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Arte-Tecnologia: do dispositivo ao hibridismo pós-moderno

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Academic year: 2020

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ARTE-TECNOLOGIA: DO DISPOSITIVO AO HIBRIDISMO PÓS-MODERNO

Cláudio Aleixo Rocha

Resumo: o pós-modernismo tem como característica a transformação de objetos em mercadorias. Esse funcionamento mercadológico contribui para o surgimento de pessoas apegadas ao desejo de adquirir produtos criados ape-nas para satisfazer as necessidades da produção industrial. Dentro desse esque-ma as mídias contribuem para a modificação dos costumes contemporâneos. Macluhan, Vilém Flusser e Arlindo Machado discutem esse tema de forma artística e crítica, inserindo o artista nessa realidade como um indivíduo que prevê as mudanças causadas pelas novas tecnologias à sociedade.

Palavra-chave: Pós-modernidade, hibridismo, arte-tecnologia PÓS-MODERNIDADE NOVAS TECNOLOGIAS

C

om o estabelecimento dos dispositivos pós-modernos, a esfera da cultura se expandiu, e passou a ter os mesmos limites que a socie-dade de mercado, assim, a cultura não é mais limitada pelas suas formas antigas, tradicionais ou experimentais. Ela agora consumida ao longo da própria vida cotidiana, nas compras, nas atividades profissionais, nas vá-rias formas de lazer diariamente televisivas, na produção para o mercado e no consumo daqueles produtos mercadológicos. Jameson (1996, p. 181), afirma que “o espaço social é agora completamente saturado com a cultura da imagem”.

Atualmente, a tecnologia e a mídia que são os verdadeiros sustentáculos da função epistemológica, de onde se explica uma mutação na produ-ção cultural, na qual as formas tradicionais dão lugar aos

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experimen-tos de mídia mista, ao passo que a fotografia, o cinema e a televisão, todos começam a convergir na obra de arte visual (e também nas outras artes) e a coloniza-la, gerando híbridos high-tech de todos os tipos, das instalações às artes computadorizadas (JAMESON, 1996, p. 181). Para ele, “pós-modernismo e "capitalismo da mídia" são sinônimos. A transformação de objetos de todo tipo em mercadorias, sugere vidas ligadas ao consumo e desejos produzidos e fixados pelos grandes meios de comunicação de massa.

A era eletrônica, inserida na pós-modernidade trouxe mudanças no modo de vida social e provoca mudanças nas estruturas políticas e econô-micas da sociedade. Transformam o modo de vida, que passam a aceitar determinadas normas, demandas e comportamento, de acordo com os no-vos conceitos e percepções trazidas pela tecnologia.

Dentro desta perspectiva, a arte contemporânea, na tentativa de cumprir seu papel social, desenvolve projetos que visam dar o sinal de aler-ta sobre essas mudanças.. Porém, de forma paradoxal, a arte age aler-também no intuito de impedir que a sociedade se ajuste a esse ambiente tecnoló-gico. Trata-se de uma tentativa de não deixar a sociedade se robotizar, ou em outras palavras, não se tornar servomecanismos dentro de um padrão ambientalmente tecnológico.

ARTE-TECNOLOGIA E MACLUHAN

Para MacLuhan, a partir do momento em que o homem cria ins-trumentos para se adaptar às estruturas desenvolvidas nos novos ambientes sociais, ele deixa de desenvolver seus reflexos animal dotados de instintos. O ambiente artificial tecnológico criado pelo homem, tornou muitos de seus reflexos instintivos desapropriados a esse novo ambiente, e às novas situações que o córtex criou ao usar esses novos artefatos. Com o passar do tempo, essa lacuna entre o equipamento natural do homem e da tecno-logia foi se tornando cada vez maior. Para McLuhan a função do artista, seria portanto, preencher essa lacuna entre o equipamento tecnológico e o natural do homem. Trata-se de uma tentativa através da arte, de reajustar o aparelho perceptivo humano aos novos ambientes que se desenvolvem ra-pidamente durante os avanços tecnológicos. Para McLuhan as tecnologias são como extensões do nosso corpo. Portanto, precisam se ajustar a ele.

