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Ribeiro, Maria Aparecida Universidade Católica Portuguesa, Departamento de Letras. URI:

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Academic year: 2021

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Jakaré-Ouassou e a luta pela hegemonia literária

Autor(es):

Ribeiro, Maria Aparecida

Publicado por:

Universidade Católica Portuguesa, Departamento de Letras

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23855

Accessed :

7-Jun-2021 17:02:25

digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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FACULDADE DE LETRAS

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MÁTHESIS 6 1997 105-126

JAKARÉ-OUASSOU

E A LUTA PELA

HEGEMONIA LITERÁRIA

MARIA APARECIDA RIBEIRO

1-"Um excelente romance" - foi assim que, em Agosto de 1833, a Revista da Sociedade Fi/omática, uma significativa publicação do pré--romantismo brasileiro, classificou Jakaré-Ouassou ou les Tupinambas, além de estampar, contrariando até o que chamava os seus princípios, a tradução do prefácio desta obra escrita por dois franceses: Daniel Boucher (que havia vivido no Brasil e no Uruguai entre 1818-1825) e Phillipe Gavet, que, em 1811, foi professor na Société de Civilisation. Com a notícia, a revista pretendia dar "ideia do que acerca do nosso País pensam os europeus sensíveis e entusiastas do nosso solo - fermoso e virgem" (Rev. Soe. Fi/om., 3: 92 e 92 - nota).

Tal observação era ao mesmo tempo uma resposta e uma questão. É exactamente este duplo aspecto que tentarei abordar neste trabalho.

2- Desde os inícios do século XVIII começara no Brasil o que se pode chamar sedução da França. Esta surgia aos olhos dos brasileiros como uma solução para os problemas da colónia. Basta dizer que, em 1755, houve no Pará uma conspiração visando a entrega da Amazónia à França, que, aliás, passou a participar activamente da destruição dos laços entre Brasil e Portugal. O navio Le Deligent, por exemplo, tinha como missão introduzir nas "colónias estrangeiras o mesmo princípio de liberdade" que reinava em França e "dividir as forças destes sobe-ranos do Novo Mundo" (Holanda, 61985: 413).

Mas o grande contacto dos brasileiros com a cultura francesa teve origem, por assim dizer, oficial. Com as tropas de Napoleão pisando Lisboa, a farru1ia real procurou abrigo na Colónia, em 1808. Trans-formando-a em Reino Unido ao de Portugal e Algarves, D. João abriu--lhe os portos ao comércio, fez nela instalar a imprensa e promoveu a ida de uma missão artística francesa, cujos componentes, com família e

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criados, se instalaram no Rio de Janeiro. Foram homens participantes nesta missão os responsáveis pela criação da Escola Nacional de Belas--Artes e, consequentemente, pelo carácter que, a partir de então, se imprimiu à pintura, à escultura e à arquitectura. Com a abertura dos portos "às nações amigas", livros franceses passaram a ser importados em número razoável e principalmente nas mãos de franceses ficou o comércio livreiro.

Com a Independência, mais se estreitaram estes laços culturais: os franceses perseguidos em sua pátria passaram

a

ver no Brasil uma terra de promissão. Foi o caso por exemplo do bonapartista Pierre Plancher, que introduziu a litografia e imprimiu o seu signo, e consequentemente o carácter francês, às artes gráficas brasileiras até meados do século XIX (Hallewell, 1985: 73).

Quase no mesmo ano em que Plancher aportara ao Brasil, um viajante muito especial, Jean-Ferdinand Denis, que lá vivera vários anos, escrevia, explicitando uma disputa:

Mas, coisa verdadeiramente notável é a influência que nossa literatura exerce hoje em dia sobre a dos brasileiros. Orgulham-se estes dos autores que lhes fixaram a língua; mas lêem os poetas franceses, conhecendo-os a quase todos. O papel que nos cabe desempenhar nesse país é ainda muito significativo, e se os ingleses têm, mais do que nós, a influência comercial que em toda a parte lhes caracteriza a activi-dade, devemos contentar-nos com ver uma nação esplendente de juventude e de engenho afeiçoar-se às nossas produções literárias, por causa destas modificar suas próprias produções, e estreitar através dos liames espirituais os que devem existir na ordem política. (Denis, 1826: 526).

Dessa luta pela hegemonia que, aliás, já vinha ocorrendo desde o século XVI, dá conta, como se verá adiante, quase três séculos antes de Denis, Jean de Léry, na sua Viagem à Terra do BrasiL

No olhar lançado pelo escrivão da frota de Cabral sobre a terra descoberta a 22 de Abril de 1500 e registado na carta que enviou a D. Manuel cruzavam-se o deslumbramento e o desejo de posse. Ao mesmo tempo que aquela terra era "de tal maneira graciosa [ ...

l",

"querendo-a aproveitar", dar-se-ia "nela tudo"; e os índios gesticulavam indicando que ali havia ouro ou, como diz o próprio Caminha, "isso tomávamos nós por assim o desejarmos". E aqueles homens pardos, "maneira de avermelhados", vistos como saudáveis, formosos e "muito bem curados e muito limpos" eram também mencionados como "gente bestial, de pouco saber" (Cortesão, 1994: 174, 159, 158, 166), o que significava o primeiro passo para a sujeição.

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As informações dos posteriores viajantes portugueses afinam-se pelo mesmo diapasão: a terra precisava ser explorada e urgia dominar aquela gente, "sem fé, sem lei e sem rei" (Gândavo, 1984: 13v). É verdade, no entanto, que o clero, principalmente os jesuítas, desafi-navam o seu tanto: preocupados em difundir a fé cristã, criaram escolas e tentaram até fundar uma universidade. Marcada pela língua portu-guesa e pelo catolicismo, começava a surgir uma nação cujo próprio nome lembraria a sua riqueza e a sua condição de terra explorada: Brasil.

O pau de tinta cedo atrairia os franceses que iniciariam com os índios uma outra espécie de contacto semelhante àquele de certas pessoas que vão à nossa casa, presenteiam as crianças, até as levam para passar umas férias, mas têm como objectivo "adoçar a boca" dos pais para obter alguma coisa. Sem propriamente se estabelecerem na terra, eles trocavam por algumas quinquilharias o pau-brasil e traziam alguns índios para a Europa, passeando-os como curiosidades, como aconteceu em Rouen, na coroação de Henrique II, ou ao caeté Essomeriq, que deixou descendência em terras francesas.

Em meados do século XVI, no entanto, mais precisamente em 1555, houve uma tentativa totalmente diferente das relações comer-ciais anteriores. Nicolau Durand de Villegagnon aportaria ao Rio de Janeiro para aí fundar uma colónia - a França Antártica. Dessa expe-dição ficaram dois relatos, bastante dissemelhantes não só pela forma-ção e personalidade diversas dos seus autores, mas também pelas dife-rentes experiências que tiveram: Singularidades da França Antártica (1558) de André Thévet, um católico cujos conceitos científicos o tor-nam um dos últimos representantes da Idade Média, e a Viagem à Terra do Brasil (1578), do pastor protestante Jean de Léry.

