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Resistência ou Transformação? Os números da educação feminina nos recenseamentos gerais da população Estado de São Paulo 1940-1970

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Resistência ou Transformação? Os números da educação feminina

nos recenseamentos gerais da população

Estado de São Paulo 1940-1970

*

Ismênia Spínola Silveira Truzzi Tupy

USP/FFLCH

Palavras-Chave: demografia histórica, gênero, educação, mulher.

Nas últimas duas décadas, as inúmeras contribuições da demografia histórica têm propiciado substantivo aprofundamento nos conhecimentos científicos sobre a população brasileira. Sua natureza multidisciplinar permite ao pesquisador realizar a associação de variáveis como tempo e espaço aos dados sobre sexo, idade, raça, situação conjugal, condição social, entre outros, de maneira a distinguir a estrutura, os componentes e a dinâmica populacional. Uma aproximação quantitativa que, sustentada em fontes seriais por excelência, concentra a maioria das pesquisas no período proto-estatístico. E da qual advém a notável produção acadêmica sobre a(s) família(s), o domicílio, a transmissão de fortunas, o sistema escravista, o matrimônio, a mobilidade espacial, dentre tantas outras1.

Se ainda estão em menores números, os trabalhos provenientes da fase estatística, ao mesmo tempo em que dão continuidade aos estudos anteriores, têm trazido à tona alguns questionamentos essenciais à própria demografia. Entre estes se destaca a necessidade de rever, nos recenseamentos gerais da população, os conceitos que permeiam a identificação de suas variáveis essenciais, notadamente as relacionadas à mobilidade sócioeconômica e ao processo ideológico dominante em cada

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado

em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

1 Não se pretende promover aqui um balanço da produção da demografia histórica em nosso país. Para

um necessário aprofundamento ver, dentre outros: SAMARA, Eni de Mesquita. A Produção da ABEP na Área de Demografia numa Perspectiva Histórica no Conjunto da Produção Nacional: Levantamento, Análise e Sugestões. In BERQUÓ, Elza (org.). ABEP. Primeira Década, Avanços, Lacunas e Perspectivas. Belo Horizonte: ABEP, 1988, p. 99-126;e MOTTA, José Flávio. A Demografia Histórica no Brasil. Contribuições à Historiografia. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, 12(1/2): 133/49, jan. /dez. 1995; _____. Contribuições da Demografia Histórica à Demografia Brasileira. In ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, XI, 1998, CAXAMBU (MG), Anais. Belo Horizonte (MG): ABEP, 1998, p. 1333/76.

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levantamento. Independente de maior ou menor problema de ordem operacional, reconhece-se, a priori, que dados sobre cor, religião, instrução, população economicamente ativa e chefia do domicílio apresentam distorções que extrapolam os limites de uma possível dificuldade de compreensão do recenseado2.

Indo mais além, infere-se que, em termos comparativos, são poucas as variáveis que podem ser aferidas em todos os recenseamentos realizados em nosso país. Se dados sobre sexo e idade, principais características demográficas de qualquer população, estão presentes em todos os censos populacionais, quando associados a outras variáveis socioeconômicas, como instrução ou ocupação, por exemplo, necessariamente não obedecem à mesma distribuição por faixas etárias. Outros como cor, fator de indiscutível relevância social, aparecem ou não, e quando o fazem não traduzem um conceito científico preciso. Delega-se aos indivíduos manifestar sua percepção quanto à cor, à instrução, à situação conjugal, à chefia do domicílio, e ao trabalho. Num contexto social onde subsistem persistentes traços patriarcais, bem como preconceitos de gênero, não parece estranho a recenseadores(as) e/ou recenseados(as) os papéis substancialmente reduzidos das mulheres brasileiras.

Atentar para essa problemática implica recuperar informações essenciais nos recenseamentos realizados. E estas passam necessariamente por sexo e idade, as principais características demográficas de qualquer população. A primeira remete direta e exclusivamente à condição biológica diferencial entre o ser homem e ser mulher, independente da época e da formação sociocultural. A segunda, complementar, permite melhor distinguir níveis e tendências da dinâmica populacional. Explicitar, por sua vez, o que é ser homem e ser mulher numa determinada região, num período específico, numa precisa faixa etária ou num singular grupo social exige agregar uma nova dimensão analítica à demografia histórica – a categoria gênero (OJEDA: 1999, 188).

Ressalta-se que, embora diferentes, os conceitos de sexo e gênero não são excludentes. O primeiro remete à condição biológica do ser humano, a uma oposição binária entre macho e fêmea que, evidentemente, não dá conta das possíveis

2 Uma excelente discussão sobre as dificuldades técnicas de operacionalização dos conceitos de

população economicamente ativa, renda, instrução, migrações internas, religião, cor e família, em estudos comparativos dos recenseamentos realizados a partir de 1940, encontra-se em “Censos, Consensos e Contra-Sensos”. In III Seminário Metodológico dos Censos Demográficos. Ouro Preto(MG): ABEP, 1984.

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combinações do sexo biológico. O segundo refere-se à construção sociocultural da diferença entre os sexos, pois cabe à cultura estabelecer às diversidades admissíveis: ser homem ou ser mulher traduz uma forma primária de relação de poder, uma hierarquização de significados. Entre as incontáveis formas de interação humana é possível distinguir os conceitos normativos que afirmam a identidade feminina e a masculina, e que podem ser encontradas, entre outras, nas práticas educativas, religiosas, legais e políticas.

São inúmeros os exemplos de análises que empregam a categoria gênero nos estudos sobre as mulheres. Entre essas se destacam as que a associam com educação, violência, cultura material, saúde reprodutiva, etc., tendo dado origem à constituição de núcleos de estudos de gênero em centros universitários por quase todo o país. Todas enfatizam a interdisciplinaridade e encontram sustentação teórica em reflexões precursoras de Joan Scott3. Poucas, não obstante, a utilizam no tratamento de dados dos recenseamentos gerais da população. Entre estas últimas, destaca-se pesquisa internacional coordenada por Eni Samara, sobre as idéias e os números de gênero na América Latina – Argentina, Brasil e Chile – no Século XIX4.

Sob essa perspectiva, incorporar gênero à demografia histórica enriquece análises diacrônicas que explicitam a iniqüidade entre homens e mulheres sustentada pelo sistema educacional. E, indo mais além, até mesmo nas instituições que tem a ver com as pessoas enquanto membros de uma família, como o Estado e a Igreja. Logo, levantar os números do gênero distinguindo em cada recenseamento a ideologia que fundamenta os objetivos de seus realizadores, bem como a das instituições acima referidas, definindo ao mesmo tempo as normas e as condutas da ação educativa,

3 A significativa repercussão do trabalho de Scott para a historiografia brasileira pode ser constatada,

entre outros, em MATOS, Maria Izilda S. de & SOLER, Maria Angélica (orgs.) Gênero em Debate. Trajetórias e Perspectivas na Historiografia Contemporânea. São Paulo: EDUC, 1997. Para o estudo de suas idéias pioneiras, ver: SCOTT, Joan. Gênero, uma categoria útil de análise histórica. In Mulher e realidade. Mulher e educação. Porto Alegre, 16 (2), jul./dez. 1990.

4 Pesquisa financiada pela Fundação VITAE, tendo como objetivo um estudo de caráter interdisciplinar

para a análise da problemática feminina na América latina, reuniu trabalhos regionais relativos à participação feminina no mercado de trabalho, os limites e as possibilidades dos censos na análise das diversidades regionais da mulher, as transformações sociais e demográficas produzidas pela imigração, entre outros. Seus resultados podem ser aferidos em SAMARA, Eni de Mesquita (org.). As Idéias e os Números de Gênero na América Latina. Argentina, Brasil e Chile no Século XIX. São Paulo: HUCITEC/CEDHAL/FFLCH-USP/VITAE, 1997.

