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Panorama Macroeconômico

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FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS

ISSN 1234-5678 Nº 313 Outubro / 2006

Eduardo A. Haddad e Raul Antonio C. dos Santos apresentam os componentes do custo de transporte relacionados às importações e exportações, parte inicial de uma pesquisa sobre a eficiência portuária no País e seus impactos econômicos.

Fabiana Rocha e Ana Carolina Giuberti discutem o comportamento da política fiscal dos estados brasileiros diante do ciclo econômico, e o papel da Lei de Responsabilidade Fiscal na limitação da reação dos governos às flutuações da economia.

Lenina Pomeranz avalia a política energética russa, recentemente caracterizada por uma atuação mais agressiva no mercado energético internacional, e sua função no projeto de potência do país.

Rogério Nagamine Costanzi e Hélio Vinicius Moreira Ribeiro analisam a importância do salário mínimo na distribuição de renda no País.

Segundo a Carta Fipe, a continuidade da redução dos juros trará uma revolução no financiamento dos investimentos. Rodrigo Celoto analisa as contas públicas nos oito primeiros meses do ano, e destaca

o crescimento da receita total do Tesouro Nacional, das transferências e da despesa total em relação ao mesmo período do ano e anterior. Roberto Luis Troster destaca que o mais provável é que na reunião do Copom de novembro haja um corte na taxa básica de juros igual ao de outubro. Hélio Nogueira da Cruz prevê a manutenção do quadro internacional favorável e da trajetória de expansão das exportações e importações brasileiras nos próximos meses.

Fabio M. Mizumoto fala sobre o planejamento e a coordenação entre iniciativa privada e governo na questão da sanidade animal. Antonio Lanzana analisa a tendência de fraco crescimento nos indicadores de nível de atividade, e destaca a expansão da produção de bens de capital e suas possíveis implicações futuras.

Panorama Macroeconômico

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INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO

ISSN 1234-5678

CONSELHO CURADOR

Hélio Nogueira da Cruz (Presidente) André Franco Montoro Filho Andrea Sandro Calabi Joaquim José Martins Guilhoto Ricardo Abramovay Maria Cristina Cacciamali Simão Davi Silber DIRETORIA

DIRETOR PRESIDENTE

Carlos Antonio Luque DIRETOR DE PESQUISA

Eduardo Haddad DIRETOR DE CURSOS

Paulo Picchetti PÓS-GRADUAÇÃO

Dante Mendes Aldrighi SECRETARIA EXECUTIVA

Domingos Pimentel Bortoletto COORDENAÇÃO DE PUBLICAÇÕES - SUPERVISÃO EDITORIAL E PRODUÇÃO

Eny Elza Ceotto EDITOR CHEFE

Gilberto Tadeu Lima CONSELHO EDITORIAL

Ivo Torres Lenina Pomeranz Luiz Martins Lopes José Paulo Z. Chahad Maria Cristina Cacciamali Maria Helena Pallares Zockun Simão Davi Silber ASSISTENTES

Maria de Jesus Soares Luis Dias Pereira PROGRAMAÇÃO VISUAL E COMPOSIÇÃO

Sandra Vilas Boas

Nº 313 OUTUBRO DE 2006

AS IDÉIAS E OPINIÕES EXPOSTAS NOS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DOS AUTORES, NÃO REFLETINDO A OPINIÃO DA FIPE PANORAMA MACROECONÔMICO

carta Fipe ... 3 finanças públicas ... 4

RodRigo RodRigues Celoto

política monetária ... 6

RobeRto luis tRosteR

setor externo ... 7

Hélio NogueiRa da CRuz

agricultura ... 8

Fabio Matuoka MizuMoto

nível de atividade ... 10

aNtoNio laNzaNa

ARTIGOS 12 ... uma estimação dos custos logísticos do comércio internacional brasileiro

eduaRdo a. Haddad, Raul aNtoNio C. dos saNtos

17 ... o comportamento da política fiscal dos estados brasileiros diante do ciclo econômico

FabiaNa RoCHa, aNa CaRoliNa giubeRti

21 ... o papel da energia no projeto de potência da Rússia

leNiNa PoMeRaNz

25 ... salário mínimo e distribuição de renda

RogéRio NagaMiNe CostaNzi, Hélio ViNiCius MoReiRa RibeiRo

31 ...propriedade intelectual em cultivares no Brasil: análise do marco regulador e comparação internacional

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outubro de 2006

panorama macroeconômico

carta Fipe

No entanto, as taxas de financiamento imobiliário ainda são inviáveis para o financiamento do investidor para aluguel para terceiros, pois este tem o custo do imposto de renda sobre o retorno sobre o aluguel. Da mesma forma, as empresas brasileira, pequenas e médias, têm taxas de financiamento ainda muito altas. Para as empresas que não apuram o lucro real, a taxa é de 44,2%. Alternativamente, é de 27,9% para as empre-sas que apuram o lucro real. Como a grande maioria dos investimentos não tem retornos dessa magnitude, as empresas pequenas e médias só tomam empréstimos a esse custo em último caso.

Por isso é que é importante o processo de redução da taxa de juros SELIC pelo Banco Central – de 19,75% ao ano para 13,75% em cerca de ano e meio. Adicionais reduções dessa taxa básica deverão aumentar signifi-cativamente a oferta de crédito dos bancos brasileiros, assim como forçar a redução do spread bancário para níveis mais aceitáveis. Dessa forma, o financiamento do investimento via crédito se tornará também viável para investidores em imóveis e pequenas/médias empresas.

Nesse cenário as empresas pequenas e médias terão um “trade-off” interessante: ou se formalizam para acessarem capital a um custo mais baixo, ou se man-terão informais para obter retornos superiores (devido à sonegação), mas a um custo de capital maior. Até o momento, a informalidade tem sido o melhor negócio para a maioria das empresas brasileiras. Com esse cenário de redução de juros os incentivos à formaliza-ção passarão a existir pelo menos para uma boa parte dessas empresas.

Em 18 de outubro o COPOM reduziu, mais uma vez, a taxa SELIC, agora para 13,75% ao ano. Foi o 11º corte seguido dessa taxa. Essa consistência é muito importante, apesar de o Brasil ter a taxa real de juros mais alta do mundo. O segundo lugar é ocupado pela Turquia, com 6,2%, e o terceiro, pela China, com 4,8%. Por que isso?

Vale reconhecer, entretanto, que continuando essa tendência de queda teremos uma revolução no fi-nanciamento dos investimentos (de pessoas física e jurídica). Atualmente, esse financiamento se dá por capital próprio. Dessa forma o mercado bancário e de capitais não cumpre o seu papel no Brasil de interme-diar a poupança das famílias para o financiamento dos empreendedores.

Atualmente, a taxa real de juros paga pelos privile-giados investidores que captam à SELIC é de 9,38%. Deduzindo-se os impostos do custo nominal de financiamento, a taxa real cai para 4,88%. À medida que a taxa básica interna de juros convirja para a taxa de juros soberana brasileira internacional, a taxa real deverá convergir para menos de 2,0% para as grandes empresas de baixo risco.

O mesmo já está acontecendo com o financiamento imobiliário. A Caixa Econômica Federal anunciou financiamento imobiliário nominal (sem correção mo-netária) a partir de 11,9% ao ano. Neste caso, o custo real para o investidor em imóvel é de 7,6%, que é mais ou menos o retorno obtido com um imóvel para uso próprio, ou o custo de oportunidade de aluguel. Dessa forma, à taxa de juros atual o investidor é indiferente entre alugar ou financiar um imóvel para uso próprio.

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outubro de 2006 Jan-Ago 2005 2006 % 06/05 Receita Total 314.584 351.425 11,7% Receitas do Tesouro 247.164 275.486 11,5% Receita da Previdência 66.456 74.980 12,8% Receita do Banco Central 965 958 -0,7%

Transferências 54.721 60.935 11,4% Receita Líquida 259.863 290.490 11,8% Despesa Total 212.956 242.611 13,9% Despesas do Tesouro 123.537 141.041 14,2% Pessoal e encargos 59.233 65.940 11,3% Custeio e Capital 63.911 74.693 16,9% Transfer. ao Banco Central 393 408 3,8% Despesas da Previd. Social 88.241 100.494 13,9% Despesas do Banco Central 1.178 1.077 -8,6% Result. Primário Gov. Central 46.908 47.879 2,1% Tesouro Nacional 68.906 73.511 6,7% Previdência Social (21.784) (25.414) 16,7% Banco Central (214) (119) -44,4% Result. Primário Governo/PIB 3,75% 3,59% -4,3%

RodRigo RodRigues Celoto (*)

finanças públicas

Resultado do Tesouro Nacional

A Receita total do Tesouro Nacional cresceu de 11,7% nos primeiros oito meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado, saltando de R$ 314,5 bilhões nos primeiros oito meses de 2005 para R$ 351,4 bilhões no mesmo período deste ano. A receita do Tesouro foi de R$ 275,4 bilhões contra R$ 247,1 bilhões no mesmo período do ano passado, um crescimento de 11,5%, sendo que as receitas de previdência aumen-taram 12,8%, saltando de R$ 66,4 bilhões para R$ 74,9 bilhões.

