• Nenhum resultado encontrado

N/Referência: P.º R.P. 97/2018 STJSR-CC Data de homologação: Parecer. Relatório

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "N/Referência: P.º R.P. 97/2018 STJSR-CC Data de homologação: Parecer. Relatório"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7 Parecer Relatório

1. G….. Barreiros, advogada, vem, na qualidade de apresentante e em representação de Rita M…..1, interpor

recurso hierárquico da decisão de recusa do registo de hipoteca legal pedido pela ap. 2…., de 2018/06/05, a qual se consignou em despacho limitado à menção de o facto não estar titulado nos documentos apresentados e à referência aos artigos 43.º, 68.º e 69.º/1/b) do Código do Registo Predial (CRP).

1.1. Em face dos elementos disponíveis, verifica-se que o pedido de registo foi instruído com certidão judicial do

“acordo sobre a regulação do exercício do poder paternal” homologado no âmbito do processo de n.º 217/03.6TMLSB, no qual ficou estipulado que o pai, Martim B…., contribuiria com a quantia mensal de 700 euros, a título de alimentos aos filhos menores, Maria ….. R….. e Martim, nascidos em 6 de janeiro de 1999 e 7 de março de 2000, respetivamente, e que tal quantia seria entregue à mãe Rita G……, mediante transferência bancária2.

1 Só na fase de recurso se ficou a conhecer a identidade da pessoa representada pela advogada que formulou o pedido e subscreve o requerimento de recurso, verificando-se, mais uma vez, o incumprimento do disposto no art. 3.º/2 da Portaria n.º 621/2008, de 18 de julho, na versão introduzida pela Portaria n.º 283/2013, de 30 de agosto, que manda indicar no pedido de registo o nome da pessoa representada por advogado, solicitador ou notário que intervenha na qualidade de apresentante e no uso de poderes presumidos (art. 39.º/2/b) do CRP). 2 Infere-se que o trânsito em julgado da sentença, não se encontrando certificado na respetiva certidão, terá sido apurado em face dos averbamentos efetuados aos assentos de nascimento dos filhos.

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 41/ CC /2018

N/Referência: P.º R.P. 97/2018 STJSR-CC Data de homologação: 17-09-2018

Recorrente: G…… Barreiros, advogada

Recorrido: Conservatória do Registo Predial …….

Assunto: hipoteca legal para garantia de alimentos devidos a filhos menores após o divórcio dos pais – maioridade dos filhos no momento do pedido de registo.

(2)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

1.2. Mais se verifica que, na requisição, depois de se indicar como facto sujeito a registo a hipoteca legal a favor

de Rita G……., se declara pretender hipoteca judicial3 para garantia das prestações devidas aos filhos, no

montante mensal de 350 euros para cada um, até atingirem a idade de 25 anos, contabilizando-se como montante máximo assegurado a quantia de 51 800 euros, correspondente a 67 prestações (no valor total de 23 450 euros) devidas à filha Maria … R…. (que completará 25 anos de idade em 6 de janeiro de 2024) e 81 prestações (no valor global de 28 350 euros) devidas ao filho Martim (que completará 25 anos de idade em 7 de março de 2025).

2. No requerimento de recurso hierárquico, invoca-se anulabilidade do despacho de qualificação, nos termos do

art. 163.º/1 do CPA, por falta de indicação do fundamento concreto da recusa, alegando-se, todavia, que o pedido foi instruído com os elementos necessários e que o mesmo se encontra em consonância com o entendimento vertido no parecer proferido no processo R.P. 163/2008 SJC-CT e no acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido no processo n.º 1231/14.TBCSC.L1-8.

3. A recusa foi sustentada no despacho a que se refere o art. 142.º-A/1 do CRP, notando-se, em primeiro lugar,

que a hipoteca legal, enquadrável no art. 705.º/d) do CC, deveria ter sido requerida a favor dos filhos e não da mãe, como sucedeu, e aduzindo-se, como fundamento para a recusa e respetiva sustentação, a insuficiência do acordo de regulação do poder paternal como prova bastante para o registo da hipoteca legal após a maioridade dos filhos, dado o disposto nos arts. 1877.º, 1880.º e 1905.º/2 do CC.

