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Gestão de Recursos Hídricos - GHA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

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Milton Matta Itabaraci Cavalcante

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Gestão de Recursos Hídricos

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Discutir a temática da gestão dos recursos hídricos é uma das tarefas mais fundamentais de nossos tempos. Em todos os fóruns técnico-científicos do mundo se discute as projeções de falta de água doce para as necessidades mais básicas da humanidade. Diferentes cenários têm sido mostrados, a grande maioria deles altamente negativos para o futuro das nações.

Apesar de a água ser um bem mineral insubstituível para a manutenção da vida na Terra, provavelmente não se consegue apontar outro item mais maltratado por aqueles que a utilizam.

O Estado tem sido nas últimas décadas um interventor intenso no campo do desenvolvimento econômico e nas políticas financeiras, mas tem colocado a organização do espaço físico em plano secundário. A conseqüência disso é uma apropriação do solo e demais recursos naturais ocorrendo de forma desordenada, gerando um conjunto de graves problemas nesse setor.

O rápido crescimento demográfico das principais cidades do país, a distribuição desordenada dessas populações acarretando desiguais concentrações humanas, aliadas às crescentes necessidades de melhoria da qualidade de vida das populações, vem acarretando demandas dos recursos hídricos cada vez maiores, o que poderá, num futuro incerto, acarretar problemas em termos de disponibilidade de água potável para o homem.

Por outro lado, a falta de compromisso com o saneamento básico nas cidades brasileiras de uma maneira geral, associada aos pobres hábitos de higiene, provenientes de baixos padrões educacionais das populações envolvidas, tem acarretado uma crescente deteriorização das águas superficiais disponíveis.

O Capítulo 18 da Agenda 21 trata da proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos – aplicação dos critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos. Trata-se de um conjunto de sete programas, onde se destaca “Desenvolvimento e Manejo Integrado dos Recursos Hídricos”.

Entende-se como manejo dos recursos hídricos o processo de administração da água disponível para as várias destinações. O objetivo principal é o da satisfação total de todas as necessidades de água em todos os níveis de utilização, destacando-se o consumo humano.

Durante o conjunto dos capítulos anteriores tivemos oportunidade de estudar os fundamentos básicos relacionados à gestão dos recursos hídricos, como também, nos foi proporcionado o acesso a um conjunto de ferramentas básicas que em muito pode contribuir para os processos de gerenciamento desses recursos.

Esse capítulo mostrará por meio de suas várias unidades, como se processa a gestão hídrica, os fatores institucionais que a regem, as principais ferramentas de gestão que se encontram disponíveis e toda a conceituação que sustenta a abordagem da gestão dos recursos hídricos, dentro dos preceitos fundamentais da gestão integrada desses recursos, baseados na legislação vigente e alicerçados pelas características das áreas nas quais estão presentes.

13.1. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Todos nós sabemos que na Região Amazônica o índice pluviométrico é muito alto, ultrapassando, na região de Belém, por exemplo, 2800 mm/ano. Sabemos, também, que nossos solos são muito arenosos e cobrem terrenos pouco inclinados. Todos esses fatores contribuem para que as águas da chuva sofram infiltração e se acumulem no subsolo, compondo as águas subterrâneas.

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rochas e clima. As rochas de subsuperfície são cristalinas e, portanto com pequenas porosidades para armazenar a água que possa se infiltrar.

Percebe-se, portanto, que as características dos recursos hídricos das duas regiões (Amazônia e Nordeste) são bastante diferentes. Isso acarreta a necessidade de gerenciar esses recursos de forma diferente nas duas regiões.

Além disso, outros fatores também são significantes quando se pensa na gestão dos recursos hídricos dessas duas regiões e de quaisquer regiões do mundo, a exemplo de:

• Características do meio físico; • Aspectos sócio-culturais;

• Formas de ocupação do espaço físico; • Índices de pobreza;

• Presenças ou ausências de saneamento básico

Entende-se por gestão dos recursos hídricos um processo integrado envolvendo o campo do planejamento e da administração, utilizado para equacionar e resolver as questões relativas aos recursos hídricos, incluindo a escassez relativa, o uso sustentado e as formas de proteção.

13.1.1. Diagnóstico Atual sobre os Recursos Hídricos

A água, de um modo geral, e os recursos hídricos, em particular, vêm ocupando a preocupação da sociedade atual, desde os grandes fóruns mundiais até os noticiários noturnos das televisões.

Os relatórios Global Environment Outlook, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, divulgados em 1999 e 2002, indicaram que a falta de água será um grave problema para a humanidade em 2025. Já o The United Nations World Water Development Report, resultado da participação conjunta de 23 agências da ONU, apresentado em Kyoto, em 2003, apontou que faltara água para cerca de 2 bilhões de pessoas, na visão otimista, e para cerca de 7 bilhões, no cenário pessimista, em 2050.

Apesar dos anos 80 terem sido nomeados, pela ONU, como a Década Internacional da Água, não houve muita inquietação com a problemática dos recursos hídricos até que os documentos oficiais passaram a apontar para a falta de água em países considerados ricos como os Estados Unidos, França e Itália, entre outros. A partir daí, a preocupação com a gestão dos recursos hídricos ganhou escala internacional, e na ultima década houve a realização de três Fóruns Mundiais da Água e definiu-se o ano de 2003 como o Ano Internacional da Água.

A distribuição não igualitária da água entre os diferentes países tem acarretado a separação entre aqueles que possuem excedentes hídricos, como o Brasil, daqueles que possuem déficit hídrico, como vários países da Europa e Estados Unidos. Se estes países, ditos centrais, não promoverem alterações consideráveis nos estilos de vida de suas populações, o que parece cada vez mais difícil de ser alcançado, terão que conseguir água doce em outros países.

A United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO), em 2003, indicou 507 pontos de tensão mundial por causa da água. Em alguns desses casos a tensão evoluiu para confronto militar.

que as primeiras civilizações se desenvolveram nas vizinhanças dos rios Tigres e Eufrates, o que deve ter representado o início da relação da água com diferentes grupos humanos.

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Alguns fatos têm contribuído para mostrar que a gestão dos recursos hídricos é uma necessidade premente frente aos desafios desse início de século. Entre eles citaremos alguns a seguir, segundo diversos relatórios das Nações Unidas:

• Uma avaliação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) identificou 80 países com sérias dificuldades para manter a disponibilidade de água, o que representa 40% da população mundial.

• Cerca de 1/3 da população mundial vive em países onde a falta de água vai de moderada a altamente impactante e o consumo representa mais de 10% dos recursos renováveis de água.

• Dados da ONU indicam que cerca de 1,1 bilhões de pessoas têm problemas de acesso à água potável, enquanto que 2,4 bilhões não têm acesso a saneamento básico.

• A falta de acesso a água potável e ao saneamento resulta em cinco milhões de habitantes mortos anualmente e centenas de milhões de casos de doenças de veiculação hídrica. Estima-se que entre 10.000 a 20.000 crianças morrem diariamente vítimas de doenças de veiculação hídrica.

• Em determinadas regiões da China e da Índia, o nível da água subterrânea afunda de 2 a 3 metros por ano, e 80% dos rios são extremamente tóxicos para permitem a vida de peixes.