As transferências passaram de R$ 54,7 bilhões nos primeiros oito meses do ano anterior para R$ 60,9 bilhões no mesmo período de 2006, um crescimento de 11,4%. A receita líquida apresentou um crescimento de 11,8%.

A despesa total teve um acréscimo de 13,9% nos pri-meiros oito meses do ano contra igual período do ano passado, saltando de R$ 212,9 bilhões para R$ 242,6 bilhões. As despesas com pessoal e encargos sociais foram de R$ 65,9 bilhões no período, com benefícios previdenciários foram de R$ 100,5 bilhões e com cus-teio e capital foram de R$ 74,6 bilhões. Os três itens de despesa acima apresentaram, respectivamente, um crescimento de 11,3%, 13,9% e 16,9%.

O Resultado Primário do Governo Federal ficou em R$ 47,8 bilhões (3,59% do PIB), sendo de R$ 73,5 bilhões o superávit do Tesouro Nacional e R$ 25,4 bilhões o déficit da previdência social.

Fonte: STN.

tabela 1 - resultado do Tesouro Nacional - R$ milhões

Necessidade de Financiamento do Setor Público

O superávit primário dos primeiros oito meses do ano foi de R$ 75,9 bilhões (5,69% do PIB) contra R$ 78,9 bilhões (6,32% do PIB) no mesmo período do ano passado.

O superávit do governo central, no período, passou de R$ 50,5 bilhões (4,04% do PIB) em 2005 para R$ 49,3 bilhões (3,7% do PIB) em 2006. Em contrapartida, as estatais saíram de um superávit primário de R$ 11,0 bilhões (0,89% do PIB) para um superávit de R$ 12,5 bilhões (0,94% do PIB).

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outubro de 2006

R$ milhões Correntes % PIB

2005 2006 2005 2006

Discriminação Jan-Ago Ano Jan-Ago Jan-Ago Ano Jan-Ago

Nominal 26 756 63 641 34 713 2,14 3,28 2,60 Governo central 35 086 73 284 42 506 2,81 3,78 3,18 Governo federal1/ 34 301 74 106 34 780 2,75 3,82 2,61 Bacen 784 - 822 7 726 0,06 -0,04 0,58 Governos regionais 1 249 5 416 6 027 0,10 0,28 0,45 Governos estaduais 938 4 755 4 552 0,08 0,25 0,34 Governos municipais 311 661 1 475 0,02 0,03 0,11 Empresas estatais -9 579 -15 060 -13 820 -0,77 -0,78 -1,04 Empresas estatais federais -8 552 -14 248 -10 134 -0,68 -0,74 -0,76 Empresas estatais estaduais -1 108 - 940 -3 817 -0,09 -0,05 -0,29 Empresas estatais municipais 81 128 131 0,01 0,01 0,01

Juros nominais 105 688 157 146 110 665 8,46 8,11 8,29 Governo central 85 620 129 025 91 866 6,85 6,66 6,88 Governo federal1/ 85 049 130 159 84 259 6,81 6,72 6,31 Bacen 571 -1 134 7 606 0,05 -0,06 0,57 Governos regionais 18 562 26 739 20 094 1,49 1,38 1,51 Governos estaduais 15 305 21 949 16 662 1,22 1,13 1,25 Governos municipais 3 257 4 790 3 432 0,26 0,25 0,26 Empresas estatais 1 505 1 381 -1 295 0,12 0,07 -0,10 Empresas estatais federais 154 -1 070 -2 710 0,01 -0,06 -0,20 Empresas estatais estaduais 1 208 2 220 1 269 0,10 0,11 0,10 Empresas estatais municipais 144 230 146 0,01 0,01 0,01

Primário -78 931 -93 505 -75 951 -6,32 -4,83 -5,69 Governo central -50 534 -55 741 -49 360 -4,04 -2,88 -3,70 Governo federal -72 532 -93 629 -74 993 -5,80 -4,83 -5,62 Bacen 214 312 119 0,02 0,02 0,01 INSS 21 784 37 576 25 514 1,74 1,94 1,91 Governos regionais -17 313 -21 323 -14 067 -1,39 -1,10 -1,05 Governos estaduais -14 367 -17 194 -12 110 -1,15 -0,89 -0,91 Governos municipais -2 946 -4 129 -1 957 -0,24 -0,21 -0,15 Empresas estatais -11 084 -16 440 -12 525 -0,89 -0,85 -0,94 Empresas estatais federais -8 705 -13 178 -7 424 -0,70 -0,68 -0,56 Empresas estatais estaduais -2 316 -3 160 -5 087 -0,19 -0,16 -0,38 Empresas estatais municipais - 63 - 102 - 14 -0,01 -0,01 0,00

Os governos regionais obtiveram um superávit de R$ 14,0 bilhões (1,05% do PIB) nos oito primeiros meses do ano contra R$ 17,3 bilhões (1,39% do PIB) no mesmo período de 2005.

Os juros nominais de janeiro a agosto totalizaram R$ 110,6 bilhões (8,29% do PIB) contra R$ 105,7 bilhões (8,46% do PIB) no mesmo período do ano passado. Os gastos com juros do governo central subiram de 6,85% do PIB nos primeiros oito meses de 2005 para 6,88% do PIB no mesmo período de 2006. As estatais aumentaram seus gastos com juros de um déficit de 0,12% do PIB para um superávit de 0,10% do PIB e os governos regionais aumentaram seus gastos com

tabela 2 - necessidades de financiamento do setor público

Fonte: BCB.

Notas: 1 - Inclui o INSS. (+) déficit (-) superávit.

O resultado nominal decorrente do desempenho apre-sentado acima foi de R$ 34,7 bilhões (2,6% do PIB) de déficit contra um déficit de R$ 26,75 bilhões (2,14 % do PIB) no mesmo período do ano passado. O governo central fechou esses oito primeiros do ano com um déficit nominal de 3,18% do PIB, os governos regionais com um déficit de 0,45% do PIB e as empresas estatais com um superávit de 1,04% do PIB.

(*) Economista - Participante do Grupo de Conjuntura da FIPE. E-mail: celoto@uol.com.br.

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outubro de 2006

RobeRto luis tRosteR (*)

política monetária

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, na sua reunião de 17 e 18 de outubro, cortou a taxa básica em 0,50 pontos porcentuais, reduzindo-a para 13,75% ao ano. Foi uma decisão por unanimidade e sem viés.

A medida era a esperada pelo mercado. Os preços dos ativos no mercado embutiam essa redução e poucos analistas arriscaram um palpite diferente. Os indica-dores internos e externos prescreviam a diminuição da Selic.

No mercado internacional, o preço do petróleo caiu 15% desde a reunião anterior e está estabilizado, o nível de volatilidade financeira internacional está baixo, mesmo considerando os números da inflação e do nível de atividade nos Estados Unidos, e os prê-mios de risco dos papéis de países emergentes estão em queda.

No Brasil, o quadro macroeconômico com tendência de valorização do Real, nível de atividade moderado e projeções de crescimento do PIB declinantes, com-plementado com os números da inflação, recomen-dava uma redução dos juros. O IPCA, calculado pelo IBGE, que baliza o regime de metas, apresenta a taxa acumulada mais baixa desde 1998 e há analistas que apontam para a possibilidade da taxa anual em 2006 tocar o piso da banda, ou seja, 2,5%.

É o décimo primeiro corte consecutivo da taxa Selic, que caiu seis por cento nos últimos doze meses e está no patamar mais baixo de sua história.

Há consenso de que na reunião do Copom de 28 e 29 de novembro haverá um novo corte; a questão debatida é se o porcentual de 0,50 será repetido ou se haverá uma redução de 0,25. A bem da verdade, uma projeção mais precisa demanda mais informação.

Entretanto, o cenário aponta para uma repetição do corte de 0,50.

O cenário externo se apresenta tranqüilo. Os indica-dores da economia mundial são de um crescimento menor em 2007 que em 2006, e não apresentam sinais de aperto financeiro que possam afetar os mercados emergentes nos próximos meses. O preço do petróleo, aparentemente, não deverá, mesmo com a entrada do inverno no hemisfério norte, ser pressionado. Os indicadores de produção e de vendas brasileiros estão fracos; as estimativas são de um crescimento do PIB da ordem de 3,0%, o que indica que não há uma pressão de demanda nos preços.

As expectativas de inflação para este ano e o próximo estão abaixo da meta, e não há no horizonte fatores que possam reverter bruscamente esse quadro. Por-tanto, mesmo considerando que a queda de juros já é significativa, é razoável esperar uma nova redução de 0,50%. Desta forma, a taxa Selic encerrará o ano em 13,25%. É uma marca a ser celebrada.

