UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DEPARTAMENTO DE PROJETO, EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO PROFESSOR FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETOINTRODUÇÃO
O presente trabalho foi elaborado como anotações de aula para a
disciplina (optativa) “Prática Profissional”, do Curso de Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília e é de responsabilidade exclusiva de seu professor, no que se refere às posições manifestadas - com a exceção das matérias incluídas em que há a citação de outro autor.
O trabalho está em montagem, e o que se apresenta é a sua versão
inicial. O esquema pretendido é um pouco mais amplo que o apresentado - pois a disciplina pretende incluir algumas seções sobre aspectos históricos da profissão, exemplificações de situações da prática profissional (que parecem
extremamente interessantes, como alguns “causos” relacionados a concursos
públicos de projeto, a questões da ética profissional, ao universo do mercado
de trabalho, entre outros), além de alguns tópicos sobre Direito - elementos
gerais, evidentemente, que pertençam mais à esfera do cidadão que ao domínio técnico do advogado ou do jurista, e que são importantes para a prática de qualquer profissão ( sobretudo para os nossos objetivos na disciplina, onde estudaremos a legislação que se aplica ao exercício da cidadania através do trabalho).
De toda forma, se considera cobertos os elementos necessários à
disciplina PRÁTICA PROFISSIONAL (DA ARQUITETURA E
URBANISMO), de uma maneira que buscou intencionalmente (nem sempre
com êxito) fugir do formato do “Manual do Jovem Arquiteto”. A
pretensão do trabalho é tão crítica quanto informativa: esta é uma disciplina de
um Curso Universitário de Graduação, de um “curso de educação superior”,
e sua destinação é tanto transmitir conhecimento quanto provocar a reflexão crítica sobre esse conhecimento transmitido. E a disciplina não se faria sentir à altura de seus propósitos se perdesse a oportunidade de ampliar criticamente
as suas possibilidades de abordagem (disciplina que, ainda por cima, é
compreendeu sua utilidade e se sabe como usá-las no trabalho profissional, e não por que simplesmente devem ser cumpridas).
Tem sido estimulante o trabalho dos últimos meses, de confeccionar o
presente material (com a ajuda de industriosas estudantes de Arquitetura, que serão citados nas partes em que contribuíram). De algum modo buscou-se
(numa dimensão autoral que espera-se ser compreendida) também realizar
aqui uma espécie de “prestação de contas” com as dúvidas e experiências
acumuladas ao longo da prática profissional. Além dessa catarse pessoal (que
não seja muito chata, espera-se, pois acontece em algumas das infindáveis
notas de pé de página e em um ou outro texto), é interessante essa prática de
estudar a legislação profissional de um modo crítico e tão sistemático quanto possível, de forma a estruturar por mais de um ponto de vista determinados conjuntos de informações - alguns colhidos em outras áreas disciplinares e em outros contextos. É inegável a aridez, numa primeira aproximação, de muitos dos assuntos tratados em disciplina como esta. Mas
são os dados dessa realidade - ou melhor, dessa formalidade que são os ritos
e regras de qualquer profissão - que nos reapresentam o articulado arquiteto, na sua figuração educada, culta e avesso a formalidades, como um membro da vasta família de trabalhadores, circunstanciado pela lei da própria cidade que auxilia a construir.
Pretende-se - e é pretensão legitimamente acadêmica - descobrir, ao
longo dos textos, do conhecimento de todas essas leis e regulamentos, alguns dos elementos dessa elaborada afinidade que se afirma existir entre a Arquitetura e as Normas Sociais, em especial no plano da Prática Profissional formal. Isso nada tem a ver com as teses de uma “arquitetura normativa”, mas
relaciona-se com o estudo da arquitetura como uma prática social concreta,
como profissão; um estudo que se dá sobre a prática da arquitetura, e que pode
tentar: a) esclarecer as diferenças entre as várias imagens públicas do
arquiteto e a sua factualidade no cotidiano profissional; b) esclarecer algumas
contradições que são consideradas entre os modos de formação do arquiteto
e a prática efetiva da profissão; c) esclarecer os impasses estabelecidos entre
as tradições formadoras da identidade histórica do arquiteto e os processos
abordagem na atual disciplina, mas é para onde parecem apontar as seus
desdobramentos mais conseqüentes. Pode se constituir, a disciplina, numa
razoável oportunidade para estudar e esclarecer fatos sobre o arquiteto e, através dele, sobre os modos de praticas a arquitetura profissionalmente. E talvez seja esse um bom caminho para “redescobrir a disciplina” e algo mais sobre a prática profissional real, através dela.
