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VILA DE ESTREITO, PEDREGULHO-SP: A CONSTRUÇÃO REPRODUÇÃO DE UM ESPAÇO SEGREGADO

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I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

VILA DE ESTREITO, PEDREGULHO-SP: A CONSTRUÇÃO / REPRODUÇÃO DE UM ESPAÇO SEGREGADO

Francis LIPORONE Doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia; Endereço: Rua Nordau Gonçalves de Melo, n.1420 Ap. 302 Uberlândia-MG 38408-218; e-mail: f_liporone@yahoo.com.br

Ricardo Siloto da SILVA Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana – Universidade Federal de São Carlos; Rodovia Washington Luiz (SP-310km), Km 235, Departamento de Engenharia Civil – UFSCar, São Carlos-SP 13.565-905; email:

rss@ufscar.br

INTRODUÇÃO

A Vila de Estreito foi a segunda unidade habitacional construída pela empresa estatal Furnas Centrais Elétricas S.A, respondendo a uma estratégia de mobilização e disponibilização da mão de obra necessária para a implantação e funcionamento daquela usina hidrelétrica. De caráter permanente, nesta vila foi adotada uma concepção urbanística já utilizada em outros espaços similares e que, também, foi reutilizada, posteriormente, em outros núcleos em situações semelhantes.

Furnas Centrais Elétricas S/A inaugurou sua primeira unidade em 1965 e a batizou com o mesmo nome da Empresa. Contudo, o projeto de construção da Usina de Estreito já estava em tramitação, de tal modo que o início das construções ocorreu em 1963 e sua inauguração 1969.

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FIGURA 1. Localização da Vila de Estreito

Fonte: IBGE, 2006 Adaptado de:LIPORONE, 2006.

Estreito, então, passaria ser a terceira usina com capacidade de produção superior a 100 MW, consideradas, portanto, de grande porte, a se estabelecer no Rio Grande. Ainda quanto a sua localização, tem à sua montante a usina de Peixoto, pertencente à Furnas e a jusante a hidrelétrica de Jaguara, gerenciada pela Cemig.

FIGURA 2 - Vista Aérea da Usina Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto de Carvalho – Estreito, 2005.

Autor: Adhemir B. Liporone,

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a Vila é classificada como aglomerado rural isolado, e está inserida no território municipal de Pedregulho, o qual apresenta uma população de 15.777, segundo a estimativa daquele instituto para 2009.

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fundamentais da constituição e da história da Usina e da Vila e finalizará com a descrição e análise crítica do projeto urbanístico implantado.

VILAS OPERÁRIAS: UM URBANO SINGULAR

Tomou-se como pressuposto de que estes núcleos residenciais para trabalhadores são ambientes urbanos, já que para tal caracterização independe de sua localização, pois, se estiverem nas imediações de uma cidade, existe uma relação espacial direta com um ambiente urbano já constituído e em constante transformação. No caso dos isolados, apesar de localizados fora do perímetro do distrito-sede, existe a oferta de infraestrutura de equipamentos e serviços complementares ao uso residencial.

Desde sua gênese, as vilas operárias, especialmente aquelas mais isoladas, possuem aspectos urbanísticos e edilícios similares aos de uma cidade convencional. Na Europa, as vilas operárias industriais, aqui consideradas como antecessoras e embrionárias de todas as outras (vilas ferroviárias e de empresas do setor energético), surgiram da necessidade de enfrentar os problemas decorrentes da expansão urbana deflagrada pela Revolução Industrial. A elite cultural e social da época entendeu que os problemas citadinos, como os surtos, endemias e epidemias de diversas doenças, assim como as “corrupções do corpo e da moral”, eram originados pelas perniciosas aglomerações sem higiene da chamada classe proletária e dos miseráveis.