• 30 a 60 milhões de pessoas já foram deslocadas diretamente pela construção de represas no planeta. • 120.000 km³ de água estão contaminados e projeta-se para 2050 uma contaminação de 180.000 km³ caso o homem continue a poluir como agora.

Bernert (2003) menciona:

• As estimativas mais otimistas da ONU indicam, para 2050, uma população mundial de 9,3 bilhões de pessoas, sendo 8 bilhões em países em desenvolvimento, e as mais pessimistas indicam 11 bilhões de pessoas, sendo 8,8 bilhões nos países em desenvolvimento;

• Continuarão sendo grandes desafios mundiais os temas da educação, saúde, saneamento, transporte, criminalidade, narcotráfico, etc. Destes, a água deverá ser o maior de todos, menos por seu volume e mais por sua distribuição irregular na Terra, somada ao desperdício, poluição, degradação de mananciais e reservatórios naturais;

• Segundo ainda a ONU, as atividades agrícolas representam 70% da utilização da água do mundo e 90% de toda a água empregada no consumo humano. O uso da água aumentou duas vezes mais do que a taxa de crescimento populacional no último século;

• Mais de 120.000 km3 de água já se encontram contaminados no planeta, podendo esse número chegar a 180.000 km3 em 2050, caso o ritmo de contaminação atual seja mantido, o que acelera a degradação dos ecossistemas e ameaça a saúde das populações;

• A ONU prevê a possibilidade de significativos conflitos armados em futuro próximo, tendo os recursos hídricos como motivo, alguns deles, por exemplo, já latentes nas fronteiras turco-iraquiana e egípcio-sudanesa, em torno do aproveitamento dos rios Eufrates e Nilo, respectivamente.

Estes exemplos mostram que, os recursos hídricos, além de constituírem necessidades básicas de sobrevivência, estão se tornando comodities, com valor de mercado e, no futuro, podem se transformar em elemento de barganha política.

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Ribeiro (2003) menciona:

• O México é obrigado a devolver para os Estados Unidos a água que retira dos rios Colorado e Grande, que servem de linha fronteiriça entre os dois países. Mas a água deve ser tratada antes de ser “devolvida”. Isso alerta na direção de que os Estados Unidos terão falta de água nas próximas décadas, embora isso já ocorra em partes do país como Califórnia, Novo México e Texas;

• Na África e América Latina, a população sem acesso a água passou de 293 para 309 milhões e de 86 para 92 milhões, respectivamente. Essas pessoas passaram a buscar água em outras áreas do continente criando enorme fluxo migratório e pressionando os estoques hídricos locais;

• A falta de água na América Latina é, no mínimo, curiosa, uma vez que os países andinos e o Brasil detêm cerca de ¼ do estoque de água doce mundial. A carência só pode ser explicada pela ausência de políticas públicas que trabalhem na direção da gestão dos recursos hídricos;

• Na África e no Oriente Médio vive cerca de 6% da população mundial e contam com apenas 1% dos recursos hídricos mundiais. O rio Nilo, por exemplo, abastece principalmente o Sudão e o Egito que firmaram um acordo para sua exploração, com uma maior parcela de água para o Egito do que para seu vizinho;

• No Oriente Médio a tensão pela água envolve Israel, Palestina, Iraque, Síria Jordânia, Egito e Turquia. O conflito mais sério mobiliza Israel e Palestina, com o primeiro determinando o consumo do segundo. O controle de Israel sobre o rio Jordão exclui grande parte da população palestina, que fica com, somente 20% dos recursos hídricos da região. Por causa disso, os palestinos têm água disponível por apenas um ou dois dias da semana em suas cidades.

13.1.2. Conceituação

Para que possamos estudar de forma satisfatória os fundamentos básicos para a gestão dos recursos hídricos de uma determinada região, é necessário que se conheça os principais termos conceituais relacionados ao processo de gestão.

Segundo REBOUÇAS (1995), os principais conceitos fundamentais associados ao processo de gestão são os que se seguem.

Gestão de Recursos Hídricos → Se refere, em sentido lato, a um conjunto de ações integradas, no

campo do planejamento e da administração, utilizadas para equacionar e resolver as questões de escassez relativa, de uso sustentado e proteção de determinado recurso hídrico. Para que essa gestão se realize é requisito fundamental a decisão política dos gestores.

Gerenciamento → O gerenciamento dos recursos hídricos superficiais ou de um sistema aqüífero

contempla a atuação para assegurar a oferta da água, no contexto temporal e espacial, no sentido de satisfazer as necessidades hídricas da população envolvida.

Planejamento → O termo se refere à avaliação das disponibilidades hídricas e suas relações com os

múltiplos usos, através de estudos de viabilidade – técnica, financeira, política, social e ambiental. Inclui a seleção de soluções compatíveis com os planos de desenvolvimento e que obtenham o máximo de benefícios econômicos e sociais. Na maioria das situações, os objetivos a serem alcançados são variáveis de decisão embasadas em critérios essencialmente políticos.

Variável de decisão → Se refere à caracterização do objetivo político, social e econômico a ser alcançado,

sem considerar os limites naturais da renovabilidade dos recursos do sistema em consideração.

Sistema Aqüífero → se refere a uma determinada estrutura rochosa que, num dado momento de

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sistema aqüífero pode ser bastante variada, dependendo de fatores como geologia, geomorfologia e hidroclima, entre outros.

Gestão de um Sistema Aqüífero → Significa buscar os objetivos definidos pelas variáveis de decisão,

no sentido de atender as demandas e assegurar a qualidade do manancial, dentro dos limites impostos pelas características de recarga transporte e descarga ou outras interações naturais ou artificiais.

13.2. ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

A cidade de Belém, capital do Estado do Pará, foi incluída entre as 19 capitais do País que podem sofrer crise no abastecimento de água nos próximos anos. É o que postula um relatório divulgado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), segundo trabalho realizado pela equipe da Secretaria de Fiscalização de Obras e Patrimônio da União, conforme notícia vinculada pelo jornal paraense O Liberal (ANA, 2002 a).

Como entender a possibilidade de crise no abastecimento de água numa cidade localizada na região de maior descarga de água doce do planeta? Com certeza as razões para essa preocupação estão relacionadas à falta de gerenciamento e de maior eficiência no uso da água, ao desperdício, a má gestão e à deficiência na coleta, tratamento e disposição final de esgotos sanitários, falhas que comprometem o abastecimento não só em quantidade como, também, em qualidade.

Mostraremos aqui as ações no Brasil que se desenvolveram no sentido de estabelecer os mecanismos associados aos processos de gestão dos recursos hídricos.

13.2.1. Processo de Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil

O Estado tem sido nas últimas décadas, um interventor intenso no campo do desenvolvimento econômico e nas políticas financeiras, exemplos disso são os diversos planos econômicos que se sucederam nas últimas décadas no Brasil. Mas o Estado tem colocado a organização do espaço físico em plano secundário. A conseqüência disso é uma apropriação do solo e demais recursos naturais ocorrendo de forma desordenada, gerando um conjunto de graves problemas nesse setor, que são comuns na maioria das metrópoles brasileiras e nos aglomerados urbanos em geral.

