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Adolescentes em situação de abortamento: perfil sociodemográfico e obstétrico / Adolescents in abortion situation: sociodemographic and obstetric profile

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 50929-50937, jul. 2020. ISSN 2525-8761

Adolescentes em situação de abortamento: perfil sociodemográfico e obstétrico

Adolescents in abortion situation: sociodemographic and obstetric profile

DOI:10.34117/bjdv6n7-657

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 24/07/2020

Cynthia Dantas Vicente

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: cynthiadantas@outlook.com

Raíssa Soares dos Anjos

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: raissa_soares@hotmail.com

Maria Eduarda Bandim da Silva

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: eduarda_bandim@hotmail.com

Duana Gabrielle de Lemos Costa

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: duana_gabrielle@hotmail.com

Renato Daniel Melo da Silva

Enfermeiro obstetra- SESAU-Recife/IMIP Instituição: Hospital Regional de Palmares-PE

Endereço: Engenho Quilombo dos Palmares, Palmares-PE 555.540-000 E-mail: renat_daniel@hotmail.com

Laís Lavínia Cruz Soares

Mestranda do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: lais_vinyah@hotmail.com

Fabiana de Godoy

Docente do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: fabiana.godoy10@upe.br

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Viviane Colares

Docente do Programa de Pós Graduação em Hebiatria Instituição: Universidade de Pernambuco (UPE)

Endereço: R. Arnóbio Marquês, 310 - Santo Amaro, Recife - PE, 50100-130 E-mail: viviane.colares@upe.br

RESUMO

Esta revisão integrativa teve como objetivo avaliar o perfil sociodemográfico e obstétrico das adolescentes em situação de abortamento. Os artigos foram publicados em um período de 10 anos e ao final da busca foram selecionados cinco artigos. O presente trabalho indica que a maioria dos abortos foram provocados, oriundos de gravidez indesejada e na maioria dos casos o ato foi realizado de forma insegura. Por conseguinte, intercorrências e complicações tem mais chance de ocorrer assim colocando em risco a vida da adolescente e aumentando os custos do sistema de saúde.

Palavras-chave: Abortamento, Aborto, Adolescente, Assistência à saúde. ABSTRACT

This integrative review aimed to assess the sociodemographic and obstetric profile of adolescents undergoing abortion. The articles were published over a period of 10 years and at the end of the search, five articles were selected. The present study indicates that most abortions were caused by unwanted pregnancies and in most cases the act was performed unsafe. Consequently, complications and complications are more likely to occur thus putting the adolescent's life at risk and increasing the costs of the health system.

Keywords: Abortion, Adolescent, Delivery of health care. 1 INTRODUÇÃO

A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde pública, tendo em vista o risco gestacional, além de acarretar consequências psicológicas, sociais e econômicas1. Também pode ser um indicador de violência o que inviabiliza ainda mais oportunidades de um futuro melhor a essa população1,2.

O Ministério da Saúde conceitua como abortamento quando a interrupção da gestação se dá antes das 22 semanas. É considerado precoce quando ocorrido antes de 13 semanas e tardio entre 13 e 22 semanas. Quanto ao tipo, o aborto pode ser espontâneo, o qual ocorre de forma natural, ou provocado/ induzido3,4.

Em 2006, estimou-se que cerca de 80 milhões de mulheres no mundo possuíam uma gravidez não desejada, sendo que 60% dessas gestações resultaram em aborto5. No Brasil, uma em cada nove recorre ao ato como meio solucionar a gestação não planejada6 e cerca de 750 mil a 1,5 milhões de abortamentos clandestinos ou inseguros são realizados por ano7.

Cerca de 31% das gestações que ocorrem nas idades entre 15 a 49 anos tem o aborto como desfecho. Esses fatos são alarmantes, tendo em vista que 20 a 50% das gestantes necessitam de

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internamento em decorrência de complicações. O aborto é a 4º causa de mortalidade materna no país e entre todas as mulheres que evoluem para óbito, 17% são adolescentes entre 10 a 192,8,9.

A prevalência de aborto na população adolescente pode ser justificada pelo início precoce da vida sexual, juntamente com o fato de que em países em desenvolvimento as necessidades de contracepção e acesso a informações educacionais para a população adolescente ainda são falhas10,11. Entretanto, o Ministério da Saúde (2005)8 lançou o Manual de Normas Técnicas visando atendimento humanizado e qualificado ao abortamento nos hospitais públicos do Sistema Único de Saúde o qual foi um marco extremamente importante não apenas no que cerne a violência doméstica, sobretudo ao estupro ocorrido nesse ambiente, que não raro causa gestações incestuosas, acarretando traumas permanentes na vida de crianças e adolescentes.

