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Estudo do padrão de consumo de medicamentos pelos estudantes da Universidade de Lisboa

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Academic year: 2021

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José Cabrita é professor associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e responsável do Departamento de Sócio--Farmácia.

Humberto Ferreira é assistente convidado da Faculdade de Far-mácia da Universidade de Lisboa, Departamento de Bioestatís-tica.

Paula Iglésias é monitora da Faculdade de Farmácia da Universi-dade de Lisboa, Departamento de Sócio-Farmácia.

Telmo Baptista é professor auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Evangelista Rocha é professor auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Departamento de Medicina Preven-tiva.

Adelina Lopes da Silva é professora catedrática da Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade de Lisboa. José Pereira Miguel é professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e director do Instituto de Medicina Preventiva.

Estudo do padrão de consumo

de medicamentos pelos estudantes

da Universidade de Lisboa

JOSÉ CABRITA HUMBERTO FERREIRA PAULA IGLÉSIAS TELMO BAPTISTA EVANGELISTA ROCHA ADELINA LOPES DA SILVA JOSÉ PEREIRA MIGUEL

A caracterização do padrão de consumo de medicamentos nos estudantes universitários contribui não só para um melhor conhecimento sobre a sua saúde, mas também para a elaboração de programas que visam o uso racional do medicamento na população em geral, pois são potenciais líderes de opinião das comunidades onde se inserem. Assim, foi efectuado um estudo qualitativo do consumo de medicamentos nos estudantes da Universidade de Lisboa (UL) visando: caracterizar o padrão de consumo de medi-camentos, o perfil sócio-demográfico, psicológico e de saúde; identificar preditores de consumo; estimar o grau de adequação na sua utilização.

Realizou-se um estudo descritivo e transversal numa amostra aleatória, constituída por 1147 alunos, aos quais

foi administrado um questionário para obtenção de infor-mação relativa aos medicamentos consumidos na quinzena anterior e para a caracterização dos inquiridos. Cerca de 57% dos estudantes inquiridos consumiram medicamentos na quinzena anterior ao inquérito, tendo o número de medicamentos variado entre 1 e 10 por consumidor. O uso de medicamentos revelou-se associado ao status de saúde, mas foi independente de qualquer das variáveis sócio-demográficas estudadas, exceptuando o sexo, pois foi sig-nificativamente maior nas mulheres, mesmo após exclusão de contraceptivos orais.

No período estudado foram consumidos 1160 medicamen-tos, dos quais 78% de prescrição médica obrigatória. Os grupos terapêuticos mais utilizados foram os do sistema nervoso cérebro-espinal (34,4%) e do aparelho músculo--esquelético (16,4%). Cerca de 6% dos consumidores uti-lizaram antibióticos, 8% psicofármacos, 15% AINES e 22% analgésicos e antipiréticos. O Paracetamol foi o fár-maco mais usado. A prevalência de automedicação foi de apenas 19% e a maioria dos inquiridos assumiu ter cum-prido a terapêutica instituída. Cerca de 58% dos consumi-dores consideram-se bem informados quanto aos efeitos adversos e contra-indicações dos medicamentos usados. Conclusões: o consumo de medicamentos pelos alunos da UL foi elevado, mas na maioria dos casos de forma ade-quada. Segundo a sua utilização, a dor, a infecção e os desequilíbrios psicoemocionais foram os problemas de saúde mais frequentes. O estudo do consumo de medica-mentos através da administração de um questionário reve-lou-se um instrumento muito útil para a caracterização do padrão de utilização e do grau de informação dos consu-midores sobre o produto e da adequação com que o utili-zam.

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Consumo de medicamentos

Introdução

Os estudantes universitários formam uma comuni-dade jovem e potencialmente saudável, pelo que os seus problemas de saúde e, consequentemente, o tipo de medicamentos mais consumidos não reflectem os da população em geral. No entanto, estão expostos a factores de risco específicos, nomeadamente um con-tínuo stress e esforço intelectual intenso, cujas reper-cussões na sua saúde importa avaliar.

Por outro lado, os estudantes universitários são um grupo privilegiado do ponto de vista sócio-económico e intelectual, supostamente informado relativamente à problemática da saúde e ao uso adequado de medica-mentos e que se assumirá como líder de opinião nas comunidades onde irá inserir-se após a sua graduação. Assim, a caracterização do padrão de consumo de medicamentos neste grupo populacional poderá contri-buir não só para um melhor conhecimento sobre a sua saúde, mas também para a elaboração de programas tendentes ao uso racional do medicamento nesta comunidade e na população em geral.