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outubro de 2006

O cenário econômico internacional permanece favo-rável, embora as previsões dos analistas econômicos tendam a indicar redução da taxa de crescimento da economia norte-americana e, por conseqüência, que-da que-da expansão que-da economia mundial. Entretanto, a vitalidade da economia da China e de outros países emergentes e a queda do preço do petróleo apontam para a manutenção de um quadro econômico inter-nacional ainda bastante positivo.

Nestas condições, as exportações brasileiras poderão manter sua trajetória de expansão baseada, sobretudo, no crescimento da demanda de produtos com alto conteúdo de recursos naturais. A valorização do real verificada nos últimos anos desestimula as exporta-ções dos produtos manufaturados, particularmente aqueles itens que sofrem a concorrência da China e dos países emergentes. As importações brasileiras devem apresentar crescimento superior às exporta-ções devido à lenta, mas persistente, substituição dos produtos domésticos pelos internacionais decorrente da valorização do real, apesar da reduzida expansão do mercado interno. O elevado superávit comercial deverá persistir nos próximos meses e as reservas internacionais continuam se elevando, tendo atin-gido o valor recorde de US$ 74,954 bilhões no dia 13 de outubro, o que atesta a alta disponibilidade de divisas do País.

O saldo da balança comercial do ano, incluindo os dados até a 2ª semana de outubro, é de US$ 36,132 bilhões, com crescimento de 5% sobre o ano passado. As exportações alcançaram US$ 106,235 bilhões, com crescimento de 15,9%. As importações somam US$ 70,103 bilhões, com crescimento de 12,3%. O mercado financeiro prevê superávit comercial de US$ 43,51 bilhões. O Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior tem a meta de exportações de US$

135 bilhões, importações de US$ 91 bilhões e superávit de US$ 44 bilhões para o ano de 2006.

O quadro interno apresenta a decepcionante taxa de crescimento do PIB de cerca de 3% no ano. A conjuntura macroeconômica indica que continuará a ocorrer a gradual redução da taxa de juros nominal nos próximos meses, devido à queda da inflação, e possivelmente ocorrerá redução dos juros reais que, ainda assim, deverá permanecer a mais alta em vigor no cenário internacional. A taxa de câmbio, nos pró-ximos meses, tenderá a permanecer nos patamares atuais, com viés de queda, devido ao persistente superávit da balança comercial e ao saldo favorável do balanço de pagamentos. A elevação da taxa de investimentos, indispensável para a elevação susten-tada do crescimento econômico, não deverá ocorrer no curto prazo.

Daqui a duas semanas será realizado o segundo turno das eleições presidenciais entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. Independen-temente de qual candidato venha a ser presidente, não deverá ocorrer mudança substancial na política macroeconômica e de comércio exterior. De qualquer forma, o término das eleições deverá oferecer um quadro mais claro, reduzindo as incertezas políticas. Esperamos que as oportunidades associadas a um quadro econômico internacional tão favorável, como tem ocorrido nos últimos anos, não continuem a ser desperdiçadas com um crescimento econômico tão modesto como o País tem apresentado nos últimos anos.

(*) Professor do Departamento de Economia da FEA-USP. E-mail: hncruz@usp.br

Hélio NogueiRada CRuz (*)

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outubro de 2006

A Influenza Aviária tem tido atenção do setor pro-dutivo pela ameaça de seu impacto econômico no mundo todo. Hong Kong, Holanda e Tailândia são casos ilustrativos de perdas de mercado e de divisas decorrentes de incidência da doença. Muito mais que o componente econômico, os surtos de H5N1, vírus da conhecida “gripe do frango”, representam uma verdadeira ameaça à saúde pública, ainda mais pela sua capacidade de mutação que poderia levar a uma pandemia. Muita das ações de prevenção cabe ao setor produtivo, como pronta resposta a essas ameaças. O Brasil não registra nenhum caso de H5N1, mas se pre-para pre-para um eventual enfrentamento. Vale atentar para o planejamento e coordenação do setor para a questão da sanidade.

A justificativa econômica para esta articulação tem fundamento nos seus expressivos resultados. O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango no mundo. De acordo com a ABEF (Associação Brasilei-ra dos Produtores e Exportadores de FBrasilei-rango) foBrasilei-ram gerados 3,5 bilhões de dólares em divisas para o País em 2005, com emprego de 4 milhões de pessoas nos diferentes elos de seu sistema produtivo. Os números crescentes de exportação, produção e industrialização mostram o alto desempenho do setor. O que fazer para minimizar os prejuízos decorrentes de eventu-ais casos de H5N1 em território nacional? Estamos preparados?

Entre as principais medidas adotadas pelo Brasil estão: proibição de importar animais vivos e carnes, restrição ao contato com animais e restrições ao trans-porte de material genético. Foram medidas adotadas ou reforçadas conforme as ocorrências foram sendo registradas no mundo. A ocorrência da Influenza Aviária em Hong Kong foi o de maior alarde para o setor produtivo em 1997, que implicou a morte de 1,5

milhões de aves em 3 dias. Para a sanidade humana, o marco foi em 2004, com a ocorrência do vírus H5N1 em uma pessoa no Vietnã. A WHO (World Health

Organization) contabiliza 256 casos desde então, com

151 vítimas fatais.

As ocorrências de Influenza Aviária marcaram um percurso iniciado na Ásia, passando pelo Oriente Médio até a Europa. Ao longo desse período, o sistema de sanidade animal brasileiro foi sendo desafiado pela ocorrência de outras doenças, tais como a febre aftosa no gado bovino e de Newcastle, uma doença que ataca o sistema nervoso das aves, mas que não é transmitido para humanos. Especificamente esta última preocu-pou o setor produtivo avícola, dada a sua ocorrência recente, confirmada em maio deste ano e em região relativamente próxima à produção comercial. Tais ocorrências fizeram por colocar ainda mais im-portância aos planos de coordenação entre iniciativa privada e governo, iniciada em anos anteriores e que tomou corpo em fevereiro deste ano com a forma-lização de um Plano Nacional de Sanidade Avícola (PNSA). O recurso orçamentário que favorece a sua implantação foi liberado no início deste mês, com o repasse de R$ 40 milhões do Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Gestão para o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

O PNSA articula uma rede de agentes da Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS), da Coordenação-Geral de Apoio Laboratorial (CGAL), das Superintendências Federais da Agricultura (SFA), dos Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Animal e dos representantes da iniciativa privada. O documento organiza as alçadas de cooperação entre as diferentes instâncias e promo-ve a integração de ações coletivas da iniciativa privada com as instituições governamentais.

Fabio Matuoka MizuMoto (*)

coordenação entre iniciativa privada e

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outubro de 2006

países com casos confirmados de Influenza Aviária H5N1

Fonte: U.S. Department of Health and Human Services.

Destacam-se três questões fundamentais na proposta do PNSA. A primeira é que a resposta institucional é essencial nas relações entre países. As estratégias privadas de controle podem ser tecnicamente viáveis, porém são limitadas sob o aspecto de representativi-dade ao lidar com governos. A segunda está relacio-nada à proposta de regionalização, fundamental para um país com as dimensões continentais como o Brasil. A adesão de cada Estado é voluntária e permite uma articulação mais próxima da iniciativa privada com as esferas estaduais de maior representatividade dentro do contexto nacional. A terceira é a possibilidade de a iniciativa privada fomentar o desenvolvimento de fundos estaduais emergenciais privados para a inde-nização a criadores. Os produtores não terão receio em assumir focos de doença em seus plantéis porque terão a garantia de indenização em valor e tempo apropriados.

A instalação do PNSA representa um grande avanço para a sanidade animal nacional. Entretanto, sua implantação eficaz continuará sendo o desafio de todos os agentes do setor. São inúmeras as atividades envolvidas com o rápido diagnóstico e tomada de ações emergenciais, desde a rotina de monitoramento de fronteiras e unidades produtivas, até a capacita-ção e credenciamento de uma rede de laboratórios,

representantes da iniciativa privada, médicos vete-rinários.

A questão da sanidade animal é legítima pelo seu impacto econômico e, mais ainda, pela segurança da saúde pública, merecendo a articulação da iniciativa privada e do governo. O caso do PNSA ilustra a possi-bilidade de encaminhamento conjunto, à luz de muito trabalho e articulação, e é parte do reconhecimento das limitações das estratégias individuais e da possi-bilidade de avanços maiores de forma coordenada.

(*) Doutorando em Administração na FEA/USP e Pesquisador PENSA (Centro de Conhecimento em Agronegócios). E-mail: fabio@mizumoto.com.br.

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outubro de 2006

A divulgação das estatísticas relativas ao desempenho do PIB no segundo trimestre levou a uma revisão ge-neralizada para baixo das estimativas de crescimento para 2006. Apesar disso, o Ministério da Fazenda insiste numa recuperação no segundo semestre e mantém sua previsão de crescimento de 4% para o corrente ano.

