de Corpus:

‘pode ser definida não somente como uma nova metodologia […] para o estudo da linguagem, mas como uma nova empreitada de pesquisa e, na verdade, como uma nova abordagem filosófica.’

(Leech, 1992:106 apud Berber Sardinha, 2000:357)

A Lingüística de Corpus, portanto, não é somente uma metodologia que é usada como instrumento de análise de corpora, mas uma abordagem que parte de pressupostos teóricos e que abre novos rumos para a análise e a interpretação lingüística dos corpora armazenados em computador.

Biber et al (1998) definem Lingüística de Corpus pelo termo ‘abordagem baseada em corpus’. Isto é, para Biber et al (1998), a Lingüística de Corpus emprega abordagens quantitativas e qualitativas, fazendo com que o pesquisador utilize-se do computador para análise dos dados por meio de técnicas automáticas e interativas.

Assim sendo, pretende-se, neste estudo, sugerir uma maneira pela qual a Lingüística de Corpus pode ser empregada para servir arcabouço teórico e também como metodologia de levantamento das metáforas em uma pesquisa cuja preocupação é a busca das metáforas lingüísticas do corpus de estudo. Tudo isso visa à análise qualitativa das metáforas conceptuais reveladas pelas expressões lingüísticas anteriormente encontradas por meio de instrumentos computacionais.

1.1.1 Abordagem empirista, princípio idiomático da linguagem e abordagem corpus- driven/bottom-up

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A Lingüística de Corpus propõe uma abordagem empírica que parte da observação de dados lingüísticos por meio de ferramentas computacionais, propiciando, dessa forma, o levantamento de padrões da linguagem.

A relevância do levantamento de padrões nesta pesquisa deve-se ao fato de que os mesmos estão associados ao sentido das palavras, ou, segundo Hunston (2002:270), “a fraseologia, ou o padrão, é (…) central ao sentido da palavra e não pode ser tratado de forma separada dele” (tradução minha). 1

É importante retomar, aqui, o que Hunston (2000:37 apud Berber Sardinha, 2004a:39) diz a respeito da padronização da língua. Segundo Hunston (2000), a busca de evidências de que o léxico seja padronizado, ou seja, de que haja uma regularidade nos tipos de associação a que se submetem as palavras de uma língua atrai muito a atenção dos lingüistas de corpus.

Os padrões de uma palavra podem ser definidos como todas as palavras e estruturas com as quais são regularmente associados e que contribuam para seu significado. Um padrão pode ser identificado se uma combinação de palavras ocorre com relativa freqüência, se é dependente de uma palavra específica, e se há um significado claro associado.

(Hunston, 2000:37 apud Berber Sardinha, 2004a:39-40)

Hoey (1997) acrescenta, ainda, que a área de descrição de padrões ocupa-se de questões como:

¾ Quais os padrões lexicais dos quais as palavras fazem parte?

¾ A palavra se associa regularmente com outros sentidos específicos?

1 ‘The phraseology, or pattern, is… central to the meaning of the word and cannot be treated as separate from it.’

Hunston (2002:270)

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¾ Em quais estruturas ela aparece?

¾ Há uma correlação entre uso/sentido da palavra e as estruturas das quais ela participa?

¾ A palavra está associada com uma certa posição na organização textual?

(Hoey,1997:03 apud Berber Sardinha, 2004a:40)

As questões citadas acima são relevantes nesta pesquisa, pois dizem respeito à padronização como uma regularidade que ocorre, co-ocorre e recorre na sistematicidade da língua através de unidades lexicais, gramaticais, sintáticas, etc. Essas padronizações referem-se aos seguintes conceitos:

1) Colocação: “associação entre itens lexicais, ou entre o léxico e campos semânticos. Por exemplo, em termos lexicais, stark associa-se por meio da apresentação de colocados a contrast; sheer, a scale, number e force” (Partington, 1998). “Em termos de campos semânticos, jam relaciona-se com itens do campo dos alimentos: tarts, butty e doughnuts.” (Moon, 1998:27 apud Berber Sardinha, 2004a:40).

Abaixo, pode-se observar alguns colocados extraídos do corpus de estudo desta pesquisa, que se associam à palavra-chave love. Deve-se entender por L1, L2, L3, ... a posição à esquerda da palavra nódulo love e por R1, R2, R3, … a posição à direita da palavra nódulo.

N WORD TOTAL LEFT RIGHT L5 L4 L3 L2 L1 * R1 R2 R3 R4 R5

1 LOVE 349 18 18 4 9 3 1 1 313 2 1 3 8 4

2 I 266 208 58 20 10 13 16 149 0 0 10 21 15 12

3 YOU 202 79 123 16 15 16 14 18 0 79 10 7 12 15

4 AND 76 31 45 8 9 5 8 1 0 3 13 10 12 7

5 ROSS 69 27 42 8 6 8 5 0 0 1 15 8 5 13

6 THAT 56 27 29 5 11 3 8 0 0 17 2 6 1 3

7 IN 52 45 7 0 3 0 1 41 0 1 2 1 1 2

8 WITH 49 7 42 4 1 1 0 1 0 33 2 3 2 2

9 RACHEL 48 20 28 3 4 5 8 0 0 2 8 7 5 6

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10 THE 48 23 25 4 4 7 4 4 0 5 5 1 7 7

11 OH 47 26 21 4 6 7 9 0 0 0 3 10 4 4

Quadro 1: Listagem parcial dos colocados da palavra-chave love

Assim sendo, por meio da extração de colocados da palavra-chave love é possível notar que um padrão de colocados freqüente é, por exemplo: “I love” ou “I love Ross”.

2) Coligação: “associação entre itens lexicais e gramaticais. Por exemplo, start é mais comum com sintagmas nominais e orações –ing, enquanto begin é mais usado com um complemento to.” (Biber et al, 1998 apud Berber Sardinha, 2004a:40).

3) Prosódia Semântica: “associação entre itens lexicais e conotação (negativa, positiva ou neutra) ou instância avaliativa. O nome é devido ao fato de certas palavras prepararem o ouvinte, ou o leitor, para o conteúdo semântico que está por vir, da mesma maneira que a prosódia na fala indica, para o interlocutor, que tipos de sons estão por vir a seguir”

(Hoey, 1997:04). “Por exemplo, cause tem uma prosódia semântica negativa, pois associa-se a palavras desfavoráveis, como problem(s), damage, death(s), disease, concern e cancer. Já provide possui uma prosódia semântica positiva ou neutra, uma vez que se associa a palavras desse tipo, tais como assistance, care, jobs, opportunities e training”

(Stubbs,1996 apud Berber Sardinha, 2004a:41).

A definição de colocação apresentada por Firth (1957) é a mais utilizada nas pesquisas baseadas em corpus. Aqui, cabe citar o que Firth (1957/2004a) diz a respeito do conceito de colocação: ‘uma palavra deve ser julgada por sua companhia’ (tradução de Berber Sardinha, 2004a:41).