3.1. Às razões atrás referidas, acrescentou-se pertencer ao credor (filho maior) a legitimidade para “fixar o valor e

identificar o prédio pertencente ao credor” e a necessidade de se promover dois atos de registo, atenta a pluralidade dos credores e das obrigações que lhe correspondem, sem se indicar, no entanto, a cobertura jurídica correspondente ou a consequência a retirar de tais deficiências no plano da qualificação registal.

Questão inicial

1. Como desde há muito vem sendo afirmado, os despachos de qualificação devem ser sucintos, porém exaustivos

ou suficientemente precisos quanto às razões determinantes da recusa ou da provisoriedade, porquanto só uma exposição completa dos motivos de facto e de direito justificativos da decisão pode legitimar o resultado da qualificação e garantir um adequado exercício do direito de impugnação.

1.1. No entanto, a vagueza do despacho de qualificação e a falta de fundamentação da decisão foram

precisamente os primeiros argumentos postos no presente recurso hierárquico, denunciando-se a omissão de

3 A referência à hipoteca judicial, em vez da hipoteca legal, terá sido considerada pelo serviço de registo como lapso de escrita, interpretando-se o facto sujeito a registo nos termos indicados no campo próprio da requisição e, depois, confirmados em sede de recurso hierárquico.

(3)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

quaisquer razões objetivas para a recusa e a impossibilidade de se retirar das disposições legais invocadas a motivação concreta em que a mesma terá assentado4.

1.2. Considerando que, do ponto de vista da fundamentação de facto, o despacho de qualificação não excede os

dizeres contidos no art. 69.º/1/b) do CRP e que as demais normas legais invocadas, só por si, não são de molde a esclarecer acerca do labor analítico subjacente à decisão registal, temos de reconhecer, com a recorrente, que não houve, no caso em apreço, o esforço de especificação dos fundamentos de facto que juridicamente se impõe e que permite ao destinatário da decisão negativa uma perceção correta do sentido e alcance de tal decisão.

1.3. A despeito de não existir uma falta absoluta de fundamentação, dado que se indicou como causa da recusa

a falta de título e se fez menção das disposições legais do Código do Registo Predial que habilitam à recusa do registo com tal fundamento, não deixa de haver um incumprimento do dever jurídico de fundamentação que está expressamente consagrado no art. 205.º/1 da Constituição da República Portuguesa para as decisões judiciais, mas que também irradia para o âmbito do registo, posto verificar-se o mesmo propósito de ponderação e legitimação nas decisões registais e a mesma função de garantia do direito à impugnação.

1.4. Ainda assim, o que no requerimento de recurso hierárquico se expendeu em sentido contrário à recusa

parece-nos constituir análise crítica bastante das deficiências especificadas no despacho de sustentação, pelo meparece-nos daquelas que podem preencher a “falta do título” indicada no despacho inicial, pelo que, a nosso ver, a insuficiência de fundamentação da recusa não foi de molde a comprometer a perceção do essencial da qualificação ou a minar a qualidade da sua impugnação.

1.5. Cremos, por isso, que, nestas circunstâncias, podemos dar como suprido o valor negativo que o despacho de

qualificação suscita (art. 615.º/1/b) do CPC), tomando por base de apreciação do presente recurso hierárquico as deficiências indicadas no despacho de sustentação, que podem preencher o conceito de “falta de título”, e as alegações produzidas pela recorrente que substanciam um entendimento de sentido contrário ao do serviço de registo recorrido5.

Apreciação

4 A recorrente associa à falta de fundamentação da recusa o efeito da anulabilidade previsto no art. 163.º/1 do CPA, contudo, em face do art. 156.º do CRP, aditado pelo Decreto-Lei n.º 125/2013, de 30 de agosto, o direito subsidiário mobilizável deverá ser o que consta do CPC.

