• Nenhum resultado encontrado

Direitos contratual e de propriedade: ferramentas para estimular o desenvolvimento de startups

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Direitos contratual e de propriedade: ferramentas para estimular o desenvolvimento de startups"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

109

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

Direitos Contratual E De Propriedade: Ferramentas

Para Estimular O Desenvolvimento De Startups

Alice Pereira Santos Rodrigues

1. STARTUP

1.1 Conceito

Há considerável divergência doutrinária acerca do conceito do termo “ startup”. Porém, tendo em vista a necessidade de sua definição para uma melhor compreensão do presente artigo, será exposto, neste tópico, o significado, aqui, considerado válido.

Esse artigo objetiva tecer uma análise ampla de como devem ser os regimes contratuais e os direitos de propriedade para promover o desenvolvimento de startups e, dessa forma, a inovação. A fim de alcançar esse objetivo, este artigo realizará explanações teóricas sobre o assunto por meio de uma argumentação lógico-dedutiva com apresentação dados empíricos comprovatórios. Consequentemente, os leitores estarão, ao menos, capacitados a concluir sobre os aspectos essenciais que os contratos e os direitos de propriedade devem ter para encorajar e promover a evolução de novos produtos no mercado. Sobretudo no que tange às startups.

Palavras-Chave: Contratos - Propriedade -Inovação - Startups

Resumo

This article aims to analyze how should the regimes of contracts and property rights be to promote development of startups and, as a consequence, innovation. To achieve this objective, the paper will expose theoretical explanations on the subject through a logical-deductive argumentation, in which will be presented empirical datas that proves the ideas that will be shown. Thus, it would enable people who read it to conclude about which essential aspects do contracts and property rights should have to encourage and promote development of new products on the market, especially in startups.

Keywords: Contracts - Property - Innovation - Startups -Development .

(2)

110

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

Nesse sentido, as startups são negócios não convencionais que buscam, através de uma ideia inovadora, solucionar um problema constatado na vivência social. Caso haja, de fato, uma necessidade por parte de muitas pessoas, e caso o produto não seja meramente interessante e legal, mas também útil, testa-se a ideia, introduzindo-a no mercado gradativamente. Assim, ao analisar a aceitabilidade da inovação os fundadores e os inovadores decidem entre pivotar (desistir da atividade devido à previsão de resultados negativos) ou perseverar (permanecer na empreitada tendo em vista os potenciais lucrativos). O trecho a seguir é elucidativo quanto a isso:

A atividade fundamental de uma startup é transformar ideias em produtos, medir como os clientes reagem, e, então, aprender se é o caso de pivotar ou perseverar. Todos os processos de startup bem-sucedidos devem ser voltados a acelerar esse ciclo de feedback. (RIES; ERIC, 2011, p. 14).

Em uma definição mais básica e direta, pode-se dizer que “ uma startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços sob condições de extrema incerteza”. ( RIES; ERIC, 2011, P. 26) Nesse sentido, é importante ressaltar que , ao contrário do que muitos pensam, a startup não é um produto ou uma inovação tecnológica, mas uma iniciativa integralmente humana.

Quando se diz, como no trecho transcrito acima, que se trata de uma instituição, significa que a startup envolve contratação de pessoal capacitado para as funções a serem desenvolvidas, o acompanhamento e a fiscalização das atividades realizadas, e a produção de uma cultura empresarial que gere o sucesso e os resultados almejados. Isto é, abrange características institucionais.

Sobre o produto que esse empreendimento introduz no mercado, adota-se no presente artigo uma noção abrangente desse termo. Sendo assim, ele será conceituado como tudo o que a empresa possa oferecer de valor para seus clientes, seja um objeto material, um serviço, uma metodologia ou uma entidade criada – o que se opõe à noção amplamente difundida de que as startups envolvem apenas tecnologia e internet. Em todos os casos anteriormente elencados, trata-se de inovações. Ademais, é cerne da preocupação dos empreendedores a aceitação dessas criações, bem como seus impactos sobre os clientes.

