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Didática da Educação Física no Brasil

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Academic year: 2021

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Definições Do ponto de vista formal, a didática é a disciplina pedagógica de caráter prático e normativo que tem por objeto específico a técnica de ensino, isto é, a técnica de dirigir e orientar eficazmente os alunos na sua aprendizagem. Trata-se, portanto, de uma das dimensões da pedagogia, por sua vez entendida – tomando-se por base seu conteúdo – como o conjunto de conhe-cimentos sistemáticos sobre o fenômeno educativo. A apreciação do desenvolvimento da didática da Educação Física no Brasil, como também da própria pedagogia da mesma área, pode ser feita por períodos demarcados com características típicas de identificação. Neste capítulo, o primeiro destes períodos é aqui denominado de “A Pedagogia da Educação Física” com duração de 1932 até 1938. Este período foi precedido pela adoção de Sistemas e Métodos de Educação Física estrangeiros: Exercícios Sistematizados por Jahn (1860); Método Sueco (1888) e Calistenia, adotado na Marinha brasileira nos anos de 1920. Em termos cronológicos, apresentam-se a seguir os fatos de memória com maior significado deste estágio inicial e dos subseqüentes até a situação presente no país.

1932 Adotada oficialmente pelo Centro Militar de Educação Física a expressão ‘Pedagogia da Educação Física’ era de uso corrente no campo ora em exame. Em 1932, a Pedagogia da Educação Física fazia parte do Currículo do Curso de Instrutores da Escola de Educação Física do Exército. Neste estágio, o grande teórico da Pedagogia da Educação Física era Inácio de Freitas Rolim e a principal obra da época era de sua autoria: ‘Pedagogia da Educação Física’ (1932). O livro apresentava uma seção inicial que reunia o texto de duas Conferências: a primeira tecia Considerações sobre a Educação Geral nos seus pontos de contacto com a Educação Física e a segunda apresentava Princípios Gerais do Método. Uma segunda seção discorria sobre as Bases Pedagógicas (do Método Francês). Recentemente, Amarílio Ferreira Neto publicou a Pedagogia no Exército e na Escola (1999) na qual dedica o Capítulo I aos Militares e a Educação.

1933 Neste ano, a obra ‘Pedagogia da Educação Física’ (Rolim, 1933) recebeu uma nova seção, sobre jogos.

1934 A preocupação em desdobrar a Pedagogia da Educação Física para destacar a questão do método, começa a se fazer sentir. Uma evidência disto se encontra nos ‘Programmas para o período lectivo de 1934’, da ‘Escola de Educação Physica’ do Estado do Espírito Santo em que a disciplina ministrada pelo 1º Ten. Horácio Gonçalves, denominava-se “Noções de Psicologia, Noções de Pedagogia e Metodologia da Educação Física” (1934). Isto não significa que tudo desapareceria com o surgimento de um novo paradigma. Assim a Escola de Educação Física do Exército, manteve até 1970, a “Pedagogia e a Metodologia Aplicadas” como ‘Matéria’ no “Currículo para os Cursos de: Instrutor de Educação Física e Monitor de Educação Física” (EEFE, 1970. p. 4).

Período: Primazia da Metodologia da Educação Física (1935 até 1969)

1935 Foi difundida no Brasil a obra de Faria de Vasconcelos – ‘O valor físico do indivíduo – sua medição e avaliação’ (1935), editada em Portugal, embora enfatizasse mais a medida e a avaliação no campo da antropometria, difundiu testes não incluídos no Método

Didática da Educação Física no Brasil

ALFREDO FARIA JUNIOR

Physical education teaching in Brazil

In general, pedagogy is defined in Brazil as the set of systematic knowledge about the educational phenomenon while teaching is regarded as the systematic set of principles, rules, resources and specific procedures that every teacher should have and should know how to apply in order to guide students in terms of the learning process. In Physical Education, the period between 1932 and 1938 is identified as “Pedagogia da Educação Física” (Pedagogy of Physical Education), preceded by the adoption of systems and methods of Physical Education that had come from other countries: Systematized Exercises by Jahn (1860); The Swedish Method (1888) and Calisthenics (adopted in the Brazilian Navy through American influence). In this period, the expression “Pedagogia da Educação Física” (Pedagogy of

Physical Education) was officially adopted by the Centro Militar de Educação Física (Military Circle of Physical Education) (Exército Brasileiro- Brazilian Army), becoming a current expression in its respective professional field. The following period, which took place from 1935 to 1969 was characterized by (i) Physical Education methodology, (ii) theoretical contradictions of these methods, (iii) the following additional methods: French Method, Danish Method, Swedish Method, calisthenics, Austrian Natural Method, Desportiva Generalizada, and (iv) the Techniques of Measurement and Evaluation developed abroad. The phase that goes from 1969 to 1984, called ‘Sob a Égide da Didática’ (the Era of Teaching), was mainly characterized by the teaching act (General Teaching and Physical

Education Teaching) supported by the perspective of national thinking at that time. Between 1982 and 1989 another stage was developed which can be defined as ‘A Didática em Questão’ (Teaching in Question). In other words: either exalted or denied, Teaching as systematic reflection and search for alternatives for the problems of pedagogical practice started to be questioned because it corresponded frequently to models that halt creativity. Finally, the last identified period, from 1990 up to today, is characterized by a paradigmatic plurality, that is to say, a web of expressions and concepts: Pedagogia da Educação Física (Pedagogy of Physical Education), Pedagogia do Esporte (Sports Pedagogy), Pedagogia do Desporto e Didática de Educação Física (Physical Education Teaching).

Francês - as ‘provas do Dr. Bellin du Coteau’; o coeficiente VARF e sua interpretação’ (1915) e as ‘fichas de performance’ para corridas (de rapidez, meio fundo, fundo e com obstáculos), saltos (altura e comprimento, com ou sem impulso), lançamento de pesos e natação (velocidade e meio fundo). A obra recomendava a ‘normatização’ dos resultados através “das ‘médias das ‘performances’ de crianças e adultos”(p. 194); as Provas de performance dos centros escolares de Educação Física de Paris; provas escolares suecas do Dr. Boigey (p. 199) e as provas de ‘performance’ norte americanas’ (p. 205). Nas provas escolares de Petre Lazar é destacada a aplicação didática das medidas pois, com base nelas, “êle organizou classes de ginástica e de exercícios físicos ...” (p.200).

1939 O Decreto-Lei nº 1190, de 4 de abr. 1939 criou, na Universidade do Brasil, a Faculdade Nacional de Filosofia que compreendia as ‘seções fundamentais’ de filosofia, de ciências, de letras, de pedagogia e uma ‘seção especial de didática’. Aos que completassem os denominados ‘cursos ordinários’, de três anos, das várias seções, seria conferido o título de ‘bacharel’, e ao bacharel que concluísse o ‘curso de didática’ seria outorgado o diploma de Licenciado. Dias mais tarde, o Decreto-Lei nº 1212 criou, na mesma Universidade do Brasil, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos-ENEFD, destinada a “formar técnicos em Educação Física e Desportos”. Alfredo Faria Junior (In: Faria Junior, Oliveira, 1987) levantou a questão: como, “dentro de uma mesma universidade, com diferença apenas de dias, sejam criadas duas unidades universitárias voltadas para a habilitação de professores, que teriam no ensino secundário seus campo de exercício profissional, com concepções totalmente antagônicas”? [...]. Pode-se admitir que, no Projeto do Estado Novo, a Educação Física teria funções diferentes das demais disciplinas do currículo das escolas secundárias. Isto teria ocorrido porque, enquanto no grupo que estudou a criação da Faculdade Nacional de Filosofia-FNFi predominavam profissionais com uma visão formada para a formação do professor, na comissão que se dedicou ao projeto de criação da ENEFD encontravam-se militares, comprometidos com o ideário estadonovista, possuidores de uma visão tecnicista (ibid). O projeto estadonovista para a educação física se apoiava em um tripé: (a) criação da Divisão de Educação Física na estrutura do Ministério da Educação e Saúde-MES; (b) criação de uma Escola Nacional de Educação Física e Desportos, com currículo que serviria de padrão para todas as demais; (c) criação da Juventude Brasileira, organização que objetivava o “enquadramento de toda a infância compreendida entre 7 e 11 anos de idade e toda a juventude incluída entre 11 e 18 anos” (ibid). Na Carta Outorgada de 1937, a Educação Física aparecer, pela primeira e única vez, mencionada em uma Carta Magna brasileira (ibid). Esse ‘desenvolvimento em separado’ em relação com as demais licenciaturas, que mais mal do que bem tem trazido para a educação física, persistiu e hoje aparece claramente nas posições do sistema CONFEF/CREFs que busca isolar os professores de Educação Física dos demais professores e resiste em aceitar as premissas gerais das Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores para a Educação Básica (BRASIL CNE, Parecer nº 9/2001). O currículo da FNFi incluía o estudo da ‘Didática’ enquanto o currículo da ENEFD usava a expressão ‘Metodologia’ (da Educação Física) para designar uma das disciplinas, obrigatórias nas três séries do ‘Curso Superior de Educação Física’. A

