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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 393/09.4TBEPS-F.G1

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 393/09.4TBEPS-F.G1 Relator: JORGE TEIXEIRA

Sessão: 29 Março 2012 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE

GRADUAÇÃO DE CRÉDITOS PENHOR EXTINÇÃO

Sumário

I – Na situação de incumprimento de obrigações constantes do contrato de abertura de crédito, responde o penhor financeiro, através das aplicações que tiverem sido efectuadas, ou, caso, nesse momento, estas se tenham já vencido, através do respectivo valor monetário delas resultantes, que foi objecto do contrato de penhor.

II – Esta garantia extingue-se com a restituição da coisa ou do documento, independentemente de ter sido ou não essa a intenção das partes ao assim procederem.

Texto Integral

Acordam na Secção Cível do Tribunal da Relação de Guimarães.

I – RELATÓRIO.

Recorrente: Massa Insolvente da T… Ldª;

(2)

Recorridos: Banco C, S.A..

Tribunal Judicial de Esposende – 1º Juízo.

Por apenso aos autos de processo de insolvência n.º 393/09.4TBEPS em que foram declarados insolventes, após apresentação, Isaac e Maria, os credores discriminados na relação junta a 30 de Julho de 2009, vieram reclamar os seus créditos junto do Sr. administrador da insolvência.

O Sr. administrador da insolvência juntou a relação de créditos reconhecidos e créditos não reconhecidos.

Foram deduzidas impugnações nos termos seguintes:

1) Banco C, S.A., pugnou pela qualificação do crédito que lhe foi reconhecido como garantido por penhor.

2) T, Lda., representada pelo seu administrador da insolvência deduziu impugnação nos termos seguintes:

a) Deve ser-lhe reconhecido um crédito sobre os insolventes no montante total de €1.560.442,55, fundado em actuação culposa de Isaac enquanto gerente da sociedade;

(3)

b) Os créditos reconhecidos a Banco C, S.A., Banco Popular Portugal, S.A., BANIF – Banco Internacional do Funchal, S.A., BPN – Banco Português de Negócio, S.A., e Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL, resultam de garantias pessoais prestadas pelos insolventes a créditos sobre T, Lda., sendo certo que tais créditos foram reclamados no âmbito da insolvência desta sociedade;

c) Impugnou o reconhecimento do crédito a Delfimo – Imobiliária, S.A., invocando a nulidade do contrato-promessa que sustenta tal crédito com diversos fundamentos e, subsidiariamente, pugnou pela qualificação de tal crédito como subordinado.

A massa insolvente e Delfimo Imobiliária, S.A. responderam às impugnações dirigidas, impugnando diversa factualidade alegada e conclusões de direito, e o reconhecimento nos termos propostos pelo Sr. administrador da insolvência.

Foi convocada tentativa de conciliação, na qual não foi alcançado qualquer acordo quanto às impugnações.

Após despacho de aperfeiçoamento, foi lavrado despacho saneador, no qual foram julgadas as seguintes impugnações:

a) Foi julgada totalmente procedente a impugnação deduzida por Banco C, S.A. e, em consequência, qualificar o crédito por si reclamado, no montante total de € 1.840.051,74, garantido por penhor sobre uma aplicação financeira designada como SOTTO RENDA +, celebrado entre Isaac e o Banco C, S.A., titulado pela apólice n.º 2449323, ou sobre o montante em dinheiro resultante da sua liquidação, quanto ao montante de €1.285.498,86;

(4)

b) Foi julgada parcialmente improcedente a impugnação deduzida por T, Lda.

no que se referiu aos créditos reclamados por Banco C, S.A., Banco Popular Portugal, S.A., BANIF – Banco Internacional do Funchal, S.A., BPN – Banco Português de Negócio, S.A., e Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL, e ainda quanto a um dos fundamentos invocados para nulidade do contrato- promessa que sustentava a reclamação de Delfimo Imobiliária, S.A.

No mesmo despacho, foram julgados reconhecidos os créditos reclamados por António, Banco C, S.A., Banco Popular Portugal, S.A., BANIF – Banco

Internacional do Funchal, S.A., BPN – Banco Português de Negócios, S.A., Caixa Central – Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL, Finibanco, S.A., e José, nos precisos termos constantes da relação de credores

reconhecidos junta em 30 de Julho de 2009, com a precisão de que o crédito reconhecido a Banco Comercial Português, S.A., é qualificado como garantido por penhor sobre uma aplicação financeira designada como SOTTO RENDA +, celebrado entre Isaac e o Banco C, S.A., titulado pela apólice n.º 2449323, ou sobre o montante em dinheiro resultante da sua liquidação, quanto ao

montante de €1.285.498,86.