Thévet encara os habitantes da América como "gente mara-vilhosamente estranha e selvagem". Para ele, o estado natural, longe de ser um estado de perfeição, merece piedade: tais homens vivem como "animais irracionais, assim como os fez a natureza" (Thévet, 1978: 98). Cantado por uns e criticado por outros, o cosmógrafo católico fez que a América entrasse na literatura francesa a partir de 1558: os poetas da Pléiade acreditaram que "não era indigno da sua musa antiga louvar os feitos dos exploradores franceses e as inocentes tribos do Novo Mundo" (Chinard, 1970: 105)

Foi movido pelos disparates contidos na Cosmografia, um outro livro de Thévet, que Jean de Léry decidiu publicar a relação que compusera depois de sua volta do Brasil. Seu olhar diverge do de Thévet quando se refere a Villegagnon e também na forma pela qual pinta os costumes indígenas. Se a sua religião não acata certos hábitos como a

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nudez, ele não resiste a igualá-la, como desvio do Bem, ao excesso de roupa dos europeus. E a formosura das índias o impressiona a ponto de ser forçado a dizer que só a decência não lhe permite descrevê-la. Se esta observação aproxima o olhar de Léry do de Caminha, a ternura do seu registo sobre os curumins sadios e belos na sua falta de roupas mostra o quanto um pastor protestante pode estar próximo de um jesuíta, pois é um tom semelhante que Fernão Cardim imprime às suas palavras sobre os índios pequeninos.

Mas o prefácio de Léry à sua Viagem mostra claramente que a luta pela hegemonia, antes de passar pela fé (relativizada, aliás, pela pro-posta de acordos entre católicos e protestantes feita pelo partido dos políticos), tem a ver, acima de tudo, com questões económicas. Nesse texto, apesar da divergência com Thévet quanto às atitudes de Ville-gagnon, o que ressalta é o lamento de ter deixado a terra aos portu-gueses:

[ ... ] se o empreendimento tivesse continuado tão bem como começou tanto o reino espiritual como o temporal aí se achariam enraizados em nossa época e mais de dez mil súbditos da nação francesa aí estariam agora em plena e segura posse, para o nosso rei, daquilo que espanhóis e portugueses deram aos seus. (Léry, 1980: 31-32)

As palavras de Denis no texto citado páginas atrás não apenas mostram a sua ideia sobre o papel a ser desempenhado pela França, mas fazem eco ao seu próprio desejo de orientar a emergente literatura brasileira, de que é demonstrativo o título por ele dado ao capítulo introdutório de um dos seus livros - "Considerações Gerais sobre a forma que a Poesia deve ter no Novo Mundo".

Denis começou a divulgar o nome do Brasil traduzindo para o francês a recém-publicada Carta de Pêro Vaz de Caminha, as "Notícias sobre as Capitanias do Pará e do Solimões" e a "Notícia sobre a Provín-cia de Mato Grosso", todas extraídas da Corografia Brasílica de Aires do Casal, ao mesmo tempo que dava à estampa Le Brésil ou Histoire,

Moeurs, Usages et Coutumes des Habitants de ce Royaume

(1821-1822), em colaboração com Hippolite Taunay, um dos participantes da missão artística francesa. Da sua vastíssima obra de divulgação da terra brasileira, vale destacar as Scenes de La Nature sous les Tropiques et de Leur lnfluence sur La Poésie (1824) e o Résumé de L 'Histoire Littéraire du Portugal, suivi du Résumé de l'Histoire Littéraire du Brésil (1826).

As Scenes tinham por objectivo mostrar aos europeus "amigos da literatura" "a influência da natureza sobre a imaginação dos homens que vivem nos países quentes" e dar-lhes a conhecer "o partido que podem

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JAKARÉ-OUASSOUE A LUTA PELA HEGEMONIA LITERÁRIA 109

tirar das grandes cenas" (cf. Denis, 1824: II-III). Ressaltando a importância dos viajantes e, no caso, a sua própria como conhecedor das florestas da América Meridional, Denis escreve uma obra em que superpõe poesia e documento, doutrina e prática: ele descreve os lugares que viu (e os de que pôde ter "uma ideia exacta" pelo testemunho de outros); divulga a história do encontro de Diogo Álvares Correia com a índia Paraguaçu (Denis, 1824.71-72)1; transcreve o caso de um índio botucudo que fora parar em Viena, facto registado no Journal des Débats, e acaba por fazer literatura, misturando narrativa de viagem e

história da conquista, nos capítulos "Les Americaines" e "Les Maxacalis", onde os índios são geralmente mencionados como "pobres índios", "índios arrancados de suas florestas". Tudo isso, afinal, para chamar a si o programático: Denis deseja que a sua "pintura das cenas ainda estrangeiras" aos europeus lhes "excite o interesse e lhes dê o desejo de recordar alguns dos grandes acontecimentos passados no Novo Mundo ou na Ásia." (Denis, 1824: IV). Que acontecimentos são esses?

Ao que parece, pela leitura de "Os Maxacalis", aqueles que levaram à extinção da raça indígena, entre os quais o principal é o contacto com o branco (embora no texto personificado como o português). Neste texto, um viajante francês ouve de um português a história que lhe contara um índio - Kumuraí, chefe dos maxacalis, cuja educação fora confiada por Vapubaçu, seu pai, a um capitão-mor, português e bom, no intuito de que o filho e a tribo pudessem usufruir dos bens da civilização. Um dia, ao caçar na floresta, Kumuraí vê Helena, a filha do novo ouvidor, e por ela se apaixona. Bom selvagem, Kumuraí respeita-a, e porque ela diz que nunca poderá morar na floresta, pede ao ouvidor a mão da moça. Interesseiro e hipócrita, o pai responde afirmativamente, exigindo ouro em troca, o que obriga os maxacalis a percalços e dissensões que os conduzem a um aniquilamento, já iniciado desde o tempo em que Vapubaçu resolvera mudar-se para as proximidades dos portugueses. Apesar de ter cumprido a promessa feita ao ouvidor, Kumuraí, que chegou mesmo a baptizar-se para mais se aproximar da amada, não obtém a mão de Helena: seu pai tenta afastá-la para longe. O índio cai, então, numa incrível tristeza, o que leva seu amigo Keroê a raptar a jovem portuguesa, trazendo-a para Kumuraí. Apesar de uma tempestade os ter obrigado a passar a noite numa gruta, o chefe dos maxacalis

1 Maria Helena Rouanet afmna que Denis não referiu o nome de Durão nas Scenes

e mostra a "recuperação" do nome do poeta no Résumé como mais um traço na fixação

de uma tradição literária brasileira. Engana-se, porém, a autora quanto ao anonimato.