5 Excluímos, assim, do âmbito deste recurso, a análise da questão relativa à necessidade de se proceder ao registo de duas hipotecas legais, atenta a pluralidade dos credores, das obrigações e dos seus respetivos prazos e valores, por duas ordens de razão:

- Por um lado, por se tratar de deficiência que excede claramente o critério legal subjacente à recusa (art. 69.º/1/b) do CRP) e que não consubstancia, por isso, especificação dos respetivos fundamentos de facto ou deficiência enquadrável nos termos do despacho inicial. - Por outro lado, porque, ainda que pudéssemos admitir a existência de tal deficiência (cfr., em sentido contrário, as conclusões foram produzidas no processo n.º 1/63R.P.94 -DST e publicadas no BRN 4/96, I caderno), a violação do principio da especialidade que a mesma encerraria não seria de molde a inquinar a validade do registo e a justificar, com isso, uma ampliação da qualificação negativa, fundada no interesse público.

(4)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

1. Posto isto, passamos então à análise das questões substantivas suscitadas no presente recurso hierárquico,

as quais, como vimos, se colocam em torno da figura da hipoteca legal para garantia de alimentos a filhos menores, que, à data do registo, se verifica serem já maiores de idade.

1.1. Se bem interpretamos a perspetiva conducente à recusa do registo da hipoteca legal, o documento

apresentado, versando sobre a pensão de alimentos a filhos menores, fixada no acordo sobre as responsabilidades parentais homologado no âmbito do processo de divórcio dos pais, não pode servir de base ao registo de hipoteca legal sobre prédio do pai obrigado à prestação, porque, à data do pedido de registo, os filhos são já maiores e, em face do art.1877.º do CC, as responsabilidades parentais cessam com a maioridade.

1.2. Da linha de argumentação posta no despacho de sustentação, depreende-se, pois, o entendimento de que a

manutenção da prestação ou pensão de alimentos após a maioridade dos filhos e até aos 25 anos de idade não é automática e que, por isso, estaria em falta a prova documental da subsistência da pensão fixada no acordo homologado no processo de divórcio, resultante, supõe-se, do impulso processual do filho, já maior, tendente à demonstração dos pressupostos indicados no art. 1880.º do CC.

1.2.1. Antes da entrada em vigor da Lei n.º 122/2015, de 1 setembro, assim era defendido, realmente, por alguma

jurisprudência, que atribuía à maioridade do filho o efeito extintivo da prestação que lhe tivesse sido fixada a título de alimentos, exceto quando ocorressem as circunstâncias previstas no art. 1880.º do CC e o filho as invocasse no processo próprio, demonstrando que o direito a alimentos se mantinha.

1.2.2. Não faltavam, no entanto, decisões judiciais de sinal contrário, preconizando a tese de que os alimentos

fixados em benefício dos filhos menores se mantinham após a maioridade, dependendo a sua extinção de uma declaração judicial ou de um acordo que lhe pusesse cobro, por não se encontrarem reunidas as condições previstas no art. 1880.º do CC6.

1.2.3. Esta questão perdeu pertinência com a entrada em vigor da Lei n.º 122/2015, que alterou o art. 1905.º do

CC, passando a constar, no n.º 2 aditado, que: “Para efeitos do disposto no artigo 1880.º, entende-se que se

mantém para depois da maioridade, e até que o filho complete 25 anos de idade, a pensão fixada em seu benefício durante a menoridade, salvo se o respetivo processo de educação ou formação profissional estiver concluído antes daquela data, se tiver sido livremente interrompido ou ainda se, em qualquer caso, o obrigado à prestação de alimentos fizer prova da irrazoabilidade da sua exigência”.

1.2.4. O que do elemento gramatical da nova norma se retira é bastante para concluir que “a pensão de alimentos, fixada durante a menoridade do filho, não cessa quando este atinge a maioridade, mantendo-se até que este atinja 25 anos de idade, salvo nos casos de o processo de educação ou formação profissional do filho já ter terminado

6 Cfr., a este propósito, a súmula jurisprudencial contida no acórdão da Relação de Lisboa (processo n.º 6954/16.8T8LSB.L1-7), disponível em www.dgsi.mj.pt.

