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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 744/05-2

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 744/05-2

Relator: MARIA AUGUSTA Sessão: 09 Junho 2005 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: PROCEDENTE

APOIO JUDICIÁRIO ADVOGADO HONORÁRIOS

Sumário

No âmbito da Lei nº 30-E/2000, de 20 de Dezembro, apesar de a arguida não ser pronunciada e de, portanto, nada ter a pagar de custas, não é inútil

conhecer do pedido de apoio judiciário se a arguida entende que devem ser pagos honorários ao advogado que escolheu através de procuração, pois é necessário tomar posição sobre se há ou não lugar a tal pagamento, questão sobre a qual a jurisprudência se tem dividido.

Texto Integral

Acordam, em conferência, na Secção Criminal do Tribunal da Relação de Guimarães:

M… requereu a concessão do apoio judiciário T.J. de Guimarães – 2º Juízo , na modalidade de dispensa total do pagamento de taxa de justiça e demais

encargos com o processo e pagamento de honorários ao defensor escolhido.

Sobre tal requerimento e após diligências, a MMª Juíza proferiu o seguinte despacho, datado de 24/11/04 (transcrição):

Atendendo à decisão de não pronúncia e que não condenou os arguidos em quaisquer custas, à posição assumida supra pelo M.P. e ao estado dos autos, revela-se, no seu contexto, inútil proferir decisão sobre o pedido de apoio judiciário, pelo que não se conhece do mesmo.

Em 21/12/04, na sequência de pedido de esclarecimento, a MMª Juíza proferiu o seguinte despacho (transcrição):

Fls 663: No que concerne particularmente à arguida M…, apura-se que a

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mesma passou uma procuração forense a favor do ilustre mandatário subscritor do requerimento em apreço (cfr. fls 486), pelo que, como é

jurisprudência corrente, não lhe são devidos honorários a título, digo como defensor oficioso.

Notifique com cópia da procuração inserta a fls 486.

É deles que a arguida vem interpor recurso, concluindo a sua motivação com as seguintes conclusões:

1ª – A recorrente requereu que lhe fosse concedido o benefício de apoio

judiciário na modalidade de dispensa de pagamento de taxa de justiça, custas e pagamento de honorários ao defensor escolhido, tendo o Tribunal recorrido considerado que seria inútil pronunciar-se sobre o requerido atendendo ao facto da recorrente ter sido despronunciada e portanto não ter que pagar quaisquer custas, acrescentando que encontrando-se junta aos autos

procuração outorgada a favor de advogado não havia lugar ao pagamento de honorários, assim lhe denegando o apoio judiciário requerido.

2ª Apesar de a recorrente não ter de pagar quaisquer custas judiciais em virtude da sua não pronúncia e, como tal, o pedido carecer de objecto, o mesmo não se passa com o pagamento de honorários ao defensor escolhido uma vez que é a recorrente responsável pelo seu pagamento, sendo que

podendo ainda a recorrente interpor recurso – como interpôs – da decisão que denegou o benefício do apoio judiciário na modalidade de pagamento de

honorários ao defensor escolhido, o pedido de apoio judiciário deve ser decidido porquanto foi deduzido em tempo e muito antes do trânsito em julgado do douto despacho de não pronúncia (cfr. o artº17 nº2 da Lei 30-E/00 de 20 de Dezembro e o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 20/3/01 supra citado).

3ª O pedido de apoio judiciário deduzido pela recorrente deu entrada em juízo no dia 30/04/2003, pelo que a tal requerimento aplica-se o disposto na al. C) do art.º15º da Lei n.º30-E/2000 de 20 de Dezembro na qual se diz que o apoio judiciário compreende a modalidade de “Nomeação e pagamento de

honorários do patrono ou, em alternativa, pagamento de honorários do patrono escolhido pelo requerente”,”, sendo que outro tanto se dizia no art.

15º, nº1 do D.L. 387-B/87 de 29/12: “O apoio judiciário compreende a dispensa total ou parcial dos preparos e dos pagamentos de custas ou o seu

deferimento, assim como do pagamento dos serviços do advogado ou solicitador” desde que expressamente solicitado (cfr. o nº2 do artº15º).

4ª Assim, coo se constata da al.c) do art. 15º da Lei 30-E/2000 aplicável na data da dedução do pedido de apoio judiciário dos autos, a Lei facultava ao requerente a possibilidade de solicitar o benefício do apoio judiciário na

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modalidade de pagamento de honorários do patrono escolhido ao requerente, pelo que comprovando-se a sua insuficiência económica, os honorários devidos ao patrono seriam suportados pelo Cofre geral dos Tribunais.

5ª O facto de a recorrente ter junto aos autos procuração a favor de advogado mais não foi do que a forma de escolher defensor, o que não inviabiliza nem pode inviabilizar, o pagamento de honorários ao defensor escolhido pelo requerente, pelo que comprovando-se a sua insuficiência económica, os honorários devidos ao patrono escolhido no âmbito do benefício de apoio judiciário, não sendo requisito da atribuição de apoio judiciário nesta modalidade a nomeação de defensor pela mesma via

6ª A Lei prevê duas situações quer a nomeação de patrono a escolher pela Ordem dos Advogados; ou o pagamento de honorários ao defensor que o beneficiário escolheu.

