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Visão da sustentabilidade empresarial: um estudo em pequenas e médias empresas industriais de Ijuí

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO GESTÃO EMPRESARIAL

ROSELI FISTAROL KRÜGER

VISÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: um estudo em pequenas e médias empresas industriais de Ijuí

IJUÍ 2016

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ROSELI FISTAROL KRÜGER

VISÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: um estudo em pequenas e médias empresas industriais de Ijuí

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa

Gestão Empresarial, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Profa. Dra. Adm. Denize Grzybovski

IJUÍ 2016

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K94v Krüger, Roseli Fistarol.

Visão da sustentabilidade empresarial: um estudo em pequenas e médias empresas industriais de Ijuí / Roseli Fistarol Krüger. – Ijuí, 2016. –

157 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Denize Grzybovski ”.

1. Práticas de gestão. 2. Sustentabilidade empresarial. 3. Pequenas e médias empresas. 4. Dimensões de sustentabilidade. 5. Sensemaking I. Grzybovski, Denize. II. Título. III. Título: Um estudo em pequenas e médias empresas industriais de Ijuí.

CDU: 658

Catalogação na Publicação

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

VISÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: UM ESTUDO EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS INDUSTRIAIS DE IJUÍ

elaborada por

ROSELI FISTAROL KRÜGER

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Denize Grzybovski (UNIJUÍ): _________________________________________

Profa. Dra. Enise Barth Teixeira (UFFS): __________________________________________

Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

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DEDICATÓRIA

Aos meus amores: Davi, Luís e Rodrigo. E a todos que acreditam num mundo melhor.

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A Deus, por ter me proporcionado tudo o que tenho hoje: amor, paz, saúde, família, amigos, dinheiro...

A minha família, pelas horas felizes que vivemos juntos, pela compreensão e amor dedicados a mim hoje e sempre.

À Professora Denize Grzybovski, pela paciência, dedicação e incentivo ao estudo escolhido por mim.

À Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, pela bolsa de estudos concedida.

Aos professores doutores Sandra Beatriz Vicenci Fernandes, Jorge Oneide Sausen, Dieter Rugard Siedenberg, David Basso, Sergio Luís Allebrandt, Gerd Wassenberg (Alemanha), Martin Coy (Áustria), Lurdes Froemming e Martinho Luís Kelm, pelos ensinamentos.

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“Man has lost the capacity to foresee and to forestall. He will end by destroying the earth.” (Albert Schweitzer)

"O homem perdeu a capacidade de prever e prevenir. Ele acabará destruindo a terra". (Tradução livre)

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O objetivo do presente estudo foi apresentar um modelo analítico que demonstra a visão da sustentabilidade empresarial, investigando os gestores de pequenas e médias empresas industriais de Ijuí (RS). Com base na teoria do desenvolvimento sustentável, o estudo foi desenvolvido pela corrente da sustentabilidade empresarial. Trata-se de uma pesquisa social aplicada e orientada pelo paradigma interpretativista e desenvolvida nos níveis exploratório e descritivo. O método de investigação proposto foi construído a partir do estudo de modelos de mensuração da sustentabilidade empresarial já existentes, que gerou um roteiro para entrevistas, observação simples e pesquisa documental. A abordagem dos dados, por sua vez, foi qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram os gestores responsáveis pelos processos administrativo, ambiental e produtivo. Quanto aos dados, foram categorizados e analisados de acordo com as dimensões ambiental, social e econômica da sustentabilidade empresarial. As análises revelaram o posicionamento da empresa frente às dimensões da sustentabilidade e contribuíram para compreender o processo de formação da visão da sustentabilidade empresarial e as formas de priorização utilizadas no processo decisório. A visão dominante e as ações dos gestores seguem os preceitos da abordagem extremista econômica, em que a lógica decisória influente é evolucionária e instrumental. Ambos são representados pelos princípios e objetivos econômicos neoclássicos do crescimento econômico e do lucro, cujo enfoque reforça os ganhos financeiros no curto prazo para os investimentos realizados nas esferas social e ambiental. Com isso, foi apresentado o modelo analítico da visão da sustentabilidade empresarial das Pequenas e médias empresas industriais de Ijuí/RS (PMEIs). Outras contribuições deste estudo podem ser atribuídas à constituição do modelo analítico decisório atual e a proposição de um modelo analítico decisório que leva em consideração a abordagem integrativa, a perspectiva temporal e os trade-offs do processo decisório. Salienta-se que este modelo tem por objetivo contribuir para o debate sobre a criação de Salienta-sentido (sensemaking) nos temas relacionados à sustentabilidade empresarial, somados à importância da adesão e integração por parte dos atores sociais, governamentais e mercadológicos na perspectiva dos três pilares.

Palavras-chave: Sustentabilidade empresarial. Dimensões da sustentabilidade. Práticas de gestão. Pequenas e médias empresas. Sensemaking.

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The objective of the present study was to show an analytical model that demonstrates the vision of corporate sustainability, investigating the managers of small and medium industrial companies from Ijuí (RS). Based on the theory of sustainable development, the study was created by the chain of business sustainability. It is an applied social research oriented by the interpretative paradigm and developed at the exploratory and descriptive levels. The proposed method was based on the study of existing models of business sustainability measurement, which, after the analysis, resulted in a new itinerary for interviews, simple observation and documentary research with a qualitative approach. The subjects selected for the survey are the managers responsible for the processes that involve the economic, social and environmental dimensions of the companies that joined this study. The data were categorized and analyzed based on identified occurrences, resulting in the dimensional location that represents the analytical model of managers' view on sustainability of industrial companies. The dimensional location reveals the company's positioning in relation to the dimensions of sustainability and allows to understand the process of forming the vision of corporate sustainability and the forms of prioritization used in the decision-making process. The results revealed that the dominant view and the actions of managers follow the precepts of the economic extremist approach, and that the influential decision logic is evolutionary and instrumental. Both are represented by the neoclassical economic principles and objectives of economic growth and profit, whose focus reinforces short-term financial gains for social and environmental investments. With this, the analytical model of the business sustainability vision of PMEIs was presented. Other contributions of this study can be attributed to the constitution of the current decision-making analytical model and the proposition of an analytical decision-making model that takes into account the integrative approach, the time perspective and the trade-offs of the decision-making process. This model aims to contribute to the debate about the creation of meaning (sensemaking) in the themes related to corporate sustainability, together with the importance of adhesion and integration by the social, governmental and market actors from the perspective of the three pillars.

Keywords: Business sustainability. Dimensions of sustainability. Management practices. Small and medium enterprises. Sensemaking.

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Quadro 1 – Estrutura do questionário usado pela BM&FBOVESPA 2015/2016. ... 42

Quadro 2 – Estrutura das dimensões, critérios e indicadores BM&FBOVESPA. ... 44

Quadro 3 – Aspectos positivos e negativos dos modelos de sustentabilidade empresarial ... 52

Quadro 4 – Critérios de seleção das empresas. ... 56

Quadro 5 – Classificação de porte de empresa adotada pelo BNDES. ... 57

Quadro 6 – Formulário para definição do perfil do gestor. ... 58

Quadro 7 – Perfil dos gestores entrevistados na pesquisa. ... 58

Quadro 8 – Fases da coleta de dados. ... 59

Quadro 9 – Elementos para observação simples. ... 59

Quadro 10 – Dimensões e categorias analíticas. ... 62

Quadro 11 – Visão da sustentabilidade empresarial na EOK. ... 69

Quadro 12 – Práticas da sustentabilidade empresarial na EOK. ... 75

Quadro 13 – Visão da sustentabilidade empresarial na ECM. ... 83

Quadro 14 – Práticas da sustentabilidade empresarial na ECM. ... 92

Quadro 15 – Visão da sustentabilidade empresarial na EIM... 100

Quadro 16 – Práticas da sustentabilidade empresarial na EIM. ... 108

(11)