(5)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

antes daquela idade, ou ter sido livremente interrompido por ele, ou em qualquer caso, o progenitor obrigado à prestação, fizer prova de não ser razoável a sua exigência”; alterando-se, assim, o ónus da prova, que incumbe agora ao progenitor 7.

1.2.5. Esta alteração legislativa não foi, contudo, suficiente para pôr fim à polémica, agora, em relação à questão

de saber se a situação dos filhos, beneficiários da pensão de alimentos fixada na menoridade, que tenham atingido a maioridade antes da entrada em vigor da nova lei (1 de outubro de 2015) fica ou não recoberta pela nova lei, encontrando-se jurisprudência num e noutro sentido, vale dizer, ora no sentido de considerar que a letra do art. 1905.º/2 do CC é elucidativa quanto à pretensão interpretativa da norma e, portanto, quanto à sua aplicabilidade “aos beneficiários de pensão de alimentos fixada na sua menoridade que, tendo atingido já a maioridade, ou vindo a atingi-la depois, não tenham ainda completado os 25 anos de idade, nem concluído o seu processo de educação ou de formação profissional”8, ora no sentido de entender que o novo preceito legal “não é aplicável aos casos

em que, fixada pensão de alimentos para o então menor, este haja atingido a maioridade antes da entrada em vigor [da nova lei]” 9 .

1.2.6. Pela nossa parte, não vemos razões para nos distanciarmos da posição emitida no parecer do Conselho

Consultivo (registo civil) proferido no processo C.C. 85/2015 STJ-CC10, no sentido de conferir à norma contida no

art. 1905.º/2 do CC o carácter de lei interpretativa e de, em conformidade, se lhe atribuir o efeito de “retroatividade formal” ínsito no art. 13.º/1 do mesmo Código, concluindo-se, assim, pela manutenção da pensão de alimentos fixada ao filho menor, até que o mesmo complete 25 anos de idade, sem prejuízo de o obrigado à prestação poder requerer a sua extinção, fundada nas razões indicadas na 2.ª parte do dito art. 1905.º/2 do CC.

1.3. Seja como for, esta questão não assume aqui relevância, porquanto se verifica, em face das declarações

prestadas pela apresentante e corroboradas pela informação constante da base de dados do registo civil, cuja utilização para os fins do registo predial se acha legitimada pelo art. 73.º/1 do CRP, que os credores da pensão de alimentos em tabela eram ainda menores à data da entrada em vigor da LN, donde, ainda que se quisesse qualificar o art. 1905.º/2 do CC como lei inovadora, teríamos sempre de considerar a sua aplicabilidade imediata ao caso em apreço, por via do disposto no art. 12.º do CC.

2. Não tendo a pensão de alimentos acordada pelos pais cessado automaticamente com a maioridade dos filhos

e não tendo estes completado ainda a idade de 25 anos, não vemos, pois, como negar à decisão judicial transitada

7 Nestes termos, Acórdão da Relação de Lisboa ((processo n.º 6954/16.8T8LSB.L1-7), cit.

8 Entre outros, acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (processo 3265/10.6TBCSC.1.L1-6) e acórdão do Tribunal da Relação de Évora (processo 26/12.1TBPTG-D.E1).

9Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (processo 6692/05.7TBSXLC.L1.-2). 10 Publicado em www.irn.mj.pt.

(6)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

em julgado, que homologue o acordo dos pais quanto aos alimentos devidos aos filhos menores, a qualidade de documento bastante para o registo da hipoteca legal revista no art. 705.º/d) do CC11.

3. Como atrás se referiu, à insuficiência do título apresentado para servir de base ao registo de hipoteca legal em

benefício dos filhos do titular inscrito, com fundamento na cessação da obrigação após a maioridade, juntou-se o facto de o registo ter sido pedido a favor da mãe, quando a qualidade de credor de alimentos revelada nos documentos apresentados pertence aos filhos, e não à mãe, o que também poderia constituir deficiência enquadrável nos termos do art. 69.º/1/b) do CRP.