O padrão de utilização de medicamentos numa comu-nidade é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como um importante indicador sanitário, contri-buindo para identificar as suas principais patologias e estimar as respectivas prevalências, assim como para melhor conhecer a forma como as populações utilizam os recursos terapêuticos (Dukes, 1993).

Frequentemente, a caracterização do padrão de utili-zação de medicamentos por uma população é efec-tuada através da análise dos elementos fornecidos pelas prescrições médicas ou pelas vendas de medi-camentos, os quais são disponibilizados pelos siste-mas prestadores de cuidados de saúde. No entanto, este tipo de estudos apresenta limitações metodológi-cas que não permitem a obtenção de informação rela-tiva ao perfil sócio-demográfico e de saúde do con-sumidor nem do grau de adequação ou de efectividade da terapêutica. Para tal torna-se indis-pensável recorrer à inquirição de amostras represen-tativas das comunidades em estudo. Neste contexto, considerámos pertinente realizar um estudo qualitati-vo de consumo de medicamentos nos estudantes da Universidade de Lisboa, uma das maiores do país, com cerca de 20 000 alunos inscritos, tendo como principais objectivos:

1. Caracterizar o padrão de utilização de medica-mentos através do conhecimento da frequência, ritmo, duração, e das razões que determinaram o seu uso.

2. Identificar preditores de consumo relacionados com variáveis sócio-demográficas, psicológicas e de saúde dos seus consumidores.

3. Estimar o grau de adequação na utilização do arsenal terapêutico, considerando os sintomas/ patologias a que se destinavam, o cumprimento da terapêutica, a prevalência de automedicação e a auto-avaliação de conhecimentos relativos aos medicamentos usados.

Material e métodos

1. Desenho do estudo: estudo transversal.

2. População em estudo: a totalidade dos alunos ins-critos em cursos de ensino pré-graduado na Univer-sidade de Lisboa no ano lectivo de 1999-2000, num total de 18 947 estudantes.

3. Amostra: probabilística e representativa da popula-ção em estudo.

Dimensão da amostra: a dimensão da amostra foi calculada tendo em consideração o universo da popu-lação em estudo, um erro de amostragem de 3% e um nível de confiança de 95%, correspondendo a um total de 1067 elementos. Os efectivos amostrais foram distribuídos por todas as faculdades da Univer-sidade de forma proporcional às respectivas popula-ções estudantis e foram adicionados 80 elementos à amostra de forma a reforçar os efectivos das faculda-des menos representadas. Assim, a dimensão global da amostra estudada foi de 1147 estudantes. Selecção da amostra: foram constituídas listagens de alunos inscritos por curso, por ano e por turma a partir das quais foram seleccionados aleatoriamente os elementos da amostra de cada faculdade, em duas etapas (curso e turma), estratificada por ano de ins-crição do aluno. O Quadro I apresenta a distribuição dos efectivos do universo e da amostra por faculdade, assim como as suas principais características demo-gráficas.

4. Recolha de informação: a informação foi recolhida de Janeiro a Maio de 2000, por questionário auto--administrado, na presença de um elemento da equipa de investigação. As variáveis que constituem o inqué-rito foram agrupadas nos seguintes módulos: a) sócio--demográfico (idade, sexo, grupo étnico, estado civil, curso frequentado, profissão dos pais); b) estado de saúde (auto-avaliação do estado de saúde, auto-ava-liação do grau de stress; auto-avaauto-ava-liação da condição física; número de consultas médicas no ano anterior); c) consumo de medicamentos (número de medica-mentos utilizados na quinzena anterior, nome dos medicamentos, doença/sintoma para que utilizou o medicamento, quem o aconselhou, duração do con-sumo, ritmo do consumo); d) atitudes e

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conhecimen-informativo, auto-avaliação dos conhecimentos sobre os efeitos adversos e contra-indicações, onde adqui-riu os conhecimentos).

5. Classificação dos medicamentos: os medicamen-tos utilizados foram classificados de acordo com a classificação fármaco-terapêutica apresentada no Índice Nacional Terapêutico (Índice Nacional Tera-pêutico, 2000).

