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Diversidade sexual no ambiente escolar: abordando o assunto numa classe de ensino médio

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO LICENCIATURA EM HISTÓRIA. MARTA RAQUEL LINHARES DE MELO. DIVERSIDADE SEXUAL NO AMBIENTE ESCOLAR: ABORDANDO O ASSUNTO NUMA CLASSE DE ENSINO MÉDIO.. Delmiro Gouveia/AL 2019.

(2) 1. MARTA RAQUEL LINHARES DE MELO. DIVERSIDADE SEXUAL NO AMBIENTE ESCOLAR: ABORDANDO O ASSUNTO NUMA CLASSE DE ENSINO MÉDIO. Artigo apresentado como requisito para obtenção do título de Licenciada em História pela Universidade Federal de Alagoas/Campus Sertão. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Cristina C. Santos. Delmiro Gouveia/AL 2019.

(3) Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca do Campus Sertão Sede Delmiro Gouveia Bibliotecária responsável: Renata Oliveira de Souza – CRB-4/2209 M528d. Melo, Marta Raquel Linhares de Diversidade sexual no ambiente escolar, abordando o assunto numa classe de ensino médio / Marta Raquel Linhares de Melo. – 2019. 24 f. Orientação: Profa. Dra. Ana Cristina Santos. Artigo monográfico (Licenciatura em História) – Universidade Federal de Alagoas. Curso de História. Delmiro Gouveia, 2019. 1. Diversidade sexual. 2. Comunidade LGBT. 3. Educação. 4. Preconceito. 5. Identidade de gênero. 6. Orientação sexual. I. Título. CDU: 347.156:37.

(4) 3.

(5) 4. DIVERSIDADE SEXUAL NO AMBIENTE ESCOLAR: ABORDANDO O ASSUNTO NUMA CLASSE DE ENSINO MÉDIO.. 1. 2. Marta Raquel Linhares Ana Cristina Conceição Santos. RESUMO O presente artigo discute como a educação pode contribuir para promover a diversidade sexual, quebrando paradigmas para ajudar a prevenir casos de violência e garantir direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). A pesquisa foi desenvolvida em uma escola estadual, turma do primeiro ano do Ensino Médio, no município de Delmiro Gouveia/AL, com o objetivo de compreender como a escola aborda a temática da diversidade sexual e qual a percepção das/dos estudantes e professorado em relação a orientação sexual e identidade de gênero nas situações de violência e discriminação. A metodologia utilizada foi qualitativa e as técnicas usadas para a coleta de dados foram: primeiramente a aplicação de um questionário para conhecer o perfil da turma e depois foram elaborados situaçõesproblema para que as/os estudantes e a professora se posicionassem revelando, dessa forma, suas percepções sobre a importância da discussão da temática diversidade sexual. Esse estudo mostra que é também papel da escola se comprometer com a construção de uma sociedade menos preconceituosa. Palavras-chave: Diversidade Sexual, LGBTfobia, Escola, Educação. ABSTRACT This article discusses how education can contribute to promoting sexual diversity, breaking paradigms to help prevent cases of violence and guarantee lesbian, gay, bisexual, transvestite and transgender (LGBT) rights. The research was carried out in a state school, a group of the first year of high school, in the municipality of Delmiro Gouveia / AL, with the objective of understanding how the school approaches the theme of sexual diversity and what the perception of students and teachers in relation to sexual orientation and gender identity in situations of violence and discrimination. The methodology used was qualitative and the techniques used for the data collection were: firstly the application of a questionnaire to know the profile of the class and then were elaborated problem situations so that the students and the teacher position themselves revealing, in this way , their perceptions about the importance of the discussion of sexual diversity. This study shows that it is also the school's role to commit to building a less prejudiced society. Keywords: Sexual Diversity, LGBTophobia, School, Education.. 1. Graduanda em Licenciatura de História Universidade Federal de Alagoas Prof.ª Dr.ª Ana Cristina C. Santos Universidade Federal de Alagoas/Campus do Sertão. Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Diversidades e Educação no Sertão Alagoano (NUDES/UFAL). 2.

(6) 5. 1. INTRODUÇÃO A sociedade brasileira revela-se intolerante as diferenças, quer sejam raciais, de gênero e de orientação sexual, entre outras. Essa intolerância pode ser observada nos dados do Atlas de Violência no Brasil - 2017, pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública3, que revela que a cada 100 pessoas assassinadas 71 são negras e, em 2015, foram mortas 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. Em relação as lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), o Relatório Mortes Violentas da População LGBT no Brasil, produzido pelo Grupo Gay da Bahia (2018) 4, informa que no ano de 2018 foram registradas 420 mortes de LGBTs o que representa mais de 1 morte por dia. Foi pensando nas discriminações e violações de direitos dos sujeitos considerados diferentes, em particular por sua orientação sexual e identidade de gênero, e qual o papel e compromisso da escola na construção de uma sociedade menos preconceituosa que serviu de motivação para este trabalho cujo objetivo é compreender como a escola aborda a temática da diversidade sexual e qual a percepção das/dos estudantes e professorado em relação a orientação sexual e identidade de gênero nas situações de violência e discriminação. Elegi a escola como cenário para abordar tal assunto exatamente por ser a mesma considerada a nossa ―segunda casa‖. Passamos boa parte das nossas vidas no ambiente escolar com colegas e professoras/es e como dizem: ―o que não se aprende em casa, se aprende na rua‖, então, que a escola possa ser uma dessas ruas. Para o desenvolvimento desse trabalho utilizamos metodologia qualitativa. A pesquisa foi realizada em uma escola estadual, com turma do primeiro ano do Ensino Médio, na cidade de Delmiro Gouveia/AL. As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram: primeiramente a aplicação de um questionário para conhecer o perfil da turma e depois elaboramos situaçõesproblema para que as/os estudantes e a professora se posicionassem mostrando, dessa forma, suas percepções sobre a importância da discussão da temática diversidade sexual. O século XXI visibilizou tipos de relacionamentos tidos como ―anormais‖ e ―imorais‖, mesmo que esses sempre existiram, porém, não regulamentados por lei. Uniões homoafetivas vêm tomando espaço na sociedade. Muitos não sentem mais a necessidade de se esconder e. 3. Site do documento: http://www.ipea.gov.br/portal/images/170609_atlas_da_violencia_2017.pdf Link para o relatório: https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relatório-de-crimes-contra-lgbtbrasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf 4.

