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Democracia e constituição no Ocidente / Democracy and constitution in the West

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.62021-62030 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Democracia e constituição no Ocidente

Democracy and constitution in the West

DOI:10.34117/bjdv6n8-577

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:26/08/2020

Rafael Cantelle Moreira

Graduando em Direito pelo Centro Universitário Santa Amélia - UniSecal Endereço (UniSecal): Rua Ernesto Vilela, 61 - Centro, Ponta Grossa - PR, 84010-460

E-mail: rafaelcantellemoreira@hotmail.com

Pedro Fauth Manhães Miranda

Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina - UEL Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR

Professor do Centro Universitário Santa Amélia - UniSecal

Endereço (UniSecal): Rua Ernesto Vilela, 61 - Centro, Ponta Grossa - PR, 84010-460 E-mail: pedromiranda.adv@gmail.com

Paula Fauth Manhães Miranda

Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG Especialista em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná - EMAP Especialista em Direito Processual Penal pela Universidade Anhanguera - UNIDERP Endereço (UEPG): Praça Santos Andrade, 01 - Centro, Ponta Grossa - PR, 84010-330

E-mail: paulafauth@gmail.com

Méris Nelita Fauth Bertin

Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Londrina - UEL Mestra em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG

Endereço (UEPG): Praça Santos Andrade, 01 - Centro, Ponta Grossa - PR, 84010-330 E-mail: merisnelita@yahoo.com.br

RESUMO

Este trabalho busca verificar o tratamento histórico dispensado à democracia nas constituições do Ocidente. Para tanto, será realizada uma pesquisa explicativa, principalmente de cunho bibliográfico, via método histórico, comparando alguns pontos das Constituições ocidentais ao longo do tempo, em especial como elas evoluíram na garantia dos direitos fundamentais, tão necessários à concretização do regime democrático. Os resultados indicam que o desenvolvimento histórico conferiu direitos de liberdade, igualdade e, mais recentemente, um teor principiológico às constituições ocidentais, valorizando a dignidade da pessoa humana e inserindo no consciente dos povos a necessidade de melhor controlar o poder do Estado.

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ABSTRACT

This work seeks to verify the historical treatment of democracy in the constitutions of the West. For this purpose, an explanatory research, mainly of a bibliographic nature, will be carried out, using the historical method, comparing some points of the Western Constitutions over time, in particular how they evolved in guaranteeing fundamental rights, so necessary for the concretization of the democratic regime. The results indicate that historical development has conferred rights of freedom, equality and, more recently, a principled content to Western constitutions, valuing the dignity of the human person and inserting in the peoples' conscience the need to better control the power of the State.

Keywords: Constitution, Democracy, West, History. 1 INTRODUÇÃO

É sabido que, ao longo da História, as civilizações desenvolveram diversos meios de se organizarem, sendo o Direito – seja ele de origem natural, divina ou humana – uma das ferramentas para atingir esse fim. Para Hans Kelsen (2000) o Direito é um conjunto de normas que rege a conduta do ser humano no meio em que este se encontra. De acordo com Norberto Bobbio (2014), que desenvolve a noção kelseniana, há muitos ordenamentos, porque existem muitas nações, que tendem a exprimir, cada qual numa ordem unitária, a sua personalidade histórica.

A partir da modernidade e suas revoluções liberais, o regedor da sociedade ocidental passa a ser, ao menos no campo jurídico, o direito constitucional. Neste sentido, entende-se que o direito visa regular o convívio social, através do ordenamento jurídico, que, por sua vez, tem sua delimitação realizada pela Constituição. É a concretização da tão conhecida pirâmide hierárquica kelseniana.

A noção de ordem jurídica reúne a ideia de ordem e de Direito. A sua causa material se compõe da pluralidade de leis, decretos e outras formas de expressão do Direito. A ordem jurídica não consiste na soma deste conjunto, mas na harmonia e no encadeamento lógico de normas contidas nessas fontes. A definição da ordem jurídica é tarefa ao alcance apenas dos verdadeiros juristas, que desconsideram as normas colidentes entre si, as violadoras da Lei Maior, as incompatíveis com a teleologia dos institutos. A ordem jurídica contém uma única voz de comando; uma plena coerência na diversidade dos assuntos regulados. (NADER, 2018, p.49)

Depreende-se das ideias acima que o Direito é uma ferramenta de organização social, e ele próprio tributa sua estruturação à respectiva Lei Maior. Considerando-se que cada sociedade possui uma forma de se estabelecer, nota-se a possibilidade de diversas Constituições – e, portanto, dos mais diferentes ordenamentos jurídicos, cada qual formulando regras e normas específicas para a convivência pacífica segundo os valores ali compartilhados.

