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Projeto Invertendo a Rota: uma história de intervenções com a exploração sexual comercial infanto-juvenil em Goiás

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Academic year: 2020

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PROJETO INVERTENDO A ROTA:

UMA HISTÓRIA DE INTERVENÇÕES

COM A EXPLORAÇÃO SEXUAL

COMERCIAL INFANTO-JUVENIL

EM GOIÁS*

ROGÉRIO ARAÚJO DA SILVA**

Resumo: numa dimensão do enfretamento da exploração sexual comercial infanto-juvenil

no Estado Goiás, a PUC GO, por meio do Projeto Invertendo a Rota (Proinvert), assume um importante papel no cenário regional, tornando-se pioneira ao implementar um projeto de pesquisa-ação direcionado exclusivamente para essa temática. Além de contribuir com a sistematização de uma metodologia de intervenção com a questão em seus diversos aspectos, as ações do Projeto tornaram-se referência em todo o país. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo traçar a trajetória do Proinvert nos últimos anos no Estado de Goiás.

Palavras-chave: Exploração sexual comercial. Crianças. Adolescentes.

* Recebido em: 10.11.2014. Aprovado em: 23.11.2014.

** Doutor em Sociologia pela UFG. Professor da PUC/GO. Assessor técnico do Instituto Dom Fernando/IDF. E-mail: rogersilva@pucgoias.edu.br.

O

problema da exploração sexual comercial, de crianças e adolescentes, na atuali-dade é uma das prioriatuali-dades de políticas públicas de muitos governos e setores da sociedade civil. Além de se constituir em objeto de estudos em diferentes áreas de conhecimento. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), no total, 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos menores de 18 anos são vítimas de exploração sexual no mundo. No Brasil, o fenômeno começou a ter maior visibilidade a partir da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) realizada no início da década de 1990, que se deteve na investigação de denúncias de casos de prostituição infanto-juvenil em âmbito nacional. Desse modo, quantificar a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes no país é uma tarefa difícil, visto que se trata de um negócio criminoso, o que acarreta sua invisibilidade. No intuito de elucidar em que consiste a exploração sexual comercial infanto-juvenil temos a seguinte definição elaborada por Silva:

a comercialização (mercantilização) de práticas sexuais (uso/abuso do corpo) mediante pagamento monetário (dinheiro), ao qual poderá se agregar, em algumas situações, a

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satisfação de bens (presentes) e serviços (moradia, viagens, diversão) ao(a) adolescente. Na exploração sexual comercial de adolescentes, há diferentes categorias (meninas, meninos e travestis) que atendem e acompanham clientes (demanda), de diferentes perfis (sexo, idade, classe) e orientações sexuais diversas, não havendo o estabelecimento de víncu-los afetivos ou de exclusividade (rotatividade de clientes). Exerce a atividade por conta própria (autônomos) ou de forma agenciada (aliciadores/exploradores), em ruas, praças, bares, boates, hotéis, prostíbulos, portos, postos, rodovias, casas de massagem, saunas e garimpos (modalidades); atuam em ambientes a céu aberto, fechados e em veículos, em horários irregulares. A exploração sexual comercial de adolescentes também pode ser exercida por meio da pornografia, turismo sexual e tráfico interno e internacional para fins de exploração sexual. Pelo fato de os (as) adolescentes estarem, em sua maioria, em situação de vulnerabilidade bio-psíquica-social, a exploração sexual comercial de ado-lescentes caracteriza-se como uma relação de poder (do adulto) sobre o (a) adolescente (2014, p. 66).

Em Goiás, as ações de enfrentamento da exploração sexual comercial infanto-juve-nil ganharam visibilidade e densidade após a criação do Fórum Goiano pelo Fim da Violên-cia Sexual Infanto-Juvenil, em 1995, um desdobramento das ações da Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes. Como consequência da atuação do Fórum, a Câmara Municipal de Goiânia instalou, em 1997, a Comissão Especial de Investigação (CEI), que apurou a existência de uma rede de exploração sexual infanto-juvenil na região metropolitana de Goiânia.

Em 2001, em um esforço nacional para mapear as rotas de exploração sexual no país, o Estado de Goiás integrou-se à pesquisa sobre tráfico de mulheres, crianças e adolescen-tes para fins de exploração sexual comercial no Brasil (Pestraf). Os resultados apontaram Goi-ás como um dos maiores exportadores de mulheres para países da Europa. Além da Pestraf, outra fonte de dados foi o relatório da Polícia Rodoviária Federal, intitulado Exploração Se-xual de Crianças e Adolescentes no Brasil - Ministério da Justiça, 2004. Segundo esse relatório, Goiás era, até então, o segundo estado com o maior número de prostíbulos frequentado por crianças e adolescentes ao longo das rodovias federais, principalmente na BR-153, perdendo apenas para Minas Gerais.