(7) 6. vivem suas vidas como realmente querem e gostam, seja essa maneira aceita pela sociedade ou não. O aparelho sexual ainda é visto nas escolas como ―máquina de reprodução‖, tendo o sexo a finalidade da procriação e o sexo como prazer é raramente comentado.. A Escola se. esquiva dessa obrigação por temer uma ―má influência‖ para o alunado. (...) Até então a explicação científica era meramente biológica: devido aos cromossomos X e Y, cujas combinações XX e XY produzem não só um pênis ou uma vagina, mas também hormônios (testosterona e progesterona) em diferentes proporções, o comportamento sempre foi visto como ―naturalmente‖ diverso, e disso adviria a propensão a desempenhar funções distintas, ―masculinas‖ ou ―femininas‖ com a respectiva atribuição de um lugar próprio no seio da sociedade. (Caderno Escola sem Homofobia. p. 20).. As escolas precisam se adequar a estas questões dando subsídio as/aos estudantes para que estes possam pensar o mundo contemporâneo. Dessa forma, a LGBTfobia5 poderá ser combatida em nossa sociedade. Por isso a importância de abordar, no âmbito escolar, a temática sobre sexualidades e identidades de gênero, e assim, criar estruturas para minimizar o preconceito. Louro (1997), comenta como a escola também contribui com as desigualdades ao hierarquizar os sujeitos:. Diferenças, distinções, desigualdades... A escola entende disso. Na verdade, a escola produz isso. Desde seus inicios, a instituição escolar exerceu uma ação distintiva. Ela se incumbiu de separar os sujeitos – tornando aqueles que nela entravam distintos dos outros, os que a ela não tinham acesso. Ela dividiu também, internamente, os que lá estavam, através de múltiplos mecanismos de classificação, ordenamento, hierarquização. (p. 57).. A escola, na sua maioria, aborda a sexualidade na perspectiva de se conhecer aparelhos reprodutores masculinos e femininos e a reprodução. Assim, obtém um conhecimento teórico que se compara a reprodução das plantas e animais. São capazes de responder longas questões em uma prova a respeito do aparelho reprodutivo, mas ficam constrangidos em conversar sobre sexo, principalmente com pessoas mais velhas. O fato acima nos faz concluir que o que é visto ainda nas escolas é algo muito relacionado às ciências naturais. Não devemos descontruir tal estudo, mas, adicionar como conteúdo de estudo também as ciências sociais. Gil (2008) distingue os tipos de ciência:. 5. Atitudes negativas que geram violências e opressões contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros..

(8) 7. As ciências empíricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e sociais. Dentre as ciências naturais estão: a Física, a Química, a Astronomia e a Biologia. Dentre as ciências sociais estão: a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia e a História. A Psicologia, a despeito de apresentar algumas características que a aproximam das ciências naturais, constitui também uma ciência social. Isto porque, ao tratar do estudo do comportamento humano, trata-o sobretudo a partir da interação entre os indivíduos. (p. 03).. O tema aqui tratado tem real importância para a história social. Em seu artigo ―Uma nota sobre a homossexualidade na História‖, Pinheiro (2015), traz algumas passagens que tratam sobre a homossexualidade sob o olhar de Eskridge (1993). Eskridge narra que os reis mesopotâmicos Zimri-Lim e Hammurabi viviam relações sexuais com outros homens e que há passagens mitológicas que revelam que na Mesopotâmia existiram outros casos de homossexualidade como do soberano Uruk e Enkidu.. O autor também afirma que há. evidencias que comprovam a homossexualidade fazendo parte da cultura grega antiga e romana. Para Mendes (2007):. Sobre a discussão científica e social acerca da normalidade ou anormalidade da sexualidade humana, o filósofo Francês Michael Foucault afirma que a sexualidade humana, a partir da história moderna e contemporânea, esteve sob a suposta ameaça de ser dominada por processos patológicos, o que teria levado não só as ciências, mas também a religião a intervirem, atuando tanto na esfera da prevenção como da ―cura‖ e ―normalização‖. Neste aspecto, o cristianismo, as ciências médicas e a sexologia inicialmente definiram a homossexualidade como uma patologia, um desvio da conduta sexual normal, buscando deste modo mudá-la para o ―padrão‖ dominante vigente da heterossexualidade. Mais recentemente, a 10a edição da classificação internacional de doenças – CID-10 (OMS, 1993) e a quarta edição do manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM-IV (APA, 1995) excluíram a homossexualidade da classificação de ―doença‖. (p. 250).. Segundo os estudos de Mendes (2007), o advento do capitalismo, para Foucault, não obrigou o sexo a calar-se, mas sim, desde o século XVI ao XIX, o sexo foi atiçado a se confessar e a se manifestar por meio das instituições: família, Igreja, Estado e dos saberes como a Medicina, o Direito, a Sociologia, a Psicologia e a Psiquiatria. Heloisa Noronha (2017), em sua publicação online6, no início do século IV, após se converter à fé cristã, o imperador romano Constantino decretou que a homossexualidade era. 6. https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/04/gays-foram-alvo-de-varias-atrocidades-ao-longo-dahistoria.htm.