Neste estudo, será enfocado o conceito da colocação, visto que o mesmo torna-se fundamental quando o pesquisador deseja encontrar as metáforas lingüísticas e categorizá-las em metáforas conceptuais. Isto é, o pesquisador observa quais são os colocados da palavra de busca e, a partir disso, reflete e analisa as possíveis expressões candidatas a metáforas lingüísticas que revelarão as metáforas conceptuais propostas por Lakoff e Johnson (1980/2002), apresentadas na seção 1.2 deste capítulo.

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A Lingüística de Corpus ainda se caracteriza pela descrição de quais agrupamentos lexicais são realmente empregados pelos falantes, isto é, atestados pelo uso. Para Sinclair (1991), essa perspectiva concretizou-se em um princípio de entendimento da linguagem chamado de

‘idiomático’ (The idiom principle). Segundo esse princípio, o usuário de uma língua tem à sua disposição ‘um grande número de frases pré- ou semi-construídas, que se constituem em escolhas’ (Sinclair,1991:110).

A noção do princípio idiomático diz respeito ao trabalho de Pawley & Syder (1983), para quem a ‘naturalidade’ e a percepção da ‘fluência’ na produção do falante nativo devem-se, em boa medida, ao emprego de um grande número de expressões pré-fabricadas e à união destas em seqüências maiores. Com base nesse princípio, Nattinger & DeCarrico (1992) produziram um levantamento de frases idiomáticas, visando ao ensino e à aprendizagem de línguas.

Além disso, pode-se dizer que esta pesquisa inicia-se com uma abordagem corpus-driven ou bottom-up, uma vez que este estudo utiliza a Lingüística de Corpus como uma abordagem teórica metodológica que é capaz de nos fornecer ferramentas para fazer o levantamento e a investigação das realizações lingüísticas metafóricas presentes no corpus de estudo. Isto é, esta pesquisa fundamenta-se em uma análise lingüística que parte dos dados encontrados no corpus de estudo e, desse modo, dizemos que isso é realizado de forma indutiva. No entanto, isso não significa que o pesquisador não seja importante no desenvolvimento desse tipo de pesquisa. Ao contrário, o pesquisador, imbuído de todo o seu conhecimento, torna-se peça importante no momento em que há a análise lingüística qualitativa dos dados levantados por meio da investigação corpus-driven / bottom-up. Nesse sentido, não lançarei mão de metáforas lingüísticas previamente selecionadas para esta pesquisa, visto que isso não caracterizaria uma pesquisa realizada em uma abordagem corpus-driven / bottom-up, como a que é proposta neste estudo.

Tomando-se por base uma abordagem corpus-driven, diz Sinclair (2001:350), um pesquisador deve se tornar capaz de observar aspectos da linguagem a fim de extrair evidências a respeito dos padrões regulares nela existentes.

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1.1.2 O uso do computador para análise lingüística em Lingüística de Corpus

Sinclair (1991) afirma que, cada vez mais, os pesquisadores da linguagem estão se conscientizando de que um corpus como amostra da linguagem em uso, acessada por meio de computadores sofisticados, abre novos horizontes. Através de grandes quantidades de dados mantidos no computador, pode-se analisar e interpretar a língua falada e escrita de forma natural, ou seja, da forma como ela realmente é usada pelos seus falantes nativos. “Isso não poderia ser realizado pelo ser humano, uma vez que o homem não conseguiria discernir sobre o que é fundamental e típico na linguagem”, porque, muito embora consigamos perceber aquilo “que nos causa estranhamento imediatamente, o que é mais comum na linguagem cotidiana é apreciado subliminarmente” (Sinclair & Renouf, 1988:151).

Dessa maneira, podemos ter acesso a informações sobre a linguagem muito mais confiáveis, mantidas em computador, no que diz respeito às evidências da padronização da linguagem, uma vez que a Lingüística de Corpus torna possível a análise de dados da linguagem autêntica, armazenados em grandes quantidades em corpora e acessados por instrumentos computacionais (Sinclair, 1991:37).

1.1.3 Definição de Corpus

Uma importante questão na área de Lingüística de Corpus diz respeito à definição de corpus. Um corpus, apesar de ser considerado “uma coletânea de dados lingüísticos naturais, legíveis por computador”, segundo Berber Sardinha (2004a:16), não pode ser confundido com quaisquer acervos de dados mantidos em computador, por apresentar características peculiares.

A fim de compreender as diferenças que existem entre esses vários acervos de dados computadorizados, cito as seguintes definições:

Arquivo: “depósito de textos sem organização prévia”.

Biblioteca eletrônica: “coleção que segue alguns critérios de seleção”.

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Corpus: “uma parte da biblioteca eletrônica, construído a partir de um desenho explícito, com objetivos específicos”.

Subcorpus: “uma parte de um corpus, pode ser fixa ou mutável (dinâmica, isto é, flexível durante a análise)”.

Berber Sardinha (2004a:16)

Ao longo dos anos, várias definições foram atribuídas ao que poderia ser considerado um corpus. No entanto, nenhuma delas conseguiu abarcar todas as principais características de um corpus como a que foi apresentada por Sanchez (1995), citada no capítulo introdutório desta pesquisa e retomada abaixo:

‘Um conjunto de dados lingüísticos (pertencentes ao uso oral ou escrito da língua, ou a ambos), sistematizados segundo determinados critérios, suficientemente extensos em amplitude e profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade do uso lingüístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de tal modo que possam ser processados por computador, com a finalidade de propiciar resultados vários e úteis para a descrição e análise.’

Sanchez (1995:8-9)

Segundo Berber Sardinha (2004a), a definição acima é a mais completa devido a vários fatores como:

A origem: “os dados devem ser autênticos”.

O propósito: “o corpus deve ter a finalidade de ser um objeto de estudo lingüístico”.

A composição: “o conteúdo do corpus deve ser criteriosamente escolhido”.

A formatação: “os dados do corpus devem ser legíveis por computador”.

A representatividade: “o corpus deve ser representativo de uma língua ou variedade”.

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A extensão: “o corpus deve ser vasto para ser representativo”.

Berber Sardinha (2004a:16-17)

Portanto, é importante que o pesquisador selecione um corpus de forma criteriosa e que observe se está trabalhando com um corpus que contenha dados autênticos. Para tanto, o corpus deve conter dados que possam ser ‘lidos’ por um computador e que representem uma comunidade lingüística, sendo extenso para que dê conta dos propósitos de uma pesquisa.