A partir do momento em que o homem insere essas tecnologias na natureza, cria-se novo ambiente. Um ambiente integrado ao corpo humano,

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o qual deve funcionar de forma harmoniosa. Um ambiente criado artistica-mente pelo homem, não natural, que por sua vez, precisa constanteartistica-mente ser reprogramado para garantia de sobrevivência da espécie humana. Uma das maneiras utilizadas por artistas para atingir esse objetivo, é através do uso da imagem, pois dependendo da forma em que forem utilizadas por ele, podem causar estranhamento e levar a um despertar e à reflexão social, e consequentemente, na construção de uma identidade atual. Para se atin-gir tais objetivos alguns movimentos artísticos procuram comprovar um fato social, e o expõem de forma artisticamente crítica. Dessa forma, dei-xam aflorar no individuo, algum tipo de sentimento como a raiva, alegria, tristeza, indignação, espanto, etc. É preciso então, criar, constantemente formas de atualização da percepção do ambiente social. Porém, de forma paradoxal, a arte age também no intuito de impedir que a sociedade se ajuste a esse ambiente tecnológico. Trata-se de uma tentativa de não deixar a sociedade se robotizar, ou em outras palavras, não se tornar servomeca-nismos dentro de um padrão ambientalmente tecnológico. O artista busca desestruturar essa contínua tentativa de estabilidade perceptual. Visando a não-adaptação alienada ao meio tecnológico. Assim, procura tornar o indi-víduo mais crítico ao perceber sua realidade visualizada nas manifestações artísticas da arte-tecnologia, tornando-o mais capaz de se relacionar com sua realidade, de forma adaptativa, porém, consciente.

Percebe-se com assim a importância do hibridismo da arte com a tecnologia e com os demais elementos sociais. Pensar a arte não apenas em um contexto fechado do academicismo, ou criá-la com um discurso mera-mente estético. Isso de certa forma está esgotado, no sentido de realmera-mente contribuir para um despertar crítico social. É necessário beber em outras fontes – como a da tecnologia – para se produzir um discurso artístico compatível com a realidade vigente. Em relação ao ambiente criado pela inserção da tecnologia, a arte procura tirar da sociedade a dependência total dos meios técnicos que são produzidos dia após dia. Eles impedem o indivíduo de utilizar-se de suas funções e instintos naturais. Talvez sua maior tentativa seja de manter as máquinas dependentes dos instintos hu-manos, e não o contrário.

ARTE-TECNOLOGIA E VILÉM FLUSSER

Vilém Flusser1 desenvolve uma crítica a sociedade, onde seu

argu-mento aponta uma inversão de valores: o homem vivendo alienadamente em prol da construção e do consumo de aparelhos tecnológicos.

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No desenvolvimento da história, percebe-se que os instrumentos vi-raram máquinas, sua relação com o homem se inverteu. Os instrumentos cercam os homens antes da revolução industrial. No decorrer da história, as máquinas eram por eles cercadas. Em determinado momento o homem era a constante da relação, e o instrumento era a variável. Porém, isso se inverte, e a máquina passa a ser a constante da relação.

Inicialmente os instrumentos eram produzidos a fim de serem utili-zados pelo homem; isso se modifica e grande parte da humanidade passou a realizar suas tarefas em função das máquinas.

Dentro do novo conceito pós-industrial, o aparelho fotográfico em si tem pouca validade, porém, sua capacidade de realizar fotografias, im-palpáveis e simbólicas é considerada seu verdadeiro valor no mundo pós-industrial. Não é o objeto, mas o símbolo que vale. O homem agora, vive também não apenas em função da máquina, mas também em função das imagens que elas produzem. Elas norteiam os percursos e apontam mo-delos pelos quais o homem é levado a seguir. Portanto, a busca pelo poder mercadológico da sociedade tecnocrata não está mais no proprietário do objeto, mas passou do proprietário para o programador de sistemas.

