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Palavras-chave: Médico, Zoólogo, Ministro, Conselheiro, Museu Bocage.

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1 Palavras-chave: Médico, Zoólogo, Ministro, Conselheiro, Museu Bocage.

José Vicente Barbosa du Bocage (Funchal, 2 de Maio 1823 – Lisboa, 3 de Novembro 1907).

Filho de João José Barbosa du Bocage e de Josefa Teresa Ferreira Pestana, irmã de José Ferreira Pestana, governador civil, deputado, par do Reino, Ministro, Professor de Matemática na Universidade de Coimbra e Governador da Índia. Primo em segundo grau do popular poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, ambos descendentes do francês Gil Hedois du Bocage, que chegou a Lisboa em 1704 na esquadra francesa que apoiou Portugal na guerra contra a Espanha.

João José Barbosa du Bocage era cadete do Regimento de Setúbal quando casou. Emigrou para o Brasil em 1830, por se opôr ao regime absolutista de D. Miguel. Pouco depois a mulher e os dois filhos seguiram-no até ao Rio de Janeiro, onde um dos filhos veio a falecer. Nesses anos a família juntou-se ao Professor José Ferreira Pestana, que montou um colégio, onde ambos os cunhados leccionavam.

Em 1834, com o triunfo liberal, toda a família regressou ao Funchal, onde João José Barbosa du Bocage exerceu cargos públicos que culminaram no de funcionário superior da alfândega. Em 1839 José Vicente Barbosa du Bocage matriculou-se na Universidade de Coimbra e frequentou os cursos de Matemática e Medicina. Obteve o grau de bacharel em Medicina em 1846, com notas elevadas e alguns prémios. Neste mesmo ano alistou-se no Batalhão Académico que combateu contra o governo de Costa Cabral. Terminada a Guerra Civil da Patuleia, instalou-se em Lisboa como clínico e foi nomeado facultativo no Hospital de S. José.

No entanto, revelou pouco interesse na prática clínica, dedicando-se aos estudos de Zoologia. Em 1849 ganhou o concurso para lente substituto da cadeira de Zoologia na Escola Politécnica e em dois anos passou a efectivo.

Entre 1849 e 1850 exerceu o cargo de venerável na loja maçónica Regeneração Social, em Lisboa.

Em 1851 casou com Teresa Roma, filha de Carlos Morato, conselheiro do tesouro e economista. O único filho do casal foi Carlos Roma du Bocage (1853-1918), engenheiro, oficial do exército, diplomata e par do Reino, que em 1883 exerceu o cargo de seu secretário no cargo de Ministro da Marinha e do Ultramar, e membro da Comissão Cartográfica a que ele presidia.

Também em 1851 foi nomeado director do Museu de Zoologia da Escola Politécnica, a cuja reorganização se dedicou com bases científicas sólidas, preocupando-se mesmo em publicar obras explicativas sobre a sistematização dos exemplares, como por exemplo as suas Instrucções praticas sobre o modo de colligir, preparar e remetter productos zoologicos para o Museu de Lisboa (Lisboa: Impr. Nacional, 1862) ou o Relatório acerca da situação e necessidades da secção zoologica do museu de Lisboa... (Lisboa: Impr. Nacional, 1865). A ele se deve a “organização da zoologia portuguesa em moldes científicos” que levou a um “avanço significativo no domínio taxonómico, ou seja, na classificação dos mamíferos, aves, répteis, batráquios, insectos e espongiários do País e das suas possessões ultramarinas de então”. Barbosa du Bocage desenvolveu “uma actividade fundamental no domínio da zoologia descritiva e sistemática e da geografia zoológica, tendo publicado 177 trabalhos e descrito cerca de 100 espécies novas ao

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2 longo de 40 anos. Foi igualmente este sábio naturalista que fundou o Museu de História Natural da Escola Politécnica de Lisboa (1858), sucedâneo do Antigo Museu do Palácio da Ajuda” (Pereira e Pita 1993, p. 657).

