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RESISTÊNCIA BACTERIANA E O PAPEL DO FARMACÊUTICO FRENTE AO USO IRRACIONAL DE ANTIMICROBIANOS: REVISÃO INTEGRATIVA

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RESISTÊNCIA BACTERIANA E O PAPEL DO FARMACÊUTICO

FRENTE AO USO IRRACIONAL DE ANTIMICROBIANOS: REVISÃO

INTEGRATIVA

BACTERIAL RESISTANCE AND PHARMACEUTICAL PAPER FRONT OF THE

USE OF ANTIMICROBIAL IRRATIONAL: INTEGRATIVE REVIEW

Jonatan Martins Pereira Lucena Franco; Cicero Diego Almino Menezes; Francisco

Rubens Filgueira Cabral; Rafael de Carvalho Mendes.

Revista e-ciência

Volume 3

Número 2

Artigo 01

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RESISTÊNCIA BACTERIANA E O PAPEL DO FARMACÊUTICO FRENTE AO USO

IRRACIONAL DE ANTIMICROBIANOS: REVISÃO INTEGRATIVA

BACTERIAL RESISTANCE AND PHARMACEUTICAL PAPER FRONT OF THE USE OF

ANTIMICROBIAL IRRATIONAL: INTEGRATIVE REVIEW

Jonatan Martins Pereira Lucena Franco1, Cicero Diego Almino Menezes2, Francisco Rubens Filgueira Cabral1,

Rafael de Carvalho Mendes1.

DOI: http://dx.doi.org/10.19095/rec.v3i2.64 RESUMO

A descoberta dos antimicrobianos na primeira metade do século XX reduziu drasticamente as taxas de mortalidade, que até então era umas das principais causas de mortes. No entanto a utilização inadequada destes fármacos levou ao crescimento descontrolado da resistência bacteriana aos antimicrobianos. Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão integrativa sobre os diferentes tipos de resistência bacteriana aos antimicrobianos e o papel do farmacêutico no controle do uso racional de antibióticos. Os dados coletados para o presente estudo foram obtidos em livros e bases de dados eletrônicas LILACS, SCIELO e BDTD, publicados entre 2004 a 2014, utilizando os descritores (DeCs) anti-infecciosos; atenção farmacêutica; resistência microbiana de forma integrada, resultando em 278 fontes de pesquisa, onde 32 cumpriram aos critérios de inclusão. Neste sentido, o farmacêutico exerce um papel fundamental na prevenção do uso inadequado dos antimicrobianos seja nas farmácias e drogarias, seja no âmbito da saúde pública ou privada. Para que as ações de prevenção a resistência bacteriana sejam eficazes, é indispensável a interação de todos os profissionais de saúde, com o objetivo principal de prevenir a propagação e eliminar o patógeno resistente.

Palavras - chave: Anti-infecciosos. Atenção farmacêutica. Resistência Microbiana. ABSTRACT

The discovery of antibiotics in the first half of the twentieth century has dramatically reduced mortality rates, which until then was one of the main causes of death. However the misuse of these drugs has led to the uncontrolled growth of bacterial resistance to antimicrobials. This study aimed to conduct a literature review on the different types of bacterial resistance to antibiotics and the pharmacist's role in controlling the rational use of antibiotics. The data collected for this study were obtained from books and electronic databases LILACS, SciELO and BDTD published between 2004 and 2014. Using the descriptors ( DeCS ) anti -infectives; pharmaceutical attention; microbial resistance in an integrated manner, resulting in 278 research sources , which 32 met the inclusion criteria . In this sense, the pharmacist plays a key role in preventing the inappropriate use of antimicrobials is in pharmacies, whether in the public or private health. So that actions to prevent bacterial resistance to be effective, the interaction of all health professionals is essential, with the main objective of preventing the spread and eliminate the resistant pathogen.

Keywords: Anti-infective. Pharmaceutical care. Drug resistance microbial.