Os resultados apresentados pelos vários indicadores de nível de atividade no terceiro trimestre mostram que não houve mudança na tendência de fraco cres-cimento, o que poderá levar a uma nova revisão para menos das previsões para o ano.

Na área industrial, além da discreta recuperação do setor, em agosto, dois pontos chamam a atenção: a expansão da produção de bens de capital e a perda de dinamismo da produção de bens de consumo, principalmente semiduráveis e não-duráveis.

indicadores da produção industrial por categoria de

uso – Brasil – agosto/2006

Categorias de Uso Variação (%) Mês/ Mês(*) Mensal Acumulado No Ano Meses12 Bens de Capital 2,8 7,4 5,8 5,5 Bens Intermediários 0,7 3,4 2,2 1,3 Bens de Consumo -0,1 2,1 3,5 3,0 - Duráveis 1,6 5,4 6,4 5,6 - Semiduráveis e Não-Duráveis -0,9 1,2 2,6 2,3 Indústria Geral 0,7 3,2 2,8 2,2

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. (*) Série com ajuste sazonal.

Como se pode observar na tabela, a produção indus-trial cresceu 0,7% em agosto, relativamente ao mês anterior, e 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. No ano, a produção industrial acumula 2,8%, e 2,2% nos últimos doze meses findos em agosto.

Desagregando-se as informações por categoria de uso, é importante destacar o desempenho da produção de bens de capital em agosto: +2,8% em relação ao mês anterior, e +7,4% relativamente ao mesmo mês do ano passado. Além de liderar o crescimento recente, a pro-dução de bens de capital é um importante indicador da recuperação dos investimentos do setor.

No que tange ao desempenho desse setor, outros pontos devem ser destacados: a) o investimento ocorre num momento em que a demanda não está aquecida e há ociosidade na indústria, o que revela expectativa favorável para a evolução da demanda futura; b) ao contrário do que vinha ocorrendo nos últimos meses, a produção de máquinas e equipamentos para fins industriais cresceu fortemente (+14,3%, ante agosto do ano passado); este é o segmento que sinaliza in-vestimento da indústria em expansão de capacidade produtiva; c) reforçando essa perspectiva, destaca-se o crescimento de 18,8% no quantum importado de bens de capital em agosto, relativamente ao mesmo mês de 2005; d) ainda nos subsetores de bens de capital, pode-se destacar: uso misto (+8,3%), energia elétrica (38,0%), transporte (4,4%) e construção (0,8%); e) o destaque negativo fica por conta do setor de bens de capital agrícola (–31,7%), mantendo uma seqüência de 24 meses consecutivos em queda.

Na área de bens de consumo, o câmbio afetou os resultados tanto de bens de consumo duráveis como de não-duráveis. No primeiro caso, o crescimento das importações de eletrodomésticos, embora não tenha gerado resultado negativo sobre a produção de durá-veis, fez com que o segmento perdesse dinamismo, crescendo, em agosto (+5,4%), abaixo do observado no ano (+6,4%).

O efeito maior da importação ocorreu sobre o setor produtor de bens de consumo semiduráveis e

não-aNtoNio laNzaNa (*)

nível de atividade

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duráveis (principalmente calçados e têxteis). Assim, mesmo com a expansão da massa salarial, a produção do setor caiu 0,9% em agosto, relativamente ao mês anterior, e apenas 1,2% em relação ao mesmo mês de 2005, contra 2,6% no acumulado do ano e 2,3% nos últimos 12 meses.

No comércio, informações da Associação Comercial de São Paulo, para o Município de São Paulo, confirmam a tendência de crescimento modesto das vendas no terceiro trimestre, num quadro muito semelhante ao observado no primeiro semestre, tanto no que se refere às vendas a prazo como a vista.

número de consultas ao SCPC – Município de São Paulo – (variação % em relação ao mesmo período do ano ante-rior)

Fonte: Associação Comercial de São Paulo.

Como se observa, o número de consultas ao SCPC (que é um indicador de vendas a prazo) cresceu 3,1% no 3º trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2005, praticamente repetindo as taxas registradas nos dois trimestres anteriores. A mesma situação se observa no referente ao número de consulta ao sistema Telecheque (que é um indicador de vendas a vista), com crescimento de 5,7% no 3º trimestre.

número de consultas ao Sistema Usecheque – Município de São Paulo – (variação % em relação ao mesmo período do ano anterior)

Fonte: Associação Comercial de São Paulo.

A manutenção da tendência de crescimento pouco expressiva no 3º trimestre permite prever que o ano deverá se encerrar com crescimento do PIB entre 2,8% e 3,0%, muito abaixo, portanto, das previsões do Ministério da Fazenda (o Banco Central já reviu sua projeção de 4% para 3,5%). A perspectiva de crescimento mais moderado do nível de atividade é reforçada por alguns fatores: a) manutenção da apre-ciação cambial, com reflexos sobre as exportações e produção doméstica (via aumento das importações); b) sinais de esgotamento da capacidade de crédito de alavancar o crescimento; e c) efeito defasado da redução das taxas de juros.

(*) Professor da FEA-USP. E-mail: lzn.tln@terra.com.br

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eduaRdo a. Haddad (*)

Raul aNtoNio C. dos saNtos (**)

uma estimação dos custos logísticos

do comércio internacional brasileiro

artigos

1. Introdução

Este artigo é parte de um trabalho em andamento que visa avaliar o impacto da eficiência portuária sobre a economia brasileira e de suas regiões. Um dos passos iniciais neste trabalho é estimar os componentes do custo de transporte relacionado às exportações e im-portações para então separar o custo específico asso-ciado aos portos. Este é o objeto do presente artigo. Uma rede de transporte é formada por links, ou liga-ções, vias pelas quais as mercadorias são transpor-tadas, e nós, isto é, os pontos em que as ligações se encontram e ocorre a transferência das mercadorias entre as ligações e, geralmente, a troca da modalidade de transporte (modal). O porto é, em uma rede de transporte, o nó em que as mercadorias passam do modal terrestre para o marítimo. Assumimos que uma mercadoria importada pelo Brasil é transportada por via marítima até o país, entra por um dos portos na costa e segue por via terrestre até o seu destino; as exportações realizam o percurso no sentido inverso. Logo, podemos separar três componentes dos custos logísticos: o custo do transporte interno, principal-mente rodoviário, o custo, no porto, de fazer a trans-ferência entre os modais e de armazenagem e o custo do transporte marítimo.

Neste artigo faremos uma estimativa da importância da variação de cada um destes componentes na va-riação do custo de logística total brasileiro, associado às importações (assumimos que os custos relativos às exportações se comportam da mesma forma). A metodologia utilizada baseia-se no trabalho de Bloni-gen e Wilson (2006), e sobre a qual fizemos algumas modificações. A seguir descrevemos a metodologia empregada e a base de dados para, em seguida, apre-sentar os resultados.

2. Metodologia e Banco de Dados

Blonigen e Wilson (2006) partem de dados das im-portações dos Estados Unidos realizadas via portos. O governo americano fornece uma estatística de-nominada “import charges”, que é a soma dos custos incorridos para trazer as mercadorias para os EUA, excluindo as tarifas cobradas pelo governo. Este custo pode ser decomposto em três partes: o custo no porto de origem, frete marítimo e custo do porto de destino nos EUA. Blonigen e Wilson (2006) propõem uma regressão para separar cada um destes elementos. A variável dependente são as “import charges”. O frete marítimo depende do valor da carga, volume, distân-cia etc. Estas variáveis são usadas como controle para o frete marítimo. Para obter medidas de eficiência dos

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portos são adicionadas dummies para os portos norte-americanos e do resto do mundo. Os autores optaram por excluir a dummy do porto de Roterdam e do porto de Oakland, portanto, as eficiências calculadas para os portos do resto mundo são relativas a Roterdam, e dos EUA, em relação a Oakland.

A metodologia adotada no presente artigo seguiu Blo-nigen e Wilson (2006) com alterações na interpretação dos resultados e nos procedimentos econométricos. Foram usados dados das importações brasileiras. No lugar de “import charges” utilizamos o logaritmo natural da diferença entre o valor CIF e FOB das importações. O valor CIF das importações foi obtido do Comtrade (Onu), e o FOB, do MDIC. Não tivemos acesso à informação do porto de procedência da importação apenas do país. As observações são ca-racterizadas por quatro elementos: estado de destino (no Brasil), país de origem, tipo de mercadoria impor-tada (Sistema Harmonizado, seis dígitos) e porto de entrada. Coletamos dados do ano de 2002 para treze portos brasileiros (Rio Grande, Itajaí, São Francisco do Sul, Paranaguá, Santos, Vitória, Sepetiba, Rio de Janeiro, Salvador, Aratu, Suape, Fortaleza e Belém), que foram responsáveis por 67,3% do peso e 54% do valor importados em 2002. O quadro abaixo resume as variáveis que foram usadas como controle para outros elementos do custo total de importação.

quadro 1 – variáveis usadas no modelo

Lnkg Logaritmo natural do peso (em Kg) importado.