Foi saneado o processo, afirmando-se a validade e regularidade da instância e organizando-se despacho sobre a Matéria de Facto Assente e a Base

Instrutória.

Realizado o julgamento e decidida a matéria de facto, foi proferida sentença que julgando a acção parcialmente procedente, decidiu:

“I. Homologar a lista de credores junta a fls. 3 a 5, em 3 de Agosto de 2009, com as seguintes alterações, para além das já determinadas no despacho de 26/04/2010:

(5)

a) É aditado um crédito reconhecido a T, Lda., no montante de €1.560.442,55, qualificado como comum;

b) O crédito reclamado por Delfimo – Imobiliária, S.A., é fixado no montante resultante da diferença, se positiva, entre €790.000,00 e o valor actual do prédio descrito em w), sujeito à condição suspensiva da declaração de recusa de cumprimento do contrato promessa descrito na alínea o) dos factos

provados pelo Sr. administrador da insolvência, com consentimento da comissão de credores.

II. Julgar improcedentes as impugnações deduzidas não contempladas nas alterações à relação de créditos reconhecidos enunciadas em I.

III. Graduar os créditos reconhecidos pela forma seguinte:

1. A pagar com preferência pelo produto dos bens imóveis integrantes da massa insolvente, pela ordem seguinte:

a) Reclamado por António, no montante de €300.000,00 limitado ao produto da venda do prédio urbano, sito no Lugar da Pedreira, freguesia de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim, inscrito na matriz urbana sob o art. 885.º, e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 383.

2. A pagar com preferência pelo produto dos bens móveis integrantes da massa insolvente, pela ordem seguinte:

a) Reclamado por Banco C…, S.A., limitado ao montante de

€1.285.498,86, e com limitação ao produto da liquidação de uma

(6)

aplicação financeira designada como SOTTO RENDA +, celebrada entre Isaac e o Banco C…, S.A., titulado pela apólice n.º 2449323.

3. Os restantes créditos constantes da lista homologada, o restante crédito reclamado por Banco C…, S.A.

4. Os juros dos créditos referidos em III. 3. vencidos após a declaração da insolvência.

*

Determino o pagamento das custas do processo de insolvência assim como todas as dívidas da massa insolvente enumeradas no art. 51.º, do C.I.R.E. com prioridade aos créditos supra graduados”.

Inconformado com tal decisão, dela interpôs recurso a A., de cujas alegações extraiu as seguintes conclusões:

“1- Conforme consta da alínea J) da matéria de facto dada como provada após o vencimento de Sotto Renda +“, titulado pela apólice 2449323, o montante de 1.246.994,74 - sobre o qual incidia o direito de penhor do Reclamante

banco Comercial Português - foi movimentado através de três cheques, dois no montante de € 600.000,00 e um outro no montante de € 50.000,00”;

2- O reclamante Banco C…, S.A. autorizou expressamente a mobilização da quantia de 1.246.994,74, ao efectuar o pagamento dos mencionados cheques, o que equivale à entrega ao titular do crédito empenhado da respectiva prestação, o que se converte na extinção do penhor nos

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termos e ao abrigo do disposto no art° 865°, n°4 do CC.

3. Resulta ainda A), B) e C) da matéria de facto assente que a Terelix, Lda e o Reclamante Banco C…, subscreveram um “contrato de abertura de crédito sob a forma de conta corrente” o qual se encontra garantido por penhor sobre a aplicação financeira denominada de “SOTTO RENDA +“.

4. O penhor constituído a favor do credor Banco C…SA traduz um penhor de direitos por antítese a um penhor sobre coisas, enquadrando-se num penhor de aplicações financeiras.

5. Assim, verifica-se que no caso dos autos é patente que existia uma garantia de penhor ao qual se aplica o regime do penhor de direitos consagrado no art.

679°.e segs. do Código. Civil.

6. Logo que o crédito empenhado se torne exigível, o credor pignoratício deve cobrá-lo, passando o penhor a incidir sobre a coisa prestada em satisfação desse crédito (art. 685° n°1 do C. Civ.).