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continua a respeitar a moça, conduzindo-a, a seu pedido, de volta ao pai, que continua irredutível. Obediente ao ouvidor, Helena vai para a capital das Minas, mas, nutrindo amor pelo índio, escreve-lhe uma carta em que declara o seu sentimento por ele, o seu ódio à civilização e propõe, lembrando a esperança dada pelo Cristianismo, a concretização dos sonhos de ambos numa outra vida. Kumuraí, com os restantes elementos de sua tribo, continua a sua errância melancólica pela floresta, em direcção ao interior do Brasil.

No Résumé, cujo título já sugeria uma independência literária do Brasil com relação a PortugaF, Denis retoma a ideia dos efeitos degenerativos da civilização e incentiva directamente o poeta brasileiro a lamentar "as nações exterminadas," a "excitar uma piedade tardia, mas favorável aos restos das tribos indígenas", a valer-se dos "cantos poéticos conservados por algumas nações" (cf. Denis, 1826: 519-520). Esta emulação não é a única. Denis também criticava a privação cultural a que os portugueses devotaram a colónia. Assim, ao lado de uma iden-tidade própria, que ressaltava índio, mestiço e paisagem, correspon-dentes ao seu gosto pelo exotismo, por um lado, e ao necessário traço nacionalista do nascente Romantismo brasileiro, por outro, ele pregava o anti-lusismo, unindo a visão romântica contra os males impostos pela civilização à necessidade de denegrir os portugueses, e tentava con-quistar entre os brasileiros um espaço para os franceses.

À semelhança do que faz nas Scenes, também no Résumé, Ferdinand Denis chama a atenção para o poema épico Caramuru de Santa Rita Durão, que considera paradigmático da nascente literatura brasileira. O seu olhar romântico viu a longa descrição ufanista das riquezas brasileiras como exótica exibição de museu naturalista, e também percebeu na aventura de Diogo Álvares, "todo o heroísmo da Idade Média, todo o espírito ardente e aventuroso dos tempos da cavalaria" que "se insinuam com um colorido particular nessas viagens dos primeiros exploradores, corajosamente penetrando no âmago da florestas virgens, enfrentando audaciosamente animais desconhecidos, visitando nações que poderiam destruí-los" (Denis, 1826: 518). Se Diogo Álvares não lutou contra visigodos ou árabes, esteve ameaçado de ser "piece de résistence" (ou, se preferirmos, "conduto") de um ritual antropofágico. Conquistador em virtude do objecto da civilização que usou, mostrando o seu saber e o seu poder, foi também evangelizador dos índios, promovendo uma "cruzada" em terras brasileiras. Com lentes do século XIX era possível

2 É de ressaltar que o título fala em história literária de Portugal "seguida da

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encontrar no poema oitocentista a cor local e o medievismo român-ticos.

Por outro lado, o poema de Durão narrava a ida de Diogo Álvares e Paraguaçu à França, o que logicamente interessava de perto a Denis: a França seria o grande contacto daquela índia com a civilização, mas não uma civilização que a tratasse mal ou aniquilasse os seus costumes, já que Paraguaçu foi bem recebida pelo rei e pela corte. Isso demarcava os franceses da acção colonizadora portuguesa.

Ao lado disso, como se pode ver n'''Os Maxacalis", Denis leu como importante o que em Durão era esmaecido pano de fundo (a sequência de violências e de destruições ocasionadas pela colonização), pois tais factos vinham não só ao encontro das invectivas românticas contra os males da civilização, como também do ressaibo com que os franceses encaravam o domínio português no Brasil. Já as guerras entre dife-rentes tribos - referidas no Canto I, est. 5 do Caramuru e que ocupam também o canto IV (neste caso tendo por motivo a paixão de Jararaca por Paraguaçu) - não são ressaltadas por Ferdinand Denis ("Os Maxacalis" aludem a elas sem trazê-las para o primeiro plano), pois não constituem problemas levados pelos europeus, nem servem para diminuir os portugueses.

2.1- Consequência da questão posta por Denis, o Caramuru seria traduzido, em 1829, pelo biógrafo e amigo de Pedro I, Eugene Garay de Monglave, que o dedica à filha do imperador, D. Maria da Glória, princesa do Brasil e rainha de Portugal. Incentivado pelo Résumé, Monglave, que se coloca na esteira de Mme. de Stael e daqueles que permitiram ao público francês a leitura de Scott, Cooper, Manzoni, inaugura uma colecção de romances portugueses e brasileiros e nela insere a obra de Durão; programando traduzir também a de Basílio da Gama, porque pensa serem ambas dignas de rivalizar com O Último dos

Mohicanos. Para Mongalve, embora a obra de Durão não seja conhe-cida em França3 senão pela "poética análise e brilhantes citações" (Monglave, 1829: v.1, 25) que dela existem nos livros de Ferdinand Denis e pelos artigos que este autor lhe consagrou no jornal Le Globe, nenhum outro livro se não o Caramuru "mereceria mais a atenção de um

3 A tradução para o francês é feita a partir da primeira edição (1781), já que,

curiosamente, s6 depois dela e do Jakaré-Ouassou, o público de língua portuguesa

passou a interessar-se pela obra: a segunda edição, datada de 1836, surgiu em Lisboa e a terceira, na Bahia, em 1837, seguindo-se várias outras feitas no Rio de Janeiro nos anos 40 do século XIX.

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povo [o francês] que tão bem soube compreender a pintura original dos selvagens americanos" (Monglave, 1829: v.l, 26).

Apesar de lembrar nesse texto que durante muito tempo os franceses olharam "para o próprio umbigo", desprezando tudo o que não fosse francês, o tradutor do Caramuru não pode deixar de insinuar a supe-rioridade cultural e o desejo de hegemonia do seu povo: diz que o seu trabalho visa incentivar os jovens a aprenderem a língua portuguesa, já que "nosso orgulho nacional está muitíssimo interessado neste estu-do". E reforça o porquê deste interesse insinuando a possibilidade de repetição da História: em outros tempos, Henrique de Borgonha intro-duziu usos e costumes franceses entre os portugueses; naquele mo-mento, Portugal e o Brasil estão assumindo importante papel no cenário mundial.

Repetindo Denis, de quem reproduz uma parte do Résumé, "Notícia sobre a Literatura Brasileira", Monglave diz ser o poema de Santa Rita Durão a primeira obra verdadeiramente nacional do povo brasileiro, que, curiosamente, assinala como mestiç04. Na sua visão romântica, o tradutor critica os faustos épicos do apelo à mitologia, da lentidão do tecer e desenvolver da intriga, da inflação de episódios narrativos de feitos nacionais. Também cai no seu desagrado a abundância de deta-lhes didácticos e religiosos. Estes últimos, porém, são desculpados pelo espírito de francês que se julga superior e lança sobre o autor brasileiro um olhar exótico: "Mas este defeito é defeito, num frade imbuído da inocente simplicidade dos povos americanos?" (Monglave, 1829: v.l, 32). Talvez seja ainda esta maneira romântica de olhar que faça o tradutor criar para o poeta do Caramuru estes curiosos dados biográ-ficos: um amor de juventude, que o eremita de Santo Agostinho jamais teria conseguido esquecer, fê-lo deixar a Pátria e unir ao seu apelido de família - Durão - o nome da santa dos casos impossíveis, também, aliás, o nome da sua amada.