(9) 8. antinatural, já que o sexo deveria ter por único objetivo a procriação. Ele ordenava a decapitação dos "infratores". O que queremos mostrar é que a diversidade sexual não foi vista em outras épocas da mesma forma que é vista hoje. Situações e vivências já foram tidas como algo meramente normais em outros tempos. Passamos por todo um processo histórico para se chegar à visão existente hoje.. 2. COMPREENDENDO OS CONCEITOS SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADES Estamos cercados de situações que interferem diretamente na construção do gênero. Desde a infância, quando se oferecem às meninas bonecas, miniaturas de utensílios domésticos, entre outros e para os meninos brinquedos geralmente ligados à violência como armas e espadas. Quem nunca viu alguém repreendendo ou até mesmo repreendeu uma criança de sexo masculino por pegar uma boneca para brincar? As frases são sempre as mesmas, ―boneca não é brinquedo de menino! ‖. Essas atitudes de buscar diferenciar o que são objetos/brincadeiras de meninas e de meninos incitam a naturalização de que existem diferenças sociais marcadas por diferenças biológicas entre homens e mulheres e, dessa forma, as opressões de gênero e sexuais continuam se perpetuando. Para Heilborn e Carrara (2009):. A sociabilidade infantil permite certa convivência de meninos e meninas em diferentes atividades coletivas. Já na adolescência, o fato de haver o aprendizado da aproximação ao sexo oposto, mediado por diferentes formas de relacionamento afetivo-sexual (olhar, paquera, ficar, namoro), torna os domínios masculinos e femininos mais nítidos, com limites bem definidos entre si. As noções aprendidas na infância do que é considerado pertinente ao feminino e ao masculino acirram-se e consolidam-se na adolescência e, nessa fase, torna os limites entre os gêneros mais claros. (p. 27).. Analisando questões simples e cotidianas como essas podemos ser capazes de entender que sexo é biológico, gênero é social. O gênero vai além do sexo e o que importa na definição do que é ser homem ou mulher não são os cromossomos ou o genital, mas a auto percepção e a forma como a pessoa se expressa socialmente. Isto quer dizer, que gênero está mais intimamente ligado ao papel que homem e mulher exercem ou devem exercer em uma sociedade. Consequentemente, o machismo estará ligado a esse contexto, já que na maioria das vezes o homem será considerado o forte, dominante..

(10) 9. Além disso, a sociedade em que vivemos dissemina a crença de que os órgãos genitais definem se uma pessoa é homem ou mulher. Porém, a construção da nossa identificação como homens ou como mulheres não é um fato biológico, é social. Para a ciência biológica, o que determina o sexo de uma pessoa é o tamanho das suas células reprodutivas (pequenas: espermatozoides, logo, macho; grandes: óvulos, logo, fêmea), e só. Biologicamente, isso não define o comportamento masculino ou feminino das pessoas: o que faz isso é a cultura, a qual define alguém como masculino ou feminino, e isso muda de acordo com a cultura de que falamos. (JESUS, 2012. p. 8).. Para Luiz Antônio Guerra (2014), gênero é o termo utilizado para designar a construção social do sexo biológico. Para ele, este conceito faz uma distinção entre a dimensão biológica e associada à natureza (sexo) da dimensão social e associada à cultura (gênero).7 Em nossa sociedade, a ideia inicial é que, quando se nasce com um pênis, se é homem. Assim como, quando se nasce com uma vagina, se é mulher. Ou seja, o corpo social nos define a partir da genitália que nascemos. Esse fato engloba os mais diversos tipos de desigualdade, seja ela sexual ou não. E abrange inúmeras lutas, como é o caso do Feminismo, por exemplo. Scott (1995) afirma que gênero está intimamente ligado às relações de poder:. (...) Frequentemente, a atenção dedicada ao gênero não é explícita, mas constitui, no entanto, uma dimensão decisiva da organização da igualdade e desigualdade. As estruturas hierárquicas baseiam-se em compreensões generalizadas da relação pretensamente natural entre homem e mulher. A articulação do conceito de classe no século XIX baseava-se no gênero. Enquanto na França, por exemplo, os reformadores burgueses descreviam os operários em termos codificados como femininos (subordinados, fracos, sexualmente explorados como as prostitutas), ou dirigentes operários e socialistas respondiam insistindo na posição masculina da classe operária (produtores fortes, protetores das mulheres e das crianças). Os termos de discurso não diziam respeito explicitamente ao gênero, mas eram reforçados na medida em que se referenciavam a ele. A codificação do gênero de certos termos estabelecia e ―naturalizava‖ seus significados. Nesse processo, definições normativas do gênero, historicamente específicas (e tomadas como dadas), reproduziram-se e integraram-se á cultura da classe operária francesa. (SCOTT, 1995, p. 8). Ao analisar os Parâmetros Curriculares Nacional (PCN) para os 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental, descreveu assim o conceito de gênero:. 7. https://www.infoescola.com/sociologia/sexo-genero-e-sexualidade/.

(11) 10. ... diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o desenvolvimento das noções de ―masculino‖ e ―feminino‖ como construção social. O uso desse conceito permite abandonar a explicação da natureza como a responsável pela grande diferença existente entre os comportamentos e os lugares ocupados por homens e mulheres na sociedade. Essa diferença historicamente tem privilegiado os homens, na medida em que a sociedade não tem oferecido as mesmas oportunidades de inserção social e exercício de cidadania a homens e mulheres. Mesmo com a grande transformação dos costumes e dos valores que vêm ocorrendo nas últimas décadas, ainda persistem muitas discriminações, por vezes encobertas, relacionadas ao gênero (p. 321-322, 1997).. Louro, analisa o conceito de gênero a partir da história do movimento feminista contemporâneo que começou com o movimento sufragista, nos meados do século XIX, com o intuito de dar não somente direito as mulheres ao voto, como também reivindicações ligadas a organização familiar, estudo e acesso a algumas profissões. (...) É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos. O debate vai se constituir, então, através de uma nova linguagem, na qual gênero será um conceito fundamental. (LOURO, 1997, p. 21).. Tal fala nos faz refletir sobre o que a história e o tempo são capazes de fazer. O quão espetacular é a construção e a evolução da sociedade. Hoje, depois de tantas buscas por direitos, fazendo alusão á luta das mulheres, por exemplo, talvez olhemos para o passado com certo orgulho, orgulho este não totalmente preenchido, pois sim, há ainda muitas conquistas a serem alcançadas, mas, se comparado á vida das mulheres da Idade Média, por exemplo, com as mulheres de hoje, da contemporaneidade, enxergaremos quanta história foi feita, quanto conseguiram evoluir. Muito provavelmente daqui a algumas décadas ou séculos, a sensação será a mesma. O homem está em constante evolução e socialmente se reconstruindo. Não apenas com relação ao conceito de gênero, (...) O que importa aqui considerar é que – tanto na dinâmica do gênero como na dinâmica da sexualidade – as identidades são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num determinado momento. Não é possível fixar um momento – seja esse o nascimento, a adolescência ou a maturidade – que possa ser tomado como aquele em que a identidade sexual e/ou a identidade de gênero seja ―assentada‖ ou estabelecida. As identidades estão sempre se constituindo, elas são instáveis e, portanto, passíveis de transformação. (LOURO, 1997, p. 27)..

