• Nenhum resultado encontrado

Machado de Assis o crítico : seduções e desencantos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Machado de Assis o crítico : seduções e desencantos"

Copied!
257
0
0

Texto

(1)

Machado de Assis

o CRÍTICO

SE D U Ç Õ E S & D E SE N C A N T O S

STÉLIO FURLAN

Florianópolis 2001

(2)

Machado de Assis

o CRÍTICO

SEDUÇÕES & DESENCANTOS

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Literatura - Doutorado em

Teoria Literária - da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do

título de Doutor em Teoria Literária.

Orientadora:

Profa. Dra. Tânia Regina Oliveira Ramos

(3)

Um crítico do século XIX

Stélio Furlan

Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título

DOUTOR EM LITERATURA

Área de concentração em Teoria Literária e aprovada na sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina.

Profa. Bra. Simone Pereira Schmidt COORDENADORA DO CURSO BANCA EXAMINADORA

<2/TYv^>

Profa. Dra. Taniá PRESIDENTE

gina Oliveira Karne

lixu i

Profa. Dra. Regina Zilberman (PÜCRSI

/

Profr 6be rto Velgso (^airo j f Ü N E S ^ ^

■ W - !

Prof. C(r. João Hernesto Weber (UFSC)

P ro fr^C lá

láudio CeJ. anoxia Cruz - (UFSC)

(4)
(5)

À guisa de agradecimento, dedico este texto:

à Tânia Regina Oliveira Ramos, pela sugestão do tema, pela orientação e pelo farto material bibliográfico disponibilizado;

à Cláudia e à Camille,

aos meus pais Mário e Ana, ao Seu Zeca e demais familiares que acompanharam de perto a tessitura desta tese;

à Dona Geni, pela paixão por nossa língua portuguesa;

ao Weber e ao Walter, pelos aportes críticos na qualificação desta; aos (às) professores(as) do Curso, por iluminarem múltiplos percursos; aos (às) colegas com quem compartilhei seduções e desencantos; à Elba;

à UFSC, portal da arte e da ciência; à CAPES, pelo apoio logístico;

enfim, a todos os que se interessam pela escritura machadiana - menos como apostolado e mais do que mera diversão.

(6)

E s t u d o do d i s c u r s o c r í t i c o de M a c h a d o de A s s i s , a t i v a d o a p a r t i r d a s e g u n d a m e t a d e do s é c u l o X I X , c u j a d i s c u s s ã o s o b r e a p r o d u ç ã o l i t e r á r i a s u s c i t a u m a r e f l e x ã o a c e r c a da n a t u r e z a da a r t e e d a s u a r e l a ç ã o c o m o c u l t u r a l . T r a t a - s e de u m a p e s q u i s a s o b r e as c o n d i ç õ e s e c o n s t r i ç õ e s de p o s s i b i l i d a d e d a p r á t i c a c r í t i c a , p a s s a n d o p e l a n o ç ã o d e v a l o r ( c o m o e s t r a t é g i a s i g n i f i c a n t e ) , p e l a q u e s t ã o do c â n o n e e p e l o s p r o c e s s o s de h i b r i d a ç ã o , m o d u s o p e r a n d i p o r e x c e l ê n c i a d o d i s c u r s o c r í t i c o m a c h a d i a n o .

(7)

É t u d e du d i s c o u r s c r i t i q u e d e M a c h a d o d e A s s i s , a c t i v é à p a r t i r de la s e c o n d e m o i t é du s i è c l e X I X , d o n t le d é b a t s u r la p r o d u c t i o n l i t t é r a i r e s u s c i t e u n e r é f l e x i o n a u t o u r la n a t u r e de l ’A r t e sa r e l a t i o n a v e c le c u l t u r e l . Il s ’a g i t d ’ u n e r e c h e r c h e s u r les c o n d i t i o n s et c o n s t r i c t i o n s d e p o s s i b i l i t é de l a p r a t i q u e c r i t i q u e , en p a s s a n t p a r l a n o t i o n de v a l e u r ( c o m m e s t r a t é g i e s i g n i f i a n t e ) , p a r la q u e s t i o n d u c â n o n et p a r les p r o c e s s u s d ’h i b r i d a t i o n , m o d u s o p e r a n d i p a r e x c e l l e n c e d u d i s c o u r s c r i t i q u e m a c h a d i e n . vi

(8)

M a c h a d o de A s s i s

( 1 8 3 9 - 1 9 0 8 )

(9)

I NTRODUÇÃO... ... ...01

I. U M C R Í T I C O D O (E N O ) S E G U N D O R E I N A D O ... 1 2 1.1 A nota pessoal do escritor... ... ... ... 15

1.2 O Ideal do Crítico... ...19

I. 3 Sublime da estética, corpo da cultura?... 34

I. 4 Crítica como missão... 38

II. UM CRÍTICO QUE TAMBÉM FOI POETA...63

II. 1 Do irrepresentável...70

II. 2 Nem azorrague nem luva de pelica...74

II. 3 Ao acaso... ... 87

III. O TALENTO NÃO TEM LOCALIDADE... ... 107

IV. O ENCANTO NUMEROSO DA LEITURA...128

IV. 1 Da hibridação crítica... 155

V. CRÍTICO DE SI MESMO... ... 164

V. 1 De Ressurreição ao naufrágio das ilusões... ...180

V. 2 De Memórias ao Memorial... 196

VI. O ENIGMA DE UM RIO SEM MARGENS... ... 217

VII. PÁGINAS RECOLHIDAS... 231

(10)

esse estar e nã o-estar, / esse não-estar j á sendo, esse ir como esse ref lu ir ” .

( C a r l o s D r u m m o n d de A n d r ad e . C l a r o E n i g m a ). G a n h o u - s e , c o m M a c h a d o de A s s i s , a l g u m a s da s m a i s f e c u n d a s p á g i n a s de c r í t i c a l i t e r á r i a : i n v e s t i g a r o d i s c u r s o c r í t i c o a p a r t i r d a s e g u n d a m e t a d e do s é c u l o X I X , m a i s p a r t i c u l a r m e n t e a c o n t r i b u i ç ã o da p r o d u ç ã o c r í t i c a m a c h a d i a n a c o m o u m a t e n t a t i v a de d e f i n i ç ã o t e ó r i c a da c r í t i c a l i t e r á r i a no B r a s i l é o q u e se p r e t e n d e c o m e s t e e s t u d o . E s t a p e s q u i s a e n c o n t r o u m o t i v a ç ã o n o a t u a l d e b a t e s o b r e a c o n s t r u ç ã o t e ó r i c a do d i s c u r s o c r í t i c o l a t i n o - a m e r i c a n o . P o d e p a r e c e r i m p r ó p r i o q u e , n e s t e t e m p o p r e n h e de d e s t e r r i t o r i a l i z a ç õ e s , e m q u e se t o r n a l u g a r c o m u m a p r o b l e m a t i z a ç ã o d o s p a r â m e t r o s c r í t i c o s do j u í z o l i t e r á r i o , s e l e c i o n e m o s t r a b a l h a r c o m um c r í t i c o ' q u e , na e n t r a d a d a m o d e r n i d a d e - p e r i f é r i c a - l a t i n o - a m e r i c a n a , n ã o só d e f e n d i a a n e c e s s i d a d e de um c o r p o de c r i t é r i o s , c o m o t a m b é m b u s c a v a d e l i n e a r os c o n t o r n o s d a a t i v i d a d e c r í t i c a .

' Ne s t e est udo ut il i z a mo s mormente o corpus crítico reunido em M a c h a d o d e As si s. O b r a

(11)

L o n g e de p e n s a r q u e a c r í t i c a e s t á l i v r e d e t o d a s as f o r m a s de v a l o r e s , e n t e n d e m o s q u e o q u e se q u e s t i o n a é a p o s s i b i l i d a d e d e p a r â m e t r o s u n i v e r s a i s do g o s t o ; p o r c o n s e g u i n t e , os c r i t é r i o s p a r a u m a a v a l i a ç ã o o u j u í z o s ã o m a i s p o s i c i o n a i s do q u e u n i v e r s a i s , n o s e n t i d o de q u e d e p e n d e m d o s v á r i o s p o n t o s de e n u n c i a ç ã o q u e se d i s s e m i n a m n a a t u a l i d a d e - n ã o s e m p r o v o c a r t e n s õ e s e i n f l e x õ e s . N o u t r a s p a l a v r a s , e m v e z de u m a c r i s e c o m p l e t a e g e n e r a l i z a d a do c h a m a d o j u í z o l i t e r á r i o , p r e f e r i m o s p e n s a r q u e a c r í t i c a e s t á v u l n e r á v e l p o r q u e p o s t a e m q u e s t ã o , p a r a n ã o d i z e r . . . e m s u s p e n s ã o . O r a , se a s s i m se c o l o c a a s ua c o n d i ç ã o , n ã o é m e n o s c e r t o a f i r m a r que e s s e c o n t í n u o r e p e n s a r s o b r e t al c r i s e a c a b a p o r p o t e n c i a l i z a r a a u t o c o n s c i ê n c i a e a a u t o r e f l e x i b i l i d a d e , a t r i b u t o s i n e r e n t e s à p r ó p r i a p r á t i c a c r í t i c a . E p a r e c e - n o s b a s t a n t e s a l u t a r q u e o p e n s a m e n t o c r í t i c o s i g a a r e p e n s a r o s eu p r ó p r i o a f ã , do c o n t r á r i o c o r r e o r i s c o de c r i s t a l i z a r - s e em e s t e r e ó t i p o s , f r a s e s f e i t a s ou d e t e r m i n a ç õ e s em ú l t i m a i n s t â n c i a . Há , d e c e r t o , a o r a i a r d e s t e t e r c e i r o m i l ê n i o , um c l i m a f a v o r á v e l à l i b e r a ç ã o da a t i v i d a d e c r í t i c a d e c e r t a s c l a u s u r a s d e t e r m i n i s t a s , c o m o as s u s t e n t a d a s p e l a s n o ç õ e s de o r i g e m , de i n f l u ê n c i a : g e s t o d i f e r e n c i a l de l e i t u r a ao q u a l M a c h a d o de A s s i s d e i x o u s u a c o n t r i b u i ç ã o , m a i s p a r t i c u l a r m e n t e n a s d é c a d a s de 1860 e 1 87 0, l e m b r a d a s p e l o s s e u s a c i r r a d o s d e b a t e s s o b r e as ( i m ) p o s s i b i l i d a d e s de u m a l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a .