O rápido e elevado crescimento demográfico das principais cidades do país, a distribuição desordenada dessas populações acarretando desiguais concentrações humanas, aliadas às crescentes necessidades de melhoria da qualidade de vida das populações, vem acarretando demandas dos recursos hídricos cada vez maiores, o que poderá, num futuro incerto, acarretar problemas em termos de disponibilidade de água potável para o homem.

Por outro lado, a falta de compromisso com o saneamento básico nas cidades brasileiras de uma maneira geral, associada aos pobres hábitos de higiene provenientes de baixos padrões educacionais das populações envolvidas, tem acarretado uma crescente deteriorização das águas superficiais disponíveis.

Dentro desse panorama, até antes dos postulados da Agenda 21, o Brasil detinha somente dois instrumentos básicos relativos aos recursos hídricos: o Código das Águas, de 1934, e a Constituição Federal de 1988 que dedicou uma abrangência maior às águas em suas considerações que as versões constitucionais anteriores.

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• Lei Federal 9433, de 08 de janeiro de 1997; • Secretaria de Recursos Hídricos (SRH); • Agência Nacional de Águas (ANA); • Fundo Setorial de Recursos Hídricos;

• Programa Prospectar, do Ministério da Ciência e Tecnologia Lei Federal Nº 9.433 de 8/01/1997

Denominada de Lei das Águas, representou um marco importante na legislação das águas subterrâneas, incorporou a mudança na dominialidade das mesmas, estabelecida pela Constituição de 1988 e manteve o tratamento diferenciado para águas ditas “minerais”.

Em relação à gestão das águas subterrâneas, o projeto de lei apenas recomenda a utilização dos mecanismos de outorga das concessões de exploração como principais instrumentos de gestão.

No que se refere às normas regulatórias apresenta significativa contribuição, destacando-se aspectos específicos da poluição, super-explotação e estudos de vulnerabilidade de aqüíferos. Toda e qualquer obra de captação de água subterrânea passa a ser considerada uma obra de engenharia para a qual exige-se habilitação legal nas diferentes etapas da pesquisa, projeto e exploração.

Relacionados aos fundamentos básicos dos processos de gestão, os princípios que passaram a nortear a política nacional dos recursos hídricos, segundo a Lei 9433/97, são os que se seguem:

• A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; • A água como um bem de domínio público;

• Os múltiplos usos da água;

• O reconhecimento da água como um bem finito e vulnerável; • O reconhecimento do valor econômico da água;

• O uso prioritário da água, em situações de escassez, para o consumo humano e a dessedentação de animais;

• A gestão integrada, descentralizada e participativa;

• A criação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), que estabeleceu um arranjo institucional baseado em novos princípios de organização para a gestão compartilhada do uso da água;

• A criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas, constituindo um órgão colegiado inteiramente novo na realidade institucional brasileira, contando com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada e de representantes dos governos, nas três esferas. O comitê é destinado a atuar como “parlamento das águas”, uma vez que constitui o fórum de decisão no âmbito de cada bacia hidrográfica;

• A criação da Agência de Água em rios de domínio da União, atuando como secretaria executiva do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica;

• A instituição do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), sendo visto como um “sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão” (art. 250 Lei 9433/97);

• Instituiu os principais instrumentos de gestão: I - os Planos de Recursos Hídricos;

II - o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

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IV - a cobrança pelo uso de recursos hídricos; V - a compensação a municípios;

VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Antes de entendermos os principais instrumentos de gestão disponíveis pela legislação vigente, serão descritos os componentes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, no sentido de fornecer a base hierárquica que rege a inter-relação dos diversos órgãos institucionais.

Componentes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos

Dentro da gestão integrada dos recursos hídricos, é fundamental o entendimento das relações hierárquicas entre os diversos órgãos e instituições que interagem na problemática da água no país, estados e municípios. Nesse contexto, são importantes as atribuições e inter-relações entre os diversos componentes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos (Figura. 13.1).

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), criado pela Lei nº 9.433/97, estabeleceu um arranjo institucional baseado em novos princípios de organização para a gestão compartilhada do uso da água.

FONTE: MMA (2002)

Figura 13.1- Componentes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) é o órgão mais expressivo da hierarquia do SINGREH. Tem caráter normativo e deliberativo, com atribuições de:

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• Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacionais, regionais, estaduais e dos setores usuários;

• Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos;

• Acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos;

• Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso dos recursos hídricos e para a cobrança pelo seu uso.

Cabe ao CNRH decidir sobre as grandes questões do setor. É competência, também, do Conselho decidir sobre a criação de Comitês de Bacias Hidrográficas em rios de domínio da União.

A Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, criada em 1995, teve suas atribuições regulamentadas pelo Decreto n.º 2.972 de 26 de fevereiro de 1999, e alteradas pela Lei n.º 9.984 de 17 de julho de 2000. São suas responsabilidades, entre outras:

(i) a formulação da Política Nacional de Recursos Hídricos;

(ii) a integração da gestão dos recursos hídricos com a gestão ambiental, e;

(iii) a provisão dos serviços de Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. A Agência Nacional de Água (ANA), criada pela Lei No 9.984, de 07 de junho de 2000, é uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. É o órgão responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e pela implantação da Lei das Águas, que disciplina o uso dos recursos hídricos no Brasil.

O Comitê de Bacias Hidrográficas, previsto na Lei nº 9.433/97, é um órgão colegiado, inteiramente novo na realidade institucional brasileira, contando com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada e de representantes dos governos, nas três esferas. O comitê é destinado a atuar como “parlamento das águas”, uma vez que constitui o fórum de decisão no âmbito de cada bacia hidrográfica.

Os Comitês de Bacias Hidrográficas têm, entre outras, as atribuições de: • Promover o debate das questões relacionadas aos recursos hídricos da bacia; • Articular a atuação das entidades que trabalham com este tema;

• Arbitrar, em primeira instância, os conflitos relacionados a recursos hídricos; • Aprovar e acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia;

• Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados;

• Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

A Agência de Água em rios de domínio da União, prevista na Lei nº 9.433/97, atuará como secretaria executiva do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica.

A criação das Agências está condicionada, em cada bacia, à prévia existência do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e à sua viabilidade financeira.

As principais competências da Agência de Água, previstas na Lei das Águas, são: • Manter balanço hídrico da bacia atualizado;

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• Manter o cadastro de usuários e efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

• Analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos;

• Acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos em sua área de atuação;

• Gerir o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos em sua área de atuação;

• Celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências; • Promover os estudos necessários para a gestão de recursos hídricos em sua área de atuação;

• Elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica; • Propor ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, os valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos, o plano de aplicação de recursos e o rateio de custos das obras de uso múltiplo.

O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) é um dos instrumentos de gestão previstos na Lei nº 9.433/97, sendo visto como um “sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão” (art. 250).