Figura 1 – Vertentes da sustentabilidade. ... 17

Figura 2 – Forças da gestão empresarial na perspectiva da responsabilidade socioambiental. 18 Figura 3 – Representações gráficas da sustentabilidade. ... 47

Figura 4 – Etapas para operacionalização do GSE. ... 48

Figura 5 – Processo evolutivo da sustentabilidade empresarial. ... 53

Figura 6 – Representação dimensional da sustentabilidade empresarial. ... 61

Figura 7 – Visão do gestor da EOK sobre a sustentabilidade empresarial. ... 77

Figura 8 – Representação dimensional da sustentabilidade empresarial na EOK. ... 78

Figura 9 – Visão do gestor da ECM sobre a sustentabilidade empresarial. ... 94

Figura 10 – Representação dimensional da sustentabilidade empresarial na ECM. ... 94

Figura 11 – Visão do gestor da EIM sobre a sustentabilidade empresarial. ... 110

Figura 12 – Representação dimensional da sustentabilidade empresarial na EIM. ... 111

Figura 13 – Representação dimensional da sustentabilidade empresarial nas PMEIs. ... 112

Figura 14 – Dispersão das coocorrências das narrativas dos gestores das PMEIs Ijuí/RS. ... 116

Figura 15 – Modelo analítico da visão da sustentabilidade em PMEIs de Ijuí/RS. ... 120

Figura 16 – Modelo analítico do processo decisório dos gestores das PMEIs de Ijuí/RS. .... 121

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CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNI Confederação Nacional da Indústria COP Conferência das Partes

DNPI Departamento Nacional da Propriedade Industrial ECM Segunda Empresa pesquisada

EIM Terceira Empresa Pesquisada EOK Primeira Empresa pesquisada

EPI Equipamento de Proteção Individual DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

IPCC Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial

GRI Global Reporting Initiative

GSE Grid de Sustentabilidade Empresarial MTE Ministério do Trabalho e Emprego PMEIs Pequenas e médias empresas industriais

RIO Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável SIPAT Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho

SMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente TBL Triple Bottom Line

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INTRODUÇÃO ... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 29

2.1 Desenvolvimento sustentável ... 29

2.2 Sustentabilidade empresarial ... 34

2.2.1 Aspectos conceituais ... 34

2.2.2 Modelos de mensuração da sustentabilidade empresarial ... 40

3 METODOLOGIA ... 55

3.1 Classificação e delineamento da pesquisa ... 55

3.2 Objeto de estudo ... 56

3.3 Sujeitos da pesquisa ... 58

3.4 Coleta de dados ... 59

3.5 Análise e interpretação de dados ... 60

4 APRESENTAÇÃO DOS CASOS ... 63

4.1 Empresa industrial EOK ... 64

4.1.1 Origem e evolução histórica ... 64

4.1.2 Discurso sobre a visão da sustentabilidade ... 65

4.1.3 Práticas de sustentabilidade empresarial ... 70

4.1.4 Sustentabilidade empresarial na EOK ... 76

4.2 Empresa industrial ECM ... 78

4.2.1 Origem e evolução histórica ... 78

4.2.2 Discurso sobre a visão da sustentabilidade ... 79

4.2.3 Práticas de sustentabilidade empresarial ... 84

4.2.4 Sustentabilidade empresarial na ECM ... 93

4.3 Empresa industrial EIM ... 95

4.3.1 Origem e evolução histórica ... 95

4.3.2 Discurso sobre a visão da sustentabilidade ... 97

4.3.3 Práticas de sustentabilidade empresarial ... 101

4.3.4 Sustentabilidade empresarial na EIM... 109

5 VISÃO E PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL ... 112

CONCLUSÕES ... 125

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APÊNDICE A – Instrumento para coleta das informações sobre sustentabilidade ... 137

APÊNDICE B – Roteiro para coleta de informações sobre a empresa. ... 141

APÊNDICE C – Lista de empresas industriais ijuienses cadastradas na FIERGS. ... 142

APÊNDICE D – Lista de empresas industriais selecionadas para o estudo ... 144

ANEXO I – Instrumento de coleta de dados de Callado (2010). ... 146

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Sustentabilidade empresarial é tema do campo de estudos do desenvolvimento e se apresenta com diferentes abordagens teóricas, como a extremista econômica, ambiental e a integrativa (MUNCK, 2015), contudo ainda há carências metodológicas na investigação empírica. Pesquisadores e organizações têm adaptado modelos de análise da sustentabilidade para compreender a gestão da sustentabilidade nas organizações (PEREIRA et al., 2011), mas a predominância está no enfoque individual e utilitarista a partir de pesquisas qualitativas (MUNCK, 2015). As reflexões sobre os aspectos subjacentes à sustentabilidade empresarial, como a visão de gestores, ainda é incipiente frente aos demais aspectos já pesquisados a respeito do tema (MUNCK, 2015).

O tema sustentabilidade é relevante nos estudos organizacionais, pois o cenário empresarial, no que se refere às questões sociais e ambientais de forma combinada, requer aprofundamentos teóricos desde o momento em que a sociedade reconheceu que não bastava somente responsabilidade econômico-financeira do empreendimento (DONAIRE, 1999; LEMME, 2010; ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010; BARBIERI, 2011), o que tornou necessário contemplar as dimensões social e ambiental dessa responsabilidade (MUNASINGHE, 2007; ELKINGTON, 1997, 2012) e compreender o processo de formação da visão empresarial sobre a sustentabilidade.

Há avanços expressivos na proliferação de padrões de sustentabilidade, mas ainda preponderam questões territoriais e limitações às ações legalistas que, em grande medida, estão ligadas às atividades das empresas industriais de maior porte e em algumas políticas públicas (PIRES; FIDÉLIS; RAMOS, 2014). É necessário aprofundar as pesquisas nas questões que tangenciam o debate central e que contribuem para o processo organizador do pensamento gerencial no processo decisório acerca da sustentabilidade, considerando os trade-offs1. A existência de um comprometimento real por parte dos empresários das pequenas e médias empresas industriais (PMEIs) pode ser compreendido por meio da visão da sustentabilidade empresarial.

1 O trade-off considera que sempre haverá perdas ao se balancear as decisões sobre investimentos envolvendo os

três pilares, mas que podem ser estrategicamente gerenciadas. Para que aconteça o trade-off, deve-se conhecer os lados positivos e negativos das suas oportunidades.

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A influência de interesses paradoxais, abordagens conceituais, perspectivas decisórias e a produção de sentido ou sensemaking2 da gestão, constituem o framework para a gestão empresarial que ampara o gestor na busca de melhor desempenho, com investimentos nas dimensões econômica, social e ambiental (MUNCK, 2015).

Esta dissertação argumenta sobre a questão da sustentabilidade nas PMEIs, contextualizando sobre a visão de empresários no que se refere à sustentabilidade e sua interação com o meio empresarial. O estudo se insere no enfoque dos aspectos subjacentes da sustentabilidade empresarial descritos por Munck (2015), tendo em vista que os demais enfoques, o instrumental e o de impactos das ações sustentáveis, estão consolidados na literatura nacional e internacional.

Sustentabilidade empresarial é um tema que remete o pensar para um discurso iniciado na década de 1960, pela perspectiva teórica da responsabilidade socioambiental. Passadas cinco décadas, a demanda da sociedade pelo “Nosso Futuro Comum”, presente no Relatório Brundtland (BRUNDTLAND, 1987)3 e os escritos de Sachs (2009) impõem aprofundamento do debate em todas as instâncias da sociedade no contexto contemporâneo, contemplando a realidade empresarial. Por essa razão, na presente dissertação de mestrado, a ênfase temática recai sobre a visão dos gestores e as práticas que a representam na gestão da sustentabilidade em pequenas e médias empresas industriais (PMEIs).