(12)

Se, n a c r í t i c a m a c h a d i a n a , h á a t e n t a t i v a d e d e l i m i t a ç ã o d o s l i m i a r e s do “ b o m g o s t o l i t e r á r i o ” , q u e n o s i n t e r e s s a p o r a q u i l o q u e r e v e l a de u m a d o m i n â n c i a c u l t u r a l , a s s u n t o s d o p r i m e i r o e s e g u n d o c a p í t u l o s d e s t a t e s e , n ã o se p o d e d e s c u r a r de s e u i n v e s t i m e n t o no q u e c h a m a m o s de d e s t e r r i t o r i a l i z a ç ã o do c â n o n e e / o u e m s u a s u p l e m e n t a ç ã o - e n t e n d a - s e , o q u e se a c r e s c e n t a p a r a s u b s t i t u i r e s u p r i r u m a a u s ê n c i a , o “ q u e v e m a m a i s ” .3 I s s o i m p l i c a em p e n s a r , c o m o p r o c u r a r e m o s f a z e r no t e r c e i r o c a p í t u l o , n u m a r e s p o s t a c r í t i c a m a c h a d i a n a a o s p r o c e s s o s de c o l o n i z a ç ã o e s t é t i c a e c u l t u r a l . A s s i m , i n d o n a s á g u a s de P i e r r e B o u r d i e u , o c a m p o l i t e r á r i o e t e ó r i c o e o c a m p o c u l t u r a l s ão v i s t o s c o m o um t e r r i t ó r i o de l u t a s p e l o p o d e r de c o n s a g r a ç ã o , de d i s p u t a s p e l a l e g i t i m i d a d e d e u m a m a n e i r a de v e r , no c a s o , o l i t e r á r i o . 3 S e n d o a c r í t i c a u m a v i s ã o d e u m a v i s ã o , 4 o n o s s o o l h a r só p o d e se p o s i c i o n a r n u m a s i t u a ç ã o t e r c e i r a de l e i t u r a , u m a v e z qu e n o s p r o p o m o s a e s t u d a r as c o n d i ç õ e s de p o s s i b i l i d a d e de um c e r t o o l h a r

2 Tal c o nc e i t o foi d e s e n v o l v i d o por Jacques Derrida, em A e s c r i t u r a e a d i f e r e n ç a (p.

2 4 5 ) Op t amo s pela def i ni ç ão de “s u p l e m e n t o ” feita por Si l vi ano Santi ago que, na

esteira gra ma t ol óg i c a , diz respeito a um “c o n c e i t o que permite expl i car o mo vi m e n t o de s i g n i f i c a ç ã o que é avançado ao acrescentar alguma coi sa a um todo. Seja ao nível da di c o t o mi a s i g n i f i c a n t e / s i g n i f i c a do com rel ação ao si gni f i cante, quando serve para marcar a falta do si g ni fi c a do com relação ao si gni fi cante, seja ao nível das rel aç õe s , quando serve para marcar o "jogo" da s i gn i f ic a ç ã o , que se opera c om base em s u b s t i t u i ç õ e s infinitas no f echament o de um conjunto f ini t o” . Ver S A N T I A G O , Si l vi ano.

C a r l o s D r u m m o n d d e A n d r a d e , p. 2 5 - 26.

3 Sobre a e x p r e s s ã o “tomada de p o s i ç ã o ” e sobre a questão das “lutas de de f i ni ç ão (ou de c l a s s i f i c a ç ã o ) ” ver B O U R D I E U , Pierre. “O ponto de vista do autor” . In: A s r e g r a s da

a r t e , pp. 2 5 2 - 2 6 5 .

(13)

s o b r e u m a c e r t a m a n e i r a de v e r / l e r , p o s i ç ã o e s t a q u e se v a c i n a c o n t r a q u a l q u e r p r e t e n s ã o de u m a l e i t u r a c a p a z de e s g o t a r o s t e x t o s a n a l i s a d o s . N e m e s g o t a r n e m d u p l i c a r , a n t e s r e d o b r a r , m e l h o r , a p o s t a r n u m a l e i t u r a q u e i n v e s t i g a c o m o a p r á t i c a c r í t i c a m a c h a d i a n a r e a r t i c u l a o u d á n o v o s s e n t i d o s às d i f e r e n t e s m a n e i r a s de e n t e n d e r a si m e s m a , a o l i t e r á r i o e a o c u l t u r a l . D aí o q u e se c o n v e n c i o n o u c h a m a r de p r o c e s s o s de h i b r i d a ç ã o , q u e , no q u a r t o c a p í t u l o , t o m a r e m o s c o m o e s t r a t é g i a de l e i t u r a p a r a p e n s a r o m o d u s o p e r a n d i da c r í t i c a m a c h a d i a n a . A n o ç ã o de c r í t i c a c o m o r e d o b r a m e n t o r e m e t e - n o s ao a p e l o b a r t h e s i a n o , q ue i n c u m b e ao c r í t i c o f a z e r f l u t u a r , a c i m a d a p r i m e i r a l i n g u a g e m , u m a s e g u n d a l i n g u a g e m , d e s d o b r a r os s e n t i d o s a t r a v é s d e u m a r e c o d i f i c a ç ã o d e s s a l i n g u a g e m p r i m e i r a . C u m p r e ao c r í t i c o a i n s t i g a n t e t a r e f a de t a m b é m a b r i r f e n d a s n a s u p e r f í c i e do d i t o , p e r s c r u t a r p a r a a l é m do q u e é d a d o a ler: a t i v i d a d e s u p l e m e n t a r q u e se n u t r e d a s e x c l u s õ e s , do q u e é d e i x a d o n a s e n t r e l i n h a s , do q u e se e x o r c i s a . A n o s s a t e n t a t i v a de n ã o c e d e r à p a r á f r a s e e n c o n t r a e c o n u m a p a s s a g e m d e C r í t i c a e V e r d a d e , na q u a l se d e f e n d e a p e r í f r a s e c o m o e s t r a t é g i a a n a l í t i c a . 5 M o v i m e n t o q u e n o s l i b e r t a da b u s c a de u m a

5 “A crí ti ca”, diz Roland Barthes, é “uma perífrase. Ela não pode pretender encontrar o “ f u n d o ” da obra, pois e s se fundo é o próprio sujeito, isto é, uma ausência: toda metáf ora é um si gno sem fundo, e é e s s e l ong í nquo d o s i g n i f i c a d o que o pr oc e s s o si mbó l i co , em sua profusão, desi gna, o crítico só pode continuar as metáforas da obra, não reduzi-las: ainda uma vez, se há na obra um s i g n i f i c a d o “o cu l t o ” e “o b j e t i v o ”, o s í mb o l o não passa de um e uf e m i s m o , a literatura é apenas disf arce e a critica apenas f i l o l o g i a ” ( C r í t i c a e

Ve r dade , p . 226) . A propósi to da crítica c o mo “di scurso sobre um d i s c u r s o ” (p. 160), leia-

se. “O crítico não pode pretender “traduzir” a obra, sobretudo de mo d o mais claro, p o i s não há nada mai s claro do que a obra. O que ele pode é “ engendrar” um certo sentido, de ri vando- o de uma forma que é a obra (.. . ) A crítica ( . . . ) faz flutuar acima da primeira l i nguage m da obra uma s egunda li nguagem, isto é, uma coerênci a de s i g n o s ” (p.221) .