3.1. Sucede, no entanto, que, apesar de haver uma referência expressa à mãe como sujeito ativo da hipoteca legal

submetida a registo, também há, no impresso requisição, uma declaração inequívoca acerca da identidade dos

beneficiários da pensão de alimentos e, portanto, elementos textuais que habilitam à interpretação do pedido de

registo em termos coincidentes com o título apresentado12.

3.2. A nosso ver, uma leitura integrada do pedido de registo, com a conjugação de todos os elementos

(declarações e documentos), permite, pois, entender como sujeito ativos do direito a inscrever os filhos do titular inscrito (por serem eles os beneficiários da pensão e, como tal, os credores de alimentos, embora, de acordo com os documentos apresentados, deva ser a mãe a receber as quantias devidas a título de alimentos, mediante transferência bancária), dando-se, assim, por afastado um eventual obstáculo à feitura do registo13.

4. Sobre a necessidade de intervenção dos credores (filhos maiores) para fixar a extensão quantitativa da garantia,

parece-nos que a questão foi posta, no despacho de sustentação, à luz dos argumentos apresentados no requerimento de recurso hierárquico, no qual se reivindica um poder de representação legal dos credores que, na realidade, já não existe, uma vez que os beneficiários da pensão de alimentos são já maiores de idade (cfr. as disposições conjugadas dos arts. 130.º, 1877.º e 1881.º do CC).

4.1. Não obstante também nos parecer que a legitimidade para determinar e quantificar o montante máximo que

o crédito pode atingir pertence ao credor e que, sendo este maior de idade, caberá ao dito credor agir com a

11Tal não significa, naturalmente, que o direito real (hipoteca legal) assim constituído deva subsistir até que os filhos completem 25 anos de idade, uma vez que o pai pode fazer vingar em sede própria uma das razões indicadas no art. 1905.º/2/2.ª parte do CC, e obter, com isso, a extinção da obrigação (art. 730.º/a) do CC) e, por consequência, o cancelamento do registo.

12 Sobre o critério de interpretação do pedido de registo, cfr., entre outros, parecer proferido no processo R.P. 80/2012 SJC-CT.

13 Os termos do despacho de sustentação não são, eles próprios, muito elucidativos acerca das consequências extraídas de cada uma das deficiências encontradas, pelo que ficamos sem entender exatamente se o facto de o registo ter sido pedido a favor da mãe, e não dos filhos, pesou ou não na recusa do registo.

Considerando, no entanto, que as razões em que se alicerça a falta de título se centram, essencialmente, na insuficiência do acordo de regulação das responsabilidades parentais, podemos, talvez, concluir que o pedido de registo foi interpretado corretivamente, no sentido de figurarem como sujeitos ativos da hipoteca legal os credores de alimentos, que são os filhos.

(7)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

capacidade plena que a maioridade lhe confere14, cremos que tal questão só se coloca quando os documentos

não indiquem o montante ou quantitativo máximo do capital assegurado, nem permitam o seu apuramento, designadamente através de simples operação aritmética15.

4.2. Desta forma, a declaração dos credores quanto ao capital máximo assegurado não se mostra aqui

imprescindível, pois, estando em causa uma prestação pecuniária mensal, sem previsão de atualização e que, salvo o impulso processual do obrigado, há de ser devida até que os filhos completem 25 anos de idade, parece que bastaria ao conservador a realização da mesma operação aritmética contida na requisição de registo para se dar por assegurados os requisitos especiais da inscrição previstos no art. 96.º/1/a) do CRP).

5. Quanto à exigência de intervenção dos credores (filhos maiores) para identificação do prédio a onerar com a

hipoteca legal, começamos por notar que, após as alterações introduzidas ao art. 50.º do CRP, pelo Decreto-Lei nº 116/2008, de 4 de julho, tornou-se claro que a declaração expressa de identificação dos bens só se mostra necessária quando se trate de prédios não descritos, o que não é aqui o caso.