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permitem uma compreensão mais abrangente dos papéis “naturais” masculinos e femininos.

A escolha do censo populacional de 1940 como ponto de partida desse trabalho deve-se a vários fatores. Primeiro, ao seu reconhecimento, pela comunidade acadêmica, de constituir o primeiro inquérito “moderno” e/ou científico da sociedade brasileira5.

Segundo, por destacar-se de seus antecessores dado à ampliação do leque de variáveis observadas e, ainda, de seus sucessores pela aparente maior visibilidade dada à mulher brasileira. E, finalmente, ao ensaio de Fernando de Azevedo – A Cultura Brasileira –, texto que constitui o volume introdutório do referido censo6. A junção desses dois

últimos fatores contribui para proporcionar elementos que expliquem a adoção de um conceito peculiar de população ativa, visto que aqui, a exceção entre todos os recenseamentos, as mulheres que realizavam atividades domésticas não remuneradas no domicílio foram incluídas entre os que exerciam alguma ocupação.

Se a inclusão deste último dado dificulta a sua comparação com os resultados dos censos posteriores, se ela não pode ser atribuída a conhecimentos insuficientes de demografia7 pela Comissão Censitária Nacional, resta ao historiador investigar as razões do por quê os papéis socioeconômicos da mulher brasileira foram aqui definidos de forma diversa. Teriam traduzido mudanças significativas na posição social das mulheres? Demonstrariam um rompimento com a visão tradicional do espaço e dos papéis “naturalmente” reservados à mulher? Ou, por outro lado, reafirmando a ordem

5 A criação, em 1938, do Instituto Nacional de Estatística, transformado uma década depois no Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – deu início à fase moderna de pesquisas censitárias em nosso país, caracterizada pela periodicidade decenal dos censos demográficos.

6 Reeditado em sucessivas edições, esse ensaio solicitado pelos organizadores do V Recenseamento Geral

da População Brasileira, propõe uma síntese interpretativa da cultura nacional. Para seu autor, se país e raça, trabalho, formações urbanas, evolução social e política e, até mesmo, a psicologia do povo brasileiro constituem fatores da cultura; se por esses últimos perpassam as instituições e crenças religiosas, a vida intelectual, as profissões liberais, etc.; seria nos mecanismos de transmissão da cultura – o sistema educacional – que se encontram os fundamentos essenciais para a melhor compreensão do povo brasileiro.

7 A contratação do demógrafo italiano Giogio Mortara, como consultor técnico da Comissão Censitária

Nacional, deu as bases científicas para a execução do V Recenseamento Geral da População, ampliando-se a abrangência dos quesitos de maior interesampliando-se econômico e social. A contribuição deste especialista fez-se fundamental na recuperação fidedigna de informações essenciais sobre as estatísticas vitais brasileiras, a partir da crítica científica dos resultados dos quatro censos anteriores. Desenvolvendo técnicas e métodos originais, sua maior contribuição voltou-se para o estudo da fecundidade e mortalidade (BERQUÓ & BERCOVICH, 1985).

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desigual, restringiriam a realização pessoal e a autonomia das mulheres brasileiras? Analisar os números de gênero para o Estado de São Paulo tem também dois objetivos específicos: dar continuidade temporal a estudos realizados por autores como Reis e Almeida8, entre outros, sobre a educação feminina paulista nas primeiras décadas do século XX e aprofundar, pelo recorte cronológico e temático, minha pesquisa de doutorado sobre as mulheres em busca de identidade social. Entende-se aqui que a consecução dessa identidade passa necessariamente pela saída de casa, representando esta o rompimento de padrões seculares de comportamento feminino pré-determinados pelo Estado e pela Igreja, entre outras instituições da sociedade brasileira. Logo, associar números, objetivos, práticas, currículos e legislação ao discurso ideológico que consubstancia a ação educativa, podem melhor clarificar os limites e os fins da atuação feminina.

O recorte cronológico – 1940/1970 – deriva não apenas da oportunidade de investigar resultados do primeiro censo moderno da população brasileira, mas ainda da oportunidade de aprofundar o estudo da hipótese aventada por Barbara Weinstein9 sobre

o peso do sistema educativo na transformação da trabalhadora paulista não-qualificada

8 Ambas realizam análises voltadas para o trabalho da professora primária, como espaço possível de

profissionalização feminina. A primeira, utilizando dados da Escola Normal Caetano de Campos e da Escola Profissional Feminina Carlos de Campos, recupera o fazer-se feminino em escolas públicas de objetivos diversos. A segunda associa atributos de missão, vocação e continuidade do que era realizado no lar à profissão de professora primária, reafirmando que, no imaginário da sociedade brasileira, exercer essa ocupação, ao mesmo tempo em que garantia maior liberdade e autonomia, melhor preparava a mulher para o exercício de sua função “natural” de mãe e esposa. Ambas concentram suas análises no período imediatamente anterior a 1940. Ver REIS, Maria Cândida Delgado. Tessitura de Destinos. Mulher e Educação. São Paulo: EDUC, 1993; e ALMEIDA, Jane Soares de. Mulher e Educação: A Paixão pelo Possível. São Paulo: UNESP, 1998.

9 Para essa autora, entre 1910 e 1950, a industrialização paulista conheceu um processo de redução das

alternativas de trabalho aceitáveis para as mulheres trabalhadoras até que apenas a tarefa de dona-de-casa permaneceu como meta feminina legitima. Empregadores, líderes sindicais, educadores e assistentes sociais contribuíram diretamente para a marginalização da mulher que trabalhava por salários e para a idealização da mulher que permanecia dentro de casa. Tal prática fica evidente na diferença da trajetória entre a Escola Profissional Masculina e a Feminina. A primeira movendo-se cada vez mais em direção a industria e a segunda freqüentemente evitando qualquer associação com o treinamento industrial. Os instrutores dessa última eram senhoras da melhor sociedade, de elevado caráter e cultura, que traziam para a escola bons hábitos domésticos, comportamento polido aliado à competência técnica, adquirida e praticada como complemento da educação adquirida em cursos de desenho, costura, rendas e bordados, flores e chapéus, e economia doméstica. Para maiores detalhes, ver: WEINSTEIN, Barbara. Unskilled worker, Skille Housewife: Constructing the Working~Classes Woman in São Paulo, Brazil. In FRENCH, John D. & JAMES, Daniel (ed.). The Gendered Worlds of Latin American Women Workers. From Household and Factory to the Union Hall and Ballot Box. Durham and London: Duke University Press, 1997, p. 72/99.

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em dona-de-casa qualificada. Os dados de 1940 podem auxiliar a clarificar o impacto da intermediação entre o Estado autoritário e a sociedade civil sobre os fins últimos da educação, ao mesmo tempo em que auxiliam a determinar o alcance da “Reforma Capanema”, (1942-46), na delimitação precípua da missão feminina – o lar e o casamento. As discussões sobre a implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1961) e sua complementação pela Lei 5.692, de 1971, ao lado da mobilização feminina, dão início ao fim do aparato legal sexista do sistema educativo. Logo, os dados de 1970 podem evidenciar, por exemplo, o alcance das novas perspectivas disponibilizadas à clientela feminina.

