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JUSTIÇA RESTAURATIVA E INCLUSÃO SOCIAL RESTORATIVE JUSTICE AND SOCIAL INCLUSION

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JUSTIÇA RESTAURATIVA E INCLUSÃO SOCIAL RESTORATIVE JUSTICE AND SOCIAL INCLUSION

Caroline Buosi Velasco1 Elizabet Leal da Silva2 Luciana Chemim3

RESUMO: O presente trabalho pretende analisar os princípios norteadores da Justiça Restaurativa como forma de inclusão social, ao passo que objetiva (re)construir relações através do diálogo entre todos os envolvidos no conflito, de modo que não retira o réu (ou infrator) da convivência social, e ao contrário, o insere. Assim, objetiva-se refletir acerca das práticas de Justiça Restaurativa como uma mudança no paradigma retributivo, notadamente no que diz respeito às vantagens que este modelo de atuação pode oferecer aos envolvidos em conflitos. O método utilizado é o dedutivo.

PALAVRAS-CHAVE:Justiça Restaurativa. Inclusão Social. Superação do conflito.

ABSTRACT: This paper discusses the guiding principles of restorative justice as a means of social inclusion, while objective (re) build relationships through dialogue between all those involved in the conflict, so that does not deprive the defendant (or offender) social convinced instead the inserts. Thus, the objective is to reflect on the practices of restorative justice as a change in the retributive paradigm, notably as regards the advantages that this performance model can provide involved in conflicts.The method used is deductive.

KEYWORDS: Restorative Justice. Social Inclusion. Overcoming the conflict.

1 INTRODUÇÃO

Com a globalização e a ampliação de direitos, garantias e medidas assecuratórias, conferidos pela Constituição Federal de 1988, despertando na população uma maior

1 Psicóloga e Bacharel em Direito. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná e Doutoranda em

Análise do Comportamento pela PUC – SP. Professora do Curso de Direito da UNIVEL – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Coordenadora Geral do Curso de Direito da UNIVEL. Professora participante do Grupo de Pesquisa “Justiça Restaurativa: um novo olhar para a justiça” e formação em facilitadora de Práticas de Justiça Restaurativa. E-mail: carolinebuosi@univel.br.

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Mestre em Ciências Jurídicas pela UniCesumar – Maringá – Paraná. Doutoranda em Direito pela PUC– RS. Professora do Curso de Direito da UNIVEL – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. E-mail: elizabet@univel.br.

3 Advogada. Especialista. Mestranda no Programa de Mestrado em Processo Civil e Cidadania da UNIPAR –

Universidade Paranaense – Sede Umuarama.Professora do Curso de Direito da UNIVEL. - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Coordenadora Adjunta do Curso de Direito da UNIVEL. Coordenadora do Núcleo de Prática Jurídica da UNIVEL – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Coordenadora e participante do Grupo de Pesquisa “Justiça Restaurativa: um novo olhar para a justiça” e colaboradora e participante do grupo de extensão “Combate à corrupção: uma questão de cidadania”.E-mail: lucianac@univel.br

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conscientização de seus direitos, esta passou a buscar com maior intensidade a proteção de seus interesses perante juízes e tribunais.

Ocorre que nem todos estes direitos encontraram seu regulamento na lei ordinária e, ainda quando abarcados pela norma e submetidos à apreciação do Judiciário, não há garantias de que os conflitos preexistentes tenham se liquidado, de modo a se (re) estabelecer o status quo.