Metodologia do Treinamento Desportivo era obrigatória para os Cursos de ‘Técnica Desportiva’, ‘Treinamento e Massagem’ e ‘Medicina da Educação Física’ (BRASIL. Decreto-Lei nº 1190/39). Na ENEFD, essas ‘cadeiras’ tinham um catedrático, inicialmente o Capitão Antonio Pereira Lira para a Metodologia da Educação Física e do Treinamento Desportivo (BRASIL. Decreto nº 1212/ 39). Nesse modelo questiona-se: como poderiam quatro disciplinas Metodologia da Educação Física e dos Desportos, Metodologia da Educação Física, Metodologia dos Desportos e Metodologia do Treinamento Desportivo, cada qual com seu corpus próprio de conhecimento, virem a se integrar em uma ‘cadeira’ com sólida consistência teórica? Provavelmente isto se deu por problemas de ajustamento de pessoas na carreira docente da ENEFD.

1940-1941 Surgem resistências contra a hegemonia da influência estrangeira, sobretudo contra o Método Francês, com a Divisão de Educação Física-DEF amadurecendo a idéia de efetuar um “Inquérito sobre o Método Nacional de Educação Física” (Marinho, 1946). Inezil Penna Marinho começou a desenvolver o conceito bio-psico-sócio-filosófico da Educação Física, sobre o qual deveria se construir o Método Nacional de Educação Física.

1942 Convencido da importância, o Major João Barbosa Leite, primeiro diretor da DEF, autorizou que a Divisão efetuasse aquele Inquérito. 1943 Entre 20 de julho e 15 de outubro estiveram abertas na DEF inscrições para o ‘Concurso de Contribuições para o Método Nacional de Educação Física’ (Mota, 2003).

1945 A insatisfação com o Decreto Lei nº 1212/39 levou o Cap. Lira a apresentar ao Ministro da Educação e Saúde, ‘exposição de motivos’ e ‘anteprojeto’ para a reforma dos currículos da ENEFD (1945) que sugeria que se passasse a disciplina Metodologia da Educação Física, para os dois primeiros anos, e a Metodologia da Educação Física e dos Desportos, para o terceiro. Com a substituição do Cap. Lira na cadeira de Metodologia da Educação Física e dos Desportos, por Maria Jacy Nogueira Vaz, nenhuma iniciativa foi feita em favor da inclusão da Didática.

1946 Marinho escreveu então ‘Condições a que deverá satisfazer um Método Nacional de Educação Física’ (1946). “Mas, apesar de todo o esforço desenvolvido, a idéia não vingou, pois os métodos e sistemas de Educação Física de origem estrangeira estavam fortemente arraigados e não havia condição de extirpa-los, constituindo objeto de ensino em todas as escolas de Educação Física do país, no Exército, na Marinha e na Aeronáutica” (Marinho, 1981. p.13).

Década de 1950 Neste período, os currículos das escolas superiores de Educação Física apresentavam uniformidade, pautados que eram no adotado na ENEFD. Todos incluíam a “cadeira de Metodologia da Educação Física e dos Desportos, a única das Teóricas que figura na nas três séries que a integram, evidenciando-se, assim, como a principal na preparação do professor de educação física” (BRASIL. Universidade do Brasil, 1954).

1953 O nome mais expressivo neste estágio era Luiz Alves de Mattos, catedrático de Didática Geral e Especial na FNFi que, desde 1953, ministrava aulas de ‘Didática’ no Curso de

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Aperfei-çoamento para Professores do Ensino Comercial, da FGV em colaboração com a Campanha de Aperfeiçoamento e Expansão, do Ensino Comercial-CAEC. Em 1956, essas aulas eram ministradas “pelas ondas curtas e médias da Rádio Ministério da Educação, para os professores do ensino secundário de todo o País” (Mattos, 1957). Na ENEFD, com Marinho Catedrático de Metodologia da Educação Física e do Treinamento Desportivo, registra-se sua iniciativa de apresentar discussão sobre a distinção entre Pedagogia, Didática e Metodologia. Pergunta-se por que Marinho, brilhante, com sólida formação humanística, leitor atento de obras desses três campos, não teria proposto a substituição da Metodologia pela Didática, no Curso Superior de Educação Física? Amarílio Ferreira Neto (1999), ao escrever sobre Inezil Penna Marino e a Educação Física Brasileira avança algumas respostas pela análise que fez da obra de Marinho.

1957 Em 13 de janeiro, a DEF comemorou seu 20º Aniversário. Com Alfredo Colombo à frente realizou pesquisas procurando “conhecer quais as atividades ou exercícios físicos que os alunos das escolas secundária preferem [preferiam] praticar” e “escolher os testes mais adequados para à verificação do aproveitamento em Educação Física” (Colombo, 1957. p.9). Quanto aos programas a DEF constatou serem “completamente diferentes, principalmente, os das cadeiras de Educação Física Geral e de Metodologia da Educação Física e Desportos. Para enfrentar o problema a DEF organizou “um seminário dos professores dessas cadeiras daquelas Escolas, com finalidade de proporcionar o mútuo conhecimento e o debate dos seus programas e dos processos pedagógicos utilizados” (ibid p. 10). Participaram as maiores expressões da Metodologia da Educação Física e dos Desportos: Cyro Andrade, da Escola de Educação Física de São Paulo, Jacinto F. Targa, da Escola Superior de Educação Física de Porto Alegre, Yesis Ilcia y Amoedo G. Passarinho e o Agregado Alemão, Jean Amsler. Foram publicados os textos: ‘Objetivos e finalidades da educação física’ (Andrade, 1957), O Moderno Sistema Sueco de Ginástica (Targa, 1957), A Doutrina Austríaca de Educação Física (Amsler, 1957), Planejamento do Ensino (Passarinho, 1957). As notas de aula de Didática, de Luiz Alves de Mattos, foram reunidas formando a primeira edição do livro: Sumário de Didática Geral (1957). O autor defende que ‘Didática’ não é sinônimo de ‘Metodologia’, e não se limita aos aspectos técnicos do ensino, mas utiliza os métodos como um recurso para a formação da personalidade do aluno. Mattos lançou o conceito de ‘Ciclo Docente’: “conjunto de atividades exercidas em sucessão e cìclicamente pelo professor para dirigir e orientar o processo de aprendizagem de seus alunos levando-o a bom termo” (ibid). Para Mattos o ‘ciclo docente’ abrange as fases do Planejamento -preparação de planos de curso, de unidade e de aula -, da Orientação da Aprendizagem - motivação, apresentação da matéria, direção das atividades, integração da aprendizagem e fixação da aprendizagem , fase do Controle da Aprendizagem -sondagem e progresso da aprendizagem, manejo de classe e controle da disciplina, diagnose e retificação da aprendizagem, e verificação e avaliação do rendimento (ibid). O ‘ciclo docente’ de Mattos foi uma perspectiva teórica desenvolvida pelo autor no contexto acadêmico brasileiro, nada tendo a ver com o teaching learning cycle, de Roy O. Billet (1940) ou de learning cycle, de Henry C. Morrinson (1942). O ‘Ciclo Docente’, como eixo norteador da Didática foi adotado por importantes autores, como Romanda Gonçalves, professora da Faculdade Fluminense de Filosofia e diretora do Instituto de Educação de Niterói (1969). A idéia de ‘Ciclo Docente’ aparece resumida em Irene Mello Carvalho (1973) sendo depois sintetizada, analisada e comentada por Maria Rita Sales Oliveira (1988). O livro de Mattos teve boa distribuição em Portugal, foi traduzido para o Espanhol, podendo ser encontrado nas livrarias, até a década de 90. Imídio Giuseppe Nérici, da Faculdade de Filosofia da Universidade do Distrito Federal, lançou seu livro ‘Introdução à Didática Geral – Dinâmica da Escola’ (1960) no qual enfatiza, além dos conteúdos tratados na obra de Mattos, questões sobre a Escola Secundária Brasileira e a Qualidade do Ensino.