1Faculdade de Juazeiro do Norte - FJN - Departamento de Farmácia – Rua São Francisco, 1224 – 63180-000, Juazeiro do Norte, CE, Brazil. E-mail correspondente: rafa_mendes@msn.com

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INTRODUÇÃO

Em 1900, antes da industrialização dos agentes antimicrobianos nos Estados Unidos, as três principais causas de morte eram tuberculose (11,3%), pneumonia (10,2%) e diarreia (8,1%). Com a descoberta dos agentes antimicrobianos foi possível diminuir os coeficientes de morbidade e mortalidade, representando um marco na historia da medicina moderna, onde nenhum outro fármaco ou técnica cirúrgica obteve tanta influência na saúde da humanidade (FIOL; ARBERATO FILHO, 2010).

Alexander Fleming em 1928 observou em seu experimento, um bolor ao redor de uma colônia de

Staphylococcus aureus que inibia o crescimento.

Posteriormente o bolor foi identificado como

Penicillium notatum, onde seu composto ativo

(penicilina) tinha a capacidade de inibir outros micro-organismos, sendo este mecanismo de inibição, chamado de antibiose. Paralelamente a essa descoberta um grupo de cientistas industriais alemães realizaram uma busca sistemática de substâncias químicas, onde em 1936, descobriram um composto com atividade antimicrobiana denominado Vermelho de prontosil (um corante contendo sulfanilamida). A eficiência da sulfa contra infecções bacterianas sistêmicas reacendeu sobre o uso da penicilina, sendo esta utilizada clinicamente por um grupo de cientistas da Universidade de Oxford, liderado por Howard Florey e Ernst Chain a partir da década de 40 (TORTORA; FUNKE; CASE, 2010).

Fleming ao descrever o primeiro antibiótico, descreveu também o fenômeno da resistência bacteriana, ao relatar em seu experimento uma bactéria do grupo colitifóide (enterobactérias) e o

bacilo piociânico (Pseudomonas aeruginosa)

apresentando a capacidade de resistir à ação antibacteriana da penicilina (DRAGO, 2007).

Da mesma forma que a população humana apresenta relativa resistência a doenças expostas previamente por muitas gerações, os

micro-organismos também adquirem resistência aos antimicrobianos, onde os sobreviventes expostos irracionalmente a um novo antibiótico presentam característica genética responsável por sua sobrevivência e devido à alta taxa de reprodução das bactérias em curto período, quase toda a população passa a ser resistente ao novo antimicrobiano. Esse fenômeno impõe graves restrições ao arsenal terapêutico disponível para o tratamento de infecções bacterianas, representando uma preocupação crescente a humanidade. Desta forma, a humanidade está frente a um grande desafio nos próximos anos, à busca da melhoria na

racionalização no uso dos antimicrobianos

(TORTORA; FUNKE; CASE, 2010; BRITO;

CORDEIRO, 2012; WANNMACHER, 2014; WECKX, 2012).

Diante desses aspectos, acredita-se na relevância de se refletir acerca das resistências microbianas e o processo de trabalho dos farmacêuticos frente a esta problemática, visando prevenir a transmissão e propagação do patógeno resistente, que de acordo O'Neill (2015) se providências não forem tomadas por autoridades ao redor do mundo, em 2050 as bactérias resistentes aos antimicrobianos matarão mais que o câncer, pelo menos 10 milhões de pessoas por ano.

Nessa perspectiva, apresenta-se uma

reflexão sobre as resistências bacterianas,

associação do aumento das resistências bacterianas ao uso irracional de antimicrobianos e o papel do farmacêutico inserido neste contexto.

MÉTODO

Este estudo de abordagem qualitativa revisou a literatura para identificar a produção científica relacionada a resistência bacteriana e o papel do farmacêutico no controle do uso racional de antibióticos entre 2004 e 2014. Período que se intensificou os alertas e a identificação de

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organismos multirresistentes. Optou-se pela

realização de uma revisão integrativa por ser um método que possibilita a síntese de conhecimentos e à compilação de resultados de estudos científicos.

Para análise das publicações foi considerado como critério de inclusão, descrever a evolução histórica, mecanismos de resistência bacteriana aos antimicrobianos, abordar estratégias de prevenção e controle das resistências e o papel do farmacêutico inserido neste contexto.