Monglave, consciente das novas tendências estéticas e da difi-culdade que representa a tradução de uma obra em verso, escuda-se no facto de que o português é uma língua bastante melodiosa e apresenta um Caramuru em prosa, classificando-o de romance-poema. O seu gosto romântico faz também que ele retire as referências à mitologia pagã e substitua a divisão em cantos pela divisão em capítulos, para os quais escolhe, no próprio texto de Durão, uma epígrafe, ressaltando, assim, o que julga mais importante. Os dez cantos trasformam-se em vinte e cinco capítulos.

4 Diz Monglave (1829:v.l, 25): "Le premier ouvrage vraiment national de ce

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A maior parte da tradução é praticamente literal e mantém o ponto de vista do narrador impresso por Durão. Há porém um momento - este, importante para o assunto de que tratamos - em que o tradutor, por assim dizer, desliza. Na estância LXXVII do canto IX do poema de Durão, Paraguaçu, ao narrar o seu sonho, diz o seguinte:

Que o Brasil aos lusos confiado, Será, cumprindo os fins do alto destino, Instrumento talvez neste hemisfério, De recobrar no mundo o antigo império.

Já Monglave (que não deixa de assinalar em nota a sua inova-ção) motivado pela recente independência política, ocorrida sete anos antes da sua tradução, e também pelas ideias liberais, coloca na boca da filha do cacique tupinambá palavras que aludem à antiga situação colonial, invertendo o sentido do texto de Santa Rita Durão: o Brasil dei-xa de ser confiado aos lusos, parte do império destes e instrumento de recuperação da sua antiga grandeza, para escapar "das cadeias da Lusitânia" (Monglave, 1829: v.2, 98), o que muda o tom colonial-nati-vista em acento nacionalista-patriótico (Paraguaçu prevê que talvez do novo hemisfério parta a força que irá submeter o universo).

E apesar de entusiasmado como Denis pelo facto de o poema "ser a pintura feliz do génio brilhante e aventuroso dos portugueses e da sinplicidade selvagem de uma nação na infância", o tradutor procura, ainda que por um momento, na esteira do autor do Résumé, enfatizar os malefícios causados pela acção colonizadora dos portugueses. É

quando no canto VIII est. 4, o rei de França propõe a Diogo Álvares auxílio para que ele possa exercer uma acção civilizadora no Brasil. O poema de Durão fala na extinção dos índios e no despovoamento da Europa como consequência da acção colonizadora. O texto em prosa escrito por Monglave elimina a menção ao despovoamento, o que faz incidir o olhar sobre a violência da conquista. A esta o tradutor dá ainda mais ênfase, através do uso de um "senão" que lhe confere exclusivi-dade no processo civilizatório: os europeus não acreditaram "poder formar colónias senão começando por eliminar as nações indígenas" (Monglave, 1829: v. 3, 213).

2.2- Outra resposta aos textos de Ferdinand Denis foi

lakaré--Ouassou. Mas, apesar de referir o seu nome e de copiar muitas das

suas palavras, o prefácio desta obra, subintitulada, aliás, crónica brasi-leira, anunciava-a como a primeira obra de imaginação escrita sobre o Brasil. Parecia que os seus autores não consideravam a existência de

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"Os Maxacalis"; tomavam-no apenas como obra documental, como uma das "cenas didácticas" das Scenes ou - até isso é provável - porque o título do livro de Denis contém genericamente a palavra trópicos, como obra não directamente relacionada com a literatura brasileira.

Tentando aproximar-se o mais possível dos cronistas, Boucher e Gavet procuravam que a obra tivesse "matéria, caracteres e estilo histórico". Desejando que o texto "não fosse senão uma sequência de quadros de costumes sob uma forma dramática", ficaram, porém, temerosos de que a aridez do quadro romanesco pudesse "amesquinhar tudo aquilo que os selvagens e a Natureza do Novo Mundo inspiram" (Boucher e Gavet, 1830: XIII-XIV), e resolveram elaborar uma intriga.

Que intriga era essa?

Preso e condenado à morte por Francisco Pereira Coutinho, dona-tário da capitania da Bahia, Tamanduá, um índio da tribo dos tupi-nambás, é conduzido a uma igreja. Aí encontra Inês, filha de Coutinho, que fora pedir ajuda a Deus, pois o pai havia negado a sua mão ao homem que ela amava, resolvendo casá-la com Almada, um fidalgo terrível. Tamanduá apaixona-se pela moça, que apenas tem por ele comiseração. Jak:aré-Açu, o melhor amigo de Tamanduá, ao regressar à taba fica a saber da sua prisão e jura vingança. Auxiliado por Acarapep, chefe tamoio, consegue libertá-lo.

Já em Cotiva, onde estão as aldeias dos tupinambás, Moema, prometida de Tamanduá, nota-lhe a tristeza e o tratamento diferente que este lhe dispensa, em função do seu amor por Inês.

Entretanto Coutinho tem notícia de que seu filho, González, e três companheiros vão ser mortos em Cotiva. Inês, manda, então, por um escravo negro, um recado para Tamanduá, pedindo-lhe que liberte o irmão. Sabendo que o casamento de Inês lhe fora imposto, Tamanduá promete não só libertar González, mas também livrá-la de Almada e de seus companheiros.

Em Salvador, no forte, Almada mata o irmão de Inês e o indesejado casamento acaba por realizar-se, enquanto em Cotiva tamoios e tupinambás se preparam para atacar os portugueses. Paraguaçu, mulher de Caramuru, vai ao encontro dos aliados, incentivando-os à luta, com a notícia de que o marido vive e está preso. Os índios atacam Salvador, mas não conseguem impedir o casamento, embora Almada se veja obrigado a abandonar Inês na igreja. Tamanduá encontra-a aí e, por estar muito ferido, pede a Jak:aré que a salve. Este sente-se atraído pela moça, mas cumpre o prometido, levando-a desmaiada para Cotiva, onde a deixa sob os cuidados de Diogo Álvares e sua mulher.

Os combates continuam e os índios, depois de queimarem Salvador, retiram-se, liderados por Caramuru e Paraguaçu. Jakaré, que ia

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JAKARÉ-OUASSOU E A LUTA PELA HEGEMONIA LITERÁRIA 115

frequentemente à casa deles para saber notícias de Inês, acaba por avivar o que sentira desde quando a vira pela primeira vez_

Entre os índios havia discórdia e alguns chegaram a aliar-se a Coutinho. Os desgostosos elegeram como novos chefes Tangará e Jenipaba, a quem a paixão de Tamanduá e de Jakaré por Inês não passara despercebida. Com o apoio de Murucujé - adivinho descontente com a acção evangelizadora de Caramuru -, resolveram inimizá-los, a ponto de Tamanduá considerar Jakaré um traidor e ordenar que se afastasse da tribo.

