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Avaliação de riscos em contexto escolar e industrial.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA

Avaliação de riscos em contexto escolar e

industrial

Relatório de Estágio elaborado com vista à obtenção de

Grau de Mestre na Especialidade de Ergonomia

Orientador

Professor Doutor Rui Miguel Bettencourt Melo

Júri:

Presidente

Professor Doutor Rui Miguel Bettencourt Melo

Vogais

Professora Doutora Susana Patrícia Costa Viegas

Professora Doutora Teresa Margarida Crato Patrone de

Abreu Cotrim

Catarina Neves Ribeiro Freire Falcão

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ii

"Good health and safety at work is important not only in human terms, to help reduce workers' pain and suffering. It is also a way of ensuring that enterprises are successful and sustainable, and that economies thrive in the long term."

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iii

A todos os que me apoiaram nesta jornada, agradeço a disponibilidade, o carinho, a força e a paciência.

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iv

Resumo

Uma das ações essenciais na prevenção de acidentes e doenças profissionais é a avaliação dos riscos a que os trabalhadores estão expostos.

Realizou-se uma avaliação para estimar a exposição ocupacional a agentes químicos em contexto industrial, com recurso a aparelho de leitura direta e bombas de amostragem. Paralelamente realizou-se uma avaliação de riscos ocupacionais em trabalhadores do contexto escolar, utilizando uma matriz de risco, e complementada com a avaliação da iluminação.

Os resultados revelam, no contexto industrial, exposição dos trabalhadores a agentes químicos, por excedência dos valores limite de exposição de substâncias, cálculo dos efeitos aditivos no sistema respiratório, nervoso e ocular e por exposição simultânea aos compostos na mistura. Devem ser implementadas medidas ao nível da aspiração localizada, rotatividade dos trabalhadores, modificação dos equipamentos, substituição de substâncias e utilização de equipamentos de proteção individual.

Em contexto escolar foram encontrados índices de risco maioritariamente baixos, com exceção das análises ao trabalho do jardineiro, auxiliares de limpeza, técnicos de manutenção e cozinheiras. Os resultados da avaliação da iluminação apresentaram níveis de iluminância abaixo dos valores recomendados. As medidas a implementar devem incidir na formação, melhoria da iluminação, utilização de equipamentos de proteção individual e modificação de equipamentos e procedimentos de trabalho.

Palavras-chave: Avaliação, Riscos, Exposição, Químicos, Amostragem, Iluminação, Escola, Indústria, Segurança, Trabalho

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Abstract

Risk assessment is the key for reducing work-related accidents and occupational diseases.

In the industrial context, chemical exposure assessments were made using a portable direct-reading sampler and sampling pumps. In the school context a risk assessment was carried out using a risk matrix and also included a lighting evaluation.

In the industrial context the results showed occupational chemical exposure, as the threshold limit values were exceeded for several substances, namely in terms of additive effects on respiratory, nervous and ocular systems, and simultaneous exposure to the compounds in mixtures. Control measures should include a local exhaust system, job rotation, equipment modifications, some substances replacement and use of personal protective equipment.

In the school context, mostly low risk indexes were found, except for the gardener, the cleaning staff, the maintenance worker and the cooks. The results of the lightning evaluation showed low illuminance levels. Control measures to be implemented should focus on training, lighting improvement, use of personal protective equipment and modification of equipment and work procedures.

Key-words: Risk, Assessment, Exposure, Chemical, Sampling, Lighting, School, Industry, Safety, Work

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vi

Índice

Resumo ... iv

Abstract ... v

I. Introdução ... 1

II. Enquadramento teórico ... 4

1. Enquadramento teórico no domínio de segurança, higiene e saúde no trabalho ... 4

2. Estratégias no domínio de segurança, higiene e saúde no trabalho ... 5

2.1. Estratégia Comunitária para a Saúde e a Segurança no Trabalho ... 5

2.2. Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho ... 6

2.3. Plano Nacional de Saúde (2012-2016) ... 7

3. Enquadramento Legal e Normativo no Domínio de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho ... 8

3.1. Organização Internacional do Trabalho ... 8

3.2. União Europeia ... 9

3.3. Nacional ... 12

3.3.1. Serviços de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho ... 13

3.3.2. Intervenção do Técnico de Segurança e Saúde no Trabalho ... 16

4. Caracterização da empresa ... 16

4.1. Objetivos do estágio ... 17

4.2. Enquadramento das atividades desenvolvidas ... 18

5. Exposição a agentes químicos ... 19

5.1. Conceitos importantes ... 20

5.2. Estados do agente ... 21

5.3. Efeitos na saúde humana ... 22

5.4. Monitorização ambiental ... 23

5.4.1. Quantificação dos agentes químicos ... 23

5.4.2. Valor Limite de Exposição ... 24

5.4.2.1. Efeito aditivo ... 25

5.4.2.2. Valor limite de exposição de misturas ... 26

5.5. Enquadramento Legal e Documentos de referência ... 26

6. Avaliação de Riscos Profissionais ... 26

6.1. Definição de risco ... 27

6.2. Etapas da avaliação de riscos ... 28

(7)

vii

6.2.2. Valoração dos riscos ... 29

6.3. Metodologias de avaliação de riscos ... 29

6.3.1. Método de matriz simplificada ... 30

6.4. Enquadramento Legal e Documentos de referência ... 30

7. Iluminação ... 31 7.1. Conceitos essenciais ... 32 7.2. Grandezas fotométricas ... 33 7.3. Distribuição da iluminação... 33 7.4. Iluminância ... 34 7.5. Aspetos de cor ... 35

7.6. Enquadramento Legal e Normativo ... 36

III. Metodologia ... 37

1. Exposição a agentes químicos ... 37

1.1. Empresa Q1 ... 37

1.1.1. Descrição da população exposta ... 37

1.1.2. Pontos de Amostragem ... 38

1.2. Empresa Q2 ... 39

1.2.1. Descrição da população em estudo ... 39

1.2.2. Pontos de Amostragem ... 39

1.3. Amostragem ... 40

1.3.1. Partículas e metais ... 41

1.3.2. Compostos orgânicos voláteis ... 42

1.3.3. Parâmetros estimados ... 43

2. Avaliação de riscos ... 47

2.1. Descrição da população em estudo ... 47

2.2. Caracterização do edifício escolar ... 47

2.3. Procedimentos utilizados ... 48

3. Iluminação ... 50

3.1. Descrição da população em estudo ... 50

3.2. Amostragem ... 51

IV. Resultados ... 53

1. Exposição a agentes químicos ... 53

1.1. Empresa Q1 ... 53

(8)

viii 1.3. Discussão de resultados ... 67 1.3.1. Substâncias analisadas ... 68 1.3.1.1. Empresa Q1 ... 68 1.3.1.2. Empresa Q2 ... 69 1.4. Recomendações ... 71 2. Avaliação de riscos ... 73 2.1. Discussão de resultados ... 89 3. Avaliação da iluminação ... 93 Bar de alunos ... 95 Espaço administrativo ... 95 3.1. Discussão de resultados ... 96 4. Perspetivas futuras ... 99 V. Disposições finais ... 103 VI. Bibliografia ... 105 Anexo I: Procedimento Técnico para Avaliação da Exposição Ocupacional a Agentes Químicos