Os objetivos desse sistema, contidos no art. 270 da referida Lei, incluem:

• Reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;

• Atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo o território nacional;

• Fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

O SNIRH constitui uma ferramenta essencial de apoio à decisão para os participantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, uma vez que ele visa dar suporte à aplicação dos demais instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, e a outros mecanismos de gestão integrada de recursos hídricos. Seus dispositivos legais foram regulamentados pela Resolução nº 13, de 25 de Setembro de 2000, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

13.2.2. Principais Instrumentos de Gestão

Os principais instrumentos de gestão, estabelecidos no art. 500 da Lei 9433/97, são: I - Os Planos de Recursos Hídricos;

II - O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; III - A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;

IV - A cobrança pelo uso de recursos hídricos; V - A compensação a municípios;

VI - O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Os Planos de Recursos Hídricos

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São planos diretores que se propõem a fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

São planos de longo prazo, elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e deverão incluir:

I - diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

II - análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;

- balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

IV - metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;

V - medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento das metas previstas;

VI - prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; VII - diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos;

VIII - propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Pela análise dos conteúdos mínimos dos Planos de Recursos Hídricos listados anteriormente, percebe-se que são os planos que definem as prioridades de uso da água na bacia, assim como a destinação dos recursos financeiros disponíveis. Isso significa que um plano é, na verdade, um grande acordo político entre todos os componentes do sistema, uma vez que a definição de prioridades de uso determinará a concessão de outorgas e o valor da cobrança pelo uso da água. Fica bastante clara a importância da participação da sociedade nesse processo.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos aprovou em 29 de maio de 2001 a Resolução n0. 17, complementando a Lei 9.433/97, no que se refere às diretrizes básicas para a elaboração dos planos de recursos hídricos.

Entre essas diretrizes destacam-se:

• Os Planos de Recursos Hídricos das Bacias Hidrográficas serão elaborados pelas Agências de Água, e supervisionados e aprovados pelos respectivos Comitês de Bacia;

• Nas bacias hidrográficas com águas de domínio da União, o Comitê de Bacia definirá a entidade ou órgão gestor de recursos hídricos que será o coordenador administrativo do respectivo Plano de Recursos Hídricos;

• O Plano de Recursos Hídricos de uma sub-bacia somente poderá ser aprovado pelo seu Comitê, se as condições do seu exutório estiverem compatibilizadas com o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica Principal;

• Os diversos estudos elaborados, referentes ao Plano de Recursos Hídricos, serão amplamente divulgados e apresentados na forma de consultas públicas, convocadas com esta finalidade pelo Comitê de Bacia Hidrográfica ou, na inexistência deste, pela competente entidade ou órgão gestor de recursos hídricos;

• Durante a elaboração do Plano, serão disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, sínteses dos diversos estudos ou documentos produzidos;

• No estabelecimento das metas, estratégias, programas e projetos, deverá ser incorporado o elenco de ações necessárias à sua implementação, visando minimizar os problemas relacionados aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, otimizando o seu uso múltiplo e integrado;

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de caráter orientativo, para elaboração de Planos de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas;

• As informações geradas nos Planos de Recursos Hídricos deverão ser incorporadas aos Sistemas de Informações de Recursos Hídricos.

Na Resolução n0 22 de 24 de maio de 2002 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos foram definidas as diretrizes para que os estudos de água subterrânea fossem integrados nos Planos de Recursos Hídricos. Os principais parâmetros dessa integração são:

• Os Planos de Recursos Hídricos devem considerar os usos múltiplos das águas subterrâneas, as peculiaridades de função do aqüífero e os aspectos de qualidade e quantidade para a promoção do desenvolvimento social e ambientalmente sustentável;

• Os Planos de Recursos Hídricos devem promover a caracterização dos aqüíferos e definir as inter-relações de cada aqüífero com os demais corpos hídricos superficiais e subterrâneos e com o meio ambiente, visando à gestão sistêmica, integrada e participativa das águas;

• No caso de aqüíferos subjacentes a grupos de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas, os Comitês deverão estabelecer os critérios de elaboração, sistematização e aprovação dos respectivos Planos de Recursos Hídricos, de forma articulada;

• As informações hidrogeológicas e os dados sobre as águas subterrâneas necessários à gestão integrada dos recursos hídricos devem constar nos Planos de Recursos Hídricos;

• Entre as informações hidrogeológicas necessárias, destacam-se: a caracterização espacial do aqüífero, o cômputo das águas subterrâneas no balanço hídrico, a estimativa das recargas e descargas, tanto naturais quanto artificiais, a estimativa das reservas permanentes explotáveis dos aqüíferos, a caracterização física, química e biológica das águas dos aqüíferos, e as devidas medidas de uso e proteção dos aqüíferos;

• As ações potencialmente impactantes nas águas subterrâneas, bem como as ações de proteção e mitigação a serem empreendidas, devem ser diagnosticadas e previstas nos Planos de Recursos Hídricos, incluindo-se medidas emergenciais a serem adotadas em casos de contaminação e poluição acidental;

• Os Planos de Recursos Hídricos devem explicitar as medidas de prevenção, proteção, conservação e recuperação dos aqüíferos com vistas a garantir os múltiplos usos e a manutenção de suas funções ambientais.

O Enquadramento dos Corpos Hídricos

O enquadramento dos corpos d’água é um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, fundamental no gerenciamento de recursos hídricos e no planejamento ambiental.

O Enquadramento é o “estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em um segmento de corpo d’água ao longo do tempo”. Esta definição consta da Resolução no. 20/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, de 18 de junho de 1986, que classifica as águas doces, salobras e salinas do território nacional, segundo seus usos preponderantes.

Mais do que uma simples classificação, o enquadramento dos corpos d’água é um importante instrumento de planejamento, conforme postula a Lei 9.433/97. Os principais procedimentos para o enquadramentos dos corpos d´água foram estabelecidos através da Resolução n0 12, de 19 de julho de 2000 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

A classe do enquadramento a ser alcançado no futuro, para um corpo d’água deverá ser definida em função das prioridades para seu uso. A discussão e o estabelecimento desse enquadramento ocorrerão dentro

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enquadramento acontecerá no âmbito dos Conselhos Estaduais ou do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, conforme o domínio do curso d’água, e sempre consoante as diretrizes da Resolução CONAMA 020/86.

As principais diretrizes do enquadramento estão estabelecidas na Resolução n0 12, do CNRH e são: • Enquadramento de corpos de água é o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado e/ou mantido em um dado segmento do corpo de água ao longo do tempo;

• Classificação de um corpo d´água é a qualificação das águas doces, salobras e salinas com base nos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade);

• As Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação é que proporão aos respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica o enquadramento de corpos de água em classes segundo os usos preponderantes, com base nas respectivas legislações de recursos hídricos e ambientais;

• Os procedimentos para o enquadramento de corpos de água em classes segundo os usos preponderantes deverão ser desenvolvidos em conformidade com o Plano de Recursos Hídricos da bacia e os Planos de Recursos Hídricos Estaduais ou Distritais, Regionais e Nacionais e, se não existirem ou forem insuficientes, com base em estudos específicos propostos e aprovados pelas respectivas instituições competentes do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos;

• No processo de enquadramento deverão constar as seguintes etapas: (1) diagnóstico do uso e da ocupação do solo e dos recursos hídricos na bacia hidrográfica, (2) prognóstico do uso e da ocupação do solo e dos recursos hídricos na bacia hidrográfica, (3) elaboração da proposta de enquadramento e (4) aprovação da proposta de enquadramento e respectivos atos jurídicos;

• A seleção de alternativas de enquadramento será efetuada pelo Comitê de Bacia Hidrográfica, que a submeterá ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou ao respectivo Conselho Estadual ou Distrital de Recursos Hídricos, de acordo com a esfera de competência;

• Cabe aos órgãos gestores de recursos hídricos e aos órgãos de controle ambiental competentes monitorar, controlar e fiscalizar os corpos de água para avaliar se as metas do enquadramento estão sendo cumpridas;

• Os órgãos gestores de recursos hídricos e os órgãos de controle ambiental competentes, a cada dois anos, encaminharão relatório ao respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou ao Conselho Estadual ou Distrital de Recursos Hídricos, identificando os corpos de água que não atingiram as metas estabelecidas e as respectivas causas pelas quais não foram alcançadas.