Sob a sua direcção as colecções do museu foram enriquecidas não só pela aquisição de novos exemplares, mas também com doações de colecções privadas, como a do rei D. Luís, a de José Anchieta, originária das colónias africanas da costa ocidental, e a de Francisco Newton, um viajante, explorador e naturalista. Quando se deslocou a Paris, em missão oficial de 1859 e 1860, dialogou com o Museu de História Natural de Paris granjeando colecções a título de compensação dos espécimes levados durante as invasões napoleónicas por G. Saint-Hilaire.

Entre Janeiro e Julho de 1853 ainda foi professor de Zootecnia no Instituto Agrícola de Lisboa, antes de se dedicar inteiramente ao Museu que, por decreto governamental de 10 de Abril de 1905, acabou por ter o seu nome. Em 1857 foi convidado para membro titular da Academia Real das Ciências de Lisboa, onde apresentou, na sua sessão inaugural, uma comunicação intitulada “Memoria sobre a cabra montez da serra do Gerez”, à qual se seguiram várias outras. Em 1875 foi eleito Vice-Presidente desta instituição. Foi também membro de várias academias e sociedades científicas estrangeiras, entre elas a Sociedade de Zoologia de Londres, e publicou extensa obra, que incidiu sobre a descrição da fauna do território continental e das colónias. Os estudos sobre a fauna colonial incentivaram-lhe o interesse pela Geografia, o que o levou a ser um dos fundadores, em 1875, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual foi presidente desde 1877 a 1883. Em 1881 participou no Congresso Geográfico de Veneza, presidindo a uma das suas sessões magnas e à sessão zoológica.

Um dos seus discípulos foi Francisco de Arruda Furtado, naturalista e evolucionista açoriano, um dos grandes investigadores na área da malacologia (caracóis e moluscos), seguidor da doutrina de Darwin.

Em 1866 foi nomeado membro do Conselho Geral de Instrução Pública, herdeiro do Conselho Superior de Instrução Pública, lugar que exerceu até à sua extinção em 1868. Jubilado em 1880, conservou a direcção do Museu, interrompendo-a nos períodos em que desempenhou funções no governo.

Depois da participaçã na guerra civil, a sua carreira política iniciou-se com a filiação no Partido Regenerador. Foi eleito deputado por Montemor-o-Novo em 1879 e pertenceu às comissões de Instrução Pública, da Saúde, dos Negócios Estrangeiros e do Ultramar. Deu grande relevo às questões geográficas e coloniais, defendendo a necessidade de Portugal definir uma política de colonização e tomar conhecimento efectivo das regiões de África. Par do Reino em 1881, por carta régia de 29 de Dezembro, tomou posse na Câmara dos Pares em 25 de Janeiro de 1882. Foi Ministro da Marinha e do Ultramar em 30 de Janeiro de 1883, no governo de Fontes Pereira de Melo. Uma das suas preocupações neste período foi o estabelecimento de um serviço regular de navegação a vapor entre Lisboa e Moçambique, cujo contrato foi assinado no seu mandato. Em 24 de Outubro de 1883 trocou esta pasta pela dos Negócios Estrangeiros, que ocupou até 20 de Fevereiro de 1886. Neste cargo foi responsável pela criação da Comissão de Cartografia, predecessora da Junta de Investigação do Ultramar, além do Tratado Luso-Britânico de 1884 sobre o domínio português no Zaire, o qual, no entanto, não passou de um “êxito aparente” (Lucas 1993, p. 310).