(14)

“ e s s e n c i a l i d a d e ” m a c h a d i a n a , d a s u a i n s e r ç ã o n u m a c o r r e n t e e s p e c í f i c a , d a t e n t a t i v a de e n c l a u s u r á - l o n u m “ i s m o ” d e t e r m i n a d o . E m v e z d i s s o , p r e f e r i m o s a p r e c i a r de q u e p l u r a l e le é f e i t o 6 o u q u e h i b r i d a ç õ e s p r o c e s s a . E o f e n ô m e n o do h i b r i d a ç ã o , c o n v é m a n t e c i p a r , a q u i s e r á p o s i t i v a d o c o m o v a l o r , m e l h o r , c o m o e s t r a t é g i a d i s c u r s i v a i n d i s p e n s á v e l às e s c r i t u r a s da d i f e r e n ç a . O r u m o r b a r t h e s i a n o t a m b é m se p o d e e s c r u t a r n a n o ç ã o de c r í t i c a c o m o d i s c u r s o s o b r e um d i s c u r s o , c o m o a t i v i d a d e q u e p r e s s u p õ e ( q u a n d o n ã o a n t e c i p a ) a c r i a ç ã o . E s t a r e f l e x ã o n o s i n s t i g a a p e n s a r c o m o o d i s c u r s o c r í t i c o de M a c h a d o de A s s i s se g e s t a , a t o m a r a c r í t i c a c o m o a n á l i s e das c o n d i ç õ e s e c o n s t r i ç õ e s de p o s s i b i l i d a d e d e um t e x t o . D i s c u r s o s o b r e um d i s c u r s o - c o m o v e r e m o s no c a p í t u l o q u i n t o - t a m b é m no s e n t i d o da m a n e i r a p e l a q u a l o c r í t i c o d i a l o g a c o m o u t r o s t e x t o s e s c r i t o s ao c o r r e r da p r ó p r i a p e n a , o q ue o t o r n a , n u m a p a l a v r a , c r í t i c o de si m e s m o . E i s, p o i s , o p e r c u r s o p e l o qua l n o s s a l e i t u r a p r e t e n d e se m o v e r : na s e m o v ê n c i a m e s m a de u m a c r í t i c a c o m p l e x a , q u e n ã o só e s c a p a às c l a s s i f i c a ç õ e s , m u i t a v e z d e i x a - a s (e se d e i x a ) em s u s p e n s ã o , t e m a do e n s a i o q u e f i c a à g u i s a de c o n c l u s ã o d e s t a t e se . P e r c u r s o e s t e q u e t r a d u z

6 Assi m, b u s ca r e mo s “desfi ar” o text o machadi ano c o m o t e c i do que pr opõe sentido sem parar: “um t ext o é f ei t o de escrituras múltiplas, oriundas de várias culturas e que entram umas com as outras em di ál ogo, em paródia, em c o n t e s t aç ão ” ( B A RT H E S , Roland. O

r u m o r d a /í ngua, p 70). L e i a - s e também: “O te xt o é plural (.. . ) O Text o não é

co ex i s t ê n c i a de sentidos, mas pas s age m, travessia; não pode, pois, depender de uma interpretação, ainda que liberal, mas de uma e x p l o s ã o , de uma d i s s e mi na ç ã o . O plural do Te x t o prende-se, e f et i vame nt e, não à ambi güi dade de seus c o nt eúdo s , mas ao que se

(15)

m e n o s u m s e n t i d o de p u r a i n d e c i s ã o do q u e a t e n t a t i v a de um v i é s de a n á l i s e q u e n ã o se f e c h a n u m s i s t e m a m o n o l í t i c o d e d e t e r m i n a ç õ e s , a n t e s se a b r e ao e n c a n t o n u m e r o s o d a s l e i t u r a s . A c r í t i c a m a c h a d i a n a é c o m p l e x a , d i s s e m o s , p o r q u e se a b r e à h i b r i d e z : e n i g m a de u m r i o s e m m a r g e n s . P r e t e n d e m o s t r a b a l h a r c o m d o i s r e c o r t e s c r o n o l ó g i c o s . N ã o se le i a e m t a i s r e c o r t e s u m a v a l i d a ç ã o de um a b i s m o i n t r a n s p o n í v e l e n t r e u m a f a s e p r i m e i r a e u m a f a s e m a d u r a . N ã o n e g a m o s u m a m a d u r e c i m e n t o p r o g r e s s i v o , e m b o r a h a j a t r a ç o s do M a c h a d o do B r á s C u b a s e da C a p i t u d e n t r o d o c r í t i c o e do c r o n i s t a do D i á r i o do R i o de J a n e i r o d a d é c a d a de 1860. O p r i m e i r o r e c o r t e , e n t r e 185 8 a 187 9, a b r i g a u m a p r o d u ç ã o c r í t i c a ( l i t e r á r i a e t e a t r a l ) d a s m a i s a t i v a s do p a í s . É a c r í t i c a p r o p r i a m e n t e d i t a , s e g u n d o as r e g r a s t o m a d a s de e m p r é s t i m o à t r a d i ç ã o d os g ê n e r o s n o r m a t i v o s . Tal r e c o r t e c o m p o r t a u m a d i s c u s s ã o c o n v e n c i o n a l i z a d a d a p r o d u ç ã o l i t e r á r i a a l h e i a , m a s t a m b é m , e n t r e t e x t o s e c e n a s , p o d e - s e p e r s c r u t a r u m a r e f l e x ã o s o b r e a n a t u r e z a da a r t e e s u a r e l a ç ã o c o m a c u l t u r a e a s o c i e d a d e . O s e g u n d o m o m e n t o , e n t r e 188 0 a 1908 , p o d e s e r c h a m a d o de c r í t i c a i n t e r s t i c i a l . A c r í t i c a , l i b e r t a do c a r á t e r n o r m a t i v o (e da p e n a c o m o p r o f i s s ã o ) , p a s s a a s er a b s o r v i d a p e l a p r ó p r i a a t i v i d a d e f i c c i o n a l ,

poderia chamar de pluralidade e s te reográf i ca d o s s i g n i f í c a nt e s que o t ecem

(16)

o u s e j a , as s e d u ç õ e s e d e s e n c a n t o s de u m “ c r í t i c o q u e t a m b é m foi p o e t a ” se d i s s e m i n a m n as v o z e s d o s n a r r a d o r e s - c r í t i c o s de c e r t o s c o n t o s e r o m a n c e s . A n t e a p r o f u s ã o de e s t u d o s s o b r e a t e x t u a l i d a d e m a c h a d i a n a , a c r í t i c a l i t e r á r i a a i n d a se a p r e s e n t a c o m o um c a m p o a s e r e x p l o r a d o . 7 Se os e s t u d o s s o b r e s u a f i c ç ã o s ão u m a d a s c o n s t a n t e s p r e o c u p a ç õ e s d a f o r t u n a c r í t i c a m a c h a d i a n a , o m e s m o n ã o se p o d e d i z e r de s ua p r o d u ç ã o c r í t i c a , p o u c o se f a l a s o b r e a a t i v i d a d e do c r í t i c o M a c h a d o de A s s i s . 8 Na a c e p ç ã o m a c h a d i a n a , ra c r í t i c a se d e f i n e p e l a a t i v i d a d e a n a l í t i c a : “ c r í t i c a é a n á l i s e ” ^* E s t a d e p e n d e d e u m a r i g o r o s a e c o e r e n t e c o n c e p ç ã o t e ó r i c a da l i t e r a t u r a , 1 q u e o p r ó p r i o c r í t i c o se e s m e r o u e m a r t i c u l a r ; n as s u a s p a l a v r a s , d e p e n d e de um i d e a l , no s e n t i d o de u m ' p r o g r a m a ou de um p r o p ó s i t o ? 1 Aí t e m o s e l e m e n t o s q u e nos p e r m i t e m . i d e n t i f i c a r o d e l i n e a r - s e de u m a S i s t e m a t i z a ç ã o ’d o s u b l i m e l i t e r á r i o , o q u e , p o r e x t e n s ã o , e m a l g o c o n t r i b u i p a r a a ^ c o n s t r u ç ã o de um e s t i l o t r o p i c a l ^ c u j o v i g o r n o s p a r e c e p o t e n c i a l m e n t e a s s o c i a d o à h i b r i d e z

7 A produção crítica machadiana já foi consi de rada "a mais c omp l e t a que ainda apareceu na literatura brasileira" ( C O U T I N H O , Afrânio. C r i t i c a e t e o r i a l i t e r á r i a , p. 481) . N ã o obstante, há quem afirme que “a produção crítica c o n v e nc i o n a l de Mac hado de As s i s

ainda não foi s uf i c i e nt em e nt e estudada". Ver FACIOLI, Valentim. "A c r í t i c a " In:

M a c h a d o d e Assis. A n t o l o g i a e e s t u d o s , p . 71. Com efei to, num l evant ament o b i b l io g r á f i c o preliminar e ncont ramos bem p o u c os e s t ud o s sobre o assunto, em grande medida anteriores a 1958, sendo que o estudos mais re cent es i nves t em, sobretudo, na questão da nac i on a l i d a d e literária.

8 Aliás, quando se trata de crítica literária no Brasil, usual é c ome ç a r pela Geração de 70: “Entre n ó s ” , e s c re ve B e ne di t o Nu n e s , “p o de - s e admitir, sem prejuízo dos pr e de c e ss o r e s ou p i o ne i r o s românt i cos, que a crítica literária c o m e ç o u a f azer sua própria história no fim do s é cu l o passado, com a chamada geração de 70, republicana e antiescravagista, de S í lv i o R o me r o e José V e r í s s i m o ” . Ver Cnlt. R e v i s t a B r a s i l e i r a de L i t e r a t u r a , 0 9 / 9 9 , p. 20.