Refugiado numa gruta durante uma grande tempestade, este tupinambá fica a saber que uma parte da tribo se aliou a Coutinho e que Murucujé lhes dá apoio. Procura, então, o adivinho e ataca-o com a sua maça. Murucujé, encontrado moribundo por alguns caçadores tupi-nambás, acusa Jakaré. Este, aconselhado por Cunhambebe, seu pai, não regressa a Cotiva, mas continua fiel à sua tribo, dando combate a Coutinho. Durante as lutas que então se travam, Tamanduá é ferido. Jakaré salva-o da morte.

Almada, que fugira, foi dar a Cotiva, onde encontra Inês e o irmão (que afinal não fora morto e encontrara abrigo entre os tupinambás), partindo com eles ao encontro de Coutinho. Tamanduá não se conforma com o afastamento da mulher branca, e sua tristeza aumenta ao saber que Jakaré foi aprisionado pelos tupinambás aliados de Coutinho. Próximo da morte, Jenipaba chama Tamanduá e confessa sua traição, dizendo que é preciso salvar Jakaré e pedir-lhe perdão. Tamanduá liberta o amigo e foge com ele, mas os índios partidários do adivinho que sucedeu a Murucujé perseguem-nos obrigando-os a esconder-se numa caverna, onde um jaguar ataca Jakaré. Tamanduá salva-o da morte, mas perde a vida. Encontrado completamente fora de si tendo nos braços o corpo de Tamanduá, Jakaré é acusado de tê-lo morto e passa à memória de seu povo como um traidor.

Depois de uma grande reflexão do narrador sobre a semelhança de todas as conquistas feitas pelos europeus, comentando que elas acabam sempre por aniquilar os índios, os tupinambás voltam a aparecer na cena do romance: o Padre Rodrigues, que já estivera no Brasil, regressa à Bahia em 1572 e quer rever um amigo que ali deixara - o tupinambá Japi-Açu, que, depois de ter conhecido a civilização, preferira as flo-restas e a liberdade. Encontra-o, junto com outros de sua tribo, em estado de total degradação. Japi-Açu propõe, então, que se retirem para o interior, onde a civilização não implantou os seus males e que Rodri-gues continue a propagar a fé cristã.

Neste relato, embora longo, mas que procura sintetizar da melhor maneira possível as trezentas e tal páginas do romance de Boucher e

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Gavet, chama certamente a atenção a luta entre portugueses e tupinambás, além dos nomes de Francisco Pereira Coutinho, Caramuru e Paraguaçu, porque personagens históricas. E talvez também pareçam familiares ao leitor as figuras de Moema e Jakaré-Ouassou, já encontrados no poema de Durão. Aliás, o nome do herói que dá título ao romance, apenas com o acréscino de Açu (grande), é igual ao do índio que sozinho enfrentou Jararaca quando todos fugiam (cf. Canto IV, est, LIV -LVII do

Caramuru). Também a caracterização do seu vestuário é recortada do poema épico brasileiro. Com um pouco de atenção, poder-se-á notar que toda a cena final do romance, o aniquilamento dos índios, advém do contacto com o branco: não só ele lhes tomou as terras, como tentou escravizá-los e disseminou a desconfiança e o ciúme. Aliás, Boucher e Gavet seguem a sugestão de Denis: explorar a perseguição movida por Coutinho a Caramuru, o que intensifica a crítica à colonização portu-guesa. Uma verdadeira campanha contra os colonizadores do Brasil é feita no texto de Jakaré-Ouassou: a todo momento os índios exprimem o seu ódio contra os portugueses, e o narrador, baseado em Alphonse Beauchamp, comenta, ao descrever o incêndio de Salvador provocado pelos da tribo de Tamanduá aliados aos tamoios, que eles esperaram cinco anos pelo dia da vingança. Na volta às aldeias, cantando a memória da ocupação da cidade e da vitória sobre os portugueses, os tupinambás lembram os tempos de opressão e tirania, quando foram perdendo seu território, suas mulheres e seus hábitos para o estrangeiro. Mas a perseguição de Coutinho a Caramuru assinala a presença de uma outra ideia, uma vez que confronta a acção predatória dos portugueses e a feição edificante da evangelização, de que Diogo Álvares é o repre-sentante: o louvor do cristianismo, .

Quem conhecer "Os Maxacalis" poderá ver, além da semelhança do título que resume a gesta do aniquilamento (lembremos que

Jakaré-Ouassou apresenta como título alternativo "Os Tupinambás"), apro-ximações entre as figuras de Japi-Açu e de Kumuraí - ambos contactaram com os civilizados, mas resolveram voltar à floresta; entre a situação de Kumuraí e a de Tamanduá, na sua paixão pela mulher branca filha de um pai irascível e importante; entre Inês e Helena, no seu cristianismo, que acolhe o selvagem, e na sua cultura europeia e raça branca, que as tomam distantes dele; entre a amizade de Jakaré por Tamanduá e a de Keroê por Kumuraí.

Da leitura que o Jakaré-Ouassou faz do texto de Ferdinand Denis é de ressaltar sobretudo o gosto pelas tais cenas da vida indígena e pela paisagem exótica. Há mesmo capítulos inteiros em total suspensão, ou seja, em que os acontecimentos cedem lugar à descrição. É o caso do quadro da hospitalidade indígena (tirado directamente de Léry) , e da

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descrição das plantas e dos pássaros (lida em Durão), e agora não mais tomada como enumeração de riquezas, mas como natureza, meio--ambiente onde vivem os tupinambás. É basicamente esta natureza, sinónimo de liberdade, de pujança e de bravura, que o narrador defende, quando critica acirradamente os portugueses e os padres que os auxi-liam, pois que o índio, cuja ignorância ataca, só o interessa, como a Denis, enquanto homem natural.

2.3- Se a França pretendia que os brasileiros transformassem a sua paisagem e a sua história em marcas do seu nacionalismo literário, o mesmo pensou pelo menos um português: Almeida Garrett. Mas, ainda assim, como se poderá ver, motivado por Ferdinand Denis, com quem manteve contacto em Paris5

Como uma espécie de versão portuguesa do Résumé, Garrett

pu-blica, no mesmo ano em que Denis dá à estampa este seu livro, o "Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa", uma introdução ao Parnaso Lusitano. Nele incitava o Brasil a tomar os seus próprios

rumos literários, lamentando que, no poema de Gonzaga, Man1ia, "como a Virgínia de Saint-Pierre", não se fosse sentar "à sombra das pal-meiras, e enquanto lhe revoavam em tomo o cardeal soberbo com a púrpura dos reis, o sabiá temo e melodioso, que saltasse pelos montes espessos a cotia fugaz como a lebre da Europa, ou grave passeasse pela orla da ribeira o tatu escamoso, ela se entretivesse em tecer para o seu amigo e seu cantor uma grinalda não de rosas, não de jasmins, porém de roxos martírios, das alvas flores dos vermelhos bagos do lustroso cafezeiro" (Garrett,1904: v.2, 354-357).