Nos anos 1970, o conceito de responsabilidade social (DONAIRE, 1999) e a dimensão ambiental (CORAZZA, 2003) ampliaram o espaço na reflexão crítica do desenvolvimento das empresas, contemplando as dimensões econômica e social. Valores, crenças e formas de interpretar e responder às questões ambientais, via gestão empresarial, passaram a compor a pauta das ações estratégicas, em especial nas indústrias. Novas funções na estrutura organizacional foram incorporadas às tradicionais, como as funções “responsáveis pelo meio ambiente” e “responsável ambiental” (CORAZZA, 2003). Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas, ocorrida em Estocolmo, as discussões internacionais sobre sustentabilidade se tornaram mais evidentes e a questão ambiental foi introduzida na agenda internacional (SACHS, 2009; ARAGÃO, 2010).

Em 1987, o Relatório Brundtland difunde a ideia de desenvolvimento sustentável (ALBUQUERQUE, 2009; ARAGÃO, 2010; BURSZTYN; BURSZTYN, 2013) ao trazer o imperativo da dimensão ambiental como atributo indissociável da “busca de felicidade”

2 Significa “criação de sentido”, ou seja, geração de significados que possam ser valiosos para os indivíduos e,

consequentemente, para as organizações (WEICK; SUTCLIFFE; OBSTFELD, 2005).

(17)

(SACHS, 2009), em sintonia com o princípio da perenidade da vida e com o compromisso de todos em manter as condições de vida na terra para as futuras gerações (SACHS, 2009).

Os anos de 1990 marcaram uma nova fase histórica no desenvolvimento do tema, com a introdução progressiva da perspectiva da sustentabilidade nos discursos e práticas de gestão, com a propagação dos engajamentos coletivos, com a interação entre as áreas pública e privada nas escolhas dos instrumentos de políticas ambientais e com o maior envolvimento da sociedade civil organizada para este fim (DONAIRE, 1999; CORAZZA, 2003; ALBUQUERQUE, 2009). Em 1992 acontece a Rio 92, que foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, 20 anos depois da primeira Conferência das Nações Unidas, realizada em 1972 (SACHS, 2009; ALBUQUERQUE, 2009; BURSZTYN; BURSZTYN, 2013), cujo propósito foi debater formas de desenvolvimento sustentável, conceito relativamente novo para a época.

O debate sobre sustentabilidade surgiu de forma mais elaborada ao final do Século XX (BURSZTYN; BURSZTYN, 2013), com sua inclusão e proliferação do debate na mídia, na academia, nas atividades produtivas, nas representações corporativas e na opinião pública em geral. Assim, a ideia de sustentabilidade se tornou constante no pensar das pessoas em todas as instâncias da sociedade (ARAGÃO, 2010; BURSZTYN; BURSZTYN, 2013), mas sua origem está na Biologia, por meio da Ecologia, referindo-se à capacidade de recuperação e reprodução dos ecossistemas (resiliência), ou na Economia, como adjetivo do desenvolvimento (NASCIMENTO, 2012), conforme representado na Figura 1.

Figura 1 – Vertentes da sustentabilidade.

Fonte: A autora. SUSTENTABILIDADE Vertente 1 Biologia Ecologia Capacidade de recuperação e reprodução dos ecossistemas

em face ao uso abusivo dos recursos naturais

Vertente 2 Economia Desenvolvimento

Sustentável

Adjetivo do desenvolvimento em face da percepção crescente de

que o padrão de produção e consumo em expansão no mundo, não tem possibilidade de perdurar.

(18)

Em 2002, já no decorrer no Século XXI, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Cúpula da Terra – Rio+10), na reunião realizada em Johannesburgo, na África do Sul, lançou dois documentos importantes sobre sustentabilidade (ANDRADE; CÂMARA, 2012). Esses documentos estavam relacionados à preocupação com a qualidade de vida e a preservação do meio ambiente, a qual foi consolidada na Declaração Política e no Plano de Implementação da Agenda 21 (TINOCO; KRAEMER, 2011).

Na década 2010, observa-se a intensificação de estudos acadêmicos sobre sustentabilidade, com vistas a propor um novo modelo de gestão empresarial que contemple o tripé da sustentabilidade, considerando o core business, as particularidades e modificações necessárias no âmbito estratégico, nos processos produtivos e nos valores corporativos, buscando atender à alteração no padrão de consumo e nas decisões políticas (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008; ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010; CALLADO, 2010; ANTUNES, 2011; ELKINGTON, 2012).

Em relação aos modelos de gestão empresarial sustentável, Martens et al. (2014) constataram que os investimentos das empresas na implementação do modelo triple bottom line (TBL) representam um comprometimento real com a sustentabilidade, cuja relação é explicada pelo indicador de liquidez corrente. Assim, a gestão empresarial volta sua atenção à responsabilidade socioambiental, na qual as preocupações dos empresários são influenciadas por três conjuntos de forças que interagem entre si (governo4, sociedade e mercado) (DONAIRE, 1999; DIAS, 2006; BARBIERI, 2011), como representado na Figura 2.

Figura 2 – Forças da gestão empresarial na perspectiva da responsabilidade socioambiental.

Fonte: A autora.

4 O significado de governo é entendido como Estado no sentido de instituição.

Estado

Sociedade Mercado

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O principal desafio dos estudos sobre a sustentabilidade é o comprometimento com a efetividade dos resultados futuros (CALLADO, 2010; ANTUNES, 2011), com práticas que alteram as bases de valor para escolhas futuras, essenciais aos pilares econômico, social e ambiental, as quais implicam em interesses paradoxais, trade-offs, perspectivas relacionais e temporais entre a perspectiva econômica de curto prazo e as perspectivas sociais e ambientais realizáveis no médio e longo prazo (MUNCK, 2015).

Nesse sentido, a RIO+20, que aconteceu em 2012, destacou dois temas principais: a economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável (RIO+20, 2012). Como resultado prático deste debate, os relatórios de sustentabilidade emitidos em mais de 60 países seguem as diretrizes estabelecidas pela Global Reporting Initiative (GRI) (BITARELLO, 2012)5. Somam-se estas discussões ao trabalho desenvolvido por Souza e Ribeiro (2013), que trata da evolução do número de artigos publicados em periódicos brasileiros de Administração com Qualis6 A1 a B2 sobre sustentabilidade ambiental entre os anos de 1992 e 2011.

Segundo Souza e Ribeiro (2013), os anos 1992, 1993 e 1995 foram atípicos em razão do volume de publicações induzidas por chamadas editoriais. Nos anos 1992 e 1993 foi identificado um número significativo de artigos publicados em edições exclusivas sobre o tema em periódicos importantes, num esforço dos editores para dar maior visibilidade ao debate realizado na RIO-92. O mesmo fenômeno ocorre no ano 1995, em razão da realização da COP1. Para selecionar os artigos, foi realizada a leitura de 7.368 títulos das revistas investigadas, desse total, foram encontrados apenas 396 artigos que tratam de temas relacionados à sustentabilidade ambiental (SOUZA; RIBEIRO, 2013).

De acordo com Munck (2015), as pesquisas sobre sustentabilidade em contexto organizacional envolvem três enfoques principais. O primeiro é o instrumental, que busca investigar qualitativamente o histórico das organizações consideradas como sustentáveis, com base nos seguintes quesitos: valores, crenças e formas de interpretar e responder às questões ambientais voltadas para a gestão. O segundo enfoque realiza análises mais quantitativas e busca conhecer o retorno das ações sustentáveis sobre os resultados organizacionais, tais como: desempenho financeiro, vantagem competitiva, gestão de resíduos tóxicos e adoção de certificações como a ISO 14001. E o terceiro envolve reflexões sobre aspectos subjacentes e

5 Ferreira-Quilice e Caldana (2015, p. 413) investigaram os aspectos negativos do modelo de reporte proposto

pelo GRI e constataram que as empresas têm dificuldade para entendê-lo. O mesmo foi considerado “complexo, ambíguo e flexível demais, o que dificulta a padronização e a comparação entre os relatórios”.