(3)

111

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

Quando se trata do contexto em que a inovação acontece, ou busca se realizar, é importante destacar a seguinte característica exclusiva das startups : a incerteza. Grande parte das empresas existentes, independentemente do seu porte, não atuam nesse quadro, haja vista que, basicamente, seguem um modelo de gestão de negócios e de produção previamente testado e que já é considerado tradicional. Nesses casos, o sucesso da empresa pode ser planejado e previsto com considerável exatidão, porquanto ele depende, meramente, da execução.

Sobre a incerteza sobredita, Eric Ries (2011) relata sua experiência própria de desenvolvimento de softwares inovadores e tece considerações, por meio das quais é possível notar o quão onerosos esses empreendimentos são tanto intelectual quanto financeiramente, além de demandarem um tempo considerável. Como se já não bastasse, além da onerosidade, eles podem trazer resultados inesperados, muitas vezes desfavoráveis, conforme é possível notar:

Contratamos profissionais, passamos por inúmeras dificuldades ( cheguei a trocar o carro por uma scooter, para economizar gasolina), mas estávamos progredindo: a cada mês, tínhamos mais funcionalidades desenvolvidas e um sistema mais completo e estável. Quando, finalmente, chegamos a um ponto em que considerávamos a solução minimamente pronta para a comercialização, fomos para o mercado e... surpresa! Apesar de todo mundo falar em e-Learning, ninguém comprava. ( RIES; ERIC, 2011, P. 6)

Não obstante as inúmeras decepções e prejuízos que empreendedores em startups enfrentam, é possível notar que há grande entusiasmo e animação por parte de pessoas talentosas e com ideias brilhantes em torno da possibilidade de obter sucesso e riqueza com a criação e a divulgação de seu produto no mercado. Isso se deve, sobretudo, à história moderna, amplamente difundida, da inevitabilidade da passagem de um estado de pobreza para um de riqueza se houver gênio criativo, perseverança e trabalho duro.

Este pensamento possui inúmeros adeptos devido à atratividade que exerce, sobretudo na mente de jovens inteligentes, imbuídos de tecnologias, com força de vontade e sonhos a realizar, e deixa evidente a crença equivocada de que o sucesso depende apenas da pessoa que o persegue, o que leva muitas dessas pessoas a ignorarem

(4)

112

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

os fatores exógenos, como a parte burocrática, o mercado e as pequenas escolhas. Nesse quadro, tende-se a justificar um inesperado fracasso alegando falta de previsibilidade, ou o fato de o produto desenvolvido ter sido divulgado na hora e no lugar errados.

Diante disso, os seguintes trechos merecem especial detaque:

Nas revistas e nos jornais, nas histórias de sucesso do cinema e em inúmeros blogs escutamos o mantra dos empreendedores de sucesso: com determinação, genialidade, timing correto e – sobretudo – um grande produto, você também pode alcançar a fama e a fortuna.( RIES; ERIC, 2011, p.9)

Na verdade, depois de trabalhar com centenas de empreendedores, vi pessoalmente a frequência com que um começo promissor leva o fracasso. A amarga realidade é que a maioria das startups fracassa. A maioria dos produtos não faz sucesso. A maior parte dos novos empreendimentos não alcança seu potencial máximo. ( RIES; ERIC, 2011, p. 10)

1.2 Empreender ou administrar?

Startups são considerados negócios extremamente inovadores e caóticos. Isso muitas vezes explica a recusa de se associar o termo empreendedorismo a administração. Aquele termo denota uma atividade que envolve dinamicidade inovação, modernidade, liberdade e autonomia em relação a burocracias; este termo, por sua vez, traduz a ideia de métodos gerenciais que não são dinâmicos, mas arcaicos ou tradicionais.