A Outorga

Muito mais do que uma simples autorização, a outorga é uma indispensável ferramenta de gestão, pois permite, aos gestores, o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água.

Outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo de autorização, mediante o qual o poder público outorgante faculta ao outorgado o uso de recursos hídricos, nos termos e condições estabelecidas no ato de outorga. Embora a outorga seja concedida pelo poder público, essa concessão está condicionada às diretrizes dos planos de bacia, aprovados pelos Comitês de Bacia Hidrográfica.

Segundo o estabelecido pela Lei nº. 9.433/97, os usos das águas sujeitos à outorga são os seguintes: I – Captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

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III – Lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

IV – Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V – Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo d’água.

Outros usos da água que independem de outorga:

I – O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;

II – As derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; III – As acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

A Resolução n0 16, de 08 de maio de 2001, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos estabeleceu os critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos. Os pontos mais relevantes são:

• A outorga não implica alienação total ou parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de uso;

• A outorga confere o direito de uso de recursos hídricos condicionado à disponibilidade hídrica e ao regime de racionamento, sujeitando o outorgado à suspensão da outorga;

• A análise dos pleitos de outorga deverá considerar a interdependência das águas superficiais e subterrâneas e as interações observadas no ciclo hidrológico visando a gestão integrada dos recursos hídricos;

• A transferência do ato de outorga a terceiros deverá conservar as mesmas características e condições da outorga original e poderá ser feita total ou parcialmente quando aprovada pela autoridade outorgante e será objeto de novo ato administrativo indicando o(s) titular(es);

• Os critérios específicos de vazões ou acumulações de volumes de água consideradas insignificantes serão estabelecidos nos planos de recursos hídricos, devidamente aprovados pelos correspondentes comitês de bacia hidrográfica ou, na inexistência destes, pela autoridade outorgante;

• A outorga de direito de uso de recursos hídricos terá o prazo máximo de vigência de trinta e cinco anos, contados da data da publicação do respectivo ato administrativo;

• Os Planos de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas deverão considerar as outorgas existentes em suas correspondentes áreas de abrangência e recomendar às autoridades outorgantes, quando for o caso, a realização de ajustes e adaptações nos respectivos atos;

• A outorga de direito de uso da água para o lançamento de efluentes será dada em quantidade de água necessária para a diluição da carga poluente, que pode variar ao longo do prazo de validade da outorga, com base nos padrões de qualidade das águas correspondentes à classe de enquadramento do respectivo corpo receptor e/ou em critérios específicos definidos no correspondente plano de recursos hídricos ou pelos órgãos competentes;

• Os estudos e projetos hidráulicos, geológicos, hidrológicos e hidrogeológicos, correspondentes às atividades necessárias ao uso dos recursos hídricos, deverão ser executados sob a responsabilidade de profissional devidamente habilitado junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia-CREA;

• Quando da ocorrência de eventos críticos na bacia hidrográfica, a autoridade outorgante poderá instituir regime de racionamento de água para os usuários, pelo período que se fizer necessário, ouvido o respectivo Comitê;

• O outorgado deverá implantar e manter o monitoramento da vazão captada e/ou lançada e da qualidade do efluente, encaminhando à autoridade outorgante os dados observados ou medidos na forma preconizada no ato da outorga.

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A Cobrança

A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos de gestão estabelecido para induzir o usuário da água a uma utilização racional desse recurso. A cobrança é essencial para criar condições de equilíbrio entre as disponibilidades e demandas, promovendo, em conseqüência, a harmonia entre os usuários competidores, ao mesmo tempo em que também redistribui os custos sociais, melhora a qualidade dos afluentes lançados, além de ensejar a formação de fundos financeiros para as obras, programas e intervenções do setor.

No Brasil dos dias atuais, a apropriação gratuita desse recurso, público por definição, passou a ser considerada cada vez mais como injusta. A cobrança pelo uso da água, além do seu caráter de instrumento de gestão dos recursos hídricos, tem a função de retribuição dos prejuízos causados à sociedade pelo uso indiscriminado dos recursos hídricos. Pode, também, ser vista como a internalização dos custos ambientais que a utilização de um recurso natural sempre acarreta.

A cobrança pelo uso da água já era prevista pelo Código das Águas de 1934. Este código determina que “o uso comum das águas pode ser gratuito ou retribuído, conforme as leis e regulamentos da circunscrição administrativa a que pertencerem” (art. 360, § 20).

Consta, também, no Código, a preocupação com a qualidade das águas quando o mesmo especifica que: “A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros” (art. 1090).

O princípio do “poluidor-pagador” também já havia sido contemplado, através do artigo 110 do Código das Águas, que estabelece que “os trabalhos para a salubridade das águas serão executados à custa dos infratores que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativos”.

Como esses preceitos jamais haviam sido implantados, a Lei 9.433/97 criou a cobrança pelo uso dos recursos hídricos como um dos instrumentos de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos. Essa Lei também estabeleceu os mecanismos com os quais a cobrança irá acontecer, a área (bacia hidrográfica) que irá pagar, quem irá decidir sobre os valores, forma de aplicação e horizonte temporal (Comitê de Bacia), e quem executará as ações oriundas dos recursos arrecadados (Agência de Águas).

A Lei 9.433/97 prevê que a cobrança tem como principais objetivos:

• Reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; • Incentivar a racionalização do uso da água;

• Obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos.

Determina que os valores a serem cobrados levarão em conta:

• Nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação;

• Nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e seu regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do afluente. (art. 210).

Está determinado, ainda, que os valores arrecadados devem ser aplicados, prioritariamente, na bacia hidrográfica em que foram gerados e que os Comitês de Bacia Hidrográfica deverão estabelecer os mecanismos

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de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados. Os mesmos serão submetidos ao respectivo Conselho Estadual ou Conselho Nacional de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio do corpo d’água em questão.

A Agência Nacional de Água (ANA) ficou, entre outras, com as atribuições de:

• Implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;

• Arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União.

A cobrança pelo uso da água é um instrumento importante na gestão dos recursos hídricos das bacias hidrográficas, uma vez que torna possíveis as correções necessárias para a eliminação das fontes de contaminação, para a construção de obras de regularização fluvial ou para a melhoria das condições sanitárias e ambientais das respectivas bacias hidrográficas.

Na ausência da cobrança, esses custos estão sendo distribuídos pelo conjunto da sociedade, na forma da aplicação de recursos públicos originários de impostos, ou na socialização, tanto dos prejuízos ambientais, como da desvalorização do patrimônio natural.