Lnvolume

Logaritmo natural do total das mercadorias importadas entre o porto de entrada no Brasil e o país de origem da importação. Sqlnvolume Quadrado de Lnvolume. Lndist_uf

Logaritmo natural da distância em linha reta do porto a capital do estado de destino da importação (Km).

Sqlndist_uf Quadrado de Lndist_UF. Lndist_parceiro

Logaritmo natural da distância em linha reta do porto a capital do país de origem da importação (Km).

Sqlndist_parceiro Quadrado de Lndist_parceiro.

A função custo do transporte marítimo possui uma parcela fixa e outra variável. Os custos fixos incluem os custos de capital (pagamento do armador para efetuar a compra da embarcação) e gastos fixos, como, por exemplo, gastos com a tripulação, manutenção e seguros. Os custos variáveis incluem os gastos com combustíveis e os chamados gastos de escala (cus-to das operações portuárias).1 As variáveis Lnkg e

Lndist_parceiro foram inseridas com a intenção de captar a parcela variável dos custos do transporte marítimo, enquanto que as variáveis Sqlndist_par-ceiro, Lnvolume e Sqlnvolume objetivam representar as economias de escalas decorrentes da existência de custos fixos; a inclusão da variável Sqlnvolume tem por finalidade verificar o efeito de congestionamentos. No lado interno, Lndist_uf e Sqlndist_uf representam os custos rodoviários ligados ao transporte da mer-cadoria do porto de entrada no Brasil até o estado de destino final.

Além destas variáveis, incluímos dummies para o tipo de mercadoria e para o porto. Para os tipos de mercadoria usamos a classificação dos capítulos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). A intenção ao incluir dummies para as mercadorias foi controlar para os efeitos da especialização dos portos e dos diferenciais dos custos de transportar certas mercadorias devido a características a elas inerentes. As dummies dos portos captam o diferencial de custo específico de cada porto. Optamos por omitir a dummy para o porto de Santos. Assim, o coeficiente desta va-riável para um porto X qualquer é interpretado como a variação porcentual nos custos de importar uma mercadoria de um dado país estrangeiro para certo estado no Brasil pelo porto X em relação a importá-la pelo porto de Santos.

Sobre a interpretação dos resultados, Blonigen e Wil-son (2006) afirmam que um porto é mais eficiente se seu custo é menor do que o de outro quando compara-dos ao porto de referência. Entretanto, devemos notar que o custo estimado é, de fato, o custo ao consumidor do serviço portuário, não o custo que o porto tem para ofertar o serviço. Ser eficiente significa ofertar uma dada quantidade de produto ao custo de produção

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mínimo. É preciso considerar que os portos não ope-ram em um ambiente de concorrência perfeita, logo, o preço cobrado pelo produto e o custo de produzi-lo não é o mesmo, embora guardem certa relação entre si. Os portos estão em um ambiente de concorrência imperfeita por razões como a existência de economias de escala e a posição do porto em relação aos impor-tadores e exporimpor-tadores e aos países estrangeiros. A

hinterland e a vorland dos portos, respectivamente,

sua área de influência terrestre e marítima, não são sobrepostas, dando margem para os portos terem algum poder de mercado.

Em relação à econometria, notamos que o volume transportado entre dois portos depende do próprio custo dos portos que está incorporado na variável dependente. Assim sendo, há um problema de endo-geneidade, a qual foi corrigida por meio de variáveis instrumentais. As variáveis endógenas são lnkg, lnvo-lume, sqlnvolume. Os instrumentos utilizados foram (em log) o PIB per capita (e seu quadrado) do estado de destino das mercadorias (no Brasil), o PIB, população e área do país de origem e o quadrado do primeiro. Outro problema é a escolha do porto. Admitimos que o custo portuário não é impeditivo ao comércio de qualquer mercadoria entre estados brasileiros e países estrangeiros. Porém, os custos portuários determinam qual porto será a via de entrada das mercadorias ou que alguns portos não serão usados para certos fluxos. A ausência da informação sobre o custo da importação de certas mercadorias no comércio entre estados do Brasil e países estrangeiros cria um viés na amostra. Para corrigi-lo utilizamos o procedimento em dois es-tágios de Heckman (1979). Estimamos a probabilidade dos portos serem usados para cada fluxo por meio de probits para cada um dos portos que dispunham de informações suficientes e inserimos os valores previs-tos como variáveis explicativas no modelo. Devido ao uso de variáveis estimadas, os desvios padrão estima-dos são inváliestima-dos. (Pagan, 1984). Para contornar este problema tivemos que usar a técnica de bootstramping. Os coeficientes das probabilidades dão alguma idéia da competição entre os portos e de como ela afeta os custos. Acrescentamos as dummies para os portos, deixando de fora o porto de Santos.

3. Resultados

Para melhorar a exposição, apresentaremos as es-timativas dos custos de transporte em três blocos: coeficientes das variáveis ligadas ao frete marítimo e rodoviário, coeficientes das dummies dos portos e coeficientes das probabilidades. Os resultados en-contram-se, respectivamente, nas Tabelas 1, 2 e 3. Por conveniência, omitimos os coeficientes estimados das

dummies das mercadorias. As variáveis

determinan-tes do frete marítimo e terrestre são significandeterminan-tes e tiveram os sinais esperados. O custo do transporte, obviamente, cresce com a quantidade transportada, medida pelo peso da carga. O aumento do volume total de mercadorias que entram através de um porto, vindas de um determinado país estrangeiro, reduz o frete marítimo neste percurso. Entretanto, se este volume chegar a certo ponto crítico, ocorre congestio-namento, o que contribui para elevar o frete. Como era esperado, o frete marítimo aumenta con-forme o parceiro comercial esteja localizado a uma distância maior. Mais uma vez, a atividade de trans-porte, especificamente o modal marítimo, mostra evidência de economias de escala, como indicado pelo sinal negativo e significante da variável Sqln-dist_parceiro, ou seja, o quadrado do log da distância do parceiro ao porto. No modal terrestre, o custo de transportar a mercadoria importada do porto ao estado de destino também se mostrou crescente em relação à distância entre o estado e o porto, mas com evidências de economias de escala. Em resumo, para o transporte marítimo e terrestre encontramos evidên-cias de economias de escala e, no caso do primeiro, congestionamento.

tabela 1 – estimativas do frete marítimo e rodoviário

Variável Coef. Std. Err. t

Constante -4.4269 1.9938 -2.2204 Lnkg 0.1772 0.0239 7.4073 Lnvolume -0.2871 0.1045 -2.7476 Sqlnvolume 0.0110 0.0033 3.3704 Lndist_uf 0.3246 0.0430 7.5430 Sqlndist_uf -0.0492 0.0057 -8.6281 Lndist_parceiro 2.4215 0.3924 6.1709 Sqlndist_parceiro -0.1299 0.0219 -5.9262

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Quanto aos resultados para as dummies específicas dos portos, não foram estatisticamente significantes, a um nível de 5%, as dummies para Vitória, Fortaleza e Belém, ou seja, não há diferença de custos signifi-cantes entre estes portos e Santos. Apenas Sepetiba e Aratu apresentaram evidências de serem mais caros do que Santos: importar uma mercadoria por estes portos em vez de para o porto de Santos representa um acréscimo de 2,41% e 5,55%, respectivamente, no custo, tudo o mais constante. Todos os demais se mostraram mais eficientes do que Santos.

tabela 2 – estimativas dos custos portuários

Variável Coef. Std. Err. t

Itajaí -0.7148 0.0528 -13.5347 Paranaguá -0.2572 0.0534 -4.8211 Rio de Janeiro -0.2917 0.0425 -6.8625 Sepetiba 2.4176 0.3828 6.3162 Rio Grande -0.3066 0.0855 -3.5875 Salvador -0.5040 0.1213 -4.1543 São Francisco do Sul -0.7780 0.1424 -5.4641 Vitória 0.0984 0.0631 1.5595

Aratu 5.5543 0.5007 11.0928

Suape -0.5413 0.1226 -4.4149 Fortaleza -0.1256 0.1585 -0.7926 Belém -0.2599 0.3988 -0.6517

Fonte: Estimações dos autores.

Incluímos as probabilidades para corrigir o efeito de viés de seleção da amostra que surge pelo fato de o custo de um estado importar certa mercadoria de dado país estrangeiro por um porto poder ser proibi-tivo. Nesta circunstância, a importação ocorreria por outro porto e, desta forma, deixaríamos de observar os custos associados a importações por portos que ca-íssem neste caso. Por outro lado, podemos interpretar economicamente os coeficientes estimados para as probabilidades como estimativas do efeito do aumento da concorrência entre os portos sobre os custos. Cer-tos aspecCer-tos desta concorrência são difíceis de serem alterados, pois, como argumentamos, dependem da localização geográfica do porto.