7. Após o vencimento da aplicação denominada “SOTT0 RENDA +“, o penhor do Reclamante Banco C…, S.A. passou a incidir sobre a quantia em dinheiro de € 1.246.994,74 paga pela Ocidental — Companhia de Seguros Vida, SA.

8. Foi o Banco C…, S.A. que na qualidade de credor pignoratício efectuou o pagamento dos 3 cheques sacados pelo Insolvente lsaac sem qualquer oposição da sua parte e que voluntariamente permitiu tal operação.

(8)

9. A execução do penhor não é automática, sendo necessário um acto de resgate para esse fim, sucede que, o Reclamante Banco C, SA não manifestou tal intenção, pois, quando lhe foi ordenado pela T, Lda em 8 de Abril de 2008 que procedesse ao cancelamento da Conta Corrente Caucionada através da liquidação do produto financeiro dado como Penhor, o “ Sotto Renda +“, já que o mesmo se iria vencia em 29 Maio de 2008, aquele entregou-o

voluntariamente ao Insolvente.

10. Houve por parte do credor pignoratício, o aqui reclamante Banco C, SA uma entrega da prestação empenhada ao titular do crédito

empenhado, tendo-se extinguido neste caso o penhor, nos termos do disposto no art° 865°, n°4 do Código Civil.

11. A sentença proferida deve ser revogada e substituída por outra, apenas na parte em que reconhece e gradua o crédito do banco C…, S.A..

12. A douta decisão impugnada não pode manter-se, pois violou o disposto nos art°s 679° e 685° ambos do Código Civil, fazendo uma aplicação e

interpretação incorrecta do vertido nos referidos artigos”.

Não foram apresentadas contra – alegações.

Colhidos os vistos, cumpre, agora, apreciar e decidir.

II- Delimitação do objecto do recurso – questões a apreciar.

A questão suscitada pela recorrente pode subsume-se somente a uma e única que pode ser sintetizada na de saber se o penhor que garantia o crédito do

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Banco C…,SA. se encontra ou não extinto, e, consequentemente, se o seu crédito ainda beneficia ou não dele.

III- FUNDAMENTAÇÃO.

Fundamentação de facto.

Na sentença recorrida consideraram-se provados os seguintes factos:

1) Por escrito datado de 27 de Abril de 2000, junto como documento n.º 1 autos de reclamação de créditos n.º 398/09.5TBEPS-D, em 15/02/2010, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, subscrito nomeadamente por representantes do Banco P… S.A., e por representantes de T, Lda. e por Isaac por aposição das respectivas assinaturas, todos os subscritores declararam nomeadamente que T…Ldª solicitou e obteve do Banco crédito, sob a forma de abertura de crédito por conta corrente, com o limite de 250.000.000$00 e destinada a apoio de tesouraria; (documento junto aos autos de reclamação de créditos n.º 398/09.5TBEPS - D, cuja junção de certidão será determinada a final).

2) Por escrito datado de 20 de Junho de 2002, junto como documento n.º 1 com a impugnação do Banco C…SA, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, subscrito nomeadamente por representantes do Banco C, S.A., e por representantes de T, Lda. e por Isaac, por aposição das respectivas

assinaturas, todos os subscritores declararam nomeadamente que o Banco aceitava “alterar o Contrato de Abertura de Crédito sob a forma de conta corrente, celebrado em 27/04/2000, destinado ao financiamento de

necessidades pontuais de tesouraria” da T…, até ao valor máximo de

€1.246.994,75, funcionando em conta titulada por T…, com vencimento em 31/07/2002 e prorrogável por períodos de 90 dias; (alínea a) da matéria de facto assente).

(10)

3) Do mesmo escrito consta ainda “9. CAUÇÃO – Essa empresa compromete- se, desde já, a entregar a este Banco: 9.1. Uma livrança por si subscrita e avalizada por (…) Isaac (…), ficando o Banco expressamente autorizado,

através de qualquer um dos seus funcionários, a preenchê-la designadamente no que se refere à data de vencimento, ao local de pagamento e aos valores, até ao limite das responsabilidades emergentes deste contrato (capital e juros) e assumidas pela Empresa perante o Banco, acrescido de todos e quaisquer encargos, acrescido de todos e quaisquer encargos com a selagem, caso se verifique o incumprimento por parte da Empresa de qualquer das obrigações que lhe competem e que aqui são referidas. 9.2. – Constitui garantia desta abertura de crédito, penhor de SOTTO RENDA +, celebrado entre Isaac e o Banco Comercial Português, S.A., Sociedade Aberta, até ao montante de

€1.246.994,75, lavrado em documento anexo, o qual para todos os efeitos legais e contratuais faz parte integrante do presente um contrato.”; (alínea b) da matéria de facto assente).