Hunston (2002) define um corpus quanto à sua forma e ao seu propósito. Um corpus deve, segundo a autora, dar margem a uma pesquisa quantitativa e/ou qualitativa, visto que o propósito não está somente em lê-lo como um texto disponibilizado por uma biblioteca ou por um arquivo eletrônicos. Ao contrário, um corpus é formado com o propósito de ser uma fonte de dados lingüísticos eletrônicos que podem ser analisados e interpretados por um pesquisador (tradução minha).2

Sendo assim, os critérios para a definição de um corpus, citados anteriormente nesta seção, devem ser cuidadosamente observados. Um corpus computadorizado deve ser formado a partir das características acima mencionadas, para que possa ser utilizado na Lingüística de Corpus como objeto de análise e/ou descrição da linguagem.

Portanto, o corpus de estudo desta pesquisa é adequado aos fins aos quais se propõe, uma vez que, apesar de não ser composto por dados naturais, não foi criado para propósitos de análise lingüística. Será analisado por meio de ferramentas computacionais em uma abordagem quantitativa, a fim de se levantar os dados (metáforas lingüísticas) necessários ao pesquisador para a análise lingüística.

2 ‘A corpus is defined in terms of both its form and its purpose. Linguistics have always used the word corpus to describe a collection of naturally occurring examples of language, consisting of anything from a few sentences to a set of written texts or tape recordings, which have been collected for linguistic study. The corpus is stored in such a way that it can be studied non- linearly, and both quantitatively and qualitatively. The purpose is not simply to access the texts in order to read them, which again distinguishes the corpus from the library and the archive.’ Hunston (2002:02)

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A Teoria da Metáfora Conceptual que é utilizada, nesta investigação, como suporte teórico para a análise qualitativa dos dados do corpus de estudo, será apresentada a seguir.

1.2 Teoria da Metáfora Conceptual

De acordo com Lakoff (1993), desde a época de Aristóteles a metáfora era compreendida como um simples ornamento que pertencia ao âmbito da linguagem e não ao do pensamento. A metáfora não era usada na linguagem da vida cotidiana, pois esse tipo de linguagem era considerado literal (Lakoff, 1993:202).

A visão clássica da metáfora como figura de linguagem referia-se a uma teoria que foi mantida ao longo do tempo como algo definitivo e inquestionável, segundo Lakoff (1993:202).

Sendo assim, Zanotto (1995:211) argumenta que a metáfora era vista como figura de retórica:

‘é um desvio da linguagem usual e próprio de linguagens especiais, como a poética e a persuasiva, enquanto o literal é próprio da linguagem da ciência, porque não é ambíguo, é claro, distinto e preciso. Assim, na visão do racionalismo aristotélico e cartesiano, a oposição literal-metafórico é muito forte. A ciência se faz com a razão e o literal, enquanto a poesia se faz com a imaginação e a metáfora.’

Na tradição retórica, a metáfora era considerada “um desvio da linguagem usual e própria de linguagens especiais, como a poética e a persuasiva”, de acordo com o que foi citado acima por Zanotto (1995). Além disso, a metáfora não era vista como fazendo parte do discurso científico, visto que o mesmo utilizava-se da “linguagem literal, considerada, então, clara, precisa e determinada”. Assim, a ciência baseava-se na razão e no literal, enquanto que a poesia utilizava-se da metáfora como figura de linguagem (Lakoff & Johnson, 1980/2002).

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O ‘mito do objetivismo’, “um termo genérico que abrange o Racionalismo Cartesiano, o Positivismo Lógico, enfim, todas as correntes da filosofia ocidental”, segundo Zanotto et al (Lakoff & Johnson, 1980/2002), faz uso da metáfora como figura de linguagem na poesia, uma vez que a linguagem do cotidiano somente fazia refletir as verdades inquestionáveis e a realidade objetiva daquela época. Desse modo, a metáfora era simplesmente um item figurativo da retórica/poesia que não encontrava espaço para despontar e ser pesquisada como parte da vida cotidiana (Lakoff & Johnson, 1980/2002:11).

No entanto, de acordo com os cientistas cognitivos e lingüistas, essa visão poética/retórica da metáfora não poderia ser algo definitivo e simplesmente tido como verdadeiro para sempre.

Deveria haver algo ainda desconhecido por trás da teoria da metáfora.

Lakoff (1993) ressalta que Reddy (1979/1993), em seu artigo ‘A metáfora do canal’, traz à tona a teoria contemporânea, em que “a metáfora é conceptual, convencional, e faz parte do sistema do pensamento e linguagem, onde o inglês cotidiano é amplamente metafórico”. Segundo ele, “nosso comportamento diário reflete nossa compreensão metafórica da experiência” (Reddy, 1979/1993:203).

Lakoff (1993) afirma que Reddy (1979) analisou vários enunciados através de características que dizem respeito à maneira como conceptualizamos o conceito da comunicação por meio de metáforas. A partir daí, muitos lingüistas e cientistas cognitivos começaram a estudar e pesquisar sobre a metáfora, que serve como base para nossas ações cotidianas e que é algo subjacente à linguagem (Lakoff, 1993:204).

Surge, dessa forma, a Teoria da Metáfora Conceptual (Lakoff & Johnson, 1980; Lakoff, 1977; Lakoff, 1975; Lakoff, 1972, etc.), que afirma que a metáfora rege nossas vidas por estar presente em nosso cotidiano (na maneira como expressamos o que pensamos por meio da linguagem), uma vez que muito daquilo que pensamos é estruturado metaforicamente. Fazemos mapeamentos conceptuais utilizando nosso conhecimento a respeito de um domínio para determinar a compreensão de um outro domínio até então incompreendido por nós. Assim sendo, o princípio do mapeamento conceptual, que era aplicado somente na linguagem poética/retórica

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no passado, torna-se fundamental para que possamos compreender a linguagem cotidiana (Lakoff, 1993).

A metáfora não é mais vista somente como um instrumento retórico usado para a comunicação, mas sim, como uma capacidade mental fundamental através da qual as pessoas compreendem a si e o mundo pelo mapeamento conceptual do conhecimento de um domínio para outro, afirma Gibbs (1994).

Desse modo, a definição de metáfora mais atual afirma que a metáfora pode ser entendida como um mapeamento entre domínios que faz parte de um sistema conceptual; segundo Lakoff (1993: 203), ‘A cross-domain mapping in the conceptual system.’

Isto é, a metáfora é um mapeamento entre domínios pertencentes ao sistema conceptual, legitimado por uma comunidade lingüística. Dessa forma, a metáfora diz respeito à maneira como conceptualizamos um domínio em termos de outro, de acordo com Lakoff (1993).

Os mapeamentos entre domínios são realizados por meio de expressões lingüísticas ou metáforas lingüísticas, que são determinadas a partir de uma palavra, um enunciado ou uma frase que revelam a maneira como pensamos e agimos em uma comunidade (Lakoff, 1993). Mais especificamente, as metáforas lingüísticas são manifestações / representações lingüísticas dos conceitos metafóricos (metáforas conceptuais) de nossa vida cotidiana (Kövecses, 2002).