Anexo II: Procedimento Técnico para Avaliação de Riscos Profissionais1 Anexo III: Características da matriz de avaliação de risco1

Anexo IV: Procedimento Técnico para Avaliação das Condições de Iluminação nos Locais de Trabalho1

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ix

Índice de figuras

Figura 1 - Esquema do sistema de colheita de ar. ... 24

Figura 2 - Avaliação e controlo de riscos. ... 28

Figura 3 - Fluxograma das atividades. ... 48

Índice de quadros

Quadro 1 - Os 9 Princípios Gerais de Prevenção de acordo com a Diretiva 89/391/CEE ... 12

Quadro 2 - Funções dos serviços de SHST ... 15

Quadro 3 - Efeitos das substâncias químicas sobre a saúde. ... 22

Quadro 4 - Iluminâncias recomendadas para ambiente de trabalho. ... 34

Quadro 5 - Correspondência entre temperatura da cor da luz e a sua aparência. ... 35

Quadro 6 - Identificação dos locais de monitorização e substâncias presentes. ... 38

Quadro 7 - Identificação dos locais de monitorização e substâncias presentes. ... 40

Quadro 8 - Métodos NIOSH utilizados. ... 41

Quadro 9 - Tempos e caudais de amostragem. ... 41

Quadro 10 - Referências das substâncias monitorizadas. ... 44

Quadro 11- Referências das substâncias monitorizadas. ... 45

Quadro 12 - Funções em estudo... 49

Quadro 13 - Identificação dos Locais de medição ... 51

Quadro 14 - Valores recomendados pela Norma EN 12464-1. ... 52

Quadro 15 – Resultados da iluminância e índice de restituição de cor versus norma de referência. ... 94

Quadro 16 – Severidade ... 1

Quadro 17 – Probabilidade ... 1

Quadro 18 – Estimativa do Risco ... 1

Índice de tabelas

Tabela 1 – Apresentação de resultados – Poeiras totais e respiráveis. ... 53

Tabela 2 – Apresentação de resultados – Metais (Crómio, Manganês e Níquel). ... 54

Tabela 3 – Apresentação de resultados – Acetona. ... 54

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x

Tabela 5 – Apresentação de resultados – Acetato de etilo. ... 55

Tabela 6 – Apresentação de resultados – Acetato de 1-metil-2-metoxietilo. ... 55

Tabela 7 – Apresentação de resultados – Heptano... 56

Tabela 8 – Apresentação de resultados – Ciclohexano. ... 56

Tabela 9 – Apresentação de resultados – Etanol. ... 56

Tabela 10 – Apresentação de resultados – Monóxido de Carbono e Dióxido de Carbono. ... 57

Tabela 11 – Valores do cálculo do efeito aditivo no trato respiratório superior. ... 58

Tabela 12 – Valores do cálculo do efeito aditivo no sistema nervoso central. ... 58

Tabela 13 – Valores do cálculo do efeito aditivo de irritação ocular. ... 58

Tabela 14 – Apresentação de resultados – Acetato de 1-metil-2-metoxietil. ... 59

Tabela 15 – Apresentação de resultados – Acetato de 2-butoxietilo. ... 59

Tabela 16 – Apresentação de resultados – 2-(2-butoxietóxi) etanol. ... 60

Tabela 17 – Apresentação de resultados – 2-butoxietanol. ... 60

Tabela 18 – Apresentação de resultados – Xileno. ... 61

Tabela 19 – Apresentação de resultados – Etilbenzeno. ... 61

Tabela 20 – Apresentação de resultados – Mesitileno / 1,3,5-trimetilbenzeno. ... 62

Tabela 21 – Apresentação de resultados – Butanol. ... 63

Tabela 22 – Apresentação de resultados – 1-metoxi-2-propanol. ... 63

Tabela 23 – Apresentação de resultados – Metil isobutil cetona. ... 64

Tabela 24 – Apresentação de resultados – Isobutanol. ... 64

Tabela 25 – Apresentação de resultados – Monóxido de Carbono e Dióxido de Carbono. ... 65

Tabela 26 – Valores do cálculo do efeito aditivo no sistema nervoso central. ... 65

Tabela 27 – Valores do cálculo do efeito aditivo no trato respiratório superior. ... 66

Tabela 28 – Valores do cálculo do efeito aditivo da irritação ocular. ... 66

Tabela 29 – Resultados do Valores Limite de Exposição de alarme do produto. ... 67

Tabela 30 - Matriz de avaliação de risco para a função de Técnico de manutenção ... 74

Tabela 31 - Matriz de avaliação de risco para a função de Vigilante de piso. ... 76

Tabela 32 - Matriz de avaliação de risco para a função de Técnica de reprografia. .... 77

Tabela 33 - Matriz de avaliação de risco para a função de Administrativo. ... 78

Tabela 34 - Matriz de avaliação de risco para a função de Administrativo do bar. ... 79

Tabela 35 - Matriz de avaliação de risco para a função de Administrativa da secretaria. ... 80

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xi

Tabela 37 - Matriz de avaliação de risco para a função de Cozinheiro... 82

Tabela 38 - Matriz de avaliação de risco para a função de Auxiliares de bar. ... 83

Tabela 39 - Matriz de avaliação de risco para a função de Jardineiro. ... 84

Tabela 40 - Matriz de avaliação de risco para a função de Segurança do edifício. ... 86

Tabela 41- Matriz de avaliação de risco para a função de Auxiliar de biblioteca. ... 87

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1

I. Introdução

Estima-se que aproximadamente 2,34 milhões de pessoas morrem, por ano, devido a acidentes de trabalho e doenças profissionais. Das cerca de 6300 mortes relacionadas com o trabalho que ocorrem todos os dias, 5.500 são causadas por vários tipos de doenças profissionais. A Organização Internacional de Trabalho estima igualmente a ocorrência anual de 160 milhões de casos de doenças não fatais relacionados com o trabalho.

Na União Europeia milhões de pessoas lesionam-se no local de trabalho ou sofrem de problemas de saúde graves relacionados com o trabalho. É por este motivo que a avaliação de riscos é tão importante, sendo o fator-chave para um local de trabalho saudável e seguro. No panorama Português, o número de acidentes de trabalho tem sofrido um decréscimo ao longo dos anos, sendo que no ano passado foram reportados 149 acidentes (ACT, 2013). Segundo os dados do Gabinete de Estratégia e Planeamento (2012), onde se regista maior número de acidentes de trabalho (grande parte deles mortais) é o setor da construção, com uma larga distância dos restantes setores. O setor da indústria transformadora e de transportes e armazém ocupam os segundo e terceiro lugar respetivamente.

