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AS IMPLICAÇÕES DO DIVÓRCIO NO EXERCÍCIO DA PARENTALIDADE (2012) 1

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AS IMPLICAÇÕES DO DIVÓRCIO NO EXERCÍCIO DA PARENTALIDADE (2012)

1

MARINHO, Juliana

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; HENN, Nicole

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; KRUEL, Cristina

4

.

1

Trabalho de Pesquisa _UNIFRA

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Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

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Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil

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Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: j.marinho@unifra.edu.br; nicolehelena@unifra.edu.br; cristinask@terra.com.br.

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo discorrer, a partir de uma revisão bibliográfica, a respeito das diferentes perpectivas de pais e filhos no que se refere à parentalidade após a separação conjugal, e os reflexos desta na manutenção e continuação das relações parentais. A partir do estudo teórico realizado, foi possível perceber que a parentalidade é um relacionamento baseado em uma tríade de pai, mãe e filho, enquanto o relacionamento conjugal vem a ser unicamente a relação entre os cônjuges, portanto faz-se necessário compreender as possíveis relações entre tais situações. Percebe-se que alguns fatores podem ser considerados determinantes para a maneira como as relações parentais se darão ou se manterão após o divórcio: a relação dos cônjuges no decorrer do casamento, a comunicação estabelecida a partir da separação, a compreensão que os pais têm acerca de conjugalidade e parentalidade, o modo como os filhos são percebidos a partir do momento em que há um rompimento entre o casal, dentre outros.

Palavras-chave: Parentalidade; Maternidade; Paternidade; Conjugalidade; Divórcio.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, no que tange a família, são visualizadas diferentes configurações e formas de relacionamento, seja pela união homoafetiva, por situações de adoção, famílias monoparentais, dentre outras. Tratando-se do divórcio, sabe-se que no decorrer do tempo passou a ser considerado um acontecimento comum e do cotidiano de muitas famílias, gerando novos cenários. De acordo com Nazareth (2004), diante da separação do casal passam a ocorrer algumas transformações na estrutura e na dinâmica familiar. Torna-se importante, então, compreender as possíveis implicações do divórcio na parentalidade e na manutenção dos laços afetivos entre pais e filhos.

A respeito da parentalidade, cabe destacar três eixos que podem conceituá-la,

conforme propõe Houzel (2004): exercício, experiência e prática da parentalidade. O

primeiro trata de questões relacionadas aos direitos e deveres dos pais e mães, o segundo

se refere aos aspectos da experiência subjetiva parental, enquanto o terceiro, por sua vez,

se volta aos cuidados físicos e psicológicos ao filho e tarefas realizadas junto a ele. De

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modo geral, tais eixos não podem ser visualizados separadamente, já que cada um deles acrescenta aspectos importantes ao significado do que é ser pai e ser mãe.

Carter & McGoldrick (2001) cita que, após o divórcio, a parentalidade passa a ter diferenças significativas se for comparada àquela que era exercida durante o casamento, principalmente considerando que ocorrem reformulações referentes à toda rotina familiar.

Uma das maiores dificuldades, neste contexto, seria manter os laços parentais, visando ao acompanhamento do desenvolvimento dos filhos, o que exige certo contato com o ex- cônjuge. Neste momento de redefinição do envolvimento emocional, Hackner, Wagner &

Grzybowski (2006) afirmam que podem ser observados alguns conflitos no relacionamento, muitas vezes por conta de falhas na comunicação, gerando interpretações equivocadas que, direta ou indiretamente, interferem na questão parental, ou seja, na forma como se dá a continuação dos papéis “pai” e “mãe”.

É neste sentido que Grzybowski (2007) alerta para a importância de refletir a respeito da parentalidade após a separação do casal, já que, apesar de existirem ex-cônjuges, não se pode afirmar que existam ex-mães e ex-pais. Isto leva à compreensão de que conjugalidade e parentalidade não se dissociam totalmente após o divórcio, e não devem ser confundidos ou considerados um mesmo aspecto. Diante deste contexto, o presente estudo tem por objetivo discorrer, a partir de uma revisão bibliográfica, acerca dos reflexos do divórcio na manutenção e na continuação da parentalidade, considerando a perspectiva dos pais e dos filhos.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 O divórcio refletido nas relações parentais

A respeito da separação de casais, Giusti (1987, apud SILVA, 2005) afirma que há uma diferença significativa entre as situações que envolvem filhos e aquelas que não envolvem. Tal observação é feita porque, quando se tem filhos, o casal se manterá com suas responsabilidades como pais, ou seja, a vida familiar terá continuidade. Neste caso, a estrutura familiar sofrerá alterações e redefinições. A adaptação dos filhos diante desta situação dependerá, em partes, de como o sistema familiar era durante o casamento, em relação aos vínculos afetivos, a comunicação e os papéis desempenhados, e também considerando a relação que os pais passam a ter após o divórcio.