É importante compreender que nesse jogo, as hierarquias de poder estão bem estruturadas. A saber: o fotógrafo exercendo o poder sobre o que vê suas fotografias, conseguindo dessa forma programar os receptores. O fotógrafo está sobre o poder do aparelho fotográfico. Seguindo esse racio-cino de estruturação, a indústria fotográfica exerce poder sobre o aparelho. Essa estrutura segundo Flusser mostra que a “sociedade da informática”, também é a do “imperialismo pós-industrial”.

Essa análise é perfeitamente aplicável à realidade contemporânea em que vivemos. A sociedade dita como “pós-moderna” ou midiática mantém seu processo de expansão alimentado pela produção de imagens, as quais dão sentidos aos indivíduos e consistência ao processo de produ-ção e consumo social. Flusser explica que o processo de propagaprodu-ção das imagens aplica-se nos diferentes canais de distribuição de fotografias, os quais são: canais para fotografias indicativas, como são os livros científicos e jornais diários, canais para fotografias imperativas, que são encontradas em cartazes de propaganda comercial e política e também os canais para fotografias artísticas, que são pertinentes a revistas, exposições e museus. Portanto, compreende-se que antes de serem distribuídas, as fotografias são “transcodificadas” (mudam seu foco informacional) pelo aparelho de distribuição. Assim, é possível subdividi-las em canais diferentes, com objetivos mercadológicos diferentes. Essa análise mostra também a atual

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forma de poder exercida sobre a sociedade com o uso da mídia: a ideologia estrutura a comunicação a ser propagada, e a hegemonia social faz com que a imagem da classe dominante sirva como modelo ou padrão para a grande massa social.

Outra análise feita pelo autor, é a relação entre o aparelho produ-tor das imagens e a técnica. Para ele a técnica utilizada pelo aparelho na produção de imagens nada mais é que a estruturação e de um texto cien-tífico aplicado. As Imagens técnicas são dessa forma, produtos indiretos também de textos. Portanto as imagens tradicionais precedem os textos, e as imagens técnicas sucedem os textos. Ou seja, as imagens técnicas são decodificadoras de textos em imagens. No homem, as imagens são originárias da imaginação, porém, no aparelho sua origem está na capa-cidade de codificar textos em imagens. O ato de materializá-las é a forma de reconstituir os textos que tais imagens significam. Dessa forma quem produz a imagem não é o artista, mas, o aparelho.

Para tal afirmação, Flusser esclarece que o processo de codificação para um pintor ocorre na cabeça, e aos interessados a decifrar a imagem precisam conhecer o que se passou em sua cabeça. Porém, essa situação não se repete com relação ao aparelho técnico, pois é demasiadamente compli-cado para que possa ser penetrado. Segundo o autor: “é caixa preta”.

Nas sociedades pré-modernas os indivíduos produziam seus obje-tos e imagens de acordo com a técnica manualmente desenvolvida por eles. Tinham conhecimento e domínio de todo o processo de produção e criação. Nas sociedades modernas a técnica é substituída pela tecnologia. Nela, o processo de produção da técnica já vem pronto no próprio disposi-tivo do aparelho. Com isso, o processo de criação está limitado pelo núme-ro de possibilidades inscritas no aparelho, portanto, escolha pnúme-rogramada. A imaginação do fotógrafo, por maior que seja, está inscrita nessa enorme imaginação do aparelho.

Na realidade, porém, o fotógrafo somente pode fotografar o fotografá-vel, isto é, o que está inscrito no aparelho. E para que algo seja grafável, deve ser transcodificado em cena. O fotógrafo não pode foto-grafar processos. De maneira que o aparelho programa o fotógrafo para transcodificar tudo em cena, para magicizar sua caça, em função do aparelho (FLUSSER, 1999, p. 31).