Os empreendedores, nesse sentido, procedem com cautela quando se trata de implementar atos gerenciais tradicionais, pois temem atrair, assim, burocracia, o que poderia gerar empecilhos ao desenvolvimento de sua criatividade. Como consequência, muitos agem baseados na premissa do “simplesmente, faça”, evitando ferramentas estáticas e comumente empregadas em empresas tradicionais. Tal atitude de recusa ao tradicional, se adotada, tende a levar ao fracasso a startup. Porém, os princípios de gestão e de processo típicos da administração, não são adequadamente adaptados para lidar com o caos e com a incerteza que envolve uma startup. Isso mostra o quão duvidosa é a atividade de empreender inovações em startups e o quão surpreendentes

(5)

113

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

podem ser seus resultados. Para o desenvolvimento de inovações e seu lançamento no mercado, dois elementos são fundamentais: ideia e capital. A primeira identifica-se com o conteúdo da inovação, com o seu cerne; a segunda, por sua vez, é requisito de extrema relevância para possibilitar a concretização do produto novo, visto que possibilita a aquisição de funcionários capacitados a produzi-la, de tecnologias e de materiais a serem empregados na produção e de um local adequado ao seu desenvolvimento. Basicamente, uma parte tem a ideia- o inovador-, e a outra tem o capital a ser aplicado na atividade – investidor.

Entretanto, a união desses elementos não é simples. Ela envolve a difícil tarefa de superar o “duplo dilema da confiança”1. De fato, “ combiná-los confronta um dilema

ilustrado por esta carta enviada a um banco de investimento em Boston: „ Eu sei como o seu banco pode produzir $ 10 milhões. Se você me pagar $ 1 milhão, eu te digo.‟ O banco não quis pagar pela informação sem antes determinar se é vantajoso, e o inovador teme desvendar a informação ao banco sem antes ser pago por isso. O obstáculo de financiar uma inovação é que o investidor não pode avaliar a ideia sem antes saber do que se trata, e, após sua explicação, ele tem poucas razões para pagar por ela”2

Percebe-se, pois, que, para desenvolver uma inovação, o inovador precisa confiar em que o investidor não se apropriará da sua ideia. Por outro lado, faz-se igualmente necessário que o investidor tenha a certeza de que o inovador não ficará com seu capital sem oferecer uma ideia que condiga com ele.

Vale acrescentar que o investimento não é uma ação única e certeira, mas um processo que envolve distintos atos que se complementam. O primeiro estágio dessa evolução consiste em alguém ter nova ideia e obter capital para desenvolvê-la. É nessa

1 A expressão original é “ double trust dilemma”. Cunhada por Robert D. Cooter e Hans-Bernd Schafer

(2012)

2 “Combining them confronts a dilemma ilustrated by this letter sent to a Boston investment bank: “I know

how your bank can make $10 million. If you give me $1 million, I will tell you.” The bank does not want to pay for information without first determining its worth, and the innovator fears to disclose information to the bank without first getting paid. The obstacle to financing innovation is that an investor cannot evaluate na idea until after he knows what it is, and after its disclosure he has little reason to pay for it”. Cooter, Robert D. e Schafer, Hans-Bernd. Solomon’s Knot: How Law Can End the Poverty of Nations. Princeton University Press, 2012, p.27

(6)

114

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

etapa que o inovador deve persuadir o investidor acerca do potencial e do valor da sua ideia. Ademais, poucas pessoas, até então, conhecem a inovação. No segundo estágio, o inovador evolui seu produto inovador de modo a, ao menos suficientemente, provar o valor dele ao mercado. Por fim, no terceiro e último estágio, os competidores observam o sucesso do inovador e tentam aprender o que ele sabe. Eles empreendem esforços no sentido de imitar a ideia e o produto do último. A partir de então, gradativamente, seus lucros tendem a cair, e seu ritmo de crescimento a reduzir.