(17)

e s t é t i c a , i n s p i r a d o p e l a s a r d ê n c i a s v a p o r o s a s d o c é u do N o v o M u n d o . E a e s t é t i c a a q u i n ã o é t o m a d a c o m o u m a á r e a e s t a n q u e , a u t o t é l i c a , m a s c o m o *processo q u e se l i g a ao c o r p o d a c u l t u r a . Em t e r m o s de c r í t i c a l i t e r á r i a n a c i o n a l , s e r i a i m p r ó p r i o d e f i n i r M a c h a d o p e l a e t i q u e t a de r e p r e s e n t a n t e do p i o n e i r i s m o r o m â n t i c o , m u i t o m e n o s p o d e - s e t o m á - l o c o m o r e p r e s e n t a n t e da G e r a ç ã o de 70, a n t e s "1 m e r e c e um c a p í t u l o à p a r t e . As l e i t u r a s m a c h a d i a n a s , se se q u i s e r , p á g i n a s de h i s t ó r i a l i t e r á r i a , t r a d u z e m u m a p r o v o c a ç ã o à h i s t ó r i a da l i t e r a t u r a e da c r í t i c a do s é c u l o XI X. P e n s a r o l u g a r d e M a c h a d o de A s s i s a n t e as r e p r e s e n t a ç õ e s da l i t e r a t u r a e da c r í t i c a l i t e r á r i a de s eu t e m p o s u g e r e - n o s , p o r t a n t o , u m t r a b a l h o s o b r e um t e r r e n o m ó v e l , m a r c a d o p o r d i s p u t a s s o b r e o s ^ r i t é r i o s e c o n c e p ç õ e s M o q u e é l i d o ( o u d a d o a l e r ) c o m o l i t e r a t u r a : d e l i m i t a ç õ e s p r o p o s t a s o u i m p o s t a s a p a r t i r de c e r t o s q u a d r o s d e r e f e r ê n c i a ( e x p e c t a t i v a s , g o s t o s e v a l o r e s ) c o n d i c i o n a d o s p o r c o n t e x t o s e s p e c í f i c o s . Se o c h a m a d o e s t i l o m a c h a d i a n o , o r a f i c a a s s o c i a d o à t a u t o l o g i a , o r a é p e n s a d o d e s d e a a t o p i a , p o d e - s e d i z e r q u e e s t a c o n d i ç ã o o s u s p e n d e a c i m a d a s f r o n t e i r a s e n t ã o u s u a i s . B u s c a - s e e n t e n d e r , p o i s , a c o m p l e x i d a d e m e s m a da c r í t i c a l i t e r á r i a m a c h a d i a n a , e n t r e c o n d i ç õ e s e c o n s t r i ç õ e s de p o s s i b i l i d a d e , i n v e s t i g a n d o s u a c o n t r i b u i ç ã o p a r a a e m e r g ê n c i a , r e l a t i v a c o n s o l i d a ç ã o e t e n t a t i v a de d e f i n i ç ã o da e s p e c i f i c i d a d e d a c r í t i c a l i t e r á r i a t u p i n i q u i m , a p a r t i r da s e g u n d a m e t a d e do s é c u l o X IX . P e r c u r s o q u e n o s l e v a r á à v a s t a

(18)

r e d e de c o n v e n ç õ e s s o b r e as q u a i s se a p o i o u e t r a n s f o r m o u , b e m c o m o a u m a r e f l e x ã o s o b r e c o m o a b s o r v e u e p r a t i c o u a “ f u n ç ã o ” do c r í t i c o o u , m e l h o r d i z e n d o , s o b r e os c r i t é r i o s q u e p e r p a s s a r a m s u a s l e i t u r a s - n o q u e d i z r e s p e i t o à v a l i d a ç ã o o u à e x c l u s ã o de c e r t a s t e x t u a l i d a d e s . T a i s p e r c u r s o s se d e s d o b r a m e m d i á l o g o s q u e t e n s i o n a m M a c h a d o e n t r e a c r í t i c a de i n s p i r a ç ã o r o m â n t i c a e a c o n d i c i o n a d a ao n a t u r a l i s m o e v o l u c i o n i s t a . P o r c o n s e g u i n t e , c a b e p e r g u n t a r : q u a l s u a a t i t u d e d i a n t e de l e i t u r a s q u e p r i v i l e g i a v a m a ê n f a s e no v i é s n a c i o n a l i s t a , o u s o ou a m o r a l da f á b u l a , o r i g o r i s m o m o r a l , o b i o g r a f i s m o , o d e t e r m i n i s m o e o p e r f i l p s i c o l ó g i c o - e l e m e n t o s d e c i s i v o s , no s é c u l o X I X , p a r a o e x e r c í c i o da c r í t i c a ? O r a , a i n d a q u e M a c h a d o t e m a t i z e ou a s s i m i l e p a r a n u t r i ç ã o a l g u n s d e s s e s e l e m e n t o s , p o d e - s e d i z e r q u e , de c e r t o m o d o , r e a l i z o u u m a l e i t u r a q u e n ã o a b s o l u t i z a n e n h u m d e s s e s t i p o s d e l e i t u r a . C o m e f e i t o , em s u a c o m b a t i v a “ c r í t i c a f e c u n d a ” , p o d e - s e e n c o n t r a r u m ' q u e s t i o n a m e n t o dos p a d r õ e s e s t é t i c o s e n t ã o e m voga? t a i s c o m o os a c i m a r e f e r i d o s . H á , d e c e r t o , u m a e s t r e i t a r e l a ç ã o e n t r e as t e o r i a s l i t e r á r i a s e os m é t o d o s c r í t i c o s . N e s s e s e n t i d o , d a d a a c r e n ç a na i n s e p a r a b i l i d a d e da t e o r i a e d a c r í t i c a , a c r e d i t a m o s n a p o s s i b i l i d a d e de se p e n s a r , a p a r t i r d o s s i s t e m a s de r e f e r ê n c i a p r i v i l e g i a d o s , c o m o M a c h a d o de A s s i s ( r e ) c o n f i g u r a u m a o p ( e r a ) ç ã o t e ó r i c a . N o u t r a s p a l a v r a s , p e n s a m o s n a s d e l i m i t a ç õ e s i n t e l e c t u a i s da c r í t i c a c o m o e s t r a t é g i a s d i s c u r s i v a s q u e se

(19)

a r t i c u l a m p a r a a a f i r m a ç ã o de u m a m a n e i r a de i n t e r p r e t a r o l i t e r á r i o e o c u l t u r a l . 9 N a o p e r a t i v i d a d e d o s t e x t o s c r í t i c o s m a c h a d i a n o s , m o b i l i z a m - se e s t r a t é g i a s d i s c u r s i v a s ( v a l o r e s ) e m d i s p u t a p o r u m a d e t e r m i n a d a c o n c e p ç ã o d o s u b l i m e e, p o r e x t e n s ã o , do q u e se d e v e e n t e n d e r p o r “ c u l t u r a ” . N e s s e s e n t i d o , a c r í t i c a p o d e s e r p e n s a d a c o m o u m a m e m b r a n a s e n s í v e l na q u a l f r e m e , e n t r e o a p r a z í v e l e o “ m a u g o s t o ” , um a r do t e m p o , g o s t o s de é p o c a . P o r c o n s e g u i n t e , o t e x t o c r í t i c o p o d e s e r l i d o c o m o t e r m ô m e t r o de u m a s e n s i b i l i d a d e c o l e t i v a ; 10 c l a r o , s e m d e s c u r a r de s u a c a p a c i d a d e d e p r o d u ç ã o d e n o v a s s e n s i b i l i d a d e s . A o se p o s i c i o n a r a f a v o r de c e r t o s s i g n o s de d i s t i n ç ã o , ao c o l a b o r a r c o m a s u p l e m e n t a ç ã o d e um c o n j u n t o de t e x t o s a c e i t á v e i s , o d i s c u r s o c r í t i c o t e r m i n a p o r c o d i f i c a r c e r t o s i n t e r e s s e s de s e u t e m p o e p a ís .

9 Por ext ensão, na prática critica t e mos o que Roger Chartier chama “pe r c ep ç õ e s do

s o c i a l ”'7 Para ele ditas pe r c e p ç õe s não são de forma alguma d i sc ur s o s neutros:' produzem <f—

estratégias e práticas que tendem a l egi ti mar ou a j us t i fi c ar certas e s c ol has ”1' N e s s e sentido, “as lutas de repre sent ações têm tanta importância c o m o as lutas e c o n ô m i c a s para compreender o s m e c a n i s mo s pe l o s quais um grupo i mpõe , ou tenta impor, a sua c o n c e pç ã o do mundo social, os val ores que são os seus, e o seu domí ni o Ocupar-se d o s c o n f li t o s de c l a s s i f i c a ç õ e s ou de d e l i m i t a ç õ e s não é, portanto, afastar-se do social -

c o m o j u l go u durante muito t e mpo uma história de vi st as de ma s i a do curtas muito p e l o

contrário, c o n s i s te em l ocalizar os pont os de afront amento tanto mais d e c i s i v o s quanto me no s i medi at ament e materiais” . Ver CHARTIER, Roger. A h i s t ó r i a cultural. Ent r e

p r á t i c a s e r e p r e s e n t a ç õ e s , p. 17.

10 Ni c o l a u S e v c e nk o , em L i t e r a t u r a conto m i s s ã o , def ende que “os t e x t o s artísticos se tornaram aliás t ermômetros admiráveis dessa mudança de ment al i dade e s e n s i b i l i d a d e ” ( p . 238). Ele i n v e s t i g a c o mo mudam as v i s õ e s de mundo e as r el a ç õ e s c om a natureza de José de Alencar ( O G u a r a n i , 1 857) para Vi ce n t e de Carvalho (A s s i m F a l o u , 1916). N o primeiro c aso o homem surge e nv o l t o pela exuberância da natureza, no segundo, aparece a idéia de cultura, o que implica a transformação daquela. Enquanto o text o de Al e nc ar transpira o mundo senhorial e conser vador da corte de D om Pedro II, o de Vi c e nt e de Carvalho se ambienta no cont e xt o da nova elite posi ti vi st a, republicana, de f az e n d e i r o s de café. Isso o leva a concluir que a literatura brasileira, nascente, já na s c e c o m f ins i d e o l ó g i c o s ( en t en d a - se o nexo entre discurso e poder).