Torna-se fundamental que o casal desenvolva uma distinção entre a dissolução dos

papéis de marido e mulher e a reorganização e manutenção dos papéis de pai e mãe, que

não se acabam com a separação. Neste momento, de acordo com Osório e Valle (2009), os

ex-cônjuges devem procurar desenvolver uma distinção clara em relação às alterações que

passam a ocorrer, para que seus papéis de pai e mãe, que são considerados eternos, não

sejam comprometidos pela dissolução do casamento, que por sua vez extingue os papéis de

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marido e mulher. Os adultos deverão conciliar as necessidades dos filhos (em relação ao desenvolvimento, educação e cuidados), e as suas necessidades individuais, que surgirão a partir do processo de adaptação ao divórcio.

É importante destacar que as alterações que o exercício da parentalidade tende a sofrer após o divórcio independe do conflito conjugal presente neste contexto, conforme Dantas et al. (2004). Frequentemente, em decorrência do divórcio, apresentam-se conflitos e questões emocionais não tão bem resolvidas, o que tem como consequência alguns sentimentos depreciativos de um para outro ex-cônjuge, tais como raiva, desilusão e até mesmo desejo de vingança por conta do sofrimento causado, segundo aponta Sousa (2010). A autora reforça que, a respeito da vingança, pode ser que esta seja direcionada não somente para o ex-companheiro, mas também para os filhos que são oriundos da relação. Em algumas situações, os pais não só consideram que têm ex-cônjuges, como também visualizam as crianças como “ex-filhos”, de modo que passam a se afastar e participar de forma insatisfatória do desenvolvimento destes.

Porém, podem ser visualizadas, também, situações mais adaptativas e favoráveis após a separação, quando ocorre um reconhecimento sensato da diferença entre aquilo que terminou (casamento) e aquilo que deve ter continuidade (o envolvimento parental). Para evitar que ocorra um afastamento prejudicial ao acompanhamento do desenvolvimento dos filhos, é importante que os pais assumam a responsabilidade por sua separação, de modo que possibilitem que ocorra uma ventilação nos afetos, como aponta Dolto (1991, apud SILVA, 2005). Ou seja, compreende-se que tanto o pai quanto a mãe devem expressar-se a respeito da separação através da fala, sem guardá-la para si como uma angústia que pode, de um modo ou outro, fazer a própria criança perceber que houve um abalo na estrutura familiar.

Nota-se que existem diferentes possibilidades ao se pensar nas interferências que o divórcio pode causar em relação às questões parentais. As consequências da separação, de modo geral, serão visualizadas de acordo com cada contexto, considerando os conflitos existentes entre o ex-casal, a capacidade de comunicação entre este e também com os próprios filhos, e principalmente a compreensão que cada um dos pais vai desenvolver em relação à diferença existente entre o casamento e a relação parental, que foi estabelecida e permanecerá fazendo parte de sua realidade, de forma reformulada e transformada.

2.2 A perspectiva do pai

Para que seja possível compreender a perspectiva do pai a respeito da parentalidade

após a separação conjugal, é necessário, primeiramente, considerar as mudanças culturais

que se deram no decorrer do processo histórico. Ou seja, faz-se importante conhecer o que

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o pai representava no âmbito familiar, para pensarmos a respeito do papel que ele passa a desempenhar diante dos filhos.

Até certo momento, as relações familiares aconteciam de forma patriarcal, ou seja, o pai era o centro da família, tornando-se responsável por sustentar e proteger a prole. No caso de separação, os filhos ficavam com o pai, pois levavam o seu nome. Com o passar do tempo, mulher passou a ser o centro familiar, como a cuidadora mais capacitada a estar com os filhos. Sendo assim, a mesma possuía ao seu lado o código civil, o qual diretamente passava a guarda da criança para a mãe. Segundo Silva (2005), nos dias atuais a guarda já não é mais delegada diretamente à mãe, em caso de separação conjugal. A decisão passa a ser tomada a partir da avaliação do interesse, disposição e capacidade dos genitores de se manter com os filhos. Isto ocorre porque o principal interesse é o bem direcional de sua educação, independente do responsável que ficará com a guarda.