Verificada a importância do Direito, em especial do seu ramo Constitucional, como regulador das relações sociais, é importante verificar de que modo, mesmo a partir de conjunturas

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históricas e culturais diversas, o Ocidente em geral acaba se voltando para o objetivo compartilhado de buscar a democratização de seus regimes políticos. Para tanto, realizar-se-á uma pesquisa bibliográfica, guiada pelo método histórico, de modo a verificar o tratamento dispensado ao desenvolvimento da democracia, e aos direitos correlatos, nas constituições ocidentais.

Neste sentido, a relevância da presente pesquisa se encontra na sua proposta de esclarecer como a lei mais importante de um ordenamento – a Constituição – estabelece as bases para tão almejado regime governamental. A solução para esse desiderato será essencialmente teórica, abarcando a visão de constitucionalistas e outros escritores a respeito do tema.

2 OBJETIVOS

O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar, historicamente, como o constitucionalismo se associou à democracia.

Diante disso, os objetivos específicos do presente texto se desdobram nos seguintes: verificar o desenvolvimento histórico das constituições ocidentais; reconhecer a correlação mutuamente influente entre desenvolvimento constitucional e democratização do regime político no Ocidente; e concluir pelo necessário aprofundamento desta relação mutuamente benéfica, direcionada pelo princípio da dignidade da pessoa humana.

3 MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA:

Este trabalho foi elaborado via pesquisa explicativa e método histórico, buscando explanar as características democráticas básicas abarcadas pelos textos constitucionais do ocidente, e de que modo se deu esse fenômeno. Para sua efetivação, foi utilizada bibliografia especializada a respeito do tema. Lakatos e Marconi explicam a necessidade de se realizar estudos – inclusive, jurídicos – associando-os à História:

Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para urna melhor compreensão do papel que atualrnente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.161)

O caráter explicativo da pesquisa, por outro lado, se caracteriza pelo fato de este ser um assunto com dois objetos de análise – constituição e democracia –, de modo que a conexão entre ambos será aclarada bibliograficamente, para uma melhor compreensão de como eles se desenvolveram mutuamente ao longo da História Ocidental. “Dessa forma, a pesquisa bibliográfica

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não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.183). É neste sentido que os autores que trataram de um ou outro tópico da presente pesquisa auxiliam na construção interligada destes conceitos.

4 RESULTADOS

Batalhas, revoluções e movimentos sociais – de caráter violento ou pacífico, nacional ou local, de grupos organizados ou espontâneos – pavimentaram a História, ao buscarem mais direitos à população, e, por fim, fazerem nascer a própria democracia nos Estados, dando aos oprimidos a possibilidade – nem sempre concretizada, é verdade – de ter voz.

O ocidente é marcado por inúmeras destas batalhas históricas, dentre as quais é comumente citada a Revolução Francesa (1789), que reverbera seus efeitos ainda hoje, sendo protótipo de resistência ao opressor – e também um aviso sobre os reflexos do exercício impensado do poder, inclusive por aqueles que antes eram oprimidos e depois ascendem ao Governo. A conclusão é de que o poder absoluto deve ser evitado, pois, caso não o seja, a História mostra que há de se voltar contra o próprio povo, e com ferocidade desproporcional aos mais vulneráveis.

Contudo, antes mesmo de iniciada a Revolução Francesa, outros movimentos já haviam se desenhado no Ocidente com propósitos semelhantes, construindo o movimento liberal a partir dos séculos XVII e XVIII, iniciando-se pela Revolução Gloriosa (1688) e pela Independência dos EUA (1776), conjuntura que, posteriormente, culminaria na citada Revolução Francesa. Exigindo mais liberdade aos cidadãos e maior restrição ao Estado absoluto, surge, como consequência, o movimento constitucionalista.

A origem da expressão Direito Constitucional, consagrada há cerca de um século, prende-se ao triunfo político e doutrinário de alguns princípios ideológicos na organização do Estado moderno. Impuseram-se tais princípios desde a Revolução Francesa, entrando a inspirar as formas políticas do chamado Estado liberal, Estado de Direito ou Estado constitucional.