As condições de deterioração urbana deram origem a concepções teóricas e proposições práticas que buscavam solucionar os novos problemas, muitas vezes por meio de reformas sociais que idealizavam uma nova sociedade industrial com normas rígidas e a salvo de doenças de natureza física ou “moral”. Tais medidas se apoiavam na crença de que um ambiente fosse capaz de influenciar as pessoas, de tal modo que uma cidade salubre, regulada e programada em consonância com a fábrica, seguindo regras de moralização, seria possível cunhar o cidadão-proletário ideal. Este ideário aparece de forma marcante nos primeiros núcleos operários na Europa, como em New Lanark (1814), Port Sunlight (1888), Bournville (1894), Bromborough Pool (1855), New Earswick (1902), Noisiel (1870-1900), entre outros. (BALLEIRAS, 2003 p.129).

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operária e a reprodução da divisão de trabalho da empresa no espaço do habitat foram constantes. Estudiosos como Blay (1979; 1985), Bonduki (1998), Correia (1998;2001), Morais (2003) e Vianna(2003), entre outros, tratam da questão:

O principal objetivo da Company Town consistia em proporcionar um ambiente digno ao funcionário seguindo, no entanto, o princípio de dominação com o objetivo de, por meio da melhoria na qualidade de vida do operariado através de aparatos higienistas, manufaturar produtos de forma economicamente mais viável. (MORAIS, 2002 p. 64).

Ao oferecer quartos para dormir, os empresários ofereciam também modos de viver, regras, atitudes e valores a serem cumpridos. Na elaboração de uma ideologia de valorização do trabalho urbano livre e industrial, o processo de habitar é utilizado pela burguesia como veículo de transmissão dos novos valores. (BLAY, 1979 p.148).

Para o presente trabalho, dentre todas as características, foram consideradas mais importantes aquelas relacionadas aos critérios de oferta e de localização das habitações funcionais.

Ao analisar as vilas ferroviárias, Silva (1996, p.280) traz um exemplo empírico, onde a Companhia Sorocabana reproduziu a hierarquização existente na empresa, ao distribuir habitações diferenciadas para os seus trabalhadores, o que acabou por produzir um espaço da segregação sócio-funcional.

Confirmando esse modelo, também Farah & Farah (1993, p.65) citam que a estratificação funcional que caracteriza a atividade produtiva tem sido reproduzida nesses tipos de assentamentos humanos. Isso é percebido a partir de diversos aspectos, desde a separação das residências por escalões funcionais, até o acesso diferenciado a determinados serviços coletivos, como restaurantes e equipamentos de lazer.

As company towns ou vilas de empresa foram executadas em vários locais do mundo, sendo parte delas as vilas operadoras. As Company towns, os núcleos fabris do Brasil, assim como a industrial village, a cité ouvrière e o cottage system, designam vilas que possuem a infraestrutura básica, habitações, escolas, templos religiosos e outros equipamentos de uso coletivo, localizadas em ambientes rurais afastados dos distritos-sede e geridas, exclusivamente, por uma determinada empresa, conforme cita Correia (1998; 2001) em seus trabalhos.

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tipologias distintas de funcionários e moradores, na medida em que as vilas comportam em seus territórios, tanto os operadores das usinas1, como os trabalhadores encarregados da manutenção da vila, assim como os prestadores de serviços e os comerciantes, que não possuem vínculo direto com a empresa.

Outros fatores que marcam significativamente o ambiente urbano das vilas operadoras podem ser atribuídos à priorização dos espaços verdes, cuidadosamente definidos no território; a permeabilidade visual; a estética da “higienização” e a localização, marcada pela presença do meio fluvial, o que lhes confere paisagens peculiares e atividades de lazer.

VILAS OPERADORAS E A QUALIDADE DE VIDA

As vilas operadoras construídas após Furnas e Estreito, como Planura-MG, Icém-SP, Fronteira-MG, foram alocadas integradas a cidades já existentes, segundo duas justificativas principais. A primeira delas, pela redução de gastos para a empresa, tanto nos períodos da implantação do complexo, como do funcionamento operacional. A segunda, por questões decorrentes do isolamento social que as vilas distantes de núcleos urbanos pré-existentes, acarretam a seus moradores, conforme observaram Gonçalves e Oestreich (1985):