Lakoff (1993:206) ressalta que a metáfora envolve a compreensão de um domínio de experiência, como por exemplo, o amor, em termos de um domínio muito diferente de experiência, as viagens (vide exemplos adiante). Essa metáfora pode ser entendida como um mapeamento de um domínio fonte (nesse caso, as viagens) para um domínio alvo (nesse caso, o amor).

Segundo Lakoff (1993), há correspondências ontológicas, de acordo com as entidades no domínio do amor (os amantes, as dificuldades, o relacionamento amoroso, etc.), que

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correspondem sistematicamente às entidades no domínio de uma viagem (os viajantes, o veículo, o destino, etc.).

Por exemplo, o mapeamento metafórico que há entre o domínio fonte (VIAGEM) e o domínio alvo (AMOR) torna-se possível de ser realizado devido às correspondências conceptuais que ocorrem entre os mesmos. Quando pensamos / falamos em viagens, já temos um esquema3 em nossa mente, isto é, sabemos de antemão que o domínio das viagens é composto pelos viajantes, pelo veículo, pelo destino e pelas dificuldades que podem acontecer durante o trajeto.

Então, fazemos correspondências conceptuais do domínio fonte (viagens) para o domínio alvo (amor). Daí, surgem os amantes, a relação amorosa, o objetivo final e os conflitos como partes integrantes do domínio do amor e que são correspondentes aos itens citados no domínio das viagens. Portanto, segundo Kövecses (2002), podemos fazer uso de um domínio concreto (viagens), que tem por base as nossas experiências física, emocional e mental, para que possamos compreender um domínio mais abstrato, nesse caso o amor.

Lakoff e Johnson (1993 apud Lakoff & Johnson, 1980/2002) utilizaram-se da seguinte fórmula como uma estratégia mnemônica para nomear e nos fazer lembrar de tais domínios / mapeamentos: DOMÍNIO ALVO É DOMÍNIO FONTE, ou alternativamente, DOMÍNIO ALVO COMO DOMÍNIO FONTE. O mapeamento existente entre os domínios AMOR e VIAGEM é nomeado AMOR COMO VIAGEM. Assim sendo, quando Lakoff (1993) se refere à metáfora conceptual AMOR COMO VIAGEM, ele faz uso de um sistema mnemônico para um conjunto de correspondências ontológicas que caracterizam um mapeamento como o que segue descrito abaixo:

Mapeamento da metáfora conceptual AMOR COMO VIAGEM

Os amantes correspondem aos viajantes

O relacionamento amoroso corresponde ao veículo

Os objetivos comuns dos amantes correspondem ao destino comum deles em suas jornadas

As dificuldades no relacionamento amoroso correspondem aos impedimentos para viajar

3Schema diz respeito aos conceitos da vida cotidiana, segundo Bensoussan, (1998)

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O mapeamento, portanto, é um conjunto de correspondências, segundo Lakoff (1993).

Dessa forma, diz Lakoff (1993:207), sempre que nos referimos a uma metáfora por meio da forma mnemônica, como por exemplo, AMOR É UMA VIAGEM, estaremos nos referindo a um conjunto de correspondências.

Conseqüentemente, as metáforas são compreendidas por meio de mapeamentos, ou seja, através de conjuntos de correspondências conceptuais e não simplesmente por intermédio de uma palavra ou expressão (Lakoff, 1993:207). Assim, um conjunto de expressões lingüísticas que realizam várias correspondências conceptuais entre os domínios alvo e fonte revela uma mesma metáfora conceptual, como no caso da metáfora AMOR COMO VIAGEM. Observemos abaixo alguns exemplos de metáforas lingüísticas que caracterizam a metáfora conceptual AMOR É UMA VIAGEM, segundo Lakoff e Johnson (1980/2002:104), em inglês, traduzido por Zanotto et al (2002) para o português:

Conceito metafórico:

AMOR É UMA VIAGEM

Expressões lingüísticas que evidenciam o conceito metafórico acima citado:

‘Veja a que ponto chegamos.’ (Look how far we’ve come.)

‘Estamos numa encruzilhada.’ (We’re at a crossroads.)

‘Teremos que simplesmente seguir caminhos separados.’ (We’ll just have to go our separate ways.)

‘Não podemos voltar atrás agora.’ (We can’t turn back now.)

‘Eu acho que essa relação não vai dar em lugar nenhum.’ (I don’t think this relationship is going anywhere.)

‘Onde nós estamos?’ (Where are we?)

‘Estamos parados.’ (We’re stuck.)

‘Tem sido uma estrada longa e esburacada.’ (It’s been a long, bumpy road.)

‘Esta relação é um beco sem saída.’ (This relationship is a dead-end street.)

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‘Estamos simplesmente girando em falso.’ (We’re just spinning our wheels.)

‘O nosso casamento está encalhado.’ (Our marriage is on the rocks.)

‘Saímos do trilho.’ (We’ve gotten off the track).

‘Esta relação está afundando.’ (This relationship is foundering.)

Nos exemplos acima, a metáfora central, segundo Lakoff e Johnson (1980/2002:104), é a da viagem, pois vários meios de viagem (viagem de automóvel, de navio, de trem, etc.) são mencionados e a partir disso compreendemos o amor. E apesar de haver vários tipos de viagens, as metáforas lingüísticas citadas acima revelam a mesma metáfora conceptual, isto é, a metáfora

AMOR COMO VIAGEM.

Aceitamos todas as metáforas lingüísticas citadas anteriormente (que revelam a metáfora conceptual AMOR COMO VIAGEM) porque as correspondências metafóricas existentes entre os domínios fazem parte do sistema conceptual de nossa vida cotidiana (Lakoff, 1993:210).

Segundo Lakoff (1993), existe, nessas correspondências conceptuais, uma categoria superordenada (viagens, por exemplo), que diz respeito ao veículo, que inclui várias outras categorias de nível básico (meios de locomoção, nesse caso). No caso da metáfora AMOR É UMA VIAGEM, a relação amorosa é compreendida por meio daquilo que pertence à categoria superordenada de viagem, como por exemplo: um carro, um trem, um avião, um barco, etc. Esses meios de locomoção fazem parte das categorias de nível básico da categoria superordenada (viagens) e permitem que nós compreendamos o amor (domínio alvo) em termos de viagens (domínio fonte) (Lakoff, 1993:212).

Aplicamos o que conhecemos a respeito de viagens ao conceito do amor e, dessa forma, fazemos as correspondências conceptuais existentes entre esses dois domínios. Fazemos uso de uma categoria superordenada, que abarca os vários níveis de uma categoria básica, a fim de estruturar nosso pensamento de acordo com o que nos é ditado pelos conceitos metafóricos e, assim, compreender certos conceitos por meio do que já conhecemos sobre outros, partindo do domínio fonte para o domínio alvo.