6. Tratamento e análise de dados: a informação recolhida foi codificada e introduzida em base de dados construída para o efeito em software Epi Info 6 e submetida a tratamento e análise estatística em Epi Info 6 e SPSS v.9.

A análise estatística bivariada entre o consumo de medicamentos e os diversos parâmetros em estudo foi efectuada pelos testes t de Student, teste do χ2 e

teste de Fisher exacto e foram calculados os

respec-modelo computacional Forward Stepwise para ajus-tamento dos odds ratio brutos relativamente a poten-ciais variáveis de confundimento e para definição do modelo final de predição. Foi assumido um nível de significância estatística de p < 0,05 e intervalos de confiança a 95%.

Resultados

Dos 1147 estudantes inquiridos 649 tinham consu-mido algum medicamento na quinzena anterior à administração do inquérito, o que corresponde a uma prevalência de consumidores de 56,6% (IC = 53,7 %; 59,5%). O Quadro II apresenta a distribuição dos consumidores por sexo e por grupo etário, mostrando que o consumo de medicamentos é menos frequente nos estudantes mais jovens e significativamente mais elevado no sexo feminino (p < 0,001).

Quadro I

Distribuição por faculdade da Universidade de Lisboa dos efectivos da população em estudo e da amostra das características demográficas da amostra

Faculdades População Amostra

da Universidade de Lisboa em estudo Total (idade: m; dp) H (idade: m; dp) M (idade: m; dp)

Belas-Artes 11 072 87 (21,7; 4,0) 36 (21,6; 4,2) 51 (21,8; 4,0) Ciências 15 708 305 (21,4; 3,8) 118 (21,3; 3,4) 187 (21,5;4,1) Direito 13 868 219 (23,5; 8,2) 78 (26,8;10,4) 141 (21,7; 5,9) Farmácia 11 185 79 (21,5; 4,2) 17 (23,2; 7,9) 62 (21,0; 2,5) Letras 14 877 289 (23,4; 6,9) 53 (25,3; 8,9) 236 (23,0; 6,3) Medicina 11930 70 (21,1; 2,6) 27 (21,6; 2,3) 43 (20,8; 2,8) Medicina Dentária 11340 36 (21,9; 2,3) 14 (22,1; 2,3) 22 (21,9; 2,3) Psicologia C. Educação 11967 62 (21,4; 2,9) 14 (22,7; 3,0) 48 (21,1; 2,7) Total 18 947 1 147 (22,4; 5,7) 357 (22,3; 7,1) 790 (24,8; 5,0) Quadro II

Prevalência do consumo de medicamentos por sexo e grupo etário

Prevalência de consumo de medicamentos (%) Grupo etário (anos)

Homens Mulheres Total

17-20 39,2 (58/148) 60,1 (217/361) 50,4 (275/509) 21-24 43,7 (59/135) 65,5 (224/342) 59,3 (283/477)

≥ 25 47,3 (35/74) 64,4 (56/87) 56,5 (91/161)

Total 42,6 (152/357) 62,9 (497/790) 56,6 (649/1147) Sexo (χ2 = 39,2; p < 0,001) Grupo etário (χ2 = 2,82; p > 0,05)

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Consumo de medicamentos

O número de medicamentos por consumidor variou entre 1 e 10, com um valor médio de 1,8. Cerca de 48% dos consumidores recorreram apenas a um medicamento no período em estudo, mas 12,1% uti-lizaram 3 ou mais medicamentos. Verificou-se a existência de uma associação estatisticamente signifi-cativa entre o sexo feminino e o consumo de um maior número de medicamentos (p < 0,05). A prevalência de consumo de medicamentos foi mais elevada entre os casados (61,3%) e nos estudantes que frequentavam cursos no âmbito das Ciências da Saúde (60,0%), particularmente de Farmácia (70,9%). No entanto, na amostra em estudo o con-sumo de medicamentos não se revelou significativa-mente associado a qualquer destas variáveis sócio--demográficas (estado civil, grupo étnico, curso frequentado e profissão dos pais).