(20)

I m p l i c a e m i d e n t i f i c a r o q u e e s t á em j o g o , o t i p o d e d i s c u r s o q u e se ( i n ) v a l i d a n e s s e p r o c e s s o , e p o r q u e se ( i n ) v a l i d a . C a b e p e s q u i s a r , p o r t a n t o , c o m o M a c h a d o de A s s i s s u r g i u no c e n á r i o da c r í t i c a d e s e u t e m p o e q u a l a s ua c o n t r i b u i ç ã o , e m p r i m e i r o l u g a r , p a r a u m a m u d a n ç a de ó t i c a no p a l c o da a p r e c i a ç ã o l i t e r á r i a e d a l i t e r a t u r a n a c i o n a l e m g e s t a ç ã o e, em s e g u n d o , p a r a a d e l i m i t a ç ã o e c o n s o l i d a ç ã o ( d o q u e e l e c h a m a ) de u m a c r í t i c a f e c u n d a . Em s u m a , o e s t u d o d a s c o n d i ç õ e s e c o n s t r i ç õ e s de p o s s i b i l i d a d e da p r á t i c a c r í t i c a , a n o ç ã o de v a l o r c o m o e s t r a t é g i a d i s c u r s i v a , a r e l a ç ã o e n t r e c r í t i c a e c r i a ç ã o e v a l o r e c u l t u r a , a q u e s t ã o do c â n o n e , e n f i m , a ê n f a s e n o s c h a m a d o s p r o c e s s o s de h i b r i d a ç ã o , p o d e m m u i t o b e m r e v e l a r n o s s a d i s p o s i ç ã o de c a s a r a l i ç ã o m a c h a d i a n a ao c a r á t e r do t e m p o .

(21)

UM C R Í T I C O D O (E N O ) S E G U N D O R E I N A D O I. “. . . a a r t e n ã o s e r á u m a d i s t r a ç ã o , m a s u m a p r o f i s s ã o a l f a , s é r i a , n o b r e ( M a c h a d o de A s s i s , 1 8 6 6 ) . O s p r i m e i r o s e n s a i o s c r í t i c o s de J o a q u i m M a r i a M a c h a d o de A s s i s c o i n c i d e m c o m o f a s t í g i o d o S e g u n d o R e i n a d o , e r a r e i a m c o m a c r i s e do r e g i m e i m p e r i a l qu e se i n s t a l a a p a r t i r de m e a d o s da d é c a d a de 70. O q u e n o s i n t e r e s s a e m t a i s e n s a i o s é a c o n t i g u i d a d e e n t r e o e s f o r ç o de e n g e n d r a ç ã o de um i d e al de a r t e e de c r í t i c a e u m a c e r t a a c e p ç ã o d e c u l t u r a e s t e a d a n u m a n o ç ã o de “ c i v i l i z a ç ã o ” . Se d i t o i d e al se p l a s m a t o m a n d o de e m p r é s t i m o de c a d a c o i s a u m a p a r t e , f o r ç a é d i z e r q u e p r e f e r e às g e n e r a l i d a d e s do d i l e t a n t i s m o l i t e r á r i o a a n á l i s e s i n c e r a e a r e f l e x ã o p a c i e n t e e l o n g a . D a í o e n t e n d i m e n t o d a c r í t i c a c o m o t a r e f a á r d u a , s o b r e t u d o n u m m o m e n t o h i s t ó r i c o m a r c a d o p e l a s r e l a ç õ e s e s c r a v i s t a s de p r o d u ç ã o e p e l a s d e p e n d ê n c i a s e c o n ô m i c o - c u l t u r a i s às m e t r ó p o l e s i n g l e s a e f r a n c e s a , r e s p e c t i v a m e n t e . E m b o r a M a c h a d o f o r m u l e u m a r e s p o s t a c r í t i c a a e s s e e s t a d o de c o i s a s , i n d i r e t a m e n t e n o s l e v a a p e n s a r s o b r e as p o s s i b i l i d a d e s d e u m a

(22)

c r í t i c a f e c u n d a e m t al c o n t e x t o . Se “ h á u m c í r c u l o l i m i t a d o de l e i t o r e s ” 11 e de e s c r i t o r e s c o m o e x e r c e r o i d e a l de i m p a r c i a l i d a d e c r í t i c a - l i b e r t a d o s i n t e r e s s e s d e g r u p o e d a s c o a ç õ e s do m o m e n t o ? S e r á q u e u m a c r í t i c a s i n c e r a , q u e r e f l e t e l o n g a e p a c i e n t e m e n t e s o b r e um d e t e r m i n a d o t e x t o , p o d e r i a p r o s p e r a r n e s s a a m b i ê n c i a ? ^ se o j o r n a l e r a m e i o d e v e i c u l a ç ã o d e s s a s c r í t i c a s , n ã o t e r i a m e s t a s s o f r i d o a l g u m t i p o d e c e r c e a m e n t o o u ( r d i r e c i o n a m e n t o p o l í t i c o ? 7 N e s t e m o m e n t o h i s t ó r i c o - l i t e r á r i o , p a r a n o s s o u s o , e n t r e 185 8 - a n o da p u b l i c a ç ã o d o s p r i m e i r o s e n s a i o s c r í t i c o s e 1 87 9, a n o do l a n ç a m e n t o de “ A N o v a G e r a ç ã o ” - a p a r t i r d o q u a l e n c o n t r a r á n o v o s m e i o s p a r a e x e r c i t a r s e u o l h a r a n a l í t i c o -, t e m o s um c r í t i c o a u m só t e m p o c o m b a t i v o e, m u i t a v e z , t o l e r a n t e . P o i s , se d e s f e r e p i p a r o t e s , n ã o d e s c u r a de i n c e n t i v a r a i n v e n ç ã o - a t r i b u t o s de s u a p r á t i c a c r í t i c a q u e f i c a r a m r e g i s t r a d o s n o s r o d a p é s d o s j o r n a i s da é p o c a . Há os q u e d e f e n d e m q u e , na c r í t i c a l i t e r á r i a m a c h a d i a n a , e m o l d u r a - s e , c o m o d i z M á r i o de A l e n c a r , a f e i ç ã o p r i n c i p a l d e s eu e n g e n h o ; n e s t a , m a i s q u e s u a s m e l h o r e s p á g i n a s , a f i r m a W i l s o n M a r t i n s , a m e l h o r p á g i n a q u e p o s s u í m o s s o b r e o n a c i o n a l i s m o e m l i t e r a t u r a . E h á q u e m d i g a q u e *na p r o d u ç ã o d e s s a e s c r i t u r a ( c h a m a d a m e n o r ) , s e j a n a r— c r ô n i c a , c o m o q u e r S ô n i a B r a y n e r , s e j a n a c r í t i c a l i t e r á r i a , é q u e r e s i d e

” . O b r a Co m p l e t a . M a c h a d o d e A s si s , p . 841. Doravant e todas as c it aç õ e s referentes à produção crítica de Machado de As s i s virão no corpo do texto, entre parê nt ese s e c om a respecti va i ndi c aç ão do número de página. Todas as c i t a ç õ e s que ob e de c e m e ss a s c o n d i ç õ e s foram extraídas de: O b r a C o mp l e ta . M a c h a d o de A s s i s . RJ: N o v a Aguilar, vol . II l , 1994.

(23)

l i t e r á r i a . 12

12 B R A Y N E R , Sônia. " Me t a mo r f os e s m a c h a d i a n a s : o l a b o r a t ó r i o f i c c i o n a l " . In: M a c h a d o

d e As s i s . A n t o l o g i a e e s t u d o s , pp. 4 2 6 - 4 3 6 . Ver também M A RT I N S , Wi l son. "A L i t e r a t u r a e o C o n h e c i m e n t o d a Terra". In: A L i t e r a t u r a no B r a s i l , v . l , t . l , p . 187.

Quanto à referência a Mário de Alencar, ver sua “ Adver tênci a da e di ç ão de 1 9 1 0 ” , In:

(24)

I. 1 A nota p e s so a l do e s c r i t o r “ Há no R i o de J a n e i r o ” , d iz M a c e d o S o a r e s , e m 1 8 60 , “ a l g u m a c o i s a a q u e c h a m a m de c rí t ic a . É o r d i n a r i a m e n t e u m a f u n ç ã o d o j o r n a l i s m o , e p o r t a n t o s e m e s t u d o p o r q u e é f e i t a d a n o i t e p a r a o d i a , e t e m m i s s ã o p o r q u e o j o r n a l i s m o é e s s e n c i a l m e n t e c o m e r c i a l e p o l í t i c o ” . 13 S i t u a ç ã o e s t a q u e t a l v e z t e n h a c o n t r i b u í d o p a r a q u e o j o v e m M a c h a d o f o s s e se d e s e n c a n t a n d o c o m a q u i l o q u e o s e d u z i r a e n t r e 185 8 e 187 9. D u r a n t e e s s e p e r í o d o , M a c h a d o de A s s i s e n t r e g a - s e à p r á t i c a c r í t i c a c o m c e r t a r e g u l a r i d a d e . S o b r e t u d o a p a r t i r de 1 8 60 , q u a n d o p a s s a a e x e r c e r f u n ç õ e s d i v e r s a s n o D i á r i o do R i o de J a n e i r o , e n t ã o “ t r i n c h e i r a d o s l i b e r a i s ” , 14 a c o n v i t e de Q u i n t i n o B o c a i ú v a : M a c h a d o p u n h a o s p é s n o g r a n d e j o r n a l i s m o , s e m d ú v i d a a m a i s a l t a r i b a l t a d o p a í s ( . . . ) N o j o r n a l , q u e n ã o t i n h a s e g r e d o s p a r a e l e , a

M M A C E D O S O A R E S , Ant ôni o Joaquim de. "Da c r i t i c a b r a s i l e i r a ”. In: CO U T I NH O , Afrânio (org ) C a m i n h o s d o p e n s a m e n t o c r i t i c o , p. 264.

