Relatório estágio profissional

Relatório Final de Estágio

João Maria Regueiras Mendes

Nº2010329 Turma7

Índice

Introdução

Este relatório tem como objectivo dar a conhecer, de forma sucinta, este ano de estágio profissionalizante e os seus estágios parcelares constituintes.

O relatório será constituído por uma introdução, um breve relato de cada um dos seis estágios por ordem cronológica anterógrada da sua realização, nomeadamente Saúde Mental, Medicina Geral e Familiar (MGF), Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia e Medicina, e na porção final do relatório a minha Reflexão Crítica Pessoal dos aspectos previamente referidos. O relato de cada estágio parcelar será iniciado pela apresentação breve e descrição do mesmo. Finalmente na Reflexão Crítica faço uma avaliação dos estágios e do cumprimento dos objectivos e expectativas.

Estágios Parcelares

Saúde Mental: O estágio de Saúde Mental decorreu de 14 de Setembro a 9 de Outubro, no Hospital Júlio de Matos (HJM), sob tutoria do Dr. Jaime Ribeiro. Este subdividiu-se em 5 partes: nos primeiros dois dias foram leccionadas aulas teórico-práticas pelo Professor Doutor Miguel Xavier; os restantes dias foram divididos pelo serviço de internamento de Psicoses Esquizofrénicas do HJM; pelo serviço de consultas externas do mesmo; pelo Serviço de Urgência (SU) do Hospital de São José; e pela elaboração de parte de um projecto de investigação em conjunto com o departamento de Saúde Mental da FCM. Durante a minha permanência no serviço de internamento participei também nas reuniões de serviço, nas sessões de formação de internos do HJM e redigi uma história clínica de um dos casos que segui no internamento.

O trabalho de investigação foi realizado em conjunto com 5 colegas, sobre “Risco de Suicídio nas Prisões”.

Medicina Geral e Familiar: Este estágio decorreu de 19 de Outubro a 6 de Novembro, no Centro de Saúde de Serpa, mais especificamente na extensão de Vila Verde de Ficalho, sob tutoria do Dr. Edmundo Sá. Aqui realizei consultas com autonomia, sendo a validação final feita pelo Dr. Edmundo; assisti também a consultas do meu tutor, algumas delas ao domicílio; assisti a consultas de cessação tabágica em Beja e desloquei-me a Castro Verde para acompanhar o meu tutor no serviço de urgências básicas deste Centro de Saúde, em horário nocturno. Elaborei também uma apresentação intitulada “Escolha Certa”, sobre prescrição baseada na evidência, com o intuito de a apresentar na sessão clínica do Centro de Saúde de Serpa, mas que devido alterações de calendarização acabei por não o fazer tendo sido apresentada pelo meu tutor já depois de findo o estágio.

Pediatria: Entre 9 de Novembro e 4 de Dezembro realizei, sob a alçada da Dra. Leonor Sassetti, o estágio de Pediatria no Hospital Dona Estefânia (HDE) na Unidade de Adolescentes. O estágio foi repartido entre a enfermaria, a consulta externa de adolescentes e o serviço de urgência geral, cirúrgica e de ortopedia. Assisti também à passagem de doentes, que se realizava todas as manhãs no auditório do hospital, às sessões S.O.F.I.A. de formação de internos, às sessões clínicas do hospital, a uma manhã de consultas de Imunoalergologia e a duas aulas teórico-práticas sobre os temas “Terapêutica inalatória da asma” e “Choque anafilático”. Apresentei em conjunto com duas colegas um trabalho com o título “Perturbação de Oposição ou Má-Criação” no âmbito do seminário realizado por alunos do 6º ano.

Ginecologia e Obstetrícia: De 7 de Dezembro a 15 de Janeiro realizei no Hospital dos Lusíadas o meu estágio de Ginecologia e Obstetrícia, acompanhando a Dra. Alexandra Cordeiro. Acompanhei as consultas da Dra. Alexandra Cordeiro, tanto de ginecologia como de obstetrícia. Acompanhei também consultas especializadas em patologia do colo do útero, assisti, e por vezes participei, em cirurgias e acompanhei a minha tutora no SU e no bloco de partos. Foi-me também permitido seguir outros médicos noutras valências do Hospital como: Ecografia Obstétrica; Histeroscopia; Consulta de Infertilidade. Acompanhei também por um dia a vida do laboratório de infertilidade e apresentei o tema “Coagulação Intravascular Disseminada” no seminário realizado pelos alunos do 6º ano a estagiar no Hospital dos Lusíadas.