O Quadro III apresenta a distribuição da prevalência de consumo de medicamentos relativamente às variá-veis que permitem estimar o potencial de saúde dos inquiridos, constatando-se que aquela foi mais

ele-vada nos que consideravam ter um estado de saúde fraco ou razoável (81,0%), condição física fraca ou razoável (63,7%), maior stress na actividade diária (65,7%) e que tinham maior número de consultas médicas no ano anterior (66,4 %). Todas estas variá-veis apresentaram uma associação fortemente signifi-cativa com o consumo de medicamentos (p < 0,001). No Quadro IV apresentam-se os resultados da análise do consumo de medicamentos versus as co-variáveis consideradas potencialmente preditivas da utilização dos medicamentos na população em estudo. Verifi-cou-se, após ajustamento, que o consumo de medica-mentos manteve uma elevada significância de asso-ciação com o sexo, a auto-avaliação do estado de saúde, o stress quotidiano e o número de consultas médicas.

Os 649 estudantes consumidores de medicamentos referiram, no seu conjunto, a utilização na quinzena anterior ao inquérito de 1160 medicamentos, dos quais 962 foram indicados pela respectiva designa-ção comercial (82,9%). O fármaco mais

frequente-Quadro III

Prevalência do consumo de medicamentos por auto-avaliação do estado de saúde, da condição física, do grau de stress quotidiano e do número de consultas médicas no ano anterior

Potencial de saúde Prevalência de consumo de medicamentos (%)

Auto-avaliação do estado de saúde

Óptimo/muito bom 48,0 (246/512)

Bom 58,7 (287/489)

Razoável/fraco 81,0 (115/142)

χ2 = 50,52; p < 0,001

Auto-avaliação da condição física

Óptimo/muito bom 43,7 (106/243)

Bom 57,5 (299/520)

Razoável/fraco 63,7 (244/383)

χ2 = 24,71; p < 0,001

Auto-avaliação do grau de stress quotidiano

Elevado 65,7 (165/251)

Moderado 57,5 (395/687)

Reduzido 42,4 (87/205)

χ2 = 21,13; p < 0,001

Número de consultas médicas no ano anterior

Nenhuma 47,0 (52/132)

Uma 47,6 (157/330)

Duas a quatro 62,5 (333/533)

Mais de quatro 66,2 (96/145)

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Co-variáveis p OR univariado p OR Multivariado p OR multivariado

(IC 95%) (IC 95%) (IC 95%)

Auto-avaliação do estado de saúde 1. Óptimo/muito bom 0,000 4,61 (2,93-7,25) 0,000 3,99 (2,34-6,81) 0,000 3,89 (2,41-6,28) 2. Bom 0,000 3,01 (1,91-4,75) 0,000 3,05 (1,84-5,04) 0,000 2,79 (1,73-4,51) 3. Razoável/fraco (ref.) – – – – – – Auto-avaliação da condição física 1. Óptima/muito boa 0,000 2,29 (1,65-3,17) 0,204 1,29 (0,87-1,93) – – 2. Boa 0,060 1,30 (0,99-1,70) 0,644 0,93 (0,68-1,26) – – 3. Razoável/fraca (ref.) – – – – – – Auto-avaliação do grau de stress 1. Muito (ref.) – – – – – – 2. Moderado 0,022 1,42 (1,05-1,92) 0,159 1,26 (0,91-1,75) 0,098 1,31 (0,95-1,81) 3. Pouco 0,000 2,42 (1,64-3,59) 0,020 1,66 (1,08-2,54) 0,006 1,80 (1,18-2,72) 4. Nenhum 0,001 4,66(1,86-11,66) 0,039 2,77 (1,06-7,25) 0,017 3,17 (1,23-8,21)

Número de consultas médicas no ano anterior

1. Nenhuma 0,001 2,21 (1,36-3,59) 0,066 1,62 (0,97-2,73) 0,065 1,62 (0,97-2,71) 2. Uma 0,000 2,16 (1,44-3,24) 0,006 1,84 (1,20-2,82) 0,006 1,83 (1,19-2,80) 3. Duas a quatro 0,395 1,18 (0,80-1,74) 0,895 0,97 (0,65-1,47) 0,889 0,97 (0,65-1,46)

4. Superior a quatro (ref.) – – – – – –

Frequência de um curso

de saúde (não) 0,306 0,85 (0,61-1,17) 0,150 0,77 (0,54-1,10) – –

Pais profissionais de saúde

(sim) 0,280 0,80 (0,53-1,20) 0,608 0,89 (0,57-1,39) – –

Idade

1. 17 a 20 anos 0,087 1,25 (0,97-1,60) 0,809 1,06 (0,67-1,67) – – 2. 21 a 24 anos 0,585 1,11 (0,77-1,59) 0,691 0,91 (0,58-1,44) – –

3. Mais de 24 anos (ref.) – – – – – –

Sexo (feminino) 0,000 2,23 (1,73-2,88) 0,000 1,95 (1,48-2,56) 0,000 1,98 (1,52-2,59)

Estado civil (casado) 0,401 1,23 (0,76-1,99) 0,670 0,88 (0,47-1,61) – –

Etnia

1. Branco (ref.) – – – – – –

2. Negro 0,979 1,01 (0,52-1,95) 0,588 0,82 (0,39-1,70) – –

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Consumo de medicamentos

mente consumido foi o Paracetamol, que foi utili-zado na quinzena anterior ao inquérito por 9,1% dos inquiridos (104/1147).