6 É o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificação da qualidade da produção intelectual

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está relacionado à produção de sentidos ou o sensemaking da gestão. Neste enfoque se inserem os estudos sobre a visão da sustentabilidade.

O termo sustentabilidade tem origem no latim "sustentare" e, normalmente, está associado à preservação e conservação. Historicamente, o termo sustentabilidade tem sido visto como um conceito puramente ecológico (CALLADO, 2010), atualmente é adotado por empresas que buscam atender aos princípios da responsabilidade social, da legislação ambiental e da segurança econômica. O conceito de sustentabilidade representa para o setor empresarial uma nova abordagem que promove a responsabilidade social, reduz o uso de recursos naturais e dos impactos negativos sobre o meio ambiente, sem deixar de lado a rentabilidade econômico-financeira do empreendimento (SILVA et al., 2009).

Segundo Munck (2015), há avanços expressivos no campo, mas o tema ainda se encontra limitado a ações efetivas em grandes empresas industriais e/ou impulsionado por políticas públicas. Porém, é preciso avançar também em direção ao comprometimento real dos empresários. Para tanto se faz necessário pesquisar as nuances encobertas do processo decisório acerca da sustentabilidade (MUNCK, 2015).

A pesquisa bibliométrica aponta a difícil tarefa de conceituar o termo sustentabilidade (SOUZA; RIBEIRO, 2013; CALLADO, 2010; SILVA et al., 2009) e limitações de ações no ambiente empresarial por conta do atual sistema econômico (SAMPAIO, 2010; MUNCK, 2015). Trata-se de um tema emergente e contemporâneo, que requer estudos detalhados para o aprofundamento analítico.

Dessa forma, é fundamental destacar que a sustentabilidade empresarial considera a empresa uma instituição sociopolítica (BUCHHOLZ, 1989) e, portanto, ao mesmo tempo em que influencia a ação dos grupos sociais, provoca mudanças de atitudes da sociedade em relação ao papel desempenhado por elas. É comum aceitar o fato de que, sem o apoio das empresas, a sociedade nunca alcançará o desenvolvimento sustentável, pelo fato de que as empresas representam os recursos produtivos da economia (BANSAL, 2002; ZAMCOPÉ; ENSSLIN; ENSSLIN, 2012). Apesar de a indústria muitas vezes ser vista como a principal responsável pela degradação ambiental, ela é agente do desenvolvimento e da criação de riquezas (AZAPAGIC; PERDAN, 2000).

As práticas de gestão nas empresas industriais que utilizam recursos naturais nas suas atividades produtivas impactam diretamente na estratégia de manufatura e têm consequências no comportamento do consumidor. É o caso da produção mais limpa (PIMENTA; GOUVINHAS, 2012; ALVES; BARBOSA, 2013), dos produtos ecologicamente corretos, da ideologia verde (BARBOZA; ARRUDA FILHO, 2012) e do ecodesign (BORCHARDT et al.,

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2008). Como resultado, tem-se estudado o tema sob diferentes abordagens teóricas, mas ainda prepondera a abordagem territorial da sustentabilidade, retratando particularidades de comunidades e de políticas sociais (RIBEIRO; BARCELLOS; ROQUE, 2013; TREVISAN; LEÃO, 2014; WILDHAGEN, 2015).

Há um esforço de pesquisadores e organizações para aproximar as diferentes abordagens teóricas da sustentabilidade com a estratégia de manufatura (PEREIRA et al., 2011). Alguns modelos de gestão contemplam programas de atuação responsável, administração da qualidade ambiental total, produção mais limpa, ecoeficiência, projetos para meio ambiente e ecologia industrial (PEREIRA et al., 2011; BARBIERI, 2011). Contudo, são necessários instrumentos de controle da gestão da sustentabilidade, como auditoria ambiental, avaliação do ciclo de vida do produto, sistema de gerenciamento ambiental e rotulagem ambiental (DONAIRE, 1999; BARBIERI, 2011; IATRIDIS, 2013), o que distancia as empresas tradicionais daquelas com práticas de gestão pautadas na sustentabilidade em estudos sobre desempenho financeiro, vantagem competitiva, gestão de resíduos e adoção de certificações internacionais, o que confere valor de mercado à empresa e aos seus produtos.

Conforme Donaire (1999), a visão tradicional da empresa é de uma instituição econômica que tem seu foco na maximização dos lucros e da minimização dos custos, por vezes ignorando as questões sociais e ambientais como influentes no processo de tomada de decisões. Em função disso, desconsidera as consequências que as decisões internas causam no contexto social e ambiental do qual a organização faz parte. Sobre este assunto, Munck (2015) destaca a predominância do sentido evolucionário e utilitarista nas lógicas decisórias reforçando a prioridade nos ganhos financeiros dos investimentos nas dimensões social e ambiental. Constantemente novas questões são inseridas nesse debate e, em todas elas, as práticas empresariais que adotam a lógica utilitarista estão sendo questionadas (ALMEIDA, 2007).

Claro, Claro e Amâncio (2008, p. 290), destacam:

Atualmente, o discurso dos gestores e dos empreendedores sobre sustentabilidade é dirigido a seus funcionários, ao mercado consumidor, aos concorrentes, aos parceiros, às Organizações Não-Governamentais (ONGs) e aos órgãos governamentais. Esses discursos buscam vincular práticas gerenciais ambientais, sociais e econômicas a uma imagem positiva da empresa. No entanto, várias empresas têm dificuldade em associar seus discursos e práticas gerenciais a uma definição completa de sustentabilidade. Algumas focam questões sociais; outras, questões ambientais; e muitas, questões exclusivamente econômicas.

Para Zylbersztajn e Lins (2010), o conceito de sustentabilidade no contexto empresarial deve contribuir para promover a migração do modelo de gestão de negócios atual

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para outro que contempla no processo de tomada de decisão, além da dimensão econômico-financeira, as dimensões sociais e ambientais.

Elkington (2012) reforça a expansão da visão organizacional tradicional, de base exclusivamente econômica, para contemplar as dimensões sociais e ambientais, formando os pilares da sustentabilidade. O autor sintetizou essa proposta no modelo Triple Bottom Line (TBL). Nele, o pilar econômico contempla os aspectos da sustentabilidade econômica, que engloba os capitais financeiro, físico, humano, intelectual, natural e social das organizações (ELKINGTON, 2012). Essa dimensão também suporta as atividades de produção e desempenha um equilíbrio intersetorial no desenvolvimento econômico (OLIVEIRA, 2005).

No pilar social, Elkington (2012) considera o capital humano na forma de saúde, habilidades e educação, contemplando medidas mais amplas de saúde da sociedade e do potencial de criação de riqueza. Oliveira (2005) defende que a sustentabilidade social está na busca de equidade na distribuição de renda e de bens, diminuindo a desigualdade social entre ricos e pobres e promovendo a igualdade de acesso a recursos, emprego e serviços sociais.

No pilar ambiental, o capital natural pode ser visto de duas formas principais: o essencial para a manutenção da vida e da integridade do ecossistema e aquele renovável ou substituível, isto é, que pode ser renovado, recuperado ou substituído (ELKINGTON, 2012). O renovável encontra-se presente nas práticas de reciclagem, na redução da geração de resíduos e poluição, na preservação dos recursos naturais, na produção de recursos renováveis e na limitação do uso dos recursos não renováveis (OLIVEIRA, 2005; WBCSD, 2015).