Os dados coletados para o presente estudo foram obtidos em livros dispostos no acervo da Biblioteca da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) e bases de dados eletrônicas como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), publicado entre 2004 a 2014. Para tal

pesquisa foram utilizados, de modo integrado, descritores (DeCs) como anti-infecciosos; atenção farmacêutica; resistência microbiana.

RESULTADOS

As buscas realizadas totalizaram inicialmente 278 fontes de pesquisa, onde foram selecionados a partir da variável de interesse, 24 artigos, seis livros, uma dissertação e uma tese, totalizando 32 fontes de pesquisa.

Após a coleta dos dados, foi feita a leitura de todo material, onde as principais informações foram compiladas. Posteriormente foi realizada uma análise, buscando estabelecer uma compreensão sobre o tema pesquisado e elaboração da revisão narrativa da literatura. O sistema de seleção encontra-se apresentado no fluxograma abaixo:

LILACS SCIELO BDTD LIVROS 278 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

- Descrever a evolução histórica, mecanismos de resistência bacteriana aos antimicrobianos;

- Abordar estratégias de prevenção e controle das resistências; - Descrever o papel do farmacêutico inserido neste contexto; - Data de publicação entre 2004-2014.

32 FONTES SELECIONADAS

246 FONTES SELECIONADAS

Fonte: Autores.

FIGURA 1 - Fluxograma mostrando a seleção do estudo para a revisão

O quadro 01 apresenta uma síntese das principais informações obtidas dos artigos incluídos na amostra final, além dos autores, ano de publicação, objetivos e principais conclusões.

QUADRO 01 - Síntese dos principais artigos selecionados para revisão integrativa, 2014.

NOME/ANO OBJETIVOS CONCLUSÕES

ABRANTES et al.,

2007 Investigar antimicrobianos em unidades de a prescrição de atenção primária de Belo Horizonte-MG.

Evidenciou a necessidade de implementação de medidas informativas e normativas que visem a melhorar a qualidade da prescrição de antimicrobianos.

ANTONIO et al., 2009

É mostrar que os antibióticos são eficazes no combate às infecções bacterianas, porém as bactérias ao longo do tempo tornam-se mais

resistentes criando novos

mecanismos de ação.

A resistência bacteriana é, e sempre será, um problema a ser combatido. Mesmo usando-se corretamente um antibiótico, a sua pura exposição já faz com que as bactérias iniciem mecanismos de resistência.

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CORDEIRO, 2012 novos antibióticos. devem apostar no planejamento e na descoberta

de novas terapias antibióticas como uma de suas mais altas prioridades. A alternativa de não fazer nada é impensável.

FERNANDES et al., 2012

Determinar o impacto

farmacoeconômico do controle de antimicrobianos (ATM´S) realizado pela farmácia nas Unidades de Terapia Intensiva do IJF.

Os resultados apontaram um aumento do consumo e dos custos com ATM´S de primeira linha e diminuição dos de amplo espectro. Este

mérito pode-se atribuir à atuação do

farmacêutico em busca de uma melhor eficácia do tratamento, segurança e otimização da

farmacoeconomia com uso racional de

antimicrobianos.

GURGEL;

CARVALHO, 2007

Compreender a importância da assistência farmacêutica na atenção à saúde.

As ações de assistência farmacêutica influenciam bastante o uso dos antimicrobianos, sendo fundamental a garantia da qualidade no desenvolvimento de todas as suas etapas.

WANNMACHER, 2004

Discutir e alertar o uso

indiscriminado de antibióticos e resistência microbiana.

Com uso irracional de antibióticos, o

desenvolvimento de futura resistência é fácil de prever por ser inevitável. Antibioticoterapia apropriada significa não usar antimicrobianos na ausência de indicação, nem em esquema errado ou por tempo demasiado. Ao escolher um antibiótico, os prescritores devem preocupar-se com os interesses presentes e futuros dos pacientes.

