Desafios para o Controle da Água
Potável: do Manancial ao
Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Jacuí - COAJU
III Seminário Estadual sobre os Usos Múltiplos da Água
Erechim, 30 de julho de 2010
Consumidor
Antônio Domingues Benetti IPH - UFRGS
1. Introdução Epidemias de cólera e febre tifóide eram comuns nas principais cidades do mundo Londres, Paris, Berlim,
2
Nova York até início dos anos 1900.
Prof. Antônio D. Benetti 3
Médico inglês John Snow, em 1854, foi o primeiro a comprovar a relação entre água contaminada e doenças infecciosas, durante epidemia de cólera em Londres, com 10.000 mortos.
• 1861: Louis Pasteur mostra que microorganismos não nascem por geração espontânea.
• 1880: Karl Eberth isola Salmonella typhosa, bactéria responsável pela febre tifóide.
• 1883: Robert Koch isola Vibrio cholera, bactéria responsável pelo cólera.
Prof. Antônio D. Benetti 4
As primeiras técnicas de tratamento de água foram: • Filtração lenta: inicialmente tinha o objetivo de clarificar
águas turvas, mas observou-se que é capaz de remover microrganismos patogênicos: Ex: 1892, epidemia de cólera em Hamburgo e Altona, Alemanha
• Desinfecção com cloro: 1908, Chicago e Jersey City
1945 85% d á t d l d EUA
Prof. Antônio D. Benetti 5
1945: 85% da água estava sendo clorada nos EUA
Controle da transmissão de doenças por microrganismos patogênicos continua a ser objetivo principal do tratamento de água para consumo humano
1950 – 1960: Introdução de Compostos Químicos Sintéticos
Prof. Antônio D. Benetti 6 no Ambiente – 70.000 de uso diário
Patogênicos: resposta rápida 24 – 48 horas
Contaminantes químicos: efeitos de médio (1 – 5 anos) e longo prazo (> 10 anos)
Entre 15 avanços científicos, leitores da Revista Britânica de Medicina elegeram “Distribuição de Água Potável e Coleta de Esgotos Sanitários” como aquele de maior impacto na melhoria da Saúde Pública.
Seguiram se: descoberta de antibióticos anestesia
Prof. Antônio D. Benetti 7 Seguiram-se: descoberta de antibióticos, anestesia, introdução de vacinas e descoberta da estrutura do DNA.
Prof. Antônio D. Benetti 8 Banheiro em Dhaka, Bangladesh
Principais Aspectos de Saúde Relacionadas a Água para Consumo Humano
1 – Doenças Infecciosas 2 - Câncer
Prof. Antônio D. Benetti 9 3 – Compostos Perturbadores Endócrinos e
de Fertilidade
4 – Toxicidade de Compostos Orgânicos e Inorgânicos
1 - Doenças Infecciosas
Vírus: 0,01 – 0,1 µm
Bactérias: 0,5 – 1,0 µm
Prof. Antônio D. Benetti 10
Bactérias: 0,5 1,0 µm
Protozoários: 5 – 100 µm
Helmintos: > 100 µm
1 – Doenças Infecciosas Vírus: 0,01 – 0,1 µm Bactérias: 0,5 – 1,0 µm Protozoários: 5 – 100 µm Helmintos: > 100 µmOrganismos patogênicos associados a água
Tipo Organismos
Bactérias
Acinetobacter, Aeromonas, Bacillus, Burkholderia pseudomallei, Campylobacter, Escherichia coli pathogenic stains, Helicobacter pylori, Klebsiella, Legionella, Mycobacterium, Pseudomonas aeruginosa,
Salmonella, Shigella, Staphylococcus aureus, Tsukamurella, Vibrio, Yersinia
Virus Adenoviruses, Astroviruses, Caliciviruses, Enteroviruses, Hepatitis A e E, Rotavirusesand orthoreoviruses
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Protozoários
Acanthamoeba, Balantidium coli, Cryptosporidium, ciclospora cayetanensis, Entamoeba histolytica, Giardia
intestinalis, Isospora belli, Microsporidia, Naegleria fowleri, Toxoplasma gondii
Helmintos
Dracunculus medinensis, Fasciola hepatica, Ascaris lumbricoides, Enterobius vermiculari, Taenia saginata, Taenia solium, Trichuris trichiura
Cianobactérias
Anabaena spp, Anabaenopsis millenii, Aphanizomenon spp, Cilindropermum spp., Lyngbya spp., Microcystis spp., Nodularia spp., Nostoc spp., Oscillatoria spp., Planktothrix spp., Raphidiopsis curvata, Umezakia natans
Doenças Infecciosas
Cryptosporidium parvum
foi responsável por eclosão de epidemia na cidade de Milwaukee, Wisconsin, EUA, 1993400 mil pessoas doentes
Cianobactérias
Comuns em ambientes eutrofizados – N e P
Esgotos domésticos Drenagem urbana Águas residuárias industriais Drenagem agrícola
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Eutrofização
Florações de Algas e Cianobactérias
Metabólitos: 2-MIB e Geosmina
Gosto e Odor na Água Terra e Mofo
Cianobactérias podem produzir: 1 – Toxinas: Neurotoxinas; Hepatoxinas; Dermatoxinas 2- Compostos que causam gosto e odor na água:
Geosmina e 2-Metilisoborneol (2-MIB)
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Microcystis spp. Cylindrospermum spp.