A prevenção é considerada a medida com mais potencial de redução de acidentes. Durante o século XX, os países industrializados registaram uma diminuição substancial das lesões graves, em parte como consequência dos progressos alcançados no sentido da criação de um ambiente de trabalho mais saudável e seguro. O desafio foi alargar essa experiência positiva a todo o mundo laboral.

As condições de segurança e saúde estão frequentemente condicionadas pela envolvente socioeconómica ao nível do modelo económico, da estrutura produtiva, do sistema público, da situação de emprego, da legislação laboral e social e das relações laborais (Miguel, 2005). O atual modelo económico assenta, em boa medida, na qualidade de produção, como via para aumentar a produtividade. A globalização veio alterar as características das relações laborais e das condições ambientais do trabalho: desemprego, instabilidade de emprego, flexibilidade, polivalência, necessidade de maior qualificação, alteração das formas contratuais, e simultaneamente o acréscimo dos acidentes de trabalho e doenças profissionais.

A experiência mostra que uma cultura de segurança sólida é benéfica para os trabalhadores, os empregadores e os governos. Diversas técnicas de prevenção revelaram a sua eficácia, tanto para evitar os acidentes de trabalho e as doenças profissionais, como para melhorar o desempenho das empresas. As rigorosas normas de segurança atualmente existentes, em certos países, são o resultado direto de políticas a longo prazo que incentivaram o diálogo social tripartido e a negociação coletiva entre os sindicatos e os empregadores, assim como legislação de segurança e saúde eficaz, apoiada numa inspeção do trabalho dotada dos meios necessários.

Embora o desenvolvimento de uma cultura de segurança deva iniciar-se logo na educação das crianças desde tenra idade, a prevenção eficaz dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais começa na empresa. A prevenção requer a participação dos governos, das organizações de empregadores e de trabalhadores. A adoção de formas de organização no trabalho, a formação e informação aos trabalhadores e as atividades de inspeção são instrumentos importantes para promover uma cultura de segurança e saúde. As empresas que dispõem de sistemas de gestão da segurança e da saúde obtêm melhores resultados, tanto no que respeita à segurança como à produtividade.

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2

A avaliação de riscos é um processo dinâmico que permite às empresas e organizações implementarem uma política pró-ativa de gestão dos riscos no local de trabalho. É fundamental que todas as empresas, independentemente da sua categoria ou dimensão, realizem avaliações regulares. Uma avaliação de riscos adequada inclui, entre outros aspetos, a garantia de que todos os riscos relevantes são tidos em consideração (não apenas os mais imediatos ou óbvios), a verificação da eficácia das medidas de segurança adotadas, o registo dos resultados da avaliação e a revisão da avaliação a intervalos regulares, para que esta se mantenha atualizada (Agencia Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2013).

Tendo em conta os pressupostos anteriores, a intervenção dos serviços de SHST têm crescente importância no estabelecimento e manutenção de gestão de riscos eficazes nas empresas. Estes serviços têm-se visto na necessidade de atualizar os seus métodos devido às mudanças ocorridas, nomeadamente ao aparecimento de novas necessidades no panorama dos riscos laborais.

As mudanças no contexto de trabalho atual vieram modificar as necessidades de investigação no domínio de SHST. Na União Europeia foram definidas, por consenso de necessidades dos Estados Membros, como prioridades gerais de investigação no domínio de SHST: fatores de risco psicossociais, fatores de risco químico, substituição de substâncias perigosas, gestão de riscos em PME, avaliação de riscos, entre outras. (Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, 2000).

Acresce aos desafios criados pelas mudanças constantes, a necessidade de identificação de diferentes tipos de riscos, em diferentes contextos. Esta variabilidade leva a que os Técnicos de SST tenham de utilizar diversos recursos para a correta avaliação dos riscos a que estão expostos os trabalhadores para o seu consequente controlo.

É no contexto atual, com todas as particularidades, que foi desenvolvido o estágio, sobre o qual recai a elaboração do presente relatório. Dado que a empresa na qual foi desenvolvido o estágio é uma empresa prestadora de serviços externos de SHST, os objetivos do estágio foram designados em função das necessidades dos clientes ao longo do período de estágio. Foram desenvolvidas atividades distintas em contextos diferentes. No âmbito da avaliação de exposição ocupacional a agentes químicos em duas indústrias distintas e no contexto da avaliação de riscos ocupacionais em trabalhadores do contexto escolar.

No presente relatório, por exigência das situações em análise, foram utilizadas técnicas diferenciadas com diferentes abrangências, diferente objetividade e em contextos distintos.

Foram analisadas duas situações de exposição ocupacional a agentes químicos, nas duas indústrias, com recurso a aparelho de leitura direta e bombas de amostragem, com posterior análise laboratorial, para a amostragem de COV e partículas e metais, respetivamente.

Separadamente foi analisada a situação de avaliação de riscos em profissionais de um estabelecimento escolar, com recurso ao método de matriz simplificada. Esta avaliação de riscos foi complementada com a medição dos níveis de iluminância nos postos de trabalho como forma de conferir maior objetividade à valoração do perigo de iluminação inadequada.

Consequente, os capítulos do presente relatório estão divididos de acordo com os diferentes temas abordados: exposição a agentes químicos, avaliação de riscos e iluminação.

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3

O segundo capítulo faz um enquadramento teórico relativo às disposições e contexto no qual se insere este trabalho, recorrendo a uma breve descrição da realidade na qual se desenvolvem as atividades de SHST, do macro contexto mundial, até ao micro contexto dos serviços de SHST nas empresas. Ainda neste capítulo, o enquadramento teórico das atividades desenvolvidas, visa a contextualização do leitor relativamente às atividades de avaliação de riscos desenvolvidas nas instituições industriais e escolar. Este enquadramento pretende um melhor entendimento das metodologias e resultados apresentados.

O terceiro capítulo apresenta as metodologias desenvolvidas, para as atividades de avaliação de exposição a riscos químicos, avaliação de riscos e avaliação das condições de iluminação. Neste capítulo serão descritos métodos utilizados nos processos, as amostras e locais de trabalho analisados.

O quarto capítulo, denominado resultados, apresenta os resultados decorrentes das três atividades, a discussão dos resultados obtidos e principais conclusões relativas às lacunas encontradas na aplicação dos métodos, referenciais e potencias trabalhos de caris investigatório que devem ser aprofundados futuramente.

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II. Enquadramento teórico

No presente capítulo será feito um breve enquadramento teórico no domínio da segurança, higiene e saúde no trabalho. Este enquadramento terá em conta a situação nacional e internacional, nomeadamente no panorama da União Europeia. Será igualmente apresentada uma breve caracterização do estágio e das atividades desenvolvidas. Seguidamente será apresentado e enquadramento teórico das atividades desenvolvidas.