Se observarmos as ações de combate à exploração sexual infanto-juvenil desenvol-vida nos últimos anos, os melhores resultados foram alcançados no âmbito do abuso sexual intrafamiliar, não da exploração sexual comercial. Esta continua desafiando os esforços do Governo e da sociedade civil, que lutam por construir a cidadania de crianças e adolescentes e por minar as várias formas de violência, particularmente aquelas envolvidas na implementa-ção do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.

O SURGIMENTO DO PROINVERT

No intuito de contribuir com a produção do conhecimento sobre o tema da explo-ração sexual comercial de crianças e adolescentes (ESCCA), bem como no seu enfretamento, nasce no início de 2004, o Projeto Invertendo a Rota: Ações de Enfrentamento da Exploração Se-xual Infanto-Juvenil em Goiás também denominado Proinvert (SANTOS; ARAÚJO, 2009).

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Em virtude dos diversos convênios firmados para sua execução foi desenvolvido em três fases distintas: a primeira corresponde ao período de 2004 a 2006, com recursos da Petrobrás; a segunda de 2007 a 2008, com recursos da Secretaria Especial de Direitos Humanos/SEDH e a terceira, de 2011 a 2012, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP/ Ministério da Ciência e Tecnologia. Trata-se de um projeto de pesquisa-ação criado e imple-mentado pelo Centro de Estudo, Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil - CEPAJ1 - da Pontifícia

Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil - PROEX.

Sua primeira finalidade foi desenvolver metodologias de trabalho que subsidiem a implementação dos planos nacionais e estaduais de enfrentamento à violência sexual infan-to-juvenil, com a articulação de ações entre organizações governamentais e não governa-mentais. O projeto foi desenvolvido por professores, pesquisadores, estudantes e profissionais que trabalhavam com a temática em organizações governamentais e não governamentais de Goiânia e da região metropolitana, por meio de uma combinação única de prática social e de conhecimento acadêmico. Por essa razão, o Proinvert operou com base na tríade movimento social–universidade–governo.

O Proinvert se tornou inicialmente viável graças ao convênio firmado com o Fundo Municipal de Apoio à Criança e ao Adolescente (FMACA), vinculado ao Conselho Muni-cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, com recursos da Companhia de Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras). Entre 2004 e 2006, foi coordenado de forma colegiada por re-presentantes de diversas organizações: CEPAJ - PUC Goiás; Fórum Goiano pelo Fim da Violência, Exploração e Turismo Sexual de Crianças e Adolescentes; Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua; Secretarias Municipais de Saúde e de Educação de Goiânia; extinta Sociedade Cidadão 2000 pelos Direitos da Criança e do Adolescente; Secretaria Mu-nicipal de Assistência Social (Semas), anteriormente denominada Fundação MuMu-nicipal de Desenvolvimento Comunitário (Fumdec); Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-GO) e Organização das Voluntárias de Goiás (OVG).

Os objetivos iniciais do Proinvert partiram da caracterização do fenômeno da ex-ploração sexual comercial infanto-juvenil na região metropolitana de Goiânia2, construção

e sistematização de metodologias de trabalho para o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes; e, por fim, o monitoramento documentário e avaliativo das ações no enfrentamento à exploração sexual infanto-juvenil em Goiás.

De 2004 a 2006, o Proinvert se estruturou nos seguintes programas: 1) Programa Educação Social nas Rotas; 2) Programa Tecendo a Rede da Cidadania: Capacitação de Recursos Humanos; 3) Programa Rota da Cidadania: Educação, Saúde, Assistência Social e Profissionalização; 4) Programa Rompendo o Ciclo da Impunidade: Responsabilização de Pessoas que Cometem Crimes Sexuais; 5) Programa Repropondo: Atendimento Psicos-social a Autores de Violência Sexual; 6) Programa Comunicação Social e Monitoramento da Mídia; e 7) Programa de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento de Metodologias de Enfrentamento da Exploração Sexual Infanto-Juvenil em Goiás. Este último programa teve, por objetivo, sistematizar as ações desenvolvidas pelos outros programas do Proinvert. Seus procedimentos metodológicos vincularam-se à perspectiva da pesquisa-ação, na qual a ação e a pesquisa são atividades distintas, porém articuladas e desenvolvidas simultanea-mente. Assim,

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quando falamos de pesquisa, estamos pensando em pesquisa-ação, isto é, uma ação em nível realista, sempre acompanhada de uma reflexão autocrítica objetiva e de uma ava-liação dos resultados. Como o objetivo é aprender, não devemos ter medo de enfrentar as próprias insuficiências. Não queremos ação sem pesquisa, nem pesquisa sem ação (BARBIER, 1985, p. 38).