Segundo Caruso (1986, apud SILVA, 2005), o próprio pai tem reconhecido sua importância e significado frente à relação com os filhos. Já no sentido dado por Nolasco (1993), a paternidade deve existir para os homens não apenas escondida por trás da figura da mulher, mas de uma forma a dar consciência ao homem de como está estruturada a sua dinâmica subjetiva, os conflitos da relação com o filho, até chegar ao ponto de realmente ampliar suas dimensões internas e propiciar uma renovação na relação com a vida.

Sendo assim, é possível perceber o interesse do homem a desempenhar não apenas o papel de pai punitivo, mas sim de um pai compreensivo e participativo na vida dos filhos, a partir do reconhecimento de sua própria importância na vida e desenvolvimento de sua prole. Mesmo com o interesse do pai atual na criação dos filhos, Gadotti (1989) discute a ideia de que o ser pai longe da mãe torna-se conflitante. Isso significa que mesmo que o pai queira estar próximo aos seus filhos para desempenhar um papel ativo, acaba por temer tal tarefa, já que esta normalmente é direcionada à mãe.

This (1987) cita que a paternidade após o divórcio depende diretamente de a mãe permitir que o ex-cônjuge seja “pai”, pois a existência de um pai simbólico não depende nem do reconhecimento de um vínculo entre coito e parto, nem da vontade do sujeito. A partir da visão do auto,r percebemos que a mãe desempenha um papel fundamental na relação dos filhos com os pais mesmo após a separação, ou seja, os esforços do pai para a participação ativa na vida do filho serão irrelevantes se a mãe não permitir a aproximação.

Percebe-se que, de certa forma, o pai busca uma colocação no relacionamento

parental durante e após a separação conjugal, e considerando o segundo contexto citado,

Silva (2005) afirma que os pais visualizam a paternidade como um misto entre ser o

provedor e o companheiro dos filhos, e sentem-se responsáveis pelo sustento econômico,

ainda que muitas vezes não o façam. Ainda, consideram importante sua presença na

formação dos filhos, trazida não só como quantidade, mas como qualidade também. Definir

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o papel do homem como pai trata-se de sujeitar-se a sentir e compreender a relação estabelecida com os filhos.

Ainda, devemos ressaltar que o pai atual busca por um maior espaço na vida de seus filhos, interessando-se pelo vínculo sentimental, importando-se com a educação, construindo um papel de “novo pai”. Um pai que não abarca unicamente com bens materiais, mas com carinho, conselhos. Diante da pesquisa realizada por Silva (2005), foi possível perceber que o pai esforça-se para prover materialmente, esforça-se também em ocupar um espaço do ponto de vista afetivo, dispondo-se a investir mais na relação com o filho, o que desconstrói a ideia anteriormente estabelecida de que a mãe seria a principal responsável pelas questões parentais.

2.3 A perspectiva da mãe

Visualizando a questão histórica do papel da mulher na sociedade, sabe-se que há, culturalmente, uma “determinação” de seu dever de ser mãe, como foi citado anteriormente.

Segundo dados apontados por diferentes pesquisas, as mães detêm a guarda dos filhos mais frequentemente após o divórcio, o que reafirma a posição de que a mulher teria maior responsabilidade acerca dos cuidados da prole. Porém, conforme cita Wagner (2002), aos poucos passam a surgir questões referentes ao possível privilégio que seria dado às mães em relação à guarda, já que a própria lei ampara a visão de que compete ao lado materno educar os filhos.

Ao considerar que a mãe fica com a guarda, é compreensível que a mesma envolva- se mais diretamente com os filhos, e consequentemente os laços estabelecidos aparentarão ser mais concretos e perceptíveis. Ainda, as práticas educativas maternas serão mais recorrentes do que aquelas que poderiam ser estabelecidas pelos pais, que por não morarem com os filhos, não terão a possibilidade de envolverem-se mais diretamente com eles. Neste sentido, Féres-Carneiro (2003) aponta que as mulheres têm mais controle sobre o que ocorre com os filhos, justamente por acompanharem de perto o cotidiano deles. Deste modo, sentem-se mais tranquilas e percebem os filhos “sem tantos problemas” no que se refere ao divórcio dos pais.