Esta exigência de cor local - e a forma como é proposta - provinha certamente do contacto do autor das Viagens na Minha Terra com

Ferdinand Denis. Ademais ela não vem sozinha. No "Bosquejo", Garrett também tece considerações a respeito do Caramuru: lamenta que as

descrições só hajam fixado "os menos poéticos objectos", detendo-se brevemente em cenas como, por exemplo, a de Moema. De sensibilidade literária certamente mais aguçada que Denis e com menos prazer na leitura de tratados de plantas, animais e costumes indígenas que o autor das Scenes, Garrett preferia, assim, valorizar no poema brasileiro aquilo

que preenchia a sua expectativa de romântico: o amor não corres-pondido.

5 Embora não se possam esquecer também os seus inúmeros contactos com

brasileiros, desde a infância e passando por Coimbra, foi certamente o francês quem mais o influenciou para que escrevesse sobre o Brasil.

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Certamente mais apto a perceber nuances linguísticas que Ferdi-nand Denis, Garrett considera Cláudio Manuel da Costa o primeiro poeta surgido no Brasil e põe em relevo Basílio da Gama, o "cantor da infeliz Lindóia" (Garrett, 1904: v.2, 354), não só pela beleza de seus versos como pelo seu nacionalismo. Motivaria esta observação o facto de O Uraguay tocar nos malefícios levados ao Novo Mundo pelas "Gentes da Europa"? O tema era caro a Garrett. Em "O Brasil Liberto" (1821) já lembrava ele os "grilhões" e "ferros" introduzidos pela coloni-zação, pelo "monstro" do despotismo. No próprio "Bosquejo da História da Poesia e Língua Portuguesa", lamenta que "a educação europeia" tenha apagado o "espírito nacional" dos brasileiros.

As palavras de Garrett neste capítulo não descem à mesma minú-cia das de Ferdinand Denis no Résumé: o seu texto, sem conter propria-mente recomendações e englobando as literaturas portuguesa e brasileira, não vinculava as necessidades literárias às políticas e deixava pouco delineada a originalidade da literatura do país recém-independente.

À mesma tónica do modelo francês para a cor local - o que demarcaria a literatura brasileira da portuguesa, e apenas iss06 - voltaria ele em

1845:

Sim senhor, queria o Brasil uma poesia brasileira - isto é, por-tuguesa legítima no desenho, americana no colorido. Camões flxou a língua, a poesia e a literatura de todos os povos que descenderam da grande fanu1ia lusitana. É preciso saber grangear, no nosso terre-no, a parte da herança que nos tocou ao fazer partilhas. Por lá fora querem enxertar tudo em francês e italiano, e não lhe há-de dar fruto, ou se der é peco. Chateaubriand, Bemardin de Saint-Pierre e Cooper são os três nomes que os Brasileiros deviam seguir. (Garrett, 1845: 4,54)

Mas Garrett não pararia aí. Foi certamente o desejo de exercer na literatura papel semelhante ao que D. Pedro tivera na independência do Brasil que o levou a tentar escrever dois textos indianistas, ambos não concluídos, que são evidentemente respostas a "Os Maxacalis": os seus títulos - Komurahy e Helena correspondem aos nomes do par amo-roso desta narrativa contida nas Scenes.

6 No pensamento do escritor, porque a língua era a mesma, a literatura seria

portuguesa: UE agora começa a literatura portuguesa a enriquecer-se com as produções dos engenhos brasileiros" (Garrett, 1904: v.2, 354). Apesar disso, reclama da falta de nacionalismo dos escritores brasileiros, donde se conclui que este flca reduzido à cor local.

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o

primeiro, redigido necessariamente depois de 1824 (data da pu-blicação das Scenesr, tem como subtítulo "história brasileira". Nele, Garrett volta aos problemas trazidos pela colonização, agora, porém, em tópicos mais específicos - o aniquilamento das tribos, a morte das flo-restas, a submissão das índias - curiosamente os mesmos, e versando os mesmos espaços geográficos, que os abordados por Denis na sua narrativa das Scenes. Há também uma alusão à tribo dos maxacalis (na leitura de Garrett, em parte convertida ao Cristianismo). Na figura do Padre Inácio, índio converso, criado entre brancos, mas sem os poder ver, melancólico, reencontram-se traços do Kumuraí das Scénes, embora o índio que dá nome ao texto talvez se anuncie, nas últimas linhas do manuscrito, com os mesmos "olhos chamejantes" e reveladores que os do cacique de Ferdinand Denis. O cenário, apesar de preparar um texto marcado pelo lamento, é bem mais pujante que o da obra francesa: Gar-rett menciona, detalhadamente e com vigor de cores, plantas e animais. Mas, talvez porque se reconheceu "incapaz de fazer os 'esconjuros' do 'rito' que poderiam animar com vida artística os fantasmas exóticos que lhe andavam na imaginação" (Monteiro, 1971: 2, 324), ou porque não conseguisse exorcizar o seu texto do de Ferdinand Denis, com quem já tivera problemas por causa do Camões, Garrett abandonou o projecto do Komurahy.

Não o deixaram, porém, o exotismo da paisagem brasileira nem os problemas dos índios. Irá reescrevê-los em Helena, datada, como se pode verificar nos manuscritos, de 1853. Nesse texto, a meditação inicial do narrador de Komurahy cede lugar à descrição - onde tem lugar apenas uma alusão à irradiação do índio para o interior, mas na qual o espaço geográfico continua sendo a Bahia, numa zona não muito distante do Recôncavo.

Um viajante francês - o General De Brissac - tomará o lugar do viajante-narrador também francês que ouve de um português a história de Kumuraí n' "Os Maxacalis". Desta vez Helena, cujo perfil não chega a ser delineado, não será objecto do amor de um índio, mas de um estrangeiro - o seu pai adoptivo, De Brissac - e terá o seu nome associado a uma flor tropical, o maracujá ou passiflora8Tão pouco será

7 Ofélia Paiva Monteiro supõe que a obra tenha sido iniciada no exílio de Garrett

(Monteiro, 1971: 2, 316). Já Carlos D' Alge (1980: 45) põe como hipótese para o começo

da sua elaboração o ano de 1833. O catálogo que antecede a edição de Helena (1871),

organizado por Carlos Guimarães, regista 1828.