Assim, o presente artigo tem por escopo refletir acerca da importância de práticas de Justiça Restaurativa, como meio efetivador/garantidor da participação do cidadão, indistintamente, na sociedade, de modo a servir como instrumento de paz social, tratando os indivíduos como iguais, na medida em que todos podem se manifestar livremente, sem o medo da força opressora do Estado. Busca-se, assim, um novo pensar acerca dos modelos tradicionais de justiça, visando não somente a solução pacífica dos conflitos, vez que nem sempre se pode optar por um ou outro lado, mas a preservação do relacionamento que foi quebrado pela criação do conflito, por meio de diálogos que possibilitem aos envolvidos encontrar seu elo como seres humanos, tendo como orientação sempre as práticas que visem buscar a inclusão social. (PRANIS, 2010, p. 57)

2 DESENVOLVIMENTO

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, buscar-se-á explanar brevemente acerca da concepção histórica da Justiça Restaurativa, seu conceito e os elementos fundamentais para sua caracterização, bem como aspectos que relacionem a Justiça Restaurativa como meio de promoção da inclusão social a todas as partes envolvidas no conflito a ser restaurado.

2.1 Justiça Restaurativa – uma tratativa histórica

O arcabouço histórico da Justiça Restaurativa está atrelado a mais longínqua prática de resolver os conflitos nas comunidades primitivas. Os relatos de tais práticas se encontram nos mais antigos códigos, antes mesmo da primeira era cristã. O resgate histórico que se faz das práticas restaurativas, demonstra que no sentido de restabelecer e garantir o equilíbrio nas sociedades antepassadas, estas eram eficazes, porque havia o respeito a figura do líder que orientava os membros da comunidade.

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Nas comunidades chamadas primitivas, quando surgia uma situação em que o convívio pacífico do grupo era ameado por um ato contrário a cultura do grupo, a forma de reparação se aplicava com a finalidade de restabelecer o equilíbrio afetado.

Nestas sociedades, onde os interesses coletivos superavam os interesses individuais, a transgressão de uma norma causava reações orientadas para o restabelecimento do equilíbrio rompido e para a busca de uma solução rápida para o problema. As formas punitivas (vingança ou morte) não foram excluídas, mas as sociedades comunais tinham, a tendência de aplicar alguns mecanismos capazes de contre toda a desestabilização do grupo social. (JACCOUD, 2005, p. 165)

O debate acerca do reconhecimento e desenvolvimento das práticas restaurativas iniciou-se em meados da década de setenta, no Canadá e Nova Zelândia, fundando-se nos estudos de antigas tradições desses países que apregoavam o diálogo pacificador como mecanismo de resolução de conflitos, notadamente entre os adolescentes.

A utilização do termo Justiça Restaurativa é atribuída a Albert Eglast, que, em 1977, escreveu um artigo denominado Beryond Restition: Creative Restitution, onde suscitou a existência de três respostas ao crime, quais sejam, a retributiva (essencialmente punitiva), a distributiva (visando a reeducação) e a restaurativa (buscando a reparação). (PINTO, 2006, p.3)

Constata-se que as práticas de justiça comunitária eram comuns entre as sociedades nativas, onde as formas de negociação eram baseadas nos costumes, nas resoluções dos conflitos dentro dos próprios grupos, o que poderia incluir a vingança e a morte:

A justiça comunitária tinha defeitos graves. Os métodos para determinar a culpa eram arbitrários e imprecisos, e faltavam as devidas salvaguardas. Essa forma de justiça funcionava muito bem entre iguais. Mas se o ofensor fosse um subordinado, a justiça seria sumária e brutal. (ZEHR, 2008, p.102)

Entretanto, ainda que a justiça comunitária tivesse suas precariedades, havia uma preocupação constante com a manutenção dos relacionamentos e a reconciliação, oferecendo mais opções de resultados do que oferece o protótipo retributivo.

A partir do século XIX observa-se uma transição das práticas restaurativas ou da justiça comunitária para um sistema público de justiça retributiva, que acabou se tornando, com o tempo, a única regra aceitável, de onde adveio, por consequência, a instituição de um modelo de justiça penal, separado do modelo de justiça civil. (KÉPES, 2008, p. 61)

Os programas de Justiça Restaurativa se disseminaram rapidamente e, em meados de noventa, já envolviam países como Austrália, Estados Unidos, África do Sul, Argentina, entre outros sendo que, no Brasil, os primeiros estudos acerca do tema se deram em 1999,