A pesquisa desenvolvida pelo Proinvert destacou-se por seu pioneirismo referente tanto à sua natureza de pesquisa-ação quanto à sua ênfase em soluções, não apenas no conhe-cimento do problema. No que se refere especificamente ao Programa Educação Social nas Ro-tas3. Este Programa foi o primeiro voltado para a exploração sexual comercial infanto-juvenil

a ser implantado em Goiás. Seus principais objetivos foram: traçar a geografia e a configura-ção da prostituiconfigura-ção infanto-juvenil na região metropolitana de Goiânia, abrangendo, além da capital, os municípios de Senador Canedo, Aparecida de Goiânia, Trindade e Anápolis; reali-zar um levantamento do perfil dos adolescentes em situação de exploração sexual comercial; criar e implementar uma metodologia de abordagem com esses adolescentes e desenvolver uma ação socioeducativa voltada, tanto para adolescentes envolvidos com a exploração sexual, quanto para potenciais facilitadores da exploração sexual.

O Programa Tecendo a Rede da Cidadania teve por meta principal a qualificação de profissionais que compõem a Rede de Atenção a Mulheres, Crianças e Adolescentes em Situação de Violência. Em seu primeiro ano de execução, conseguiu capacitar 450 técnicos das áreas de saúde, educação, assistência social e segurança pública, do Juizado da Infância e Juventude, do Ministério Público e de conselhos tutelares, para atuarem em rede no en-frentamento da exploração sexual infanto-juvenil em Goiânia e municípios circunvizinhos. O intuito da capacitação desses profissionais era termos ao término do Proinvert, uma Rede de Atenção com profissionais aptos ao atendimento especializado, visto que o Projeto teria um começo, meio e fim. Garantindo, desse modo, a continuidade das ações.

O Programa Rota da Cidadania: Educação, Saúde, Assistência Social e Profissiona-lização teve, por objetivo central, desenvolver uma metodologia de atendimento integral e especializado aos adolescentes em situação de exploração sexual comercial, por meio de par-cerias com órgãos públicos e organizações não governamentais de Goiânia que desenvolviam programas nas áreas da saúde, educação, profissionalização, geração de emprego e de renda.

O Programa Rompendo o Ciclo da Impunidade: responsabilização de pessoas que cometem crimes sexuais, pioneiro no gênero, no Estado de Goiás, com o objetivo de desen-volver metodologias de trabalho que contribuíam com o aumento do nível de responsabiliza-ção dos autores de violência sexual e, consequentemente, romper o ciclo de impunidade dos mesmos. Uma das estratégias do Programa foi criar serviços jurídicos especiais para crianças, adolescentes, e suas famílias.

A criação do Programa Repropondo: atendimento psicossocial a autores de violência sexual justificou pela constatação que a responsabilização jurídica desses autores é necessária na medida em que leva a pessoa que comete a violência a um exame do ato cometido. Contu-do, por si só ela não é suficiente para impedir a reincidência entre os autores de violência sexu-al. E é exatamente nesse campo que o Proinvert se propôs a operar e a pesquisar, produzindo subsídios para o trabalho com os esses indivíduos. Cabe destacar que o Programa Repropon-do foi pioneiro no Brasil, por se tratar Repropon-do único trabalho até então focaRepropon-do especificamente no atendimento ao autor de violência sexual contra crianças e adolescentes.

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Por fim temos o Programa Comunicação Social e Monitoramento da Mídia, o qual teve como objetivo realizar o monitoramento da cobertura da mídia goianiense referente aos casos envolvendo a violência e a exploração sexual contra crianças e adolescentes.

O trabalho de pesquisa realizado pelo Proinvert teve como fonte de dados o desen-volvimento dos seus diversos programas de intervenção, o que resultou em algumas publi-cações, sendo os livros: O enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil: uma análise de situação. Goiânia: Cânone Editorial, 2007; Exploração sexual de crianças e adolescentes:

pesqui-sas com documentos de domínio público. Goiânia: Cânone Editorial, 2008; (Re)descobrindo faces da violência sexual contra crianças em Goiânia: Cânone Editorial, 2009; Autores de vio-lência sexual contra crianças e adolescentes: responsabilização e atendimento psicoterapêutico. Goiânia: Cânone Editorial, 2009; O enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil: meto-dologia de trabalho e intervenção. Goiânia: Cânone Editorial, 2010.