5.1. Sabendo-se que o princípio da especialidade ou especificação da hipoteca impõe o seu registo sobre bens

especialmente determinados e que a hipoteca legal prevista no art. 705.º/d) do CC é, em regra, uma hipoteca de

título geral, ou seja, uma hipoteca que pode incidir sobre todo e qualquer bem do devedor e, portanto, uma hipoteca

cujo objeto é, normalmente, especificado no momento do registo 16, é, para nós, evidente que esse dever de

especificação ou de individualização da coisa onerada há de valer independentemente da situação do prédio no registo e, portanto, quer se trate de prédio descrito ou não descrito.

5.2. Contudo, bem se compreende, à luz do art. 50.º do CRP, que tal especificação só tenha de ser feita mediante declaração expressa quando de trate de um prédio não descrito, posto que, nos restantes casos, a indicação do

número da descrição, no campo próprio da requisição, é já suficientemente reveladora do concreto objeto sobre o qual se pretende fazer incidir a hipoteca.

5.3. De todo o modo, independentemente da modalidade da declaração (expressa, quando se trate de prédio não

descrito, e tácita, quando o prédio já se encontrar descrito), é no momento do pedido de registo que ocorre a especificação do objeto da hipoteca legal e é, naturalmente, ao credor, enquanto titular do poder legal de constituição da garantia, que pertence a legitimidade para indicar os bens sobre os quais a mesma há de incidir.

5.4. Como, neste caso, o pedido de registo foi formulado por advogada, nos termos do art. 39.º/2/b) do CRP, sem

indicação do nome da pessoa representada, importaria suscitar a dúvida sobre a identidade da pessoa ou pessoas representadas pela Sra. advogada e indicar a consequência negativa que adviria, em termos de qualificação, do

14 Sobre a cessação da representação legal, apesar da incapacidade económica do filho para prover ao seu sustento, saúde e instrução e do disposto no art. 1880.º do CC, Pires de Lima e Antunes Varela, Código Civil Anotado, vol. V, Coimbra Editora, Coimbra, 1995, pp. 337/339.

15 Sobre este ponto já nos pronunciámos na deliberação proferida no processo R.P. 163/2008 SJC-CT.

(8)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

facto de não serem os filhos maiores (credores), mas um terceiro (ainda que interessado) a requerer o registo, em vez de se assumir desde logo que a apresentante intervinha em representação da mãe dos credores de alimentos.

5.5. Por outro lado, quanto à consequência da falta de intervenção dos credores, o que o despacho de sustentação

permite inferir é que, para o serviço de registo, tal circunstância não deixa de constituir falta de título para o registo (art. 69.º/1/b) do CRP), posto ser imprescindível a especificação dos bens a onerar, nos termos atrás referidos.

5.6. Sem pôr em causa a necessidade de serem os filhos maiores, e não a mãe, a requerer o registo17, cremos

que não é a recusa, senão a provisoriedade por dúvidas (a remover através da intervenção dos ditos credores ou da prova da sua intervenção no pedido inicial18) a qualificação registal que deve prevalecer, porquanto o título

principal para registo (que é, neste caso, a decisão judicial de homologação do acordo sobre a pensão de alimentos) foi efetivamente apresentado.

5.7. Vale isto por dizer que, para nós, a especificação dos bens e a determinação do crédito, quando necessária,

constituem formalidades essenciais à feitura do registo como definitivo, mas, do ponto de vista substancial, não são a causa que justifica a aquisição do direito de hipoteca, pelo que, em sentido formal, a falta da declaração que as incorpora não pode ser considerada como falta de título para o registo19.

6. Entendemos, por isso, que das deficiências detalhadas no despacho de sustentação, sobra como causa de

qualificação negativa do registo a falta de prova da intervenção dos credores no pedido de registo, porém, tal circunstância não é motivo de recusa, nos termos do art. 69.º/1/b) do CRP, senão de provisoriedade por dúvidas (arts. 704.º, 705.º/d) e 708.º do CC, e arts. 68.º e 70.º do CRP).