Esta, geralmente, é a situação ideal para alojar as populações dependentes da obra ou operação. Ainda que a cidade seja pequena, é possível promover uma ampliação da malha urbana, bem como, da infra-estrutura de apoio. (...) Decaem bastante, também, os níveis de isolamento das populações (...). Também se torna mais fácil o repasse das residências remanescentes do período final das obras, podendo haver um reaproveitamento destes investimentos. (GONÇALVES; OESTREICH, 1985, p.5)

Analisando Furnas e Estreito, esse mesmo documento identificou que a simples transposição de equipamentos urbanos similares aos de uma condição convencional não as torna uma cidade e que problemas diversos podem emergir:

(...) nota-se que toda a riqueza das interações sociais presentes nas cidades não ocorrem nestes locais devido a uma série de razões, que examinamos a seguir: são vilas fechadas e estagnadas do ponto de vista do crescimento demográfico e populacional. O número de casas, depois que a Vila se torna permanente é o mesmo durante anos a fio. A estabilidade da população se altera apenas por nascimento ou morte. Geralmente a permanência na Vila é por longo prazo. Outro problema bastante grave se relaciona com a situação do ócio dos adolescentes; (GONÇALVES; OESTREICH, 1985, p.12)

1 Operador de usina é uma função exercida por engenheiros ou técnicos especializados, que respondem

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Embora o isolamento das vilas apartadas acarrete diferenças nos aspectos relacionados à socialização e às oportunidades decorrentes da maior proximidade de uma vida urbana já constituída, sob o ponto de vista habitacional, elas pouco diferem entre si. Nas duas modalidades está presente a segmentação fundada na hierarquização funcional da empresa, influindo nos aspectos tipológicos e locacionais das moradias.

Nesta perspectiva de categorização funcional, Furnas S.A. utilizou, na sua concepção urbanística, a estratégia de um estruturação territorial que segmenta o espaço urbano e reproduz a relação hieraraquizada existente na unidade de produção.

ORIGEM DA VILA DE ESTREITO-SP.

A empresa Furnas Centrais Elétricas fora tornada realidade no ano de 1957 no Governo de Juscelino Kubistchek e a formulação do projeto de criação desta já previa a construção imediata de outras usinas, não se atendo apenas a Usina de Furnas, e é neste contexto que emerge a proposta de constituição da Usina de Estreito. Entretanto, a usina só foi inaugurada oito anos após as primeiras obras produzidas no Rio Grande, em 1965, na presença do presidente Marechal Castello Branco.

O modelo adotado previa a construção de vilas agregadas a cada usina, seja em núcleos autônomos ou em continuidade às cidades existentes. Além de Estreito, as outras vilas construídas pela empresa, foram Furnas, Fronteira e Planura, em Minas Gerais; Icém, em São Paulo; e Itumbiara, em Goiás. Embora todos os núcleos tenham se pautado pelos mesmos princípios norteadores, são perceptíveis algumas adaptações empregadas em relação à tipologia arquitetônica das habitações.

As vilas de Estreito e Furnas seguiram um modelo de núcleo autônomo, sob a denominação de “Comunidade Residencial Satélite” (FARAH & FARAH, 1993), por suas características de maior isolamento dos demais núcleos urbanos já existentes.

Inicialmente prevista para atender alguns municípios paulistas e vinculada à Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL -, a Usina de Estreito, pelo seu potencial energético e por sua localização estratégica – situada entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, e próxima ao estado do Rio de Janeiro -, atingiu uma amplitude de interesse nacional.

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e da vila. O projeto final e as obras ficaram sob a responsabilidade da Construtora Stenóbras S.A., consórcio formado especialmente para obra composto pelas Servix Engenharia S.A. e pela Construtora Cavalcanti Junqueira S.A.

O valor investido constituiu, relativamente, em um dos mais baixos custos desse tipo construção para a época. A configuração geomorfológica das vertentes que margeiam o Rio Grande nessa região possibilitou um reservatório tipo fio d’água, com impactos sócio-ambientais de pouca magnitude. As terras lindeiras, necessárias à constituição do empreendimento, eram consideradas de pouca fertilidade foram e foram adquiridas por baixo valor, conforme relato da própria empresa:

Em Estreito, o caso foi extremamente simples dado o baixo valor das terras, sáfaras e inapropriadas a qualquer tipo de cultura; a pequena extensão a adquirir; a inexistência quase completa de benfeitorias e a ausência de obras a fazer.