Esses livros fornecem rico material de pesquisa sobre a questão da exploração sexual comercial infanto-juvenil em âmbito regional, focados em uma produção de conhecimento que serve de subsídios para a implementação dos planos nacional e estadual de enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil. A pesquisa contemplou alguns objetivos específicos do plano nacional, sendo eles: realizar investigação científica, visando compreender, analisar, subsidiar e monitorar o planejamento e a execução das ações de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes e, além disso, garantir o atendimento especializado às crianças e aos adolescentes em situação de violência sexual consumada, a finalidade da pesqui-sa esteve focada no conhecer para intervir, na produção de uma metodologia de intervenção com o problema.

O Trabalho de intervenção com a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes

Entendemos que a exploração sexual infanto-juvenil decorre de vários fatores que alcançam as dimensões da violência estrutural, social e interpessoal estabelecendo, assim, uma dimensão processual que se desenrola aos poucos na trajetória de vida de diversas crianças e adolescentes. Tais fatores e dimensões articuladamente interferem na subjetividade destes su-jeitos e acaba por inseri-los num processo de vulnerabilidade demandando uma intervenção especial. Por isso, a sistematização de metodologias de intervenção se faz necessária para cons-truir parâmetros de referências técnicas no intuito de trazer mais segurança aos profissionais que realizam trabalhos com esse público.

Em linhas gerias podemos avaliar que a construção e implantação do método de trabalho para intervir na exploração sexual infanto-juvenil em Goiânia representou, sem dú-vida, uma superação para toda a equipe do Proinvert. A importância do registro das ações empreendidas pelo projeto deveu-se à escassez de material publicado sobre o assunto, ou seja, que relatem outras experiências com o trabalho de educação social para adolescentes que se encontram em situação de exploração sexual comercial.

A partir do ano de 2006, o projeto passou a ser financiado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), cuja vigência foi até o ano 2007, período no qual se desenvolveu apenas os Programas Repropondo e Tecendo a Rede da Cidada-nia. Sendo posteriormente renovado o convênio com vigência de abril de 2008 a abril de 2009.

Pelo trabalho desenvolvido o Proinvert recebeu, em 2009, o reconhecimento da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) como o melhor projeto de Inovação em

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Tec-nologia Social da Região Centro-Oeste, a premiação foram recursos para que o mesmo fosse retomado, agora, em sua terceira fase no período de 2011 a 2012. O objetivo proposto para essa nova fase foi consolidar as metodologias de trabalho e intervenção para o enfretamento da exploração sexual de crianças e adolescentes em Goiânia e sua região metropolitana.

Em relação ao novo delineamento do Projeto, foram desenvolvidos os seguintes programas: 1) Educação Social nas Rotas - cuja finalidade foi realizar abordagens com crian-ças e adolescentes em situação de exploração sexual comercial (meninos, meninas e adoles-centes travestis) em diferentes pontos (modalidades) no município de Goiânia e região me-tropolitana, com o objetivo de realizar um trabalho de redução de danos; sensibilização para os direitos da cidadania; encaminhamento para a Rede de Atenção4; e o incentivo à

grupali-zação. 2) Programa Rota da Cidadania: educação, saúde, assistência e profissionalização - cuja finalidade foi desenvolver um trabalho de fortalecimento e articulação da Rede de Atenção. 3) Programa Repropondo: Atendimento a Autores de Violência Sexual - ofereceu atendimento psicológico (individual, em grupo ou familiar) a autores de violência sexual contra crianças e adolescentes. 4) Programa Tecendo a Rede da Cidadania: Capacitação de Recursos Humanos - foi oferecido como capacitação um curso gratuito de Especialização em Violência e Explo-ração Sexual Contra Crianças e Adolescentes com chancela da PUC GO - com a finalidade de aperfeiçoamento da prática social de trinta técnicos operadores de serviços de atenção a criança e ao adolescente, do Estado de Goiás, prioritariamente, com profissionais que aten-dem nas unidades dos Centros de Referência Especializados em Assistência Social (CREAS)5.