Então, a sustentabilidade empresarial pode ser entendida como constructo formado pelos três pilares (econômico, social e ambiental), os quais contemplam o interesse da geração atual em melhorar as suas reais condições de vida, a equalização das condições de vida entre ricos e pobres e o interesse das gerações atuais com a satisfação das necessidades das gerações futuras (HORBACH, 2005).

A sustentabilidade empresarial impacta no custo do capital próprio. Silva e Quelhas (2006) afirmam que aderir aos padrões de sustentabilidade empresarial reduz o risco corporativo medido pelo risco sistêmico, determinando a redução do custo de capital e o aumento do valor econômico. Soma-se a isso o fato de que a sociedade está mais atenta às questões socioambientais que envolvem a gestão organizacional (DONAIRE, 1999) e as organizações têm interesse no reconhecimento de suas estratégias socioambientais (ANDRADE; CÂMARA, 2012). Para isso, as organizações estão modificando o seu posicionamento estratégico (ANDRADE; CÂMARA, 2012), para conferir credibilidade e confiança no mercado.

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São necessárias mudanças profundas na atitude dos gestores empresariais, o que deverá incluir a criação de uma nova ética na maneira de fazer negócios (SCHMIDHEINY, 1992; BARBIERI, 2011), uma vez que a sustentabilidade empresarial diz respeito à forma de se fazer negócios e ao tipo de negócios que a empresa almeja desenvolver. Tal mudança deve influenciar os processos produtivos, os relacionamentos, a prestação de contas e os compromissos públicos, quebrando o paradigma exclusivamente econômico em favor das questões sociais e ambientais (ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010).

Frente ao exposto, para a definição do problema de pesquisa, ainda é importante destacar que o cenário organizacional está se tornando cada dia mais complexo e competir neste contexto está exigindo maior adaptabilidade por parte das empresas. Afonso (2006) contribui questionando o uso da noção de sustentabilidade no contexto empresarial e no campo da formulação de políticas públicas de desenvolvimento. A maioria das empresas faz uso do conceito de sustentabilidade em seu discurso sem atentar para as modificações requeridas em seus processos, no trato com as pessoas e na forma como os recursos naturais são usados. Somam-se a isso, as políticas públicas brasileiras, as quais têm orientação econômica7, não estão auxiliando na redução das desigualdades sociais, tampouco no uso coerente/racional dos recursos naturais (AFONSO, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2009).

A sociedade pressiona as empresas e seus gestores por meio da exigência de disponibilização de produtos certificados e ações sustentáveis, que têm o Relatório Brundtland, a Agenda 21 e o Protocolo de Kyoto8 como marcos na evolução da consciência ambiental. Trata-se de uma gestão empresarial ambiental proativa, bem como da exposição de diversos desafios relativos à efetividade das práticas nas empresas (DONAIRE, 1999; LAYRARGUES, 2000; SOUZA, 2000; JABBOUR; SANTOS, 2007; BORCHARDT et al., 2008; ALBUQUERQUE et al., 2009; BARBOZA; ARRUDA FILHO, 2012).

Almeida (2007) afirma que uma empresa sustentável é a que vai além das exigências da legislação, sem deixar de dar o devido retorno ao capital financeiro, ao capital natural e social. Para o autor, ao fazer mais do que exige a legislação, a empresa passa a ser vista como dotada de atributos morais, ganhando boa reputação na sociedade. As empresas que adotam os sistemas de gestão ambiental produzem um relatório anual de sustentabilidade, cujo conteúdo é de conhecimento público, o que as expõem ao julgamento/avaliação da sociedade. Bens

7 Abordagens tecnocentristas, extremista econômica de Munck (2015).

8 O Brasil ratificou o documento em 23 de agosto de 2002, tendo sua aprovação interna através do Decreto

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intangíveis, como marca e reputação, tornam-se cada vez mais significativos no cálculo de ativos das empresas. Um exemplo é o Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE9 da Bovespa, no qual as empresas cadastradas tendem a ser mais valorizadas do que as não participantes (BM&FBOVESPA, 2015).

As práticas de sustentabilidade nas grandes empresas brasileiras estão relacionadas aos indicadores de desempenho organizacional, que estabelecem relações com melhorias na estrutura de governança, nas relações com os stakeholders, na redução e racionalização do uso da água, na preservação da biodiversidade e na redução de resíduos (WBCSD, 2015). No entanto, como as PMEIs observam esse cenário, qual a importância atribuída para o assunto, quais práticas estão adotando, onde comunicam/publicizam seus resultados em relação ao empenho em serem sustentáveis, tendo em vista que não são obrigadas por lei a publicar o relatório de sustentabilidade?

É possível que a influência da visão do gestor nas empresas de menor porte contribua para a formação da consciência ambiental. Contudo, as reflexões a respeito do compromisso destas com as questões da sustentabilidade podem estar encobertas pelas questões legais ou específicas para as grandes empresas. No entanto, no Brasil, pequenas e médias empresas representam 99% do número total de empresas no território nacional10.

Pesquisas de opinião no Brasil e no mundo têm atribuído à classe empresarial baixas taxas de credibilidade nas ações referentes às dimensões sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável (ALMEIDA, 2007). Um exemplo de pesquisa realizada no Brasil é a conduzida pelo Instituto Superior de Estados da Religião (ISER), que monitora o crescimento da consciência ambiental no país desde 1992 e tem como objetivo principal subsidiar as políticas públicas no fortalecimento da noção e da prática do desenvolvimento sustentável (ALMEIDA, 2007).

Investigações sobre este assunto têm evidenciado baixo índice na percepção dos entrevistados quanto à atuação positiva dos empresários na defesa do meio ambiente e um índice superior a 50% de avaliação negativa desta atuação, o que sugere predominância do sentido utilitarista nas lógicas decisórias acerca da sustentabilidade. Fica evidente também, nas pesquisas, que a sociedade entende que as empresas, mais do que qualquer outra organização, têm um papel importante a desempenhar no enfrentamento dos grandes desafios

9O ISE é uma ferramenta para análise comparativa do desempenho das empresas listadas na BM&FBOVESPA

sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.

10O Brasil tem mais de 6 milhões de micro e pequenas empresas, que totalizam 99% dos negócios do país. A pesquisa

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sociais e ambientais, sendo os mais destacados, a valorização dos direitos humanos, a redução da pobreza e o aquecimento global (ALMEIDA, 2007).

Para agir a favor dos três pilares, os gestores devem fazer uso de processos decisórios personalizados e interligados que considerem trade-offs, com perspectivas temporais e espaciais para ações que contribuam para as dimensões da sustentabilidade (MUNCK, 2015). Isso indica a necessidade de aprofundar os estudos sobre as questões subjacentes à sustentabilidade empresarial, com vistas a identificar possibilidades de mudanças que contrastam o passado (abundância de recursos e sem uso irracional) e o futuro (escassez de serviços ambientais11), com foco especial no processo mental dos gestores que, por vezes, pode estar encobrindo interesses paradoxais nos processos decisórios acerca da sustentabilidade, fazendo das práticas empresariais apenas uma necessidade de cumprimento das exigências legais (MUNCK, 2015).

Verifica-se que a abordagem empresarial do tema sustentabilidade é importante num contexto em que as influências de temas globais crescem e afetam a dinâmica dos negócios em diferentes regiões/territórios/contextos. Assim sendo, a pergunta orientadora da pesquisa é: Qual é o modelo analítico que representa a visão da sustentabilidade empresarial dos gestores de pequenas e médias empresas industriais, em Ijuí/RS?

Para responder à questão de estudo, foi proposto um modelo analítico que demonstra a visão da sustentabilidade dos gestores de PMEIs de Ijuí/RS, o qual foi construído a partir da investigação dos modelos de mensuração de sustentabilidade empresarial já praticados e que possuem relação como as dimensões econômica, social e ambiental, para identificar e analisar a visão de gestores sobre essas dimensões e investigar as práticas de sustentabilidade nas empresas por eles geridas, compreendendo o processo de formação da visão da sustentabilidade empresarial.