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Lago Guaíba durante episódio de floração de cianobactérias Floração de cianobactérias tóxicas no
lago Tai, China, 2008
Interrupção no abastecimento de água de 4 milhões de pessoas
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2 - Câncer
Organização Mundial da SaúdeAssociação Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC)
Grupo Carcinogenicidade
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1 Carcinogênico em humanos
2A Provável carcinogênico em humanos 2B Possível carcinogênico em humanos 3 Não classificado como carcinogênico 4 Provável não carcinogênico para humanos
Câncer
Exemplos:Grupo 1: Arsênico, Asbestos, Cromo, Benzeno, Dioxina Grupo 2A: Acrilamida, Tetracloroetileno, Bifenilas
Policloradas (PCBs), Hidrocarbonetos
Prof. Antônio D. Benetti 18 Policíclicos Aromáticos (PAHs)
Grupo 2B: Diclorometano, Heptacloro, Toxafeno
Estabelecimento de concentrações máximas permissíveis na água baseado em análise de risco de aquisição de câncer.
3- Compostos Perturbadores Endócrinos e de
Fertilidade
Compostos de origem natural e sintético que interferem com o sistema endócrino de animais e humanos.
Prof. Antônio D. Benetti 19 Causam mudanças sexuais e má formação em peixes e outros organismos aquáticos.
Com relação a humanos, encontra-se em investigação.
3- Compostos Perturbadores Endócrinos e de
Fertilidade
Comissão Européia
Categoria 1 194 substâncias com clara evidência de serem
Prof. Antônio D. Benetti 20 Categoria 1 – 194 substâncias com clara evidência de serem
Perturbadores Endócrinos
Ex: 4-nonilfenol, estradiol, etinilestradiol Categoria 2 – 125 substâncias potenciais
3- Compostos Perturbadores Endócrinos e de Fertilidade
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3- Compostos Perturbadores Endócrinos e de
Fertilidade
Prof. Antônio D. Benetti 22
Monitoramento de nonilfenol em mananciais da RMBH e RMSP
Prof. Antônio D. Benetti 25
4 – Toxicidade de Compostos Orgânicos e Inorgânicos
Inorgânicos: Naturais ou AntropogênicosArsênico
Prof. Antônio D. Benetti 26 Metais Pesados: Cromo, Chumbo, Cádmio,
Mercúrio Nitrato, Nitrito
Fluoreto
4 – Toxicidade de Compostos Orgânicos e Inorgânicos
Orgânicos:
Pesticidas e herbicidas: 2,4-D, Paration
Prof. Antônio D. Benetti 27 Derivados do petróleo: gasolina, diesel
Solventes orgânicos clorados: Tetracloroetileno (TCE) Toxinas de cianobactérias: microcistinas, saxitoxina
Agrotóxicos
28 Efluentes Industriais
Animais Confinados
Contaminação por Fluoreto
Prof. Antônio D. Benetti 29 Arsênico na água
Contaminação por Arsênico
Contaminação com Mercúrio
Prof. Antônio D. Benetti 30 Toxicidade do Arsênico
Contaminação com Derivados de Petróleo - BTEX
Prof. Antônio D. Benetti 31
Qualidade da Água para Consumo Humano Visão Integrada