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a cargo do professor Pedro Scuro Neto, no Estado do Rio Grande do Sul. (LARA, 2013, pp. 305/308)

Outros tantos foram sendo iniciados, mas em 2003 com a realização do primeiro Seminário sobre Justiça Restaurativa realizado em Brasília, iniciou-se mais fortemente outros projetos pelo pais, sendo criados então os chamados projetos pilotos da Justiça Restaurativa no Brasil, os que foram implantados em São Caetano do Sul - SP, Bandeirantes - DF e Porto Alegre - RS. (PRUDENTE, 2013, P. 190)

2.2 Entendimento do Conceito de Justiça Restaurativa

Num primeiro momento importa entender o significado da Justiça Restaurativa, bem como sua finalidade. Renato Sócrates Gomes Pinto, assim sintetizou o conceito de práticas de Justiça Restaurativa e de seu objetivo central:

Trata-se de um processo estritamente voluntário, relativamente informal, a ter lugar preferencialmente em espaços comunitários, sem o peso e o ritual solene da arquitetura do cenário judiciário, intervindo um ou mais mediadores ou facilitadores, e podendo ser utilizadas técnicas de mediação, conciliação e transação para se alcançar o resultado restaurativo, ou seja, um acordo objetivando suprir as necessidades individuais e coletivas das partes e se lograr a reintegração social da vítima e do infrator. (PINTO, 2006, p. 20).

A ideia central de Justiça Restaurativa é demonstrar que não há somente uma parte lesada pelo surgimento de um conflito, mas a própria coletividade, vez que as consequências advindas atingem um número indeterminado de pessoas, de modo que a Justiça Restaurativa busca, em síntese, curar e corrigir injustiças, reavivando as relações comunitárias.

As práticas de Justiça Restaurativa vão além da atribuição de “culpados” ou “inocentes” na existência de um conflito, buscando o restabelecimento da convivência, a partir da (re) integração dos envolvidos na sociedade.

Neste sentido, Carolyn Hoyle (2010, p. 2) aduz que “para uma intervenção ser considerada restaurativa, as partes devem se juntar para dialogar”.

Assim, verifica-se que, para a Justiça Restaurativa, não basta que ocorra justiça, é preciso ir além, é necessário vivenciá-la.

(...) o primeiro passo na justiça restaurativa é atender às necessidades imediatas, especialmente as da vítima. Depois disso a justiça restaurativa deveria buscar identificar necessidades e obrigações mais amplas. Para tanto, o processo deverá,

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na medida do possível, colocar o poder e a responsabilidade nas mãos dos diretamente envolvidos: a vítima e o ofensor. (ZEHR, 2008, p. 192)

Embora sua aplicação, hodiernamente, se dê na esfera penal, sobretudo nos crimes de menor potencial ofensivo e quando do cometimento de ato infracional, verifica-se a possibilidade de sua aplicação também em ramos do direito civil, como nos casos em que houver ofensa à moral, ensejando reparação ao dano, quanto em situações que envolvem o direito de família, visando à restauração dos vínculos, sobretudo quando houver interesse de incapaz.

Desta forma, pode-se dizer que, vivenciar a justiça é ser efetivamente um ator de sua existência, é fazer com que todos os envolvidos no conflito e pelo conflito, independente do ramo do direito, participem ativamente na busca da solução.

Para tanto é imprescindível conhecer os elementos constitutivos do conceito de Justiça Restaurativa a fim de que se visualize esta prática como um verdadeiro instrumento de inclusão social.

2.2.1 Elementos fundamentais do conceito de Justiça Restaurativa

A Justiça Restaurativa tem se apresentado como um instrumento de transformação da sociedade, ao fornecer elementos fundamentais a partir de seu conceito que permitem o estabelecimento de um novo pensamento sobre o comportamento humano nas relações sociais.