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A partir do arcabouço teórico que diz respeito às metáforas conceptuais, faz-se necessário detalhar os vários tipos de metáforas existentes na vida cotidiana. Assim sendo, será apresentado, na seção a seguir, um estudo realizado por Lakoff e Johnson (1980/2002) a respeito das várias metáforas conceptuais, para que possamos compreender a Teoria da Metáfora Conceptual por completo.

1.2.1 Tipos de metáforas da vida cotidiana

A partir da Teoria da Metáfora Conceptual contemporânea, torna-se importante investigar e compreender os vários tipos de metáforas existentes e utilizadas nas diversas comunidades lingüísticas. Assim sendo, Lakoff e Johnson (1980/2002) decidem estudar os vários tipos de metáforas por meio de enunciados ilustrativos em inglês (não empíricos) da vida cotidiana.

Nessa seção, serão apresentados os tipos de metáforas presentes na vida cotidiana, segundo o que Lakoff e Johnson (1980/2002) nos propõem em sua obra.

1) Metáforas Orientacionais: São aquelas que “organizam todo um sistema de conceitos em relação a um outro e que estruturam esses conceitos linearmente; isto é, são aquelas estruturadas com orientação espacial a um conceito do tipo: para cima – para baixo, dentro – fora, frente – trás, em cima de – fora de (on-off), fundo – raso, central – periférico.” (Lakoff &

Johnson, 1980/2002:59-60).

As metáforas orientacionais dão a um conceito uma orientação espacial, como é o caso de:

FELICIDADE É PARA CIMA e TRISTEZA É PARA BAIXO, segundo Lakoff e Johnson (1980/2002). O que Lakoff e Johnson (1980/2002) nos dizem é que existe uma sistematicidade externa geral ligando as várias metáforas de espacialização, fato que gera coerência entre elas. Assim, tudo que indica COISAS BOAS é PARA CIMA, e tudo que se refere às COISAS RUINS dá uma orientação PARA BAIXO. E tais conceitos nos levam às seguintes expressões lingüísticas, apresentadas em inglês por Lakoff e Johnson (1980) e traduzidas para a língua portuguesa por Zanotto et al, (2002):

‘Estou me sentindo para cima.’ (I’m feeling up)

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‘Você está de alto astral.’ (You’re in high spirits.)

‘Estou deprimido.’ (I’m depressed.)

‘Ele está mesmo para baixo estes dias.’ (He’s really low these days.)

Tais orientações metafóricas não são arbitrárias, visto que têm uma base na nossa experiência física e cultural. Embora as oposições binárias para cima – para baixo, dentro – fora etc., sejam físicas em sua natureza, as metáforas orientacionais baseadas nelas podem variar de uma cultura para outra. Por exemplo, em algumas culturas, o futuro está diante de nós (como na cultura brasileira), enquanto que em outras, está atrás de nós.

2) Metáforas Ontológicas: São aquelas que “nos permitem compreender nossas experiências em termos de objetos e substâncias, e dessa maneira, selecionar partes de nossa experiência e tratá-las como entidades discretas ou substâncias de uma espécie uniforme. Uma vez que podemos identificar nossas experiências como entidades ou substâncias, podemos referir- nos a elas, categorizá-las, agrupá-las e quantificá-las – e, dessa forma, raciocinar sobre elas.”

(Lakoff & Johnson 1980/2002:75-76).

Segundo Lakoff e Johnson (1980/2002), as metáforas ontológicas servem a vários propósitos e as diferenças que existem entre elas refletem os diferentes fins. Consideremos a experiência de aumento de preços, que pode ser vista metaforicamente como uma entidade por meio do substantivo inflação. A metáfora ontológica INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE fornece um meio de nos referirmos à experiência, como é possível observar nos exemplos em inglês de Lakoff e Johnson (1980), traduzidos para o português por Zanotto et al (2002:76):

‘A inflação está abaixando o nosso padrão de vida.’ (Inflation is lowering our standard of living.)

‘Precisamos combater a inflação.’ (We need to combat inflation.)

Tomamos atitudes em relação à maneira como lidamos com a inflação, por exemplo, e a tratamos como uma entidade a partir do momento em que precisamos compreendê-la e fazer uso

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da mesma em nosso cotidiano de uma forma mais racional. Observemos a seguinte citação de Lakoff e Johnson (1980/2002:77):

‘Conceber a inflação como uma entidade, faz com que possamos nos referir a ela, quantificá-la, identificar um aspecto particular dela, vê-la como uma causa, agir em relação a ela, e talvez, até mesmo, acreditar que nós a compreendemos. As metáforas ontológicas como essa são necessárias para tentar lidar racionalmente com nossas experiências.’

(Lakoff & Johnson, 1980 apud Zanotto et al, 2002:77)

As metáforas ontológicas subdividem-se em:

a) Metáforas de Recipientes b) Metáforas de Personificação

a) Metáforas de Recipientes: São aquelas metáforas “usadas para que possamos compreender eventos, ações, atividades e estados, sendo que eventos e ações são metaforicamente conceptualizados como objetos, atividades como substâncias, estados como recipientes. Uma corrida, por exemplo, é um evento, que é visto como uma entidade discreta. A corrida existe no tempo e no espaço e tem demarcações bem definidas. Assim, nós a vemos como um OBJETO RECIPIENTE, tendo dentro de si participantes (que são objetos), eventos como o início e o fim (que são objetos metafóricos) e a atividade de correr (que é uma substância metafórica).” (Lakoff &

Johnson, 1980/2002:83).

Cito os seguintes enunciados a respeito de uma corrida, segundo Lakoff e Johnson (1980) em inglês, traduzidos por Zanotto et al (2002:83) para o português:

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‘Você está na corrida no Domingo?’ (Are you in the race on Sunday?) (Corrida como

OBJETO RECIPIENTE)

‘Você vai à corrida?’ (Are you going to the race?) (Corrida como OBJETO)

‘Você viu a corrida?’ (Did you see the race?) (Corrida como OBJETO)

Atividades de um modo geral são vistas metaforicamente como SUBSTÂNCIAS e, conseqüentemente, como RECIPIENTES:

‘Como Jerry escapou de lavar as janelas?’ (How did Jerry get out of washing the windows?)

Além disso, “as atividades são vistas como recipientes para ações e para outras atividades que as constituem. Elas são percebidas como recipientes para a energia e os materiais que elas exigem e para os seus derivados (por exemplo, satisfação), que podem ser vistos como estando dentro delas ou saindo delas” (Lakoff & Johnson, 1980/2002:84):

‘Eu coloco muita energia na lavagem de janelas.’ (I put a lot of energy into washing the windows.)

‘Há muita satisfação na lavagem de janelas.’ (There is a lot of satisfaction in washing windows.)

Muitos outros estados podem também ser conceptualizados como recipientes. Lakoff e Johnson (1980) citam alguns enunciados em inglês e Zanotto et al (2002:85) traduzem os mesmos enunciados para a língua portuguesa:

‘Ele está em estado de amor.’/ ‘Ele está apaixonado.’ (He’s in love.)