8 É importante notar aqui o possível diálogo de Garrett (cf. em Helena o capítulo

"A Passiflora") com Durão, que dedica quatro estrofes à flor do maracujá (cf. Caramuru,

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portuguesa, mas grega. O Padre João Índio (repare-se o nome tomado de empréstimo ao Padre José Índio de Denis), constituirá um esboço mais nítido da personagem que Garrett chamou anteriormente Padre Inácio e que continha um pouco do Kumuraí de "Os Maxacalis". Moema, cujo episódio do amor infeliz por Diogo Álvares o impressionara no poema de Durão (e que já havia emprestado o nome à destinatária da carta publicada n' A Ilustração anteriormente mencionada neste artigo e

onde Garrett se assinava Jacaré-Paguá9), será uma velha mas ainda bela índialO

, sabedora dos segredos da natureza, que odeia brancos e negros. Mãe do Padre João Índio, foi também mãe de leitell de Maria Teresa,

uma brasileira mestiça de sangue índio, educada em Paris, mas que não renega as origens, e a cujo gosto e saber se deve a união de civilização e natureza que De Brissac encontra no sertão baiano.

O tom melancólico de Denis n"'Os Maxacalis" e do próprio Garrett na tentativa anterior (Komurahy) dará lugar, neste novo projecto, a uma

certa ironia com que o viajante francês imaginará ver "um castelo de Monte Cristo no meio das florestas virgens da América" (Garrett, 1984: 234) e todo grotesco que advém do traje, da linguagem e das maneiras do mordomo negro, num clima tropical. Este tom irónico, porém, alternará com a admiração da personagem e os louvores do narrador sobre a união estabelecida entre natureza e civilização, ressurgindo sempre que ah, a formação clássica e o racionalismo de Garrett! -houver desequilíbrio entre as duas. Também perpassam o texto as ideias liberais do seu autor, ora focando a França e a Grécia, ora mesmo Portugal e ainda o Cristianismo e o tráfico negreiro.

A cor local, dada em rápidas pinceladas por Denis n' "Os Maxacalis", mas oferecida no restante texto das Scenes como a relação de um museu

de história natural, ganhará tonalidades ainda mais fortes que no

Komurahy, a ponto de, em dado momento, a descrição de um jantar

assemelhar-se aos versos ufanistas de Botelho de Oliveira ou de Santa Rita Durão. Neste momento, o narrador, ao sentir o desequilíbrio ocasio-nado pelo facto de "o fasto gigantesco" "da nobreza americana" estar

9 O mesmo que Jacaré-Açu.

10 O nome inicial da personagem era tirado de Chateaubriand: Átala (confonne se

pode ver no projecto manuscrito de Garrett). Além das características citadas que se deduzem da sua acção no fragmento deixado pelo escritor, o esboço que antecede os capítulos do romance contém uma indicação que assemelha esta índia à Tanajura do Uraguay: "velha supersticiosa", "é má" e "tem remédios e drogas secretas".

11 Seria mesmo apenas mãe de leite ou esconderia, sob essa designação, o facto de

ser a mãe verdadeira, camuflando assim um amor impossível como o da Moema de Durão? O facto de o romance ter ficado inconcluso não nos pennite saber.

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"triunfando [ ... ] de luxo sobre o mais refinado das elegâncias do Velho Mundo" (Garrett, 1984: 2,275)12, retoma o tom irónico. O objecto dessa condenação é não só a desmesurada abundância tropical da mesa - de um grotesco barroco, que apresenta frutas "escolhidas, misturadas de folhas e flores" e frutas incomportáveis num tão fino, delicado e europeu centro de mesa -, como o próprio ufanismo tomado dos poetas brasi-leiros, e que o narrador não assume como seu. O que injecta no texto a ironia, instaurando uma tonalidade joco-séria na pintura da mesa onde é oferecido o jantar a De Brissac, é a citação de um verso de Os

Lusíadas, referente ao episódio da "Ilha dos Amores" - "melhor tornada no terreno alheio" (Canto IX, est. 58): por um lado, ao responder aos textos brasileiros que dialogam com este episódio camoniano, demar-cando o seu ponto de vista estrangeiro - uma vez que considera o Brasil "terreno alheio" - o narrador de Helena reconhece a comparação de superioridade por eles estabelecida, mas despe-a do ufanismo, insinuando, inclusive, uma traição da melancia, que, "degenerou da Europa, curcubitando tortuosa e aleijada" (Garrett, 1984: 275), e passou a ser mais doce do lado de lá; por outro, a citação corrói o clichê da idealização do Brasil, ao colocar "o paraíso" sobre a mesa como complemento do "plateau de vermeir' representativo do "clássico grupo das três deusas litigantes no Ida" que "peitam" o "juiz-pastor" - a "Ilha dos Amores", localizada, então, no Ida troiano, onde Pã servia de juiz à beleza de Hera, Afrodite e Atena, fica assim reduzida a um adorno de mesa de jantar13 e a uma exibição, como que museológica, da "produção da Pomona tropical".

Às vezes, porém, o tom do narrador, abandonando a enumeração e o exótico dos viajantes, deixa o louvor e a ironia, para afinar-se por um diapasão realista:

Era a estação do fabrico do açúcar; as colheitas estavam adian-tadas, as fornalhas ardiam e o líquido precioso corria em torrentes os vastos lagares. Homens e gados, senhores e escravos, tudo vivia no engenho, tudo o rodeava; seus cuidados, sua alegria todas as ocupações e preocupações estavam nele. (Garrett, 1984: 228)

12 No "Bosquejo", ao falar da poesia de Gonzaga, Garrett já condenara a violência

do contraste entre a estética clássica e a paisagem tropical.

13 Satirizando o progresso das artes (a galvanoplastia acabava de ser criada,

barateando a ourivesaria e tornando accessível às classes menos favorecidas objectos como o que adornava a mesa do Visconde de Itahé), o narrador também corroía a mitologia, ali concretizada pela mão do artista (embora ainda com a aura de objecto único), mas, no momento, já produzível em série.

(20)

o

ódio entre as raças, assunto que lhe deve ter sido trazido por Gomes de Amorim (que, aliás, trata do mesmo tema num drama escrito sob o estímulo de Garrett e apresentado em 185414

), aparece mistu-rado à crítica feita à situação colonial, seja através do discurso do narrador, seja através do de Moema, seja ainda do de Frei João índio, reproduzido de forma directa, indirecta ou ainda fundido ao do narrador, num discurso indirecto livre.