Ao viabilizar a participação ativa de todos os envolvidos em uma situação de conflito, com o objetivo de solucioná-lo e restabelecer os laços que tenham sido quebrados, a Justiça Restaurativa torna-se inovadora, “uma forma de perspectivar como é que todos nós, enquanto vítimas, infractores, autoridades policiais e judiciárias e a comunidade em geral devemos responder” ao conflito. (LÁZARO E MARQUES, 2006, p. 66)

Diante da contexto em que se se vem aplicando a Justiça Restaurativa, é possível elencar três elementos fundamentais a partir do seu conceito já elencado acima. Um primeiro elemento que pode ser considerado é o social, que compreende o surgimento do conflito a partir da violação de uma norma, independentemente de ser necessariamente identificado um crime propriamente dito.

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Como segundo elemento que se identifica é a participação, donde só se pode falar em Justiça Restaurativa quando esta for de todos os envolvidos no conflito, uma vez que

os principais méritos da Justiça Restaurativa são, ao promover a participação activa de vítimas, infractores e comunidade, permitir às primeiras expressar os sentimentos experenciados, as consequência decorrentes do crime e as necessidades a suprir para a ultrapassagem dos efeitos deste, proporcionar aos segundos a possibilidade de compreenderem em concreto o impacto que a sua acção teve na vítima, de assumirem a responsabilidade pelo acto perpetrado e de repararem de alguma forma, total ou ao menos parcialmente, o mal causado, e possibilitar às terceiras a recuperação da “paz social”.(LÁZARO E MARQUES, 2006, p. 66)

Como terceiro elemento fundamental da Justiça Restaurativa, destaca-se a reparação. As práticas restaurativas apresentam como finalidade precípua a busca do retorno o mais próximo do possível do estado originário, permitindo que todos os envolvidos possam continuar convivendo numa mesma comunidade. A reparação é vista como “a chance de repara o malfeito por meio de desculpa, mudança de comportamento, restituição e generosidade, como forma de as partes assumirem responsabilidades, reparar e oferecerem alternativas para que isso seja realizado.”(SCURO NETO, 2004).

Partindo-se da análise dos três elementos fundamentais, sendo eles o social, a participação e a reparação, é possível a transformação do conflito, e a partir de uma mudança geral é possível vislumbrar um caminho para a verdadeira inclusão social.

2.3 Justiça Restaurativa como meio para a inclusão social

Atualmente a Justiça Restaurativa tem sido fonte de inúmeros e controvertidos debates, como meio de promover direitos, necessidades e interesses das vítimas, ofensores, comunidades e demais envolvidos em conflitos, criminais ou não, fomentando a discussão acerca do implemento de políticas públicas que contenham práticas restaurativas como forma alternativa de resolução de conflitos, buscando uma cultura de paz, onde efetivamente todos os cidadãos sejam iguais, em direitos e obrigações, evitando-se, por conseguinte, o fenômeno da exclusão social.

Veja-se que o fenômeno da exclusão social não é mais atrelado ao conceito puramente econômico, adotado nas primeiras décadas do século XX, assumindo uma conotação marxista, que culminou por associá-la à omissão Estatal. Assim, os conceitos acerca da exclusão social apoiavam-se em duas premissas: uma advinda das relações de produção e outra de natureza sociocultural e de cidadania. (PAULA, 2002, pp. 88/89)

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A exclusão social consiste no afastamento, na segregação, na eliminação de determinado indivíduo ou determinado grupo da sociedade ou de benefícios conferidos pela ordem política de um povo, seja no contexto cultural, social, político ou humano das relações e pode decorrer de fatores diversos.

Essa exclusão se dá graças à ruptura de três principais vínculos: vínculo econômico (o paradigma racionalista que incentiva progresso técnico e crescimento sem limite é a causa fundamental da exclusão social), vínculos sociais (as ligações familiares e as redes de aproximação entre as pessoas com a própria dinâmica competitiva da sociedade vão se rompendo, deixando as pessoas sós, sem proteção) e vínculos simbólicos (rupturas do imaginário, do valor imaginário do trabalho, da assistência social, etc). (PAULA apud ZARTH, 2002, p. 90)

Em sentido contrário, a inclusão social pode ser conceituada como sendo um processo destinado a pôr fim à exclusão de indivíduos dos benefícios conferidos pelo sistema político-econômico, de modo que advirá do implemento de políticas públicas voltadas à este fim.