4) Em remuneração do acordo descrito em b), a T – Confecções, Lda. pagou ao Banco C, S.A. o montante de €361.088,28; (resposta ao art. 2.º da base

instrutória).

5) Ocidental – Companhia de Seguros de Vida, S.A. fez emitir o documento por si junto aos autos de reclamação de créditos n.º 398/09.5TBEPS-D, em

23/03/2010, com a epígrafe “UNL – Sotto Renda +, Ramo: Vida, Apólice:

02449323”, mencionando como tomador e pessoa segurado, Isaac, e como prémio único, investimento e montante aplicado €1.246.994,74; (documento junto aos autos de reclamação de créditos n.º 398/09.5TBEPS-D, cuja junção de certidão será determinada a final).

6) A constituição fundos de investimento, tipo unit-linked, designado por

“Sotto Renda +”, titulado pela apólice n.º 2449323, no valor de €1.246.994,74, foi realizada com montantes obtidos através do acordo mencionado em b);

(resposta ao quesito 1.º).

(11)

7) Os insolventes e outros sócios de T, Lda. receberam os montantes pagos a título de remuneração dos fundos de investimento, tipo unit-linked, designado por “Sotto Renda +”, titulado pela apólice n.º 2449323, no montante de

€467.680,48; (resposta ao quesito 4.º)

8) Todos os anos, em finais de Dezembro, era autorizado pelo Banco C… um débito a descoberto na conta pessoal de Isaac Gomes, cujo montante era utilizado para liquidar o saldo devedor da conta da T Lda. que resultasse do acordo mencionado em b), de forma a que a contabilidade anual da T, Lda. não evidenciasse o correspondente crédito; (alínea c) da matéria de facto assente).

9) Pelo que logo em inícios de Janeiro era realizado novo e igual débito a descoberto na conta da T, S.A., cujo montante era utilizado para saldar o débito a descoberto na conta pessoal de Isaac, realizado nos termos descritos em h); (alínea d) da matéria de facto assente)

10) Após vencimento de “Sotto Renda +”, titulado pela apólice n.º 2449323, o montante resultante de € 1.246.994,74 foi movimentado através de três

cheques, dois no montante de € 600.000,00 e um outro no montante de €

50.000,00, que foram num primeiro momento depositados numa conta titulada nomeadamente pelos insolventes na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da

Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Esposende, CRL, e posteriormente

transferidos para conta titulada por Delfimo – Imobiliária, S.A. em proveito dos insolventes; (resposta ao quesito 3.º).

11) Encontra-se matriculada sob o número de identificação de pessoa

colectiva 501711538, T, Lda., com sede na Quinta da Espinheira, Bloco 3, r/c esq., freguesia de Arcozelo, concelho de Barcelos, tendo por objecto confecção de vestuário; (alínea e) da matéria de facto assente).

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12) São sócios inscritos em tal matrícula Isaac, Paulo, Rosa, e Joaquina, com uma quota de €100.000,00 cada um; (alínea f) da matéria de facto assente).

13) Em tal matrícula é inscrito como gerente Samuel, com registo de designação em 30/12/1988, e Isaac, Paulo, e Delfim, com registo de

designação em 30/12/1988, e registo de cessação de funções em 12/09/2008;

(alínea g) da matéria de facto assente).

14) Por sentença proferida em 28/11/2008 pelo 1.º Juízo Cível de Barcelos no âmbito dos autos de processo especial de insolvência n.º 4110/08.8TBBCL, em sequência de requerimento formulado em 25/11/2008, foi declarada a

insolvência de T, Lda.; (alínea h) da matéria de facto assente).

15) O administrador da insolvência de T, Lda. remeteu aos insolventes escrito de teor idêntico ao junto por cópia com a impugnação da massa insolvente de T, Lda. como documento n.º 1, cujo teor aqui se dá por integralmente

reproduzido; (alínea i) da matéria de facto assente).