1958 Persistia o paradigma da ‘Primazia do Método’, sendo o livro mais importante, ‘Sistemas e Métodos de Educação Física’ (Marinho, 1958).

1960 O paradigma da Primazia do Método foi reforçado pela DEF que publicou, e distribuiu gratuitamente, uma ‘Edição de Emer-gência’ da obra: Educação Física (Método Francês), “para atender,

principalmente, aos alunos de nossas escolas de Educação Física ...” (Colombo, 1960).

1961 Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL. Congresso Nacional, Lei 4024/61), sancionada pelo presidente João Belchior Goulart (Jango), várias modificações foram introduzidas nas licenciaturas, como a substituição da idéia de ‘currículo padrão’ (da Universidade do Brasil) pela de ‘currículo mínimo’, “um núcleo necessário de matérias, abaixo do qual ficaria comprometida uma adequada formação cultural e profissional. Este currículo abrangeria uma parte complementar fixada pelo estabelecimento de ensino, conforme suas possibilidades, para atender a peculiaridades regionais, a diferenças individuais e à expansão e atualização de conhecimentos, configurando o currículo pleno”.

1962 Pelo Parecer nº 283/62 do CFE já não se concebia mais “um curso exclusivamente de Didática, visto que, até o último semestre terminal (não nos referimos a ‘série’), sempre estarão presentes matérias de conteúdo. A licenciatura é um grau apenas ‘equivalente’ ao bacharelado, e não ‘igual’ a este mais Didática, como acontece no conhecido esquema 3 + 1. Posteriormente, Valnir Chagas (relator), Anísio Teixeira e Newton Sucupira elaboraram o Parecer 292/62 do CFE. Nele os autores sugeriram para a preparação pedagógica do licenciado: 1. Psicologia da Educação, Adolescência e Aprendizagem; 2. Elementos de Administração Escolar; 3. Didática; 4. Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado. O Parecer sugeria ser desaconselhável, por todos os títulos, “separar o como ensinar do quê ensinar. A Didática não é um moulin qui tourne en vide; é a arte de ensinar alguma coisa a alguém ou, na definição clássica de Comenius, a arte de ensinar tudo a todos” (ibid). Destacavam a importância do ‘Estágio’ ser iniciado quando o ensino da Administração Escolar e a Didática “estivessem pelo menos a meio caminho” (ibid). No Parecer nº 298/62, fixando o currículo mínimo dos cursos superiores de Educação Física, apareciam, além da matéria Pedagogia (substituindo a Metodologia da Educação Física e dos Desportos) as matérias pedagógicas de acordo com o Parecer nº 292/62. Na Escola de Educação Física da UFES, “experiências do emprêgo das técnicas audiovisuais, na Cadeira de Pedagogia, datam de 1962” (Araujo, 1968. p.1). 1963 Neste ano, através de Liselott Diem e I. Nikolai, foram estabelecidos os primeiros contatos oficiais dos alemães com o Brasil, durante a realização do Congresso do International Council of Health, Physical Education and Recreation – ICHPER, realizado no Rio de Janeiro (Diem, 1983.p. 14). Neste ano a Metodologia da Educação Física foi substituída por ‘Pedagogia’ no currículo da ENEFD. Como isto contrariava o que dispunham os Pareceres 292/ 62 e 298/62 do CFE, Waldemar Areno consultou o CFE e deu origem a um Parecer elaborado por Valnir Chagas que levantava três hipóteses. Com base nesse parecer as matérias pedagógicas deixaram de ser incluídas no currículo da ENEFD, mantendo a “formação diferenciada do licenciado em Educação Física”, como ainda hoje defende o Sistema CONFEF/CREFs.

1965 Em junho, foi firmado acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (através da Diretoria do Ensino Superior) e a United States Agency for International Development-USAID - Acordo MEC/USAID - “visando à constituição de uma Equipe de Planejamento do Ensino Superior-EPES, importando na doação, por aquela agência, de quase 500 mil dólares, num período de dois anos...” (Cunha, 1988. p. 175). O acordo partia de um diagnóstico do ensino superior brasileiro para o “lançamento de bases sólidas para uma rápida expansão e uma fundamental melhoria do atual sistema de ensino superior” (ibid). A Reforma Universitária aproximaria o sistema brasileiro do modelo norte-americano de universidade, com ênfase na privatização do ensino. A competência atribuída ao EPES pelo Acordo era ampla, chegando a fazer “sugestões em termos de currículos, métodos didáticos e programas de pesquisa ...” (ibid. p. 176).

1967 Nesta época os Recursos Audiovisuais eram destaque na Didática. Isto pode explicar porque a Associação Brasileira de Educação-ABE realizou o I Congresso Brasileiro de Audiovisuais onde, na Comissão XI, que teve como relator Faria Junior, discutiu-se o tema ‘Audiovisuais no Ensino da Educação Física’. Aloyr Queiroz de Araújo após o evento, reproduziu em seu livro, as “conclusões e recomendações” do evento (Araujo, 1968. p. 3). 1968 O movimento estudantil, já na clandestinidade, reagiu às restrições e ao modelo imposto pela Reforma Universitária. No

dizer de Maria Lenk (1972), o abandono do ensino superior brasileiro atingia, diretamente, as escolas de Educação Física, levando os universitários a engrossar as fileiras do movimento estudantil. Currículos defasados, desvinculados da realidade (organizados em função de condições culturais, sociais e econômicas ultrapassadas), “desatualização e falta de entrosamento de nossas entidades ... círculo vicioso da ineficiência, existente nas relações Professor de Educação Física – Dirigente ... deficiência de recursos” (Ferreira, 1968a. p. 5), geraram ondas de protesto no meio estudantil ligado à Educação Física. Após a repressão policial/militar, respostas políticas tiveram que ser desenvolvidas. A DEF, dirigida pelo Tenente Coronel Arthur Orlando da Costa Ferreira, lançou um vigoroso programa de publicações, tendo Lamartine Pereira DaCosta como Editor. Esse programa buscava suprir a carência de títulos, uma vez que o mundo editorial até então não tinha percebido o potencial que a Educação Física, o esporte e o lazer tinham como demanda reprimida. Primeiro foi revido o ‘Boletim de Educação Física’, agora com o título de Boletim Técnico Informativo (BTI) que ia de encontro à idéia de “alguns dirigentes antigos [que] costumam declarar que o professor de Educação Física no Brasil não gosta de ler ou escrever sobre assuntos técnicos de seu setor” (Ferreira, 1968. p. 6). O BTI deveria contribuir para “estabelecer uma unidade de doutrina em tôrno da necessidade da aplicação efetiva da Educação Física em todos os níveis educacionais...” (Ferreira, 1968a. p. 6). “A matéria é [era] prioritariamente nacional mesmo com eventuais prejuízos quanto ao nível: apenas situações esporádicas serão [eram] inseridos artigos de origem estrangeira” (Ferreira, 1968c. p.5). O BTI abriu perspectivas de publicação de artigos sobre Didática: Instrução Programada (Faria Junior, 1968a); Meios Audiovisuais (Faria Junior, 1968b); Iniciação desportiva através de jogos (Barros, 1968); Planejamento (Milward, 1968). A DEF lançou o livro ‘Técnicas audiovisuais nas escolas de educação física’ (Araújo, 1968). A Portaria nº 22/1968 constituiu um Grupo de Trabalho (GT), sob a presidência da professora Maria Lenk, Diretora da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ, com a finalidade de oferecer colaboração ao CFE em sua revisão de currículos para as Escolas de Educação Física e Desportos do país. Participaram representantes das escolas de Goiás, São Paulo, São Carlos, Espírito Santo, Minas Gerais, Educação Física do Exército, UFRJ e os presidentes do CND e da DEF/MEC. Nesse Grupo de Trabalho, foi incluído, a convite da professora Maria Lenk, Alfredo Faria Junior, como “representante dos ex-alunos de Educação Física” (BRASIL. UNIVERSIDADE DO BRASIL, 1968). Em reunião do GT, quando lhe foi dada a palavra, Faria Junior fez uma síntese da situação da Didática no quadro das Matérias Pedagógicas, nos cursos superiores de Educação Física. A seguir sugeriu a inclusão das disciplinas: Didática de Educação Física; Filosofia, História e Sociologia do Desporto no currículo mínimo para esses cursos. Esta sugestão foi acatada e consta do Parecer nº 894/69, de 2 de dezembro de 1969, do CFE. Entretanto, o Relator José Borges dos Santos votou pela retirada dessas disciplinas, mantendo a Didática (de acordo com as matérias constantes do Parecer nº 672/69). Com base neste Parecer o CFE publicou a Resolução nº 9/69 fixando os mínimos de conteúdo e duração a serem observados na organização dos Cursos de Educação Física.