‘Estamos fora de perigo agora.’ (We’re out of trouble now.)

b) Metáforas de Personificação: São aquelas que “nos permitem compreender uma grande variedade de experiências concernentes a entidades não-humanas em termos de

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motivações, características e atividades humanas”, segundo Lakoff e Johnson (1980) em inglês, com tradução de Zanotto et al (2002:87) para o português. Exemplos:

‘Este fato ataca as teorias clássicas.’ (This fact argues against the standard theories.)

‘A vida me trapaceou.’ (Life has cheated me.)

A personificação é, segundo Lakoff e Johnson (1980/2002), “uma categoria geral que cobre uma enorme gama de metáforas, cada uma selecionando aspectos diferentes de uma pessoa ou modos diferentes de considerá-la” (Lakoff & Johnson, 1980/2002:88-89).

Nesse sentido, todo esse conjunto de metáforas que diz respeito à personificação permite- nos compreender as experiências de nosso cotidiano a partir de características e ações humanas.

Segundo Lakoff e Johnson (1980/2002), portanto, é possível conceber algo abstrato como a inflação por meio de características humanas quando estamos passando por crises econômicas, por exemplo. Dessa forma, conseguimos entender de modo racional que a INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO e que a mesma leva nosso dinheiro embora, faz-nos perder dinheiro, etc.

No entanto, ao falarmos que ‘A inflação roubou minhas economias’, não estamos fazendo uso da personificação, mas de uma entidade que é utilizada para que possamos nos referir a outra associada a ela. Esse processo é chamado de metonímia, segundo Lakoff e Johnson (1980/2002:91-92).

Lakoff e Johnson (1980/2002) também citam os conceitos metonímicos que emergem de correlações, em nossa experiência, entre duas entidades físicas (PARTE PELO TODO, OBJETO PELO USUÁRIO), ou entre uma entidade física e algo metaforicamente conceptualizado como uma entidade física (LUGAR PELO EVENTO, INSTITUIÇÃO PELA PESSOA RESPONSÁVEL).

Observemos alguns exemplos estudados por Lakoff e Johnson (1980) e traduzidos por Zanotto et al (2002:92):

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‘Ele gosta de ler o Marquês de Sade.’ (= o que o Marquês escreveu) (He likes to read the Marquis de Sade.)

‘Ele está na dança.’/ ‘Ele dança.’ (= na profissão da dança) (He’s in dance.)

‘O acrílico invadiu o mundo da arte.’ (= o uso de tinta acrílica) (Acrylic has taken over the art world.)

‘O Times ainda não chegou à coletiva.’ (= o repórter da Times) (The Times hasn’t arrived at the press conference yet.)

‘Mrs. Grundy faz cara feia para jeans.’ (= o vestir jeans) (Mrs. Grundy frowns on blue jeans.)

‘Novos limpadores de pára-brisa o deixarão satisfeito.’ (= o fato de ter limpadores de pára-brisa novos) (New windshield wipers will satisfy him.)

Nesta seção, foi apresentada a definição de vários tipos de metáforas conceptuais estudadas por Lakoff e Johnson (1980).

A seguir, será apresentada uma retrospectiva sobre os estudos que têm por base a Teoria da Metáfora Conceptual e a Lingüística de Corpus como suporte argumentativo para a realização desta pesquisa.

1.3 Retrospectiva dos Estudos com base na Teoria da Metáfora Conceptual e na Lingüística de Corpus

Nesta seção, serão revisados os principais estudos realizados com base na Teoria da Metáfora Conceptual em conjunto com a Lingüística de Corpus, a fim de fazer uma retrospectiva que sirva como suporte à presente pesquisa, levando-se em conta uma ordem de apresentação das publicações (por grupo de autores/pesquisadores) quanto a sua relevância para o delineamento deste trabalho.

O primeiro trabalho que traz uma contribuição importante para a área dos estudos da linguagem realizados por meio da Teoria da Metáfora Conceptual e da Lingüística de Corpus e, conseqüentemente, para a presente dissertação, é o de Deignan (1999a). A autora tem por

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objetivo mostrar como uma abordagem metodológica baseada em corpus pode ser utilizada na identificação de expressões metafóricas em inglês.

Deignan (1999a) apresenta uma pesquisa sobre expressões lingüísticas convencionalizadas que podem indicar metáforas. Nela, encontram-se observações feitas sobre metáforas a partir das concordâncias de uma dada palavra (shreds, heated, deep, shoulder, etc). A análise dos dados mostrou que é possível realizar uma pesquisa a partir de dados reais, tendo por base a análise em corpus, a fim de se encontrar metáforas lingüísticas convencionalizadas.

De acordo com Deignan (1999a), um corpus computadorizado pode fazer com que o pesquisador detecte padrões de uso da língua mais rapidamente do que através do uso de sua intuição ou da análise de textos isolados. Seu estudo inspira-se no que Sinclair (1991) disse a respeito do grande contraste existente entre as impressões sobre os detalhes da língua observadas pelas pessoas e a evidência compilada de textos. Isto é, grandes quantidades de textos autênticos compilados por computador podem mostrar detalhes da língua que um falante não poderia observar em seu cotidiano, pelo fato de não conseguir guardar tanta informação em sua memória e pelo fato de fazer uso de expressões lingüísticas corriqueiramente em seu cotidiano intuitivamente, ou sem se questionar sobre o que tais expressões podem significar.

O segundo estudo refere-se à pesquisa realizada por Deignan (2003). Nesse estudo, Deignan (2003) afirma que as expressões metafóricas variam de uma língua para outra e que são consideradas ‘contêineres de relicários culturais’ e/ou metáforas complexas. Nesse caso, as metáforas complexas têm uma base mais cultural que física, como ocorre com as metáforas orientacionais. Por esse motivo, as metáforas complexas diferem de cultura para cultura e são como relicários, ou seja, como algo que é precioso, raro e que é mantido e preservado durante muito tempo em uma determinada cultura.

Deignan (2003) tem por objetivo mostrar as maneiras pelas quais as metáforas podem ser explicadas através das diferenças culturais em domínios fonte (experienciais) específicos em uma determinada língua em contraste com outras. A autora investiga esses mecanismos mais

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detalhadamente a partir de um corpus do Banco de Inglês, composto por 450 milhões de palavras do inglês escrito e falado.

Através da concordância das palavras: horse, horses, horsing, car, cars, cart, carts, warhorse, warhorses, workhorse e workhorses, Deignan (2003) observa o uso literal e figurado dos dados por meio das colocações e dos padrões sintáticos dessas palavras. Sendo assim, a autora conclui que “muitas expressões metafóricas são históricas e aludem a um conhecimento que ainda é compartilhado pelos membros de uma comunidade, mesmo que não mais vivenciados / experienciados diretamente” (tradução minha).