De acordo com o código penal brasileiro, o aborto provocado é considerado crime. O procedimento é legalizado apenas em situações onde a gravidez foi proveniente de estupro, quando não há outro meio de salvar a vida da gestante ou nos casos de anencefalia. Dessa forma, mulheres as quais provocam o aborto preferem omitir esse dado. Isto dificulta a identificação precoce desses casos, e acomete complicações provenientes de métodos inseguros para o aborto. Contudo, outros países, como os Estados Unidos, possuem leis mais liberais em relação ao aborto provocado, assim o procedimento é realizado de forma segura em instalações hospitalares12,13.

Tendo em vista o exposto, o presente estudo tem como objetivo revisar a litetarura científica acerca das caracteristicas sociodemográficas e obstétricas do abortamento entre adolescentes.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de responder à pergunta condutora: “Qual o perfil sociodemográfico e obstétrico das adolescentes em situação de abortamento?”. O levantamento bibliográfico foi realizado através do acesso online Pubmed (Medical

Literature Analysis and Retrieval System on-line) e LILACS. Para a estratégia de pesquisa, foi

realizada a busca dos descritores: “Aborto”, “Abortamento”, “Assistência à saúde” e “Adolescente” (Figura 1). Fez-se a interseção entre os descritores com OR entre “Aborto” e “Abortamento”, e o algarismo booleano AND entre as demais equações de busca. Utilizaram-se as bases de dados

PUBMED e LILACS; sem limites de idioma; entre os anos de 2010 a 2019. Os critérios de inclusão

englobaram: estudos transversais, casos-controle, coortes, ensaios clínicos e experimentais que abordavam especificamente o tema; idade dos indivíduos do estudo entre 10 a 24 anos; abordassem as características sociodemográficas do abortamento. Por outro lado, foram excluídos artigos que: não responderam a pergunta condutora e fora da faixa etária.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 50929-50937, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Fluxograma 1 – Estudos incluídos na revisão de literatura.

Fonte: autoria própria.

3 RESULTADOS

Tendo em vista o objeto de estudo, as amostras se detiveram a população feminina. Os estudos estavam indexados nas bases de dados LILACS (n:3; 60%) e PUBMED (n:2; 40%). Todos os estudos tinham um desenho metodológico transversal e foram publicados nos seguintes anos: 2019 (n:1; 20%), 2014 (n:1; 20%), 2012 (n:1; 20%); e 2010 (n: 2; 40%). Os artigos selecionados totalizaram uma amostra de 936 participantes. O tamanho amostral dos estudos apresentou diversidade, variou de 30 até 311 sujeitos. A idade dos pesquisados variou entre 10 a 19 anos (Tabela 1).

Filtros: ano de publicação (2010-2019)

(n=16)

Após remover artigos duplicados (n= 53)

Leitura do artigo completo aplicando os critérios de exclusão

(n=5) ID E N T IF ICA ÇÃ O E L E G IB IL ID A D E  37 não respondeu a pergunta condutora LILACS PUBMED  6 Fora da faixa etária  5 Não responde a pergunta condutora Filtros: ano de publicação (2010-2019) (n=16) PUBMED IN CL U S Ã O S E L E ÇÃ O 5 artigos incluídos Artigos excluídos após leitura de

títulos e resumos (n=16)

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Dos cinco artigos encontrados quatro foram realizados no Brasil, sendo três na cidade de Maceió-AL e um em São Paulo-SP, apenas um artigo foi encontrado em outro país, em Chicago-EUA. Vale ressaltar que os três artigos encontrados realizados na Cidade de Maceió, faziam parte do mesmo estudo, porém se detiveram a focos diferentes no que tange a temática (Tabela 1).

Tabela 1. Dados gerais da amostra.

Em relação a raça (Tabela 2) 100% dos artigos apontaram que a prática do abortamento é mais comum entre adolescentes autodeclaradas como não brancas, com idade entre 14 e 19 anos. Três (60%) artigos investigaram o estado civil, e identificaram que 64,1% das adolescentes possuíam parceiro fixo. Dois artigos (40%) averiguaram religião, sendo que mais de 70% dos adolescentes possuíam religião. Apenas um artigo se atentou a companhia domiciliar do adolescente, mostrando que 46,7% das adolescentes que praticam aborto moravam apenas com a mãe.