Outrossim, a essas três etapas sobreditas, correspondem três fases de financiamento no Vale do Silício. Na primeira delas, o financiamento é motivado por relações pessoais. São agentes de investimento, nesse sentido, os chamados 3 F‟s: família, amigos e “tolos”. Tal expressão, traduzida do inglês “ family, friends and fools”, abrange aqueles investidores iniciais que confiam mais no inovador do que na inovação - não raro, inclusive, eles aplicam capital sem entenderem do que se trata a inovação, haja vista que se inspiram na confiança creditada ao inovador. A segunda fase tem como agentes atuantes os investidores que não tem uma relação pessoal prévia com os inovadores. Eles realizam um financiamento privado, pois formam pequenos grupos de investidores com capacidade de avaliar inovações que não se desenvolveram satisfatoriamente ainda. Na terceira fase, por sua vez, consiste em a startup vender ela mesma no mercado por meio de ações na bolsa de valores. Para alcançar tal etapa, é preciso que a empresa tenha nível elevado de lucratividade e de sucesso. Tendo em vista que nesse estado os investidores são um grupo vultoso de pessoas, ele é descrito como de financiamento público. Embora todos esses estágios e fases distanciem-se em muitos aspectos, todos envolveram a superação, de algum modo, do duplo dilema de confiança.

Em suma, o desenvolvimento de uma inovação requer a associação de ideia e capital. Tais elementos envolvem duas partes distintas: o inovador e o investidor, respectivamente. Não obstante, foi possível perceber que essa relação deve ser baseada na confiança mútua para que seu objetivo seja alcançado, gerando lucros aos envolvidos. Para tanto, deve ser superado o duplo dilema da confiança. Isso porque,

(7)

115

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

se o inovador não acreditar que, caso desvende a sua ideia, o investidor aplicará seu capital, ele não explicará sua inovação e ela não será desenvolvida. Ademais, se o investidor não acreditar que, ao aplicar seu dinheiro, o inovador irá expor uma ideia promissora, ele não investirá. Nesse último caso, também, a inovação não se desenvolverá.

Com o intuito de superar tal obstáculo e, assim, proporcionar a necessária confiança recíproca entre investidor e inovador, é preciso garantir um sistema jurídico seguro, sobretudo no que tange os contratos e a propriedade. E é sobre isso que tratarão as próximas páginas.

2. O PAPEL CONTRATOS

Conforme exposto, de modo sucinto, anteriormente, o direito contratual configura como um dos elementos essenciais para estabelecer confiança entre inovadores e investidores, de modo a coordenar os esforços desses diferentes indivíduos. De fato, para que as partes realizem acordos e contraiam obrigações entre si, são necessários mecanismos sancionatórios eficazes para que as partes se sintam impelidas a agir conforme as cláusulas do contrato. Assim, a confiança é reforçada mediante um direito contratual efetivo.

Vale dar o devido destaque ao fato de que, para as leis gerarem os resultados almejados, não basta serem escritas satisfatoriamente, mas é preciso, além disso, que o método de induzir os indivíduos a obedecerem-na, ou seja, a sanção, seja capaz de realizar sua função. Isso condiz com a proporção direta existente entre efetividade das sanções e cumprimento das obrigações, haja vista que a perspectiva de uma repressão diante da violação de um dever tende a inibir atos potencialmente danosos ou ilegais.

Ainda sobre a coação, ressalta-se que ela pode ser exercida por mecanismos jurídicos e estatais ou pela sociedade. Nos primeiros casos, as consequências estão previstas em lei e são efetivadas por órgãos estatais. No segundo, por sua vez, a repressão ocorre externamente à esfera jurídica e pode se dar de diversas formas. Dentre

(8)

116

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

elas, considera-se a possibilidade de a vítima de um contrato descumprido recusar-se a negociar novamente com o agente do dano, prejudicar a reputação deste, aconselhar os outros a não efetuarem contratos com essa pessoa que não cumpriu sua obrigação, bem como quebrar promessas feitas para tal pessoa. A sanção social, de fato, é útil em muitos casos. Não obstante, em negócios grandes e avançados, as partes precisam da atuação estatal como plano de fundo para agir quando necessário, garantindo o cumprimento dos deveres estabelecidos.