O terceiro estudo a ser apresentado nesta pesquisa diz respeito ao trabalho de Lynne Cameron e Alice Deignan (2003). Esse trabalho consiste em investigar a natureza e o papel das palavras e/ou frases que co-ocorrem com as metáforas lingüísticas no discurso falado e que são chamadas de tuning devices (mecanismos de adequação). Ao fazer uma análise das palavras just, like e sort of, Cameron & Deignan (2003) tomam por base Glucksberg & Keysar (1993) e dizem que essas expressões são chamadas de hedges, pois se referem à linguagem vaga e são usadas quando evitamos dizer algo diretamente. Isto é, essas expressões ajudam na interpretação da metáfora na medida em que enfraquecem a metaforicidade de um termo, tornando-o mais explícito.

A coleta de corpora pequenos ocorreu em uma sala de aula de uma escola primária no Reino Unido e totalizou 28.285 palavras transcritas. As 9 milhões de palavras de corpora grandes foram coletadas do Bank of English disponíveis no Cobuild Direct. Os tuning devices (Ex.:

‘…but the majority of people erm I think take it on the chin so to speak’) em corpora grandes (large corpora) se relacionam ao direcionamento da interpretação e ao ajuste da força (grau) de metaforicidade, além de alertarem os interlocutores para incoerências semânticas e para o inesperado. Os tuning devices foram utilizados em corpora pequenos para tornar idéias abstratas mais concretas (como nos exemplos: ‘... just make a little mental note’, ‘a sort of nickname’, a sort of corruption’), para ajustar a força das metáforas (ideational function) e para direcionar os ouvintes a uma determinada interpretação, sendo que o uso nesse contexto levou em conta o fato de que os ouvintes não estariam familiarizados com o uso de metáforas.

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A combinação da análise realizada com dois corpora mostrou que as metáforas no discurso oral são freqüentemente acompanhadas de palavras ou frases que servem para alertar um interlocutor a respeito daquilo que é inesperado no discurso, para direcionar sua interpretação, e para adequar a força e ênfase de uma metáfora. Esses mecanismos de adequação são encontrados em uma grande variedade de gêneros e contextos em que o discurso oral está sendo usado.

A investigação da metáfora em interações sociais contextualizadas demanda riqueza de dados e produz interpretações detalhadas com o uso de um corpus pequeno. No entanto, um corpus grande permite que os padrões de metáforas em uso sejam observados através da grande quantidade de dados, mas o contexto é perdido.

Assim sendo, a combinação de um corpus pequeno com um corpus grande permitiu que fosse realizada uma melhor e mais completa análise da metáfora em inglês falado.

O quarto trabalho, que utilizou a Lingüística de Corpus para os estudos de metáforas, é a pesquisa de Berber Sardinha (2002), que realiza seu trabalho em uma abordagem corpus-driven, em que um corpus eletrônico é utilizado a fim de buscar possíveis metáforas. O corpus de estudo é composto por dissertações escritas em português, totalizando 502,438 tokens e 29,537 types.

Todas as dissertações utilizadas no corpus desse estudo pertencem à área da Lingüística Aplicada.

A abordagem metodológica empregada nessa pesquisa consistia em identificar colocados de palavras-chave presentes no corpus de estudo, comparando-os aos colocados das palavras que compartilhavam baixos níveis de aspectos semânticos congruentes. Algumas palavras metafóricas em potencial, mostradas pelo computador por meio da utilização da ferramenta WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998), foram interpretadas minuciosamente pelo pesquisador.

Berber Sardinha (2002) comenta ainda que, em seu entendimento, o tipo de metodologia adotada em seu estudo, ou seja, corpus-driven, permite que as expressões metafóricas não sejam definidas de antemão, como é o caso da pesquisa do tipo corpus-based.

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A análise dos dados mostrou que muitos conceitos (‘desenvolvimento do professor’, ‘o conhecimento do professor’, ‘o trabalho do professor’, ‘o processo de pesquisa desenrola-se’, ‘a pesquisa foi realizada’, etc.) eram compartilhados e usados repetidamente nas várias dissertações, revelando, assim, mapeamentos metafóricos comuns subjacentes às diferentes metáforas encontradas.

Dessa maneira, é possível dizer que o pesquisador, nesse caso, é fundamental para que a análise dos dados seja realizada e interpretada com sucesso e em detalhes. Nota-se a importância de unir a ferramenta computacional (pesquisa quantitativa), que realiza um trabalho exaustivo na compilação de grandes quantidades de dados, ao trabalho humano, que realiza a interpretação dos mesmos dados (pesquisa qualitativa).

O quinto trabalho, realizado por Berber Sardinha (2004b), teve como objetivo identificar as metáforas em um corpus de estudo de 17 teleconferências bancárias (orais, por telefone) de uma instituição financeira brasileira, com 98.515 tokens e 6.160 types, em comparação com o corpus de referência do Banco de Português (LAEL - Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem, PUCSP - Pontifícia Universidade Católica do estado de São Paulo), oral e escrito, com 230.460.560 tokens e 607.392 types.

Esse estudo foi realizado via seleção e análise de palavras-chave (WordSmith Tools), análise das linhas de concordância, cálculo de estatística de associação (Mutual Information) dos colocados e seleção dos mesmos e comparação dos conjuntos de colocados com estatística acima do nível mínimo, através de um programa feito pelo próprio autor, em uma abordagem corpus- driven.

Adotaram-se alguns critérios para a seleção de palavras-chave como: ter chavicidade alta e ser um substantivo abstrato.

Por se tratar de uma área de grande importância para a atuação humana atualmente, Berber Sardinha (2004b) analisa a linguagem dos negócios em termos metafóricos porque se torna importante compreender que as teleconferências são importantes instrumentos de

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comunicação entre diretores e executivos do ramo de aplicações financeiras. A identificação de metáforas nesse gênero pode fazer com que haja uma descrição dos sentidos compartilhados pela comunidade discursiva desses usuários.

O autor observou, a partir dos resultados obtidos nesse estudo, que os bancos vêem a evolução, mas não participam da mesma, como no caso do colocado ‘vemos’ com a palavra- chave ‘evolução’: ‘nós vemos a evolução’. Às vezes, os bancos pessoalizam-se, contudo, outras vezes, eles estão dissociados das pessoas, como no caso em que a ‘evolução’ mostra algo e/ou somente observa, não estimulando nada e ninguém.

O sexto trabalho refere-se ao estudo realizado por Koller (2002). Esse estudo visa a mostrar o quanto o sub-discurso do Relationship Marketing (ou simplesmente RM), que tem por foco o cliente, proporcionando-lhe benefícios, bom relacionamento e tem seus concorrentes como companheiros com potencial, realmente modifica a formação das bases cognitivas do discurso do marketing da principal corrente contemporânea. Nesse estudo, Koller (2002) diz que as metáforas enquanto fenômenos discursivos e cognitivos revelam mudanças sócio-culturais e cognitivas, poder e ideologias.