Ao mesmo tempo em que obter a guarda tem seus aspectos positivos, é importante

destacar que também há uma sobrecarga, por conta da elevada exigência referente à

educação e aos cuidados dos filhos. Esta sobrecarga passa a ser ainda mais reforçada pelo

fato de que parte dos pais estabelecem com seus filhos apenas uma relação de visitantes,

que se basea em algumas horas disponíveis para recreação e contatos sociais, conforme

Thompson & Laible (1999). Isto se dá devido ao que é estabelecido no momento do divórcio,

quando se define quem se tornará responsável pela guarda dos filhos, pois muitas vezes

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determinam-se regras e períodos de visita e acompanhamento dos pais, limitando a manutenção da relação parental.

De certa maneira, alguns contextos são mais favoráveis para que as mães estabeleçam fortes laços com os filhos. Féres-Carneiro (2003) cita como exemplo casos em que os filhos são muito novos no momento em que o pai sai de casa, de tal forma que o vínculo entre a mãe e os filhos passa a se estreitar, já que frequentemente a genitora coloca toda a sua afetividade sobre os pequenos. Entretanto, esta situação pode levar a certos fenômenos considerados negativos para a manutenção das relações entre o pai e os filhos, tal como a Síndrome de Alienação Parental, definida por Boch-Galhau (2002) como o afastamento do pai que é induzido pela mãe, que por sua vez age de forma a impedir o contato e passa a manipular o filho, muitas vezes colocando-o contra o pai. Seria este um reflexto da crença que algumas mães têm, a respeito da possessividade que devem ter sobre seus filhos.

Ao pensar nas percepções da mãe acerca da parentalidade, porém, não se pode deixar de compreender que, no cenário atual, a mulher tem maiores oportunidades de inserção no mercado de trabalho, o que pode levar a um afastamento ou menor contato com seus filhos. Portanto, percebe-se a relevância da manutenção da parentalidade independente da relação que se tem com o ex-cônjuge, pois mais importante do que obter a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento dos filhos, é compreender que ambas as partes, ou seja, pai e mãe, têm papel importante neste acompanhamento. Mais ainda, trata- se de aceitar que, muitas vezes, se necessita da ajuda do ex-companheiro para dar os devidos cuidados aos filhos, pois para além dos deveres paternos e maternos estão outras necessidades e responsabilidades, que não devem ser extintas, já que são importantes para a vida de cada pessoa, mas que não devem prejudicar o modo como a parentalidade é exercida.

2.4 A criança implicada

De acordo com McCaffrey e Collins (1999), a separação conjugal tem um efeito profundo nos filhos, pois mesmo que o relacionamento dos pais tenha se tornado difícil e conflitante, a separação não é desejada. É importante considerar que a auto-estima da criança é gerada pelo sentimento de fazer parte da identidade herdada de ambos os pais, e durante ou após o processo de separação, as críticas feitas um ao outro podem levar a criança a sentir que parte de sua própria identidade também é ruim e sem valor. Neste contexto de perda da auto-estima, a criança pode tornar-se retraída e isolada, e passará a duvidar do seu próprio valor e capacidade.

O mal estar existente após a separação não é causado unicamente pelo rompimento

dos pais, mas também porque estes utilizam da criança para atacar um ao outro. Neste

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contexto, Silva (2005) cita que os filhos passam a ser vistos como objetos que não possuem vontade própria e não conseguem obter o espaço ideal entre os pais. Percebe-se, então, a importante associação que é criada entre o ponto de vista dos pais e o ponto de vista dos filhos, o que retoma mais uma vez a questão da auto-estima abalada. Hurstel (1999) reafirma que a perspectiva do filho acerca da separação de seus pais está, de certa forma, relacionada ao modo como os sujeitos parentais irão vivenciar o divórcio. Também devem ser visualizadas as associações que podem ser feitas diante de diferentes fatores que interferem no contexto familiar, como por exemplo o comportamento dos responsáveis após a separação, o manejo destes em relação às situações que se estabelecem, assim como as expectativas sociais e as disposições legais referentes à guarda dos filhos. Assim, sentimentos como raiva, mágoa e outros relativos ao ex-cônjuge acabam interferindo no convívio com os filhos.