(12) 11. A identidade de gênero é uma expressão importante da liberdade individual e da vida íntima de cada um. Pode-se nascer homem/mulher e não se identificar como tal ou até mesmo como nenhum, como é o caso das pessoas não-binárias. Esse fato engloba os mais diversos tipos de desigualdade, seja ela sexual ou não. E abrange inúmeras lutas, como é o caso do Feminismo, por exemplo. A identidade de gênero difere da orientação sexual. Um individuo pode ter nascido com um pênis e não se identificar como pertencente ao gênero masculino, por exemplo, já que entendemos aqui gênero como um fator social. A percepção de como cada um se vê ou se sente é o que denominará sua identidade de gênero ou orientação sexual, independendo do seu sexo biológico. Existem várias classificações para os diversos tipos de orientação sexual. Entendamos orientação sexual como sendo igual ao desejo, são as diferentes formas de atração afetiva e sexual de cada um. A sigla LGBT está em uso desde os anos 90 e é a costumeiramente usada para referência ao público que possui uma orientação sexual diferente dos heterossexuais. Ela se remete as lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Iremos passar por algumas dessas classificações, entendendo um pouco mais sobre o que é cada uma. Iremos em algum momento nos deparar com algumas nomenclaturas, não somente aqui, como na vida social como um todo, já que costumeiramente vemos em jornais, por exemplo, nomes ―estranhos‖ que estejam em relato com alguma situação com relação a orientação sexual. Os termos cis e trans, por exemplo. Devemos entendê-los, para assim processarmos melhor em nossas mentes o que são as pessoas transgêneros. Cis é aquela pessoa que nasceu e foi registrada como homem/mulher e se reivindica como tal. Assim, a pessoa se aceita e sente como foi registrada. A pessoa trans, é aquela que se reivindica com um gênero diferente do que foi registrado.. A transexualidade é uma questão de identidade. Não é uma doença mental, não é uma perversão sexual, nem é uma doença debilitante ou contagiosa. Não tem nada a ver com orientação sexual, como geralmente se pensa, não é uma escolha nem é um capricho. Ela é identificada ao longo de toda a História e no mundo inteiro‖. (JESUS, 2012. p. 7). Além das pessoas trans, existem os intersexos, que antes eram chamados de hermafroditas. Anamaria Modesto (2016), em sua publicação a Revista Forum explicou um pouco sobre o assunto:.

(13) 12. O nome intersexo é dado ao individuo cujo sexo biológico não pode ser definido como masculino ou feminino. Isso acontece porque os padrões genéticos do desenvolvimento fetal humano podem ser cromossomos sexuais = XY, com testículos, que desenvolve uma genitália masculina, ou XX tem ovários e genitália feminina, sendo que o intersexo é um problema de distorção congênita, cromossômica ou hormonal na criança, além disso, segundo cálculos da organização intersexual internacional, ocorre em cada 1 de 1500 crianças nascidas ao redor do globo.8. A figura abaixo traz um resumo da diferença entre identidade de genero, orientação sexual e sexo biológico:. Figura 1: Diferença entre identidade de gênero e orientação sexual Fonte: https://www.todamateria.com.br/orientacao-sexual/. Para Foucault no início do século XVII ainda existia uma certa franqueza com relação a sexualidade. O que ele quis dizer foi que ainda não se via a sexualidade como algo proibido ou secreto, como se vê ou se viu a partir do século XIX. ―Gestos diretos, discursos sem vergonha, transgressões visíveis, anatomias mostradas e facilmente misturadas, crianças astutas vagando, sem incômodo nem escândalo, entre os risos dos adultos: os corpos ‗pavoneavam‘. ‖ (p. 9). Para ele, a sexualidade foi encerrada a partir das noites da burguesia vitoriana. Lendo Foucault nos tempos atuais fica um pouco difícil imaginar como era essa fase mais franca do século XVII narrado por ele. Afinal, mesmo estando no século XXI e 8. https://www.revistaforum.com.br/eu-sou-intersexo/.

(14) 13. acompanhando sua obra escrita no século XX, ainda é muito presente o fato de a sexualidade ser um tabu, onde como o próprio Focault citou:. (...) em torno do século se cala. O casal legítimo e procriador, dita a lei. Impõe-se como modelo, faz reinar a norma, detém a verdade, guarda o direito de falar, reservando-se o princípio do segredo. No espaço social, como no coração de cada moradia, um único lugar de sexualidade reconhecida, mas utilitário e fecundo: o quarto dos pais‖. (p. 9 e 10).. O fato é que o autor quer entender onde e por que se deu a chamada por ele ―repressão do sexo‖. Para isso, ele sugere hipóteses. Um exemplo é a hipótese repressiva. Para ele, o século XVII seria o início de uma época de repressão própria das sociedades burguesas. Talvez, tenha havido uma depuração do vocabulário. Ou seja, novas regras de decência, regras essas talvez que de tanto filtradas foram levadas ao silêncio, censura. Em compensação, no nível dos discursos e de seus domínios, o fenômeno é quase inverso. Sobre o sexo, os discursos—discursos específicos, diferentes tanto pela forma como pelo objeto — não cessaram de proliferar: uma fermentação discursiva que se acelerou a partir do século XVIII. Não penso tanto, aqui, na multiplicação provável dos discursos "ilícitos", discurses de infração que denominam o sexo cruamente por insulto ou zombaria aos novos pudores; o cerceamento das regras de decência provocou, provavelmente, como contra efeito, uma valorização e uma intensificação do discurso indecente. (p. 22).. 3. IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO Segundo Brandão (1981): Só os formalistas pedagógicos podem enxergar educação apenas dentro dos sistemas restritos da pedagogia (que, aliás, até hoje não se sabe ao certo se é uma ciência, uma prática especializada ou uma teoria de educação, ou, quem sabe, nada disso). Somente eles poderiam discutir, como questões da educação, problemas de método, de operacionalidade curricular, de programação sistemática e assim por diante. Instrumentos úteis, sem dúvida, mas pequenas algemas de controle quando empregados sem a crítica do lugar e do sentido de tudo isso. Só o educador "deseducado" do saber que existe no homem e na vida poderia ver educação no ensino escolar, quando ela existe solta entre os homens e na vida. Quando, mesmo ao redor da escola e da universidade, ela está no sistema e na oposição a ele; na sala de aula em ordem, e no dia de greve estudantil; no trabalho rigoroso e persistente do professore-pesquisador e, ao mesmo tempo, no trabalho político do professor-militante. Esta é a esperança que se pode ter na educação. Desesperar da ilusão de que todos os seus avanços e melhoras dependem apenas de seu desenvolvimento tecnológico. Acreditar que o ato humano de educar existe tanto no trabalho pedagógico que ensina na escola quanto no ato político que luta na rua por um outro tipo de escola, para um outro tipo de mundo. (p. 50)..