1. Enquadramento teórico no domínio de segurança, higiene e saúde

no trabalho

A qualidade das condições de trabalho nomeadamente no que diz respeito às condições de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (SHST), são uma parte fundamental na otimização da qualidade de vida dos trabalhadores na sociedade. É com base neste pressuposto que a SHST tem assumido, cada vez mais, um papel preponderante na sociedade (Nunes, 2009). A ideia primordial de que os perigos são condição necessária e integrante no trabalho, dá agora lugar não só à proteção, mas ainda à prevenção. A prevenção e proteção são duas realidades complementares e não exclusivas. A primeira pode ser definida como “conjunto de medidas que tem por objetivo a eliminação dos riscos ou a sua redução, bem como o estudo das condições de trabalho para promover a sua adaptação ao Homem” (ACT, 2013). A segunda é entendida como o “conjunto de medidas e ações destinadas a preservar ou minimizar as consequências de um acidente quando este acontece”.

No contexto da organização económica e social atual, a SHST é crescentemente reconhecida, não apenas pelas vantagens a curto/médio prazo, mas por sustentar objetivos de longo prazo, a nível nacional, sectorial e da empresa, promovendo a capacidade de trabalho, a produtividade, a qualidade, a motivação dos trabalhadores e a segurança no emprego. A prevenção é encarada como um pré-requisito para que os trabalhadores tenham uma vida digna em sociedade e as empresas alcancem sucesso entre os seus competidores, num mercado global (Miguel, 2005).

A área de SHST é estruturada em três grandes ramos. A segurança no trabalho engloba o conjunto de métodos que visam a prevenção de acidentes de trabalho, através da avaliação e controlo dos riscos profissionais. De forma a garantir que existe um ambiente de trabalho seguro é necessário que sejam implementadas algumas medidas que passam essencialmente pela prevenção. Cabe ao empregador garantir a existência de equipamentos de proteção coletiva e individual, sinalização e formação e informação aos trabalhadores.

A higiene do trabalho tem por objetivo a prevenção de doenças profissionais, pelo controlo dos agentes físicos, químicos e biológicos, através de técnicas e medidas que incidem sobre o ambiente de trabalho (Dashöfer, 2009).

A saúde no trabalho visa atingir o equilíbrio biológico e psicossociológico pela vigilância médica e pelo controlo dos elementos físicos e mentais que possam afetar a saúde (Cabral, 2010).

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5

2. Estratégias no domínio de segurança, higiene e saúde no trabalho

A segurança e saúde no trabalho são atualmente preocupações centrais de qualquer política de promoção da qualidade do emprego, seja ao nível das políticas públicas e da atuação dos atores institucionais do Estado, seja ao nível das próprias empresas, trabalhadores e parceiros sociais.

Com vista a promover este domínio foram elaboradas várias estratégias, a nível nacional e comunitário. Estas têm objetivos a longo prazo que visam ser alcançados de modo a melhorar os indicadores gerais de SHST.

A nível Comunitário tem particular importância a estratégia comunitária para a saúde e a segurança no trabalho, que se desenvolveu entre 2007 – 2012. No entanto, podemos considerar que ainda se encontra em aplicação dada a extensibilidade dos objetivos traçados ao presente. Esta estratégia foi estendida ao âmbito nacional pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/2008. A nível nacional é possível encontrar também referências a políticas e estratégias orientadoras de SHST no Programa Nacional de Saúde Ocupacional, especificamente ligado à saúde no trabalho, e no Plano Nacional de Saúde, num panorama mais geral.

2.1.

Estratégia Comunitária para a Saúde e a Segurança no

Trabalho

A estratégia comunitária para o período 2007-2012, divulgada pela comunicação da Comissão intitulada «Melhorar a qualidade e a produtividade do trabalho: Estratégia comunitária para a saúde e a segurança no trabalho 2007-2012», representa um importante passo na promoção da qualidade e das condições de trabalho no espaço europeu. O seu objetivo é a redução em 25 % da taxa total de incidência de acidentes no trabalho na União Europeia (UE), até 2012, através do reforço da proteção da saúde e da segurança dos trabalhadores, enquanto fator determinante para o êxito da Estratégia de Crescimento e Emprego.

Este ambicioso objetivo de diminuição dos acidentes de trabalho apoia-se num conjunto de definições estratégicas, que visam:

 estabelecer um quadro normativo moderno eficaz;

 favorecer o desenvolvimento e a execução de estratégias nacionais;  promover mudanças de comportamento;

 combater com eficácia os novos riscos e

 promover globalmente a segurança e saúde, a nível internacional.

Para tanto, torna-se necessário que sejam desenvolvidas e aperfeiçoadas, em cada Estado membro, metodologias de avaliação dos riscos profissionais, de participação e formação dos trabalhadores, considerando em especial os sectores da atividade económica considerados de risco elevado e acautelando que as estratégias nacionais a implementar sejam dotadas dos instrumentos necessários à obtenção de elevados padrões de segurança e saúde no trabalho.

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6

Assim, após discussão em sede de Conselho Nacional de Higiene e Segurança no Trabalho (CNHST), foi elaborada a Estratégia Nacional para Segurança e Saúde no Trabalho, para o período 2008-2012. Esta foi concebida como um instrumento de política global de promoção da segurança e saúde no trabalho, de médio prazo, que visava dar resposta à necessidade de promover a aproximação aos padrões europeus em matéria de acidentes de trabalho e doenças profissionais. Pretendia também alcançar o objetivo global de redução constante e consolidada dos índices de sinistralidade laboral e, bem assim, contribuir para melhorar, de forma progressiva e continuada, os níveis de saúde e bem-estar no trabalho.

2.2.

Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no

Trabalho

A Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho configurou o quadro global da política da prevenção de riscos profissionais e de promoção do bem-estar no trabalho, para o horizonte temporal 2008-2012.

A elaboração da estratégia vem dar resposta a um conjunto de exigências, das quais sobressaem as de natureza social, que decorrem dos elevados índices de sinistralidade laboral ainda hoje verificados em Portugal. Apesar da sua diminuição, os índices de sinistralidade (em particular a não mortal), que se traduzem em elevados custos na sociedade constituem fatores de reação ao desenvolvimento do tecido empresarial, sustentado na qualificação dos trabalhadores e no exercício das atividades profissionais em ambientes que não devem pôr em causa a sua saúde, integridade física e bem-estar. Nas Grandes Opções do Plano para 2008, à semelhança do que aconteceu em 2006 e 2007, encontravam-se fundamentos no domínio da melhoria da adaptabilidade dos trabalhadores e das empresas, nomeadamente através do desenvolvimento de projetos em segurança e saúde no trabalho dirigidos a públicos mais vulneráveis e da intervenção inspetiva nos domínios das prescrições mínimas de segurança e saúde no trabalho e em atividades de risco elevado.

Neste âmbito, é relevante destacar o início do processo de revisão do Código do Trabalho, o combate ao trabalho não declarado, o reforço da articulação e da ação dos diversos serviços inspetivos com vista à regularização e promoção da segurança, higiene e saúde e combate à sinistralidade.