Período: Sob a Égide da Didática (1969 - 1984) 1969 Embora a sugestão de inclusão da Didática de Educação Física não tivesse sido acolhida, a argumentação utilizada parece ter sensibilizado os que dirigiam o Programa de Publicações da DEF que decidiram editar “Introdução à Didática de Educação Física” (Faria Junior, 1969), “para suprir as novas necessidades oriundas da reformulação curricular de 69 e por apresentar para a área, uma abordagem original, construída sob uma base teórica nacional”. Distribuído gratuitamente em todo o país tornou-se obra de referência, a ponto de Laércio Elias Pereira, Marcos Ganzeli, Mauro Betti e Sergio Spósito (1977) considerarem que “não existe [existia] professor de Educação Física no Brasil que não tenha [tivesse] tomado contato com o ‘livrão’ ...” (p.3). O autor adotou a perspectiva de ‘ciclo docente’ desenvolvida por Mattos (1957), reinterpretando-a preinterpretando-arreinterpretando-a reinterpretando-a educreinterpretando-ação físicreinterpretando-a. Ultrreinterpretando-apreinterpretando-assou o reducionismo do método e incluiu clássicos elementos da Didática: os objetivos, os conteúdos, o método, o professor e os alunos (ibid). Desenvolveu o conceito de conteúdo, no lugar de ‘matéria’, adotado por Mattos (ibid). Conteúdo foi entendido como o “teor do ensino da Educação Física, através do qual serão atingidos os objetivos educacionais propostos. Desta forma poderíamos dizer que aquêles nada mais são do que reativos que, uma vez selecionados, programados, dosados, vêm facilitar

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Universidade de São Paulo (USP), com apoio do CNPq, INEP e FINEP, o Encontro Nacional de Prática de Ensino.

1984 “Exaltada ou negada, a Didática como reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica, está [estava] certamente, no momento atual, colocada em questão” (Candau, 1984 apud Faria Junior, 1988). Os signatários da Carta de Belo Horizonte (1984) consideraram que “a Didática, na Educação Física, é [era] predominantemente condicionante, por modelos que impedem a criatividade do ser humano” e sugeria “que o ensino da Educação Física se fundamente em uma Didática repensada e recolocada numa perspectiva de transformação social, com um corpo teórico constantemente construído a partir de resultados de pesquisas e reflexões sobre a prática pedagógica na escola, no trabalho e no lazer, integrando as dimensões humanas, técnica e político-social” (p. 4). A Comissão de Elaboração dessa Carta, eleita pelas Associação dos Professores de Educação Física-APEFs (ver capítulo correspondente a esta entidade neste Atlas), estava constituída por: Airton Negrine, Faria Junior, Antônio Carlos Prado, Benno Becker Junior, Eustáquia Salvadora de Sousa, Fernanda B. Beltrão, Jefferson Camfield, Laércio E. Pereira, Lamartine P. da Costa, Manoel Tubino, Moacir B. Daiuto e Nagib C. Matni. A Didática de Educação Física já constituía módulo em cursos de especialização, como no de Especialização em Treinamento Desportivo, mantido pelo PREPES, da UFMG. A UFPel, de Pelotas-ES, por iniciativa de Mauro Gomes de Mattos e Telmo Pagana Xavier, realizou o 5º Simpósio Nacional de Docentes de Nível Superior na Área de Ginástica, tendo como Tema Central, a Avaliação em Educação Física , e contou com a presença de Donald K. Matews. O Sistema FaMOC de Análise de Ensino foi divulgado internacionalmente através da ‘Revue d’Education Physique’, de Liége (Bélgica). Usando este Sistema, Dircema H. F. Krug e Arno Krug desenvolveram pesquisa (1984) sobre ‘os estilos de ensino dos supervisores, professores de conteúdos e Estagiários do Curso de Graduação em Educação Física. Cruz Alta-RS.’ Em Portugal, a Pedagogia por Objetivos na Educação Física parece ter entrado através da tradução da obra de Bernard Maccario, ‘Definição dos Objectivos da Educação Física’ (1984). Isto parece claro na declaração dos editores: “a coleção Horizonte da Cultura Física não podia ficar alheia ao vasto movimento que hoje é vivido em torno da pedagogia por objectivos: trata-se de um elemento importante da pedagogia actual que não se pode desconhecer” (contra capa). Assinala-se a presença no Brasil de de Reiner Hildebrandt-Stramann, hoje professor da Universidade Técnica de Braunschweig (Technishe Universität Braunschweig), que foi professor visitante das universidades federais e estaduais de Santa Maria, Pernambuco, Maringá, Maceió, Campinas, Florianópolis e Vitória.

1985 A Didática de Educação Física e o Ensino da Educação Física foram temas incluídos e discutidos no 2º Congresso Latino-Americano de Educação Física, Desporto e Recreação realizado em Tramandaí-RS, sob os auspícios da APEF-RS. No Documento Final foram incluídas duas recomendações ligadas à Didática, como: que as IES “considerem as atividades profissionais do aluno... como Prática de Ensino ou Estágio Supervisionado, desde que acompanhado pelo professor responsável” (p.5), que as APEFs e as IES “promovam cursos de capacitação, atualização e/ou aperfeiçoamento em avaliação em Educação Física” e que “as disciplinas práticas dos cursos de formação de professores de Educação Física enfoquem com maior ênfase o aspecto avaliação em cada uma de suas especialidades” (p.6). Helder Guerra Resende apresentou sua dissertação sobre ‘A relação entre intenção e ação pedagógica de docentes atuantes no processo de formação de professores de educação física’ (BRASIL. UERJ, 1985), valendo-se do Sistema FaMOC. Foi publicado o livro ‘Criatividade nas aulas de educação física’ (Taffarel, 1985). Em sua argumentação a autora utiliza resultados de pesquisa da análise do ensino para criticar a predominância de “estilos de ensino predominantemente diretivos”, atribuindo o fenômeno “as influências exercidas no Brasil, por escolas estrangeiras” – método francês, sueco, desportiva generalizada, calistenia etc (p. 14).

1986 No Brasil, na Educação Física, começaram a surgir as primeiras reações ao paradigma da Pedagogia por Objetivos. “Critica-se no paradigma seu aspecto tecnicista; sua abordagem psicológica, com ênfase em aspectos comportamentais; sua despreocupação com problemas mais graves no âmbito da educação, da instituição educacional e da sociedade; a influência positivista; sua pretensa neutralidade ideológica; sua preocupação com a eficácia e a precisão; sua abordagem cientificista e, finalmente, sua visão econométrica