(15) 14. A escola não deve ser apenas a instituição ―comandada‖ pelo Estado. A escola somos cada um de nós, sejamos educadores/as ou não. O ato de educar deve existir em todo e qualquer ser humano, como em todo e qualquer ambiente. A escola enquanto instituição, quando proporciona a/aos alunas/os uma educação sexual a partir de uma perspectiva heteronormativa, esquece os LGBTs, com medo de ―falsos‖ valores morais que os condenavam. Quando não como doentes mentais, taxavam como criminosos e sem vergonhas, como se a orientação sexual fosse algo que o sujeito pudesse alterar ao seu bel prazer. Para entender um pouco dos motivos pelos quais não se há tanta liberdade para falar sobre tal assunto, basta analisar a Igreja e a Ciência, que foram os maiores responsáveis pelo preconceito com relação aos homossexuais. O caso de muitas pessoas contra a homossexualidade é baseado quase que exclusivamente na Bíblia. ―Com homem não te deitarás, como se fosse mulher, abominação é;‖ (Lv 18:22). ―Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.‖ (Lv 20:13). Passagens da Bíblia como essas, ajudam seus seguidores a agir de tal forma, abominando os homossexuais. Para a Igreja, o sexo sempre foi visto como necessário para a procriação, jamais para o prazer. Assim, toda prática que não fosse voltada para esse fim era tida como pecaminosa. Já a medicina, na segunda metade do século XIX, rotulou a homossexualidade como doença e apontou para a necessidade de tratamento (só a partir da década de 1970 passou a não a considerar como tal). Do ponto de vista evolutivo, a homossexualidade é uma característica que não seria esperada para se desenvolver e persistir diante da teoria de seleção natural de Darwin. Apesar dos numerosos trabalhos que buscam uma ligação genética, porém, nenhum gene importante ligado á homossexualidade já foi encontrado. Podemos pensar que a falta de educação sexual em casa e na escola é a causa maior da LGBTfobia. Sobretudo a falta de uma educação pautada em valores morais, de respeito ao próximo. O que a escola tem a ver com tudo isso? Se heterossexuais, assim como os LGBTs, são tratados de forma desigual pela sociedade, isso também ocorrerá na escola? Quais os fatores que impossibilitam que o assunto sobre diversidade sexual seja abordado em salas de aula? Quando possível de abordar, como abordar? Nas escolas LGBT‘s sofrem ainda mais. Enfrentam obstáculos para se matricularem, participarem das atividades pedagógicas, terem suas identidades respeitadas, fazerem uso das estruturas das escolas, como o banheiro por exemplo. Em Delmiro Gouveia, Alagoas, por exemplo, em uma escola municipal, existiu um caso em que um jovem teve de se adaptar a.

(16) 15. usar o banheiro dos deficientes, porque meninos não queriam sua presença no banheiro masculino, nem meninas queriam no banheiro feminino. A questão levantada é: será politicamente correto que essas pessoas devam ser tratadas como portadores de algum tipo de deficiência? Homossexualidade não é doença nem algum tipo de anomalia para ser tratada como tal. Segundo Seffner (2007),. O ingresso dos tradicionalmente excluídos na escola conta, em princípio, com a simpatia dos professores (as), e isto se manifesta no uso dos termos ―inclusão‖, ―escola inclusiva‖, ―inclusão escolar‖, ―avaliação inclusiva‖, ―dinâmicas de inclusão‖, ―pedagogia inclusiva‖, cada vez mais frequentes no vocabulário docente. Ocorre, hoje, com a ideia da inclusão algo parecido com o que aconteceu com a interdisciplinaridade. Nos últimos anos, todos são favoráveis á criação de estratégias interdisciplinares na escola. A aparente unanimidade entre os professores e os administradores do ensino e o enorme consenso em torno da meta da inclusão não são suficientes para esconder a polemica: se, por um lado, todos concordam com a noção geral de que os indivíduos têm que ser incluídos nos processos educativos, por outro, as divergências sobre como fazer isso são enormes. Ao enfrentar uma discussão mais detalhada sobre modalidades de inclusão afetiva e concreta de determinados alunos, nós nos deparamos com preconceitos, manifestações de estigma e discriminação contra os alunos negros, os alunos pobres, aqueles que são provenientes de famílias com arranjos bem diferentes do modelo tradicional, aqueles com deficiências auditivas, motoras, visuais ou cognitivas, aqueles que são portadores do vírus HIV, aqueles que demonstram uma orientação sexual diversa da heterossexual, os muito gordos, os feios e tantos outros. (p. 3 e 4).. 4. ANÁLISE DE DADOS A pesquisa foi realizada na turma do primeiro ano do turno vespertino de uma escola localizada na zona urbana da cidade de Delmiro Gouveia/AL. Foi aplicado um questionário com questões fechadas que giravam em torno de perguntas sobre idade, identidade de gênero, orientação sexual e raça. Foi perguntado se no grupo familiar ou de amigos desses alunos/as existiam pessoas homossexuais e se eles/as consideram a homossexualidade uma doença. Também foi questionada a posição destes/as, sobre se aceitam o casamento homossexual e consequentemente a adoção. O objetivo deste questionário é saber se o tema ―Diversidade sexual‖ é já ou foi abordado não apenas nesta escola, como em algum momento da vida escolar destes alunos/as. Dentre os 33 alunos/as entrevistados, 14 consideram sua identidade de gênero como feminino. Os outros 19, se identificam como masculino..