14 L e i a - se a crônica de 25 de abril de 1865, publ i cada no Di ári o do Rio, na qual M a c ha do critica a e x c l u s ã o de Joaquim José da Silva Xavier, v u l g o Tiradentes, das c o m e m o r a ç õ e s

públicas: “este e s q u e c i me nt o é um injustiça e uma ingratidão ( vo l . 2 3 , p . 373) .

Tiradentes, c o mo José B o ni f ác i o , esc reve, “apenas queria apressar o r e l ógi o do tempo; queria que o s éc ul o XVIII, data de tantas liberdades, não c aí s s e nos ab i smo s do nada, sem deixar de pé a liberdade brasileira” ( p . 372). Ali ás, se recorre às últimas palavras de Tiradentes: “Morro pela l i berdade ! ” é para sublinhar que estas serão um aç oi t e i ne xorável para os f i l ho s do i mp é r i o ” ( p . 374). Daí sugerir “ao partido liberal, ao partido dos i mp u l s o s g e ne r os o s , se não era uma bela ação, tomar ele a iniciativa de uma reparação s e me l h a n t e ” ( p . 373). Além di sso, rei vi ndi ca uma maneira outra de se revisitar o passado histórico. N ã o se trata de acol her o uf ani s mo d e sm e d i d o , e s t e ado num e l e n c o de sumi dades. Ant e s apela para um resgate que não pa s s e apenas pel os “g a n h o s p o s i t i v o s ” : cumpre “resgatar a memória dos mártires e c o l o c á - l o s no panteón dos herói s” . Ver O b r a s C o m p l e t a s d e M a c h a d o de Assi s, Jackson, v ol . 2 3 , p . 375. Com Ant oni o Cândido (embora ele não faça e ssa relação) se po de dizer que também M a c h a d o se deixa impregnar peia “densa atmosfera então vi ge nt e, de pai xão partidária e i d e o l ó g i c a ” . Ou seja, aqui Ma c h a d o revela traços “l i be rai s” , sobretudo n e s s e i nt er e s s e pela I nconf i dênci a Mineira, co mo si nô n i mo da “herança do espírito a u t onomi s t a” e da “ aversão ao g o v e r n o a b s o l u t o ” ( F o r m a ç ã o d a L i t e r a t u r a B r a s i l e i r a , vo l . 2 , p. 50).

(25)

j u l g a r p e l a s v á r i a s s e ç õ e s q u e m a n t e v e , d e v e t e r s i d o d e s s e s r e d a t o r e s p r o n t o s p a r a t u d o e a q u a l q u e r h o r a . F o s s e o a r t i g o p o l í t i c o , o u a n o t í c i a p o l i c i a l , e m t u d o s e r i a c a p a z d e p ô r a n o t a p e s s o a l d o e s c r i t o r . M a s , d a s v á r i a s f u n ç õ e s e x e r c i d a s n o j o r n a l , n e n h u m a , s a l v o a c r í t i c a l i t e r á r i a , q u e r e p r e s e n t o u ú t i l a p r e n d i z a d o , p a r e c e t ê - l o s e d u z i d o t a n t o q u a n t o a d e r e p r e s e n t a n t e d o j o r n a l n o S e n a d o d o I m p é r i o . E, m a i s a d i a n t e , c o n t i n u a V i a n a F i l h o , “ e r a o p e r á r i o s e g u r o d a s ua a r t e . I n i c i a n d o - s e na c r í t i c a , a c r e d i t a v a - a v a l i o s o i n s t r u m e n t o de a p r i m o r a m e n t o ” . 15 Útil a p r e n d i z a d o , i n s t r u m e n t o d e a p r i m o r a m e n t o , l a b o r a t ó r i o de s ua f i c ç ã o : ^ r a t a - s e de u m a v i s ã o p r o s p e c t i v a , n o s e n t i d o de e n t e n d e r e e x p l i c a r as o b r a s d a m a t u r i d a d e ? ' N e s t a t e s e t e n t o u - s e c o n t o r n a r o p r o s p e c t i v i s m o a f a v o r de u m p o n t o de f u g a q u e p r i v i l e g i a s s e um c r í t i c o q u e t a m b é m foi p o e t a (e e r a c r o n i s t a , c o n t i s t a , r o m a n c i s t a ) , c r u z a n d o e s t a s d i f e r e n t e s i n s t â n c i a s , ou s e j a , i n v e s t i g a r c o m o no a u t o r M a c h a d o de A s s i s , o p o e t a e / o u o r o m a n c i s t a d i a l o g a m c o m o c r í t i c o e v ic e v e r s a . ' ' T o m e - s e o a n o de 1872: a n o da t e s s i t u r a do f a m o s o e n s a i o “ I n s t i n t o de N a c i o n a l i d a d e ” , m a s t a m b é m da p u b l i c a ç ã o d e s e u p r i m e i r o r o m a n c e R e s s u r r e i ç ã o . A q u i , c o m o v e r e m o s , o c r í t i c o e o r o m a n c i s t a se c o m p l e t a m : a m ã o e a l u v a , o c o r p o e o s u p l e m e n t o . L o g o , se R e s s u r r e i ç ã o p r e s s a g i a o e n s a i o “ I n s t i n t o de N a c i o n a l i d a d e ” , d á- se u m a p r o b l e m a t i z a ç ã o da u s u a l r e l a ç ã o d e p o s t e r i d a d e da c r í t i c a e m r e l a ç ã o à o b r a . N ã o se t r a t a , p o r t a n t o , de e n t e n d e r a c r í t i c a c o m o u m a a t i v i d a d e p a r a s i t á r i a do l i t e r á r i o e a e la c o n t r a p o s t a , m a s c o m o a ç ã o q u e m a n t é m 1S V I A N A FILHO, Luís. A v i da d e M a c h a d o de A s s i s , p. 28 e p. 35

(26)

c o m o l i t e r á r i o , o q u e se p o d e c h a m a r de u m a r e l a ç ã o e d í f i t a . A n o s s o v e r , c r í t i c a é u m a a t i v i d a d e i g u a l m e n t e c r i a d o r a , em í n t i m a r e l a ç ã o c o m a l i t e r a t u r a , e c o m o e s t a , t a m b é m t r a d u z a r e p r e s e n t a ç ã o d e u m a c o n c e p ç ã o g e r a l d a e x i s t ê n c i a ? I s s o n o s s e r v e c o m o a r g u m e n t o p a r a q u e s t i o n a r a t e n d ê n c i a de m i n i m i z a r a c r í t i c a , c o n s i d e r a n d o - a t a r e f a q u e r e s t a a o s q u e n ã o p o s s u e m h a b i l i d a d e s de c r i a ç ã o ou i n v e n t i v i d a d e l i t e r á r i a . V a m o s , p o i s , a c o n t r a p e l o da a f i r m a ç ã o de A f r â n i o C o u t i n h o s o b r e a c o n q u i s t a m a c h a d i a n a do m é t o d o , i s to é, de q u e a c r í t i c a c o n s t i t u í a a p e n a s o s e u e m b a s a m e n t o de o n d e e m e r g i a o s e u e s p í r i t o c r i a d o r . 16 M a i s q u e “ a p e n a s o s eu e m b a s a m e n t o ” , p r e f e r i m o s u m a r e l a ç ã o de s o b r e d e t e r m i n a ç ã o e n t r e a c r í t i c a e a c r i a ç ã o n a t e x t u a l i d a d e m a c h a d i a n a . O c a s o m a c h a d i a n o c a l h a à p e r f e i ç ã o p a r a se p e n s a r c o m o a c r í t i c a p e r m i t e u ma f e c u n d a r e f l e x ã o s o b r e s i t u a ç õ e s e i n s t â n c i a s i m a n e n t e s a o p r o c e s s o de p r o d u ç ã o f i c c i o n a l e, p o r e x t e n s ã o , p a r a o e s t u d o d o s p a d r õ e s de g o s t o p r e d o m i n a n t e s ou e m a f i r m a ç ã o . A q u i e n c o n t r a m o s e n s a i o s da c r í t i c a l i t e r á r i a p r o p r i a m e n t e d i t a , c o m e m p r é s t i m o s d a s r e g r a s d a t r a d i ç ã o d o s g ê n e r o s n o r m a t i v o s . M a s se há u m a d i s c u s s ã o c o n v e n c i o n a l i z a d a da p r o d u ç ã o l i t e r á r i a a l h e i a , n ã o é m e n o s c e r t o a f i r m a r q u e , e n t r e t e x t o s e c e n a s , há t a m b é m u m a r e f l e x ã o s o b r e a n a t u r e z a da a r t e e s u a r e l a ç ã o c o m a c u l t u r a e a s o c i e d a d e . Se d e m a r c a um i d e al do c r í t i c o e da c r í t i c a , n ã o d e i x a d e r e f l e t i r s o b r e a 16 CO U T I N H O , Afrânio M a c h a d o de A s s i s na l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a , p. 23

(27)

c o n d i ç ã o da l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a , de a n a l i s a r as t e n d ê n c i a s d e a l é m - m a r e de s u a s r e s s o n â n c i a s no u n i v e r s o l i t e r á r i o l o c a l .