e simplista do trabalho educativo” (Faria Junior, 1986). Em Portugal, ainda permaneciam nos cursos de formação de professores, as ‘cadeiras’ de Metodologia da Educação Física I e II, Estudos Práticos I e II e Didáctica de Educação Física. Na prestação de Provas de Agregação, Jorge Olímpio Bento (1986) salientava e fundamentava a situação fulcral da Didáctica de Educação Física “no elenco de disciplinas consagradas à formação de competências pedagógicas e didáctico-metodológicas imanentes ao ensino em Educação Física e Desporto”. No Brasil, publicou-se a obra sobre ‘Avaliação em Educação Física’ (Faria Junior, 1986) que reuniu os textos das conferências de Octávio Teixeira, Donald K. Matews, Faria Junior, Maria Isabel da Cunha e Jorge D. Otañez, feitas no 5º Simpósio Nacional de Docentes de Nível Superior na Área de Ginástica e que não tinham sido incluídos nos Anais desse evento. Foram incluídos ainda os textos de Pedro Henrique Josuá, Luiz Tadeu Paes de Almeida, Helder Guerra Resende e Riselaine da Silva Bressane que tratavam de aspectos pouco explorados. O de Resende representou um avanço na pesquisa em Didática, ao introduzir o uso de “Microcomputadores e [para] a Simplificação da Análise do Ensino” (ibid). Por recomendação de Jürgen Dieckert, professor visitante na UFSM, coordenador da Série Educação Física – Fundamentação, da Editora ‘Ao Livro Técnico’, foi traduzida e publicada a obra de Reiner Hildebrandt e Ralf Laging, Concepções Abertas no Ensino da Educação Física (Offene Konzepte im sportuntericht) (1986). Esta obra abriu na Educação Física brasileira uma nova vertente de nítida influência doutrinaria alemã. 1987 Neste ano Elenor Kunz defendeu no Instituto de Ciências do Esporte da Universidade de Hannover, na Alemanha. Sua tese foi transformada, após a supressão de alguns tópicos, no livro Educação Física. Ensino & Mudanças (1991). Foi publicada em Portugal a obra ‘Planeamento e avaliação em educação física’ (Bento, 1987). Nela Bento reconhece que em Portugal “o ensino da Educação Física carece [carecia] ser balizado quer por uma metodologia ou didáctica respectiva, quer ainda por programas elaborados em conformidade ...” (p.10). Neste sentido, o autor propõe “transportar para o campo da Educação Física princípios da didáctica geral ... tentando contribuir para a criação de uma metodologia ou didáctica de Educação Física” (p.10). Examinando-se a bibliografia utilizada para a preparação da obra, observa-se que nenhum autor brasileiro de Didática Geral, como Luiz Alves de Mattos, Emídio Nérici, Romanda Gonçalves, Irene Carvalho, Vera Candau, Maria Rita Oliveira e outros, foi utilizado. Para fundamentar a obra a escolha recaiu sobre autores anglo-saxões (Anderson, 1980; Bandura, 1977; Bloom, 1975; Crum, 1983; Dieterweg, 1972; Eisner, 1978; Gage, 1974; Garlichs et al. 1976; Jakowlew, 1976; Klingberg, 1976; Mager, 1965; 1977; Siedentop, 1979; Skinner, 1965; Thorndike, Hagen, 1969; Tyler, 1973), francófonos (de Ketele, 1975; de Landsheere, 1975; 1979; Osterrieth, 1976) e portugueses (Estrela, 1984). Na obra, Bento (ibid) critica a ‘Pedagogia por Objetivos’, e alerta que “o professor não deve deixar cair as suas reflexões nas malhas de uma qualquer tecnologia, nas roupagens de um qualquer esquematismo e formalismo cientificistas, por mais atraente que seja a oferta, por mais miraculosa e ‘desinteressada’ que pareça a receita – mesmo que se chame Pedagogia por Objetivos” (p.12). O autor critica ainda a perspectiva behaviorista (comportamental) de considerar apenas as ‘manifestações observáveis’, “na análise de objectivos de aprendizagem” (p.22). Neste ano, Maria Augusta Peduti Dal’ Molin Kiss lançou seu livro “Avaliação em Educação Física”, no qual aborda aspectos biológicos e educacionais. 1988 Por iniciativa do então professor visitante Dietmar Samulski realizou-se, na UFMG, o I Simpósio Internacional de Pedagogia do Esporte, que reuniu profissionais de vários países e tendências. Da Alemanha vieram Gerhard Heker (Novas Tendências e Perspectivas do Currículo de Educação Física – Saúde – Aventura – Experiência Corporal) e Klaus Eichner (Tecnologia e Ética no Esporte). Na cidade do Porto, Portugal, reuniu-se o International Committee of Sport Pedagogy-ICSP. Este comitê incluía membros de outras instituições: Association Internationale des Écoles d’Education Physique-AIESEP, Fédération Internationale d’Education Physique-FIEP, International Association of Physical Education and Sport for Girls and Women-IAPESGW e International Society on Comparative Physical Education and Sport-ISCPES. Nesta reunião delinearam-se os principais projetos do ICSP: uma introdução à terminologia da Pedagogia do Esporte, métodos de pesquisa e Pedagogia do Esporte (a cargo de Herbert Haag) e a Criança e o Esporte: aspectos pedagógicos. A Coordenação do Centro de Pesquisa de Cruz Alta, publicou no 1º Resumo de Pesquisas em Educação Física (1988) o

trabalho de Arno Krug e Dircema H. Francescheto sobre ’Estilos de Ensino dos Professores de Educação Física de 1ª a 4ª’.

1989 Realizou-se, no Rio de Janeiro-RJ, o I Congresso de Educação Física de Países de Língua Portuguesa, a partir de quando se intensificou o intercâmbio com professores portugueses. Possivelmente o tema deste congresso – “a aula de Educação Física no contexto escolar, um desafio para o Século XXI”, tenha influenciado uma série de trabalhos que vieram a ser publicados enfocando o tema ‘aula’, no contexto da Didática. A Disciplina ‘Análise de Ensino na Educação Física’ constava do currículo do curso de Mestrado da USP, ministrada por Faria Junior. A partir do I Congresso de Educação Física de Países de Língua Portuguesa intensificou-se o intercâmbio com Portugal, passando-se a contar com a presença constante de Jorge Olímpio Bento. Em Portugal, a Didáctica de Educação Física ainda convivia com a Metodologia da Educação Física, quando Jorge Bento (1989) propôs mudanças no “conteúdo programático para a ‘cadeira’ de Didáctica de Educação Física (e Desporto)” (p.27). E, dentre essas, destacava-se “a fusão das cadeiras de Didáctica de Educação Física e Metodologia da Educação Física I e II, originando as cadeiras de Didáctica de Educação Física e Desporto I e II” (ibid. p.31). Nas referências bibliográficas deste Relatório observa-se a ausência de qualquer menção a obras brasileiras, recaindo a preferência por obras autores alemães (Demeter, 1981; Drews, 1983; Grössing, 1972; Grupe, 1982; Klingberg, 1976; Meinel, 1976; 1984; Samulski, 1985; Stiehler, 1988; Wulf, 1980), norte-americanos e ingleses (Anderson, 1980; Singer, 1974; Siedentop, 1983; Montoye, 1987), belgas (D’Hainaut, 1980; De Landsheere, 1977; De Ketele, 1980) e espanhóis (Teleña, 1979), além dos portugueses (Bento, 1984; 1985; 1988; 1987; 1989; Constantino, 1987; Cortesão, Torres, 1983; Estrela, 1984; Gonçalves, 1987; Januário, 1989; Pinto, 1989; Sobral, 1988). Na década que se encerrava, a Análise do Ensino havia sido introduzida por um professor belga, visitante, na Universidade Técnica de Lisboa-UTL. A partir daí várias pesquisas foram feitas e Francisco Carreiro da Costa tornou-se a autoridade mais importante no assunto, naquele país.

Situação Atual Pluralidade paradigmática: um emaranhado de expressões e conceitos (de 1990 até hoje).

Pedagogia da Educação Física.

1993 Essa expressão foi retomada por Viktor Shigunov e Vanildo Rodrigues Pereira para intitular a obra: ‘Pedagogia da Educação Física. O desporto coletivo na escola. Os componentes afetivos’. Os autores retomam o tema dos Comportamentos Afetivos, dos componentes do domínio afetivo, dos componentes de instrução no ensino geral e da educação física. Finalmente a obra aborda a questão do desporto coletivo na escola e dá como exemplo o handebol escolar. Mas, os autores em nenhum ponto do livro discutem o conceito de Pedagogia da Educação Física.

Metodologia do Ensino da Educação Física: a Aula 1991 Por coincidência ou não, a partir do I Congresso de Educação Física de Países de Língua Portuguesa, em que o tema esteve centrado na ‘aula de educação física no contexto escolar’ alguns trabalhos vieram a ser publicados enfocando a ‘aula’, no contexto da Didática. Ainda é cedo para concluir se isso virá a se constituir em uma tendência. Mas, na série Fundamentação da Educação Física, coordenada por Dieckert, foi publicado o livro ‘Visão didática da educação física. Análises críticas e exemplos práticos de aulas’ (1991). O livro é assinado por um grupo de trabalho Pedagógico da UFP e UFSM. Da UFPe participaram Celi Tafarel, Eliane Moraes, Mércia Andrade, Micheli Escobar e Vera Luza Costa. Da UFSM, Amauri Bássoli de Oliveira, Carlos Luiz Cardoso, Wenceslau Leães Filho e o professor alemão, visitante nas duas Universidades, Reiner Hildebrandt, de Lüneburg. O livro analisava “a teoria de aula de educação física aberta às experiências dos alunos sob perspectivas didático-pedagógica, humana e político-social...e observa exemplos concretos de aula no Primeiro Grau, em especial.... “ (2ª Capa). Assinala-se também a publicação assinada por um Coletivo de Autores – Metodologia do Ensino da Educação Física (1991), que tinha como preocupação principal questões epistemológicas e metodológicas da Educação Física, isto é, quais o conhecimento que deveria integrar o conteúdo e como transmiti-lo. Os autores sugerem que o conteúdo da educação física é oriundo de uma área denominada Cultura Corporal. No dizer de Elenor Kunz (1994) esses dois livros “apresentam, inclusive, alguns exemplos concretos de como a Educação Física pelo ensino de Movimentos, Jogos e

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Esporte pode atingir metas que vão da simples execução destas atividades e assim, abranger uma dimensão científico-educacional prevista pelos seus pressupostos teóricos. Mas, ainda não são propostas práticas concretamente desenvolvidas em nossas escolas brasileiras” (p. 12).