Tabela 2. Distribuição dos estudos quanto à raça, idade, estado civil, religião e companhia domiciliar. 1 Autor, Ano Raça Idade (anos) Estado Civil Religião Companhia domiciliar Chaves et al., 2010 Não branca (64,2%) 15-19 (59,2%) Com parceiro: 64,1% - - Chaves et al., 2012 (a) Não branca (64,2%) 15-19 (59,2%) Com parceiro: 64,1% - - Chaves et al., 2012 (b) Não branca (64,2%) 15-19 (59,2%) Com parceiro: 64,1% - - Hasselbacher et al., 2014 Afro-americana (70,0%) 16-17 (80,0%)

- Sim (73,3%) Apenas a mãe

(46,7%) Bessa et al., 2019 Não branca (52,7%) 16 (estupro), 14 (incesto) - Sim: 84,6% -

Quanto aos dados obstétricos das adolescentes, em três estudos (60%) identificou-se que 63,6% das gestações não foram planejadas, possuíam apenas um parceiro sexual (57,2%), faziam uso

1 Autor, Ano Amostra, Idade (em anos) País, Estado Chaves et al., 2010 197, 10-19 Brasil, Alagoas Chaves et al., 2012 (a) 197, 10-19 Brasil, Alagoas Chaves et al., 2012 (b) 201, 10-19 Brasil, Alagoas Hasselbacher et al., 2014 30, 12-17 Estados Unidos, Chicago Bessa et al., 2019 311, 12-17 Brasil, São Paulo

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de algum método contraceptivo (29,9%). Em 100% dos estudos a idade gestacional em que o procedimento foi realizado, se deu com 12 ou mais semanas de gravidez, sendo um percentual de 98%-100% das interrupções gestacionais ocorridas de forma voluntária. O método mais comum foi a indução com misoprostol. Em três estudos (60%) foi possível identificar as complicações mais comuns ocorridas, entre elas tem-se: perfuração uterina e transfusão sanguínea.

Tabela 3. Distribuição dos estudos quanto planejamento da gravidez, número de parceiros, uso de anticoncepcional, idade gestacional, forma de interrupção, método abortivo e complicações.

Autor, Ano Gravidez planejada Número de parceiros Uso de anticoncepcional Idade Gestacional (semanas) Gestação interrompida voluntariament e Método abortivo Complicações Chaves et al., 2010

Não: 63,6% 1 (57,2%) Sim (29,9%) 13,2 Sim (98,0%) Indução com misoprostol (77,44%) Perfuração uterina: 1,4% Transfusão sanguínea: 4,4% Chaves et al., 2012 (a)

Não: 63,6% 1 (57,2%) Sim (29,9%) 13,2 Sim (98,0%) Indução com misoprostol (77,44%) Perfuração uterina: 1,4% Transfusão sanguínea: 4,4% Chaves et al., 2012 (b)

Não: 63,6% 1 (57,2%) Sim (29,9%) 13,2 Sim (98,0%) Indução com misoprostol (77,44%) Perfuração uterina: 1,4% Transfusão sanguínea: 4,4% Hasselbach er et al., 2014 - - - <12 (70,0%) Sim (100%) - - Bessa et al., 2019 - - - 12-22 (47,5%) Sim (100%) Aspiração manual intrauterina (45.9%) Indução com misoprostol (44.4%) - 4 DISCUSSÃO

Abordar essa temática ainda é uma tarefa difícil, tendo em vista a proibição legal do abortamento em muitos países e consequentemente a dificuldade na realização de estudos, especialmente no público adolescente. Destaca-se a relevância de se considerar a idade da gestante, grau de vulnerabilidade e o fato de as adolescentes algumas vezes serem vítimas de violência. Faz-se necessário maior reflexão para definições legais e políticas públicas.

Com relação às características sociodemográficas e obstétricas reportadas pelos autores, identificou-se que a prática foi mais recorrente entre adolescentes que se identificavam como não brancas, moravam apenas com a genitora, tinham religião, assim como um parceiro estável, sendo esta a primeira gestação14-17.

Outro ponto a ser ressaltado é o fato das adolescentes recorrerem ao abortamento como meio de evitar filhos, extinguindo a etapa preventiva como uso de métodos contraceptivos17. No que infere o conhecimento prévio acerca de métodos contraceptivos, 83,6% já haviam ouvido falar sobre o

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anticoncepcional oral e 91,2% sobre preservativo, a maioria não desejava a gravidez e não fazia uso de preservativo, embora 29,9% utilizassem contraceptivos. Este fato evidência a ineficiência dos serviços de saúde em relação ao planejamento familiar e orientação do uso correto de métodos contraceptivos entre as adolescentes14,15,18.