Como bem ilustra Fernando de Azevedo, a década imediatamente anterior à realização do censo de 1940, período que dá inicio à era Vargas, foi palco de intensas discussões sobre reforma educativa, entre educadores identificados com princípios da Escola Nova10 e os que defendiam princípios sustentados pela Igreja Católica. Se os primeiros, entre os quais se incluía Anísio Teixeira e o próprio Fernando de Azevedo, defendiam uma educação universal que satisfizesse a imensa variedade das exigências sociais e das necessidades e aptidões individuais, os segundos combatiam com insistência a laicidade do ensino, a co-educação dos sexos e o monopólio da educação pelo Estado.

Sob o argumento de ser a família anterior ao Estado e que aos pais incumbe o dever e assiste o direito natural de educar os filhos, podendo cumprir esse dever nas escolas públicas, nos estabelecimentos particulares ou no interior do lar, os católicos exigiam, ainda, considerar a religião como matéria de ensino nas escolas públicas para alunos cujos pais ou tutores houvessem manifestado explicitamente a sua vontade a esse respeito11. Formada pelo vínculo indissolúvel do casamento, sob a direta intervenção da

10 Segundo Azevedo, “(…) temos de distinguir, ao menos, duas formas de educação nova: uma, inspirada

pelas novas idéias biopsicológicas da criança e nas concepções funcionais da educação e a outra, ligada à evolução dos conhecimentos e das idéias sociais e sugerida por uma concepção mais nítida do papel da escola como instituição social, e uma consciência mais viva da necessidade de articular a escola como o meio e de adaptá-la às condições de uma nova civilização. Aquela de tendências individualistas, tomando como ponto de partida o indivíduo para a organização da escola; esta, de orientação social e às vezes mesmo socialista, partindo da comunidade para a formação do indivíduo; uma, visando antes a dinâmica do ensino, isto é, os processos de aprendizagem e os métodos de trabalho escolar, e a outra, dirigindo-se sobretudo à estrutura da escola para melhor adaptação ao seu meio social”. Ver: AZEVEDO, Fernando. A Cultura Brasileira. Introdução ao Estudo da Cultura no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 671.

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Providência, a família católica consubstancia a iniqüidade de gênero entre o homem – marido, pai, provedor e cabeça do casal – e a mulher – esposa, mãe e reprodutora. Nesse contexto, a educação feminina tem por objetivos melhor prepará-la para o exercício de funções no espaço doméstico; daí a exigência de valorização de seus papéis “naturais” – o caráter obrigatório de disciplinas (economia doméstica, noções de puericultura, etc.) que valorizassem o trabalho da dona-de-casa – e a separação entre os sexos nas salas-de-aula.

A Carta de 1934 reconhecera ser a educação um direito de todos, instituíra a liberdade de ensino em todos os graus, a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário, mas a Constituição de 1937, outorgada pelo regime autoritário, ao inaugurar estreita cooperação entre o Estado e a Igreja Católica e transformar a família em objeto da ação da ordem pública, configura-se um retrocesso. Se, como reafirmava Capanema, a família é base da organização social, se é a mulher que funda e conserva a família, como é também por suas mãos que a família se destrói, ao Estado compete, na educação que lhe ministra, prepará-la para esta grave missão12. Ora, estabelecer normas e

procedimentos, conteúdos e orientação metodológica, garantir ordem, disciplina e rígida hierarquia à ação educativa pressupõe a execução de um inquérito que fornecesse ao Estado um retrato perfeito e detalhado do estágio então atual do sistema educacional. Esse retrato foi obtido com os resultados do Censo de 1940.

Diferindo dos anteriores, o V Recenseamento Geral da População não apenas considera os dados sobre a alfabetização, mas “... investiga a condição de falar ou não

o português, de par com a de usar habitualmente essa língua ou outra, no lar, (...) oferecendo dados bastantes expressivos sobre as condições de assimilação da

população de origem estrangeira fixada no Brasil e seus descendentes diretos”13.

Sensivelmente ampliado, dele constam quesitos que verificaram o estado e perspectivas da instrução do povo brasileiro. “As indagações concernentes à instrução, entretanto,

12 Trecho de discurso proferido por Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde, de 1934 a 1945,

por ocasião do aniversário do Colégio Pedro II. In CAPANEMA, Gustavo. Conferência. Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1937, GV/CPDOC. Cf. REIS, Maria Cândida Delgado. Tessitura de Destinos. Mulher e educação. São Paulo 1910/20/30. São Paulo: EDUC. 1993, p. 88.

13 IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de setembro de 1940). Censo Demográfico. População e

Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. XVI/XVII.

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não se limitaram à verificação pura e simples do analfabetismo da população. Abrangeram, também, para os grupos de idades compreendidos entre 5 e 39 anos, o fato de estar o recenseado recebendo, ou não instrução. Indicaram-se, no primeiro caso, o grau e a espécie da instrução recebida e o local onde a mesma estivesse sendo ministrada; e, para o grupo de 10 anos e mais, a circunstância, quer da interrupção de estudos em determinado grau, quer da conclusão de curso ou habilitação em alguma arte ou ofício”14.

Dentre os quesitos que permitem uma comparação com os dados do Censo de 1970, seus resultados indicam que a população brasileira englobava 41.236.315 pessoas, sendo que, pela primeira vez, para o conjunto da população, as mulheres – com 20.622.277 ou 50,01% do total – eram maioria15. Esse não é o caso do Estado de São

Paulo, onde elas apareciam com 3.509.711 ou 48,88% do total da população paulista – 7.180.316 ou 17,41% do total geral. Elas estavam, porém em maioria nos grupos etários de 5 a 9 anos, 15 a 19 anos, 20 a 29 anos, de 70 anos e mais, e entre os de idade ignorada. Insistir num conteúdo educativo que as encaminhasse para o casamento e a maternidade parece, inclusive, ter tido como objetivo o crescimento demográfico, o aumento da fecundidade e a diminuição das taxas de mortalidade infantil (Tabela 1).

Dados sobre a distribuição da população por sexo e origem indicam que aqui, a exemplo de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, também se fazia manifesta a preocupação do Estado com a noção de Nação brasileira que incorporasse a população imigrante. De fato, contrariando a média nacional (3,23% do total), 12,04% dos paulistas tinham a nacionalidade estrangeira e/ou ignorada, sendo que destes 6,62% eram do sexo masculino e 5,80% do feminino (Tabela 1.1.). A exemplo dos resultados obtidos para o conjunto da população brasileira, os dados da religião indicavam que 92,09% dos paulistas apareciam como católicos. Como apenas 0,62% do total não tinha religião ou não a declaravam parece verossímil afirmar ter sido útil o comprometimento

14 IBGE, opus cit., p. XVII.

15 Para dados gerais sobre o Brasil, discriminados por: população total por sexo, sexo e grupos de idade,

sexo e origem, sexo e situação conjugal, sexo e instrução, pessoas de 5 a 39 anos que estão no processo educativo discriminadas por sexo e grau de instrução, sexo e condição na ocupação, sexo e o ramo da atividade principal exercida e a posição na ocupação, por sexo e as principais atividades econômicas, principais ocupações femininas, ver: TUPY, Ismênia S. Silveira T. Saindo de Casa: A Presença Feminina nos Recenseamentos Gerais da População. Brasil, 1920-1970. In: II Seminário de História Quantitativa e Serial. Belo Horizonte: IPEA/PUC-MG, 2001. (no prelo).

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do Estado com a adoção dos princípios católicos de educação, bem como a futura inclusão do ensino religioso nas salas de aula (Tabela 1.2.)16.