(...)

Toda região era extremamente pobre, de terras improdutivas, pedregosas, inadaptáveis à exploração agrícola ou pastoril, [...] (Furnas Centrais Elétricas, s/d, p. X-17 e X-18).

O mesmo relatório detalha o planejamento da Vila e distingue diferentes períodos de obras, como as providências iniciais, as construções e instalações de serviços temporários e, posteriormente, muitas vezes, concomitantemente, as obras de cunho permanente. Para tanto, denominou-se Vila Provisória àquela porção territorial que, teoricamente, dispunha de equipamentos, residências transitórias e Vila de Operadores a parte destinada às residências permanentes.

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FIGURA 3 - Vista Aérea da Construção da Usina de Estreito e da Vila Provisória – Década de 1960.

Fonte: Biblioteca de Furnas C. Elétricas S/A, Escritório Central. Rio de Janeiro. S/D

Entre as obras acessórias de caráter permanente encontravam-se as estradas de acesso e o arruamento; a Vila de Operadores; o aeroporto, as instalações necessárias à radiocomunicação e as redes de água, de esgoto, de energia elétrica e de telefonia. Segundo relatório da época, a denominada Vila de Operadores, se caracterizava por ser:

(...) um conjunto de prédios de caráter permanente, destinado aos empregados que, após a conclusão da obra, ficarão encarregados da operação da Usina, mas que foi aproveitado, durante a obra, pelos engenheiros, técnicos e pessoal administrativo da construção. (Furnas Centrais Elétricas, s/d, p. XII-7)

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FIGURA 4 - Vista aérea da Vila de Operadores - Vila de Estreito – Década de 1960.

Fonte: Biblioteca de Furnas C.Elétricas S/A – Escritório Central - Rio de Janeiro S/D FIGURA 5 – Residências da Vila Provisória. Em primeiro plano, as habitações

desmontáveis tipo T-7 – Vila de Estreito.

Fonte: Arquivo USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A. S/D

O entendimento resultante desta pesquisa é de que toda a Vila de Estreito se caracterizou como uma “Vila Operadora”, pois, na totalidade de seu território, as edificações destinadas ao trabalho, à moradia e ao lazer foram utilizadas de forma permanente.

O ESPAÇO URBANO DA VILA DE ESTREITO

Todo o conjunto da Vila foi implantado visando uma população inicial estimada em 1.964 moradores. Foi concebida dentro de uma morfologia baseada em quadras, geralmente, de forma trapezoidal, com lotes de diferentes dimensões e ocupados por uma variada gama de tipologia habitacional. Porém, a característica que se impõe mais claramente é a segmentação habitacional, ditada pelas condições locacionais e pelo sistema construtivo.

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realizada uma subdivisão no Setor 2 (A, B e C), com o intuito de explicitar diferenças habitacionais e de algumas funções. (LIPORONE, 2005; LIPORENE & SILVA, 2006).

Sobre as diferenças construtivas nas residências na Vila de Estreito, pode-se afirmar que existem desde moradias geminadas com forro de madeira e outras, recuadas das divisas e providas de portas de vidro e forro de laje. Dentre as tipologias existentes, tem-se: TA; TB; TC; TD; TE; TF; TG; TGA; T1; T5; T8; e T10. Essa diversidade habitacional reflete a hierarquização funcional existente na unidade de produção, conforme mostrado na Figura 7 e no Quadro 1.

O programa habitacional empregava determinados critérios no processo de definição da localização e do tipo de moradia, baseados na inserção funcional e no nível sócio-profissional de cada funcionário morador. Dentre estes, consideravam-se o salário, o cargo na empresa, o nível de escolaridade, categorizado como superior, técnico ou administrativo, e o tempo de moradia. As classificações consideravam a “preferência habitacional”, de tal modo que aqueles de melhor enquadramento nos critérios estabelecidos teriam a prioridade na escolha da moradia.