(28)

I. 2 I d e a l do c r í t i c o "E m i s t e r q u e a a n á l i s e c o r r i j a ou a n i m e a i n v e n ç ã o , q u e o s p o n t o s d e d o u t r i n a e d e h i s t ó r i a se i n v e s t i g u e m , q u e a s b e l e z a s se e s t u d e m , q u e o s s e n õ e s s e a p o n t e m , q u e o g o s t o s e a p u r e e e d u q u e , p a r a q u e a l i t e r a t u r a s a i a m a i s f o r t e e v i ç o s a , e se d e s e n v o l v a e c a m i n h e a o s a l t o s d e s t i n o s q u e a e s p e r a m ”. ( M a c h a d o de A s s i s , 1 8 7 3 ) M a c h a d o b u s c o u d e l i n e a r os l i m i a r e s da p r á t i c a c r í t i c a , c u n h a n d o o q u e c o n s i d e r a v a “ O I de a l do C r í t i c o ” . A o d e l i m i t a r os j u í z o s p e l o s q u a i s a v a l i a os t e x t o s , n ã o d i t a d o g m a s , a n t e s i n d i c a u m a m a n e i r a p e l a q ua l os a v a l i a . N e s t e e n s a i o , p u b l i c a d o no D i á r i o do Ri o, em 1 86 5, a c i ê n c i a , a c o n s c i ê n c i a e a u r b a n i d a d e f o r a m c o n s i d e r a d a s c o n d i ç õ e s i n d i s p e n s á v e i s p a r a o e x e r c í c i o da c r í t i c a : e m v e z da o b s c u r i d a d e e p r e c i p i t a ç ã o , a n t e p ô s o e s t u d o , a r e f l e x ã o e a p a c i ê n c i a c r í t i c a ; no l u g a r do p e d a n t i s m o e da p a r c i a l i d a d e , a s i m p l i c i d a d e e a “j u s t a m e d i d a ” ; e m v e z d as c ó p i a s da r e a l i d a d e , a i m a g i n a ç ã o , a p e r f e i ç ã o do e s t i l o , o r e s p e i t o e o d o m í n i o da a r t e ; no l u g a r do s e n s a c i o n a l i s m o e d o e x c e s s o de c o r l o c a l , e l e p r e f e r e o d i s c e r n i m e n t o e o “ s e n t i m e n t o í n t i m o ” . E i s , p o i s , em g r a n d e s l i n h a s , as q u a l i d a d e s e as c o n d i ç õ e s q u e M a c h a d o c o n s i d e r a c o m o o s in e q u a no n da p r á t i c a c r í t i c a .

(29)

A i m a g i n a ç ã o g a n h a r e l e v o c o m o p r e c e i t o da “ b o a a r t e ” , e m d e t r i m e n t o d a s c ó p i a s d a r e a l i d a d e . D i z , e m 1865: “ Se a a r t e f o s s e a r e p r o d u ç ã o e x a t a d a s c o i s a s , d o s h o m e n s e d o s f a t o s , e u p r e f e r i a l e r S u e t ô n i o em c a s a , a ir v e r e m c e n a C o r n e i l l e e S h a k e s p e a r e ” . E o m e s m o se p o d e d i z e r do t r a b a l h o do p o e t a : “ a p o e s i a n ã o t e m o d e v e r de c o p i a r i n t e g r a l m e n t e a h i s t ó r i a s e m c a i r n o p a p e l s e c u n d á r i o e p a s s i v o do c r o n i s t a ” ( p . 8 6 8 ) , e c o m p l e t a : m a s q u a n d o o p o e t a , s e j a t r á g i c o , d r a m á t i c o o u c ô m i c o , v a i e s t u d a r n o p a s s a d o o s m o d e l o s h i s t ó r i c o s , u m a ú n i c a l e i d e v e g u i á - l o , a m e s m a l e i q u e o d e v e g u i a r n o e s t u d o d a n a t u r e z a , e e s s a l e i i m p õ e - l h e ^ d e s e j o d e a l t e r a r , s e g u n d o o s p r e c e i t o s d a b o a a r t e, a r e a l i d a d e da n a t u r e z a e da h i s t ó r i a ' ( p p . 8 6 8 - 8 6 9 ) . Ou a i n d a , de m a n e i r a s e v e r a , “ se a m i s s ã o do r o m a n c i s t a f o s s e c o p i a r os f a t o s , t a i s q u a i s e l e s se d ã o na v i d a , a a r t e e r a u m a c o i s a i n ú t i l ; a m e m ó r i a s u b s t i t u i r i a a i m a g i n a ç ã o ” ( p . 8 44 ). T e n d ê n c i a q u e c e n s u r a t a m b é m n o s r o m a n c e s r e a l i s t a s : “ o r e a l i s m o n ã o c o n h e c e r e l a ç õ e s n e c e s s á r i a s , n e m a c e s s ó r i a s , sua e s t é t i c a é o i n v e n t á r i o ” , ou a i n d a , a q u e n os p a r e c e m a i s e l o q ü e n t e : “ p o r q u e a n o v a p o é t i c a é i s t o e só c h e g a r á à p e r f e i ç ã o no dia e m q u e n o s d i s s e r o n ú m e r o e x a t o d o s f i o s de q u e se c o m p õ e um l e n ç o de c a m b r a i a ” , o q u e c o n s i d e r a a t e s t a d o da n e g a ç ã o m e s m a do p r i n c í p i o da a r t e (pp. 8 6 9 - 9 1 3 ) . A c l a r a e f i n a i r o n i a q u e d a í r e s s u m a n ã o é, e f e t i v a m e n t e , u m a c o n s t a n t e na c r í t i c a l i t e r á r i a m a c h a d i a n a , u m a v e z q u e e l e r e s e r v a e s t e r e c u r s o p a r a a c r ô n i c a q u e , j á no i n í c i o d a d é c a d a de 1860, se i n s i n u a , g a l h o f e i r a , m a s n e m s e m p r e s u ti l.

(30)

A c r í t i c a : f e i ç ã o p r i n c i p a l do s e u e n g e n h o . C o m e f e i t o , M a c h a d o m o b i l i z a t o d a u m a s é r i e de p r o c e d i m e n t o s , t a i s c o m o a a n á l i s e c o m o f o r m a de c o r r i g i r ou i n c e n t i v a r a i n v e n ç ã o ; a i n v e s t i g a ç ã o a c e r c a da h i s t ó r i a o u d o u t r i n a ; a q u e s t ã o d o s u b l i m e , p e l o v i é s da a n á l i s e e c o m p a r a ç ã o ; t u d o i s s o a n i m a d o p e i o f i r m e p r o p ó s i t o de e d u c a r o g o s t o e os c o s t u m e s , de c o n t r i b u i r p a r a a a f i r m a ç ã o da p r á t i c a c r í t i c a e d a a t i v i d a d e l i t e r á r i a , o q u e , n o m í n i m o , s i g n i f i c a v a t o r n a r r e g r a u m a e x c e ç ã o . E m 1 8 6 6, a p r o p ó s i t o de O C u l t o de D e v e r , de J o a q u i m M a n u e l de M a c e d o , e s c r e v e : Q u a l o r e m é d i o p a r a e s t e m a l q u e n o s a s s o b e r b a , e s t e m a l d e q u e s ó p o d e m t r i u n f a r a s v o c a ç õ e s e n é r g i c a s , e a o q u a l t a n t o s t a l e n t o s s u c u m b e m ? O r e m é d i o j á t i v e m o s o c a s i ã o d e i n d i c á - l o e m u m a r t i g o q u e a p a r e c e u n e s t a m e s m a f o l h a : 17 o r e m é d i o é a c r í t i c a . D e s d e q u e , e n t r e o p o e t a e o l e i t o r , a p a r e c e r a r e f l e x ã o m a d u r a da c r í t i c a , e n c a r r e g a d a d e a p r o f u n d a r a s r e f l e x õ e s d o p o e t a p a r a as c o m u n i c a r a o e s p í r i t o d o l e i t o r ; d e s d e q u e u m a c r í t i c a c o n s c i e n c i o s a e a r t i s t a , g u i a r a u m t e m p o , a m u s a n o s e u t r a b a l h o , e o l e i t o r n a s u a e s c o l h a , a o p i n i ã o c o m e ç a r á a f o r m a r - s e e o a m o r d a s l e t r a s v i r á n a t u r a l m e n t e c o m a o p i n i ã o . N e s s e d i a o s c o m e t i m e n t o s i l e g í t i m o s n ã o s e r ã o t ã o f á c e i s ; a s o b r a s m e d í o c r e s n ã o p o d e r ã o r e s i s t i r p o r m u i t o t e m p o ; o p o e t a , e m v e z d e a c o m p a n h a r o g o s t o m a l f o r m a d o , o l h a r á m a i s s e r i a m e n t e p a r a a s u a ar t e ; a a r t e n ã o s e r á u m a d i s t r a ç ã o , m a s u m a p r o f i s s ã o , a l t a , s é r i a , n o b r e , g u i a d a p o r v i v o s e s t í m u l o s ; f i n a l m e n t e , o q u e h o j e é e x c e ç ã o , s e r á a m a n h ã u m a r e g r a g e r a l ( p . 8 4 2 ) . A c r í t i c a m a c h a d i a n a p o d e s e r r e c o n h e c i d a p e l o s a t r i b u t o s d a ^ r e f l e x ã o , da p r o m o ç ã o de n o v o s v a l o r e s , da a d v e r t ê n c i a a m i g a e d o a p l a u s o o p o r t u n o . L o n g e d a q u i “ o ó d i o , a c a m a r a d a g e m e a i n d i f e r e n ç a ” ^