Cirurgia: No 2º semestre realizei, no Hospital das Forças Armadas (HFAR), de 25 de Janeiro a 18 de Março, o estágio de Cirurgia, tendo feito parte da equipa chefiada pelo Dr. Bruno Ferreira. A 1ª das 8 semanas foi dedicada a aulas teórico-práticas e teóricas leccionadas no Hospital Beatriz Ângelo (HBA). Durante as restantes 7 semanas, eu e os meus colegas de estágio repartimo-nos entre a enfermaria, a consulta de Cirurgia Geral, o bloco operatório (onde por vezes auxiliávamos como ajudantes) e a urgência (que no HFAR não funcionava com um balcão de cirurgia permanente, mas permanecendo de chamada à urgência geral). Na enfermaria participámos em quase todas as actividades realizadas tais como a avaliação dos doentes e a elaboração de notas de entrada e de alta. Participámos também nas reuniões multidisciplinares, nas sessões clínicas e apresentámos uma revisão das complicações da colelitíase no Mini-Congresso de Cirurgia que decorreu no último dia de estágio no HBA. Aos alunos que estagiaram no HFAR foi também

permitido visitar os serviços de Medicina Subaquática e Hiperbárica e o Centro de Treino de Fisiologia, ambos no HFAR, e dedicar uma da semanas de estágio a fazer um “mini-estágio opcional” noutra especialidade cirúrgica do HFAR, que no meu caso foi Ortopedia. Nesta semana participei nas consultas, no trabalho de enfermaria, nas cirurgias e no serviço de apoio às urgências.

Medicina: O meu último estágio parcelar foi realizado entre 28 de Março e 20 de Maio, no serviço de Medicina II do Hospital Egas Moniz e fui orientado pelo Dr. Francisco Silva, tendo feito parte da sua equipa durante estas 8 semanas. Nessa equipa partilhei as funções e responsabilidades da enfermaria no serviço, assisti a consultas e acompanhei o Dr. Francisco e os restantes membros no SU do Hospital São Francisco Xavier, participei nas sessões clínicas do serviço de medicina, no “Jornal Club”, nas visitas e nas reuniões de notas de alta. Tal como no estágio de Cirurgia, realizava na enfermaria todo o tipo de actividades desde a observação, discussão e apresentação dos doentes, até à elaboração de notas de alta ou de entrada, passando pela requisição de meios complementares de diagnóstico e pelo contacto com os familiares. Participei também nos seminários na FCM. Em conjunto com dois colegas apresentei ao serviço uma revisão sobre pancreatite aguda e crónica.

Elementos Valorativos

Participei na XVIII Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP em 21 de Novembro de 2015, e no II Congresso SICAD de 5 a 7 de Abril de 2016. A 17 de Abril de 2015 leccionei uma aula sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis a uma turma do 12º ano do Instituto Nun’Alvares em Santo Tirso. Faço parte como membro da direção e formador do grupo “Descobridores” de campos de férias, da Fundação Maria Dias Ferreira com

acção social na área de Ferreira do Zêzere. Sou também membro e formador dos “Campinácios”, movimento de campos de férias dos colégios jesuítas em Portugal.

Reflexão crítica

Olhando para trás é difícil não notar a enorme diferença que este estágio profissionalizante fez em mim. O principal factor que destaco é o contacto com a realidade, a saída da “bolha” académica para pôr em prática o que tenho vindo a aprender nos anos passados. Este confronto da aprendizagem maioritariamente teórica com a realidade da profissão médica levou à descoberta das minhas reais capacidades, assim como dos meus limites. Foi também um “teaser” daquilo que é o exercício da medicina e que me abriu o apetite por esta profissão.

Saúde Mental: Os meus objectivos para este estágio passavam por ter contacto prático com a psiquiatria e solidificar os meus conhecimentos de Saúde Mental. Considero que os objetivos propostos foram atingidos ao longo das aulas e do estágio. Apesar de considerar que o estágio foi quase 100% observacional, acho difícil que tivesse sido de outra maneira dada a pouca experiência que, nesta área, se ganha ao longo do curso.

Medicina Geral e Familiar: Considero este estágio fulcral para a minha formação médica. Os principais objectivos que tinha à partida para Serpa eram aprender e conhecer a medicina em ambiente extra hospitalar, na primeira linha de contacto com os doentes, e também praticar uma medicina mais holística, preventiva e de promoção da saúde, em contraste com o ambiente hospitalar que me acompanhou durante o restante curso. Considero que estes dois objectivos foram cumpridos e até superados. O mesmo já não posso dizer

da esperança que tinha de poder aprender e praticar algumas técnicas de pequena cirurgia, que apesar da abertura do meu tutor para que este objectivo se cumprisse, simplesmente não surgiu nenhum caso que delas necessitasse. Devo ainda salientar o marco que foi para mim ter este contacto com as condicionantes da medicina em ambiente rural e afastado dos grandes centros, ao ponto de neste momento questionar se tal oportunidade deveria manter-se apenas opcional para os alunos de medicina. Foi um estágio que despertou em mim um gosto por esta medicina mais de contacto e do dia-a-dia dos utentes, o que me surpreendeu. Tendo sido o primeiro estágio em que me foi dada tanta autonomia e responsabilidade ficará catalogado na minha memória com vários rótulos de “a primeira vez que…”.