___________________

Tudo considerado, propomos a procedência parcial do recurso e formulamos as seguintes

CONCLUSÕES

17 Na esteira do entendimento firmado no processo R.P. 203/2000 DSJ-CT (publicado no BRN 12/2000, II Caderno), não excluímos a hipótese de os ditos filhos (credores) serem representados no pedido de registo por procurador munido de procuração com poderes especiais para o ato (art. 39.º/1 do CRP) ou por advogado, notário ou solicitador (art. 39.º/2/b) do CRP).

18 Temos dificuldade em conceber uma declaração no sentido de que a apresentante interveio em representação dos credores (filhos

maiores), dado que, no requerimento de recurso hierárquico, se assumiu que a pessoa representada no pedido de registo foi a mãe. No entanto, como essa informação não constava do processo de registo, tudo se deve passar, no plano de apreciação do recurso hierárquico, como se dela não tivéssemos tido conhecimento, posto não podermos mobilizar, neste âmbito, senão os elementos de que o conservador dispunha no momento da qualificação.

19 Cfr., a este propósito, os pareceres proferidos no processo R.P. 117/98 DSJ-CT (publicado no BRN 1/99, II Caderno), e no processo R.P. 203/2000 DSJ-CT cit., que versam sobre hipóteses de hipoteca judicial, mas cujas considerações se mostram igualmente pertinentes para o registo da hipoteca legal.

(9)

Av. D. João II, Lote 1.08.01 Edifício H • Parque das Nações • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 4 • D at a: 24 -01 -2 01 7

I – Em face das alterações introduzidas pela Lei n.º 122/2015, de 1 de setembro, designadamente do disposto no artigo 1905.º/2 do Código Civil, deve entender-se que a decisão judicial, transitada em julgado, que homologue o acordo dos pais quanto aos alimentos devidos aos filhos menores constitui título para o registo de hipoteca legal destinada a assegurar a satisfação da obrigação alimentícia para além da menoridade e até que os filhos completem 25 anos de idade.

II – A determinação do capital garantido pela hipoteca legal, mediante declaração do credor a prestar no momento do pedido de registo, só se mostra imprescindível quando do título não resulte já tal quantificação ou os elementos necessários ao seu apuramento pelo serviço de registo.

III- Quando esteja em causa hipoteca que possa ser registada em relação a quaisquer bens do devedor (artigos 708.º e 710.º do Código Civil), cabe ao credor proceder à especificação dos bens que pretende sujeitar à garantia, mediante a declaração de identificação prevista no artigo 50.º do CRP, quando se trate de prédios não descritos, ou por mera referência ao número da descrição, no campo próprio da requisição, nos restantes casos.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 17 de setembro de 2018.

Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Blandina Maria da Silva Soares, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins.

Referências

Documentos relacionados

No caso em apreciação, a data do fracionamento propõe que o empreendimento turístico foi criado no domínio do Decreto-Lei n.º 328/86, de 30 de setembro 8 , onde a aprovação

ao IRN, I.P., onde se dá conta que determinadas conservatórias de registo de veículos recusam pedidos de registo de locação financeira com o fundamento de que a data

1) Entre os imediatos efeitos da venda executiva (ação executiva singular) que se realize contra o disposto no artigo 88.º/1, do CIRE, não se inclui o da extinção, no que toca ao

Faça as instituições de educação superior incongruências presentes entre o que é treinado e que espetáculos para cima como inovações para o foco das habilidades e competições,

Pelo menos dois indícios parecem corroborar com a informação de que o jornal tenha desaparecido mesmo em 1847: 1) Abílio César Borges deve ter deixado o jornal logo depois de

Os resultados deste trabalho mostram que a aplicação de Cobalto e Molibdênio via foliar, influencia positivamente, gerando acréscimos de 20% no número de vagens

10ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro preparava-se para proferir a sua sentença, a Papelaria Grafitte Ltda. apresentou um atestado médico do preposto da empresa que informava estar o

Essa nova visão de pesquisa e desenvolvimento entende que o consumidor é levado à tomada de decisão de acordo com o meio em que se encontra, bem como os seus hábitos e/