A cobrança seria, portanto, responsável pela distribuição do ônus desses investimentos apenas entre os responsáveis diretos pela degradação ou consumo da água em cada região. Deve-se, portanto, tomar as devidas precauções para evitar utilizar, indiscriminadamente, o volume de água consumido ou as vazões descarregadas nos rios como base para a cobrança de um novo imposto, sem que a arrecadação esteja vinculada a um programa definido de intervenções, previamente orçado. Isso tornaria, simplesmente, o recurso duplamente mais caro.

Sistema de Informações

O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – SNIRH é um dos instrumentos de gestão previsto na Lei nº 9.433, de 1997, sendo visto como um “sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão” (art. 250).

objetivos desse sistema, que estão contidos no art. 270 da referida Lei, incluem:

I – Reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil;

II – Atualizar permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo o território nacional;

III – Fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos.

Trata-se, portanto, de ferramenta essencial de apoio à decisão para os participantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

É tarefa da ANA a “organização, implantação e gestão do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos” (art. 40 , inciso XIV da Lei nº 9.984/00.

Os dispositivos legais referentes ao SNIRH foram regulamentados pela Resolução n0 13 de 25 de Setembro de 2000, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Entre eles destacam-se:

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• A Agência Nacional de Águas - ANA coordenará os órgãos e entidades federais, cujas atribuições ou competências estejam relacionadas com a gestão de recursos hídricos, mediante acordos e convênios, visando promover a gestão integrada das águas e em especial a produção, consolidação, organização e disponibilização à sociedade das informações e ações referentes (art. 100 ):

a) à rede hidrométrica nacional e às atividades de hidrologia relacionadas com o aproveitamento de recursos hídricos;

b) aos sistemas de avaliação e outorga dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, em todo território nacional;

c) aos sistemas de avaliação e concessão das águas minerais;

d) aos sistemas de coleta de dados da Rede Nacional de Meteorologia; e) aos sistemas de informações dos setores usuários;

f) ao sistema nacional de informações sobre meio ambiente; g) ao sistema de informações sobre gerenciamento costeiro; h) aos sistemas de informações sobre saúde;

i) a projetos e pesquisas relacionados com recursos hídricos;

j) a outros sistemas de informações relacionados à gestão de recursos hídricos.

• A ANA poderá requisitar informações referentes a recursos hídricos, aos órgãos e entidades integrantes do SINGREH, visando sua inclusão no SNIRH (art. 40);

• Compete à Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos propor ao Conselho, as diretrizes complementares para a definição da concepção e dos resultados do SNIRH, o qual será organizado, implantado e gerido pela ANA (art. 50 ).

13.2.3. O Plano Nacional de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos, conforme descritos no item precedente caracterizam-se como um dos instrumentos previstos na Lei das Águas. Esses planos devem ser elaborados em três níveis:

1- Nacional - Plano Nacional de Recursos Hídricos 2- Estadual – Plano Estadual de Recursos Hídricos

3- Das Bacias Hidrográficas – Plano de Bacia Hidrográfica.

O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) tem abrangência nacional e constitui um dos principais instrumentos previstos na legislação para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. O PNRH foi recentemente elaborado e aprovado pelos órgãos competentes num processo que representou uma ação conjunta envolvendo órgãos do Governo Federal e segmentos sociais que interagem com a temática. O PNRH está disponível para consulta e para downloud no site http://pnrh.cnrh-srh.gov.br, compondo quatro volumes, num total de 528 páginas.

PNRH define como objetivos estratégicos a melhoria da disponibilidade hídrica, em quantidade e qualidade, a redução dos conflitos pelo uso da água e a percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante.

objetivos estratégicos presentes no corpo do PNRH procuram refletir o conjunto das discussões em nível internacional, configuradas nos eventos relativos à Década Brasileira e Internacional da Água (2005-2015), no estabelecido nas Metas do Milênio e na Cúpula Mundial de Johannesburgo para o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10).

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O PNRH estabelece um conjunto de macrodiretrizes para a utilização dos recursos hídricos em nível do território nacional, que se desdobram em programas de âmbito nacional e regionais que contemplam temas da gestão e do planejamento integrado dos recursos hídricos.

Um dos fatores mais positivos na elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos, é o fortalecimento da relação entre as representações sociais com os poderes constituídos, no estabelecimento das bases para a construção de um novo modelo sustentável de desenvolvimento no que se refere aos usos da água. O texto final foi produto de inúmeras reuniões, oficinas, encontros públicos, seminários e discussões realizadas por meio de Comissões Executivas Regionais (CER) criadas em todas as regiões hidrográficas brasileiras e integradas por representantes do governo federal, dos Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos, dos usuários e da sociedade civil organizada.

Além disso, a elaboração do PNRH foi sustentada por uma densa base técnica orientada para dar suporte a essa inédita participação social. Esses diversos atores que emprestaram seu apoio e colaboração ao projeto de estabelecimento do PNRH têm, pois, o compromisso com a condução do processo subseqüente. É preciso que as mesmas transversalidade e participação utilizadas para sua formulação se reflitam na fase de implementação, promovendo uma pactuação que envolva os órgãos e os ministérios responsáveis pelas principais políticas setoriais que afetam os recursos hídricos, sem o que o Plano não terá a eficácia desejada.

Com a aprovação do Plano pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, foi estabelecido um sistema de acompanhamento e avaliação que inclui, dentre as etapas de monitoramento, a publicação sistemática de informes periódicos voltados ao registro da evolução da implementação do Plano e do atendimento de seus objetivos estratégicos.

Restam-nos, como usuários do sistema e com os fundamentos reunidos neste curso, contribuir para o fortalecimento de uma consciência social e de uma prática cotidiana que tenham como premissa a conceituação da água como bem comum, essencial à vida e disponível para o atendimento das necessidades básicas de todos os brasileiros, desta e das próximas gerações.

13.3. GESTÃO DE AQUÍFEROS

Faça um texto, de não mais de uma página, discutindo como os componentes do Sistema Nacional de Recursos Hídricos vêm sendo utilizados no Brasil.

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Os recursos hídricos representam um vetor de extrema importância no desenvolvimento político e socioeconômico da humanidade. À medida que aumenta a densidade populacional e industrial, aumenta a necessidade de água potável e os reservatórios de água superficial não conseguem atender a demanda solicitada (CAVALCANTE, 1998).

Atualmente, a água subterrânea vem sendo cada vez mais solicitada para consumo humano, indústria e agricultura. Na Europa, ela é utilizada com prioridade para abastecimento público, com índices de consumo entre 70 a 100% (Itália, Espanha, França, etc). Não obstante a importância que a água representa para a vida, ela vêm sendo intensamente degradada em seus aspectos qualitativos pela ação do homem, que no afã do desenvolvimento não respeita o meio hidro-ambiental.

A política do desenvolvimento sustentável no âmbito dos recursos hídricos busca a utilização racional da água, sob a ótica de um manejo integrado dos mananciais superficial e subterrâneo, associada de forma harmônica com o meio ambiente, de forma a garantir este recurso mineral com quantidade e qualidade para as gerações futuras. Os problemas advindos da utilização predatória do meio ambiente, particularmente da água, são discutidos a nível mundial na busca de soluções.