Espera-se que essa organização inicial estimule os estudantes e futuros
arquitetos a ver a profissão de arquiteto com OLHOS MAIS CRÍTICOS E
CURIOSOS, sem mistificações e ingenuidade, “associando a crítica à
pragmática1 ” - o que não é recusado pela disciplina - eliminando tanto quanto
possível a inaceitável sensação de sentir-se “meio-formado”, inseguro quanto
aos aspectos elementares da Prática Profissional e de sua própria e especialíssima cidadania como arquitetos.
∴
A profissão do arquiteto é muito mais rica do que parecem indicar os
currículos de graduação.
Há muito o que fazer e pensar ( e torna-nos otimistas ser possível haver
mais futuro do que passado, no projeto do tempo e na perspectiva dos estudantes), tanto na dimensão da profissão quanto em seu sentido mais amplo, de cidadania. O que temos, neste momento, nas relações profissionais - e até mesmo na própria definição aceita de nossa profissão - é quadro
provisório, em continuada transformação, conjuntura que se sente passível de
modificação através de nosso trabalho como cidadãos e profissionais, sobretudo no plano coletivo.
Dizer que “as coisas se transformam” já não é bastante: O SENTIDO DO
TEMPO EM QUE VIVEMOS É O DA TRANSFORMAÇÃO QUE ENVOLVE A TODOS; A SITUAÇÃO DE TODOS NOS INTERESSA.
1 Usa-se, em geral, a palavra “pragmatismo” para significar o comportamento prático, em geral - e “pragmática” para
A disciplina será exitosa se também pudermos nos projetar nessas
dimensões profissional e da cidadania - ou, por outra, se aprendermos um
pouco mais sobre como desenhar o “nosso projeto coletivo de vida” considerando os condicionantes da profissão.
∴
A reflexão sobre a prática profissional é trabalho coletivo, deve expor com clareza a multiplicidade de aspectos e interesses envolvidos em nosso trabalho de arquitetos, a pluralidade de visões que os arquitetos têm a apresentar sobre o papel da profissão e seu destino. Os mergulhos nos universos internos da profissão (ou em alguns que se esboça) devem ser criticamente orientados - ou nos perderemos na (rica) fragmentação das diferentes idéias, vozes, experiências densamente acumuladas pelas gerações de arquitetos.
Com a intenção de construir referências a partir de experiências
“próximas”, atuais e locais, foi criada uma seção de depoimentos Brasilienses,
(“fragmentos” de excelente qualidade) que se inicia na presente versão das notas de aula com a inestimável colaboração de arquitetos como o prof.
(Titular) Frank Eugen Algot Svensson, da FAUUnB e de Antônio Carlos
Moraes de Castro, Presidente da Federação Pan-Americana de Arquitetos.
Também foi incluída a colaboração de um jovem arquiteto de Brasília, Camilo
de Lannoy, formado na FAUUnB, convidado a escrever sobre a corrente - pouco discutida e muito praticada - informatização na Arquitetura. O acesso a informações acerca da legislação profissional recente foi facultada pela
Superintendente do CONFEA, Engª Águeda Lúcia Avelar Pires, devendo
ainda agradecer o apoio recebido do CREA-DF - sobretudo de seu assessor
técnico, Engº Luciano Maia (enfatizando que, de modo algum esses
excelentes profissionais podem ser responsabilizados pelas posições expressas no presente trabalho, no que contiverem de polêmico ou impróprio).
Para versão posterior é pretensão da disciplina ampliar as referências de textos de arquitetos da cidade de Brasília e de profissionais de outros tempos e lugares, que determinaram importantes direções para a formação da identidade do arquiteto da atualidade. Para os estudantes e para os professores, é a partir dessa base que partimos.