Neste contexto, pode-se dizer que as práticas disseminadas de justiça restaurativa na sociedade brasileira, têm o não pequeno mérito de preservar a permanência do indivíduo na sociedade, ultrapassando a resolução do conflito puramente com a aplicação de técnicas formais de jurisdição, mas ressaltando-se a importância em se restabelecer os vínculos que foram quebrados entre todas as partes envolvidas no conflito, consistindo em verdadeira atividade de transformação social.

Faz-se importante destacar que a Justiça Restaurativa não conseguirá por si só todos os efeitos que a sociedade clama.Serão em vão todos os esforços para sua efetivação sem o devido sistema de apoio, qual seja: políticas publicas voltadas para toda a população, que dêem amparo às necessidades que entrem em questão, indo além de uma mera divergência interpessoal, podem envolver aspectos que demandarão não apenas a compreensão por parte da vítima ou do ofensor, mas com reflexos positivos na comunidade do entorno em que se dá o conflito. (SANTOS e CAGLIARI, 2011, p. 209)

Um dos grandes problemas quando trata-se de inclusão social está relacionado a condição dos presos, que quase nunca conseguem ser reinseridos no convívio do seio da sociedade. Em especial nesta esfera pretendia-se que ocorresse a ressocialização que “não pode ser resumida apenas na reinserção do indivíduo no convívio social, mas na busca consciente de promover ao cidadão uma consciência reflexiva para que esse possa se reconhecer como sujeito de direitos e deveres”. (PIEDADE e SOVERAL, 2016)

Para que todos que se encontram em condição de vulnerabilidade social possam ser efetivamente incluídos, há a necessidade de que políticas públicas efetivas sejam implantadas e que vislumbrem oferecer igualdade de oportunidades e condições para as

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envolvidos de modo que possam construir uma vida pautados no princípio da dignidade da pessoa humana. (PIEDADE e SOVERAL, 2016)

Na visão de Santos e Cagliari (2011) , através da Justiça Restaurativa é possível reparar os danos sociais e emocionais do ofendido ao invés de simplesmente aplicar uma punição ao transgressor, fazendo com que o impacto daquele delito seja diminuído na vida de todos os envolvidos e tornando o ofensor um participante ativo na situação de expressar seus sentimentos e emoções vivenciados com aquele conflito.

Assim, há a inclusão social do sujeito na medida em que ele contribuiu para a construção de um acordo restaurativo, na qual ele teve a oportunidade de se conscientizar acerca dos danos produzidos para a vítima, bem como relatar acerca de sua própria versão e até mesmo demonstrar arrependimento quando perceber necessário.

Dessa forma, é possível tornar a Justiça Restaurativa um instrumento de consolidação da justiça participativa visando a concretização dos direitos humanos, inclusão e paz social, “assim verifica-se a necessidade de interlocução com todos os segmentos da sociedade civil e com os Estados, Municípios e Governo Federal, a fim de que uma nova forma de tratar conflitos seja consolidada por meio de mecanismo de políticas públicas que promovam a inclusão social”. (GIMENEZ, 2012, p. 6073)

3 CONCLUSÃO

É certo que o modelo atual de justiça preconizado pela comunidade jurídica brasileira necessita de reformas que visem salvaguardar não apenas direitos, mas as próprias relações sociais afetadas pela ocorrência de um conflito, não necessariamente de natureza criminal.

Também parece correto afirmar que o sistema atual de justiça atravessa um período de insegurança e incerteza preocupante, marcado pela letargia dos procedimentos, bem como pelo apego, por vezes, excessivo, à forma, provocando a inércia do cidadão em buscar seus direitos e dificultando o acesso do mesmo à via judicial.