Ensino (da Educação Física)

1991 A obra de Elenor Kunz - Educação Física: Ensino & Mudanças (1991), lançou “algumas idéias em forma de perspectivas práticas para um ensino problematizador na Educação Física” (p. 18). Nele foram lançadas “bases teóricas e perspectivas práticas para o ensino da Educação Física com compromissos pedagógico-educacionais e possibilidades de transcender a instrumentalização para uma mera atividade prática do ensino, no âmbito das objetivações culturais do movimento humano” (p. 5). Mais tarde o autor publicou a obra: ‘Transformação didático-pedagógica do esporte’ (1994). Nela Kunz defende “uma concepção crítico-emancipatória do Ensino da Educação Física Escolar” e “uma nova forma de tematizar o ensino, neste caso o ensino do Movimento Humano, em especial os esportes” (p. 13). 1993 Sebastião Votre publicou o livro “O ensino e avaliação em educação física” (1993) que inclui um único tema que se pode rigorosamente considerar como ligado à Didática: “Avaliação na educação física”, de Nádia Pereira de Souza.

2001 Foi publicada a primeira edição do livro “Textos pedagógicos sobre o ensino da educação física” de Reiner Hildebrandt-Stramann. 2003 O livro “Textos pedagógicos sobre o ensino da educação física” (2003) reúne artigos de Reiner Hildebrandt-Stramann, publicados nos períodos em que esteve no Brasil como professor visitante. Os artigos retomam as ‘concepções abertas no ensino da educação física (Offene Konzepte im sportuntericht).

Pedagogia do Esporte

Como se mencionou anteriormente, as concepções alemãs de Pedagogia do Esporte (Sportpädagogik) e Didática do Esporte (Sportdidaktik) foram introduzidas e reiteradas por professores que aqui estiveram no período de vigência do Convênio do Brasil com a República Federal da Alemanha, e reforçadas por brasileiros que regressaram, após terem estudado nesse país. Para Liselotte Diem (1983) as medidas tomadas no quadro deste Convênio se enquadravam à nova Política Educacional do Brasil dos anos de 1970. (p. 14). Estas ações visavam mais a promoção do modelo alemão de pós-graduação e das tentativas de oferecer modelos curriculares para os cursos superiores de Educação Física brasileiros. No primeiro caso a CAPES manteve a opção pelo modelo norte-americano já implantado na pós-graduação em outras áreas do conhecimento. No segundo, os próprios brasileiros buscaram, nos encontros de Florianópolis e Curitiba, seus próprios caminhos para a reestruturação curricular. Essas concepções foram reforçadas por professores brasileiros que fizeram cursos na Alemanha. Situação Atual A persistência da Didática de Educação Física (de 1990 até hoje).

Didática Não tendo havido qualquer ato revogatório, a Didática permanece presente nos currículo dos cursos de licenciatura em Educação Física. Entretanto, nas Universidades onde existe Faculdade ou Departamento de Educação, a Didática que é ministrada aos futuros professores de Educação Física, é a Geral. Com a existência de mais de 300 cursos de formação de professores de Educação Física no país torna-se impossível traçar o quadro da Didática. Pode-se apenas afirmar que alguns professores continuam freqüentando os Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino-ENDIPE que, em 2000, atingiu sua 10ª versão.

Didática de Educação Física Na construção teórica sobre Didática e Análise do Ensino, Brasil e Portugal desenvolveram-na sem consultas ou intercâmbio entre especialistas, pelo menos até o I Congresso de Educação Física de Países de Língua Portuguesa. No Brasil, causa estranheza que com abolição da exigência de um currículo mínimo para a licenciatura em Educação Física (BRASIL. Conselho Federal de Educação. Resolução nº 3/87), as IES não tenham julgado importante incluir a Didática de Educação Física na formação de professores. Evidentemente vários fatores podem ter influído para isto. Os principais são a Ideologia do Internacionalismo Científico e a expansão de cursos rápidos, de fim de semana, na perspectiva do ‘comércio do fitness’. Apesar disto concepção da didática de educação física continua a se desenvolver no país. Na atualidade identificam-se duas tendências: a liderada por Faria Junior que vem

se preocupando com o novo desafio que se apresenta para os professores de Educação Física neste início do Século XXI: trabalhar na perspectiva de uma ‘educação inclusiva‘ (Faria Junior, 2003) e com a ampliação do campo de atuação da Didática para além da educação escolar, atendendo às perspectivas de uma ‘educação social’ (Faria Junior, 2002). E liderada por Elenor Kunz que, numa abordagem de aproximação da realidade prática vivida pelos professores, quer “oferecer-lhes, não apenas teóricos de reflexão e fundamentação da ‘Educação Física Escolar’, mas elementos concretos de atuação, que – mais uma vez não – não podem ser tomados como modelo, mas exemplos a serem reavaliados, criticados e modificados” (Kunz, 2002. p. 11). Na primeira perspectiva a Didática de Educação Física tem procurado novos aportes, como a que traz a abordagem multidisciplinar. Em 1999, realizou-se o I Encontro Interno de Didática Específica em Educação Física, organizado por Luiz Alberto Batista no Instituto de Educação Física e Desportos-IEFD da UERJ, e que teve justamente como objetivo discutir a “Multidisciplinaridade na Formação de uma Didática Específica para a Educação Física”. Neste Encontro Faria Junior proferiu palestra sobre a Didática de Educação Física para Populações Especiais. Na perspectiva da inclusão, Faria Junior tem procurado desenvolver sua proposta de uma Didática de Educação Física sob uma abordagem multicultural, em uma perspectiva crítica. Talvez por isto o desenvolvimento da Didática esteja ocorrendo na prática com populações com necessidades educativas especiais. Nesse quadro, novas propostas para a medida e a avaliação da autonomia e da proficiência física de idosos têm sido construídas por: Faria Junior e colaboradores (1997), Paulo Farinatti (1998), Silene Okuma (1999) e Sandra Matsudo (2001). Ensaios de normatização também continuam a ser feitos, como a tabela de percentis para os resultados no Teste de Força Máxima de Preensão Manual de Idosos (Faria Junior, Farinatti, Vasconcelos, 1996). Além disto, já se encontra à disposição um ‘esquema de aula’, específico para pessoas idosas, dividido em seis partes, criadas para enfrentar algumas das transformações que comumente ocorrem com o envelhecimento (Faria Junior, 1999). Questões relacionadas com segurança, acidentes e morte nas aulas passaram a receber maior atenção. A correção da linguagem didática passa a ser mais exigida evitando a disseminação de preconceitos e estereótipos quanto à raça, idade, gênero, etnia, religião e preferência sexual. No que concerne a multidisciplinaridade, a Didática no Brasil tem recebido contribuições da Cineantropometria (Faria, in: Faria Junior et al. 1999), da Biomecânica (Batista, 1991; 1992) e da Fisiologia (Farinatti, 1998). A pesquisa também continuou a se desenvolver, tendo Lea Laborinha criado o Sistema de Indicadores para Análise da Abordagem Humanista – Nível Latente 90 (SIADAH – NL 90) durante seu curso de doutoramento na Universidade Autônoma de Barcelona (1991). Os Sistemas de Análise de Ensino têm sido usados na pesquisa sobre Didática, agora mais concentrados no ensino das atividades físicas para pessoas com necessidades educativas especiais – idosos (Laborinha et al. 1993), cegos e portadores de deficiência visual (Vargas, 2000). Na segunda tendência, Kunz dirige-se aos professores de Educação Física que têm “vontade e coragem para enfrentar uma mudança de orientação didático-pedagógica em sua prática cotidiana na escola, e que para isso, também, disponham a continuar [...] os estudos teóricos que fundamentam, reconceituam e argumentam com abrangência e profundidade sobre o ensino, a escola, a sociedade, a criança, o jovem, o aluno, o corpo, o movimento humano e enfim os esportes, a Cultura de Movimento, a Educação Física, e tantos outros temas correlatos e fundamentais para a profissão de professor“ (Kunz, 2001. p. 11).