A distribuição dos medicamentos por grupo terapêu-tico é apresentada na Figura 1, verificando-se que a maioria dos medicamentos consumidos pertenciam ao grupo II — sistema nervoso cérebro-espinal (34,4%) e ao grupo X — aparelho músculo-esquelé-tico (16,4%). Quanto aos respectivos subgrupos, salienta-se o consumo de analgésicos e antipiréticos (21,9%), anti-inflamatórios não esteróides — AINES (15,5%), psicofármacos (8,0%), anovulatórios (7,8%), antibacterianos (5,9%) e antiasmáticos (5,8%). A prevalência de consumo de medicamentos por sub-grupo e por sexo é apresentada no Quadro V, verifi-cando-se uma maior prevalência de consumidores do sexo feminino para todos os subgrupos referidos,

Figura 1

Distribuição dos medicamentos por grupo fármaco-terapêutico

Quadro V

Prevalência de consumo de medicamentos por subgrupos terapêuticos e por sexo

Subgrupo terapêutico Sexo masculino Sexo feminino Total

Analgésicos e Antipiréticos 14,1% (50/354) 17,8% (141/791) 16,7% (191/1145) χ2= 2,41; p > 0,05 Antialérgicos 3,6% (13/354) 3,5% (28/791) 13,6% (41/1145) χ2= 0,01; p > 0,05 Antiasmáticos 3,6% (13/354) 3,2% (25/791) 13,3% (38/1145) χ2= 0,20; p > 0,05 Anti-infecciosos 4,5% (16/354) 5,6% (44/791) 15,2% (60/1145) χ2= 0,54; p > 0,05

Anti-inflamatórios não esteróides 5,6% (20/354) 15,2% (120/791) 12,2% (120/1145) χ2= 20,66; p < 0,001

Psicofármacos 4,2% (15/354) 9,5% (75/791) 17,9% (90/1145)

χ2= 9,29; p = 0,002

exceptuando os antiasmáticos e os antialérgicos. No entanto, esta diferença de consumo entre os sexos só foi estatisticamente significativa relativamente aos AINES e aos psicofármacos (p < 0,01).

Quanto ao ritmo da toma, 41,4% dos medicamentos foram tomados de forma ocasional, 19,4% de forma intermitente e 39,2% de forma continuada. Segundo a sua utilização, a dor, a infecção e os desequilíbrios psicoemocionais foram os problemas de saúde mais frequentes. Considerando a indicação terapêutica do medicamento e a doença/sintoma para a/o qual estava a ser utilizado verificou-se uma adequação terapêu-tica em 88,6% dos casos. Cerca de 78% dos medica-mentos indicados eram de prescrição médica obriga-tória e o aconselhamento do medicamento foi efectuado pelo médico em 71,9% dos casos, por amigos/familiares em 15,8% e pelo farmacêutico em

Outros 28,8% Anti-infecciosos 6,4% SN cérebro-espinal 33,4% Aparelho respiratório 10,2% Antialérgicos 4,8% Aparelho músculo-esquelético 16,4%

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Quadro VI

Resultados da auto-avaliação de conhecimentos sobre os efeitos adversos e contra-indicações dos medi-camentos usados por características sócio-demográficas do consumidor

Grau de conhecimento sobre contra-indicações e efeitos adversos dos medicamentos usados (%) Variáveis sócio-demográficas