Koller (2002) utiliza-se de um corpus composto por 210 artigos de revistas de negócios e textos jornalísticos sobre marketing para realizar uma análise por meio do recurso Concordanciador, oferecido pela ferramenta computacional WordSmith Tools 3.0. Os textos que compõem o corpus desse estudo foram editados entre 1996 e 2001 e retirados das revistas Business Week, The Economist, Fortune e Financial Times.

Os achados da pesquisa de Koller (2002) referem-se ao discurso utilizado na área de marketing secundário e dizem respeito à predominância da metáfora da GUERRA. Esse tipo de metáfora (Guerra – ‘As pessoas serão bombardeadas com telefonemas comerciais em breve’ – Koller, 2002) é inapropriado para as estratégias do RM e deveria, segundo a autora, ser substituído pelas metáforas do casamento (MARRIAGE, em inglês), como nos exemplos: ‘Procurando pelo melhor parceiro bancário?’ ou ‘Procurando por relacionamentos recompensadores?’.

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As metáforas no discurso de marketing primário referem-se aos clientes como público alvo, por meio da metáfora RELACIONAMENTOS MARKETEIRO-CONSUMIDOR SÃO RELACIONAMENTOS PARTICULARES. Nesse caso, a função do discurso primário em anúncios é colocar o consumidor no centro das atenções e criar um ambiente confortável para o consumo.

Já no caso de os marketeiros serem o público-alvo, as expressões mais freqüentes serão:

campaign, launch, target. O propósito do discurso secundário em textos de marketing é colocar o consumidor no papel metafórico de objeto passivo da agressão e atenção dos marketeiros, segundo a autora.

O que pode ser compreendido a partir desse estudo é que os textos de marketing são permeados por metáforas da guerra, mas, ao mesmo tempo, tentam fazer uso das noções do RM a fim de vender seus produtos aos clientes, criando controvérsias ideológicas, políticas, sociais e culturais.

O sétimo estudo é de Partington (2003), que se baseia na Lingüística de Corpus a fim de observar como as características do discurso falado, inclusive aquelas que se referem às estratégias retóricas, são analisadas com o auxílio de corpora. Esse estudo tem por objetivo analisar o uso de metáforas no corpus de noticiários da Casa Branca em contraste com um corpus de entrevistas políticas, a fim de descobrir quais são as metáforas típicas do gênero da imprensa jornalística. O corpus de estudo é composto por 250.000 palavras e foi extraído do Site da Biblioteca da Casa Branca (WHB).

Nesse estudo, as ferramentas de corpus (linhas de concordância) foram empregadas para analisar textos falados autênticos e o léxico utilizado é analisado criticamente para mostrar como a metáfora pode ser usada como uma estratégia retórica. Trabalhando com dados empíricos e com a interpretação dos mesmos, Partington (2003) diz que o pesquisador obtém a junção das metodologias de pesquisa quantitativa e qualitativa. Além disso, Partington (2003) mostra-nos que as metáforas, como por exemplo, PROGRESS IS FORWARD MOTION, MOVING FORWARD IS NECESSARY (aqui, a partícula forward diz respeito ao que virá e permeia todo o discurso político,

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fazendo parte das metáforas conceptuais) têm o intuito de persuadir quando usadas repetidas vezes ou quando há um grupo/conjunto de metáforas presente em todo o discurso.

O oitavo estudo que traz uma contribuição para o avanço da Teoria da Metáfora Conceptual em conjunto com a Lingüística de Corpus é o de Izwaini (2003). Sua pesquisa analisa um corpus de textos em inglês sobre Tecnologia da Informação com 7 milhões de palavras, constituído a partir de muitos textos on line.

Izwaini (2003) trabalha, primeiramente, com dois elementos chave na área de Tecnologia da Informação: o computador e a internet. O autor propõe categorias conceptuais de palavras metafóricas usadas em Tecnologia da Informação através de métodos estatísticos, sendo que a maioria das palavras metafóricas são palavras-chave levantadas a partir da ferramenta computacional WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998).

O autor afirma que o aspecto figurativo da metáfora é utilizado (na ciência) para entender fatos científicos, teorias e conceitos.

Izwaini (2003) ressalta ainda que o uso da Lingüística de Corpus no estudo da linguagem figurada, por meio de listas de freqüência e de palavras-chave, assim como o embasamento na Teoria da Metáfora Conceptual, são de grande ajuda no mapeamento e determinação de metáforas.

‘In using corpora in the study of figurative language, key- words and frequency lists help mapping out the use of metaphor, especially in a special variety of language. This has to be based on our conceptual perspective of the language use. Hence an interaction between the two approaches is important to have an overview of how the figurative use is organized.’

Izwaini (2003:07)

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Em sua discussão final, o autor afirma que o nível de chavicidade é o primeiro critério a ser adotado quando analisamos e/ou estudamos metáforas. Deve-se, em segundo lugar, levar em conta a freqüência e sua porcentagem de lemas. Tudo isso deve ter como base a Teoria da Metáfora Conceptual, a fim de compreendermos o uso de determinadas expressões lingüísticas metafóricas presentes no cotidiano de uma comunidade lingüística.

Neste capítulo, foi apresentado ao leitor todo o aporte teórico utilizado neste estudo.

Buscou-se abordar a relevância de se integrar e fazer uso de todo o suporte teórico das áreas da Lingüística de Corpus e da Teoria da Metáfora Conceptual quanto ao levantamento e análise de metáforas.

No capítulo seguinte, será apresentada a metodologia utilizada para o delineamento desta pesquisa.

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CAPÍTULO 02

METODOLOGIA

Neste capítulo, será apresentada a metodologia de pesquisa adotada neste estudo.

Primeiramente, o objetivo que norteia a presente pesquisa será retomado. Em seguida, será traçado o perfil do corpus de estudo e, finalmente, serão descritos os procedimentos metodológicos de análise de dados, bem como as ferramentas computacionais utilizadas nesta investigação.

2.1 Objetivo e Questões de Pesquisa

Retomando o que foi mencionado no capítulo introdutório, o objetivo desta pesquisa é levantar as metáforas lingüísticas presentes no corpus de estudo e categorizá-las em metáforas conceptuais associadas ao esquema (schema) da amizade, para servir como ponto de partida para o ensino de vocabulário em inglês como língua estrangeira.

Sendo assim, as perguntas de pesquisa a serem investigadas são as elencadas abaixo:

1) Quais são as metáforas lingüísticas relacionadas ao tema da amizade, existentes no corpus deste estudo?

2) A quais metáforas conceptuais essas metáforas lingüísticas estão relacionadas?

3) Como a Teoria da Metáfora Conceptual, em conjunto com a Lingüística de Corpus, podem servir como instrumento para o ensino de vocabulário de inglês como língua estrangeira?

Referências

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