Consubstanciava-se numa ideia fundamental: a limitação da autoridade governativa. Tal limitação se lograria tecnicamente mediante a separação de poderes (as funções legislativas, executivas e judiciárias atribuídas a órgãos distintos) e declaração de direitos. (BONAVIDES, 2019, p.34)

É de se observar que as Constituições surgidas neste período, apesar de disporem sobre direitos fundamentais, o faziam sob uma ótica de igualdade meramente formal, influenciadas pela contradição da época, que buscava direitos de liberdade para poucos enquanto mantinha a prática da escravidão e a submissão feminina ao patriarcado. Quase concomitantemente, surgem três

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documentos jurídicos que seguem tal ideologia à risca, quais sejam: a Constituição EUA (1787); a Declaração Direitos do Homem e do Cidadão (1789); e a Constituição da França (1791). O ano de 1791 também é palco da Declaração dos Direitos dos Estados Unidos, que trouxe dez emendas à Constituição, inclusive a primeira que dispunha:

EMENDA I. O Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos; ou cerceando a liberdade de palavra, ou de imprensa, ou o direito do povo de se reunir pacificamente, e de dirigir ao Governo petições para a reparação de seus agravos.

Denota-se que o movimento constitucional teve como um de seus principais objetivos cercar de limites os poderes imoderados, ainda que protegendo apenas certas parcelas da população e deixando minorias à mercê de um Estado pouco protetivo. O direito ao voto é garantido, mas apenas a homens brancos proprietários ou pagadores de impostos, o que totalizava apenas cerca de 6% da população. Desta forma, a democracia constitucional no Ocidente é fundada sob uma liberdade para poucos e uma igualdade formal, ou seja, pouco democrática segundo os padrões atuais.

Com a abolição da escravidão (1863) nos Estados Unidos da América, a democracia se constitui, tal qual definiu Abraham Lincoln, no “governo do povo, pelo povo e para o povo”, mesmo que o conceito de povo, que excluía mulheres, ainda fosse consideravelmente restrito. Não obstante, a ideia por mais igualdade – e, mais ainda, dignidade humana – é melhor desenvolvida por meio de outros marcos históricos, como o Manifesto do Partido Comunista (1848); a Encíclica Rerum Novarum (1891); e a Revolução Russa (1917). Tais acontecimentos fundamentaram conceitos que seriam positivados nas constituições do início do século XX, especialmente os direitos sociais, culturais e econômicos, conforme lembra o constitucionalista André Ramos Tavares.

Foram, assim, proclamados pela primeira vez na Constituição Mexicana de 1917, que nacionalizou todas as riquezas naturais e encarregou o Estado da responsabilidade social de garantir uma existência digna a cada um de seus cidadãos. Foi, contudo, a Constituição de Weimar [1919] que contribuiu para popularizar e estender os direitos sociais, sendo seu catálogo de Direitos Fundamentais “una curiosa mezcla entre un colectivismo moderno y

un liberalismo clásico” (Karl Loewenstein, Teoría de la Constitución, p. 401). (TAVARES,

2012, p.502)

Enquanto o texto mexicano garantia fixação de um salário mínimo, proteção conferida aos ambientes de trabalho periculosos ou insalubres, à participação nos lucros das empresas, à proteção à trabalhadora gestante, o alemão dispunha sobre função social da propriedade, previdência social e participação de trabalhadores em Conselhos Operários (PINHEIRO, 2006). Neste momento, concretiza-se a segunda onda do constitucionalismo ocidental, de caráter mais social – e, portanto, mais afeita à noção atual de democracia. Nasce a ideia de uma igualdade material, segundo a qual

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as minorias (não necessariamente em função do critério quantitativo, mas pela sua condição de menor poder político, econômico e social) devem ter sua realidade considerada, garantindo-lhe direitos diferenciados.

Ao resguardar direitos às minorias – trabalhadores, pretos, mulheres, crianças, deficientes, etc. –, a igualdade passa a se concretizar como um direito subjetivo. Transposta para o regime democrático, essa ideia significa que, em um governo, há que se garantir espaço à opinião, ao pensamento e à vontade diversa da maioria, respeitando o diferente. Não por coincidência, é neste período histórico que o sufrágio universal começa a ser implementado, consolidando-se no pós-segunda guerra mundial.