Algumas das mais importantes realizações de José Vicente Barbosa du Bocage como ministro traduziram-se na iniciativa do pedido de uma conferência internacional, que

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3 acabaria por ter lugar em Berlim entre o final de 1884 e início de 1885, e na qual ficou estabelecido o princípio da ocupação efectiva dos territórios. Após a Conferência de Berlim, Barbosa du Bocage formulou planos para colocar em prática a ocupação portuguesa dos territórios africanos, persistindo na ideia de ligar Angola a Moçambique. Assinou convénios com França e Alemanha que garantiram que estas potências não íam opor-se ao expansionismo português nesse sentido. Mas esses convénios foram logo repudiados pela Inglaterra (Homem 1993, p. 144). Barbosa du Bocage foi também o responsável pela negociação dos limites da Guiné e de Cabinda, que culminou com o convénio assinado, já pelo seu sucessor Henrique de Barros Gomes, em 17 de Maio de 1886.

Em resposta à elaboração do Mapa Cor-de-Rosa, que definiu a pretensão portuguesa de ocupação dos territórios entre Angola e Moçambique, a Inglaterra apresentou o Ultimato de 11 de Janeiro de 1890, exigindo a retirada das forças portuguesas desses territórios. Esta situação provocou uma crise profunda de identidade nacional e a queda do governo de José Luciano de Castro. Depois do breve governo de Serpa Pimentel, João Crisóstomo formou novo governo em Outubro de 1890, e convidou Barbosa du Bocage a ocupar de novo a pasta dos Negócios Estrangeiros. Em 31 de Janeiro de 1891 o golpe republicano no Porto provocou o seu comentário: “O país não tem juízo” (Ramos 1993, p. 201).

Em 27 de Maio de 1892 foi nomeado para o Conselho de Estado. Ao longo da sua carreira obteve as seguintes condecorações: grã-cruz da ordem de S. Tiago, do Mérito Naval de Espanha, e de Francisco José, de Áustria; comendador da ordem da Rosa, do Brasil, de Isabel a Católica, de Espanha, e oficial da Legião de Honra, de França. Nos últimos anos da sua vida cegou, o que não o impediu de continuar a publicar artigos científicos. Em 5 de Junho de 1903 realizou-se uma sessão solene em sua homenagem na Sociedade de Geografia, presidida pelo rei D. Carlos, com a entrega da medalha de honra, em reconhecimento de assinalados serviços à ciência e à nação.

Lista de obras:

Instrucções praticas sobre o modo de colligir, preparar e remetter productos zoologicos para o Museu de Lisboa (Lisboa: Impr. Nacional, 1862).

Relatorio sobre a collecção de molluscos fluviaes e terrestres da ilha da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagem: offerecido á Academia Real das Sciencias de Lisboa, pelo seu socio effectivo o sr. Barão de Castello de Paiva / J. V. Barbosa du Bocage (Lisboa: Imprensa Nacional, 1863).

Relatório acerca da situação e necessidades da secção zoologica do museu de Lisboa... (Lisboa: Impr. Nacional, 1865).

Notícia acerca dos caracteres e affinidades naturaes de um novo género de mammiferos insectívoros da África Occidental: bayonia veloz (Potamogale Velos du Chaillu) apresentada em sessão de 1a Classe da Academia de 27 d'Abril de 1865 (Lisboa: Typ. da Academia, 1865).

Lista dos répteis das possessões portuguezas d’Africa occidental que existem no Museu de Lisboa (Lisboa: s.n., 1866).

Ornithologie d'Angola: ouvrage publié sous les auspices du Ministère de la Marine et des Colonies (Lisbonne: Tip. Imp. Nationale, 1877).

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4 Subsidios para a fauna das possessoes portuguesas d’Africa Occidental (Lisboa: s.n., 1879).

“Breves considerações sobre a fauna de S. Thomé”, in: Jornal de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, 2ª série, nº 1 (Lisboa: 1889).

Herpétologie d'Angola et du Congo (Lisbonne: Imprimerie Nationale, 1895).

Repteis de Bolama, Guine Portugueza, coligidos pelo Sr. Costa Martins...Aves d’Africa que existem no museu de Lisboa os exemplares tipicos, Sep. de Jornal de Sciencias Mathematicas Physicas e naturaes, 2ª ser. Nº XV (Lisboa: s.n., 1896).