Reconhecendo que a instituição do casamento, na visão do Estado, da Igreja Católica e de setores da sociedade civil como organizações de empregados e empregadores, era o destino “natural” da mulher, tem-se ciência de que associar os números da situação conjugal, por grupos de idade e sexo aos dados da educação enriqueceria os resultados desse trabalho. Tal associação não pode, porém ser realizada (Tabela 1.3.). De fato, esse procedimento melhor poderia clarificar também o significado da criação da Comissão Nacional para a Proteção da Família, em 1939. Esta fora encarregada de elaborar medidas adequadas às seguintes necessidades: facilitar o casamento civil pela gratuidade; reconhecer o casamento religioso; instituir empréstimos familiares para a aquisição da casa própria; proteger a maternidade, a infância e a adolescência; dar tratamento preferencial aos pais de famílias numerosas quanto à garantia do emprego; proporcionar benefícios especiais às famílias numerosas, etc. Medidas que foram aprovados pelo decreto 3.200, de 1941, e que, em função dos altos custos financeiros, acabaram assumindo importância mais simbólica do que real (BESSE, 1999, 77).

Embora os dados relativos à educação, no censo de 1940, tenham permitido a seus organizadores elaborarem tabelas distintas (incluindo informações quanto ao falar ou não corretamente o português, as condições de interrupção dos estudos, a nacionalidade e a cor das pessoas que estavam recebendo instrução, e o local onde a recebiam), nem todos os seus resultados, em face da mudança de critérios do recenseamento de 1970, puderam ser aqui discriminados. Não obstante, parte deles permite afirmar que com 52,08% de alfabetizados, o Estado de São Paulo apresentava média substancialmente superior à brasileira (38,20%). Detalhados por sexo constatavam-se maiores índices de alfabetização masculina (29,82% para São Paulo e

16 Para Camargo, os dados dos censos pouco ensinam sobre a estrutura e a dinâmica da vida religiosa e

ocultam, quase sempre, importantes dimensões da composição religiosa, muito revelam sobre as ideologias e preconceitos dos procedimentos censitários e nos seus resultados. Para esse autor, utilizando a metodologia censitária torna-se impossível distinguir, inclusive, não só os católicos que internalizaram sua fé, dos puramente nominais. Ver CAMARGO, Cândido Procópio Ferreira de. A Categoria “Religião” em Censos Brasileiros.In Censos, consensos e contra-sensos. III Seminário Metodológico dos Censos Demográficos. Ouro Preto: ABEP, 1984, p. 213/220.

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22,11% para o país) do que a feminina (22,25% no primeiro caso e 17,09% para o segundo), e apontavam ainda para uma menor freqüência à escola pela mulher paulista se comparada com o desempenho do sexo masculino (Tabela 2).

A exemplo dos dados para o país, substancial maioria – 77,09% – das pessoas com 10 anos ou mais que possuíam curso completo, no Estado de São Paulo, concentrava-se no grau elementar, onde se observava ligeira vantagem numérica para o sexo masculino. O maior descompasso educacional entre homens e mulheres era encontrado na conclusão de cursos de grau superior. Apresentando percentual ligeiramente maior do que a média brasileira (9,06%), as mulheres paulistas representavam 11,38% do total dos que concluíram uma faculdade, dados que, ainda não refletiam o impacto da criação da Universidade de São Paulo (1934), e eram condizentes com o relutante apoio social ao desejo feminino de aprimoramento científico (Tabela 2.1.).

O alcance da ação educativa para as pessoas acima dos 5 anos fica questionável quando se observa que 84,84% delas estavam fora da escola. Mesmo considerando ausentes por terem concluído algum curso, a precariedade de atendimento ao dispositivo constitucional que transformara a educação elementar em gratuita e obrigatória fica evidenciado quando se constata que, apenas 42,42% dos meninos e meninas entre 7 a 10 anos de idade, em percentuais aproximados, estavam nas salas de aula. A desigualdade de gênero no sistema educativo e/ou o encaminhamento das meninas ao casamento ficam mais bem explicitados quando se comparam os diferentes percentuais de presença entre os sexos numa mesma faixa etária: de 5 a 9 anos as mulheres representam 48,65% do total; 46,06% entre 10 a 14; 40,99% entre 15 a 19; e 29,22% dos 20 aos 29 anos (Tabela 2.2.).

A precariedade dos dados sobre a população paulista de 10 anos e mais que completou algum curso de grau elementar, médio ou superior, segundo a espécie do curso realizado ou diploma obtido, é patente quando se constata que 84,56% do total – 558.392 de 660.315 pessoas – foram incluídos na categoria “ensino elementar, médio ou superior sem especificação". Observa-se uma aparente paridade entre os números de homens (40,56%) e mulheres (38,98%) que concluíram o grau elementar. Entre os primeiros, maior número (0,16%) se concentrou em cursos ligados à indústria ou técnico profissional, enquanto que entre elas 0,52% foram encaminhadas ao

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aprendizado de artes domésticas. Maior percentual de homens (8,91%) do que mulheres (7,06%) terminaram o grau médio. Eles concentraram-se no curso comercial (2,97%), e elas (1,88%) no pedagógico ou magisterial. Apesar da substantiva disparidade entre os números do curso superior é possível determinar que os homens continuavam a encaminhar-se para a advocacia, medicina, odontologia e engenharia, enquanto que as mulheres davam preferência à farmácia, música, odontologia, medicina e pedagogia (Tabela 2.3.1.).

Não obstante ao correlacionar os dados da educação com os do mercado de trabalho, observa-se que a maioria das mulheres empregadas realizava tarefas não especializadas na agricultura em geral (45,11%), seguidas pelas identificadas com o trabalho doméstico remunerado (22,31%), com atividades na indústria têxtil (11,60%) e com as de confecção, conservação e reparação de artigos de uso pessoal (10,48%). Se para as primeiras não se exigia nenhum estudo ou qualificação, no exercício dessas três últimas atividades, reforçava-se no ideário de seus empregadores, o caráter inato ou a aptidão “natural” feminina. Agregando-se as que exigiam qualificação específica – 3,98% no ensino público e particular – reforça-se a idéia de um mercado de trabalho feminino circunscrito às atividades normalmente exercidas no espaço doméstico (Tabela 3.1.).

Esse retrato da situação da educação no Estado de São Paulo permite uma melhor compreensão do impacto sobre as mulheres das medidas tomadas na década que se iniciava. A ação direta de Gustavo Capanema, claramente influenciada pela Igreja Católica, resultou no abandono dos princípios da Escola Nova e referendou as Leis Orgânicas do Ensino (Decreto-Lei 4.244, de 9 de abril de 1942), que forçaram ao recuo alguns dos avanços femininos. O conservadorismo continuou separando os sexos nas escolas e na vida social, sustentando o costume de manter a mulher no lar e o homem a dirigir os destinos da nação. Para tanto determinava, inclusive, o ensino secundário das mulheres em estabelecimentos de exclusiva freqüência feminina. Em casos que isso fosse impossível, dependendo de uma autorização expressa do ministério, em estabelecimentos de freqüência mista, as mulheres seriam educadas em classes exclusivamente femininas.

Indo além, afirmava a orientação metodológica dos programas considerando a natureza da personalidade feminina e sua missão dentro do lar: logo a inclusão na 3ª e 4ª

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série do curso ginasial e em todas as séries dos cursos clássico e científico de disciplinas de economia doméstica e recomendações quanto aos textos destinados às meninas – deveriam exaltar as virtudes da missão de esposa, mãe, filha, irmã, educadora e seu papel no lar, na escola e nas obras de caridade. A mulher estava destinada a existir em função do outro e jamais por si e para si própria (REIS, 1993, 96). À missão de mãe agregava-se à da mestra. O magistério tornou-se definitivamente um trabalho feminino e o Estado regulamentou as horas de trabalho em meio período diurno para que ela também pudesse cuidar de sua casa, de seu marido e de seus filhos. E fez ainda algumas concessões trabalhistas como férias e salários não diferenciados, pois afinal elas também eram eleitoras (ALMEIDA, 1998, 158).