Os portos de Rio Grande, Suape e Fortaleza não mostraram evidências de que se a probabilidade de serem usados para certo comércio aumentar, haverá

redução nos custos. Os portos de Santos, Paranaguá, Rio de Janeiro, Sepetiba, Vitória e Belém tiveram os coeficientes de suas probabilidades negativos e significantes, logo, o aumento da probabilidade des-ses portos serem usados em algum fluxo reduz, via competição, o custo da importação. Por outro lado, os portos de Salvador e São Francisco do Sul causam o aumento do custo se a probabilidade de serem a via de entrada aumentar.

tabela 3 – coeficientes das probabilidades estimadas

Variável Coef. Std. Err. T

Santos -0.1469 0.0652 -2.2521 Paranaguá -0.3413 0.0971 -3.5161 Rio de Janeiro -0.3590 0.0776 -4.6246 Sepetiba -3.0710 0.4015 -7.6488 Rio Grande 0.0740 0.1044 0.7089 Salvador 0.2979 0.1318 2.2601 São Francisco do Sul 0.5912 0.1800 3.2836 Vitória -0.7699 0.0768 -10.0281 Suape -0.1820 0.1462 -1.2452 Fortaleza -0.2873 0.1840 -1.5617 Belém -1.1061 0.4071 -2.7168

Fonte: Estimações dos autores.

4. Conclusão

As estimativas da função custo de transporte marítimo e rodoviário foram consistentes com o esperado. Nos dois casos encontramos evidências de economias de escala na distância percorrida e, no caso do transporte marítimo, em relação ao volume de comércio. Para o transporte marítimo encontramos ainda evidências de congestionamentos afetando positivamente o custo de transporte. As estimativas do diferencial dos custos portuários em relação ao porto de Santos revelaram que a maioria dos portos oferta o serviço portuário a um custo menor do que o porto de Santos. Especula-mos que isto não decorre de diferenças na eficiência, mas do poder de mercado do porto de Santos devido a sua localização relativamente aos principais mercados brasileiros e sua infra-estrutura mais desenvolvida e porte maior que o tornam capaz de lidar com cargas que a maioria dos outros portos não está equipada para tal. Por fim, tivemos alguma evidência de que a concorrência entre os portos reduz os custos de

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transportes. Entretanto, é preciso confrontar esta evidência com as evidências de economias de escala na atividade de transporte. Por um lado, a competição poderia reduzir o custo do serviço, mas, por outro, diminuiria o volume transportado para cada porto, aumentando o custo de transporte. A competição teria o efeito desejado sobre os custos logísticos se fosse considerada em conjunto com a redução do conges-tionamento nos portos.

1 Vieira (2003, p. 83-84).

Bibliografia

Blonigen, B. A.; Wilson, W. W. New measures of port efficiency using international trade data. NBER Working Paper Series, n. 12052, 2006.

Heckman, J. Sample selection bias as a specification error.

Econo-metrica, 47, p. 153-161, 1979.

Pagan, A. Econometric issues in the analysis of regressions with generated regressors. International Economic Review, v. 25, n. 1, p. 221-47, 1984.

Vieira, G.B. B. Transporte internacional de cargas. São Paulo: Adu-aneiras, 2003.

(*) Universidade de São Paulo e REAL, Universidade de Illinois. E-mail: ehaddad@usp.br (**) Universidade de São Paulo. E-mail: rac_santos@hotmail.com

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Nas economias de mercado, uma das funções atri-buídas ao governo é a de suavizar o ciclo econômico. Isto é, o governo deve atuar de modo a evitar que as recessões enfrentadas pela economia sejam profun-das e que o crescimento da economia ocorra num ritmo forte demais a ponto de deflagrar um processo inflacionário. Assim, em períodos de recessão, a te-oria diz que o governo deve promover políticas de ampliação da demanda para incentivar o crescimento do produto, enquanto que em períodos de expansão o governo deve atuar na economia por meio de políticas contracionistas que, ao reduzirem a demanda por bens e serviços, procuram evitar um aumento generalizado do nível de preços.

Para desempenhar essa função o governo tem a sua disposição as políticas fiscal e monetária. Ambas afetam a demanda e, portanto, podem desempe-nhar o papel contracíclico necessário para suavizar as oscilações da economia, porém os seus efeitos se manifestam em velocidades diferentes. A política monetária é vista como rápida e com um impacto que permanece por um período mais curto. Já a política fiscal possui um impacto lento e, em geral, excessiva-mente duradouro. Além disso, após a década de 1960, com o debate da equivalência ricardiana,1 a política

fiscal passou a ser vista como de impacto incerto. O efeito da política fiscal depende da reação dos agentes econômicos, que agora depende das expectativas des-ses agentes no que diz respeito aos impactos futuros dessa política.

Como exemplo desse efeito incerto, considere que a economia esteja passando por uma recessão e que o governo, com o intuito de amenizar esse problema, implemente uma política fiscal expansionista, com

aumento dos gastos públicos sem o correspondente aumento dos impostos. Se a expectativa é de que esse aumento nos gastos é permanente, e que no futuro o governo aumente os impostos para equilibrar suas contas, as famílias podem reduzir o seu consumo, o que gera um efeito de contração e não expansão da demanda privada. Se, por outro lado, a expectativa é de que esse aumento é temporário, e de que o governo tem poupança suficiente para arcar com os custos des-sa ação, então o consumo das famílias não é afetado e a política alcança o seu objetivo expansionista. Entretanto, essas dificuldades com relação à política fiscal não devem ser interpretadas como argumento a favor do uso constante de políticas monetárias para suavização do ciclo econômico. Como coloca Wyplosz (2002), num paralelo extremamente interessante entre a política monetária e a política fiscal, os desafios com que ambas as políticas se defrontam são fundamental-mente similares. A política monetária, se adequada-mente conduzida, pode ter no curto prazo uma ação contracíclica importante, mas se mal usada pode gerar custos de longo prazo na forma de inflação. A política fiscal, por sua vez, pode no curto prazo desempenhar um papel importante na estabilização do produto, mas, se inadequada, no longo prazo pode levar a um comportamento não sustentável da dívida pública. Assim, há espaço para políticas fiscais que atenuem o ciclo econômico, e o grande desafio do governo é im-plementar estas políticas e ao mesmo tempo garantir a sustentabilidade da dívida pública.

No que diz respeito às atuações do governo na área fiscal, a prescrição normativa é de que as alíquotas de impostos e a razão gastos discricionários/PIB devem FabiaNa RoCHa (*)

aNa CaRoliNa giubeRti (**)

o comportamento da política fiscal

dos estados brasileiros diante do

ciclo econômico

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ser constantes ao longo do ciclo. O resultado dessa prescrição deveria ser a observância de um padrão contracíclico na política fiscal. Assim, durante um período de expansão da atividade econômica, os gas-tos do Governo como parcela do produto deveriam diminuir por conta dos estabilizadores automáticos, as receitas do Governo como parcela do produto deveriam aumentar (dadas as alíquotas constantes e algum grau de progressividade) e, conseqüentemen-te, os superávits como parcela do produto deveriam aumentar. O oposto deveria ocorrer nos períodos de redução da atividade econômica.

O resultado da prescrição normativa apresentado acima assume implicitamente que a reação da po-lítica fiscal às diferentes fases do ciclo econômico é simétrica, ou seja, que esta reação assume a mesma magnitude, independentemente da economia estar na fase recessiva ou de expansão do seu produto. No entanto, o governo pode estar interessado em evitar uma recessão, agindo nessa fase com uma política fiscal expansionista, mas não ter o interesse em frear a expansão da economia. Neste caso, diz-se que a po-lítica fiscal possui um comportamento assimétrico. Outro fator que deve ser considerado dentro da con-dução da política fiscal são as instituições orçamen-tárias. As instituições orçamentárias são as regras e regulamentos segundo os quais os orçamentos são preparados, aprovados e executados.2 Estas regras

limitam a ação do governo – no que diz respeito às alterações nos impostos e aumentos nos gastos –, redu-zem sua a habilidade de fazer políticas discricionárias e, portanto, de reagir ao ciclo econômico.

Essa discussão teórica sobre o comportamento da po-lítica fiscal levanta a questão de como os governos de fato se comportam diante do ciclo econômico. Rocha e Giuberti (2006) estudam esse tema para os Estados brasileiros. Em particular, procuram responder se essa prescrição normativa caracteriza o comporta-mento dos governos estaduais brasileiros, se existe assimetria na condução da política fiscal, e se a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) de fato limita a reação do governo às flutuações da economia. Embora os Estados estejam sujeitos aos eventos que ocorrem na

economia brasileira como um todo, a política fiscal estadual pode contribuir para o desempenho econô-mico de cada Estado em particular.

