UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES PÚBLICAS, PROPAGANDA E TURISMO
HELENA BRUGAROLAS SALVO FLEURY DA ROCHA MATEUS RIBEIRO CANDIDO
TAMIRES DE PAULA ARAUJO
Relatório técnico
SÃO PAULO 2020
CozinhUSP
Autores: Helena Brugarolas Salvo Fleury Da Rocha, Mateus Ribeiro Candido e Tamires De
Paula Araujo
INTRODUÇÃO
Além do papel nutritivo e de saciar a fome, a alimentação possui uma grande influência culturalmente. A culinária e a identidade cultural caminham juntas e muitas vezes definem características da formação sociocultural. Segundo Jungla Pimentel e Veraluz Cravo (2005 p.49), “no processo de construção, afirmação e reconstrução dessas identidades, determinados elementos culturais (como a comida) podem se transformar em marcadores identitários.” Tais marcadores são apropriados e utilizados pelo grupo como símbolos de uma identidade reivindicada.
Nesse sentido, a comida também possui a função de conforto, interação e aprendizado. A culinária nos conecta com o ambiente, tanto como sociedades quanto como indivíduos. Como explica a nutricionista (Montse Bradford, 2018) o que pensamos e o que comemos tem o mesmo poder de gerar emoções. Nesse sentido, surge a oportunidade da culinária como um gerador de bem-estar.
A pandemia do coronavírus tem afetado drasticamente o setor gastronômico. Como explica José Roberto Magalhães, diretor da Associação dos Profissionais de Cozinha do Brasil (APC Brasil), 30% a 50% dos restaurantes serão fechados mundialmente em 2020 (Prazeres da mesa). Levando em consideração que a maioria das pessoas não conseguem, por motivos financeiros, pedir delivery para todas as refeições e o fechamento de restaurantes, as pessoas foram obrigadas a desenvolver e aperfeiçoar as habilidades culinárias repentinamente por falta de opção.
Para desenvolver essas habilidades, a internet atua como uma ferramenta primordial, devido principalmente a vasta diversidade de opções e a facilidade. Além do caráter informativo, a internet e as redes sociais têm o papel de integrar as pessoas, fazendo com que, mesmo de longe, estejam conectadas. O que é essencial durante o período de distanciamento social. Segundo o IX.br (Brasil Internet Exchange), projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), desde o início do isolamento social no Brasil, o uso da internet cresceu em torno de 20% no país.
Isolados em casa, as redes sociais crescem como uma alternativa de consumo e produção de conteúdo. E, devido a sua facilidade de acesso e interação, todos conseguem
participar e ter voz. Fato que remete ao conceito da “Cultura Participativa”, apresentado por Henry Jenkins, no seu livro a “Cultura da Convergência”, na qual os consumidores participam e influenciam sobre produtos e serviços, ou até no resultado final.
Contudo, o projeto CozinhUSP surge em tempos de isolamento social com o objetivo de integrar as pessoas através da associação da tecnologia com a culinária, em uma rede de troca de informações e conhecimento. Além disso, a página possui o objetivo de inspirar, ajudar e confortar os usuários através da comida.
METODOLOGIA
O Instagram por estar extremamente em alta principalmente na quarentena e por ser uma plataforma dinâmica, foi selecionada para a base do trabalho. Assim, o levantamento dos dados presentes na base teórica será feito de acordo com as informações que a página gerar tais como, número de acessos, número de curtidas e de compartilhamentos.
O projeto tem como principal objetivo integrar as pessoas através da culinária e compartilhar conhecimentos gastronômicos. Para alcançar tal objetivo, foi-se criado uma página no Instagram (@cozinhusp) na qual divulgou-se receitas fáceis com ingredientes que podem ser facilmente obtidos e que tenham um preparo rápido. Ou seja, foi postado diariamente conteúdos tanto na forma de post quanto na de stories, receitas que incentivassem reproduções por parte dos seguidores.