Com relação à idade, identificou-se que o abortamento foi mais prevalente entre adolescentes de 15 a 19 anos, sendo 16 anos a idade mais comum, não só entre as brasileiras, mas também entre americanas. Este fato pode decorrer por ser uma fase onde os adolescentes passam a ter maior autonomia, e por isso, sair de casa sozinhos e ter relações sexuais. Nessa faixa etária, os indivíduos haviam tido apenas um parceiro sexual e concidentemente também foi à época do primeiro aborto 14-17.

Quanto ao tipo de abortamento a Organização Mundial de saúde subdivide os abortamento em: (a) certamente provocado, quando a mulher admitiu tê-lo provocado, ou quando foram encontrados sinais clínicos de intervenção; (b) provavelmente provocado, quando a mulher não admitiu ter provocado o aborto, mas referiu gravidez não planejada e foram encontrados sinais de sepse ou peritonite; (c) possivelmente provocado, quando somente uma das duas condições já descritas em (b) esteve presente. Todos os outros casos de abortamento são classificados como espontâneos19.

Tendo em vista o parágrafo supracitado, em um estudo16 o local de coleta de dados foi um serviço de saúde voltado a vítimas de violência e outro foi um serviço específico para abortamento16. Por isso, 100% da amostra foi submetida ao abortamento provocado. Nos demais estudos selecionados, todos realizados na região Nordeste do Brasil, tiveram a coleta realizada em uma maternidade. A amostra foi composta por 201 adolescentes com quadro de abortamento incompleto submetidas a curetagem uterina. Verificou-se que 98% delas tiveram suas gestações interrompidas voluntariamente, sendo o tipo mais comum o “certamente provocado” (81,5%), seguido do “provavelmente provocado” (9,9%) e “possivelmente provocado” (6,4%)14,15,18.

Entre adolescentes brasileiras, houve atraso ou demora na procura de serviços de saúde, principalmente quando a gravidez se deu proveniente de estupro, sendo a idade gestacional superior a 13 semanas. Assim, o abortamento se deu de forma tardia, aumentando os riscos de intercorrências, como hemorragias e perfuração uterina, necessitando de mais recursos hospitalares, tais quais cirurgias, transfusão sanguínea, entre outros14-16. Em contraponto, nos Estados Unidos, a maior parte

dos casos ocorreram com idade gestacional inferior a 12 semanas, o que favoreceu o uso de técnicas menos invasivas e menor percentual de intercorrências. Esse fato pode ter sido influenciado por essas adolescentes terem envolvido algum responsável na decisão de abortamento, além da não proibição

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legal do procedimento no país, dessa forma, as gestantes não temem a procura por ajuda nos serviços de saúde17.

Quanto à prática, entre as que realizaram de forma insegura (possuíam no exame físico características compatíveis com abortamento provocados), grande parte fez uso de medicação para indução (misoprostol). Vale ressaltar que tal medicação é de uso exclusivo hospitalar, sendo expressamente proibido comercialização no Brasil, assim observa-se que o acesso à compra tem sido feita de forma clandestina14,15,18. Já entre aqueles que foram realizados de forma legal, o consentimento médico deu-se após relato de estupro em 55,9% dos casos e 44,1% foram decorrentes de incesto. Isto mostra a vulnerabilidade das adolescentes no tocante as relações familiares e a inexistência de políticas públicas que as dê suporte15.

5 CONCLUSÃO

Apesar dos poucos artigos sobre a temática, nota-se a prevalência do aborto provocado na adolescência decorrente de gravidez indesejada. No Brasil, o abortamento provocado é um procedimento juridicamente ilegal. Esta realidade favorece as adolescentes realizarem o ato de forma insegura e buscarem tardiamente os serviços de saúde, em suma, o ato não deixa de ocorrer. Como consequências surgem as intercorrências e complicações decorrentes desse ato. Além de comprometer a vida da gestante adolescente, gera altos custos ao sistema de saúde e aumenta as taxas de mortalidade materna. Tendo em vista o fato de as adolescentes iniciarem precocemente a vida sexual, é indispensável a assistência profissional qualificada no tocante a educação sexual e reprodutiva, quando pertinente, o abortamento, incluindo os ricos do procedimento para que assim, possam vivenciar a sexualidade com segurança. A importância de políticas públicas que visem o planejamento reprodutivo, o auto cuidado e autonomia consciente das adolescentes, se faz necessário.

REFERÊNCIAS

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Tabela 2. Distribuição dos estudos quanto à raça, idade, estado civil, religião e companhia domiciliar
Tabela 3. Distribuição dos estudos quanto planejamento da gravidez, número de parceiros, uso de anticoncepcional, idade  gestacional, forma de interrupção, método abortivo e complicações

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