17 Trata-se do ens a i o “O I d e a l d o C r í t i c o ” , publ i cado em 8 de outubro de 1865, no D i á r i o

d o Ri o de J a n e i r o. Es t e t ex t o de 1 865 foi consi der ado “o que terá sido a nossa primeira

co n c e i t ua ç ã o e s pe c í f i c a da crítica literária” . Ver M A R T I N S , Wi l s on. A c r i t i c a l i t e r á r i a n (

(31)

q u e c o n s i d e r a v a as t r ê s c h a g a s d a c r í t i c a do s eu t e m p o . C o m o e s c r e v e e m 1859: A d m i r a - s e d a m i n h a f r a n q u e z a , q u e r i d a L e i t o r a ? P o i s e u n ã o . E s t o u a c o s t u m a d o c o m o s c r í t i c o s d e a l é m - m a r - p e n a s d e f e r r o , q u e n ã o t o r c e m , e s t i l o t r a n c h a n t q u e n ã o o r n a d e r o d e i o s o p e n s a m e n t o , c o m o o s s e l v a g e n s o r n a v a m d e f l o r e s a v í t i m a q u e c o n d u z i a m a o s u p l í c i o . 18 Um c r í t i c a q u e , e m t e s e , n ã o c e d a e s p a ç o à c a m a r a d a g e m d e v e r i p r i m a r p e l a j u s t a m e d i d a . D i t a q u a l i d a d e g a n h a d e s t a q u e n o i d e á r i o c r í t i c o m a c h a d i a n o : P r o t e s t o d e s d e j á u m a s e v e r a i m p a r c i a l i d a d e , i m p a r c i a l i d a d e d e q u e n ã o p r e t e n d o a f a s t a r - m e u m a v í r g u l a ( . . . ) N e m a z o r r a g u e n e m l u v a d e p e l i c a ; m a s a c e n s u r a r a z o á v e l , c l a r a e f r a n c a , f e i t a n a a l t u r a d a a r t e d a c r í t i c a ( p . 8 3 7 ) . M o s t r a - s e c o e r e n t e c o n s i g o q u a n d o b u s c a v a l o r i z a r u m t e x t o , m e s m o p i s a n d o o t e r r e n o das d i f e r e n ç a s de e s c o l a . E m 18 59 , a p r o p ó s i t o da t r a d u ç ã o de O A s n o M o r t o , d e B a r r i è r e , e s c r e v e M a c h a d o em c h a v e a u t o b i o g r á f i c a : p e r t e n c e à e s c o l a r o m â n t i c a e f o i o u s a d o p i s a n d o a c e n a e m q u e t e m r e i n a d o a e s c o l a r e a l i s t a . P e r t e n ç o a e s t a ú l t i m a p o r m a i s s e n s a t a , m a i s n a t u r a l , e d e m a i s i n i c i a t i v a m o r a l i z a d o r a e c i v i l i z a d o r a . C o n t u d o n ã o p o s s o d e i x a r d e r e c o n h e c e r n o d r a m a d e s á b a d o p a s s a d o u m b e l o t r a b a l h o e m r e l a ç ã o à e s c o l a a q u e p e r t e n c e . 19

18 M A C H A D O DE ASSI S. C r i t i c a Teatral. RJ: Jackson, 1955, p . 122 19 Id., 1955, p . 30

(32)

P o r c o n s e g u i n t e , o i d e a l da i m p a r c i a l i d a d e se d e s d o b r a n a i n t e r m i t ê n c i a do “ m e i o - t e r m o ” ,20 n a “j u s t a m e d i d a ” , n o g o s t o p e l a “ s i m e t r i a ” , p e l o “ e q u i l í b r i o ” ou a i n d a p e l a s “ m e i a s t i n t a s ” : e x p r e s s õ e s e s t a s q u e p o v o a m a t e x t u a l i d a d e m a c h a d i a n a . P o d e - s e a c r e s c e n t a r , n u m o u t r o s e n t i d o , um c e r t o “ a c o r d o ” : E s s e a c o r d o d o m o d e r n o c o m o a n t i g o e r a o p e n s a m e n t o d e C h é n i e r , 21 q u e m u i t o s s é c u l o s d e p o i s d e O v í d i o e C a t u l o r e s s u s c i t a v a o i d í l i o e a e l e g i a d a a n t i g ü i d a d e ( p . 8 9 2 ) .

20 Co mo diz numa crônica de 1864: “ Achei um me i o t e r mo ” ( O b r a s C o m p l e t a s d e

M a c h a d o d e A s si s , Jackson, vol. 23, p. 10). O m e s m o ocorre na crônica do dia 21 de

feve rei ro de 1865, a pr opósi t o da po l ê mi c a sobre o quadro Carioca, de Pedro Amé r i co. Para uns, “d et e s t á v e l ! ”, para outros, “ s u b l i m e ! ” . Machado se c o l o c a no entre-meio: “O mei o- t e r mo não é uma p o si ç ã o c ômo d a , mas nós a t o m a m o s afoi tamente, r e c on h e ce nd o na Carioca uma bela prova de um talento g r a c i os o e correto, mas não limpa de al guns d e f ei t os que lhe foram apont ados ” (!d., p. 310). “M e i o - t e r m o ” que também aponta para o senti do de uma n e c e s s i d a de histórica e pol í ti ca - enquanto “ a c or do” , “ c o n v ê n i o ” ; c o m o o ocorrido entre Uruguai e o Brasil, e v i t a n d o - s e o p r o l o n g a me n t o da guerra entre e s s e s países. L e i a- se também: “O c o n v ên i o foi o assunto obri gado dos jornais e das c onver sas, das ruas e das casas, dos teatros e dos c a f é s ” (l d ., v o l . 23, p . 324) . O que nos lembra um mo s a i co , c om po s t o de azul ej os azuis e brancos, no jardim interno ao lado da Igreja São Francisco de As si s, em Salvador, Bahia, no qual se representa um lugar comum da antigüidade clássica: in m e d i o c o n s i s l i t virlus. Val e lembrar que Ari stótel es, em É t i c a a

N i c n m a n o , a s s o c io u a virtude ao meio-termo: “um mestre em qualquer arte e vita o

e x c e s s o e a falta, busc ando o mei o- t ermo e e s c o l h e n d o - o - o mei o - te r mo não no objeto, mas re l at i vame nt e a n ó s ” . Mas a tomada de p os i ção machadi ana t ambém nos sugere uma releitura pascaliana. L e i a- se o pe ns a me nt o n°378: “me rec uso a ficar na ponta de bai xo, não por ser baixa, mas por ser ponta (bout), pois recusaria i gu a l me n t e se me p u s e s s e m na de cima. É sair da humani dade deixar o meio. A grandeza da alma humana c on s i s t e em saber manter-se aí; a grandeza está tão l o ng e de c onsi st i r em sair dessa c o nd i ç ão que, pel o contrário, se encontra no fato de não a abandonar, de mo do al gum” ( P A S C A L , Bl ai se, P e n s a m e n t o s , p. 129)

21 Tal v e z se trate do autor de Lambes, o poeta f rancês André Marie de Chénier ( 1 7 6 2 - 1794) Sobre o text o de Joaquim Manuel de Mace do, l ei a- se . “Um p oe ma épi co, no me i o desta prosa atual em que v i v e m o s , é uma fortuna miracul osa. Pretendem alguns que o poema é pi c o não é do no s s o t empo, e há quem c a v as s e uma vasta sepultura para a epopéi a e para. a tragédia, as duas belas formas da arte antiga. N ã o f a z e m o s parte do cortejo fúnebre de Eurí pedes e Homero. As formas p o é t ic a s pode m se modificar com o tempo, e é essa a natureza das ma ni f es ta ç õ e s da arte; o t e mpo, a rel i gi ão e a í ndol e influem no d e s e n v o l v i m e n t o das f ormas poéticas, mas não as aniquilam c ompl et ament e ; a tragédia francesa não é a tragédia grega, nem a tragédia shakespereana, e todas são a mesma tragédia. E s s e acordo do mode rno com o antigo era o pe ns ament o de Chénier, que mui tos s é cu l o s de po i s de Oví di o e Catulo r es s us ci t ava o idílio e a elegia da ant i güi dade” ( p . 892).

Referências

Documentos relacionados

Na Tabela 3 os valores das amplitudes dos descritores &amp;ea foliar, cnuprinen to do pectolo, largura e atprfliento do foliolo - 3 e o índios alaiétria, deno tàm a ampla

Para a consecução de seus objetivos, a Política Nacional de Educação Especial 1994 propõe várias ações, entre elas: acesso à educação especial/e ou inclusiva através

dominar nossos impulsos. Todos somos capazes de usar os serviços do córtex pré-frontal para dominar nossos impulsos. Quadro 43: Comparação entre texto fonte e resumo

Em relação aos dados anatômicos, pode-se afirmar que as espécies estudadas apresentam várias características que podem conferir adaptação às condições do

Diante da importância em considerar as necessidades e desejos dos clientes no desenvolvimento de produto para o seu sucesso comercial e da carência de métodos práticos

obs.dji.grau.4 : Ação Penal; Crimes Contra a Honra; Funcionário Público; Injúria; Interpretação da Lei; Pena (s); Presidente da República.. Parágrafo único - Se

Ensaio imunoenzimático (ELISA) para avaliação da reatividade dos antígenos recombinantes rBlo t 2.2 e rBlo t 2.5 utilizando soros de pacientes alérgicos ao extrato total

[8] also used mathematical modeling, validated by simulations in a cold model, to calculate circulation rate and mixing time, as well as wall shear stress to predict pref-