O conteúdo abordado apresenta uma ampla variedade, para que satisfaça o maior número de gostos possíveis. Todos atendendo os mesmos princípios, de serem rápidos, criativos e com ingredientes de fácil acesso. Foram apresentadas dicas de salgados, massas, pratos, sobremesas e bebidas, incluindo opções vegetarianas e veganas.
As receitas divulgadas foram preparadas e formatadas em uma linguagem informal e descontraída, de modo que fosse intuitiva e de fácil compreensão a todos. Cada post, apresentou uma receita diferente, com os seus ingredientes e modo de preparo, além de sugestões de ocasiões para preparo da tal. No final, os usuários são convidados a comentar sobre o que acharam e a mandar suas próprias receitas.
Nesse sentido, também foi estimulado o compartilhamento de receitas e dicas vindas dos seguidores. A ferramenta direct presente no Instagram permite o contato direto entre o usuário com a página. Na qual através de vídeos de novas receitas, comentários e observações a dinâmica e a interação foi-se estabelecida.
As receitas e dicas enviadas pelos seguidores foram compartilhadas na página, com os devidos créditos. A aba de comentários, na plataforma, foi primordial para estabelecer a interação entre os seguidores, os quais puderam compartilhar nesse campo, o que acharam sobre a publicação, outras formas de preparo e dicas relacionadas.
JUSTIFICATIVA
Portanto, tendo em mente a capacidade que a culinária possui para aproximar, confortar e inteirar, surge o CozinhUSP no cenário de desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades culinárias por conta da pandemia. Ou seja, o projeto surge com o objetivo de compartilhar receitas, conhecimentos e dicas entre os seguidores e a página.
Além disso, como explicado anteriormente, a culinária reflete os costumes de um povo e também podem se transformar em marcadores identitários. Assim como os seres humanos, a culinária vem evoluindo, desde quando nossos antepassados começaram a caçar e a dividir os alimentos, até nos dias de hoje perante a quarentena. Foi por esse motivo que o tema da culinária foi escolhido, para que possamos nos reinventar na cozinha, experimentar fazer receitas diferentes e nos reintegrar a cozinha durante a quarentena.
O fator primordial para a escolha do Instagram e não de outras redes sociais foi a forte presença dos conceitos apresentados pelo estudioso dos meios de comunicação, Henry Jenkins, no seu livro a “Cultura da Convergência”. Entre eles, o da cultura participativa, inteligência coletiva e narrowcasting.
Segundo o autor norte-americano, como citado anteriormente, na cultura participativa, o consumidor participa e influencia sobre os produtos e serviços, ou até no seu resultado final. Ou seja, o consumidor tem “voz”. Esse fato pode ser observado plenamente na plataforma escolhida, onde através dos comentários, publicações e da interação, o consumidor consegue expressar o que acha/pensa sobre algo, interferindo no seu resultado.
Além do que, através dos meios supracitados, os usuários conseguem interagir entre si, e juntos, por meio do compartilhamento de informações, constroem uma inteligência coletiva sobre um determinado assunto. Tipo de inteligência, a qual foi apresentada no livro pelo autor, ademais com o conceito de narrowcasting.
Esse último conceito pode ser visto plenamente na plataforma e é um dos principais motivos do seu grande sucesso. As informações difundidas por cada usuário se dirigem para um nicho específico, ou seja, um público-alvo, que consome esse tipo de conteúdo. A pluralidade de conteúdos no Instagram, permite que todos sejam atendidos e que cada um escolha o que quer ver na rede social, de acordo com as suas preferências.
Ademais, o Instagram é uma das plataformas mais utilizadas entre os brasileiros (Cuponation, 2019). Além do favoritismo, a rede social é de fácil interação pois, possui ferramentas como direct, stories, comentários e curtidas. Outro ponto que colabora para a utilização dessa plataforma é a facilidade que usuários têm para compartilhar a página e a opção de “salvar” o post. Portanto, além dos fundamentos teóricos, foi-se escolhido o Instagram pela funcionalidade, possibilidade de integração, conexão e engajamento.