Muito bons/Bons Razoáveis Fracos

Sexo Masculino 83 (56,4) 51 (34.7) 13 (8,9) Feminino 289 (58,5) 180 (36,4) 25 (5,1) χ2 = 2,91; p > 0,05 Grupo etário 17 a 20 anos 141 (52,2) 109 (40,4) 20 (7,4) 21 a 24 anos 186 (65,7) 84 (29,7) 13 (4,6) ≥ 25 anos 46 (51,7) 38 (42,7) 5 (5,6) χ2 = 12,61; p < 0,05 Etnia Branca 355 (58,1) 218 (35,7) 38 (6,2) Outra 18 (58,1) 13 (41,9) 0 (0,0) χ2 = não válido Estado civil Solteiro 348 (59,4) 202 (34,5) 36 (6,1) Casado 20 (44,4) 24 (53,3) 1 (2,3) Outro 4 (40,0) 4 (40,0) 2 (20,0) χ2 = não válido Curso frequentado Saúde 75 (68,2) 33 (30,0) 2 (1,8) Não saúde 298 (56,1) 197 (37,1) 36 (6,8) χ2 = 7,34; p < 0,05

Profissão dos pais

Saúde 27 (52,9) 21 (41,2) 3 (5,9)

Não saúde 346 (58,5) 210 (35,5) 35 (6,0)

χ2 = 0,67; p > 0,05

diferiu significativamente com nenhuma das variá-veis em estudo. A prevalência do consumo de medi-camentos em automedicação foi de 19,1% (IC 16,2%; 22,4%), sendo mais elevada nos estudantes de Far-mácia (26,8%) e nos do sexo masculino (25,7%). A associação entre o sexo e a automedicação reve-lou-se estatisticamente significativa (p < 0,05). Mais de metade (58,1%) dos estudantes que consu-miram medicamentos no período em estudo conside-ram-se bem informados quanto aos efeitos adversos e contra-indicações dos medicamentos usados, enquanto 5,9% assumiram ter um baixo conheci-mento. O Quadro VI apresenta a distribuição desta auto-avaliação em função de diversos parâmetros.

velhos e os dos cursos da área da saúde os que se consideravam melhor informados. A principal fonte da informação foi a leitura do folheto informativo, referida por 69% dos inquiridos, o médico (45,0%), o farmacêutico (14,4%) e amigos/familiares (12,5%).

Discussão

A prevalência de consumidores de medicamentos entre os estudantes da Universidade de Lisboa (56,6%) foi superior à esperada, tendo em considera-ção a média etária e o potencial de saúde daquela comunidade. No entanto, foi inferior à observada

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Consumo de medicamentos

num estudo efectuado na Faculdade de Farmácia da Universidade de Granada (64,2%), onde, tal como em Lisboa, o consumo foi mais frequente entre as mulheres e o Paracetamol o fármaco mais usado (Lopez e Gonzalez, 1997). Não dispomos de elemen-tos relativos a qualquer outro estudo sobre consumo de medicamentos em estudantes universitários, o que condiciona qualquer análise comparativa.

O uso de medicamentos revelou-se, obviamente, associado ao status de saúde (avaliado pelo número de consultas ao médico e pela auto-avaliação do estado de saúde, condição física e stress quotidiano), mas foi independente de qualquer das variáveis sócio-demográficas estudadas, exceptuando o sexo (p < 0,001). Nas mulheres o consumo foi não só mais frequente, mas também com um maior número de medicamentos e de forma continuada. Este facto, observado por outros autores (Simoni et al., 2000), poderia ser explicado pelo uso de contraceptivos orais, mas o padrão de consumo manteve-se após exclusão dos contraceptivos orais nos medicamentos em análise.

Relativamente ao grupo terapêutico, salienta-se o ele-vado consumo de psicofármacos, de anti-inflamató-rios não esteróides e de analgésicos e antipiréticos. O consumo destes últimos poderá estar sobrestimado devido a o inquérito ter sido efectuado sobretudo durante o Inverno.A prevalência de utilizadores de psicofármacos foi muito elevada, sobretudo nas mulheres, sendo, na globalidade, cerca de 3,5 supe-rior à referida num estudo efectuado em estudantes de Medicina nos Estados Unidos (Baldwin et al., 1991). Nos estudantes do sexo feminino o uso de anti-inflamatórios não esteróides foi também signifi-cativamente mais frequente, o que poderá ser expli-cado pela grande utilização destes fármacos na dis-menorreia.

A maior frequência de consumo observada nos estu-dantes de Farmácia poderá resultar de uma maior informação sobre medicamentos, a qual estará asso-ciada a uma maior predisposição para a sua utilização. Uma elevada prevalência de consumo de medicamen-tos em estudantes de Farmácia (64,2%) foi igualmente observada no estudo efectuado na Universidade de Granada (Lopez e Gonzalez, 1997) acima referido e sugere-nos a realização de um estudo posterior para investigar os seus determinantes.