A importância da realização deste estudo é atribuída à contribuição para o meio acadêmico, pois se soma aos conhecimentos teóricos e empíricos já realizados no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento (PPGD), como os estudos de Faoro (2011), Souza (2011) e Müller (2011) que abordaram temáticas similares, porém não com foco na sustentabilidade empresarial. Por este motivo, o tema desta dissertação se torna proeminente, já que foi pouco debatido no âmbito da proposta teórica do Mestrado em Desenvolvimento.

Em relação à oportunidade para o desenvolvimento deste estudo, é importante destacar a gama de ações disponíveis no mercado sob este novo enfoque, cabendo aos gestores

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compreender e buscar resultados sobre este novo contexto. Atualmente as organizações sofrem pressão mercadológica, social e do Estado12 o que torna imprescindível, para a sua boa atuação no mercado, a incorporação do conceito de sustentabilidade na gestão.

Além disso, as mudanças no ambiente regulatório provocam os gestores a refletirem sobre a postura de responsabilidade socioambiental sob pena de punição, por meio de multas do poder público ou sansões da sociedade, o que desperta a atenção para a importância da abordagem da sustentabilidade empresarial. Em consequência disso, surge mais uma oportunidade para a realização deste estudo, que é a predisposição das pequenas e médias empresas de abrir espaços, no sentido de mostrar suas ações de sustentabilidade à sociedade.

Na ordem pessoal, este estudo se justifica pelas observações cotidianas dos acontecimentos e adaptações realizadas nos últimos 20 anos, nos assuntos relacionados ao TBL, no mercado, na sociedade e no governo. Por um lado, as opções do que consumir e onde adquirir aumenta a cada dia, pois o portfólio de produtos em todos os segmentos é muito vasto e os meios para comprá-los foram bastante difundidos digitalmente. Essas facilidades fomentam o consumo, pois não há necessidade de morar em grandes centros para ter acesso a uma vasta gama de produtos. Por outro lado, há a preocupação de como o planeta está reagindo à aceleração nos processos produtivos com a utilização indiscriminada dos recursos naturais e humanos. É necessário o entendimento de que, se as indústrias pretendem produzir, será imprescindível a utilização de matéria-prima (recursos naturais), pessoas saudáveis13 para fazer e outras para consumir (recursos humanos).

A recente expansão da utilização do termo socioambiental está associada a uma visão muito vaga sobre o seu significado (DIAS, 2006; VEIGA, 2007; CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008), o que ressalta a proeminência deste estudo, em decorrência do pouco conhecimento sobre as circunstâncias que levaram à sua adoção (DIAS, 2006; VEIGA, 2007).

Outro fato se refere à sustentabilidade no modelo de desenvolvimento no espaço de pesquisa (Ijuí/RS), uma vez que as empresas industriais dão importante contribuição para o desenvolvimento da sociedade e a verificação dos aspectos do TBL possibilitará vislumbrar o entendimento dos atores que fazem parte da cultura local.

Vale dizer que o tema é relevante tanto academicamente como para as empresas industriais que sofrem a regulação nos seus processos. Essas discussões estão em evidência no contexto atual, em razão da expansão do número de “consumidores verdes”. Também, por se

12 Enquanto instituição governamental.

13 Na indústria farmacêutica esta lógica, muitas vezes, é contrária a vida saudável, uma vez que o faturamento

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tratar de uma coleta de dados não muito extensa, na qual não será exposto o nome da empresa, garantindo assim, pouca demanda de tempo do empresário e sigilo dos dados empresariais, contribuindo para a adesão ao estudo por parte das empresas industriais.

Entretanto, é interessante frisar que este estudo não tem como foco examinar o atendimento legal de comando e controle relativos às questões ambientais. O olhar adotado para este estudo é para verificar qual é a visão dos gestores em relação à sustentabilidade empresarial, quanto aos aspectos econômico, social e ambiental, com o intuito de construir um modelo analítico dos principais pontos destacados pela organização enquanto agente econômico, social e ambiental.

É importante salientar que, no pós-guerra, a vida humana foi guiada pela existência de empresas com predominância dos aspectos econômicos e este estudo não pretende ignorar a relevância da dimensão econômica. Porém, é necessário um olhar atento para o equilíbrio nas três dimensões da sustentabilidade das empresas e da vida humana na terra, isto é, econômica, social e ambiental. A dimensão econômica é justificada pela necessidade do capital para a existência das empresas no mercado, paradigma dominante atualmente. A dimensão social é fundamental, pois sem ela não existem consumidores, nem funcionários para as empresas. Então cabe ter o cuidado com os produtos oferecidos para esta sociedade, com as consequências do consumo e a qualidade de vida que irão proporcionar. Na dimensão ambiental, chama atenção à escassez, já presente no dia a dia, de alguns recursos como a qualidade do ar e da água, bem como a destinação de uma grande quantidade de resíduos provenientes do consumismo desenfreado.

O equilíbrio destas três dimensões é fundamental para a sobrevivência das PMEIs e contribui para os estudos no Grupo de Estudos e Pesquisa em Organizações, Gestão e Aprendizagem (GEPOG). A contribuição ocorre, principalmente, no que diz respeito à governança, ao ciclo de vida organizacional, à educação, ao trabalho, aos processos de gestão e seus impactos sobre os diferentes atores sociais e à qualidade de vida no trabalho.

No GEPOG, o tema sustentabilidade tem sido discutido de forma tangencial à gestão empresarial, bem como no contexto das propriedades rurais, a exemplo dos estudos realizados por Toebe (2016) que buscou compreender o processo de constituição da consciência ambiental dos produtores rurais, sendo caracterizadas as práticas e analisados os discursos dos produtores rurais sobre uso, manutenção e recuperação dos recursos naturais nas propriedades rurais. Além disso, foram descritas as atitudes ambientais (afeição, cognição e comportamento) que contribuíram para a construção de sua consciência ambiental, algo complexo, em razão do sistema econômico capitalista predominante nas práticas do produtor

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rural, o qual se contrapõe aos conhecimentos sobre justiça/injustiça, aprovação/desaprovação de atos, sinceridade e honradez no seu comportamento. A consciência ambiental dos produtores rurais é limitada ao contexto, por isso nem sempre gera comportamentos positivos frente à crise ambiental. A análise do processo de formação da consciência ambiental revelou evidências de reflexão crítica sobre suas práticas, a qual contribui para a emergência da racionalidade ambiental.

Este estudo foi estruturado em cinco capítulos, além desta introdução que contém a apresentação do tema, problema, objetivos e justificativas. No capítulo 2 está apresentada a fundamentação teórica que confere suporte ao estudo empírico e versa sobre o desenvolvimento sustentável e sustentabilidade empresarial. No Capítulo 3 são apresentados os procedimentos metodológicos, iniciando-se pela classificação e delineamento da pesquisa, definição do objeto de estudo, dos sujeitos da pesquisa e seguindo pela coleta de dados e a análise e interpretação de dados. O Capítulo 4 apresenta os três casos estudados, expondo as trajetórias históricas das empresas, a visão da sustentabilidade empresarial expressada pelos gestores, às práticas utilizadas na gestão das empresas e o modelo empírico da sustentabilidade empresarial apreendido com a análise dos dados. No Capítulo 5 constam as análises e a interpretação dos resultados, o modelo analítico da visão da sustentabilidade empresarial e, além do que foi proposto para o estudo, são apresentados: (i) o modelo analítico do processo decisório estabelecido a partir dos discursos dos gestores das PMEIs e; (ii) uma nova proposta de processo decisório que considera trade-offs e perspectiva temporal. Na sequência são apresentadas as Conclusões.