(17) 16. A classe é majoritariamente jovem, possuindo 31 alunos/as na faixa etária de 15 á 17 anos e apenas 02 estão na faixa de 18 a 25 anos. Com relação à raça, 15 estudantes se consideram pardos, 06 negros, 08 brancos e 04 amarelos. 27 dos 33 alunos/as responderam possuir amigos ou familiares homossexuais. Foram disponibilizadas cinco respostas fechadas com relação á pergunta sobre orientação sexual, foram elas: Heterossexual, Homossexual, Bissexual, Transexual e NR (nenhuma das respostas). 26 alunos (as) responderam ser heterossexuais. 06 alunos (as) responderam NR, ou seja, não se identificam com nenhuma das orientações sexuais citadas pelo questionário. Destes 06 alunos (as), 04 se consideram pertencentes ao gênero masculino e 02, ao feminino. 01 aluna se considera bissexual. Dois fatos em especial chamaram a atenção: um dos alunos, o qual não se acha pertencente a nenhuma das orientações sexuais citadas pelo questionário, respondeu que considera a homossexualidade uma doença, que não aceita os homossexuais, o casamento entre eles e consequentemente a adoção por meio dessas famílias. O outro fato, também de um aluno que respondeu NR, acha que a homossexualidade é consequência de vivências com pessoas homossexuais. 29 alunos/as responderam que não foram abordados assuntos sobre ―Diversidade sexual‖ em sala de aula. 04 alunos/as responderam que já passaram por escolas onde foi abordado o assunto. Fora do questionário, quando perguntados se gostariam de falar um pouco mais sobre a temática, a maioria respondeu que sim, gostariam que o tema fosse abordado na escola. Num segundo momento, na mesma classe, uma dinâmica foi feita. A atividade aconteceu da seguinte maneira: a turma foi dividida em cinco grupos, os quais pegaram aleatoriamente temas diversos sobre o assunto diversidade sexual. Os enunciados foram: Filhos. homossexuais,. Homofobia,. Adoção,. Tabu. nas. profissões. e. Mídia. e. a. homossexualidade. Os temas foram escolhidos com a intenção de inseri-los/as numa possível realidade de cada situação. O exercício foi feito em forma de debate. Questionamentos foram elaborados a partir de cada tema. No primeiro tópico, ―Filhos homossexuais‖, foi feita a seguinte pergunta: ―Você é pai/mãe, até então não conhece a orientação sexual do seu filho (a), ele (a) te chama pra conversar para falar a respeito. Diz ser homossexual e quer ainda te apresentar o seu namorado (a). Como você reagiria?‖. O grupo que iniciou o debate a partir desse tema era formado apenas por pessoas do sexo feminino, as quais, de uma maneira geral falaram que aceitariam e achariam normal ter um filho (a) homossexual. Inicialmente, a fala de uma delas em especial chamou atenção: ―Eu reagiria normal, até porque eu acho muito top ter amigo.

(18) 17. gay‖. Imaginou-se que a mesma não havia entendido a pergunta. Não se tratava ali de ter amigos ou conhecidos ―gays‖, mas, àqueles tidos como herança, nossos filhos. Mesmo que sejamos conscientes com relação à aceitação pela orientação sexual do outro, a preocupação deve existir. Estaríamos prontos para enfrentar com eles, as dificuldades de ser um homossexual em nossa sociedade? Seguindo a vez dos outros grupos também falarem sobre o assunto, um rapaz surpreendeu: ―Eu voava no pescoço dele!‖. Depois do alvoroço da turma a partir de tal resposta, o mesmo reformulou sua fala: ―Não. Eu estou brincando. Eu ia ficar com raiva sim, mas depois iria tentar aceitar devagarzinho. Acho que para um pai é mais fácil aceitar uma filha do que um filho. É um filho, né? Mas, se fosse uma menina acho que seria diferente‖. Vemos aqui não apenas a presença inicial do preconceito em si pela hipótese de ter um filho homossexual, como também o fato de verem as lésbicas de uma maneira diferenciada. O machismo é algo que ainda está enraizado em nossas vidas. Quem nunca viu alguém da sua família ou de qualquer meio usar uma expressão machista ou até mesmo a usou? ―Você é uma mocinha. Aprenda a sentar!‖, ―É lésbica porque ainda não me conheceu‖. São inúmeras as maneiras e manifestações usadas pelos (as) Em resposta a resposta do colega, uma aluna falou: ―Porque assim, além das pessoas sofrerem homofobia, independente de ser do gênero feminino ou masculino, como ele acabou de falar, também tem a questão de as meninas sofrerem menos preconceito, porque elas são totalmente sexualizadas. Então, é muito complicado. Claro que é mais fácil! Vocês sexualizam as meninas!‖. Para Haraway (1991): O que faz uma mulher é uma relação específica de apropriação por um homem. Como raça, sexo é uma formação ―imaginária‖ do tipo que produz realidade, inclusive corpos percebidos então como anteriores a toda construção. A ―mulher‖ existe apenas como esta espécie de ser imaginário, enquanto as mulheres são produto de uma relação social de apropriação, naturalizada como sexo. Uma feminista é alguém que luta pelas mulheres enquanto classe eb pela desaparição de tal classe. A luta principal é pela destruição do sistema social da heterossexualidade, porque ―sexo‖ é a categoria política naturalizada que funda a sociedade como heterossexual. Todas as ciências sociais baseadas na categoria de ―sexo‖ (a maioria delas) devem ser destruídas. Neste sentido, as lésbicas não são ―mulheres‖ porque estão fora da economia política da heterossexualidade. A sociedade lésbica destrói as mulheres enquanto grupo natural. (p. 225).. Entendemos que a visão que os homens têm das mulheres é fruto de todo processo histórico que passamos até então, como o patriarcado, por exemplo. O homem ainda é o.