16) Em 8 de Novembro de 1993, nomeadamente o insolvente Isaac em

representação de T, Lda. e Joaquim declararam por acordo que este passaria a prestar trabalho com as funções de trolha por conta daquela sociedade

mediante retribuição em dinheiro; (alínea j) da matéria de facto assente).

17) Nos cinco anos anteriores à data da insolvência de T Lda., esta pagou a Joaquim em consequência do supra descrito acordo €36.400,00, e ainda

€8.645,00 a título de contribuições à Segurança Social; (alínea k) da matéria de facto assente).

(13)

18) Desde 1993 que Joaquim passou a prestar o seu trabalho exclusivamente por conta de Delfimo – Imobiliária, S.A.; (resposta ao quesito 5.º).

19) Mais de cinco anos antes da data da insolvência de T, Lda., nomeadamente o insolvente Isaac em representação de tal sociedade, Lda. e Maria

declararam por acordo que esta passaria a prestar trabalho com as funções de acabadeira por conta daquela sociedade mediante retribuição em dinheiro;

(alínea l) da matéria de facto assente)

20) Nos cinco anos anteriores à data da insolvência de T, Lda. esta pagou a Maria em consequência do supra descrito acordo €29.820,00, e ainda

€7.082,25 a título de contribuições à Segurança Social; (alínea m) da matéria de facto assente)

21) Desde o acordo descrito em s) que Maria passou a prestar o seu trabalho exclusivamente por conta de Delfimo – Imobiliária, S.A.; (resposta ao quesito 6.º).

22) Ao actuarem nos termos descritos em j), r), e u), os insolventes Isaac e Samuel agiram com plena consciência de que prejudicavam a T, Lda.;

(resposta ao quesito 7.º).

23) Por escrito de 25 de Junho de 2008, com cópia junta com a reclamação de Delfimo Imobiliária, S.A., cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido, Manuel, em representação de Delfimo Imobiliária, S.A., declarou

nomeadamente prometer vender a Isaac, que no mesmo declarou prometer comprar, pelo preço de € 790.000,00, já recebido, um prédio urbano composto de rés-do-chão e andar, com logradouro, destinado a indústria/comércio, com área coberta de 550 m2, e descoberta de 195 m2, sito na Rua …, 595,

freguesia de Beiriz, concelho da Póvoa de Varzim, descrito na Conservatória do Registo Predial da Póvoa de Varzim sob o n.º 833/Beiriz e inscrito no art.

(14)

1595.º da respectiva matriz urbana, e ainda que o contrato prometido se

realizaria até ao final de 2008, logo que o contraente Isaac Gomes interpelasse a sociedade com dez dias de antecedência; (alínea n) da matéria de facto

assente).

24) As declarações referidas em w) foram proferidas com intenção de subtrair da acção dos credores de Isaac e de T, Lda., o montante em dinheiro entregue na sequência de tal escrito; (resposta ao quesito 10.º)

25) Caixa Central – Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo C.R.L. é titular Conservatória do Registo Predial da Póvoa de Varzim de uma inscrição de hipoteca voluntária, datada de 23/07/2004, correspondente à Ap. 22 e à inscrição G-1, para garantia de uma montante de capital de €425.000,00 até um montante máximo de € 559.937,50, a conceder à sociedade T, Lda.,

averbada à descrição do imóvel referido em w); (certidão junta em audiência).

26) Encontra-se matriculada sob o número de identificação de pessoa colectiva 500373698, Delfimo – Imobiliária, S.A., com sede na Rua …, 567, freguesia de Amorim, concelho da Póvoa de Varzim, tendo por objecto administração, compra e venda de propriedades e revenda dos adquiridos para esse fim e demais operações legalmente permitidas sobre imóveis;

(certidão junta em audiência).

27) Em tal matrícula é inscrito como vice-presidente do conselho de

administração Isaac, com mandato entre os anos de 2003 e 2006. (certidão junta em audiência).

Fundamentação de direito.

(15)

Como ficou dito, a problemática que se suscita no presente recurso contende, e de modo exclusivo, com a questão de saber se o aludido penhor constituído em favor da mencionada entidade bancária ainda existe, ou se, pelo contrário, tal garantia real se encontra já extinta, não podendo, por consequência,

aquela entidade dela beneficiar.