A prevalência de automedicação (19,1% entre os estudantes da Universidade de Lisboa) foi inferior à observada num estudo sobre a população em geral desta região (46,1%) (Barros, Cabrita, 1993) e no estudo de Granada, onde atingiu cerca de 67% (Lopez e Gonzalez, 1997).

Tendo em conta a proporção de medicação adequada à doença/sintoma, o cumprimento da terapêutica

ins-tituída, a origem do aconselhamento terapêutico e os resultados da auto-avaliação de conhecimentos sobre efeitos adversos e interacções medicamentosas, con-sideramos que, na globalidade, os estudantes da Uni-versidade de Lisboa utilizaram os medicamentos de forma adequada.

Quanto à fiabilidade dos resultados, consideramos que a recolha de informação foi exaustiva, pois, rela-tivamente às variáveis apresentadas neste estudo, a taxa de resposta foi superior a 96% e, embora a metodologia utilizada não permita quantificar a recusa de participação no estudo, assumimos que esta foi reduzida, tendo em conta a dimensão global da amostra inquirida. Além disso, consideramos que os resultados não foram afectados por viés de memó-ria ou de indicação, pois a amostra é jovem e deten-tora de um elevado potencial intelectual, o período de tempo anterior ao inquérito a que este se reportava era reduzido e, na grande maioria dos casos (83%), foi indicado pelo inquirido o nome comercial do medicamento utilizado.

Em conclusão: o consumo de medicamentos pelos alunos da UL foi elevado. Na maioria dos casos pro-cessou-se de forma adequada, tendo em consideração a elevada proporção de medicamentos cuja indicação terapêutica era concordante com a finalidade para que eram usados, a baixa frequência de auto-medica-ção e o grau de conhecimento dos inquiridos sobre os efeitos adversos e contra-indicações. O sexo femi-nino, a auto-avaliação negativa do estado de saúde e o elevado grau de stress quotidiano foram identifica-dos como os principais preditores de consumo de medicamentos. A dor, a infecção e os desequilíbrios psico-emocionais foram os problemas de saúde que mais justificaram a utilização de medicamentos. O estudo do consumo de medicamentos através da administração de um questionário revelou-se um ins-trumento muito útil para a caracterização do padrão de utilização e do grau de informação dos consumidores sobre o produto e da adequação com que o utilizam.

Bibliografia

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SIMONI, M., et al. — The Po delta river epidemiological study : use of medicines in a general population sample of North Italy. Pharmacoepidemiology and Drug Safety. 9 : 4 (2000) 319-326.

Summary

DRUG USE PATTERN AMONG UNIVERSITY STUDENTS The characterisation of the drug use pattern in university stu-dents and their knowledge and attitudes about the drugs used is very important to obtain an indirect picture of morbidity in this community, to identify drug use predictors and also to develop strategies leading to a more rational use of medicines in the general community.

Thus, in order to reach those purposes, a cross-sectional survey was carried out in a probabilistic sample of students of Lisbon University (UL) including 1147 subjects (354 males and 791 females). Information about the use of medicines in the previous fortnight and co-variates was collected by questionnaire which was administered by trained interviewers.

student, although the majority consumed 1 or 2. Drug use was associated with health status, but it was independent from all the socio-demographic variables under study, except sex. Females consume significantly more drugs, even after the exclusion of oral contraceptives.

In the period under study, students consumed 1160 medicines, being 78% of them mandatory — prescription medicines. The therapeutic groups more used were the nervous system (34.4%) and the musculo-skeletal system (16.4%). About 6% of the consumers used antibiotics, 8% used psychodrugs, 15% used NSAIDS and 22% used analgesics and antipiretics. Pa-racetamol was the most used drug. The self medication preva-lence was 19% and the majority of the consumers assumed to have a compliant attitude. About 58% of the consumers con-sider themselves well informed about the adverse effects and the contraindications of the medicines used.

Conclusions: the students of the UL consumed medicines fre-quently, but, in general, they used them properly. The most frequent health problems were: pain, infection and the psycho-emotional disorders. The administration of a questionnaire, to collect information about drug use, demonstrated to be an use-ful tool in order to characterise the drug use pattern and to find out the consumer’s knowledge about the medicines used.

Referências

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