Definiram-se dois eixos fundamentais de desenvolvimento de políticas de segurança e saúde no trabalho: o que se refere às políticas públicas e o que se reporta à promoção da segurança e saúde nos locais de trabalho:

 desenvolvimento de políticas públicas coerentes e eficazes, resultado da articulação entre os vários departamentos da administração pública e que funcionem como motor de mobilização da sociedade em torno de uma questão social e económica fundamental para a coesão social e que diz respeito à sociedade no seu todo;

 promoção da segurança e saúde nos locais de trabalho, como pressuposto de uma melhoria efetiva das condições de trabalho.

(18)

7

2.3.

Plano Nacional de Saúde (2012-2016)

Em Portugal, o número médio de dias de ausência ao trabalho devido a doença apresentou um decréscimo relativo de 18,9%, entre 2005 e 2009, diminuindo de 9,0 para 7,3 dias. Entre 2000 e 2009, o número de pensionistas por invalidez na população dos 18 aos 64 anos decresceu 23,9%, passando de 55,6‰ para 42,3‰. Em 2010, o número médio de dias de trabalho perdidos por invalidez foi de 11,2 dias (Ministério da Solidariedade e Segurança Social, 2011).

O Plano Nacional de Saúde menciona que os determinantes da saúde são de diversa natureza, podendo ser categorizados de diferentes maneiras. A título de exemplo, sugere quatro categorias: contexto demográfico e social (cultura, política, género, fatores socioeconómicos e capacidade comunitária), ambiente físico (condições de vida e de trabalho), dimensões individuais (legado genético e comportamentos) e acesso a serviços de saúde.

Este documento refere a abordagem da saúde pelo ciclo de vida das pessoas, sendo considerados diferentes níveis de contextos promotores da saúde. Entre estes contextos importa destacar o meso-sistema: comunidade, locais de trabalho e lazer, escolas e universidades, instituições de acolhimento, voluntariado, organizações religiosas, juntas de freguesia.

Cada profissão ou atividade, no seu contexto, tem impacto na saúde e no bem-estar individual e da comunidade, em aspetos como educação, capacitação, identificação de situações críticas, acesso adequado aos serviços de saúde, segurança, entre outros. Os profissionais devem cultivar uma perspetiva holística e salutogénica da saúde e valorizar o seu trabalho, também, pelo impacto na saúde e bem-estar. A saúde resultará assim de um trabalho multidisciplinar, em que cada profissão contribui com o seu saber e responsabilidade.

Neste Plano, o contexto de atividade de trabalho é mencionado, na fase de juventude e vida adulta, como influenciador de saúde ao longo do ciclo de vida. E é feita menção à importância de prevenção de saúde nos contextos laborais.

O contexto laboral remete para a operacionalização dos princípios da saúde ocupacional e para a responsabilidade, das instituições públicas e privadas, pela promoção e proteção da saúde dos funcionários, clientes e da sociedade em geral.

Relativamente a orientações e evidências a nível de decisão política são identificados os seguintes pontos no âmbito de SHST:

 desenvolver referenciais e orientações que incentivem as oportunidades de promoção e proteção da saúde e prevenção das doenças e complicações, ao longo do ciclo de vida (períodos críticos e janelas de oportunidade), contextos, situações fisiológicas e necessidades especiais;

 capacitar os sistemas de informação e monitorização da saúde para que, de um modo abrangente e integrado, seja possível aos sistemas de informação responderem às necessidades específicas de informação e articularem informações de diferentes entidades.

(19)

8

3. Enquadramento Legal e Normativo no Domínio de Segurança,

Higiene e Saúde no Trabalho

3.1. Organização Internacional do Trabalho

A organização internacional de trabalho tem produzido e aprovado normas que têm influenciado de forma decisiva o desenvolvimento e aperfeiçoamento de legislação dos Estados membros em matéria de SHST.

A OIT cria dois tipos de normas: convenções e recomendações, ambas têm de ser aprovadas pela maioria dos estados em Conferência.

Em 22 de Junho de 1981 foi aprovada a Convenção nº. 155 da OIT - Convenção sobre a segurança, a saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho. Em Portugal, a ratificação desta Convenção foi aprovada pelo Decreto do Governo nº. 1/85, de 16 de Janeiro. A Convenção nº. 155 constitui o grande quadro de referência internacional relativamente às políticas em matéria de SHST. A convecção estabeleceu a necessidade dos Estados membros adotarem uma política nacional que visasse a prevenção de acidentes de trabalho e dos riscos para a saúde resultantes do trabalho (Nunes, 2009). Segundo esta Convenção, qualquer membro deverá, à luz das condições e da prática nacionais e em consulta com as organizações de empregadores e trabalhadores mais representativas, definir, pôr em prática e reexaminar periodicamente uma política nacional coerente em matéria de segurança, saúde dos trabalhadores e ambiente de trabalho. Essa política terá como objetivo a prevenção dos acidentes e dos riscos para a saúde resultantes do trabalho, quer estejam relacionados com o trabalho, quer ocorram durante o trabalho, reduzindo ao mínimo as causas dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho, na medida em que isso for razoável e praticamente realizável.

Segundo o artigo 5º. do Decreto do Governo nº. 1/85, de 16 de Janeiro, a política mencionada teve em conta as seguintes grandes esferas de ação, na medida em que estas afetam a segurança, a saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho:

 a conceção, a experimentação, a escolha, a substituição, a instalação, a organização, a utilização e a manutenção dos componentes materiais do trabalho (locais de trabalho, ambiente de trabalho, ferramentas, máquinas e materiais, substâncias e agentes químicos, físicos e biológicos e processos de trabalho);  as relações que existem entre os componentes materiais do trabalho e as pessoas

que executam ou supervisionam o trabalho, assim como a adaptação das máquinas, dos materiais, do tempo de trabalho, da organização do trabalho e dos processos de trabalho às capacidades físicas e mentais dos trabalhadores;

 a formação complementar necessária, as qualificações e a motivação das pessoas que intervêm, a qualquer título, no sentido de serem alcançados níveis de segurança e higiene suficientes;

 a comunicação e a cooperação ao nível do grupo de trabalho e da empresa e a todos os outros níveis apropriados, incluindo a nível nacional;

 a proteção dos trabalhadores e dos seus representantes contra todas as medidas disciplinares decorrentes de ações por eles devidamente efetuadas, em conformidade com a política definida.

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9

Além da aplicação prática de uma política nacional em matéria de SHST, é contemplada a necessidade de fiscalização da aplicação das leis e das prescrições relativas à segurança, à higiene e ao ambiente de trabalho, a qual deverá ser assegurada por um sistema de inspeção apropriado e suficiente.

São incumbidos similarmente níveis de ação no panorama das empresas, sendo que, neste contexto, é alertada a necessidade dos empregadores de tomar as medidas necessárias para que os locais de trabalho, as máquinas, os materiais e os processos de trabalho sujeitos à sua fiscalização não apresentem risco para a segurança e saúde dos trabalhadores.