Ressalta Barroso (2016) que o princípio da dignidade humana ganha maiores proporções exatamente depois de 1945, aparecendo em textos internacionais e nas constituições domésticas. Afirma, ainda, que a dignidade da pessoa humana como princípio jurídico, consolidou-se, de fato, na Alemanha pós-nazista, em sua Lei Fundamental de 1949, a qual salientava ser este princípio inviolável e que respeitá-lo e protegê-lo seria dever de toda a autoridade estatal.

É possível perceber o esforço alemão de tentar amenizar as atrocidades causadas pela política até então dominante. Em outras palavras, o conflito bélico mundial sem precedentes que foi a 2ª Guerra Mundial fez nascer novos paradigmas na História Ocidental, em especial na valorização da democracia, regime político que se torna praticamente hegemônico no Ocidente. Em termos de teoria jurídica, denomina-se esta nova fase de neoconstitucionalismo, na qual a Lei Maior é influenciada pelo pós-positivismo, reaproximando o Direito da Ética, encampando valores subjetivos aos ordenamentos jurídicos.

Os “valores superiores” são os vetores axiológicos fundamentais que o Estado pretende implementar por meio da ordem jurídica. Segundo Peces-Barba, os valores superiores são “o fundamento e a meta, o fim do Direito, que o legislador constituinte, expressão da soberania, propõe a si”.

A Constituição torna-se, pois, a base na qual se encontra uma ordem inafastável de valores estatais. Por isso, tais valores são o “núcleo básico e informador de todo el sistema

jurídico-político”. (TAVARES, 2012, p.138)

Por certo que esta valoração jurídica, por meio de princípios constitucionais como a cidadania, a solidariedade, a defesa da paz, o pluralismo político, além da citada dignidade humana, dentre outros vários possíveis, também influenciou o regime político da democracia. Novas pautas são incorporadas a um Estado que pretende se qualificar como democrático, de modo que, a partir de então, não basta a um país se colocar apenas favoravelmente à liberdade e à igualdade, mesmo a material. A defesa dos citados princípios, bem como dos direitos de fraternidade (de terceira dimensão) tornam-se bandeiras democráticas obrigatórias.

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No Brasil, a pavimentação para a democracia também tem seus percalços, tendo sido oprimida de forma veemente, principalmente em dois momentos críticos: durante o Estado Novo e a Ditadura Militar. De acordo com José Afonso da Silva (2018), nos referidos períodos, as constituições não eram democráticas, mas tão somente satisfaziam aos interesses dos ditadores. Felizmente, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe a normalização da democracia, sendo chamada, também, de Constituição Cidadã, porque teve ampla participação popular em sua elaboração e especialmente porque se voltou para a realização da cidadania.

Em contrapartida, não é possível tecer apenas considerações positivas sobre a abordagem democrática pelo texto de 1988, devendo-se admitir “[...] que no Brasil, apesar de vivermos sob uma constituição que se denomina Cidadã, não se conferem amplos direitos de participação democrática, a qual restringe-se, muitas vezes, ao voto a cada 2 anos” (BEZERRA JÚNIOR, 2020, p.44896). Assim, muitos problemas ainda se colocam diante do desenvolvimento constitucional hodierno.

O constitucionalismo democrático, ao final da primeira década do século XXI, ainda se debate com as complexidades da conciliação entre soberania popular e direitos fundamentais. Entre governo da maioria e vida digna e em liberdade para todos, em um ambiente de justiça, pluralismo e diversidade. Este continua a ser, ainda, um bom projeto para o milênio (BARROSO, 2018, p.40).

Verifica-se que é exatamente na dicotomia apontada por Barroso, entre soberania popular e direitos fundamentais, que o constitucionalismo atual avança, em especial na América Latina, com a noção de plurinacionalidade estatal. Ao reconhecer o Estado como proveniente de múltiplas nacionalidades, as Constituições do Equador (2008) e da Bolívia (2009) avançam para além da ideia de Estado-nação, inaugurando os Estados Plurinacionais no movimento constitucional do Ocidente, de modo a “democratizar ainda mais a democracia”.

Em outras palavras, o constitucionalismo está longe de chegar ao “fim da história”, particularmente no que tange às melhorias que a democracia ocidental necessita e como as constituições correspondentes podem ajudar neste processo.