O fim do período autoritário não trouxe mudanças substantivas nesse panorama, pois embora o pós-guerra tenha trazido idéias de democracia e participação, bem como ampliado o acesso à informação, as distinções entre os papéis femininos e masculinos continuaram bem nítidas. A escola, ainda sustentada pelo princípio de separação entre os sexos, persistia em encaminhar sua clientela feminina ao casamento e aos cuidados dos filhos e do marido. Informações sobre a sexualidade humana eram excluídas da sala-de-aula, substituídas por aulas de economia doméstica e puericultura. O aumento da clientela do curso normal – o curso de espera marido – não significava necessariamente uma ampliação de oportunidades de trabalho assalariado para as mulheres. Analisando as revistas femininas na década seguinte, Carla Bassanezi, afirma que os parâmetros morais da manutenção da família legítima prevaleciam sobre qualquer outra forma de relacionamento. Assim palavras como “sexo”, “relações sexuais”, “virgindade” e “educação sexual” eram substituídas por realidade a ser

enfrentada, missão a ser cumprida – a maternidade, necessidades do casamento, obrigações conjugais (BASSANEZI, 1997, 620, grifos da autora).

A década de sessenta vê finalmente concretizada pela Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a primeira “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”, discutida desde trinta anos antes e prevista na Constituição de 1946. Com ela o Estado visava uma educação inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, mantendo, porém, a estrutura anterior proposta por Capanema e, indo mais

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além, excedendo em delegar responsabilidade ao ensino privado17. A flexibilidade do sistema, entendida como a facilidade de circulação horizontal de estudantes entre escolas de finalidades muito diferentes – o propedêutico e o profissional – seria duramente atacada pelos educadores que haviam defendido os princípios da Escola Nova (AZEVEDO, 1964, 695). Em crítica anterior à publicação do texto legal, Anísio Teixeira, por sua vez, chamava a atenção de seu aparente anacronismo, afirmando a impossibilidade de entregar à família a responsabilidade da escola. Para este educador, numa “sociedade democrática, fundada na igualdade e na livre informação, não é

possível a subordinação hierárquica que o sistema de controle das escolas pelas famílias exigiria. Esse sistema, com efeito, imporia o controle confessional, delegando as famílias à sua Igreja o controle da educação” (TEIXEIRA, 1960, 6/7).

O que se verificou, na prática, foi que o Estado continuou com a responsabilidade da escola pública, ao mesmo tempo em que se observou o fortalecimento dos empresários da educação face à sua incorporação nos Conselho Federal e Conselhos Estaduais de Educação e a ampliação da capacidade de atendimento da escola particular. Fazendo frente às transformações socioeconômicas da década de 1960, entre elas, a introdução da pílula de controle da natalidade e seu impacto no crescimento demográfico, o Presidente da República, novamente autoritária, decretou e sancionou uma nova lei – a nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 – que fixava as diretrizes e bases para o ensino do 1º e 2º graus. Esta teria por objetivo ‘proporcionar

ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades,

qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania”18. De

conteúdo nitidamente profissionalizante, essa legislação enfatizaria a necessidade da

17 No Título I – Dos Fins da Educação, ao longo do Artigo 1º, a expressão “pessoa humana” substitui

algumas vezes o uso do genérico “homem”. Não obstante, ao final, quando se condena qualquer tratamento desigual por motivos de convicção filosófica, política ou religiosa, bem como quaisquer preconceitos de classe ou de raça, ignora-se a variável sexo. De fato, dessa legislação não emanou nenhuma diretriz que evitasse às mulheres cumprir seu destino ou missão natural. Para o texto completo, acessar o site – http://wwwt.senado.gov.br/servlets/NJUR.

18 Artigo 1º, do Capítulo I – Do Ensino de 1º e 2º Graus. O ensino primário correspondia ao ensino de 1º

Grau e o ensino médio ao de 2º grau. Tornava obrigatória a inclusão, no currículo, de matérias como Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde. E facultativa o ensino religioso. Completo, seu texto legal pode ser acessado no site – http://wwwt.senado.gov.br/servlets/NJUR.

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orientação e informação profissional nos vários níveis do sistema educativo, incluindo até mesmo a clientela dos cursos de alfabetização de adultos, oferecendo, porém poucas alternativas sobre as possibilidades femininas de ingresso no mercado de trabalho assalariado.

Os dados do censo de 1970 auxiliam a clarificar os limites desse processo de mudanças substantivas. A população paulista crescera uma vez e meia – de 7.180.316 para 17.771.948 – sendo, porém que, contrariando a média nacional, aqui os homens continuavam a constituir a maioria da população. A divulgação de informações fidedignas quanto à concepção, à gravidez e ao parto pode ser questionada ao se constatar que, apenas nas faixas etárias finais, fora do período reprodutivo, isto é, dos 60 anos em diante, as mulheres superam numericamente os homens. Se comparados à situação de 1940, esses dados sugerem um retrocesso, a pouca disponibilidade de informações essenciais sobre o controle do próprio corpo (Tabela 1).

Por sua vez, por nacionalidade, apenas 3,54% do total da população foram identificados como estrangeiros, dando conta do fim da corrente imigratória (Tabela 1.1.). Observa-se ligeiro decréscimo no número dos que se declararam católicos e aumento expressivo (aproximadamente dois homens para cada mulher), entre os que assumem não terem uma religião (Tabela 1.2.). Como os dados não permitem estabelecer uma necessária correlação entre sexo, faixa etária, nível educacional e estado conjugal, pode-se afirmar, apenas, que os números da situação conjugal eram compatíveis com um mercado de casamento mais restrito para as mulheres paulistas. Agora, diferente de 1940, elas apareciam em menor número como casadas e em maior número como separadas, desquitadas ou divorciadas, bem como viúvas (Tabela 1.3).

Não obstante, são notórios os avanços dos números da instrução. Muito acima da média nacional (60,34%), a alfabetização aumentara para ambos os sexos e chegava a incorporar 77,54% dos paulistas. Se, em 1940, a maioria das mulheres eram analfabetas, agora 74,18% delas tinham o domínio da leitura e escrita (Tabela 2). Um outro avanço significativo no setor refere à expansão da capacidade de atendimento da rede escolar. Se a população aumentara aproximadamente uma vez e meia, os números dos que concluíram o grau elementar – homens e mulheres – quase decuplicaram; os que terminaram o grau médio, embora ainda representem cerca de um terço do contingente anterior, chegam a ultrapassar em mais de treze vezes o total absoluto encontrado trinta

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anos antes. Notável ainda, principalmente para as mulheres, se fazia os resultados do grau superior. Se antes elas eram um em cada dez formados, agora chegavam a representar um quarto deste segmento (Tabela 2.1.).