Segundo Flusser o fotógrafo não pode inventar novas categorias, ou possibilidades, a não ser que deixe de fotografar e passe a funcionar

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na fábrica que programa aparelhos. Essa advertência do autor nos mostra a necessidade de nos colocarmos em relação ao processo de produção de imagens nos aparelhos técnicos. Postura essa que deve variar de indivíduo para indivíduo.

Aqui está, precisamente, o desafio. Há regiões na imaginação do aparelho que são relativamente bem exploradas. Outras regiões são quase inexploradas, nunca dantes percorridas para produzir imagens jamais vis-tas. Imagens como ditas anteriormente, informativas.

É possível se desenvolver uma técnica artística pessoal utilizando para isso a própria tecnologia contida no aparelho técnico? Será que o fo-tógrafo consegue submeter a intenção do aparelho fotográfico às suas reais intenções? De que forma o fotógrafo pode se colocar como ator principal nessa relação entre ele e a máquina? Como o fotógrafo pode subverter a intenção programada do programa?

O ponto conclusivo em que o autor quer chegar é que as melhores fotografias seriam as que o fotógrafo consegue impor sua intenção sobre a intenção do aparelho. São as fotografias experimentais. Porém não é tarefa fácil esse tipo de intervenção. O grande objetivo então, é adentrar no inte-rior do programa – caixa preta - e subverter sua ordem e fazê-lo trabalhar em prol de nossas intenções e não ao contrário.

ARTEMÍDIA E ARLINDO MACHADO

Para Arlindo Machado2 a crítica social é uma das formas de

manifes-tação da arte. Tal prática busca reflexões sobre a sociedade, seus costumes, mitos, crenças, comportamentos, tabus, etc. Seus enfoques na expressão crítica variam conforme o momento histórico e aos recursos disponíveis. É assim, que o autor Arlindo Machado descreve o processo de transfor-mação e de atuação da arte no decorrer de sua história na sociedade. As novas tecnologias favorecem as possibilidades criativas da arte, a partir do momento em que ela começa a se apropriar desses novos dispositivos tecnológicos. Porém, esta apropriação não deve ser leviana. Todo processo de criação artística visa obter um diálogo com seu receptor.

Mas a apropriação que a arte faz do aparato tecnológico que lhe é contemporâneo difere significativamente daquela feita por outros se-tores da sociedade, como a indústria de bens de consumo. Em geral, aparelhos instrumentos e máquinas semióticas não são projetados para a produção de arte, pelo menos não no sentido secular desse termo, tal

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como ele se constitui no mundo moderno a partir mais ou menos do século XV (MACHADO, 2007, p. 10).

Arlindo Machado nomeia a experiência de junção da arte com os meios tecnológicos de experiências híbridas. Nessas experimentações os recursos são retirados do campo da eletrônica, da informática, da enge-nharia e outros. O momento contemporâneo aponta para as artes midi-áticas como expressão artística característica de nosso tempo. Porém, o termo artemídia não deve ser empregado de forma meramente técnica (utilizando-se para sua produção apenas os recursos técnicos dos apare-lhos midiáticos), mas pensando sempre nos resultados dessa relação entre mídia e arte de forma crítica. Dessa forma, algumas questões são levan-tadas, a saber: de que forma a arte e a mídia se misturam? Quais são os resultados dessa mistura? Quais suas relações e diferenças? As formas de arte de nosso tempo podem ser consideradas os produtos da mídia? Ou é a intervenção da arte nas mídias que caracteriza a arte de nossos dias? Como esses dois meios podem se combinar, e se contaminar, sendo instituições tão distintas?