FIGURA 7. Tipologia Habitacional e Setores de Análise

Fonte: USLB.O, Furnas C. E. S/A. Autor: Liporone, 2009 No quadro a seguir estão algumas das características habitacionais existentes na Vila. Dentre elas, encontram-se a quantidade de habitações por tipo, a área total

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construída, a área da sala de estar, a quantidade de dormitórios, banheiros, dormitório de empregada e a existência ou não de forro com laje de concreto.

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Quadro1 – CARACTERÍSTICAS DOS TIPOS HABITACIONAIS DA VILA DE ESTREITO

Carac./Tipos TA TB TC TD TE TF1 TF2 TG T1 T5 T8 T10

Tip Esp.

Número de habitações 1 5 6 19 20 15 85 200 4 29 8 10 1 Área Total (m2) 190 146 102 106 95 s/d 63 38,5 138 92 116 s/d s/d

Área Sala de Estar (m2) 33 31 29,5 20 19 s/d 12 12 25,2 20 24 s/d s/d

Dormitórios 4 4 2 3 2 3 2 1 3 2 3 2 s/d

Banheiro 3 2 2 3 2 1 1 1 2 2 2 2 s/d

Dormitório Empregada 1 1 1 1 1 0 0 0 1 1 1 1 s/d Laje de concreto sim sim sim não não não não não sim sim Sim sim não

Suíte 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Fonte: USLB.O, Furnas Centrais Elétricas S/A

A segregação fica evidenciada desde a adoção do partido urbanístico, do planejamento e da implantação dos espaços de moradias claramente diferenciados, formando uma gradação no espaço social e habitacional ao longo da área lindeira ao aeroporto. Na Vila de Estreito ela é mais explícita se comparada com a Vila de Furnas, sua antecessora.

Outro aspecto a ser destacado diz respeito à permeabilidade visual da Vila de Estreito, onde tanto as residências, como os edifícios destinados a outros usos e funções, foram projetados para não haver a ocorrência de barreiras delimitadoras.

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Mapa 1 – Uso e ocupação do solo – Vila de Estreito, Pedregulho-SP

Fonte: LIPORONE, 2005; Google Earth, 2009. Organizado por: Francis Liporone, 2009

A observação do espaço intra-urbano mostra que o Setor 1 possui formas irregulares, de maior organicidade, com traçado viário não retilíneo que configura terrenos desprovidos de uma formatação estabelecida pela rigidez geométrica. O relevo foi empregado como elemento de delimitação e apenas uma única passagem interliga este Setor às outras partes da Vila (figura 8).

FIGURA 8. Vista aérea do Setor 1 - Vila de Estreito - 2005

Fonte: Biblioteca de Furnas / Furnas Centrais Elétricas S/A

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No Setor 1 os lotes variam de 460 m² a 1350 m². Dentre os tipos de casas existentes neste setor encontram-se: TA, TB, TC, T1, T5 e T8. Todas essas habitações diferenciam de outras moradias da vila pela utilização do forro em laje de concreto. O tipo TA é um exemplar único e é o maior em relação às demais habitações (figura 9). Possui quatro dormitórios, todos com armários embutidos nas paredes, sendo um deles com banheiro privativo, uma sala de aproximadamente 33 m2, abrigo ou garagem, cozinha e sala de almoço, dormitório para empregada, varanda interna e três banheiros, dentre eles, o da suíte, o comunitário e o da área de serviço. Nessa moradia habitação única residia o gerente geral, responsável pelo processo de geração de energia e pela administração do funcionamento da Vila.

FIGURA 9 - Habitação Tipo TA.

Autor Fotografia: Francis Liporone, 2007. Fonte Planta: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A - Cad: Líver Liporone, 2009.

As habitações do tipo TB (figura 10) possuem também quatro dormitórios, três banheiros, dormitório para empregada e sala de estar de aproximadamente 31m2. O tipo TC, apesar da sala relativamente espaçosa, com 29,4m2, possui apenas dois quartos e um dormitório para empregada. Os modelos T8 e T1, ainda possuem área construtiva grande e são equipados com três dormitórios. A tipologia mais numerosa neste Setor 1 é a T5 que é constituída de medidas mais modestas, com apenas 2 dormitórios (figura 11).