OLIVEIRA; MUNARETTO, 2010

Discutir sobre a responsabilidade

dos prescritores, usuários e

dispensadores no uso racional de antibióticos.

Oferecer educação continuada aos prescritores e dispensadores, além de buscar apoio dos órgãos regulamentadores e fiscalizadores das ações em saúde e fornecer informações aos usuários de medicamentos sobre os riscos inerentes ao uso de antibióticos podem ser estratégias para reduzir a emergência de cepas de micro-organismos resistentes e preservar a eficácia dos antibióticos disponíveis.

Fonte: Dados da pesquisa.

DISCUSSÃO

O uso irracional de antimicrobianos já vem sendo descrito por vários anos, como por exemplo, em 1970, 62% dos pacientes com indicação de antimicrobianos não apresentavam infecções, em 1973, 50% das prescrições de antimicrobianos não tinham indicação e em 1981, concluiu que 59% das prescrições de antimicrobianos eram inadequadas (MOTA et al., 2010).

A relação entre o uso indiscriminado dos antimicrobianos e o aumento das resistências bacterianas foi sistematicamente confirmada com o lançamento das diversas classes farmacológicas de antimicrobianos, onde as taxas de resistências são maiores em fármacos de maior consumo. Por exemplo, na Dinamarca observou-se um aumento no consumo de ciprofloxacino, de 0,13 doses diárias

para uma população de 1000 habitantes em 2002, para 0,33 doses diárias para a mesma população em 2005, consequentemente observou-se durante o mesmo período uma elevação de 200% na incidência de resistência de Escherichia coli ao ciprofloxacino. Fenômeno este agravado pelo fato de que até 50% das prescrições de antimicrobianos foram desnecessárias (ZIMERMAN, 2010). Mas apesar de ser conhecida esta problemática, pouco tem sido feito para reverter este quadro.

Segundo consta em dados da OMS (2014) a resistência aos antimicrobianos deixou de ser uma ameaça e se transformou em realidade, onde em seu primeiro relatório em escala mundial sobre as resistências aos antimicrobianos (Global Strategy for Containment of Antimicrobial Resistance), destacou que "esta grave ameaça não é mais uma previsão e sim uma realidade em cada região do

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mundo, afeta a todos, independente da idade ou país de origem".

Diversos fatores contribuem para o uso inadequado dos antimicrobianos, tais como, elevada quantidade de farmácias e drogarias, 82.204 no Brasil, número quatro vezes maior que a OMS recomenda, dificultando assim as inspeções pelos agentes sanitários, resultando ainda na venda de antimicrobianos sem prescrição médica; dúvida no diagnóstico entre infecções bacterianas e infecções virais; ausência de Programas de Uso Racional de Antimicrobianos; erros na prescrição de antimicrobianos quanto a sua administração, interferindo na segurança do paciente e no desenvolvimento de resistência microbiana (MOTA, et al., 2010; NOVARETTI; AQUINO; PISCOPO, 2014; MARQUES et al., 2008).

As resistências bacterianas podem ser

intrínsecas, se o micro-organismo obtiver

características enzimáticas ou estruturais que

levam à resistência a um determinado

antimicrobiano, ou adquiridas por transmissão de material genético ou mutação (STEEL et al., 2013).

O processo de aquisição de material genético entre bactérias é denominado de transferência horizontal de genes, onde possuem diversos

elementos genéticos móveis (plasmídeos,

transposons, sequências de inserção e integrons), fundamentais para a disseminação de genes de resistência aos antibióticos entre diferentes espécies. Este processo pode ocorrer por três mecanismos, por transformação (recebe partes de DNA presentes no meio, englobando no seu material genético as frações de DNA adquiridas), conjugação (células bacterianas entram em contato direto trocam pequenas porções de material genético) e transdução (os fagos transportam uma porção de DNA da bactéria destruída integrando-se ao DNA de uma nova bactéria) (CHEROBIM, 2014; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

As mutações ocorrem quando acontece algum erro ou alteração na estrutura dos genes, durante a replicação, podendo ser espontâneas ou

induzidas (radiação, agentes alquilantes,

hidroxilamina ou a presença de espécies reativas do oxigênio) (CHEROBIM, 2014; BAPTISTA, 2013).