Como decorre da materialidade supra descrita, e efectuando a síntese do essencial de uma tal factualidade, com vista à apreciação e decisão do objecto do presente recurso, temos que resultou demonstrado que o Banco C…

celebrou, nomeadamente, com representante da empresa a T Ldª, e pelo insolvente Isaac, na qualidade de beneficiários, um instrumento denominado

"contrato de abertura de crédito sob a forma de conta corrente ", tendo o crédito concedido como limite o montante de € 1.246.994,75, encontrando-se as responsabilidades do mesmo derivadas, garantidas por penhor de aplicação financeira, designada de “SOTTO RENDA +", efectuada por Isaac, que tinha como prémio único, investimento e montante aplicado o montante de € 1.246.994,00, que foi realizado com montantes obtidos através do aludido contrato de abertura de crédito.

Apurou-se ainda que após vencimento de “Sotto Renda +”, titulado pela apólice n.º 2449323, o montante resultante de € 1.246.994,74 foi

movimentado através de três cheques, dois no montante de € 600.000,00 e um outro no montante de € 50.000,00, que foram num primeiro momento

depositados numa conta titulada nomeadamente pelos insolventes na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Esposende, CRL, e posteriormente, transferidos para conta titulada por Delfimo – Imobiliária, S.A., em proveito daqueles.

Como é consabido o contrato de abertura de crédito consiste na operação em que o banco se obriga a por à disposição de um cliente um certo crédito, por tempo indeterminado, crédito de que o beneficiário usará, à sua vontade, seja recebendo os fundos, seja sacando uma letra ou um cheque sobre o banqueiro Cfr. Vaz Serra, RLJ, Ano 108º, 208..

(16)

Tal contrato é, assim, uma convenção de mútuo, que, quando sob a forma de conta corrente, confere ao devedor faculdade de extinguir, com pagamentos parciais, as entregas que lhe forem sendo efectuadas Cfr. Mário de

Figueiredo, Contrato de Conta Corrente, 1923, pgs. 9 e 64 e Cunha Gonçalves, Comentário ao Código Comercial, Vol. 2º, pg. 340.

.

A garantia geral dos direitos de crédito credores, constituída pelo património do devedor – artigo 601º, do Código Civil -, pode ser acrescida de um reforço, através do estabelecimento:

- De uma garantia real, prestada pelo próprio devedor;

- Ou mediante a constituição de uma garantia pessoal ou real prestada por terceiro, que aumente o património passível de responder pela dívida contraída.

Ora, o penhor, que constitui uma garantia real, em conformidade com o preceituado pelo artigo 666º, nº 1, do CC, "(...) confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito, bem como dos juros, se os houver, com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel, ou pelo valor de créditos ou outros direitos não susceptíveis de hipoteca, pertencentes ao devedor ou a terceiro".

Como refere A. Varela e P. Lima Cfr A. Varela e P. de Lima, C. Civil Anotado, 3ª Ed., Vol. I, pg. 654. “o penhor continua, pois, a ser uma garantia real

completa, que confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito com

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preferência sobre os demais credores (neste aspecto se revelando o seu carácter real) pelo valor da coisa ou do direito empenhado”.

O penhor de aplicações financeiras, reveste, com frequência a modalidade de penhor de direitos, traduzindo-se, assim, num penhor de créditos, uma vez que, o seu objecto é o próprio crédito do depositante sobre o banco, ou seja, ou numa garantia especial sobre direitos, porquanto incide sobre documentos e não sobre o saldo da conta.

Este penhor (de aplicações financeiras) pressupõe sempre a efectuação de um depósito bancário, por via do qual a propriedade do dinheiro depositado se transfere para o banco, nos termos do disposto no artigo 1144, do C. Civil, o qual, posteriormente, é investido ou transformado num produto bancário, gerando-se, dessa forma, na esfera jurídica do depositante/investidor o

correspectivo direito de crédito sobre um determinado valor monetário, que, por virtude da incidência do penhor, ficará em poder do credor penhoratício, o qual, contudo, não poderá usar ou, por qualquer forma, dispor da coisa

empenhada, sem o consentimento do autor do penhor, o que significa que apenas com o assentimento do prestador da garantia pode o credor usar ou onerar a coisa empenhada.

Revertendo de novo á análise da situação em apreço, e como supra se

mencionou, após vencimento de “Sotto Renda +”, titulado pela apólice n.º 2449323, o montante resultante de € 1.246.994,74 foi movimentado através de três cheques, dois no montante de € 600.000,00 e um outro no montante de € 50.000,00, ou seja, foi integralmente devolvido aos insolventes.