É também incluído no documento a contribuição dos trabalhadores no domínio de SHST, leia-se nos artigos 19º. da ratificação:

" Deverão ser tomadas disposições a nível de empresa segundo as quais:

a) Os trabalhadores, no âmbito do seu trabalho, deem o seu contributo no cumprimento das obrigações que incumbem ao empregador;

b) Os representantes dos trabalhadores na empresa cooperem com o empregador no domínio da segurança e da higiene no trabalho;

c) Os representantes dos trabalhadores na empresa recebam uma informação suficiente sobre as medidas tomadas pelo empregador para garantir a segurança e a saúde, podendo consultar as suas organizações representativas sobre essa mesma informação, desde que não divulguem segredos comerciais;

d) Os trabalhadores e os seus representantes na empresa recebam uma formação apropriada no domínio da segurança e da higiene no trabalho;

e) Os trabalhadores ou os seus representantes e, sendo caso disso, as suas organizações representativas na empresa fiquem habilitados, em conformidade com a legislação e a prática nacionais, a examinar todos os aspetos da segurança e da saúde relacionados com o seu trabalho e sobre os mesmos sejam consultados pelo empregador; com esse objetivo poder-se-á recorrer, por acordo mútuo, a conselheiros técnicos escolhidos fora da empresa;

f) Os trabalhadores assinalem imediatamente aos seus superiores hierárquicos diretos qualquer situação relativamente à qual tenham um motivo razoável para considerar que ela representa um perigo iminente e grave para a sua vida ou para a sua saúde, não podendo o empregador pedir aos trabalhadores que retomem o trabalho numa situação em que persista tal perigo eminente enquanto não forem tomadas medidas que visem a sua correção, se tal for necessário."

Por último, é mencionado que as medidas de segurança e higiene no trabalho não devem constituir qualquer encargo para os trabalhadores.

3.2. União Europeia

As comunidades europeias (um dos três pilares centrais da união europeia) substanciam a forma mais avançada da construção comunitária. No seu centro está o mercado comunitário interno e as políticas comunitárias que abrangem vários domínios, entre eles a SHST. Neste domínio os princípios regentes são a autonomia, a aplicabilidade direta e o primado do direito comunitários. Consequentemente, devido à sua aplicabilidade direta, as regras de direito comunitários criam diretamente direitos e deveres para os Estados e, em certos casos, para os respetivos cidadãos (Nunes, 2009).

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10

Em 1989 foi publicada pela Comissão Europeia a Diretiva 89/391/CEE, de 12 de Junho - designada comumente por Diretiva Quadro - a qual teve por objeto a execução de medidas destinadas a promover no espaço europeu a melhoria da segurança e saúde dos trabalhadores. Deste modo, ao apostar na prevenção e na segurança é possível diminuir os acidentes de trabalho, o se que traduz num aumento da produção, devido à diminuição do número de absentismo por sinistralidade laboral.

Esta Diretiva Europeia veio introduzir diversas inovações nas estratégias de prevenção. Passou a considerar-se que uma empresa, enquanto organização, é um sistema sociotécnico (composto por um sistema social e técnico), aberto ao exterior. Daí decorre, desde logo, uma extraordinária influência da envolvente da empresa e dos seus fatores organizacionais no ambiente de segurança e saúde no trabalho.

Foram considerados também os novos riscos emergentes, relativos ao desenvolvimento de novas formas de informatização dos processos e dos equipamentos de trabalho, os quais acentuaram de forma extremamente rápida a carga mental exigida, as lesões músculo-esqueléticas e os novos riscos de natureza psicossocial (stress, burnout, intimidação psíquica, precaridade de emprego, etc.) (Cabral, 2010).

A presente diretiva estabelece as regras básicas em matéria de proteção da saúde e da segurança dos trabalhadores. As medidas nela previstas têm como objetivo, nomeadamente, eliminar os fatores de risco de doença e de acidente profissionais.

Estas medidas aplicam-se a todos os sectores de atividade, privados ou públicos, excluindo atividades específicas na função pública (forças armadas, polícia, etc.) e os serviços de proteção civil.

Esta diretiva estabelece, como dever das entidades patronais, garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores em todos os aspetos ligados ao trabalho, incluindo se recorrerem a pessoas ou serviços externos à empresa.

Assim, a entidade patronal implementa meios e medidas de proteção dos trabalhadores. Trata-se de atividades de prevenção, de informação e de formação dos trabalhadores, nomeadamente para:

 evitar ou gerir os riscos que não possam ser evitados;

 dar instruções apropriadas aos trabalhadores, privilegiando medidas de proteção coletiva;

 adaptar as condições de trabalho, os equipamentos e os métodos de trabalho tendo em conta as evoluções técnicas.

Em caso de alteração das condições de trabalho, os meios e as medidas de proteção devem ser adaptados. Além disso, a entidade patronal deve considerar a natureza das atividades da empresa e as capacidades dos trabalhadores.

Se trabalhadores de várias empresas estiverem presentes num mesmo local de trabalho, as várias entidades patronais deverão cooperar e coordenar as suas atividades de proteção e prevenção dos riscos.

Para além disso, as atividades de primeiros socorros, de luta contra incêndios ou de evacuação dos trabalhadores, em caso de perigo grave, devem ser adaptadas à natureza das atividades e à dimensão da empresa. A entidade patronal deve informar e formar os trabalhadores que possam ser expostos a um risco grave e imediato.

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11

A entidade patronal cria um serviço de proteção e de prevenção na sua empresa ou estabelecimento, incluindo as atividades de primeiros socorros e de reação aos perigos graves. Esta nomeia um ou vários trabalhadores formados para garantir o acompanhamento das medidas ou recorre a serviços externos.

O controlo de saúde dos trabalhadores é garantido por medidas estipuladas de acordo com as legislações e práticas nacionais. Cada trabalhador pode solicitar um controlo de saúde a intervalos regulares.

Os grupos de pessoas de risco ou particularmente sensíveis devem ser protegidos contra os perigos que os possam afetar especificamente.

As entidades patronais consultam os trabalhadores e os respetivos representantes relativamente a todos os aspetos relacionados com a SHST.

Cada trabalhador deve cuidar da sua segurança e saúde, bem como da segurança e saúde das outras pessoas afetadas pelas suas ações ou omissões no trabalho. De acordo com a formação recebida e as instruções dadas pelas suas entidades patronais, os trabalhadores devem, em especial:

 utilizar corretamente os equipamentos, instrumentos e substâncias relacionados com a sua atividade;

 utilizar corretamente o equipamento de proteção individual;

 não desligar, mudar ou deslocar arbitrariamente os dispositivos de segurança;

 comunicar imediatamente qualquer situação de trabalho que represente um perigo grave e imediato.