José d'Anchieta, Sep. Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 18 (Lisboa: Typ. Academia Real das Sciencias, 1897).

Aves do archipelago de Cabo Verde (Lisboa: s.n., 1900).

Publicações scientificas de J. V. Barbosa du Bocage (1857-1901) (Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias, 1901).

Aves e repteis de Cabo Verde (Lisboa: s.l., 1902).

Lista resumida de artigos publicados nas Memórias da Academia das Ciências de Lisboa:

“A Ornithologza dos Açôres”, 1856.

“Lista dos repteis das possessões portuguezas da Africa occidental que existem no museu de Lisboa”, in: Jornal das sciencias mathematicas e physicas, publicado sob os auspícios da Academia, n.º 1, 1856.

“Noticia dos anziolos de Portugal, nas Memorias da Academia das Sciencias”, 1865. “Noticia acerca da descoberta nas costas de Portugal de um zoophito da familia hialo‑chactides”, 1865.

“Diagnose de algumas especies da famila squalidae”, 1865.

“Noticia acerca de um novo genero de mammiferos do Africa occidental”, 1865.

“Apontamentos para a ichthyologia de Portugal; peixes plagiostomos; primeira parte: Esqualos”, com Brito Capelo, Lisboa: 1866.

“Segunda lista dos repteis das possessões portuguezas da África occidental, que existem no museu de Lisboa”, 1867.

“Relatorio de 20 de janeiro de 1868 sobre a visita feita (por comissão do governo) à exposição internacional de Paris em 1867”; foi transcrito no Jornal do Commercio, 31 de Janeiro de 1868.

“Considerações àcerca do melhor aproveitamento das ostreíras da margem esquerda do Tejo e da cultura das nossas ostras”, 1868.

Lista de referências bibliográficas:

Amadeu Carvalho Homem, “O avanço do republicanismo e a crise da monarquia constitucional”, in: José Mattoso (dir.), História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993) vol. V, pp. 131-145.

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5 Ana Leonor Pereira e João Rui Pita, “Ciências”, in: José Mattoso (dir.), História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993) vol. V, pp. 653-667.

Baltasar Osório, “Elogio historico do illustre naturalista e professor J. V. Barboza du Bocage”, in: Memórias do Museu Bocage (Lisboa: Imprensa Libanio da Silva, 1909). Carlos Almaça, “A Zoologia e a Antropologia na Escola Politécnica e na Faculdade de Ciências (até 1983)”, in: Fernando Bragança Gil, Maria da Graça Salvado Canelhas (coords.), Fac. Ciências da Univ. Lisboa. Passado/Presente e Perspectivas Futuras, 150º aniversário da Escola Politécnica, 75º aniv. Fac. Ciências (Lisboa: Museu de Ciência da Universidade, 1987) pp. 293-312.

Carlos França, “Le Professeur Barbosa du Bocage”, in: Bulletin de la Société Portugaise de Sciences Naturelles (Lisboa: 1908).

E. Burnay, “Comemorações Sociaes – O conselheiro Barboza du Bocage”, in: Boletim da Sociedade de Geographia de Lisboa, 21ª Série, nº 7 (1903), pp. 245-253.

Luís Reis Torgal e João Lourenço Roque (coords.), “O Liberalismo (1807-1890)”, in: José Mattoso (dir.), História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993) vol. V. Maria Manuela Lucas, “Organização do Império”, in: José Mattoso (dir.), História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993) vol. V, pp. 285-311.

Rui Ramos, “A Segunda Fundação (1890-1926)”, in: José Mattoso (dir.), História de Portugal (Lisboa: Círculo de Leitores, 1993) vol. VI.

Zélia Pereira, “BOCAGE, José Vicente Barbosa du (1823-1907)”, in: Maria Filomena Mónica (coord.), Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910 (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais – Assembleia da República, 2004), vol. I, pp. 395-397.

Maria Antónia Pires de Almeida

Referências

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