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Autor Fotografia: Francis Liporone, 2007 Fonte Planta: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A - Cad: Líver Liporone, 2009.

FIGURA 11 - Habitações Tipo T5 e T8, respectivamente.

Fonte: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A - Cad: Líver Liporone, 2009.

Encontra-se nesse setor a única igreja católica local (figura 12), ocupando o ponto mais alto da vila, na cota 750 m. Faz parte da paisagem, também, uma das duas sedes do clube recreativo, uma das instalações hoteleiras, com seus anexos, a Casa de Visitas (figura 12), que teve sua função original alterada e hoje funciona como hotel, e por último, o reservatório de água tratada da Vila.

FIGURA 12 - Igreja Católica e Casa de Visitas

Autor: Adhemir B. Liporone, 2009

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FIGURA 13 - Escola Estadual e Oficinas de Manutenção, respectivamente.

Autor: Adhemir Baptista Liporone, 2007 FIGURA 14 - Habitação Tipo T10.

Autor: Francis Liporone, 2007

O Setor 2 (figura15) diferencia-se do primeiro pela configuração das vias, que possui um padrão ortogonal que delimita as quadras retangulares. Em relação ao Setor 1 possui mais espaços verdes, pela existência de quadras não edificadas, o que amplia a sensação de permeabilidade visual.

FIGURA 15 - Subáreas do Setor 2

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Fonte: USLB.O, Furnas C. E. S/A. Autor: Liporone, 2009

A Área A do Setor 2 é composta por dois tipos de habitações, TE e TD(figura 16), que têm como característica comum, a implantação em terrenos relativamente grandes e a presença de forro de madeira. A peculiaridade do tipo TE é ter apenas dois dormitórios e, mesmo assim, ainda possuir um dormitório para empregada, ter uma sala de estar com 18,6 m2 e uma cozinha de 8,1m2. As moradias do tipo TD possuem dimensões maiores que a anterior, com três dormitórios, sendo um com armário embutido, um dormitório para empregada com 6m2, uma sala de 20m2 e uma cozinha com 7,5m2.

FIGURA 16 - Habitação Tipo TD.

Fotografia: Adhemir Baptista Liporone, 2007 Fonte: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A - Cad: Líver Liporone, 2009.

Os equipamentos comuns e os núcleos comerciais (figura 17) do Setor 2 estão localizados nas proximidades das Áreas A e B, em detrimento da Área C, mais distante destes usos. Dentre as atividades não residenciais deste Setor estão o Clube Recreativo – ARE II - e um hotel. Os tipos habitacionais também seguem uma hierarquização, sendo que na Área C, além da maior distância de deslocamento aos demais usos, suas unidades de moradias se caracterizam por serem geminadas e implantadas em terrenos menores.

FIGURA 17- Centro Comercial – Setor 2

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Autor: Adhemir Baptista Liporone, 2007 / Fonte: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A

Vale destacar a presença de casas geminadas em uma quadra da Área B, idênticas às da Área C. A versão original é do tipo TG (figura 19) em que cada casa possui dois dormitórios, uma despensa, um banheiro e uma área de serviço, sem sala de estar. As variações TGE e TGA(figura 20) também têm esta configuração, porém como estão duplicadas possibilitam que o espaço destinado a um dormitório possa fazer a função de sala de estar.

FIGURA 19 - HABITAÇÃO TIPO TG:SETOR 2.

Autor: Adhemir B.Liporone, 2007 / Fonte: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A FIGURA 20 - Planta Baixa – Habitação Tipo TGA.