DESVIANDO A TECNOLOGIA DO SEU PROJETO INDUSTRIAL A apropriação que a arte faz do aparato técnico, é diferente da for-ma como a indústria o concebeu. Para a indústria o que vale é a produção em série e a compra em grande escala. Esses objetivos são planejados no momento em que um novo aparelho tecnológico é lançado no mercado de consumo. Porém a arte vai em direção contrária a essa lógica de mercado. O uso que a arte faz do aparato técnico não é para ser comercializada ou ser assimilada de forma padronizada. Seu intuito é se expressar de forma sensível e única. Portanto, não há em suas perspectivas a idéia de produção em série, ou do consumo de massa. Os valores do emprego da tecnologia na arte não são capitalistas e sim de um modo de expressão e percepção singular. Sendo assim, artemídia foge da idéia de indústria de consumo (que visa desenvolver produtos mais genéricos, que abordam temas mais banais e que não perturbam e criticam os padrões sociais já estabelecidos), e passa então, a trabalhar com temas mais instigantes e reflexivos como o estranhamento, a incerteza e outros. A perspectiva artística é a que mais desvia o projeto original das máquinas tecnológicas voltadas para a produ-ção e consumo capitalista, pois ela propõe uma utilizaprodu-ção dos meios midi-áticos, diferentes dos convencionais. Isso implica que, arte deve subverter

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a lógica do aparato tecnológico. A partir do momento em que é negado o uso convencional do aparelho, e propõem-se uma outra forma de utiliza-ção e criautiliza-ção, o artista passa a trabalhar além dos limites previstos dos apa-relhos. Portanto, fogem dos padrões estabelecidos pela indústria capitalis-ta. O aparelho passa a ser utilizado de maneira contrário à sua finalidade de produção e uso programado dentro da sociedade tecnocrata. Assim a arte ela não contribui com o mecanismo de expansão e sustentabilidade da indústria de consumo. Pois, ao ignorar suas finalidades mercadológicas, e criticá-las em suas experiências artísticas, a arte quebra o elo dos modelos atuais de normatização e controle social.

A MÍDIA COMO REORDENAMENTO DA ARTE

Arte, na verdade não tem um conceito definitivo. Ela é um processo em constante mutação. Manifesta-se de maneira diferente, conforme a época. O autor demonstra que atualmente é difícil de discernir a criação artística da produção midiática. O atual momento social e cultural intitulado “pós-moder-nidade”, percebe-se que os níveis de culturas se misturam, e se tornaram difíceis de separarem. Difícil de perceber o que é arte dita “elevada”, de uma “subcul-tura” dita de “massa”. Atualmente a cultura se apresenta muito mais hídricas e confusas que em épocas anteriores. Para os intelectuais críticos de arte e de for-mação tradicional, não se pode falar em criação estética utilizando-se para isso os produtos da mídia de massa fabricada em escala industrial. Já os defensores da artemídia, afirmam que a demanda comercial e o contexto industrial não necessariamente inviabilizam a criação artística. Segundo Arlindo Machado, isso só seria real caso tais críticos pensem o objeto artístico com sendo único.

Já houve um tempo em que se podia distinguir com total clareza entre uma cultura elevada, densa, secular e sublimada e, de outro lado, uma subcultura dita “de massa”, banalizada, efêmera e rebaixada ao nível de compreensão e da sensibilidade do mais rude dos mortais (MA-CHADO, 2007, p. 24).

A indústria é complexa, e permite interferências em suas entranhas, onde o artista pode penetrar e propor novas alternativas artísticas de quali-dade. Não há por que não acreditar que no meio da indústria do entreteni-mento haja produtos de grande qualidade e originalidade artística ao ponto de serem também considerados como arte de nosso tempo. Por que a televi-são ou a Internet não podem abrigar também a arte de nosso tempo? Sobre

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esse assunto de se aplicar a arte nas mídias, Arlindo Machado cita Walter Benjamin e seu raciocínio aplicado à fotografia e ao cinema, onde ele afirma que o problema não é saber se os produtos das mídias são artísticos ou não. O importante é perceber que esses recursos se infiltraram no nosso cotidia-no, romperam com os conceitos tradicionais, e isso implica em uma nova forma de se estudar e perceber esse fenômeno. Na verdade o que surge é uma gama de novas possibilidades advindas da união da arte com a mídia. E, é preciso ter sensibilidade e inteligência para se perceber esse fenômeno, e tirar proveito dessa nova realidade rica em possibilidades criativas.