Discriminadas por sexo e situação de presença no processo educativo, observa-se que, como já referido acima, a extraordinária expansão da rede escolar: ela mais que duplica em termos percentuais no período de referência. A educação elementar atendia agora a 84,61% do total da população na faixa etária de 7 a 10 anos – o período equivalente ao antigo primário. Dos 11 aos 14 anos – correspondendo ao antigo ginásio – esse atendimento chegava a 77,08% das crianças e adolescentes. Se o sistema educativo não implementou medidas eficazes que eliminassem a iniqüidade de gênero, como sugerem o confronto com a legislação, as transformações socioeconômicas e o acesso à informação começam a se fazer sentir nas mudanças de perspectivas de realização feminina. Diferente do período anterior constatava-se aumento percentual expressivo, notadamente nas faixas etárias de 15 a 19 anos e de 20 a 29 anos, da presença feminina nas salas de aula. Nesse último caso observa-se que elas eram 39,81% dos estudantes, o que permite aventar a hipótese de que o casamento, como fim último de sua existência e expressando uma relação de subordinação ao provedor masculino, começa a ser contestado (Tabela 2.2.).

Os dados sobre a população paulista de 10 anos e mais que completou algum curso de grau elementar, médio ou superior, segundo a espécie de curso realizado ou diploma obtido configuram impressionante exatidão quando se constata que entre 6.627.107 pessoas arroladas nessa categoria apenas 79 (0%) delas o foram sob o quesito de “ensino de outras modalidades, mal definido ou não especificado”. Por outro lado, 91,08% do total desse segmento populacional foram discriminadas em “categoria geral”, isto é, distribuídas entre o curso primário (75,80%), curso ginasial (11,31%), e curso colegial (3,96%), o que evidentemente pressupõe a necessidade de complementar os estudos, visto que tais cursos sempre tiveram um caráter propedêutico. Entre esses, o desequilíbrio entre os sexos manifestava-se mais claramente na conclusão do curso colegial, onde se pode encontrar a presença de dois homens para cada mulher.

Além disso, a análise de 8,92% do total acima referido, representando 591.229 pessoas que concluíram o então denominado “ensino cultural ou profissional” permite uma mais clara compreensão entre a correlação de gênero e a opção profissional na

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estrutura de ensino no Estado de São Paulo. A concentração em cursos de grau médio (incluindo o primeiro e o segundo ciclo), onde foram alocadas 412.634 pessoas, em sua expressiva maioria – 254.772 (61,74%) – mulheres, indicava que as oportunidades de estudo dessas últimas ainda eram associadas ao seu papel “natural” de mãe e esposa. O curso normal – gratuito na maioria das escolas onde era oferecido – fora concluído por 207.014 mulheres e 26.688 homens, o que não só reafirmava a feminização da profissão de professora primária, bem como estabelecia alguns parâmetros/expectativas sócio-familiares da educação feminina.

A conclusão do curso comercial – 148.487 pessoas – continuava a atrair bem mais aos rapazes (107.367) do que as moças (40.480), mas considerando que esse, ao contrário do normal, era um curso, em sua maioria, pago e oferecido em escolas particulares, pode-se inferir sensíveis transformações não só nas expectativas acima referidas, bem como no próprio mercado de trabalho. Fazer carreira no comércio, em escritórios de contabilidade, em bancos e na burocracia, entre outras ocupações, aparecia agora como oportunidade profissional para mulheres mais bem qualificadas. Nesse sentido, uma maior defasagem era encontrada na área industrial onde a desigualdade de gênero se fazia mais presente entre industriais e industriários, e eram poucos os cursos de qualificação profissional, além dos relacionados ao setor têxtil, que eram oferecidos às mulheres.

Entre os que concluíram o curso superior se fazia bem ampliada a presença feminina que, não obstante, no total, correspondia a apenas uma mulher para cada três homens. Ignorando as que foram incluídas na categoria “outros”, observa-se que elas continuavam a privilegiar o trabalho na área de educação, pois eram duas para cada homem entre os que possuíam o título de bacharelado e didática. Mesmo perseguindo carreiras tradicionalmente masculinas como a advocacia, suas escolhas profissionais estavam voltadas, prioritariamente, para os cuidados da saúde, onde se encaminhavam para a enfermagem, a medicina, a farmácia e bioquímica, e a odontologia. E, finalmente, completando o círculo da dedicação ao outro, optavam pelo serviço social (Tabela 2.3.2.).

Embora apenas 1.550.223 mulheres ou 23,30% delas tenham sido consideradas como economicamente ativas pelos dados do Censo de 1970, acompanhar sua distribuição pelas principais ocupações que então exerciam oferece alguns subsídios

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para avaliar algumas das mudanças ocorridas no mercado de trabalho. Decorrência de sub-avaliação das próprias mulheres e/ou de transformações na estrutura fundiária paulista, somente 10,64% delas declararam-se trabalhadoras agrícolas. Em primeiro lugar – 45,99% do total – encontravam-se as empregadas domésticas, mulheres que tinham baixo nível de escolaridade e não recebiam nenhuma garantia trabalhista. À semelhança dos dados de 1940, elas continuavam a se distribuir no trabalho realizado no ensino público e privado, na indústria têxtil e demais atividades efetuadas com o tecido – comércio e reparação de roupas, por exemplo. Pode-se reputar à maior qualificação feminina, a sua significativa presença no sistema bancário (Tabela 3.2.).

Entre 1940 e 1970, observaram-se mudanças na sociedade brasileira e, em particular, em setores da(s) família(s) que a constituía(m) que afetaram diretamente quaisquer iniciativas de mobilização feminina. A redemocratização do país no pós-guerra encontrara definidos uma estrutura educacional e trabalhista que, interagindo entre si, pré-determinara o esvaziamento das reivindicações das mulheres trabalhadoras. Sua subordinação ao ideal de mãe, esposa e dona-de-casa manifestara-se até mesmo, antes disso, na própria Consolidação das Leis Trabalhistas19, de 1941, onde a preservação de sua função reprodutora fora garantida pela adoção de medidas quanto à estabilidade no emprego durante a gravidez, o direito à licença-maternidade e ao aleitamento de sua criança, etc.

Atuando, como força de resistência, o Estado aliara-se não apenas à Igreja Católica, mas ao empresariado industrial que, partindo de iniciativa de seus membros paulistas, fundara o SENAI, em 1942, pretendendo a racionalização científica do mundo do trabalho. Neste contexto ao exército feminino de mão-de-obra fora reservado alguns anos de trabalho em funções não-qualificadas até que o casamento reconduzisse as mulheres ao ambiente doméstico ao qual estariam “naturalmente” destinadas. De fato, observava-se no programa de aprendizado profissional do SENAI uma ênfase em cursos de metalurgia, marcenaria e eletricidade, preparadores de mão-de-obra masculina para a indústria que se expandia. Cursos que atendessem à indústria têxtil, onde se concentrava a presença feminina, atendiam prioritariamente a necessidade de formação de

19 Instituída pela Lei 5.452/1943, aborda no seu Título III – Das Normas Especiais da Tutela do Trabalho,

Capítulo III – Da Proteção ao Trabalho da Mulher, Seção V – Da Proteção à Maternidade, em seus artigos 391 a 401, os direitos da mulher trabalhadora e as obrigações de seu empregador. Para maiores detalhes, ver http://www.direitovirtual.com/legis/clt/cit391a401.htm.

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supervisores, cabendo aos homens essa função20.

O discurso do Estado, da Igreja Católica e do empresariado, mesmo reconhecendo a necessidade do trabalho feminino fora de casa, continuava a idealizar o papel das mulheres que se dedicavam ao cumprimento de seu dever “natural” – o de ser mãe, esposa e dona-de-casa. E para tanto enfatizavam a necessidade de educação específica, em classes com total separação de sexos, onde se aprimoravam o interesse, a aptidão, o temperamento e o caráter das mulheres, qualificando-as para o exercício de seu dever perante o marido e os filhos. As aulas de puericultura e de economia doméstica complementam os cursos de corte e costura, bordados e flores, chapéus e rendas, oferecidos nas escolas profissionais femininas. Aulas que também eram a elas destinadas no curso propedêutico regular, e que, associando a função de mãe à da mestra, tinham maior relevo no curso normal.