Fonte: USLB.O – Furnas Centrais Elétricas S/A

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O documento elaborado pelas arquitetas Tereza Martins Gonçalves e Helena Maria Oestreich, para curso dirigido aos técnicos da empresa e realizado em 1985, traz um diagnóstico das decorrências sociais do caráter fechado e da segregação funcional presentes na Vila de Estreito:

A pesquisa físico-espacial e social realizada nesta Vila apontou um certo ressentimento das categorias mais baixas ante as demais, pelas distinções sociais em que vivem. As residências com muito pouca área e lotes muito pequenos não são suficientes para o estilo de vida nessas vilas, onde a horticultura doméstica é muito praticada e o número de filhos elevado. A administração da Vila revelou em depoimento as dificuldades de representar os interesses da população e os seus anseios de integração. (GONÇALVES; OESTREICH, 1985. p.36)

Na avaliação destas autoras, discutiu-se o fato de que habitações térreas, isoladas no lote, e em uma situação de trama urbana descontínua, poderiam reduzir os conflitos gerados pela proximidade entre os moradores, entretanto, em contrapartida, favoreceriam a segregação social. Por outro lado, apontam que as habitações geminadas intensificam a convivência social, mas favorecem a ocorrência de conflitos, que poderiam ser atenuados pelo desenvolvimento de padrões de relacionamentos mais amigáveis, por meio da possibilidade de troca cultural entre os usuários. (GONÇALVES; OESTREICH, 1985, p.35).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na sociedade capitalista, a propriedade urbana se caracteriza como uma mercadoria que, ao incorporar o seu valor de troca, se torna parte de uma dinâmica que tende a concentrar e, ao mesmo tempo, segregar as diferentes parcelas da sociedade que abriga. Apesar de terem uma origem independente das iniciativas do mercado imobiliário, as vilas residenciais construídas por empresas ligadas à produção energética, também têm reproduzido um modelo de segmentação sócio-espacial.

Como um espaço planejado, o projeto intra-urbano das vilas operadoras buscava expressar o discurso da promoção da qualidade de vida e se afirmar como parte dos benefícios adicionais aos contratos de trabalho. Os ambientes externos à unidade de produção foram concebidos segundo critérios de desempenho produtivo e de morfologias de uso e ocupação do solo, baseadas na segregação espaço-funcional, assim como nas primeiras experiências de constituição de vilas operárias produzidas pelas empresas do segmento industrial. A singularidade destes núcleos está baseada na relação existente entre a empresa e a formulação urbana resultante destes processos.

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significativos espaços verdes e a preocupação com a segurança do conjunto. A Vila de Estreito, de caráter fechado, foi concebida com controle de acesso e circulação, restrita aos usuários relacionados direta ou indiretamente com a usina. Identificam-se nesta conduta, duas faces da mesma moeda, de um lado o discurso da segurança - patrimonial e pessoal – e, de outro, a possibilidade de controle e de arregimentação dos próprios moradores e trabalhadores.

Apesar da diversidade presente nas tipologias habitacionais, de uma forma geral, existia certa homogeneidade edilícia nos aspectos externos das moradias, sendo que as diferenças mais significativas estavam na localização e nas restrições e controle de acesso aos equipamentos e serviços de uso coletivo. Ressalta-se, porém, que na comparação de casos extremos, como as residências destinadas aos funcionários mais graduados e as soluções geminadas, pode-se constatar diferenças consideráveis, tanto no padrão construtivo como na quantidade e dimensões dos cômodos.

Sob o ponto de vista de seus promotores, a estratégia de implantação do núcleo habitacional da Vila de Estreito foi, certamente, alcançada. A mão-de-obra qualificada, necessária à operação da usina, foi atraída por um conjunto de fatores, dentre eles, pela oferta de espaços que permitiram uma qualidade de vida superior ou similar a das cidades convencionais, viabilizando uma alta estabilidade funcional, marcada pela presença constante da empresa na vida cotidiana dos moradores.

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Imagem

FIGURA 2 - Vista Aérea da Usina Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto de Carvalho –  Estreito, 2005
FIGURA 3 - Vista Aérea da Construção da Usina de Estreito e da Vila Provisória –  Década de 1960
FIGURA 4 - Vista aérea da Vila de Operadores - Vila de Estreito – Década de  1960.
FIGURA 7. Tipologia Habitacional e Setores de Análise
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Referências

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