Os objetivos do Projeto Invertendo a Rota nessa nova fase estiveram dispostos em metas, sendo elas: Meta nº 1, consolidação da metodologia e abordagem com crianças e adolescentes em situação de exploração sexual, realizada em parceria com os educadores dos CREAS do município de Goiânia e demais municípios do entorno (Senador Canedo, Aná-polis, Trindade e Aparecida de Goiânia). Meta nº 2, inserção de adolescentes em situação de exploração sexual na rede de serviços, consequência da meta nº 1, pois o objetivo da abordagem não foi somente entender, mas ampliar possibilidades de atendimento para esta população junto à rede de serviços no município de Goiânia e entorno na perspectiva de garantia de seus direitos. Meta nº 3, consolidação de metodologia de atendimento na Rede de Atenção a Mulheres, Crianças e Adolescentes em Situação de Violência. Meta nº 4, aten-dimento psicossocial aos autores de violência sexual (AVS) - adultos e adolescentes - e seus familiares – pois reconhecemos a importância de se criar serviços de atendimento às pessoas que cometem crimes sexuais.

Nos processos de intervenção do Proinvert houve a realização de oficinas de redu-ção de danos com adolescentes em situaredu-ção de exploraredu-ção sexual comercial infanto-juvenil voltadas para as questões de violência e prevenção às DSTs/Aids. Houve também a realização de oficinas em escolas da Rede Pública Estadual focadas na questão da sexualidade, explo-ração sexual infanto-juvenil e prevenção ao tráfico para fins de exploexplo-ração sexual. Ao todo foram realizadas 30 oficinas em diversas escolas com a participação de 833 alunos.

Na intenção de estabelecer parcerias houve uma articulação junto aos CREAS para atuação conjunta na abordagem de crianças e adolescentes em situação de exploração sexual comercial. Firmada as parecerias avaliamos a necessidade em se realizar um curso intensivo com os profissionais que compõem os CREAS, a fim de se trabalhar quais os procedimentos metodológicos deveriam ser aplicados no processo de abordagem com crianças e adolescentes nas rotas, tendo como parâmetro a experiência do Proinvert em etapas anteriores.

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O processo de abordagem de crianças e adolescentes foi implementado tendo como referência a metodologia empregada pelo projeto em etapas anteriores (ano de 2004 a 2006) sendo elas: 1° levantamento dos pontos – realizadas reuniões de trabalho para a confecção de uma lista com base no banco de dados dos pontos de exploração sexual, com os quais houve processo de abordagem na fase anterior do projeto, servindo de ponto de partida para as rotas. Estes foram divididos por modalidades, assim divididas: casas fechadas (prostíbulos), ruas e espaços abertos (ruas, avenidas, parques, terminais de transporte coletivo, feiras livres e bares identificados como pontos que favorecem a atividade da exploração sexual), postos e rodovias (postos de combustível localizados as margens das rodovias que dão acesso a Goiânia). 2° ob-servação dos pontos – processo de checagem e obob-servação dos pontos a fim de verificar a sua existência, bem como dinâmicas de funcionamento (dias e horários com maior movimento, etc.). 3° abordagem – processo de abordagem em diferentes pontos com o objetivo de sen-sibilizar crianças e adolescentes para questões referentes aos seus direitos, redução de danos (prevenção as DST/Aids por meio entrega de preservativos), e referenciamento para a Rede de Atenção, encaminhamento aos CREAS.

Ao todo foram abordados 82 pontos subdivididos nas seguintes modalidades: Ruas e espaços abertos – 65 pontos; Postos e Rodovias – 12 pontos; Casas fechadas – 05 pon-tos. Foram realizadas 266 abordagens comtemplando as seguintes categorias (profissionais do sexo adultas, adolescentes em situação de exploração sexual, clientes da prostituição, comer-ciantes, feirantes, funcionários de escolas, funcionários dos terminais de transporte coletivo e policiais).

A consolidação das ações do Proinvert em sua nova etapa (2011 a 2012) resultou na publicação de dois guias metodológicos que constituem em um material de referência em âmbito regional e nacional, sendo eles: Guia metodológico: para a busca ativa de crianças e adolescentes em situação de exploração sexual comercial. Goiânia: Gráfica e Editora América, 2014; e Guia metodológico: para o atendimento psicossocial aos adolescentes em situação de exploração sexual comercial. Goiânia: Gráfica e Editora América, 2014. Ambos tratam de produções com o mesmo construto teórico-reflexivo e possuem o mesmo propósito informa-tivo-metodológico. O intuito é que as experiências e reflexões contidas, nesses guias, possam servir como um norteador para aqueles que se dedicam ao árduo e complexo trabalho com adolescentes em situação de exploração sexual comercial.