Prática de Ensino de Educação Física No período foi identificada a publicação do artigo ‘Prática de Ensino em Educação Física’, de Helena Alves D’Azevedo (In: Zen, Souza, 2001). Fontes

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Bloom, Benjamin S. et al. Taxionomia dos objetivos educacionais. Porto Alegre: Globo, 1972.

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Brum, Regina A. Domínio Psicomotor. Objetivos e avaliação. Porto Alegre: Sulina, 1977.

Coelho, Olímpio. Pedagogia do Desporto. Lisboa: Horizonte, 1988. Coletivo de Autores. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 2000.

D’ Azevedo, Helena Alves. Prática de Ensino em Educação Física. In: Zen, Maria Isabel H. Dalla, Souza, Nádia Geisa S. de (Org.). Práticas de Ensino na UFRGS: narrando pedagogias. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, 2000.

Faria Junior, Alfredo G. de. Prefácio. In: Bento, Jorge Olímpio, Garcia, Rui, Graça, Amândio. Contextos da Pedagogia do Desporto. Lisboa: Horizonte, 1999.

Faria Junior, Alfredo G. de, Faria, Eduardo José da Costa. Didática de educação física. In: Faria Junior, Alfredo G. de et al. Uma introdução à educação física. Niterói: Corpus, 1999. 486 p. 241-383,

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Faria Junior, Alfredo G. de. A pesquisa sobre o ensino da educação física na Inglaterra/País de Gales e no Brasil, entre 1975 e 1984. In: Faria Junior, Alfredo G. de (ed.). A aula de educação física no contexto escolar, um desafio para os anos 90. Rio de Janeiro: UERJ, 1994.

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Faria Junior, Alfredo G. de (ed.). A aula de educação física no contexto escolar, um desafio para os anos 90. Rio de Janeiro: UERJ, 1993.

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aprendizagem daquela prática educativa. São os agentes utilizados pela Educação Física para exercer a integração das novas gerações no meio físico e social, bem como para auxiliar no desenvolvimento da personalidade dos educandos” (Faria Junior, 1969. p. 70). Rompeu-se com o paradigma da Primazia do Método, e a Metodologia da Educação Física passou a ser integrada no contexto maior da ‘Didática de Educação Física’.

1970 Um Grupo de Trabalho (GT) foi constituído para elaborar um anteprojeto que daria origem à Lei 5592, que impôs no país o paradigma da Pedagogia por Objetivos. Baseado no conceito de eficácia social ele “vê na escola e no currículo instrumentos para obter os produtos que a sociedade e o sistema de produção necessitam em determinado momento” (Sacristán, 1982, p. 10). O paradigma tem origens na corrente ‘pragmatista’ americana que busca um racionalismo na atuação pedagógica, coerente com uma visão utilitária do ensino, das instituições educativas e da educação em geral. O paradigma procura justificar-se metodologicamente por sua base experimental de cunho positivista, destacando o valor do observável e do quantificável. Os ideais de eficácia e precisão são fundamentais na pedagogia por objetivos. A nova Lei buscava diminuir o “distanciamento entre o setor educacional e o setor produtivo” e objetivava “uma educação para o produtor consumidor” (Silva, Rocha, 1973. p.13). No anteprojeto observa-se a influência de autores americanos como Hilda Taba (1962), Robert F. Mager (1962) e Benjamim Bloom (1956, 1964). Na Educação Física, após o Congresso Mundial de Educação Física de Strasbourg (1969), Jacinto Targa introduziu a discussão sobre a ‘Pedagogia não diretiva’ (1970) defendida pelos representantes belgas, e que gerou muitas discussões.

1971 Em 11 de agosto de 1971 passou a vigorar a Lei 5692, ‘oficializando-se’ a ‘Pedagogia por Objetivos‘ na educação brasileira. Para alguns autores “a principal característica da Lei 5692/71 é ser renovadora em termos de organização curricular. O desenvolvimento do currículo em atividades, áreas de estudo e disciplinas, a parte de educação geral e a parte de educação especial do currículo, os objetivos de sondagem de aptidões, iniciação para o trabalho e habilitação profissional envolvem um re-estudo: (a) na formulação de objetivos, (b) na metodologia de ensino e (c) na avaliação dos resultados do processo educativo” (BRUM, 1975). Eurides de Brito da Silva e Anna Bernardes da Silveira Rocha (op. cit.) não escondem a opção daquele GT pela ‘Pedagogia por Objetivos’ incluída na Lei 5692/71, ao demonstrar que há necessidade de uma hierarquização entre finalidades da educação e objetivos educacionais. E que estes, “devem, exatamente, permitir a identificação das possibilidades e limitações dos alunos. Devem, por conseguinte, ser expressos em termos ‘comportamentais’” (p. 33). Em uma ação bem articulada, o Serviço Nacional da Indústria-SESI traduziu e distribuiu ampla e gratuitamente o livro de Robert F. Mager – Objetivos para um Ensino Efetivo (1971), que teve um papel definitivo na difusão do paradigma. Em resumo, a Pedagogia por Objetivos foi imposta, não através dos professores de Didática mas sim da ação dos ‘curriculistas’, com passagem pelos EUA e que participaram da elaboração do anteprojeto da Lei 5692/71. 1972 A difusão continuou com a tradução, por professores da UFRGS, da obra de Benjamim Bloom e seus colaboradores, publicada e distribuída pela Editora Globo, introduzindo entre nós as Taxionomias de Objetivos Educacionais do domínio cognitivo (1972) e afetivo (1973). A ruptura com o pensamento didático nacional que desafiava a prevalência dos métodos, admitia a Didática Geral e as Didáticas Especiais (como a de Educação Física), centrado na idéia de ‘ciclo docente’, de Mattos, prosseguiu. Irene Mello Carvalho, ao lançar sua obra O Processo Didático (1972), sugeria uma nova Didática, “mais sugestiva do que normativa”, mais coadunada do ideário da ‘educação liberal‘ na concepção exposta por Benedicto Silva (1968), contribuiu para consolidar esse rompimento no âmbito da Didática (Geral). Neste ano, realizou-se o I Encontro Nacional de Professores de Didática, na Universidade de Brasília, ao qual comparecemos vários de nós, professores de Didática de Educação Física (Faria Junior, 1972). A Fórum lançou, sem nenhum ganho para o autor, uma segunda edição da obra Introdução à Didática de Educação Física (Faria Junior, 1972) já parcialmente adequada à Lei nº 5692/71. Esse livro foi distribuído em Portugal, facilitado pelo fato do proprietário dessa editora ser cidadão deste país.

1974 Os primeiros mestrados em educação passaram a ser procurados pelos professores de Educação Física que buscavam avançar em sua

titulação. Lá a Pedagogia por Objetivos era um dos temas centrais dos cursos. Em um período da educação brasileira na qual predominava uma concepção ‘legalista’, todo o magistério era instado a cumprir a Lei 5692/71 que reformava o sistema educacional. A disciplina ‘Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau’, obrigatória nos cursos de licenciatura, era o principal instrumento para a difusão entre os futuros professores do que preconizava essa Lei e do paradigma que a sustentava. O rompimento com o modelo nacional de teorização em Didática também se refletiu na Educação Física, com a tentativa de introdução da ‘abordagem sistêmica’ no ensino da Educação Física através da obra de Robert N. Singer e Walter Dick (1974): “Ensinando Educação Física”. Parece importante destacar que, embora pouco empregada, a palavra Didática existe em Inglês – “Didactic, meant to instruct” (Sykes, 1988); “Didatic – designed or intended to teach; Didatics – “systematic instruction: Pedagogy. Teaching” (Webster’s, 1973. p. 317). Entretanto, contrariamente ao que ocorre em português, em inglês a palavra Didática não significa um campo de pesquisa, teorização e intervenção. Por isto no contexto anglófono o ensino (instrução) é a tônica, sem atingir a amplitude da Didática.

1975 Neste ano foi publicado o livro “Sport Pedagogy: Content and Methodology”, editado por Herbert Haag, do Institut fur Sportwissenschaften der Cristian Albrechts Universität, Kiel, Alemanha, com trabalhos apresentados no ‘First International Symposium on Sport Pedagogy’, realizado na República Federal da Alemanha. A Pedagogia do Esporte começava a consolidar sua doutrina no contexto alemão e começava a seduzir um grupo anglófono, e uns poucos francófonos (belgas).