5 DISCUSSÃO

A discussão presentemente proposta se coloca no desenvolvimento histórico ocidental entre o constitucionalismo e a democracia, de modo a verificar como ambos se complementam. Não obstante ser o constitucionalismo um movimento que restringe a atuação dos poderes – inclusive da soberania popular, ao regular os modos de sua concretização –, salienta-se, igualmente, que as

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Constituições garantem direitos, necessários à consolidação da democracia enquanto regime político.

Neste sentido, interessante observar como, ao longo da História Ocidental, novos direitos foram sendo incorporados às constituições, alterando a própria democracia resguardada por estas Leis Maiores. Os resultados históricos permitem constatar que é preciso fazer do binômio constitucionalismo-democracia, apesar de suas tensões inerentes, algo que promova o desenvolvimento a ambas as esferas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, considera-se que a Constituição pode ser um instrumento favorável à democracia, desde que disposta a resguardar direitos para a universalidade da população, ao invés de somente uma parcela – em termos históricos gerais, já econômica e politicamente mais favorecida. Não significa, porém, que as primeiras Constituições ocidentais não tenham sido fundamentais no desenvolvimento histórico da democracia, mas é fato que, diante do seu caráter igualitário meramente formal, são hoje consideradas pouco democráticas, em face da própria evolução do conceito deste regime político.

Sem dúvida que, concernentemente à democracia, esta ganhou muito com o fortalecimento do movimento constitucional na segunda metade do século XX, tendo em vista a valorização da dignidade da pessoa humana, a qual, é possível dizer, consolidou regimes democráticos no ocidente através de um forte controle da atuação estatal. Mas também é igualmente possível considerar a existência de um abismo inegável entre os enunciados normativos, mesmo constitucionais, e a realidade fática, haja visto desumanidades constantes no ocidente, desde o nazismo até, atualmente, a segregação de cidadãos nas favelas e comunidades sem qualquer presença social do Estado, apesar de excessivas concretizações de sua violência “legítima”.

Quanto ao aprofundamento da pesquisa, denota-se importante realiza-lo, porquanto parciais os dados demonstrados, haja vista o grande debate em torno do tema. É preciso registrar que, relativamente à problemática da pesquisa, observou-se que o tratamento dispensado à democracia nas constituições ocidentais foi, em regra e de forma perfunctória, desenvolvido positivamente ao longo do tempo. Houve significativo avanço no modo com que o Estado se relaciona com seus cidadãos, valorizando a maioria, mas respeitando as minorias – ao menos, segundo a literalidade do texto constitucional. Ademais, limitou-se notadamente o poder estatal, submetendo-o ao ordenamento jurídico, o que concretizou o denominado Estado Democrático de Direito.

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Diante do exposto, a História se mostra como instrumento essencial não apenas para iluminar o passado, mas também para, a partir de suas considerações, vislumbrar um futuro mais democrático o qual, segundo Boaventura de Sousa Santos (2003, p.56), reconheça a “necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”. Que o constitucionalismo do século XXI permita à democracia se desenvolver do modo mais respeitoso possível ao princípio da dignidade humana, e que esta, por sua vez, propicie um terreno fértil e novos caminhos às vindouras constituições.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luis Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial; tradução Humberto Laport de Mello. Belo Horizonte: Fórum, 2016.

BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 7 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução de Ari Marcelo Solon. 2.ed. São Paulo: EDIPRO, 2014

BEZERRA JÚNIOR, Waldir Navarro. Expansão democrática pelas redes sociais: uma visão das eleições de 2018. Brazilian Journal of Development. Curitiba, v.6, n.7, p. 44889-44903 jul.2020. Disponível em: www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/12914/10935 Acesso em 20 agosto de 2020.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 34.ed. São Paulo: Malheiros, 2019.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.

KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. Tradução Luís Carlos Borges. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

PINHEIRO, Maria Cláudia Bucchianeri. A Constituição de Weimar e os direitos fundamentais sociais. A preponderância da Constituição da República Alemã de 1919 na inauguração do constitucionalismo social à luz da Constituição Mexicana de 1917. Revista de Informação Legislativa. Brasília. 43 n. 169 jan./mar. 2006.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

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SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 41.ed. São Paulo: Malheiros, 2018.

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