Considerações finais

Por meio das ações desenvolvidas pelo Proinvert, no decorrer de sua atuação, detec-tamos algumas ações que devem ser implantadas, entre elas: pesquisas que busquem conhecer as demandas dos adolescentes inseridos exploração sexual comercial; capacitação dos técnicos das unidades da Assistência Social (CREAS) e de saúde para um atendimento especializado e, principalmente, atendimento menos tecnicista e mais humanizado. Em verdade, espera-se que haja apenas a implementação das diretrizes do Plano Nacional de Enfrentamento da Vio-lência Sexual Infanto-Juvenil. No eixo atendimento, o plano busca, em linhas gerais, efetuar e garantir o atendimento especializado e em rede às crianças e adolescentes em situação de violência sexual, assim como às suas famílias, por profissionais capacitados.

Embora o propósito de implantar uma metodologia de trabalho com crianças e adolescentes em situação de exploração sexual nas unidades que compõem a rede por

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ve-zes seja prejudicado pela mudança de administração municipal e pelos limites temporais do Proinvert, avalia-se que o projeto deu um passo adiante nesse sentido. Mesmo que os objetivos referentes à implementação dessa metodologia em Goiânia ainda não tenham sido concretizados – pelo menos como política pública ou como diretriz –, ao problematizar a questão do atendimento, capacitar as equipes e iniciar o esboço metodológico do atendimen-to especializado, o Proinvert contribuiu para agregar ao capital social das políticas públicas a especificidade da atenção às crianças e aos adolescentes em situação de exploração sexual.

O Proinvert em virtude de sua trajetória nos últimos anos tornou-se uma refe-rência regional e nacional no trabalho de intervenção com a exploração sexual comercial infanto-juvenil. Nosso legado talvez esteja na sistematização de metodologias, afinal essa sempre foi nossa proposta, criar, registrar e sistematizar a experiência vivenciada.

PROJECT REVERSING THE ROUTE: A HISTORY OF INTERVENTIONS FOR COMMERCIAL SEXUAL EXPLOITATION IN CHILDREN’S IN GOIÁS

Abstract: in a dimension of coping of juvenile commercial sexual exploitation in Goiás state, PUC GO, through Project Reversing Route (Proinvert), plays an important role in the re-gional scene, becoming the first institution to implement a project action research directed exclusively to this topic. Besides contributing to the systematization of an intervention me-thodology with the issue in its various aspects, the project actions have become the benchma-rk across the country. In this context, this article aims to trace the trajectory of Proinvert the last years in the state of Goiás.

Keywords: Sexual exploitation commercial. Children. Adolescents. Notas

1 Programa permanente vinculado ao Instituto Dom Fernando (IDF), que articula ensino, pes-quisa e extensão a serviço de um projeto político e pedagógico de construção da cidadania e de justiça social, bem como promove ações com crianças, adolescentes e suas famílias cujos direitos encontram-se ameaçados e/ou violados.

2 A Região Metropolitana de Goiânia, denominada também por Grande Goiânia, é uma conurba-ção de cidades ao redor de Goiânia que engloba treze municípios. É a região mais expressiva do estado de Goiás, contendo cerca de 35% de sua população total.

3 O termo educação social, mais precisamente, a educação social de rua, é uma prática há décadas empregada nas intervenções com crianças e adolescentes em situação de rua no país. Por meio de uma perspectiva educativa e do trabalho social, o educador social realiza uma intervenção junto à população-alvo com uma ação sóciopedagógica que impulsione a conscientização dos indivíduos, motivando-os a participarem ativamente para o seu próprio desenvolvimento. As rotas foi o termo utilizado para se referir ao mapeamento dos pontos de exploração sexual comercial infanto-juvenil em Goiânia e região metropolitana. O termo alude ao emprego utilizado em pesquisas com o tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual, nas quais comumente encontramos a expressão Rotas do Tráfico.

4 Mais sobre o assunto, ver SANTOS; ARAÚJO, 2009.

5 O Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, integrante do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, constitui-se numa unidade pública estatal, polo de referência, co-ordenador e articulador da proteção social especial de média complexidade. Os CREAS prestam

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atendimento prioritário as crianças, adolescentes e suas famílias nas seguintes situações: crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual; violência doméstica (violência física, psicológica, sexual, negligência); em situação de mendicância; adolescentes em cumprimento de medida socioe-ducativa de liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade; dentre outros.

Referências

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