TÓRAX ESCAVADO E TÓRAX CARINADO
1.NOME DA PATOLOGIA – CID PRINCIPAL Q 67.6 TÓRAX ESCAVADO
Q 67.7 TÓRAX CARINADO 1.1.INTRODUÇÃO
Possui associação a escoliose, cifose e doenças do tecido conjuntivo (ex: Sd de Marfan, Sd de Ehlers Danlos, Síndrome de Noonan).
Causa indefinida, porém pode estar relacionado ao crescimento excessivo e desordenado das cartilagens costocondrais.
É a deformidade congênita mais comum da parede torácica (70-84%).
Mais prevalente em homens (7:1): Isso pode ser explicado devido ao fato de homens possuírem constitucionalmente crescimento maior. Outro fato a se destacar é que as mulheres, por possuírem tecido mamário mais evidente, podem ocultar defeitos menores;
É raro na raça negra.
2.DIAGNÓSTICO
O pectus excavatum caracteriza-se por uma depressão posterior do esterno e cartilagem costal adjacente. Tem a forma de um baú escavado, afundado. Também chamado de tórax em funil ou tórax de sapateiro.
Figura 1 - Pectus excavatum
O pectus carinatum caracteriza-se como uma protuberância da parede torácica anterior.
Corresponde de 13 a 30% deste tipo de deformidade congênita.
Prevalência maior em homens (4:1)
Figura 2 - Pectus carinatum
2.1.APRESENTAÇÕES CLÍNICAS
A maioria dos pacientes é assintomática.
Sofrimento psicológico, qualidade de vida ruim Deformidade postural
Desconforto musculoesquelético
Baixa resistência ao exercício Sintomas respiratórios Palpitações
Deslocamento cardíaco para a esquerda (no caso do pectus excavatum).
2.2.EXAMES COMPLEMENTARES
- Índice de Haller ou pectus index ou índice de gravidade ou índice de assimetria – Utilizado principalmente para pectus excavatum.
Calculado pela divisão da largura transversa da cavidade torácica pela menor
profundidade esterno vertebral. Diâmetro torácico anteroposterior dividido pelo
diâmetro torácico transversal.
Figura 3 - Índice de Haller
IH: A/B
Normal:entre 2 e 3 IH > 3: grave
Teste de função pulmonar: mostram pouca ou nenhuma alteração, quando presentes são:
- Pletismografia: redução da capacidade pulmonar total (CPT) por limitação da expansão torácica, com volume residual (VR) aumentado pela limitação da deflação torácica, e consequente aumento da relação VR/CPT.
- Espirometria: Diminuição de cerca de 15 % da CVF, VEF1.
Avaliação cardíaca: mostram pouca ou nenhuma alteração, quando presentes são:
- Eletrocardiograma: fibrilação e flutter atrial, taquicardia paroxística e extrassístoles;
bloqueio do ramo direito; depressão do segmento ST; desvio do eixo cardíaco;
alterações de repolarização ventricular; sinais de hipertrofia ventricular esquerda e
hipertrofia atrial esquerda
- Ecocardiograma: Sopro sistólico (compressão de ventrículo direito), associação a prolapso mitral
3.CLASSIFICAÇÃO | Se Aplicável
O pectus excavatum pode ser classificado em:
● simétrico: no qual há depressão esternal em maior ou menor grau, sendo os dois lados praticamente iguais
● assimétrico: quando há diferença entre as duas metades do tórax e o esterno, além de deprimido, apresenta-se rodado.
O defeito do pectus carinatum, por sua vez, classifica-se em:
● Inferior: também conhecido como “peito de Pombo”, constituída pela proeminência do esterno, principalmente na sua porção média e inferior, acompanhada, quase sempre, de depressão costal bilateral lateral e inferior, causada pela protrusão anterior das cartilagens costais e das extremidades das costelas.
● Superior: é constituído por uma protrusão superior do manúbrio e proximal do corpo ou gladíolo e pseudo-depressão inferior
Além destas classificações, alguns autores ainda classificam em
pectus misto quando háassociação da deformidade referente ao pectus excavatum e carinatum. Outros autores, por sua vez, enquadram o pectus misto como uma variante do pectus carinatum superior.
3.1.ESTADIAMENTO |Se Aplicável
Não aplicável
3.2.PROGNÓSTICO | Se Aplicável
Considera-se como fatores de mau prognóstico:
● Associação com algumas doenças congênitas como síndrome de Marfan. síndrome de Pierre Robin, neurofibromatose.