Portanto, as resistências adquiridas são

classificadas em quatro grandes grupos:

Bloqueio da entrada da droga na célula.

A inexistência, as mutações, a perda ou modificação de um canal de porina podem reduzir a entrada do fármaco na célula ou bloquear totalmente seu acesso ao espaço periplasmático e, em seguida, para o interior da célula (DECLOUR, 2009; GOODMAN; GILMAN, 2012; BRASIL, 2007).

Destruição ou Inativação da Droga por Enzimas. A destruição ou inativação dos fármacos

por enzimas é o mecanismo de resistência mais importante e comum. Onde as β-lactamases, enzimas produzidas pelas bactérias, catalisam a hidrólise da ligação amida do anel β-lactâmico, impossibilitando a sua ação por destruir o local que os antimicrobianos ligam-se às proteínas ligadoras de penicilina (PLPs) (TORTORA; FUNKE; CASE; 2012; GOODMAN; GILMAN, 2012; DZIDIC; SUSKOVIC; KOS, 2008; ANTONIO et al., 2009).

Alteração nos Sítios-alvo da Droga.

Mecanismo caracterizado por diminuir ou

neutralizar completamente a afinidade do fármaco ao seu alvo de ação, por alterar a estrutura do peptidoglicano, interferir na síntese de proteínas ou na síntese de DNA, sem que ocorra prejuízo às funções celulares do micro-organismo (BAPTISTA, 2013; GOODMAN; GILMAN; 2012; DZIDIC; SUSKOVIC; KOS, 2008; OLIVEIRA; MUNARETTO, 2010).

Efluxo Rápido (ejeção) Celular da Droga.

Nesta resistência ocorre o transporte ativo dos antimicrobianos do meio intracelular para o meio extracelular, por meio de bombas de efluxos que são proteínas presente na membrana plasmática bacteriana (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012;

GOODMAN; GILMAN, 2012; OLIVEIRA;

MUNARETTO, 2010).

Papel do Farmacêutico em Farmácias e Drogarias no Controle do Uso Racional de

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Antimicrobianos: O farmacêutico é um profissional diretamente envolvido na política do uso racional de medicamentos. Portanto, para que o farmacêutico moderno esteja preparado é fundamental ter atitudes e habilidades que permitam agregar-se à equipe de saúde e interagir com o paciente e a comunidade, de forma a educar sobre o uso adequado dos antimicrobianos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida,

em especial no êxito farmacoterapêutico

(SCARCELA; MUNNIZ; CIRQUEIRA, 2011).

Dentre as diversas atribuições do

farmacêutico que atuam em farmácias e drogarias, destacam-se na prevenção do uso inadequado de antimicrobianos, avaliação da prescrição quando a ocorrência de erros e interações medicamentos, prestar assistência farmacêutica através de ações de educação continuada, informando quanto ao modo de uso dos antimicrobianos, sobretudo alertando sobre a importância de sua administração no horário prescrito e condições de armazenamento adequado, informa ao Sistema Nacional de Notificações para a Vigilância Sanitária (NOTIVISA) em casos de eventos adversos e queixas técnicas

que comprometam o tratamento

farmacoterapêutico e realizar treinamento contínuo

aos funcionários sobre a dispensação de

antimicrobianos somente com prescrição e de forma adequada (SCARCELA; MUNNIZ; CIRQUEIRA, 2011; SILVA, 2008; OLIVEIRA et al., 2005; GURGEL; CARVALHO, 2008).

O farmacêutico estando presente nas farmácias e drogarias tem a capacidade e o dever em informar e tomar decisões pautadas no conhecimento técnico-científico e na legislação vigente e assumir uma postura proativa na prática da dispensação, sem esperar sinais do paciente quanto à compreensão do seu tratamento (DECLOUR, 2009, ABRANTES et al., 2007).