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Neste capítulo está apresentada a fundamentação teórica que prestará suporte ao estudo empírico. Para melhor exibição dos conceitos, este capítulo foi dividido em dois subcapítulos conforme os temas. O primeiro subcapítulo trata sobre o desenvolvimento sustentável que aborda a importância e a aplicabilidade. O segundo trata do tema sustentabilidade empresarial, apresentando os conceitos e alguns modelos já consolidados para a mensuração da sustentabilidade nas empresas.

2.1 Desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento é abrangente, podendo se referir a desenvolvimento humano, econômico, pessoal, urbano, rural, social etc. Na maioria das vezes são atribuídos conceitos relacionados ao crescimento, avanço, adiantamento, prosperidade e evolução. Contudo, nesta dissertação, o tema é apresentado com direcionamento para a perspectiva da sustentabilidade empresarial.

De acordo com Aragão (2010), desenvolvimento sustentável é um termo paradoxal aonde a noção de desenvolvimento envolve dinâmica, movimento, enquanto a noção de sustentabilidade remete a uma situação estática que pressupõe permanência (ARAGÃO, 2010; ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010; BOFF, 2015). Suas múltiplas e diferenciadas definições levam à argumentação de que sustentabilidade é um conceito em construção e com significados simultaneamente diversos (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008).

Até o século XX, muito se falou de desenvolvimento econômico (ARAGÃO, 2010), o qual, supostamente, visa melhorar a situação de vida humana, no sentido de proporcionar acesso ao consumo, status, conforto etc. Contudo, o aumento do consumo muitas vezes implica em impactos sobre o meio ambiente e em determinados estados de bem-estar social (BRUM, 1997; FURTADO, 1998; CARDOSO; FALETTO, 2004; DRAIBE; RIESCO, 2011). Já, o desenvolvimento sustentável se assenta em uma visão de equilíbrio e de conservação do meio ambiente natural com as práticas produtivas (ARAGÃO, 2010) e o bem-estar humano (SACHS, 1993; 2009). Este bem-estar humano somando a uma nova proposta de economia é denominado por Sampaio (2011) de bem viver.

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Para Foladori (2002), no século passado quando se falava sobre meio ambiente, o discurso se referia à natureza como externa ao ser humano. Todavia, o discurso atual versa sobre a crise ambiental e o desenvolvimento humano saudável, portanto, considera o ser humano como parte do meio ambiente. O próprio conceito de desenvolvimento sustentável deriva da integração da sustentabilidade econômica, social e ambiental (FOLADORI, 2002; ELKINGTON, 2012).

Para Pacheco Júnior et al. (2011, p. 71), a sustentabilidade:

Tem como mola precursora o conceito de ecodesenvolvimento, referência microscópica de Maurice Strong ao modo criterioso, no qual, em áreas rurais de países do Terceiro Mundo, se utilizava os recursos naturais sem o esgotamento da natureza, evidenciando a coexistência dos vários fatores que possam compor um ecossistema.

Apesar dos avanços do percurso epistemológico da sustentabilidade no discurso do desenvolvimento sustentável, tanto nas políticas públicas para o desenvolvimento quanto nas discussões acadêmicas, existem certas barreiras impostas pela lógica do sistema capitalista, que limita seu aprofundamento, em especial na dimensão social (FOLADORI, 2002). Isso contribui para a falta de consenso sobre o significado atribuído à sustentabilidade.

Referenciando Sachs (1993; 2009), o autor evidencia o avanço do conceito com a inclusão das dimensões econômica, social e ambiental. Sachs (1973 apud PACHECO, 2011) deu maior impulso conceitual com o estabelecimento de três pilares que e serviram de base para o que atualmente se conhece por desenvolvimento sustentável: eficiência econômica, justiça social e prudência ambiental.

Na primeira metade do século XX, a maior parte da população estava preocupada em desfrutar das promessas de consumo que a sociedade capitalista apresentava com o sistema fordista de produção, bem como, mitigar os abalos causados pelas duas grandes guerras mundiais e pela “Grande Depressão” econômica que assolava o mundo (SOUZA, 2000). Por sua vez, os problemas socioambientais não eram objeto de maiores preocupações e investigações e não eram considerados riscos ao desenvolvimento econômico da época (SOUZA, 2000; ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010). Em resumo, foi estabelecido um modo de desenvolvimento humano baseado na combinação entre utilitarismo econômico (fruto da dinâmica capitalista) e o chamado darwinismo social (resultado da dinâmica de um mercado autorregulado), ocasionando uma racionalidade social egocêntrica, centrada no cálculo de consequências de ganho econômico individual (SAMPAIO, 2009).

No fim do século XX, após alertas que tinham como base acidentes e impasses ambientais, inicia-se um movimento em busca da sustentabilidade social e ambiental. A

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solidez de tais ideias se materializa em 1987, no Relatório Brundtland, o qual propõe à comunidade internacional pensar o “Nosso Futuro Comum” (WORLD, 1987). A consagração das propostas em ações efetivas ocorre na Rio92 (ARAGÃO, 2010; BURSZTYN; BURSZTYN, 2013) e tem continuidade nas Rios14 e nas Conferências de Partes (COPs)15. A COP3 teve como um dos resultados a assinatura do Protocolo de Kyoto em 1997 (VIOLA, 2002; DIAS 2006)16.

Aragão (2010) afirma que com o entendimento dos fatores que levaram à crise financeira mundial em 2008, consolidou-se um novo modelo econômico o qual será pautado no conhecimento das causas e dos efeitos nocivos de desenvolvimento que implicaram em perdas para a sociedade e para o meio ambiente. Conhecimento esse, que teve sua origem na apuração técnico-científica feita por centenas de cientistas do mundo todo para o chamado Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC17, que foi criado em 1988 (ARAGÃO, 2010). As ferramentas apresentadas pelo IPCC permitiram maior conhecimento das origens e consequências dos impactos ambientais sobre o planeta. Em decorrência disso, o projeto de sustentabilidade foi impulsionado (ZYLBERSZTAJN; LINS, 2010).

A consciência de que o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e os fatores socioambientais é vital para a manutenção da vida no planeta tem evoluído (ALMEIDA, 2007; ARAGÃO, 2010), ocorre em alguns países através do progresso do conhecimento, tornando a sociedade do conhecimento18 um fator fundamental e racional para o desenvolvimento sustentável (ALBUQUERQUE, 2009; ARAGÃO, 2010).

Não existe sistema produtivo que funcione sem capital financeiro, natural e humano, bem articulados e em doses adequadas (LEMME, 2010), porém, atingir o ponto de equilíbrio no conjunto de valores econômicos, sociais e ambientais não é algo simples (ELKINGTON; 2012), principalmente, em razão do sentido assumido pelas organizações no que se refere à abordagem da sustentabilidade (MUNCK, 2015). Este sentido assumido pelas organizações

14 As Rios são Conferências das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e contam os anos a partir da

Rio 92. A Rio+20 foi realizada em 2012 e marcou os 20 anos que se passaram desde a Rio 92.

15 As Conferências COP foram realizadas em todas as partes do mundo. A primeira aconteceu em 1995, em

Berlim, na Alemanha. Na COP 3 o Protocolo de Kyoto foi aprovado.

16 É um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam

o efeito estufa, discutido e negociado em Quioto, no Japão, em 1997.

17

Sigla em inglês: Intergovernmental Panel On Climate Change.

18 A sociedade do conhecimento é baseada no uso compartilhado de recursos, na construção coletiva de

conhecimento, na interação livre de restrições de espaço e tempo e, na valorização do direito à informação, às tecnologias de informação e comunicação e à educação, como um bem comum.

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pode ser proveniente da maneira como as empresas concebem o mundo global e de como os clientes concebem o papel das empresas (MUNASINGHE, 2007; ELKINGTON, 2012). Este embate epistemológico faz emergir comparações, interesses paradoxais e contrastes entre passado e futuro que impactam diretamente nos processos decisórios (MUNCK, 2015).