RESULTADO ESPERADO
Diante dos dados levantados, esperava-se que ao proporcionar um ambiente de interação e conexão, divulgando receitas fáceis e dicas, o projeto iria receber um feedback positivo. Ou seja, a expectativa era que a página recebesse um número de expressivo de seguidores e que houvesse interações por meio de comentários, curtidas, dicas, sugestões, receitas feitas por usuários e perguntas.
Além disso, esperava-se atingir um público em que tais conhecimentos culinários poderiam ser colocados em prática para cumprir com o objetivo de inspirar, ajudar e confortar os usuários através da comida.
RESULTADO REAL
Até a data da última coleta (30/06), a página contava com 2104 seguidores e 43 publicações (Imagem 1). Segundo as informações fornecidas pela própria plataforma, a maior parcela do público está na faixa dos 25 a 34 anos, residentes na cidade de São Paulo.
As 43 publicações, até a última medição, receberam um total de 695 curtidas, 76 comentários, 82 compartilhamentos entre contas e 68 salvamentos, segundo o Instagram. Em destaque, as receitas com maiores interações e engajamentos foram a do doce de leite caseiro, feita pelo nosso próprio grupo, com 29 curtidas, 9 comentários, 8 compartilhamentos e 7 salvamentos, como mostra a imagem 2. E a da batata frita com queijo e bacon, enviada por uma seguidora, com 23 curtidas, 10 comentários, 2 compartilhamentos e 5 salvamentos (Imagem 3).
Em média, por semana, as publicações da página alcançaram 300 contas, as quais visualizaram em torno de 1.400 vezes o conteúdo (Imagem 4). Além disso, foram publicadas diversas receitas enviadas por seguidores como por exemplo rabanada crocante e pipoca de leite ninho.
Imagem 1: Página inicial
Fonte: Reprodução CozinhUSP/ Instagram, 2020
Imagem 4: Alcance e visualização das publicações
Fonte: Reprodução CozinhUSP/ Instagram, 2020 Imagem 3: Métrica da publicação da receita da batata frita
Fonte: Reprodução CozinhUSP/ Instagram, 2020 Imagem 2: Métrica da publicação da receita do doce de leite
CONCLUSÃO
Portanto, considerando os objetivos do trabalho, os resultados obtidos não só alcançaram os esperados, como os superaram. Ademais, em vista aos aspectos observados pode-se concluir que a comida tem um importante papel na sociedade, principalmente no saciamento da fome e na promoção da integração e do bem estar, principalmente, em períodos como o da pandemia.
Cabe ressaltar, conjuntamente, a importância e o poder das redes sociais no auxílio à difusão do conhecimento. A qual através de plataformas como o Instagram, atingem cada vez mais pessoas levando informação e possibilitando a conexão entre elas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CGI. IX.br alcança marca de 10 Tb/s de pico de tráfego Internet Disponível em:
https://www.cgi.br/noticia/releases/ix-br-alcanca-marca-de-10-tb-s-de-pico-de-trafego-internet/. Acesso em: 08/06/ 2020
PIMENTEL, Jungla e CRAVO, Veraluz. Olhares antropológicos sobre a alimentação. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005.
BRADFORD, Montse. Fornecimento natural e de energia. Editora: Eifis, 2018.
PRAZERES DA MESA. Covid-19: impactos no setor de restaurantes no mundo e no Brasil. Disponível em: https://www.prazeresdamesa.com.br/noticias/covid19-setores-de-bares-e-restaurantes-no-brasil-e-no-mundo/. Acesso em: 23/05/2020.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2ª Ed. Aleph, 2009
CUPONATION. Usuários do Instagram - 2019. Disponível em: ;https://www.cuponation.com.br/insights/dadosinsta-2019. Acesso em: 16/06/2020