Papel do Farmacêutico em uma

Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) no Controle do Uso Racional de Antimicrobianos: No Brasil, estima-se que 3% a

15% dos pacientes desenvolvem alguma infecção hospitalar, tornando-se um grave problema na saúde pública. Portanto em 06 de janeiro de 1997 entrou em vigor a Lei Federal 9431 a qual previa a obrigatoriedade da existência de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), com objetivo de desenvolver ações para à redução máxima da incidência e da gravidade das infecções hospitalares (OPAS, 2008; BRASIL, 1997).

O farmacêutico como componente da CCIH é o profissional capacitado para avaliar as prescrições

hospitalares, propor o uso racional dos

antimicrobianos, elaborar juntamente com uma equipe multidisciplinar o Guia Farmacêutico, patronizado assim os antimicrobianos utilizados no hospital, realizar exames de identificação do agente infecioso e sensibilidade dos antimicrobianos para a correta seleção do fármaco, praticar a atenção farmacêutica, oferecendo informações sobre a utilização dos medicamentos, estimular à terapia sequencial, elaborar relatórios de consumo e realizar treinamentos sistemáticos na prevenção da propagação do patógeno e sua correta eliminação do ambiente a equipe de saúde (GIAROLA et al., 2012).

As infecções causadas por bactérias

resistentes têm um impacto negativo nas finanças dos hospitais, pois eleva o tempo de internação, necessidade de antimicrobianos de última geração que são mais caros e consequentemente aumenta o risco de mortalidade. Na Europa, por exemplo, as

resistências bacterianas aos antimicrobianos

custam 9 bilhões de euros por ano e nos Estados Unidos (EUA) 4 a 5 bilhões de dólares (GOTTLIEB;

NIMMO, 2011; CHRISTENSEN; GROSSMAN;

HWANG, 2009).

No Hospital Instituto Dr. José Frota (IJF), localizado em Fortaleza – CE, foi realizado um estudo sobre o impacto da racionalização do uso de antimicrobianos em unidades de terapia intensiva, no período antes e depois da implantação de novas meditas de controle de antimicrobianos, adotadas pela unidade de farmácia, desenvolvendo atividades

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de assistência farmacêutica e uma CCIH atuante. Observou-se no período analisado um aumento no percentual de consumo da classe das cefalosporinas e penicilinas, porém com uma significativa diminuição no consumo dos aminoglicosídeos, carbapenêmicos e quinolonas, antimicrobianos de amplo espectro, que de acordo com alguns autores, são responsáveis por maiores índices de RAM (Reação Adversa a Medicamentos) e causadores de resistência bacteriana quando usados de forma irracional (FERNANDES et al., 2012).

Desta forma, cabe ao farmacêutico oferecer serviços de atenção farmacêutica na qual irá orientar os usuários em tratamento antimicrobiano sobre o correto uso destes medicamentos, além de acompanhar sua evolução clínica e juntamente com os prescritos irão decidir a melhor estratégia de

tratamento, minimizando o risco de

desenvolvimento de micro-organismos resistentes e preservando a eficácia dos antimicrobianos.

CONCLUSÃO

Conhecer os mecanismos de resistência bacteriana aos antimicrobianos descritos são fundamentais para compreendermos tal fenômeno e traçarmos estratégias de prevenção. Diversos fatores estão acelerando o processo de resistência bacteriana aos fármacos utilizados para o tratamento de infecções, tais como, o uso irracional dos antimicrobianos, o não cumprimento da prescrição, dúvida no diagnóstico, ausência de programas de uso racional de medicamentos e CCIH efetivos em hospitais.

Neste contexto, o farmacêutico tem a capacidade de desenvolver medidas, com o objetivo principal de prevenir a propagação do patógeno resistente, evitando desta forma o uso inadequado dos antimicrobianos, altas taxas de infecções hospitalares, mortalidade e aumento no tempo de internação, situações essas que podem vir a agravar a situação financeira dos hospitais e a todo sistema de saúde pública do país.

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Imagem

FIGURA 1 - Fluxograma mostrando a seleção do estudo para a revisão

Referências

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