Antes da estimação do modelo, uma rápida análise nos dados fiscais dos Estados brasileiros mostra que até meados da década de 1990 o resultado orçamentário dos governos estaduais pode ser descrito como fraco, com sucessivos déficits fiscais e aumento do nível de endividamento. Essa situação fiscal deteriorada levou a uma crise financeira, que culminou, em 1997, com a interferência da União por meio refinanciamento das dívidas de 25 dos 27 Estados brasileiros.3

Apesar de o Programa de Refinanciamento e Ajuste Fiscal – como ficou conhecida a intervenção Federal – estabelecer contrapartidas para os Estados como metas para a dívida pública e para o resultado pri-mário, pode-se perceber que a melhora na contas públicas estaduais, com superávit primário e redução da dívida consolidada, na média, só ocorre a partir de 2000 (Gráfico 1).

gráfico 1 – saldo primário e dívida consolidada – média dos estados brasileiros, 1995-2003

-2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 R$ milhões de 2003

Saldo Primário Dívida

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional e Banco Central do Brasil. Elaborada pelas autoras.

No entanto, essa melhora no resultado primário não necessariamente está acompanhada de sucessivos e crescentes superávits primários. Embora, na média, os Estados tenham apresentado superávit em suas contas primárias após 2000, com uma pequena redu-ção do saldo apenas em 2002, o estudo de cada um dos Estados separadamente (ver Tabela 1 no final do texto) revela que, para o período citado, todos eles

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apresentaram flutuação no saldo primário com anos de queda que, no caso dos Estados do Rio de Janeiro, Amazonas, Goiás e Minas Gerais, por exemplo, se concretizaram em déficits.

O objetivo desta pequena análise do resultado primá-rio dos governos estaduais é destacar que apesar do aumento dos controles na condução da política fiscal proveniente das contrapartidas exigidas pelo refinan-ciamento da dívida e, principalmente, da promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal, o resultado fiscal não se mostrou nem constante nem crescente, mas sim com flutuações. Este desempenho das contas públicas abre espaço para a questão levantada anteriormente: este comportamento fiscal estaria ligado ao ciclo eco-nômico? E estaria atuando de modo a amortecer ou ampliar o ciclo?

Com o intuito de poupar o leitor, a derivação ma-temática e econométrica do modelo, que pode ser encontrada em Rocha e Giuberti (2006), não será apresentada. Entretanto, a idéia por traz do modelo é que o resultado primário do governo no período atual é determinado por três fatores: a dívida consolidada do governo, acumulada até o período anterior; o resul-tado primário do período anterior; e os efeitos sobre o resultado primário do hiato do PIB. O hiato do PIB é a diferença entre o PIB observado e o PIB potencial da economia e está dividido em hiato positivo e hiato ne-gativo, para captar a possível assimetria na condução da política fiscal. Se os impactos de cada hiato foram negativos, então a política fiscal dos Estados reage de modo pró-cíclico. Visto a partir do hiato positivo, um aumento do hiato significa que a economia está na fase de expansão do ciclo e o impacto negativo sobre o resultado primário significa que o governo está promovendo uma política fiscal expansionista. Em termos do hiato negativo, o seu aumento indica que a economia está entrando em recessão, e o sinal negativo desse hiato combinado com o impacto nega-tivo sobre o resultado primário indica que a política do governo é contracionista. Se ambos os impactos forem positivos, a reação é anticíclica. Além disso, se esses impactos possuírem magnitudes diferentes, a política pode ser considerada assimétrica.

Os resultados estimados para o período de 1997 a 2003 mostram que a política fiscal dos Estados brasileiros é pró-cíclica. Além disso, a política é assimétrica ao longo do ciclo, sendo mais frouxa nas expansões eco-nômicas. Na fase de crescimento econômico, a política fiscal dos governos estaduais é expansionista e sua magnitude é maior do que a política fiscal contracio-nista que é implementada na fase de recessão. Quando as regras orçamentárias são consideradas e a LRF é introduzida no modelo, percebe-se que houve uma alteração na condução da política fiscal dos Estados. O efeito da LRF sobre o saldo primário é positivo. Já a política fiscal é pró-cíclica e assimé-trica apenas antes da Lei. Após a sua promulgação, o comportamento fiscal apresenta indícios de ser anticíclico, com os impactos tanto do hiato positivo quanto do hiato negativo maiores do que zero. En-tretanto, ambos são insignificantes do ponto de vista estatístico, o que indica que o ciclo econômico perdeu o seu efeito sobre a política fiscal. Do mesmo modo, não há diferença significativa entre os impactos dos hiatos, fazendo com que o comportamento fiscal não seja considerado assimétrico. Percebe-se, assim, que a LRF significou um benefício para a política fiscal, uma vez que o comportamento pró-cíclico atua no sentido de exacerbar o ciclo econômico.

A dívida consolidada influi no resultado antes e pois da Lei. No primeiro modelo, o efeito da dívida de-fasada sobre o saldo primário é positivo e significante, o que indica que um aumento da dívida melhora o saldo. No segundo modelo esse resultado permanece, porém com magnitudes diferentes antes e depois da LRF: após a Lei o efeito é menor. Esse resultado indica que a política fiscal contribui para uma estabilização da dívida e não pela sua acumulação.

Uma futura extensão do referido trabalho deve envolver a avaliação das receitas e despesas separa-damente para que se possa ter uma melhor distinção das reações automáticas e discricionárias da política fiscal ao ciclo. Mais ainda, deve considerar o papel que arranjos institucionais teriam no sentido de permitir que sejam combinados com credibilidade os

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compro-outubro de 2006

missos de longo prazo com a flexibilidade requerida no curto prazo para que a estabilização do produto seja alcançada.

1 A equivalência ricardiana argumenta que a política fiscal ex-pansionista, com corte temporário nos impostos, sem redução do gasto público, não eleva a demanda das famílias por bens e serviços. Isto porque este corte temporário nos impostos gera hoje, necessariamente, um aumento equivalente dos impostos no futuro para pagar a dívida resultante dessa política. Como as famílias sabem deste efeito e decidem o quanto consumir com base na sua renda permanente, o resultado é o ajuste na poupança e não a quantidade consumida.

2 Alesina e Perotti (1996, p. 2).

3 O Programa de Refinanciamento e Ajuste Fiscal assumiu e refi-nanciou a dívida mobiliária e outras constituídas até 31 de março de 1996 dos Estados, exceto Tocantins e Amapá, que não assinaram o acordo, e do Distrito Federal. O resultado foi a redução do saldo devedor da dívida financeira dos entes citados por meio do alongamento do prazo de pagamento, redução dos encargos financeiros incidentes e/ou concessão de subsídio.

Referências

Alesina, A.; Perotti, R. Budget deficits and budget institutions. National Bureau of Economic Research, Working Paper n. 5556, Cambridge, 1996.

Rocha, F.; Giuberti., A. C. Assimetria cíclica na política fiscal dos

Es-tados brasileiros. Artigo aceito no XXXIV Encontro Nacional de

Economia, ANPEC, 2006.

Wyplosz, C. Fiscal policy: rules versus institutions? CEPR Discussion

Paper n. 3238, 2002. Disponível em: www.cepr.org/pubs/dps/

DP3238.asp. [consultado em 10/10/2006].

tabela 1– resultado primário – R$ milhões de 2003

Estado 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 AC -20,3 -59,0 -94,3 114,1 101,8 68,3 87,9 AL 342,3 353,7 -7,8 53,6 341,1 403,8 140,7 AM 317,3 -179,0 195,8 374,9 -268,5 142,9 179,9 AP 12,0 49,6 56,2 145,1 69,3 5,6 11,7 BA -917,0 -4970,8 -267,0 551,2 227,0 688,8 477,5 CE -339,4 -976,8 -1482,0 -91,0 -89,2 40,8 221,5 DF -207,7 -114,9 160,9 129,9 263,8 155,2 101,8 ES -628,7 -1163,6 -323,0 166,3 349,6 171,1 378,8 GO -425,0 -1490,2 -843,6 315,7 -808,3 321,5 552,2 MA 560,2 532,2 -297,6 588,0 106,8 204,7 42,1 MG 34,0 -7604,2 1751,2 381,1 -58,5 -1081,7 1129,0 MS -118,2 -428,1 171,5 17,3 176,2 179,1 43,7 MT 27,6 -642,6 374,9 209,9 454,5 125,1 412,1 PA -91,2 -605,5 -224,5 220,9 213,4 141,6 113,0 PB 85,5 -16,3 24,7 162,7 -104,9 -42,0 61,4 PE 43,5 -2837,6 -96,4 -508,1 -237,8 -82,8 308,4 PI 52,3 86,3 117,5 262,6 207,7 54,2 -220,4 PR -2537,8 -6015,6 -8882,8 -1365,5 572,5 602,2 752,6 RJ -4921,5 -5288,4 -2312,2 137,1 -775,2 264,9 1847,9 RN -275,6 -1101,7 -6,6 98,6 80,6 57,4 70,4 RO -37,7 -1162,4 41,9 114,6 133,3 40,1 147,8 RR -5,3 24,5 28,5 -38,8 -44,0 150,0 -47,0 RS -2675,5 -7509,0 -634,9 -888,1 -305,4 407,3 504,9 SC 178,7 -286,0 32,4 -664,1 628,6 -898,7 -408,0 SE -233,4 -699,5 -113,7 139,8 159,4 160,3 81,6 SP -11125,3 988,1 952,8 2565,6 4014,6 2681,2 3251,5 TO -71,5 16,4 105,7 203,0 221,4 -54,2 -68,8 Total -22977,8 -41100,3 -11572,4 3396,2 5630,0 4906,4 10174,4 Média -851,0 -1522,2 -428,6 125,8 208,5 181,7 376,8

Fonte: Execução Orçamentária dos Estados - Secretaria do Tesouro Nacional Elaborada pelas autoras.