Por outro lado, recuperar o papel feminino no discurso do Estado, da Igreja e do empresariado deixa de lado a fala das mulheres. Poucos são os estudos históricos que abordam a mobilização feminina na segunda metade do século XX. A revolução sexual internacional provocada, na década de 1960, pela introdução da pílula de controle da natalidade, liberou também aqui, as mulheres mais bem informadas do ônus da gravidez indesejada, postergando a idade do matrimônio e o nascimento do primeiro filho. Mais bem qualificadas, elas buscaram alternativas de realização pessoal fora de casa, graças ao alargamento das oportunidades de emprego para as mulheres, a mecanização e a comercialização das tarefas domésticas e ao próprio encolhimento do tamanho de sua família.

Mas como o comprovam os dados sobre as principais ocupações femininas, a liberação dessas mulheres mais bem educadas se fez às custas do trabalho de outras mulheres no interior do domicílio. Realizando tarefas que aparentemente não demandam treinamento específico ou qualificação, pouco estudadas, sob a supervisão de outras mulheres, recebendo baixos salários e não tendo, até os dias de hoje, todos seus direitos trabalhistas reconhecidos, as empregadas domésticas persistem,

20 Para aprofundar, sob a perspectiva de gênero, a discussão sobre o papel do empresariado na formação

da classe trabalhadora, ver, dentre outros: WEINSTEIN, Barbara. (Re)formação da Classe Trabalhadora no Brasil (1920-1964). São Paulo: Cortez: CDAPH-IFAN-Universidade São Francisco, 2000; WOLF, Joel. Working Women, Working Men. São Paulo and the Rise of Brazil’s Industrial Working Class. 1900-1955. Durham and London: Duke University Press, 1993.

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desmobilizadas, no desempenho da ocupação-símbolo da iniqüidade de gênero.

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Anexo 1 – Tabelas 1. População Total por Grupos de Idade segundo o Sexo. Estado de São Paulo. 1940-1970.

nº % nº % nº % nº % nº % nº % TOTAL GERAL 7.180.316 100,00% 3.670.605 51,12% 3.509.711 48,88% 17.771.948 100,00% 8.931.360 50,26% 8.840.588 49,74% de 0 a 4 anos 951.107 13,25% 527.090 7,34% 424.017 5,91% 2.174.360 12,23% 1.101.684 6,20% 1.072.676 6,04% de 5 a 9 anos 1.042.033 14,51% 482.819 6,72% 559.214 7,79% 2.262.887 12,73% 1.146.229 6,45% 1.116.658 6,28% de 10 a 14 anos 909.977 12,67% 458.388 6,38% 451.589 6,29% 2.079.780 11,70% 1.046.436 5,89% 1.033.344 5,81% de 15 a 19 anos 774.960 10,79% 382.890 5,33% 392.070 5,46% 1.869.400 10,52% 921.658 5,19% 947.742 5,33% de 20 a 29 anos 1.288.574 17,95% 652.433 9,09% 636.141 8,86% 3.055.138 17,19% 1.536.139 8,64% 1.518.999 8,55% de 30 a 39 anos 925.785 12,89% 485.493 6,76% 440.292 6,13% 2.350.185 13,22% 1.187.542 6,68% 1.162.643 6,54% de 40 a 49 anos 628.265 8,75% 339.151 4,72% 289.114 4,03% 1.784.055 10,04% 908.219 5,11% 875.836 4,93% de 50 a 59 anos 356.666 4,97% 190.068 2,65% 166.598 2,32% 1.126.269 6,34% 563.743 3,17% 562.526 3,17% de 60 a 69 anos 195.436 2,72% 100.534 1,40% 94.902 1,32% 668.377 3,76% 330.767 1,86% 337.610 1,90% de 70 anos e mais 100.659 1,40% 48.544 0,68% 52.115 0,73% 361.228 2,03% 168.136 0,95% 193.092 1,09% Idade ignorada 6.854 0,10% 3.195 0,04% 3.659 0,05% 40.269 0,23% 20.807 0,12% 19.462 0,11% Total Homens

População Total segundo o Sexo. Estado de São Paulo.

Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 4;VIII Recenseamento Geral. Censo Demográfico - São Paulo. Série Regional, V. I, Tomo XVIII. Rio de Janeiro: Fundação IBGE - Diretoria Técnica, 1972, p. 2.

1940 1970

Total Homens Mulheres Mulheres

Grupos de Idade

Tabela 1.1. População Total por Sexo e Origem. Estado de São Paulo. 1940/1970.

% % % % % % Total Geral 6.138.283 100,00% 3.143.515 51,21% 2.994.768 48,79% 17.771.948 100,00% 8.931.360 50,26% 8.840.588 49,74% brasileira 5.323.843 86,73% 2.701.757 44,01% 2.622.086 42,72% 17.068.422 96,04% 8.557.602 48,15% 8.510.820 47,89% naturalizados 52.111 0,85% 35.289 0,57% 16.822 0,27% 74.447 0,42% 45.348 0,26% 29.099 0,16% estrangeira 759.671 12,38% 405.014 6,60% 354.657 5,78% 629.079 3,54% 328.410 1,85% 300.669 1,69% ignorada1 2.658 0,04% 1.455 0,02% 1.203 0,02% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% Notas:

1 Dados não aferidos no censo de 1970 Total

População Total por Sexo. Estado de São Paulo.

Fontes: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de Setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1946, p. 12; IBGE. VIII Recenseamento Geral do Brasil (1º de Setembro de 1970). Censo Demográfico . São Paulo. Série Regional, Vol. I, Tomo XVIII, 1ª Parte. Rio de Janeiro: IBGE, 1972, p. 15. 1970 Homens Mulheres Nacionalidade 1940 Total Homens Mulheres

1.2. População Total segundo o Sexo e a Religião. Estado de São Paulo. 1940-1970

% % % % % % TOTAL GERAL 7.180.316 100,00% 3.670.605 51,12% 3.509.711 48,88% 17.770.975 100,00% 8.929.302 50,25% 8.841.673 49,75% Católicos Romanos 6.612.429 92,09% 3.372.509 46,97% 3.239.920 45,12% 15.886.456 89,40% 7.986.999 44,94% 7.899.457 44,45% Evangélicos 175.934 2,45% 88.807 1,24% 87.127 1,21% 1.013.498 5,70% 488.143 2,75% 525.355 2,96% Espíritas 155.037 2,16% 78.885 1,10% 76.152 1,06% 289.926 1,63% 139.855 0,79% 150.071 0,84% Outras1 192.641 2,68% 103.700 1,44% 88.941 1,24% 417.929 2,35% 208.986 1,18% 208.943 1,18% Sem Religião 17.221 0,24% 10.529 0,15% 6.692 0,09% 161.839 0,91% 104.588 0,59% 57.251 0,32% Sem Declaração 27.054 0,38% 16.175 0,23% 10.879 0,15% 1.327 0,01% 731 0,00% 596 0,00% Notas: População Total Religião

Total Homens Mulheres 1940

Total Homens

Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de Setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 6; IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de Setembro de 1970). Censo Demográfico. São Paulo. Série Regional, Volume I, Tomo XVIII. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1972, p. 10/1.