É imprescindível que haja uma mudança no paradigma velho, mas ainda atual, da justiça retributiva, envolvendo mudanças nas formas de construir e compreender a realidade social, buscando a (re) inclusão daquele que deu origem ao conflito, restaurando as relações quebradas a partir de um fato e, consequentemente, humanizando o direito.

Aos olhos da maioria pode suscitar como utópico, especialmente se for apresentada como meio único de solução dos conflitos, o que não é a proposta do presente

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trabalho. O que se sugere é a complementação do modelo atual de jurisdição, preservando as relações entre todos os indivíduos afetados pelo conflito, fazendo com que aquele que deu causa ao conflito (re) analise seu comportamento e se conscientize do impacto de suas ações sobre toda a coletividade.

Neste contexto, quer parecer que, as práticas de Justiça Restaurativa, tanto na esfera penal, quanto na seara cível, podem e devem contribuir para um (re) pensar, criticamente, novas formas de efetivação da justiça, atendendo às inquestionáveis transformações sociais e econômicas das sociedades contemporâneas.

Assim, será possível um Direito e uma justiça que possibilite a ressocialização, resolvendo tais questões além da punição do sujeito e buscando restabelecer um convívio social harmônico e propulsor do diálogo como meio eficaz de resolução de conflitos.

REFERÊNCIAS

GIMENEZ, Charlise Paula Colet. A justiça restaurativa como instrumento de paz social e tratamento de conflito. RIDB. Ano I, nº 10, p 6056-6094. 2012

JACCOUD, M. Princípios, tendenências e procedimentos que cercam a justiça restaurativa. . Slakmon, CR de Vitto e R. Gomes Pinto, org. Justiça Restaurativa, Brasília: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD,

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KÉPES, Antonio Metzger. A Justiça Restaurativa como Instrumento de Efetivação Constitucional dos Direitos Fundamentais dos Adolescentes. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Universidade Luterana do Brasil, Canoas: 2008. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp075302.pdf>. Acesso em: 22/09/2014.

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LÁZARO, João. MARQUES, Frederico Moyano. Justiça restaurativa e mediação penal. Sob judice: justiça e sociedade. Lisboa. Out-Dez. nº 37, p 65-83. 2006.

PAULA, Jônatas Luiz Moreira de. A Jurisdição como elemento de inclusão social. 1ª ed. Barueri/SP: Editora

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PIEDADE, Fernando Oliveira, SOVERAL, Raquel Tomé. A efetividade da justiça restaurativa e seus reflexos na justiça criminal como instrumento de inclusão social. I Seminário Internacional de Mediação de Conflitos e Justiça Restaurativa. UNISC. Santa Catarina. Disponível em: http://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/mediacao_e_jr. Acesso em: 20 jul. de 2016.

PINTO, Renato Sócrates Gomes.Justiça Restaurativa é possível no Brasil? – In SLAKMON, C; DE VITTO, R; PINTO, R. Gomes (org.) Justiça Restaurativa – Coletânea de

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PRUDENTE, Neemias Moretti. Justiça Restaurativa, marco teórico, experiências brasileiras, propostas e direitos humanos. Maringá: 2013.

SANTOS, Marcelo Loeblein; CAGLIARI, Claudia Tais Siqueira. Justiça Restaurativa: alternativas de ressocialização. Direito em Debate: revista do departamento de ciências jurídicas e sociais da Unijuí. Ano XX. N. 36. Jul-dez 2011. Disponível em: https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/598/329. Acesso em: 21 julho 2015.

SCURO NETO. Pedro. Por uma justiça restaurativa ‘real e possível’. Versão revista e ampliada da contribuição ao seminário internacional Justiça Restaurativa. Um caminho para os Direitos Humanos? Instituto de Acesso à Justiça (Brasil)/Justice (Inglaterra). Porto Alegre, 29-30 outubro 2004.

ZEHR, Howard. Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. Trad. Tônia Van Acker – São Paulo: Palas Athena, 2008.

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