O facto de Garrett não ter chamado a Helena, como ao Komurahy, "história brasileira" e de não o ter situado, como a esta narrativa, no passado brasileirol5

, fá-lo-ia parecer muito diferente dos textos ante-riores (dele e de Denis) e até indiciar um afastamento do interesse de exercer magistério sobre os escritores brasileiros. Mas as falas de Frei João índio a lembrar que o seu povo foi anteriormente senhor das terras que agora pertenciam ao Visconde de Itahé - que ainda o aproximam de ambos os Kumuraís -, o ódio de raças, a menção ao "desterro" sofrido pela brasileira Maria Teresa num colégio parisiense, a figura de Spiridião Cassiano de Melo e Matos e a sua fala, a descrição mais pormenorizada da paisagem e a própria ironia aos clichés da exuberância tropical mostram que o que se deu foi, ao contrário, um amadurecimento dessa ideia. Ainda que o seu ponto de vista não fosse brasileiro não importava; para o escritor o importante era a cor local - literatura brasileira era aquela "portuguesa legítima no desenho, americana no colorido". E Garrett começava "a animar com vida artística os fantasmas exóticos que lhe andavam na imaginação".

Mas o novo texto "brasileiro" de Garrett, ainda com ecos de Ferdinand Denis, com muitas alusões a Lamartine e algumas a Chateau-briand, fica inconcluso com a morte do escritor. E com isso adiada a hipótese de Portugal, mesmo com acentos franceses, vir a liderar a fundação de uma literatura brasileira.

3. E o Jakaré-Ouassou? Terá a resposta francesa à questão levan-tada por Denis, produzido algum estímulo?

14

0 drama intitula-se Ódio de Raça e foi representado no Teatro de D. Maria II. Diferentemente de Garrett, que fala do ódio nutrido pelo índio ao branco e ao negro, Gomes de Amorim foca o ódio sentido pelo mulato com relação às duas raças que o geraram.

15 Numa das folhas que antecede o texto manuscrito, onde Garrett dá os traços

gerais de cada personagem, o escritor faz o seguinte registo: "Começa em 1839 o romance, na aldeia de Itahé" (Ms. 69-70 do Espólio). Helena se passa depois da Independência, enquanto Komurahy se desenrola no tempo dos ouvidores e capitães, século XVII ou

xvm,

portanto.

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Em França, houve pelo menos um nítido sinal de enfado: o de Balzac. Cansado do muito exotismo, falava ele, numa crítica publicada na Mode sobre os clichês literários, em "onças douradas e pintadas, caramurus, jacarés-açus" (Balzac, 1838: 39, 38-39).

É verdade que, em 2 de agosto de 1855, certamente pelo estímulo de Denis, mas sem que se possam afastar de todo as ressonâncias do texto de Boucher e Gavet, o Théâtre Lyrique de Paris' apresentava

Paraguassu (chronique brésilienne), da autoria de J. O'Kelly e J. Villeneuve.

A ópera recorta do poema de Durão as personagens Paraguaçu, Moema, Caramuru, Taparica e Jacaré, que se torna rival de Diogo Álvares (no lugar de Jararaca), sendo por ele derrotado e morto. A rivalidade de Paraguaçu e Moema (despojada por Villeneuve de sua condição de tupinambá e feita rainha das amazonas) também é focada. Mas a grande finalidade da obra é falar das riquezas do Brasil e da sua condição de país livre. Em última instância, homenagear Pedro II, a quem é dedicada. Daí que, no 3° acto, depois de ser recebida por Henrique II e baptizada, Paraguaçu, numa festa no palácio do Louvre, cante, juntamente com Caramuru, as belezas do Brasil e narre a lenda do colibri, mensageiro dos mortos, para, na viagem de volta à Pátria, ter um sonho premonitório: numa nova era, sob o signo de Cristo, não haverá mais sangue derramado; o Brasil de conquistado passará a conquistador - um herói saído casa de Bragança lhe proporciona a independência e nasce um império imenso e próspero. A estes episódios, onde ecoam ideias de Durão, Villeneuve acrescenta um canto de glória a Pedro II, e o seguinte epílogo, que deve ter sido exibido aos espectadores:

De volta ao Brasil, onde foram recebdos com grandes manifes-tações de alegria, os dois jovens esposos se dedicaram a civilizar os povos que lhes eram submissos. Depois da morte do velho cacique Tapa-rica, seu pai, e de Diogo, Paraguaçu cedeu seu cetro e sua realeza ao rei de Portugal e se retirou para um convento da Bahia, próximo à capela da Graça, por ela fundada e dedicada ao patriarca S. Bento. Aí morreu em odor de santidade, sendo o seu nome venerado em todo o país para o qual ela predisse altos destinos (O'Kelly e Villeneuve, 1855: 35).

Quanto ao público brasileiro não sabemos se as linhas que a Revista

da Sociedade Filomática dedicou a Jakaré-Ouassou chegaram a motivar a sua leitura. Sabemos porém que o texto de Boucher e Gavet mantinha a veiculação de algumas cenas e ideias que o Romantismo brasileiro leu nos autores franceses: a crítica à colonização portuguesa que seria o grande mote da primeira geração de poetas românticos - Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias, entre outros -, chegando até mesmo aos

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textos da segunda geração de romancistas, como o de Lourenço da Silva Araújo e Amazonas - Simá; a extinção da raça indígena, tema central de Os Timbiras e secundário n' O Guarani e em Iracema, para não falar em outras obras que, embora na época tenham encontrado sucesso, foram aos poucos apagadas da memória nacional, como

Acaiaca, de Joaquim Felício dos Santos; a paixão frustrada do índio pela

branca, eternizada por Alencar na palmeira que navega em direcção ao infinito, levando Ceci e Peri; o amor bem sucedido do branco pela índia, cujas raízes remontam ao Caramuru e que terá seu melhor fruto em

Iracema.

Dessa maneira, se o Jakaré-Ouassou, apesar da sua forma canhestra, não passou à história como obra inaugural de uma literatura brasileira indianista, foi sintoma do proveitoso diálogo mantido entre esta e os autores franceses, que levou inclusivamente os escritores brasileiros a darem protagonismo ao índio, e indício de que os portugueses começavam a perder a hegemonia literária na antiga colónia. Além de Garrett, até 1862, quando Mendes Leal publicou o seu Calabar, nenhum outro escritor português tentou orientar a literatura brasileira. E já haviam surgido Gonçalves Dias, leitor de Lamartine e Victor Hugo, elogiado por Herculano; Joaquim Manuel de Macedo, popularíssimo entre os brasileiros; Martins Pena, cujas comédias alcançavam sucesso. Isso para não falar em José de Alencar, admirador de Chateaubriand e Saint--Pierre, que, sob a luz dos candeeiros de rua, levava grupos numerosos à leitura das aventuras do seu super-índio Peri.

Se o sinete da Universidade de Coimbra marcara o pensamento dos primeiros letrados brasileiros, fazendo-os olhar com desprezo o seu próprio povo ou trazer na sua visão ufanista o reflexo do olhar comercial dos colonizadores, o que se via agora, com o relevo dado à obra de Boucher e Gavet pela Revista da Sociedade Filomática, e com as próprias recomendações e esboços de romance de Garrett, era um voltar o rosto em direcção à literatura francesa, valorizando-a e tentando apreendê-la, ainda que isso pudesse representar uma nova tutela.

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