A partir do momento em que a arte deixa seu espaço privado e de-finido dos museus, galerias de arte, da sala de concertos e passa a figurar em novos espaços como o da televisão, da Internet ou espaços urbanos, ela então, passa também a ser fruída por diversos públicos. Essa mudança de espaço da arte faz com ela mude de estatuto, e o mais importante, ela abre espaço para inserção social da arte. E essa inserção por sua vez, possibilita novas visões de estudos sobre a arte e a sociedade. Porém, esse é um exer-cício árduo para arte. Árduo por ser inserida no meio do sistema de produ-ção da sociedade tecnocrata. Isso a leva a adotar uma postura dicotômica. Uma que aceita os recursos tecnológicos, e outra que os rejeita, critica e contesta por seu aspecto mercadológico capitalista.

HIBRIDAÇÃO DAS MÍDIAS

A convergência dos meios se dá quando diferentes mídias se fun-dem, surgindo uma nova realidade, onde os meios não mais se divergem, mas se misturam e se expandem. Dessa forma surgem o cinema expandi-do, o audiovisual, a escultura, a fotografia expandida e outros.

Atualmente não há mais lugar para se pensar os meios separados como antes: o cinema, o vídeo e as mídias digitais. As fronteiras entre estes meios foram dissolvidas e agora geram imagens mestiças, híbridas, ou seja, elas são produzidas por fontes diferentes. Parte é fotografia, parte é dese-nho, e assim por diante. Tal uso da arte, interligada com outras formas de expressão artística e tecnológica da nossa época, dão a ela um sentido mais global, portanto mais relacionada com a função social.

CONCLUSÃO

Os temas abordados são na verdade um convite aos artistas a sub-verterem o funcionamento desses aparelhos industriais, a fim de criarem

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uma nova forma de uso do aparelho, e, consequentemente uma nova lin-guagem estética, menos estandartizada e mais individualizada, pois o ser humano tem ganhado cada dia mais voz dentro da realidade artística e social na nova perspectiva contemporânea.

Notas

1 Vilém Flusser nasceu em 1920, em Praga; morreu em 1991, em Praga. Entrementes, viveu na antiga Tchecoeslováquia até a invasão nazista. Toda a sua família foi assassinada, mas ele conseguiu escapar para Inglaterra, primeiro, e depois para o Brasil. Em São Paulo, trabalhou no comércio até perto de 1960, quando começou a escrever para os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Passou também a lecionar Filosofia em universidades paulistas. Publicou vários livros em português.

2 Doutor em comunicação e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Referências

JAMERSON, F. Pós-modernismo, a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 1996.

FLUSSER, V. A filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Conexões, 2002.

MACHADO, A. Arte e mídia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2007.

KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: Novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1995.

LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1992.

MCLUHAN, M. McLuhan por McLuhan: conferências e entrevistas. São Paulo: Ediouro. p. 245-263.

Abstract: postmodernism is characterized by the transformation of objects into commodities. This merchandising operation contributes to the emergence of peo-ple clinging to the desire to purchase products created just to meet the needs of industrial production. Within this scheme the media contribute to the modifica-tion of contemporary mores. McLuhan, Flusser and Arlindo Machado discuss this theme in an artistic way and criticism by entering the artist in this reality as an individual who provides the changes brought by new technologies to society. Key words: Post-modernity, hybridism, art-technology

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CLÁUDIO ALEIXO ROCHA

Mestrando em Cultura Visual na Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Goiás. Especialista em Docência Universitária PUC Goiás. Graduado em Artes Visuais com habilitação em Design Gráfico pela UFG.

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