Na Carta Européia da Água (Conselho da Europa, França, 1968) surgiu o princípio de que “A água é um recurso natural limitado, essencial à vida e ao desenvolvimento”, totalmente reiterado em 1992 na Declaração de Dublin, Irlanda, pelas Nações Unidas (VIEIRA, 1994).

Desde a Conferência de Mar del Plata (1977), inúmeras conferências internacionais, congressos e encontros técnicos têm existido, gerando declarações dos direitos da água e propostas de ações para minimizar a crise da água. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - ECO 92 (Rio de Janeiro, 1992) produziu a Declaração do Rio e a Agenda 21.

O I Diálogo Interamericano Sobre Administração de Águas, ocorrido em Miami em 1993, estabeleceu a Rede Interamericana de Recursos Hídricos – RIRH. A Conferência das Américas (Miami, 1994) propôs um Plano de Ação que visando à formação de Alianças para a Prevenção da Contaminação dos Recursos Hídricos e a Conferência sobre Avaliação e Manejo dos Recursos Hídricos na América Latina e no Caribe (San José, 1996) produziu a Declaração de San José e um Plano de Ações.

Em setembro de 1996 ocorreu em Buenos Aires o II Diálogo Interamericano Sobre Administração da Água, organizado pelo Instituto Nacional da Ciência e Tecnologia Hídrica (INCyTH) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA), tendo como tema central a “Gestão integrada dos recursos hídricos para o desenvolvimento sustentável nas Américas”, buscando se chegar a um consenso sobre as ações mais necessárias e propor um número limitado de iniciativas específicas e, para isso, contou com representantes oficiais do governo de 22 países que integram a Rede Interamericana de Recursos Hídricos.

No Brasil, ocorreu no Rio de Janeiro (1997) a Rio 92 + 5, buscando se avaliar o que realmente se produziu desde a ECO 92, concluindo-se que muito pouco foi efetivamente realizado sobre todas as proposições tiradas em 1992. Porém, a partir daí, ocorreu um aumento significativo de movimentos técnicos e sociais tendo como tema central “a água”, onde a busca pela informação e a associação com o desenvolvimento integrado ao meio ambiente e recursos hídricos é premissa básica.

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Desde os primórdios do tempo que a água representa o mais importante dos vetores de manutenção da vida. Atualmente, associada a este fato, representa, ainda, qualidade de vida vinculada ao desenvolvimento político, social e econômico que para toda a humanidade representa a preocupação com as gerações presentes e futuras, embora, como presenciada na mídia mundial, o homem ainda não consegue entender, ou mesmo praticar, o conceito de “desenvolvimento sustentável”.

No seu livro “Saber Cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”, Leonardo Boff (2002) coloca com mestria o relacionamento do homem com o planeta Terra, mostrando em seus vários capítulos que, a despeito do que prega em suas promessas, falta o “saber cuidar”, onde a falta de cuidado passa a ser o estigma do nosso tempo.

Desta forma, mesmo sabendo que a água constitui um dos principais elementos para a sobrevivência das espécies, inclusive a do ser humano, o homem não a valoriza na prática do dia-a-dia, esquecendo que ainda não existe nenhum outro elemento que possa substituí-la e, assim, a polui cada vez mais em menor tempo, revertendo o quadro natural e sem o conhecimento, ou pela própria ignorância, poluindo aquela que lhe mantém vivo. Este fato é observado no cotidiano, quando o homem perde no trecho ponto de captação-usuário, no Brasil, em media, 40% do volume de água que capta, ou que a polui simplesmente por achar que toda drenagem e/ou espelho d´água está disponível para disposição de efluentes líquidos ou de resíduos sólidos.

A crescente demanda de água como conseqüência do aumento da taxa de crescimento populacional, da necessidade de produção de mais alimentos e crescimento do setor industrial, além da deterioração qualitativa dos recursos hídricos superficiais, torna a água subterrânea um patrimônio de valor imensurável, capaz de funcionar como reserva estratégica e influenciar decisivamente no desenvolvimento político e socioeconômico de qualquer comunidade (CAVALCANTE, 1998).

Associado ao problema de poluição da água, falta e/ou escassez e a implementação urgente de uma política de gestão integrada dos recursos hídricos, todos os governos a nível mundial se deparam com a “crise da água potável” para o próximo século.

Mais de 50% da população mundial se encontra em grandes centros urbanos e isto faz com que exista a degradação qualitativa dos mananciais superficiais de águas potáveis. O papel das águas subterrâneas, captada através de poços tubulares, como fator estratégico de abastecimento torna-se relevante, tendendo a desenvolver-se cada vez mais rapidamente à medida que são estudadas de forma integrada com o meio ambiente e a ocupação do meio físico.

Como exemplo de uso e ocupação do solo, observa-se que a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Estado do Ceará, vem apresentando alguns problemas oriundos da expansão populacional, tais como a ocupação desordenada do solo, a crescente favelização, a ausência de saneamento básico, a poluição dos recursos hídricos e uma oferta d’água tratada insuficiente para atender totalmente a demanda solicitada pela população. Os dados de poços cadastrados para projeto hidrogeológico executado para a Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará mostram que em 2002 existiam cerca de 13.000 poços na RMF e, destes, 7.300 estavam localizados somente em Fortaleza.

Com essa crescente demanda, o uso das águas subterrâneas torna-se significativo, principalmente nos períodos de estiagem, onde o volume dos recursos hídricos superficiais diminui consideravelmente. Além de que, as unidades litológicas sedimentares da RMF, em função da sua área de localização e extensão, representam um importante sistema de captação que abastece residências e condomínios, além de serem utilizados também em indústrias de pequeno porte e em projetos de irrigação.

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A saúde das pessoas está diretamente associada à qualidade da água consumida. Segundo estudos da ONU (Agenda 21, 1992), calcula-se que 80% das doenças dos países em desenvolvimento são veiculadas através de água contaminada. Daí ser extremamente importante o conhecimento da qualidade das águas de uma região, particularmente urbana, através de análises físico-químicas e bacteriológicas, que se constitui num mecanismo para caracterizá-las quanto à composição química, potabilidade e direcionamento de usos.

É comum em áreas urbanas densamente ocupadas e com ausência de saneamento básico, diagnosticar-se o íon nitrato, que reprediagnosticar-senta o estágio final da oxidação da matéria orgânica proveniente de resíduos da atividade humana, acima dos limites permissíveis pela OMS (10 mg/L N-NO3 = 45 mg/L NO3), principalmente nos aqüíferos rasos. A forma NO3 tem sido usada para se conhecer o nitrogênio inorgânico, embora também indique a presença de matéria orgânica, já que corresponde ao estágio final da decomposição de produtos protéicos (HEM,1985). Isto é extremamente preocupante, a partir do conhecimento dos problemas causados por este elemento para a população infantil inferior a 90 dias de vida advindos da metahemoglobinemia (doença azul), potencialmente fatal para crianças desta faixa etária.