7ª Estas duas situações - nomeação de patrono a escolher pela Ordem dos Advogados ou pagamento de honorários ao seu patrono escolhido pelo recorrente – equiparam-se no concernente ao modo de protecção do cidadão que precisa de advogado para poder exercer em juízo o seu direito fundamental de acesso ao direito e aos tribunais.”, sendo que “Estando em jogo apenas o pagamento de honorários ao seu advogado, requerido no âmbito de apoio judiciário, esta situação não impede a constituição de mandatário judicial e antes o pressupõe.” (No mesmo sentido e acrescentando que “O pedido de pagamento de honorários a patrono escolhido pelo requerente não representa um pedido de nomeação de patrono” veja-se o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça em 13/11/2004 em que foi relator o Juiz Conselheiro Azevedo Ramos, publicado em www,dgsi.pt.

8ª Aliás, tal como já estipulava o artº 50º do D.L. 387-B/97 de 29 de Dezembro, regendo especificamente sobre esta matéria o artº 50º da Lei nº30-E/2000 de 20 de Dezembro estatui que é atendível a indicação pelo requerente do apoio judiciário de advogado quando este declare aceitar a prestação de serviços requeridos, nos limites das normas regulamentares da Ordem dos Advogados, como aconteceu no caso dos autos, pelo que deveria o Tribunal pronunciar-se sobre esta questão ainda que a recorrente tenha sido despronunciada.

9ª Por outro lado, na medida em que se entenda aplicável o regime do

contrato de mandato é certo que este se presume oneroso se tiver por objecto actos que o mandatário pratique por profissão (cfr. o artº1158º nº1 do Código Civil), mas tendo a recorrente requerido o apoio judiciário na modalidade de pagamento de honorários ao defensor tal presunção é elidida.

10ª Para além do mais, nenhuma norma da Lei 30-E/00 de 20 de Dezembro impede esta forma de escolha de defensor ou impõe qualquer outra para escolha de defensor no âmbito de apoio judiciário.

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11ª Os despachos recorridos violaram ou fizeram uma errada aplicação do disposto nos artºs 15º e 50º do D.L. 387-B/87 de 29 de Dezembro, nos artºs 1º, 7º nº1, 15º al.c), 17º nº2 e 50º da Lei 30-E/00 de 20 de Dezembro e os artºs 20º nº1 e 32º nº3 da Constituição, não podendo, pois, manter-se.

*****

O recurso foi admitido por despacho de fls.14.

*****

O arguido não respondeu.

*****

O Exmo Procurador Geral Adjunto nesta Relação emitiu parecer no qual conclui que o recurso não merece provimento.

*****

Cumpre decidir:

O objecto do recurso é definido pelas conclusões extraídas pelo recorrente da motivação por ele apresentada, sem prejuízo das questões de conhecimento oficioso.

Ora, das conclusões apresentadas pela recorrente resulta ser apenas uma a questão a decidir – saber se não tendo a requerente do apoio judiciário sido pronunciada e, portanto, não havendo custas a pagar, a decisão sobre o mesmo é inútil.

Entendeu a MMº Juíza a quo que não tendo a arguida, requerente do apoio judiciário, quaisquer custas a pagar, dado o estado dos autos (já havia sido proferido despacho de não pronúncia), seria inútil proferir decisão sobre tal pedido.

Como bem esclarece o Exmº Procurador Geral Adjunto, a lei aplicável ao pedido de concessão de apoio judiciário era, à data em que este foi requerido, a Lei nº30-E/2000, de 20/12.

Conforme resulta do esclarecimento cuja cópia consta de fls.20 e que acima ficou transcrito, a MMª Juíza considerou que embora o requerimento do apoio judiciário abrangesse, para além da dispensa total do pagamento de custas, também o pagamento de honorários ao defensor escolhido, uma vez que a requerente juntou procuração a advogado, a este não são devidos honorários

“como é jurisprudência corrente” .

Ora, a jurisprudência não tem tido, ao que se sabe, uma posição uniforme sobre esta questão Igualmente se encontra dividida sobre a questão de saber se, em processo penal, as normas aplicáveis ao pedido de concessão do apoio judiciário são as do Dec-Lei nº387-B/87 de 29/12 por, apesar de ter sido

revogado pela Lei nº30-E/2000, não ter sido regulada a sua apresentação, instrução e decisão pelos serviços da segurança social, ou se se aplica o regime adjectivo daquele Decreto-Lei e o regime substantivo desta Lei. .

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Embora haja um sector que defende que o benefício do apoio judiciário não abrange a dispensa de pagamento dos honorários a advogado já constituído Cfr., entre outros, Ac. Rel. De Coimbra de 15/10/03 – http://www.dgsi.pt/

jtrc.nsf e Ac. da rel. De Lisboa de 18/01/00 – http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf., outro há que defende a posição contrária, isto é, que a escolha de advogado pode feita (para uns) ou tem de ser feita (para outros) através da junção de

procuração Tal posição resulta, indirectamente, do Ac. da Relação de Lisboa, de 10/11/04 - http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf. Cfr. ainda Ac. da Rel do Porto, de 11/03/04 (Secção Cível) - http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf .

Por isso, perante a posição não uniforme da jurisprudência, a decisão sobre o pedido de apoio judiciário, que foi formulado durante a pendência do

processo, com vista ao seu percurso futuro, continua a ter interesse.

Pese embora o teor do artº715º do C.P.Civil Norma aplicável ao recurso de agravo, como nos parece ser consensual. , este Tribunal não poderá apreciar a questão uma vez que os autos não contêm os elementos de facto para o efeito necessários.

*****

DECISÃO:

Pelo exposto, acordam os Juízes deste Tribunal em julgar procedente o recurso e, consequentemente, julgar nulo o despacho recorrido, que deve ser

substituído por outro que conheça do pedido de apoio formulado pela recorrente.

Sem tributação.

*****

Guimarães, 09/06/05

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