Percebe-se, então, que, para coordenar esforços em prol de alcançar os almejados sucesso e lucratividade, é essencial que as duas partes- inovador e investidor-estejam comprometidas, integralmente, a fazer o que se prontificaram a fazer. Nesse sentido, a fim de assegurar o cumprimento das promessas feitas, foi estabelecido o mecanismo do contrato. Este, além de dever ser escrito de modo claro e inteligível e com cláusulas aceitas pelas partes, precisa estar envolto por ferramentas sancionatórias a serem aplicadas efetivamente caso uma das partes não cumpra suas obrigações. Para que essas consequências negativas produzam o efeito que se espera delas - a saber, inibir atos prejudiciais à atividade negocial – é preciso que a sanção gere um custo maior do que o cumprimento da obrigação produziria. Desse modo, é possível afirmar que a confiança entre inovador e investidor será, se não estabelecida, pelo menos, reforçada.

3. O PAPEL DO DIREITO DE PROPRIEDADE

Para introduzir o assunto a ser tratado neste capítulo, serão transcritos os exemplos a seguir: “ Um brasileiro proprietário de terras se recusa a alugar sua fazenda por temer que o inquilino fique permanentemente sem pagar os aluguéis. Um cineasta chinês produz um filme de visualização em casa pois tem medo de que estudantes graduados circulem ele livremente na internet. Investidores equatorianos reduzem a compra de ações de uma lucrativa fazenda de criação de camarões por temerem que os donos e os administradores se apropriem do seu dinheiro sem fornecer retornos lucrativos. O que esses três exemplos têm em comum? Em cada caso, o medo de que a riqueza seja apropriada indevidamente inibe a sua produção. Os proprietários brasileiros

(9)

117

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

necessitam de serem protegidos de inquilinos inadimplentes, a fim de tornar a sua terra disponível para se alugar. Cineastas chineses precisam de segurança contra estudantes piratas para que seus filmes sejam lucrativos. Além disso, investidores equatorianos devem ser protegidos contra administradores coniventes para financiar negócios lucrativos”3.

De fato, em situações em que o direito protege efetivamente a propriedade, os inovadores sentem-se mais encorajados a dispender recursos, como tempo, dinheiro e mão de obra, para desenvolver seu produto e lançá-lo no mercado pois confiam nos mecanismos legais de proteção da propriedade. Da mesma forma, os investidores ficam mais confiantes ao financiar uma inovação pois acreditam na proteção da propriedade, que impediria concorrentes de se apropriarem do produto gerado, bem como os inovadores de ficarem, indevidamente, com o capital aplicado pelo investidor. Nessa mesma linha de raciocínio, evidente é que efetivas ferramentas de segurança à propriedade fazem com que os envolvidos em uma startup firmemente acreditem que obterão recompensas e lucros futuros com o investimento de tempo, mão de obra e dinheiro.

Isso exerce o fundamental efeito de motivar os empreendedores a não esconderem suas ideias, mas divulgá-las ao público e lançá-las no mercado, confiantes de que estão circundados por formas eficazes de proteção de suas propriedades contra imitadores. Bem como os investidores, sob a perspectiva de proteção pelo direito de propriedade, sentem-se mais seguros em aplicar seu capital no desenvolvimento de um produto inovador.

A título explicativo e exemplificativo acerca da importância de se proteger a

3 “A Brazilian landowner refuses to lease farmland for fear that tenants will stay permanently without

paying rente. A Chinese filmmaker foregoes making a movie for home viewing for fear that graduate students will circulate it freely on the Internet. Ecuadorian investors decline to buy stock issued by profitable shrimp farm for fear that the managers will steal their Money. What do these three examples have in common? In each case the fear that the wealth will be taken stops someone from making it. Brazilian landowners need protection from deadbeat tenants in order to make land available for renting. Chinese filmmakers need protection from student-pirates in order to make films profitable. And Ecuadorian investors need protection from conniving

managers in order to finance profitable businesses”. Cooter, Robert D. e Schafer, Hans-Bernd. Solomon’s Knot: How Law Can End the Poverty of Nations. Princeton University Press, 2012, p. 64

(10)

118

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

propriedade para impulsionar produções inovadoras, pode-se afirmar que, quando as pessoas copiam livremente sem qualquer repressão ao ato violador da propriedade intelectual de outrem, os empreendedores tendem a esperar outros a criar e a inovar, para, então, imitarem. Nesse quadro, quem sai ganhando na competição é o imitador, pois consegue escapar dos custos que envolvem a criação de um produto novo, como gastos com pesquisa, mão de obra especializada, tempo dispendido em uma tarefa de risco.