Nesta diretiva incluíram-se nove princípios gerais – atribuídos às entidades empregadoras – relativos: à prevenção dos riscos profissionais e à proteção da segurança e da saúde, à eliminação dos fatores de risco e de acidente, à informação, à consulta e à participação (de acordo com as legislações e/ou práticas nacionais), à formação dos trabalhadores e seus representantes, assim como linhas mestras a observar com vista à sua aplicação no terreno.

Esta diretiva foi transposta para o direito interno português através do Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro, alterado posteriormente pelo Decreto-Lei n.º 133/99, de 21 de Abril. Mais tarde os Princípios Gerais da Prevenção foram assumidos pela Lei nº 102/2009, de 10 de Setembro, que revoga os diplomas atrás referidos.

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Quadro 1 - Os 9 Princípios Gerais de Prevenção de acordo com a Diretiva 89/391/CEE

Princípio Descrição

Primeiro Evitar os riscos;

Segundo Avaliar os riscos que não possam ser evitados; Terceiro Combater os riscos na origem;

Quarto

Adaptar o trabalho ao homem, especialmente no que se refere à conceção dos postos de trabalho, bem como à escolha dos equipamentos de trabalho e dos métodos de trabalho e de produção, tendo em vista, nomeadamente, atenuar o trabalho monótono e o trabalho cadenciado e reduzir os efeitos destes sobre a saúde;

Quinto Ter em conta o estádio de evolução da técnica;

Sexto Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos perigoso; Sétimo

Planificar a prevenção com um sistema coerente que integre a técnica, a organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações sociais e a influência dos fatores ambientais no trabalho;

Oitavo Dar prioridade às medidas de prevenção coletiva em relação às medidas de proteção individual;

Nono Dar instruções adequadas aos trabalhadores.

3.3. Nacional

Apesar de a legislação e a regulamentação não constituírem só por si uma solução, certo é que os seus conteúdos e as formas de cumprimento adotadas determinam em larga medida as condições de SHST (Miguel, 2005).

A Lei-quadro de SHST, publicada atualmente na lei n.º 102/2009, transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 89/391/CEE, do Conselho, de 12 de Junho, relativa à aplicação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde dos trabalhadores no trabalho, alterada pela Diretiva n.º 2007/30/CE, do Conselho, de 20 de Junho. A presente lei regulamenta o regime jurídico da promoção e prevenção da segurança e da saúde no trabalho, de acordo com o previsto no artigo 284.º do atual Código do Trabalho.

É de extrema importância que a entidade empregadora perspetive a prevenção como uma mais-valia para a competitividade da empresa e satisfação dos seus funcionários, resultando num aumento da produção e redução da sinistralidade laboral. O empregador tem obrigação de assegurar a segurança e saúde dos trabalhadores em todos os locais de trabalho e relativamente a todos os aspetos relacionados o trabalho.

Deste modo poderá tomar medidas de proteção dos trabalhadores através da prevenção de riscos profissionais, da informação aos trabalhadores, e da organização e criação de meios para aplicar as medidas necessárias (Nunes, 2009).

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Segundo o artigo 15º, da Lei n.º 102/2009, o empregador tem a obrigação de, entre outras funções:

 assegurar ao trabalhador condições de segurança e de saúde em todos os aspetos do seu trabalho;

 zelar, de forma continuada e permanente, pelo exercício da atividade em condições de segurança e de saúde para o trabalhador, tendo em conta os princípios gerais de prevenção;

 assegurar a vigilância da saúde do trabalhador em função dos riscos a que estiver potencialmente exposto no local de trabalho.

É ainda mencionado que, na aplicação das medidas de prevenção, o empregador deve organizar os serviços adequados, internos ou externos à empresa, mobilizando os meios necessários, nomeadamente nos domínios das atividades técnicas de prevenção, da formação e da informação, bem como o equipamento de proteção que se torne necessário utilizar.

Os trabalhadores são uma peça essencial para que a segurança do local de trabalho seja eficaz, para tal, estes dispõem de direitos e deveres que asseguram que a SHST é benéfica para os mesmos. Posto o pressuposto anterior, o artigo 17º, da lei n.º 102/2009, remete para as obrigações do trabalhador, nomeadamente:

 cumprir as prescrições de segurança e de saúde no trabalho estabelecidas nas disposições legais e em instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, bem como as instruções determinadas com esse fim pelo empregador;

 utilizar corretamente e de acordo com as instruções transmitidas pelo empregador, máquinas, aparelhos, instrumentos, substâncias perigosas e outros equipamentos e meios postos à sua disposição, designadamente os equipamentos de proteção coletiva e individual, bem como cumprir os procedimentos de trabalho estabelecidos;  comunicar imediatamente ao superior hierárquico ou, não sendo possível, ao

trabalhador designado para o desempenho de funções específicas nos domínios da segurança e saúde no local de trabalho, as avarias e deficiências por si detetadas que se lhe afigurem suscetíveis de originarem perigo grave e iminente, assim como qualquer defeito verificado nos sistemas de proteção.

3.3.1.

Serviços de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho

A Diretiva-quadro (Diretiva Europeia 89/391/CEE), ao estabelecer o princípio do sistema de gestão da prevenção na empresa, indica que a sua implementação obriga o empregador a organizar as atividades de segurança e saúde no trabalho, afetando-lhes os meios necessários à concretização da lei, os quais devem ser integrados na política de segurança e saúde da empresa. Tais objetivos encontram-se transpostos para direito nacional pela Lei nº. 102/2009 (Cabral, 2010).

A Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, define que as entidades empregadoras devem organizar os serviços de segurança e saúde no trabalho de acordo com as seguintes modalidades: serviço interno, serviço externo e serviço comum.

Sendo que, no caso dos serviços externos, enquanto modalidade de organização de serviços de prevenção, consistem na estruturação dos serviços da empresa a partir de

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contração de serviços externos à mesma, como é o caso da contratação de empresa privada de prestação de serviços de SHST.

O serviço de SHST deve tomar as medidas necessárias para prevenir os riscos profissionais e promover a segurança e a saúde dos trabalhadores, nomeadamente:

 planear a prevenção, integrando a todos os níveis e, para o conjunto das atividades da empresa, a avaliação dos riscos e as respetivas medidas de prevenção;

 proceder à avaliação dos riscos, elaborando os respetivos relatórios;

 elaborar o plano de prevenção de riscos profissionais, bem como planos detalhados de prevenção e proteção exigidos por legislação específica;

 participar na elaboração do plano de emergência interno, incluindo os planos específicos de combate a incêndios, evacuação de instalações e primeiros socorros;  colaborar na conceção de locais, métodos e organização do trabalho, bem como na

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15 As funções dos serviços estão sintetizadas Quadro 2.