Mulheres 1970

(23)

1.3. População Total por Sexo, segundo a Situação Conjugal. Estado de São Paulo. 1940-1970. % % % % Total Geral 7.180.316 3.670.605 51,12% 3.509.711 48,88% 11.254.767 5.636.557 50,08% 5.618.210 49,92% solteiros 4.394.682 2.348.883 32,71% 2.045.799 28,49% 3.941.308 2.193.684 19,49% 1.747.624 15,53% casados1 2.476.046 1.233.704 17,18% 1.242.342 17,30% 6.412.286 3.213.768 28,55% 3.198.518 28,42%

separados, desquitados e divorciados1

13.853 5.554 0,08% 8.299 0,12% 269.315 96.274 0,86% 173.041 1,54%

viúvos1 287.874 78.657 1,10% 209.217 2,91% 612.408 121.108 1,08% 491.300 4,37%

não declarada 7.861 3.807 0,05% 4.054 0,06% 19.450 11.723 0,10% 7.727 0,07%

Notas:

2. Totais para 1970 referem -se a população de 15 anos e m ais

M ulher

1. Para 1940, de 15 anos e m ais: casados, 1.233.628 hom ens e 1.241.770 m ulheres; separados, desquitados e divorciados, 5.550 hom ens e 8.298 m ulheres; viúvos, 78.655 hom ens e 209.206 m ulheres

Hom em1970

Fonte: IBGE. Recenseam ento Geral do Brasil (1º de setem bro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tom o 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 6; IBGE. Recenseam ento Geral do Brasil (1º de setem bro de 1970). Censo Demográfico. População. São Paulo. Série Regional, Volum e I, Tom o XVIII, 1ª Parte. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1972, p. 12/4.

População Total por Sexo. Estado de São Paulo. Situação Conjugal

Total Hom em 1940

M ulher

Total2

2. População de 5 Anos e Mais, por Sexo, segundo a Instrução. Estado de São Paulo. 1940-1970.

% % % % % % Total Geral 6.138.283 100,00% 3.143.515 51,21% 2.994.768 48,79% 15.597.588 100,00% 7.829.676 50,20% 7.767.912 49,80% Alfabetizados 3.196.556 52,08% 1.830.684 29,82% 1.365.872 22,25% 12.093.640 77,54% 6.331.017 40,59% 5.762.623 36,95% Analfabetos 2.857.761 46,56% 1.269.548 20,68% 1.588.213 25,87% 3.344.749 21,44% 1.418.072 9,09% 1.926.677 12,35% Não declararam 83.966 1,37% 43.283 0,71% 40.683 0,66% 159.199 1,02% 80.587 0,52% 78.612 0,50% Mulheres População 5 anos e mais segundo a instrução. Estado de São Paulo.

1940 1970

Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de Setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação.São Paulo. Série Regional, Parte XVII , Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 16; IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de setembro de 1970). Censo Demográfico. População. São Paulo. Série Regional, Vol. I, Tomo XVIII,1ª Parte. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1972, p.22/3.

Instrução

Homens Mulheres

Total Total Homens

2.1. Pessoas de 10 anos e mais que possuem Curso Completo, por Sexo e segundo o Grau de Instrução. Estado de São Paulo.1940-1970.

% % % % % %

TOTAL GERAL 681.372 100,00% 360.112 52,85% 321.260 47,15% 6.627.107 100,00% 360.112 5,43% 321.260 4,85%

Grau Elementar 525.261 77,09% 267.849 39,31% 257.412 37,78% 5.026.059 75,84% 2.581.131 38,95% 2.444.928 36,89%

Grau Médio 105.471 15,48% 58.837 8,64% 46.634 6,84% 1.424.871 21,50% 722.960 10,91% 701.911 10,59%

Grau Superior 29.583 4,34% 26.216 3,85% 3.367 0,49% 176.098 2,66% 132.089 1,99% 44.009 0,66%

Grau Não Declarado 21.057 3,09% 7.210 1,06% 13.847 2,03% 79 0,00% 48 0,00% 31 0,00%

Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 18; IBGE.Recenseamento Geral. Censo Demográfico. São Paulo. Série Regional, V. I, Tomo XVIII. Rio de Janeiro:Serviço Gráfico do IBGE, 1972, p. 38 e 39.

Total Homens Mulheres Pessoas de 10 anos e mais com Curso Completo. Estado de São Paulo.

1940 1970

(24)

% % % % % % TOTAL GERAL 4.850.403 731.832 15,09% 398.329 8,21% 398.329 8,21% 10.749.096 4.170.982 38,80% 2.202.841 20,49% 1.968.141 18,31% 5 anos 197.697 5.690 0,12% 2.794 0,06% 2.794 0,06% 471.816 20.505 0,19% 10.468 0,10% 10.037 0,09% 6 anos 191.527 16.028 0,33% 7.901 0,16% 7.901 0,16% 459.394 86.113 0,80% 43.412 0,40% 42.701 0,40% 7 anos 193.476 48.755 1,01% 24.839 0,51% 24.839 0,51% 462.824 312.997 2,91% 157.397 1,46% 155.600 1,45% 8 anos 190.689 78.974 1,63% 40.879 0,84% 40.879 0,84% 439.209 383.550 3,57% 195.452 1,82% 188.098 1,75% 9 anos 177.718 91.841 1,89% 47.492 0,98% 47.492 0,98% 429.586 394.201 3,67% 198.876 1,85% 195.325 1,82% Subtotal 951.107 241.288 4,97% 123.905 2,55% 123.905 2,55% 2.262.829 1.197.366 11,14% 605.605 5,63% 591.761 5,51% 10 anos 200.148 103.720 2,14% 53.810 1,11% 53.810 1,11% 441.958 409.813 3,81% 207.959 1,93% 201.854 1,88% 11 anos 177.146 91.334 1,88% 47.677 0,98% 47.677 0,98% 415.855 375.690 3,50% 192.466 1,79% 183.224 1,70% 12 anos 190.746 80.812 1,67% 43.677 0,90% 43.677 0,90% 423.174 348.399 3,24% 182.947 1,70% 165.452 1,54% 13 anos 171.667 57.858 1,19% 33.051 0,68% 33.051 0,68% 401.989 291.634 2,71% 155.302 1,44% 136.332 1,27% 14 anos 170.270 38.565 0,80% 22.597 0,47% 22.597 0,47% 396.804 246.748 2,30% 131.580 1,22% 115.168 1,07% Subtotal 909.977 372.289 7,68% 200.812 4,14% 200.812 4,14% 2.079.780 1.672.284 15,56% 870.254 8,10% 802.030 7,46% 15 a 19 anos 774.960 84.076 1,73% 49.615 1,02% 49.615 1,02% 1.869.400 777.392 7,23% 414.113 3,85% 363.279 3,38% 20 a 29 anos 1.288.574 29.332 0,60% 20.760 0,43% 20.760 0,43% 3.055.138 419.471 3,90% 252.464 2,35% 167.007 1,55% 30 anos e mais 925.785 4.847 0,10% 3.237 0,07% 3.237 0,07% 1.481.949 104.469 0,97% 60.405 0,56% 44.064 0,41%

2.2. População de 5 a 29 anos, discriminadas por Sexo e Situação de Presença no Processo Educativo. Estado de São

Idade Total

Homens Mulheres

Fonte: IBGE. Recenseamento Geral do Brasil (1º de setembro de 1940). Censo Demográfico. População e Habitação. São Paulo. Série Regional, Parte XVII, Tomo 1. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950, p. 18; IBGE. Recenseamento Geral. Censo Demográfico. População. São Paulo. Série Regional, V. I, Tomo XVIII. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1972, p. 38 e 39.

1970 População Presente no Processo Educativo discriminada por Sexo. Estado de São Paulo.

Homens Mulheres Total Geral 1940 Total Total Geral

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