Percebe-se, dessa forma, que, para incentivar a criação de startups, bem como para incentivar pessoas com espírito inovador e com ideias promissoras a desenvolverem-nas, deve-se garantir mecanismos seguros de proteção de propriedade. Assim, será possível que os inovadores, de fato, lucrem mais com a inovação do que os posteriores imitadores, bem como que os investidores saibam que, caso o produto tenha ampla aceitação no mercado, eles serão devidamente recompensados financeiramente, auferindo lucros consideráveis.

4. CONCLUSÃO

Com o presente artigo, foi possível chegar a algumas conclusões importantes, ainda que, em certos casos, propedêuticas, para uma melhor compreensão do tema das startups. Assim, este conceito é, ao menos sumariamente, definido, levando-se em conta que o significado considerado neste trabalho não é unitário, mas apenas um dos diversos sentidos existentes nas doutrinas que tratam do assunto. Ademais, são explanados fatores de extrema relevância para que tais empresas evoluam, a saber, direitos contratual e de propriedade eficazes.

Nesse sentido, por meio da análise da inovação (principal objeto de uma startup), de seus elementos, de suas causas e necessidades, conclui-se que, para estimulá-la e encorajar sua produção são, de fato, fundamentais que contratos sejam cumpridos e que as pessoas respeitem as propriedades de outras. Isso requer que mecanismos sancionatórios sejam eficazmente aplicados quando necessário, impedindo tanto o descumprimento de obrigações contratuais quanto violações de propriedade.

(11)

119

Revista da AMDE – ANO: 2016 – VOL. 15

5. BIBLIOGRAFIA

Cooter, Robert, "The Falcon's Gyre: Legal Foundations of Economic Innovation

and Growth" (2014). Berkeley Law Books. Book 1. http://scholarship.law.berkeley.edu/books/1.

Cooter, Robert . Schafer, Hans-Bernd, “ Solomon’s Knot: How Law Can End the

Poverty of Nations” . Princeton University Press. Priceton and Oxford, 2012.

Ries, Eric, “ A StartupLeya. Enxuta” ( 2011) .

Gitahy, Yuri. “ O que é uma Startup?” (2010) . Revista Exame. http://exame.abril.com.br/pme/noticias/o-que-e-uma-startup.

Blank, Steve. “ Por que o movimento lean startup muda tudo” (2013). Harvard Business Review Brasil.

J. Marion, Tucker. “ 4 Factors That Predict Startup Success, and One That

Doesn’t”.

(2016). Harvard Business Review. Available at: https://hbr.org/2016/05/4-factors-that-predict-startup-success-and-one-that-doesnt.

J. Marion, Tucker. K. Fixson, Sebastian. “The 4 Main Ways to Innovate in a Digital

Economy” (2016). Harvard Business Review. Available at https://hbr.org/2016/06/the-4-main-ways-to-innovate-in-a-digital-economy.

Referências

Documentos relacionados

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Este estágio de 8 semanas foi dividido numa primeira semana de aulas teóricas e teórico-práticas sobre temas cirúrgicos relevantes, do qual fez parte o curso

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

A pesquisa pode ser caracterizada como exploratória e experimental em uma primeira etapa (estudo piloto), na qual foram geradas hipóteses e um conjunto de observáveis, variáveis

Mas existe grande incerteza sobre quem detém esses direitos em certas áreas do Brasil rural.. Esta é a posição do Brasil em relação à segurança de direitos de propriedade de

This infographic is part of a project that analyzes property rights in rural areas of Brazil and maps out public policy pathways in order to guarantee them for the benefit of

O Cadastro de Imóveis Rurais Brasileiro, administrado pelo Incra no âmbito do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), constitui uma base de dados sobre as

Keywords Land Use, Land Rights, Brazilian Forest Code, Land Management, Land Regulation Related CPI Reports Insecure Land Rights in Brazil: Consequences for Rural Areas