1 – Proteção da Bacia Hidrográfica
Prof. Antônio D. Benetti 32
ç g
2 - Tratamento da Água
3 - Sistema de Distribuição de Água 4 - Instalações prediais
Proteção da Bacia Hidrográfica Qualidade da água ⇒ reflete
• Características naturais: Geologia, Clima, Vegetação
• Uso do solo:
Prof. Antônio D. Benetti 33
Florestas, Agropecuária, Indústrias, Cidades • Técnicas de controle:
Tratamento das fontes pontuais de poluição Usos de boas práticas nas fontes difusas
Bacia Hidrográfica
34 (von Sperling, 2005)
Bacia Hidrográfica
Prof. Antônio D. Benetti 35 Favela em São Paulo Urbanização no deserto, Nevada, EUA
Ocupação Irregular de Solo Urbano, Reservatório Guarapiranga, SP
Prof. Antônio D. Benetti 36 Poluição Difusa por Fósforo
Controle da Poluição Pontual - ETE
Prof. Antônio D. Benetti 37 Controle da Poluição Difusa Boas Práticas de Manejo
Bacia Hidrográfica
1975 2007 2025 1 Tokyo (Japão) 26,6 35,7 36,4 2 New York – Newwark (USA) 15,9 19,0 20,6 3 Ciudad de México (México) 10,7 19,0 21,0 4 Mumbai (Índia) 7,1 19,0 26,4 5 São Paulo (Brasil) 9,6 18,8 21,4 6 Delhi (Índia) 4,4 15,9 22,5 7 Shangai (China) 7,3 15,0 19,4 8 Calcutta (Índia) 7,9 14,8 20,6 População (milhões) Aglomerações urbanas Ordem
Prof. Antônio D. Benetti 38 8 Calcutta (Índia) 7,9 14,8 20,6 9 Dhaka (Bangladesh) 2,2 13,5 22,0 10 Buenos Aires (Argentina) 8,7 12,8 13,8 11 Los Angeles-Long Beach (USA) 8,9 12,5 13,7 12 Karachi (Paquistão) 4,0 12,1 19,1 13 Cairo (Egito) 6,4 11,9 15,6 14 Rio de Janeiro (Brasil) 7,6 11,7 13,4 15 Osaka-Kobe (Japão) 9,8 11,3 11,4 16 Beijing (China) 6,0 11,1 14,5 17 Manila (Filipinas) 5,0 11,1 14,8 18 Moscow (Rússia) 7,6 10,5 10,5 19 Istanbul (Turquia) 3,6 10,1 12,1 Cidades com mais de 10 milhões de Habitantes
Bacia Hidrográfica
39 Manancial de água protegido
Cidade de New York
Manancial de água não protegido Cidade de Porto Alegre
Prof. Antônio D. Benetti 40
Tratamento de Água
Prof. Antônio D. Benetti 41
Tratamento de Água
Manancial com nível de proteção ideal
Prof. Antônio D. Benetti 42 A realidade
Tratamento de Água
(Di Bernardo D t
Prof. Antônio D. Benetti 43 e Dantas, 2005)
Tratamento de Água(Escassez)
Embarcação trazendo água emergencial para Barcelona
Prof. Antônio D. Benetti 44 Reservatório de suprimento
de água de Barcelona
Tratamento de Água
Reações entre compostos adicionados a água e compostos presentes na água bruta
Prof. Antônio D. Benetti 45
Sais de Alumínio são adicionados para remoção de colóides da água. Controle adequado para manter residuais de Al na água potável baixos
Tratamento de Água
Acidente
Á
Prof. Antônio D. Benetti 46 1988 – Estação de Tratamento de Água da Cidade de Cornwell, Inglaterra Bomba dosadora acionou solução concentrada de Sulfato de Alumínio Concentração de Alumínio milhares de vezes superior ao limite seguro chegou as torneiras dos consumidores.