Apesar de existirem algumas áreas de conformidades, os valores sociais e empresariais diferem em todo o mundo (SOUZA, 2000; ELKINGTON, 2012;), contudo, é neste cenário que o desenvolvimento sustentável deve ser posto em exercício. A forma como os serviços ambientais são utilizados vai impactar nas condições em que as empresas operam (ALMEIDA, 2007), por este motivo, cada empresa se torna corresponsável pelo impacto socioambiental que produz na sua cadeia de valor (DIAS, 2006; ABRANCHES, 2010).

De qualquer modo, se observa que, após longo período no qual os líderes empresariais proveram a criação de valor econômico e não de valores sociais e éticos, o conceito de sustentabilidade está sendo inserido no processo decisório empresarial em diferentes velocidades e em diferentes contextos (JABBOUR; SANTOS, 2007; DRAIBE; RIESCO, 2011; ELKINGTON, 2012; BARBOZA; ARRUDA FILHO, 2012; MUNCK, 2015).

Elkington (2012) afirma que as tentativas para conduzir as empresas na direção da sustentabilidade geram ação e reação, apoio e resistência. Na fase inicial do assunto, são lançadas muitas ideias sobre as relações homem-natureza (SOUZA, 2000), mas que não encontram ainda um ambiente econômico e social configurado para refletir sobre elas nos estágios mais avançados do debate (DONAIRE, 1999; SOUZA, 2000; MUNCK, 2015).

Trata-se de um trabalho que envolve a dimensão individual e coletiva, que busca auxiliar na mudança de modelos mentais e na transformação da cultura organizacional, com maior transparência nas informações sobre a situação dos negócios e sobre o que está sendo planejado para o futuro (DONAIRE, 1999; DIAS, 2006; LEMME, 2010; ELKINGTON, 2012; MUNCK, 2015). É um fato de mútua interação, que influencia na tomada de decisões gerenciais e atinge o sistema de valores dos clientes que fornece os parâmetros para a avaliação das empresas (DONAIRE, 1999; BM&FBOVESPA, 2015).

Por outro lado, novas oportunidades de negócios surgem sob a forma de mecanismos e métodos mais eficientes para o uso dos recursos ambientais (DIAS, 2006; ALMEIDA, 2007). Desta forma, o principal desafio das organizações quanto às implicações da sustentabilidade em suas atividades refere-se a responsabilidade que se inicia na cadeia de fornecedores e vai até findar a vida útil do produto que foi produzido por esta empresa industrial (DIAS, 2006; JABBOUR; SANTOS, 2007; DRAIBE; RIESCO, 2011; BARBOZA; ARRUDA FILHO, 2012; ELKINGTON, 2012). Assim, o gerenciamento do ciclo de vida de tecnologias e

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produtos está transformando elementos-chaves da reciclagem, do descarte e dos processos de design de produtos (ALMEIDA, 2007; ELKINGTON, 2012) com vistas a ter produtos sustentáveis (JABBOUR; SANTOS, 2007) e consumidores tecnológica e ecologicamente corretos (BARBOZA; ARRUDA FILHO, 2012).

Aragão (2010) destaca que os empresários estão mais conscientes dos impactos ambientais causados pelos seus empreendimentos e o debate sobre a responsabilidade socioambiental nas organizações reflete as dimensões (ética e moral) do comportamento e dos valores da sociedade em que elas estão inseridas (DONAIRE, 1999). Assim sendo, as empresas devem ser rentáveis, mas não às custas do sofrimento de seus empregados ou da degradação do ambiente (AKTOUF, 1996).

A degradação ambiental é diferenciada nos diversos níveis socioeconômicos do desenvolvimento sustentável (SACHS, 1993, 2009; ALMEIDA, 2007), assim como seus impactos primários atingem a Humanidade de modo inversamente proporcional à classe social, isto é, quem menos degrada é quem mais sofre as consequências da degradação (ALMEIDA, 2007). Porém, a deterioração dos ecossistemas globais pode afetar negativamente as empresas, impondo-lhes restrições operacionais ou indicar oportunidades de criação de valor, alterando as decisões de investimentos e o valor de ativos (LEMME, 2010; ABRANCHES, 2010).

Nesta perspectiva, as empresas industriais do século XXI não terão espaço para negligências no uso e consumo dos recursos (DIAS, 2006; ARAGÃO, 2010; ELKINGTON, 2012), pois diferentes variáveis afetam o ambiente dos negócios (DONAIRE, 1999) e a preocupação com a sustentabilidade vem adquirindo destaque nos modelos de gestão (ELKINGTON, 2012; DONAIRE, 1999). É um período de adaptação e reestruturação dos modelos de negócios já existentes nos mercados locais, formando um campo com muitas oportunidades para novos empreendimentos, novas práticas e novos processos.

O desenvolvimento significa ato de crescer, progredir e não deve ser entendido como crescimento ilimitado, pois os ecossistemas possuem seus limites para fornecer os elementos para esse crescimento (DIAS, 2006; LEMME, 2010; BARBIERI, 2011), os denominados serviços ambientais. Levando em consideração os limites do ecossistema, se faz necessário à formulação de uma política conjunta entre Estado, mercado e sociedade, o que coloca a humanidade diante do desafio de planejar o desenvolvimento humano sem destruir o meio ambiente (DONAIRE, 1999; FERNANDES; SANT’ANNA, 2002; BARBIERI, 2011).

O trabalho entre Estado, mercado e sociedade deve ser participativo e descentralizado (FERNANDES; SANT’ANNA, 2002). Com esse novo modelo social, existe a necessidade de

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outra forma de racionalidade, distinta da instrumental, que deve ser construída a partir da participação e do engajamento da sociedade civil e dos recursos locais, para planejar um novo estilo de desenvolvimento por meio de estratégias concretas de intervenção corretivas (SAMPAIO; FERNANDES, 2006).

Apesar da lógica de contradição do termo desenvolvimento sustentável (ARAGÃO, 2010), a compreensão e definição do termo têm evoluído (SACHS, 1993; 2009; CALLADO, 2010), principalmente, com a inclusão das dimensões econômica, social e ambiental e o debate sobre a importância do equilíbrio destas para a sustentabilidade empresarial. A inclusão das dimensões resultou na compreensão do desafio de ter empresas economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas (MUNASINGHE, 2007; LEMME, 2010; ELKINGTON, 2012; MUNCK, 2015).

2.2 Sustentabilidade empresarial

O objetivo deste subcapítulo não é separar o desenvolvimento sustentável da sustentabilidade empresarial e, sim, unir os conceitos, apresentando uma forma de desenvolver as empresas nas dimensões econômica, social e ambiental.

2.2.1 Aspectos conceituais

O conceito de sustentabilidade empresarial tem como premissa a inclusão das questões socioambientais no modelo de negócio da organização. Além de manter as questões econômicas, atende a duas perguntas básicas: que tipo de negócios a empresa faz e como a empresa faz negócios (BARBIERI, 2011). Isto abrange a revisão ou a adoção de nova postura perante os processos de produtivos, perante os relacionamentos com os stakeholders, quanto à prestação de contas para a sociedade ou governos, incluindo a disposição para provocar rupturas nos paradigmas atuais (DIAS, 2006; LEMME, 2010). Soma-se a isso, à integração das estratégias e da dinâmica operacional, determinando os fatores críticos de sucesso, indicadores de desempenho e cadeia de valor (BARBIERI, 2011).

Estabelecer a relação entre sustentabilidade e desempenho empresarial é um dos principais desafios dos gestores (LEMME, 2010). A empresa busca, por meio de práticas de sustentabilidade socioambiental, gerar vantagem competitiva, através da inovação tecnológica e/ou gerencial, da diferenciação dos produtos, do posicionamento estratégico e do gerenciamento dos riscos operacionais (LEMME, 2010).

Referências

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