(*) Professora Titular do Departamento de Economia da FEA-USP. E-mail: frocha@usp.br (**) Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: anagiuberti@yahoo.com.br

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outubro de 2006

Realizou-se em 9 de setembro passado, em Novoe Ogarevo, residência de verão do Presidente Putin, o terceiro encontro anual dele com participantes do Clube Valtai de Discussão, composto por acadêmicos, pesquisadores e jornalistas estrangeiros. Este encon-tro foi organizado pela agência russa de notícias Ria

Novosti, pelo Conselho de Política Externa e de Defesa

(órgão não estatal) e pelas publicações Moscow Times,

Rússia Profile e Rússia in Global Affairs e teve como tema Energia global: o papel e o lugar da Rússia.

O tema não foi escolhido por acaso. Por um lado, a segurança energética foi objeto central da pauta proposta pela Rússia para a reunião do G-8 realizada em São Petersburgo, sob a presidência da mesma. Por outro lado, está havendo muita discussão a respeito do assunto nos círculos ocidentais, diante da atua-ção mais agressiva da Rússia no mercado energético internacional, particularmente nos de petróleo e gás natural. Os argumentos basicamente se remetem à suspensão temporária do fornecimento de gás à Ucrânia, em fevereiro deste ano, diante dos impasses surgidos no processo de negociação comercial entre os dois países, que resultou em suspensão do supri-mento de gás natural à Europa Ocidental, em pleno inverno. Mas não se trata somente disso, embora o fato tenha ressaltado a dependência européia ocidental da energia russa.

O foco central do tema é efetivamente a maior as-sertividade da Rússia no cenário internacional, por meio de uma política assentada na avaliação do papel estratégico que o domínio do petróleo e do gás natural lhe confere neste cenário. Na imprensa ocidental, e até mesmo na pergunta dirigida a Putin por um dos participantes da reunião acima referida, atribui-se à Rússia a aspiração de “superpotência” energética. Esta idéia foi rejeitada por Putin como predisposição

anti-russa, por sua propositada associação com a an-tiga URSS; e das respostas por ele dadas às demais questões que lhe foram dirigidas, pode-se traçar, em linhas gerais, a direção da política energética seguida pelo país.

Em primeiro lugar, esta política se assenta na avaliação de que a energia fóssil deve continuar constituindo a fonte principal de energia no mundo durante os próximos 30-40 anos, talvez um pouco mais, ao lado da energia nuclear. Com referência à segurança ener-gética, a percepção é a de que energia é uma questão sensível na política internacional, especialmente por causa da situação do Oriente Médio e do programa nuclear do Irã. Como conseqüência, o mundo tem interesse em assegurar um fornecimento estável de energia da Rússia. Neste particular, a discussão gira em torno da não adesão da Rússia à Carta Européia de Energia. Segundo Putin, a Rússia tem interesse não somente em produção estável, mas também em consumo estável e transporte. Para isso seria neces-sário que os consumidores assinassem contratos de compra de longo prazo, de maneira a assegurar que a capacidade propiciada por novos investimentos fosse efetivamente ocupada com o suprimento da demanda. Ao mesmo tempo, a Rússia não concorda com os itens da Carta que demandam liberalização do transporte de energia na Europa e a entrada de capitais estrangeiros na produção e transporte de energéticos. No primeiro caso, ter-se-ia, segundo o presidente russo, inúmeros trechos nas diversas ro-tas de transporte, cedidos a diferentes exploradores dessa atividade, os quais, intermediando as transações entre os produtores e os consumidores, levariam à especulação de preços e à redução da remuneração do investimento do produtor. No segundo caso, a Rússia já tem trabalhado com o capital estrangeiro e está dis-posta a continuar fazendo isto. Entretanto, pergunta leNiNa PoMeRaNz (*)

o papel da energia no projeto

de potência da Rússia

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outubro de 2006

Putin: o que a Rússia receberá em troca? O país deseja utilizar os recursos da exportação de energia na im-portação de tecnologia avançada, para o seu projeto de desenvolvimento, mas tem encontrado restrições às suas empresas no mercado internacional. As listas de produtos com conteúdo tecnológico do COCOM foram substituídas por outras listas de produtos, cuja exportação para a Rússia está sujeita a restrições. Por outro lado, as importações de combustível nuclear da Rússia pelos USA estão sujeitas à tarifa de 116% e só pode ser feita por meio da US Enrichment Corpora-tion. Assim, o que a Rússia demanda não é um status de superpotência, mas igualdade de condições para suprir o mercado de combustível nuclear e a possibi-lidade de participar da definição de regras comuns para o setor energético na economia mundial. A Rússia, por sua vez, tem ciência da busca de substi-tutos da energia fóssil, inclusive por razões vinculadas ao meio ambiente, e vem desenvolvendo, por meio de empresas e da Academia de Ciências, a energia de hidrogênio e a energia nuclear. É meta do país passar dos 16% atuais de participação da energia nuclear na sua matriz energética para 20%-25% nos próximos 15-20 anos.

A Rússia pretende direcionar seus esforços para a re-gião da Ásia – Pacífico de um modo geral, mas, no que concerne à energia, pretende aumentar a exportação de petróleo, para a região, dos 3% de suas exportações totais atuais, para 30% em 10-15 anos, indo nesta di-reção os investimentos na exploração do petróleo na Sibéria Oriental.

À parte as linhas gerais acima, extraídas das respostas do presidente Putin, cabe examinar como são opera-cionalizadas e de que modo a elas reagem analistas ocidentais. Começando pelo fim, parece evidente que há um receio generalizado no Ocidente de uma dependência energética da Rússia e da utilização deste fato para chantagem política, particularmente nos países da antiga URSS, os mais dependentes. De fato, examinando-se a produção de petróleo da Rús-sia,1 observa-se que ela foi a segunda maior produtora

mundial em 2005 (12,1% do total), só superada pela Arábia Saudita (13,5%), e alcançando quase o total

pro-duzido pelos três países da América do Norte (16,5%). Não há dados disponíveis para a exportação da Rússia isoladamente, na fonte consultada. O total exportado pela ex-URSS também ocupou o segundo lugar nas exportações mundiais do produto (14,2%),2 somente

atrás dos países do Oriente Médio (45,8%). No que diz respeito ao gás natural, a Rússia, dispondo de mais de um quarto das reservas disponíveis, foi a maior produtora mundial nesse ano (21,6% do total), seguida pelos USA (19%) e pelo Canadá (6,7%). Na Europa, os três países produtores responsáveis por parte consi-derável do abastecimento do produto no continente, Holanda, Noruega e Grã Bretanha, responderam por 2,3%, 3,1% e 3,2% do total mundial produzido em 2005. As exportações russas responderam por 28,4% das exportações mundiais, sendo a Europa Ocidental o seu maior mercado (63,46%), especialmente a Ale-manha (24,16%), que importou da Rússia 40,29% do gás total por ela importado. Na Europa Oriental,3 que

importou 18,67% do gás russo, a dependência desse suprimento é muito elevada: em 2005, a importação de gás da Rússia respondeu por 76,89%, 100%, 62,58% e 75,21% do gás total importado respectivamente pela Hungria, Eslováquia, Polônia e República Tcheca. Os números falam por si, sabendo-se, como frisou o presidente Putin, da situação no Oriente Médio. Mas não se trata somente de números.

O setor energético russo é basicamente conduzido pelo Estado, que o considera estratégico para sua afirmação no cenário internacional. O instrumento para isso são empresas estatais, a Rosneft e a Gaz-prom, respectivamente produtoras de petróleo e gás natural, ainda que com participação cruzada minori-tária de gás e petróleo, respectivamente. Rosneft, uma empresa estatal relativamente pequena, passou a ser dominante no setor após a liquidação da Yukos, da qual ficou com o espólio mais importante, a Yugangs-neftegaz. Ambas atuam agressivamente no mercado internacional; além do estabelecimento de joint

ven-ture com a empresa alemã, para a construção de um

gasoduto submarino para transporte do gás russo diretamente à Alemanha, através do mar Báltico, para tangenciar os problemas existentes com a Belarus e a Polônia, a Gazprom revelou interesse pela aquisição de empresas distribuidoras de gás no mercado

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