● Defeito acentuado diagnosticado antes do estirão da puberdade
Como fatores de bom prognóstico, salienta-se:
● Alterações leves
● Índice de Haller baixo antes do estirão da puberdade
4.INDICAÇÕES DE TRATAMENTO | Se Aplicável
- Alterações cardíacas ou pulmonares atribuídas ao pectus
- Problemas do paciente em relação a sua auto-imagem, objetivando melhor resultado estético com a correção.
- Índice de Haller > 3 (indicação cirúrgica relativa devendo-se avaliar cada caso)
- Recomenda-se tratamento conservador (não cirúrgico) para crianças e adultos em casos leves ou pectus carinatum moderado.
- O tratamento cirúrgico é geralmente indicado para os casos mais graves em pacientes maiores de 12 anos (idealmente deve-se aguardar o estirão da puberdade).
5. Metas |Se Aplicável
● Melhora da autoestima e bem estar do paciente em virtude do tratamento com finalidade estética
● Melhora da função cardio-respiratória e do desempenho nas atividades físicas para os casos graves
6.TRATAMENTO
● COMPRESSORES EXTERNOS:
- Compressor dinâmico do tórax (CDT)
O princípio desse tratamento é a aplicação de pressão contínua na deformidade por meio de dispositivo metálico que envolve a caixa torácica, durante um longo período, para obter o remodelamento da cartilagem anormal.
Exemplos: compressor torácico proposto pelo Prof. Sidney Haje (pioneiro); compressor torácico modular ajustável, pectus press.
Recomenda-se utilizar 23 horas por dia durante 6 meses ou 4 horas ao dia por tempo indeterminado.
Deve-se fazer o reajuste do compressor no tórax ou redução do tempo de uso diário.
Desvantagens: dor e desconforto respiratório, ansiedade, rash cutâneo, ulceração da pele, hematoma, alteração do sono
Figura 4 - Compressor torácico proposto pelo Prof. Sidney Haje para pectus excavatum
Figura 5 - Compressor torácico proposto pelo Prof. Sidney Haje para pectus carinatum.
Figura 6 - Pectus press: órtese flexível
Figura 7 - Compressor torácico modular ajustável
Figura 8 - Antes e depois do tratamento com CDT. Resultado após 1 ano.
● EXPANSOR EXTERNO - Dispositivo Vacuum Bell:
Usado como tratamento isolado, no pré-operatório e pós-operatório.
Recomenda-se utilizá-lo por 30 minutos, 2 vezes ao dia, até 5 horas com média de 1,5h/dia Índices de correção: 13,5 a 37,5% (baixa eficácia)
Contra-indicações: < 6 anos, alterações esqueléticas, doenças cardíacas, coagulopatias e vasculopatias Desvantagens: dor e desconforto respiratório, ansiedade, hematoma, alteração do sono.
Figura 9 - Dispositivo vacuum Bell
Figura 10 - Antes e depois do tratamento com o dispositivo vacuum Bell
● TERAPIA ADJUVANTE:
- Exercícios físicos: natação como o exercício mais adequado e completo.
- A Reeducação Postural Global (RPG) pode colaborar no pré e pós-operatório ou nos pacientes com defeito mínimo, que tenham indicação cirúrgica, para correção postural.
- Pilates
● TRATAMENTO CIRÚRGICO Esternocondroplastias
São as cirurgias abertas ou convencionais;
Princípio básico de ressecção subpericondral e/ou osteotomia esternal com inúmeras variações conforme a técnica cirúrgica utilizada.
Exemplos: Técnica de Ravitch, Sauerbruch,
Shamberger e Welch, Wooler, Wada.
- Sauerbruch: ressecção de cartilagem costal bilateral e osteotomia esternal. Uso da tração externa por 5/6 semanas.
- Ravitch: ressecção de todas as cartilagens costais defeituosas mantendo pericôndrio, com elevação esternal utilizando vários tipos de materiais como hastes, telas inabsorvíveis, entre outras.
Vantagens: possibilidade de correção em único tempo cirúrgico, a obtenção de resultados satisfatórios mesmo em pacientes idosos ou com tórax assimétrico e o uso de instrumental cirúrgico habitual.
Desvantagens: maior tempo cirúrgico e de internação e presença de cicatriz maior.
Figura 11 - Pectus Excavatum Simétrico Submetido a Esternocondroplastia.
a) Pré-Operatório; b) Pós-operatório imediato; c) 2 meses pós-operatório; d) 1 ano pós- operatório
Cirurgia Minimamente Invasiva
- Nuss: colocação de uma ou mais placas / barras cirúrgicas metálicas (aço cirúrgico ou de titânio) por videotoracoscopia.