Outro fator que altera a qualidade das águas é a presença de aterros sanitários, na grande maioria das vezes sendo simplesmente lixões. O chorume oriundo dos mesmos migra para águas superficiais e subterrâneas e, no geral, as águas captadas pelas comunidades periféricas encontram-se poluídas. Trabalhos hidrogeológicos realizados em áreas próximas a lixões mostram que existe uma forte tendência de poluição das águas subterrâneas (CAVALCANTE & SABADIA, 1993; CAVALCANTE, 1998; PASTANA, 2001).

Outro exemplo é descrito e estudado por Melo (2001) na cidade de Natal/RN, com uma área de 160 km2 e população aproximada, à época, de 700.000 habitantes. As águas subterrâneas constituem a mais importante fonte de suprimento hídrico e cerca de 95 bilhões de litros/ano são distribuídos pelo sistema público. A contaminação dessas águas por nitrato já atinge extensas áreas, cujas concentrações deste elemento superam em até 100% o máximo recomendado pela OMS (45 mg/L de NO3).

13.3.2. Oferta e Uso da Água Subterrânea

Um dos princípios básicos que norteia qualquer estudo hidrogeológico para planejamento e gestão da água, é o correto dimensionamento de oferta e demanda dos recursos hídricos. Porém, na hidrogeologia nem sempre é fácil o dimensionamento da oferta, ou seja, o cálculo de reservas e disponibilidades, em função dos aspectos geológicos envolvidos (Sistema Hidrogeológico Cristalino, p. ex.) ou do uso e ocupação do solo, este resultando, quase sempre, em interferência antrópica sobre a qualidade das águas armazenadas em sub-superfície.

Zoneando-se a ocorrência da água subterrânea em dois distintos meios de ocupação física, urbano e rural, temos que no primeiro o elemento mais preocupante é a poluição decorrente do uso de agrotóxicos e fertilizantes, enquanto que no meio urbano existem diversas fontes potencialmente poluidoras que, seguramente, causam impactos negativos a captação das águas subterrâneas, entre os quais podemos enumerar: a construção sem critérios técnicos do poço; uso inadequado do poço causando problemas de avanço de águas salinas (intrusão salina); aspectos negativos da ausência de obras de esgotamento sanitário; águas superficiais poluídas; postos de serviço; disposição de resíduos domésticos/industriais; cemitérios; vulnerabilidade natural do meio físico.

A água na Terra encontra-se em um movimento permanente através do ciclo hidrológico, embora com dinâmicas variadas. As águas atmosféricas localizadas até 15 km de altura, em média, possuem um tempo de residência de apenas 10 a 12 dias e totalizam 13.000 km3; as águas superficiais continentais (rios, lagos) possuem tempos de residência que oscilam em torno de meses, a depender dos aspectos climáticos da região, e

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representam 200.000 km3 ; finalmente, as subterrâneas participam do ciclo hidrológico em uma escala variável de tempo, oscilando nas escala anual, chegando a séculos ou até milhares de anos, detendo 8,4 milhões de km3 (REBOUÇAS, 1994).

O conhecimento do caráter da renovabilidade das águas subterrâneas e das direções de fluxo são extremamente importantes no planejamento e gestão integrada dos recursos hídricos. Assim, a caracterização dos fatores responsáveis pela maior ou menor renovabilidade e pelas mudanças de direções de fluxo hídrico deve ser objeto de estudo em qualquer estudo que anteceda o planejamento e gestão das águas.

Atualmente o uso das águas no mundo, em termos médios, apresenta a seguinte divisão em termos percentuais: agricultura (70%), indústria (20%) e consumo humano (10%).

Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92 foi ressaltado o paradigma global do desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental e melhoria da qualidade de vida da população em geral. Por sua vez, o Capítulo 18 da Agenda 21 ressalta a necessidade de proteção da água doce – concentração de Sólidos Totais Dissolvidos - STD inferior a 1000 mg/L - para abastecimento das demandas atuais e futuras, por meio da aplicação de critérios integrados de planejamento e gerenciamento das águas de superfície e subterrâneas, aspectos quantitativos e qualitativos.

O Brasil está subdividido em Províncias Hidrogeológicas desde 1983, quando foi editado o Mapa Hidrogeológico do Brasil (DNPM, 1983). Dentro de uma visão simplista, podemos distinguir dois meios hidrogeológicos principais: sedimentar e cristalino. O primeiro é o grande responsável pelas elevadas vazões que alcançam até 1.000.000 de litros/hora, a exemplo do poço Violeto com 930m de profundidade e que teve um jorro d´água de 40m de altura, construído no Vale do Gurguéia, Piauí, e aproximadamente 400 poços artesianos (jorrantes) existentes ao longo dessa região que está situada na Bacia do Parnaíba, Nordeste do Brasil. Observa-se que esta Bacia é considerada, dentre as até hoje estudadas, a Observa-segunda maior Província Hidrogeológica do Brasil, com aproximadamente 3.500m de espessura de sedimentos clásticos.

Outra província hidrogeológica destacável, considerada a maior da Brasil e uma das três maiores do mundo, é a do Paraná, com cerca de 7.000m de sedimentos e que comporta o Aqüífero Guarani, com poços com profundidades próximas a 2000m e vazões que alcançam até 700.000 litros/hora/poço. A Figura 13.2 ilustra, em termos de capacidade específica, as diferentes áreas hidrogeológicas brasileiras, mostrando comportamentos distintos, a exemplo dos poços construídos na Bacia do Paraná que possuem capacidade específica superior a 10 [(m3/h)/m], até a região do Polígono das Secas, onde os poços construídos no cristalino possuem capacidade específica inferior a 1 [m3/h)/m].

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Figura 13.2 – Distribuição dos potenciais de águas subterrâneas em função da capacidade específica dos poços tubulares.

É necessário que se estabeleça um coeficiente entre oferta e demanda de água para que o gestor tenha conhecimento prático da situação existente na área trabalhada, sendo este conhecido como “coeficiente de uso das águas”, obtido entre a relação demanda hídrica/resposta dos mananciais. Quando este coeficiente é superior a 15% deve ser observado que a situação de um país, ou estado, é considerada problemática.

Exemplos podem ser ilustrados da seguinte maneira: Na Líbia o coeficiente de uso das águas é maior do que 300%; no Quatar é superior a 200%; em Israel maior do que 100%, ressaltando-se que todos os países do Oriente Médio têm este coeficiente superior a 100%; no Brasil, em função da área territorial e distribuição hídrica, este coeficiente é inferior a 5% em 70% do país, ficando entre 5% e 10% em 27% do território brasileiro e entre 10% e 17% em somente 3% do Brasil refletindo, portanto, uma situação confortável para o país.

Outro coeficiente adotado pela Organização das Nações Unidas – ONU refere-se a relação oferta/ demanda sendo que, quando a oferta for inferior a 500 m3 /hab/ano a situação é de escassez hídrica; quando ficar entre 500 e 1700 m3 /hab/ano a situação é de estresse hídrico e, finalmente, quando for superior a 1700 m3 /hab/ano tem-se uma situação confortável de oferta de água. Dados do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH, Vol. 1, 2006) mostram uma situação muito confortável para o Brasil (33.376 m3 /hab/ano), sendo que apenas a Região do Atlântico Nordeste encontra-se em uma situação desfavorável, com estresse hídrico (1.145 m3 /hab/ano).

Referências

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