Pediatria: Ao rever e reavaliar agora este estágio reparo que ele me traz um misto de sensações. Do ponto de vista académico ficou um pouco aquém das minhas expectativas. Os meus objectivos de ganhar experiência e prática com as afecções mais frequentes em idade pediátrica ficaram em parte por cumprir. Deste não total atingimento das metas por mim traçadas responsabilizo o facto de ter ficado na unidade de adolescentes, bastante díspar da restante pediatria, e a sobrepopulação do SU do HDE por alunos e internos, ficando este serviço com um rácio medico/doente alto demais para a boa aprendizagem e, por vezes, até para o bem estar do doente. Por outro lado, foi, para mim, muito positiva a aprendizagem proporcionada pela minha tutora Dra. Leonor Sassetti, com quem cresci imenso do ponto de vista pessoal e com quem aprendi muito, nomeadamente a lidar com os doentes e com os adolescentes (e pré-adolescentes em alguns casos). Fazendo uma avaliação

mais parcimoniosa deste estágio, devo dizer que aprendi bastante, mas não o que esperava aprender.

Ginecologia e Obstetrícia: Este estágio tinha, a nível pessoal, dois principais objectivos: o de conhecer as diferenças entre a medicina em contexto público e privado, que foi cumprido tendo ficado com boas noções do que junta e do que separa estas duas realidades; e pôr em prática o que tinha aprendido nos anos anteriores (neste aspecto já não me dou por tão bem sucedido). Apesar do estágio ter sido muito intenso e completo, tendo assistido a inúmeras consultas, procedimentos, partos e cirurgias, foi um estágio, na minha opinião, demasiado observacional. Na escala da aprendizagem o degrau do “conhecer os procedimentos e técnicas e o seu correcto modo de realização” foi amplamente cumprido, tendo até superado as minhas expectativas, com a observação de consultas de infertilidade e o acompanhamento e contacto com diversos profissionais. No entanto devo referir que o passo seguinte “realiza autonomamente as técnicas” ou “aplica correctamente os conhecimentos” ficou, de certa forma, por dar. Não consigo dizer exactamente a que se ficou a dever este não atingir do objectivo, talvez a particularidades desta especialidade médica, talvez ao ambiente hospitalar privado que pode não ser tão “student friendly”.

Cirurgia: Tendo eu preferência pelas áreas cirúrgicas, este estágio era aquele para o qual tinha mais expectativas e objectivos. Os principais eram: confirmar a minha preferência pelo mundo da cirurgia; ganhar prática no ambiente operatório; conhecer melhor a vida de um serviço de cirurgia e o seu dia-a-dia; aprender melhor as possibilidades e limitações e “modus operandi” do cirurgião; e ganhar prática em técnicas cirúrgicas e realizar algumas acções

mais básicas de pequena cirurgia. Os primeiros pontos foram claramente cumpridos, já o último ponto foi o objectivo que ficou ligeiramente aquém do esperado, pois participei como ajudante em várias cirurgias e pude até fazer alguns gestos técnicos, mas esperava mais. Talvez o factor que levou ao não total cumprimento deste último objectivo tenha sido a ausência de um SU “tout court”, mais habitual, com balcão e um grande número de doentes, ou até o optimismo excessivo da minha parte.

Medicina: Este terá sido o estágio que mais me preparou para a prática clínica e também foi aquele onde mais autonomia me foi dada. Fui completamente integrado na equipa e foram-me dadas (quase) as mesmas responsabilidades que aos restantes internos da equipa. Este ambiente permitiu não só que completasse mas que superasse largamente os objectivos que tinha no início do estágio, dos quais os mais importantes eram: ganhar experiência e confiança na minha prática clínica; conhecer o modo de trabalho numa equipa hospitalar médica; saber como agir, e como “me mexer” dentro dum hospital, dentro da instituição e no contacto com os outros colegas. Foi um óptimo estágio que dificilmente imagino como poderia melhorar.

Concluo o meu relatório reafirmando a positividade deste estágio profissionalizante centrada no ganho de prática e autonomia. O contacto com a realidade da minha futura profissão e com os meus colegas de trabalho confirmou a minha vocação pela Medicina.

Por fim desejo deixar um agradecimento aos meus tutores, a todos os que de uma maneira ou de outra me fizeram crescer durante estes meses e finalmente aos colegas que compartilharam comigo este ano de formação.