(19) 18. centro e muito há a se mudar com relação aos direitos e posição das mulheres. A mulher ainda é objetificada, vista principalmente como objeto sexual, por isso ainda ouvimos tantas falas como as citadas acima. Partindo para o segundo tema, ―Homofobia‖, a questão lançada foi: ―Você tem um filho (a) heterossexual. Ele (a) vive agredindo psicologicamente ou até mesmo fisicamente um (a) colega pelo fato deste (a) ser homossexual. O que você faria a respeito disso?‖. No mesmo contexto, só que de forma invertida, seguiu-se a indagação: ―Você é pai/mãe do (a) colega que está sendo agredido (a). O que você faria?‖. Alguém gritou: ―Uma pisa‖, mas, outra aluna respondeu: ―Pisa não, porque acho que agressão não resolve nada. Eu conversaria com ele, conversaria muito com ele para tentar resolver. Eu sei como é ruim, porque eu sou bissexual e eu já sofri esse tipo de preconceito. Sempre falo isso, que não faça com os outros o que não gostariam que fizesse com você, entendeu?‖. Analisando as falas citadas acima, percebemos que a fala dos homens geralmente remetem a violência. A das mulheres são muito mais compreensivas e tolerantes. Seguindo o debate, o assunto seguinte foi ―Adoção‖. O questionamento para os estudantes foi: ―Você é diretor (a) de um lar de adoção. Existem inúmeras crianças precisando de uma família. Surgiram dois casais muito interessados em adotar alguém. Um deles é um casal heterossexual, o outro, homossexual. A vontade de ambos é enorme e há muito tempo estão tentando. Partindo do pressuposto de que nesse caso você tenha o chamado ―jeitinho brasileiro‖ para solucionar o problema, você teria algum tipo de critério para a situação? Como reagiria?‖. A maior parte dos alunos que opinaram a respeito respondeu que não viam problema algum em casais homossexuais adotarem crianças ou jovens. Para eles, a adoção não interferia na orientação sexual da pessoa adotada. Ou seja, eles aparentemente tinham ciência de que não se ―vira‖ homossexual. Não é o meio ou as pessoas que nos cercam que nos definirão como tal. Trata-se do bem estar individual de cada um. Uma aluna falou: ―Tipo assim, eu acredito que a homossexualidade não é uma opção e sim uma condição. Acho que as pessoas não escolhem serem homossexuais, elas simplesmente nascem‖. O assunto sobre adoção é um tanto complicado e divergem opiniões em nossa sociedade. Nesta turma, felizmente foi visto certo entendimento e aceitação, pelo menos na teoria, o que já é muito importante. Pensamos que os pais devam ser espelhos para os seus filhos e é exatamente por isso que muitas pessoas não aceitam a adoção de crianças e jovens por casais homossexuais. Para esses preconceituosos indivíduos, se uma criança cresce vendo dois homens ou duas mulheres se relacionando, estes consequentemente farão o mesmo no futuro. Deixamos de perceber que o que está condicionado aqui não é a orientação sexual.

(20) 19. deste casal, mas o que este casal dará de, e como qualidade de vida para esta criança. Educação, moradia, respeito, saúde. Enfim, tudo aquilo que muitos casais considerados pelos padrões ―normais‖ da sociedade muitas vezes não conseguem dar. O tema seguinte a ser discutido foi ―Tabu nas profissões‖. A pergunta lançada foi: ―Você é diretor de uma importante empresa de engenharia. Está precisando urgentemente de alguém capacitado para uma obra muito importante. Recebeu as melhores indicações de um profissional do sexo masculino. Nos bastidores, seus amigos falavam ―É um ótimo profissional, só tem um defeito: é gay‖. Você o contrataria? Deixaria a orientação sexual de uma pessoa tida como muito competente interferir?‖. Assim como nas respostas da pergunta anterior, essas foram também muito positivas. Uma aluna respondeu: ―Para um profissional, o que importa é o trabalho dele, a vida pessoal dele não tem nada a ver. Eu iria contratar sim e outra, ainda daria um tipo de castigo para quem estivesse falando mal, porque não pode misturar trabalho com o pessoal‖. A questão sobre as profissões foi debatida também com o intuito de fazer-nos pensar que não existem lugares ou cargos apropriados para homem ou mulher. Este fato está relacionado á questão de gênero, o qual é imposto pela sociedade em forma de papéis e valores. Não é apenas papel do homem ser mecânico, pedreiro, policial, engenheiro, entre outros. Nem papel da mulher ser professora, cabelereira ou doméstica. Nossos lugares e papéis dependem única e exclusivamente de nós mesmos, onde nos identificamos e nos sentimos bem. O último tema tratado com a turma foi sobre ―Mídia e homossexualidade‖. A intenção foi saber qual a opinião dos alunos sobre o que anda passando na mídia em geral, se na opinião deles esse fato interfere direta ou indiretamente na vida das pessoas. A pergunta lançada foi: ―Há algum tempo vemos nas novelas, por exemplo, casos de casais homossexuais. Mostram-nos sua ―rotina‖, formas de se relacionar, formas de demonstrar carinho, etc. Como você reage, quando vê algo do tipo? Desliga? Muda de canal?‖. A fala de uma aluna em especial se destacou: ―Tipo assim, eu não acredito que a mídia tem influência no homossexualismo. Eu tiro pela minha avó, ela assiste muito novela e ela critica muito quando vê esses casais de homossexuais. Ela fala que influencia, mas eu tiro por mim, eu tenho dezesseis anos de idade e passei a minha vida toda assistindo casais heterossexuais se relacionando e nem por isso eu sou hétero‖. São falas como essa que motivam o debate. Os próprios alunos compartilharem suas experiências de vida nos faz pensar de forma diferente. Aquela pessoa que acha ou achava que uma novela que mostra casais homossexuais se beijando, por exemplo, faz com que seus.