1976 Durante o Congresso Internacional de Educação Física da FIEP, em Jyväskilä (Finlândia), cujo tema central foi ‘avaliação’, uma sessão especial foi dedicada à avaliação do professor. No mesmo ano, em Quebec, realizou-se, sob a égide da UNESCO, o Congresso Internacional de Ciências da Atividade Física (The International Congress of Physical Activity), evento pré-olímpico. Aproveitando a ocasião foi realizado um Seminário denominado Pedagogy of Sport. Nele, dentre outros, estiveram presentes John Cheffers, Jean Brunelle, Tousignant e Faria Junior. Na Educação Física havia um confronto entre o que a Didática preconizava e o paradigma imposto pela Lei, gerando uma sensação de desatualização da área, sentida por estudantes e professores, ‘treinados’ para o cumprimento da Lei 5692/71. Ouviam falar de taxionomias, finalidades da educação, objetivos do ensino, objetivos comportamentais, mas a Didática de Educação Física não aprofundava esses temas. Com a ‘Didática de Educação Física: técnica de formulação e enunciado de objetivos’ (Faria Junior, 1976) vencedora na Categoria Educação Física para Todos os Graus, no II Prêmio MEC de Literatura Esportiva, difundiram-se as Taxionomias de Objetivos do domínio psicomotor, elaboradas por autores que não do grupo de Bloom. O livro resumiu as iniciativas de Ragsdale (1950), Guilford (1958),Simpson (1966), Dave (1967), Kibler, Barker e Miles (1970), Jewell e colaboradores (1971) e introduziu no Brasil a Taxionomia de Anita Harrow, desenvolvida originalmente, em 1972 (Faria Junior, 1976). O livro, embora o Regulamento do Concurso determinasse, não foi imediatamente publicado. Tratando de um único tema da Didática o livro deveria abrir a possibilidade para o “surgimento de outras obras, de diversos autores, abordando assuntos em que são expertos, no campo da Didática de Educação Física” (p.IX). Em parte, mas não com o vigor e a rapidez esperados, a previsão realizou-se. Temas foram desmembrados por vários autores: ‘objetivos’, por Regina Brum (1977); ‘testes, medidas e avaliação’ por Alfredo Faria Junior e Manoel José Gomes Tubino (1976), Victor Matsudo (1982), Valdir Barbanti (1983) e Maria Augusta Peduti Dal’Molin Kiss (1987); ‘objetivos, conteúdo e avaliação’ por José Antônio Pires Gonçalves e Marcelo de Mello Andrade (1978), ‘ensino da educação física’ por Ayrton Negrine (1983) e Johann Melcherts Hurtado (1983). Faria Junior e Tubino lançaram no Congresso Internacional de Educação Física da Federação Internacional de Educação Físca-FIEP, em Jyväskilä (Finlândia), em português e inglês, a obra ‘Avaliação do ensino de futebol em escolas superiores de educação física’ (1976). Os autores usaram as Taxionomias de Bloom (1972; 1973) e Harrow (1972) e incluíram objetivos, questões e testes, que poderiam ser empregados no futebol, nos cursos de Educação Física. Nesse Congresso, que teve como tema a avaliação em educação física, foi introduzido o método CIPP, de Daniel Stufflebean e Egon Guba. 1977 Liselott Diem e Jürguen Dieckert introduziram no Brasil os conceitos de ‘Pedagogia do Esporte’ (Sportpädagogik) e ‘Metodologia do Esporte’ (Sportmethodik) nas aulas que

ministraram na Universidade de São Paulo (Diem, 1983.p. 151). A palavra ‘esporte’ usada na expressão causou alguns problemas de interpretação oriundos das traduções do alemão da palavra sport. Entretanto, é necessário não esquecer o significado do termo ‘esporte’, na Alemanha. Neste país, após a Segunda Guerra Mundial, os educadores abandonaram o uso da expressão Educação Física (Leibeserziehung) por julgarem-na muito marcada por seu comprometimento com as práticas físicas durante o período do nacional-socialismo (nazismo). Por isto, segundo Erich Bayer (1992), substituiram-na pelo termo esporte (sport), cujo entendimento foi “estendido para incluir educação física e atividades recreativas” (p.575). Na Alemanha o termo ‘esporte’ é, freqüentemente usado de forma genérica até mesmo em contextos particulares, diferenciando, por exemplo, esporte prisional, esporte familiar, esporte de férias (ibid). Outras expressões aparecem no contexto alemão e não pode deixar de serem consideradas, pois se tornaram conhecidas no meio acadêmico e profissional brasileiro, se a devida cautela. Por exemplo, o termo ‘expressão corporal’ (Körperliche Erziehung) era usado no período da reforma pedagógica ocorrida nos anos de 1920, sobretudo nos países de língua alemã. Mais recentemente, usava-se na República Democrática Alemã (RDA) ‘educação corporal’ (Körpererziehung), entendida como intervenção pedagógica sobre o desenvolvimento físico do jovem, baseada nos princípios socialistas da ‘cultura corporal’ (Körperkultur). No Brasil, essa abordagem foi usada pelo Coletivo de Autores na obra Metodologia do Ensino da Educação Física (1991). Encontra-se também usada por autores brasileiros, a expressão ‘cultura física’, “um elemento chave da cultura socialista, tarefa coletiva integrante do programa do desenvolvimento operário de ginástica e desporto. Após a segunda guerra, a expressão russa fizicejskaja kultura foi adotada pelos países socialistas” (Faria Junior, 1997. p. 57). Assim, Diem e Dickert, ao empregarem a palavra esporte fizeram uso da expressão na acepção popular para tudo que não está ligado ao movimento regulamentado. “Neste sentido, podemos denominar esporte até mesmo o ato de trepar numa escada, de vencer um obstáculo ou de equilibrar-se sobre um muro” (Diem, 1981). Entretanto, no Brasil a palavra esporte teve origem em uma simplificação da palavra ‘desporte’, surgindo daí o termo ‘esporte’. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1986) concorda com a origem do termo no francês antigo (desport) e registra três formas -desporto, desporte (p.574) e esporte (p.708). Entretanto, faz pequenas distinções que às vezes podem passar desapercebidas. Assim, para desporto e desporte adota as mesmas acepções que apresenta para o termo esporte: l.“o conjunto de exercícios físicos praticados com método, individualmente ou em equipes”; 2. “qualquer desses exercícios” (p.708). Entretanto, para a palavra esporte, acrescenta mais dois entendimentos: 3. “entretenimento, entretimento, prazer”, e “de maneira amadorística” (ibid). Portanto, podemos depreender que, quando do uso da palavra esporte por autores alemães que estiveram no Brasil (e/ou tiveram suas obras traduzidas) ou por professores brasileiros que retornaram de seus períodos de formação na Alemanha, que estão querendo se referir a uma atividade amadora, realizada por entretenimento e prazer. Regina A. Brum (1977) preocupou-se com os objetivos do domínio psicomotor e resumiu as classificações de Thomas Baldwin (1971), Hough e Duncan (1970) e Alvarez Manilla (s.d.). A disciplina ‘Processo Didático em Educação Física’, foi oferecida no 1º Semestre, no Curso de Mestrado em Educação Física da USP, tendo o professor. Cyro de Andrade como responsável, e Faria Junior, como colaborador. Com Cel. Osny Vasconcellos à frente, o DED/MEC mostrou-se sensibilizado pela necessidade de prover os professores de maiores conhecimentos didáticos. Para isto realizou em São Paulo (Água Branca), o Estágio de Aperfeiçoamento de Didática em Educação Física. O Estágio, coordenado por George Takahashi, teve como docentes Alfredo Faria Junior, Haimo Hartmuth Fensterseifer e Vera Lúcia Costa Ferreira e conferencistas Manuel José Gomes Tubino e Fernanda Barroso Beltrão. Ele reuniu professores da vários Estados que, posteriormente, vieram a desempenhar importantes papéis na Educação Física brasileira, em geral, e na Didática e Prática de Ensino de Educação Física, em particular. Neste Estágio, Faria Junior apresentou estudo de caso, com o Sistema de Joyce e debateu a possibilidade de utilização de Sistemas de Análise de Ensino na pesquisa em Didática como instrumentos para estudar o ensino ministrado nas aulas, tal como na realidade ele ocorria. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte introduziu a pesquisa no campo da Didática de Educação Física quando ofereceu um curso ministrado por Faria Junior.

Referências

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