Vantagens: técnica minimamente invasiva, menor tempo cirúrgico e de internação, cicatriz menor
Desvantagens: Limitada a defeitos simétricos; dor intensa e prolongada (média de 3 meses);
necessidade de reoperação para retirada da barra (2-3 anos); risco de deslocamento da barra; lesão cardíaca.
Tratamento cirúrgico preconizado na unidade (Unidade de cirurgia torácica HBDF):
Sauerbruch/Ravitch + fixação do esterno (sub ou supra esternal)
Figura 12 - Pectus Excavatum corrigido pela Técnica de Nuss
a) Pré-operatório; b) Pós-operatório imediato; c) 1 ano pós-operatório
7.FLUXOGRAMA GERAL DE DIAGNÓSTICO E MANEJO|Opcional, mas pode ser o único dado de certa patologia, caso todo manejo e conduta possam ser resumidos a um fluxograma sem prejuízo das informações.
8.REFERÊNCIAS
ABID, I; EWAIS, M.A; MARRANCA, B.S. et al. Pectus Excavtum: A Review of Diagnosis and Current Treatment Options. J Am Osteopath Assoc. 2017;117(2):106-113
EMIL, S. Current Options for the treatment of Pectus Carinatum: When to Brace and When to Operate? Eur J Pediatr Surg. 2018
FRANTZ, F. W; Indications and guidelines for pectus excavatum repair. Curr Opin Pediatr 23:486-491. 2011
REBEIS, E.B. et al. Anthrometric index fo quantitative assessment of pectus excavatum. J Bras Pneumol 2004; 30(6) 501-7.
SAWAYA, G. N; NETO, P.N. Minimally Invasive Repair of Pectus Excavatum – Initial Experience.
Rev bras videocir, Out./Dez. 2003
COELHO, M.S. et al. Pectus excavatum: management. Vol. 34 - Nº 6, Nov. / Dez. 2007
Adolescent e/ Adulto
PECTUS
Criança (menores
Leve Moderado/
Grave
Atividades de
Expansores /
Leve (pectus
pectus
excavatum Carinatum
Moderado Grave
Compressor
es torácicos Cirúrgico Moderado/
grave
Tratament o cirúrgico Atividades
de
CAMARGO, J.J; FILHO, D.R.P. Cirurgia torácica contemporânea. Thieme Revinter. Rio de Janeiro.
Cap 10 -12, 2019
VELAZCO, C.S. et al. Nuss procedure in th adult population for correction of pectus excavatum.
Seminars in Pediatric Surgery 27 (2018) 161–169
BUZIASHVILI, D. et al. An Evidence-Based Approach to Management of Pectus Excavatum and Carinatum. Annals of Plastic Surgery • Volume 82, Number 3, March 2019
COELHO, M. S; GUIMARÃES, P. S. F. Pectus excavatum: abordgem terapeutica. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, [S.L.], v. 34, n. 6, p. 412-427, dez. 2007. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s0100-69912007000600011.
9.DIRETRIZ | Opcional
● RECOMENDAÇÕES:
Considerações pré operatórias:
- abordagem após 2º período de estirão - considerar a indicação estética
Cuidados no intra operatório:
- Recomenda-se a utilização de cefazolina/cefuroxima profilática
- Analgesia peridural por 48 a 72 horas e/ou bomba de PCA (Analgesia Controlada pelo paciente).
Cuidados pós operatório:
- Utilização de Pectus Press (desde a 1ª semana até 60-90 dias)
- Os pacientes têm alta hospitalar habitualmente no quarto dia pós-operatório com prescrição de analgésicos por via oral;
- Revisões em sete, trinta e noventa dias e um ano.
- Os pacientes têm a recomendação de não erguer peso por 30 dias e orientados a praticar atividades físicas após 2-3 meses (preferencialmente natação).
- Retirada do dreno suctor quando débito inferior a 20 ml/dia
- Não tomar sol diretamente nas cicatrizes por pelo menos 6 meses. Utilizar protetor solar.
- Radiografia do tórax no pós-operatório imediato, no segundo dia pós-operatório e no dia da alta.
- A partir do pós operatório imediato, o paciente deve ser estimulado a caminhar, segundo as características e possibilidades de cada paciente (para levantar e sentar é necessário auxílio por intermédio de apoio com mão na nuca até atingir a posição sentada para não forçar a musculatura peitoral e abdominal por quinze dias);
- Dormir em decúbito dorsal nos primeiros dias;