Irritações aparelho digestivo, alergias, úlceras, garganta
Prof. Antônio D. Benetti 47 Morte de peixes por asfixia, Rio dos Sinos, RS, 2006
Tratamento de Água
Floculantes a base de Acrilamida são algumas vezes usado no tratamento de água.
Acrilamida é uma neurotoxina e causa danos a função reprodutiva.
Prof. Antônio D. Benetti 48
Ratos: tumores de variados tipos
IARC – Grupo 2A Provável carcinogênico em humanos Guia da OMS: < 0,5 µg/L
Cor, Gosto e Odor
H2S, Fe+2, Mn+2
Formados em ambientes anóxicos, típicos de hipolímnio de reservatórios
Prof. Antônio D. Benetti 49 2 2 2 . anaer . bact 2 4 S HO CO SO orgânica Matéria + −⎯⎯⎯⎯⎯→ −+ + − + −+ ↔ HS H S2 S H H HS−+ +↔ 2
Gás com odor de ovo podre
Fe+2e Mn+2são oxidados
a Fe+3e Mn+4: precipitam
da água
Reações entre Desinfetantes e Compostos Presentes na Água de Abastecimento Sub-produtos da Desinfecção
1 – Cloro:
Trihalometanos (THM) - Clorofórmio, Bromofórmio, ... Ácidos Haloacéticos (HAA) – Monocloroacetato, ...
Tratamento de Água
Prof. Antônio D. Benetti 50
2 – Ozônio:
Bromato, formaldeído, acetaldeído, ... 3 – Dióxido de Cloro:
Íons clorito e clorato 4 – Cloroaminação:
Cloreto cianogênico
Sistema de Distribuição de Água Potável
Prof. Antônio D. Benetti 51 Reator no qual ocorrem processos físicos, químicos e biológicos
(Duguet et al., 1995)
Sistema de Distribuição de Água Potável
Corrosão
Formação de biofilmes
Deterioração de revestimentos internos Efeitos de reservação
Permeabilidade das canalizações a difusão de contaminantes externos
Prof. Antônio D. Benetti 52 Matéria Orgânica Dissolvida – formação de biofilmes nas canalizações
Sistema de Distribuição de Água Potável
Prof. Antônio D. Benetti 53 Corrosão de canalização Biofilme formado em canalização de
ferro galvanizado
Sistema de Distribuição de Água Potável
Prof. Antônio D. Benetti 54 Manganês precipitado em rede de distribuição de água potável
Instalações Prediais de Água Potável
Corrosão de metais e ligas
Chumbo, cobre, ferro galvanizado, zinco Microorganismos
Prof. Antônio D. Benetti 55 Legionella pneumophila – Doença do Legionário,
broncopneumonia;
canalizações e reservatórios de água quente Fibras em canalizações de Asbestos
Reservatórios desprotegidos – sujeitos a contaminação
Prof. Antônio D. Benetti 56 Reservatório de Água Contaminado
Conceito de Múltiplas Barreiras 1 – Proteção da Fonte de Abastecimento de Água 2 – Processos de Tratamento de Água
3 – Desinfecção da Água – última barreira contra patogênicos
Segurança na Qualidade da Água Potável
Prof. Antônio D. Benetti 57 4 – Sistema de Distribuição de Água – manutenção adequada para
evitar a degradação da água potável
5 – Monitoramento e Segurança – proteção contra atos intencionais de degradação da qualidade da água
6 – Educação – preservação de mananciais; manutenção das instalações prediais; valor da água potável
O meio mais efetivo de garantir a segurança da água é através da avaliação compreensiva de todos os riscos capazes de causar degradação da qualidade da água potável. Esta avaliação deve englobar todas as etapas do suprimento de água, desde a bacia hidrográfica até o consumidor Uma vez identificados os riscos
Prof. Antônio D. Benetti 58 Plano de Segurança da Água
hidrográfica até o consumidor. Uma vez identificados os riscos, devem ser planejados meios de minimizá-los e caso ocorram, neutralizá-los. Este enfoque é denominado de
Prof. Antônio D. Benetti 59
Water Safety Plan
Muito Obrigado! benetti@iph.ufrgs.br