A propósito da extinção desta garantia real, dispõe-se no artigo 677, do Código Civil, que “o penhor extingue-se pela restituição da coisa

empenhada, ou do documento a que se refere o nº 1 do artigo 669.º e ainda pelas mesmas causas por que cessa o direito da hipoteca, com excepção da indicada na al. b), do artigo 730”.

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Ora, como se refere no Acórdão do S.T.J., de 7/05/09 Cfr. Ac. do STJ de 07.05.2009, in www.colectaneadejurisprudencia.com, “em caso de

incumprimento de obrigações constantes do contrato de abertura de crédito, responde o penhor, seja através das ditas aplicações, seja

através de depósito à ordem, constituído com o produto dos fundos que haviam sido objecto do contrato de penhor”, sendo que, “o penhor

sobre unidades de aplicação financeira dadas em garantia vigora enquanto subsistirem as obrigações cujo cumprimento assegura, seja qual for a forma por que foram documentadas e debitadas na escrita do banco, até ao pagamento integral do que for devido, ficando

consequentemente cativas até à extinção do penhor”.

Por outro lado, e como se escreve no acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 30/01/01 Cfr. Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, Acórdão de 30/01/2001, Secção Cível, Processo 2832/00, in

www.colectaneadejurisprudencia.com., se, por um lado, “a validade do penhor de coisas, mesmo que constituído em garantia de créditos bancários, depende apenas da entrega da coisa empenhada ou de

documento que confira a exclusiva disponibilidade dela, ao credor ou a terceiro”, por outro, a garantia concedida através da sua constituição

“extingue-se com o simples facto da restituição da coisa ou do

documento, sem necessidade de alegação ou prova de ter sido essa a intenção das partes”.

“É que (continua o mesmo aresto) basta o simples facto da restituição, da coisa ou do documento, sem necessidade de alegar e provar que foi essa a intenção das partes, para que a garantia fique despojada de toda a sua eficácia e, consequentemente, se extinga” Como se diz no C. Civil Anotado de Pires de Lima e Antunes Vareta, vol. I, pág. 621, 2ª. ed. e in Das obrigações em geral, 7ª ed. vol. II pág. 542 de Antunes Varela -.

De tudo resulta que o penhor financeiro, permite ao credor, em caso de incumprimento da obrigação pelo devedor, fazer seu o valor

empenhado para se cobrar pelo respectivo montante pela via da compensação, sendo a sua execução efectuada através do regime específico da cativação do saldo.

(19)

Na situação vertente, o credor penhoratício, ao proceder à restituição do valor monetário ao devedor, resultante do vencimento da aplicação financeira pelo mesmo realizada, e sobre a qual originariamente foi constituído e incidia o penhor, levou a que esta garantia real se tenha extinguido, não podendo, por consequência, o crédito resultante do aludido contrato de abertura de crédito ser pago pelo produto da liquidação da mencionada aplicação financeira, conforme foi determinado pela decisão recorrida.

Destarte, e em decorrência de tudo o acabado de expender, o presente recurso terá de ser julgado procedente, por verificação da extinção do penhor em referência nos autos, não beneficiando, consequentemente, o crédito reclamado pelo Banco Comercial Português dessa mesma garantia real, pelo que, e em consequência, será, e na sua totalidade, graduado como crédito comum.

Sumário – artigo 713, do Código Civil.

I – Na situação de incumprimento de obrigações constantes do

contrato de abertura de crédito, responde o penhor financeiro, através das aplicações que tiverem sido efectuadas, ou, caso, nesse momento, estas se tenham já vencido, através do respectivo valor monetário delas resultantes, que foi objecto do contrato de penhor.

II – Esta garantia extingue-se com a restituição da coisa ou do

documento, independentemente de ter sido ou não essa a intenção das partes ao assim procederem.

IV- DECISÃO.

(20)

Pelo exposto, acordam os Juízes desta secção cível em julgar procedente a apelação e, em consequência, revogar a decisão

recorrida, por verificação da extinção do penhor em referência nos autos, não beneficiando, consequentemente, o crédito reclamado pelo Banco C… dessa garantia real, pelo que, e em decorrência, será, e na sua totalidade, graduado como crédito comum.

Custas pelo Apelado.

Guimarães, 29/03/2012,

Jorge Teixeira,

Manuel Bargado

Helena Melo

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