Outra implicação da separação se refere ao distanciamento da criança em relação a um dos pais, no caso, aquele que não ficou com a guarda. Consequentemente, nota-se um afastamento da criança com a família deste pai, o que leva a um comprometimento dos laços familiares. Wallerstein, Lewis e Blakeslee (2002) visualizam que esta perda de continuidade com a história familiar é uma situação problemática do divórcio, e normalmente é ignorada, mesmo que seja algo tão importante. Para evitar tais consequências, é fundamental que os pais e filhos entendam que que a parentalidade é algo que não se pode romper, e por isso torna-se necessário que seja feita uma boa compreensão acerca das modificações atreladas ao divórcio. Deve-se definir que, por mais que is filhos passem a ter duas casas e duas famílias, os laços com os pais permanecerão existentes. Para isso, os pais precisam se comunicar de forma clara para decidir o que se refere a criança, como guarda, visitas, responsabilidades e regras, evitando que a criança vivencie a situação de forma desfavorável.

McCaffrey e Colins (1999) apontam que o entendimento que as crianças darão aos acontecimentos dependerão de sua idade, o que significa que serão utilizadas diferentes ferramentas de acordo com sua capacidade de percepção acerca da separação dos pais.

Os filhos poderão imitar o comportamento dos pais gerando uma crise, pois terá que tomar

partido em uma guerra conjugal. Há, também, a possibilidade das crianças utilizarem a

quebra do silêncio, questionando sobre o que está acontecendo. Nestes momentos,

acredita-se que os professores irão desempenhar papel importante, pois a criança irá

reproduzir os acontecimentos de sua casa na escola. A partir disto, é possível visualizar que

além da importância dos pais para o entendimento e elaboração saudável referente ao

divórcio, todos aqueles que convivem com a criança e percebem a forma que a mesma está

elaborando esta vivência tornam-se, em partes, fundamentais no entendimento do que se

passa por conta de todas as modificações decorrentes da separação conjugal.

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4. CONCLUSÃO

A partir do estudo realizado, torna-se possível compreender que a separação conjugal pode trazer diferentes implicações tanto para o casal, quanto para os filhos que se encontram diretamente envolvidos neste contexto. Diante das diferentes possibilidades, alguns fatores podem ser considerados determinantes para a maneira como as relações parentais se darão ou se manterão após o divórcio: a relação dos cônjuges no decorrer do casamento, a comunicação estabelecida a partir da separação, a compreensão que os pais têm acerca de conjugalidade e parentalidade, o modo como os filhos são percebidos a partir do momento em que há um rompimento entre o casal, dentre outros. A partir disto, podem ser visualizadas diferentes formas de se lidar com a parentalidade e as responsabilidades associadas aos filhos após a separação conjugal, sendo estas negativas ou positivas, de acordo com cada contexto.

No que se refere aos pais, percebe-se que, em muitos casos, há um desejo de seguir fazendo parte da vida dos filhos, não apenas considerando o papel do pai como aquele que coloca regras e pune, mas também como a pessoa que pode cuidar e acompanhar o desenvolvimento num todo. A mãe, por sua vez, normalmente torna-se guardiã e, consequentemente, vê-se responsável pelos filhos em todos os âmbitos, muitas vezes impossibilitando que o ex-cônjuge faça parte deste novo momento, sobrecarregando-se e enfrentando dificuldades para dar conta de todas as questões.

A respeito dos filhos, mais especificamente as crianças, tornam-se reflexos daquilo que se passa entre o casal que se encontra em conflito. O que o pai e a mãe direcionam um ao outro também acaba por ser percebido pela criança, que tende a identificar-se com o que é projetado entre os pais, passando a isolar-se e retrair-se. Em outros ambientes, principalmente na escola, alguns aspectos do que é vivenciado pela criança em relação aos pais passam a ser visualizados, e cabe aos professores, por exemplo, compreenderem de que modo toda a separação está sendo elaborada, já que muitas vezes isto pode ocorrer de forma prejudicial.

Entende-se, diante deste contexto, que mesmo que o casamento tenha um fim, outros aspectos permanecerão envolvendo os ex-cônjuges, no caso destes terem filhos.

Assim, o divórcio deve ser compreendido a partir dos aspectos que se referem diretamente a ele, sem que sejam desconstruídos os laços parentais, mas sim reformulados e repensados, de uma maneira que os conflitos conjugais não sejam os principais fatores a determinarem a relação que pai e mãe terão com os filhos a partir de então.

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REFERÊNCIAS

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