(21) 20. telespectadores queiram e sejam influenciados a fazer o mesmo, depois de ouvir um testemunho como este narrado, involuntariamente o fará pensar, mesmo que por um momento, de uma maneira diferente. Após a dinâmica, uma breve entrevista foi feita a Edvane, licenciada em História, professora da classe: 1- Em sua carreira escolar, já foi/foram tratados assuntos com relação à diversidade sexual? Se sim, foi uma iniciativa sua ou da escola? R. Por iniciativa da escola e algumas vezes minha também. 2- A senhora acredita que assuntos como esse devem se tornar mais presentes nos debates escolares? Acredita ser apenas dever dos pais falar sobre isso? R. Sim, pois só através do diálogo podemos tentar diminuir o preconceito e a falta de respeito com a escolha do próximo. 3- Em algum momento da sua carreira escolar viu alguém sofrer algum tipo de preconceito com relação à sexualidade? Se sim, conte-nos um pouco sobre sua reação principalmente. R. Já presenciei várias vezes brincadeiras maldosas como chamar a menina de "sapatão", "bolacheira", e com meninos, falas como "essa fanta é coca", sua "bichinha", seu "anormal". Infelizmente são atitudes que ainda acontecem, mas com menos frequência. Hoje com essa possibilidade de diálogo sobre o assunto as pessoas não têm mais medo de se assumirem e lutam para serem respeitadas. 4- Como pessoa/mãe e profissional, se incomoda em falar sobre isso com seus alunos? R. Nunca o assunto causou-me desconforto ou qualquer constrangimento. 5- Acredita ter causado algum efeito, mesmo que momentâneo, a iniciativa da discussão feita através desse trabalho? R. É sempre muito importante, discussões que possam contribuir para tratar sobre temas que infelizmente ainda geram conflitos. Foi muito positiva a atividade desenvolvida, pois acredito que você também tenha percebido, gerou um momento de diálogo muito saudável. 6- Digamos que a escola em que você trabalhe não dê suporte nem abertura nenhuma para esse tipo de debate e você veja através do dia a dia, um número grande de fatos em que comprovem a existência do preconceito. O que fazer como cidadã para tentar amenizar essa situação? Trabalharia ―sozinha‖ de alguma maneira para tentar reverter esse quadro? R. Mesmo tratando-se de uma situação hipotética, com toda certeza iria arranjar um jeito de abordar e trabalhar o assunto da melhor forma possível. Não podemos mais admitir.

(22) 21. viver em uma sociedade onde pessoas ainda acreditam que o seu modo de vida é o correto e que todos precisam seguir. Precisamos respeitar e aceitar o outro que não comunga das minhas ideais e escolhas. Assim, conclui-se que todas as questões lançadas nesta classe foram única e exclusivamente com o intuito de fazer com que esses alunos se vissem e se vejam de maneira diferente. Se permitam pensar perante as situações do nosso cotidiano, como agredido, mas também agressor. Não apenas com relação ao tema ―diversidade sexual‖, como a todo e qualquer assunto que o faça em algum momento da sua vida ter agido de forma preconceituosa com algo ou alguém. Seja sobre questão racial, econômica ou política, o exercício de se colocar no lugar do outro pode fazer uma enorme diferença na vida social ou pessoal de qualquer um.. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS. O objetivo deste trabalho foi compreender, na classe estudada, como a escola aborda a temática da diversidade sexual e qual a percepção das/dos estudantes e professorado em relação a orientação sexual e identidade de gênero nas situações de violência e discriminação. Os resultados dessa pesquisa apontaram que ainda há muito a se fazer, os alunos/as ainda não estão acostumados com o assunto, o diálogo dos meninos, por exemplo, se mostrou em sua maioria de ordem ainda muito preconceituosa, o das meninas um pouco mais aberto a discussões. Vimos aqui que alguns simples encontros foram importantes para construção de diálogos, diálogos estes que podem ser um passo para abrir mentes e formar opiniões. O fato é que o tema e apoio da instituição com relação ao assunto diversidade sexual ainda é muito escasso, nos fazendo pensar também que quando o órgão não se movimenta como deveria, que os docentes não apenas como formadores de cidadãos, mas como pessoas, se movimentem de alguma forma para tentar reverter o quadro na tentativa de diminuir o preconceito. REFERÊNCIAS BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. BRASIL, Programa de Combate à Violência e à Discriminação. Caderno Escola sem Homofobia / Brasil: ECOS – Comunicação em Sexualidade, 2011..

(23) 22. CERQUEIRA, Daniel, et al. Atlas da Violência 2017. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/170609_atlas_da_violencia_2017.pdf>. Acesso em: 09 abr. 2019. FORUM, Revista Digital. Eu sou, Intersexo. Disponível <https://www.revistaforum.com.br/eu-sou-intersexo/br>. Acesso em: 17 mai. 2019.. em:. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro/RJ: Edições Graal, 1988. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008. GUERRA, Luiz Antônio. Sexo, Gênero e Sexualidade. Disponível em: <https://www.infoescola.com/sociologia/sexo-genero-e-sexualidade/>. Acesso em: 15 abr. 2019. HARAWAY, Donna. “Gênero” para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra. “Gender” for a Marxist Dictionary: the Sexual Politics of a Word. In: Simians, Cyborgs, and Women. The Reinvention of Nature. Londres: Free Association Books Ltda., 1991. HEILBORN, Maria Luiza; CARRARA, Sergio. Gênero e diversidade na escola – uma proposta de ação. Caderno de atividades. Rio de Janeiro: CEPESC, 2009. JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Brasília: Autor, 2012. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pósestruturalista/ Guacira Lopes Louro. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997. MENDES, Sandra; FERREIRA, Magrini. Homossexualidade: a concepção de Michel Foucault em contraponto ao conhecimento neurofisiológico do século XXI. Encontro Revista de Psicologia, Vol. XI, N° 16, Ano 2007. MICHELS, Eduardo; MOTT, Michels; Paulinho. População LGBT morta no Brasil. Disponível em: <https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relatório-de-crimescontra-lgbt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf>. Acesso em 11 abr. 2019. NORONHA, Heloísa. Homossexuais foram alvo de atrocidades ao longo da história; veja as piores. Disponível em: <https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2017/09/04/gaysforam-alvo-de-varias-atrocidades-ao-longo-da-historia.htm>. Acesso em: 04 mai. 2019. Revista Subjetividades, Fortaleza, 15(1): 124-129, abril. 2015. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAneroJoan%20Scott.pdf>. Acesso em: 02 mai. 2019..

(24) 23. SEFFNER, Fernando Das (possíveis) perversas faces das políticas de inclusão escolar: o que o ensino de História tem a ver com isso. Trabalho apresentado na Associação Nacional de História – ANPUH XXIV Simpósio Nacional De História.

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Referências

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