Quadro 2 - Funções dos serviços de SHST

Funções Domínios de atividade Planeamento da SHST  Planificação de ações  Programação de atuações  Monitorização  Avaliação Implementação de ações

 Ações de prevenção: deteção e eliminação dos perigos, avaliação dos riscos, controle dos riscos, situações de perigo grave e iminente  Ações de proteção: proteção dos trabalhadores, proteção dos

trabalhadores vulneráveis, ações de emergência  Vigilância da saúde  Informação  Formação  Apoio à participação Coordenação de ações

 Setores e trabalhadores da empresa  Trabalhadores independentes

 Outros profissionais presentes na empresa

 Intervenção de empresas externas na atividade produtiva  Publico

 Clientes

 Utilização de recursos externos para as atividades de SHST Relação com o

exterior

 Organismos da rede de prevenção

 Organismos setoriais (associações patronais e sindicatos

Recolha e tratamento de dados

 Autoridades

 Relatórios de avaliação de riscos  Notificações obrigatórias

 Lista de medidas de controlo de riscos  Relatórios de auditoria

 Informação técnica de SHST  Relatórios de acidentes e incidentes  Lista de acidentes

 Lista de absentismo

 Lista de doenças profissionais  Relatório anual de atividades

Gestão dos recursos afetos aos serviços de proteção e prevenção

 Formação dos trabalhadores designados para atividades de proteção

 Informação técnica de SHST  Instrumentos de avaliação de riscos  Equipamentos de proteção

 Sinalização de segurança  Sistemas de emergência

 Documentação relacionada com a atividades dos serviços de proteção e prevenção

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16

3.3.2. Intervenção do Técnico de Segurança e Saúde no Trabalho

A Lei n.º 42/2012, de 28 de agosto, define Técnico Superior de Segurança e Saúde no Trabalho como o profissional que organiza, desenvolve, coordena e controla as atividades de prevenção de proteção contra riscos profissionais.

Neste âmbito, compete-lhe o desenvolvimento das seguintes atividades:

 colaborar na definição da política geral da empresa relativa à prevenção de riscos e planear e implementar o correspondente sistema de gestão;

 desenvolver processos de avaliação de riscos profissionais;

 conceber, programar e desenvolver medidas de prevenção e de proteção;

 coordenar tecnicamente as atividades de segurança e higiene no trabalho, assegurando o enquadramento e a orientação técnica dos profissionais da área da segurança e higiene no trabalho;

 participar na organização do trabalho;

 gerir o processo de utilização de recursos externos nas atividades de prevenção e de proteção;

 assegurar a organização da documentação necessária à gestão da prevenção na empresa;

 promover a informação e a formação dos trabalhadores e demais intervenientes nos locais de trabalho;

 promover a integração da prevenção nos sistemas de comunicação da empresa, preparando e disponibilizando a necessária informação específica;

 dinamizar processos de consulta e de participação dos trabalhadores;

 desenvolver as relações da empresa com os organismos da rede nacional de prevenção de riscos profissionais.

4. Caracterização da empresa

Este estágio foi realizado numa empresa de prestação de serviços externos de consultoria, projetos e formação nas áreas de higiene e segurança no trabalho, ambiente e ergonomia.

Tem como visão a crença de que a promoção da segurança e saúde no trabalho e a proteção ambiental não são uma mera questão de cumprimento legal mas uma ferramenta de desenvolvimento estratégico para as empresas.

A empresa é constituída por uma equipa multidisciplinar com profissionais nas áreas de engenharia química, engenharia do ambiente e ergonomia.

A empresa possui, no âmbito dos serviços externos de higiene e segurança diversos serviços: análises de riscos, avaliação da exposição dos trabalhadores a agentes físicos e químicos (iluminação, radiação, poeiras, gases, entre outros), consultoria técnica e

(28)

17

documental (legislação e normas), estudo da exposição dos trabalhadores ao ruído nos locais de trabalho, planos de emergência internos, formação,entre outros.

Tendo em conta o âmbito de abrangência da empresa foram desenvolvidas atividades nos campos de avaliação de riscos, e avaliação da exposição dos trabalhadores a fatores físicos e químicos.

O presente estagio teve a duração de 6 meses, desenvolvendo-se no período compreendido entra 22 de Novembro e 22 de Maio, com frequência nos dias uteis (2ª-feira a 6ª-(2ª-feira).

4.1.

Objetivos do estágio

O estágio tem como objetivo a integração e enquadramento em contexto profissional no local de trabalho, consequentemente neste estágio foram desenvolvidas atividades inerentes à atividade da empresa (consultoria projetos e formação em segurança no trabalho). Deste modo os objetivos gerais do estágio foram:

 reconhecimento de fatores de risco ambientais em contexto ocupacional;

 monitorização de fatores de risco de natureza ambiental em contexto de trabalho;  avaliação do risco de exposição ocupacional a fatores de risco ambientais;  proposta de medidas de controlo de riscos ambientais em contexto;

Estes objetivos foram desenvolvidos em dois contextos ocupacionais distintos: escolar e industrial.

Sendo inerentes ao contexto escolar os seguintes objetivos específicos:  reconhecimento de fatores de risco ambientais em contexto escolar;  avaliação do risco de exposição ocupacional a fatores de risco ambientais;  proposta de medidas de controlo de riscos ambientais em contexto escolar;

 monitorização de fatores de risco de natureza física: iluminação em contexto escolar;  avaliação do risco de exposição ocupacional a iluminação deficiente resultante da

monitorização;

 proposta de medidas de controlo de riscos físicos decorrentes da iluminação avaliados em contexto escolar;

Em contexto industrial é possível definir os seguintes objetivos específicos:

 monitorização de fatores de risco de natureza química: agentes químicos em industrial ;

 avaliação do risco de exposição ocupacional aos agentes químicos monitorizados;  proposta de medidas de controlo de riscos químicos avaliados no contexto industrial.

(29)

18

4.2.

Enquadramento das atividades desenvolvidas

Tendo em conta a empresa e âmbito de realização do estágio, as atividades desenvolvidas recaíram fundamentalmente sobre a gestão de riscos profissionais.

Como já foi mencionado anteriormente, o empregador tem o dever e obrigação de proceder à identificação, avaliação e controlo de riscos. No entanto, nem sempre este imperativo existiu.

A gestão de risco começou por ser introduzida por grandes empresas com o objetivo de reduzir os custos relativos ao pagamento de seguros e, ao mesmo tempo, aumentar a proteção do património e dos trabalhadores.

Neste sentido, a gestão de riscos surge como um instrumento de redução e controlo dos riscos presentes, oferecendo filosofias e suporte técnico que visam otimizar o uso de tecnologia, a qual sofre um avanço acelerado e, não raramente, inconsistente com os padrões mínimos de segurança que devem estar presentes. A gestão de riscos dentro de uma empresa representa a possibilidade de se atribuir segurança e confiabilidade aos processos e procedimentos, constituintes do seu ambiente operativo, permitindo a integração da segurança do trabalho e da segurança patrimonial (Nunes, 2009).

A sinistralidade laboral poderá ocorrer como resultado de diversos fatores de risco: condições materiais, meio ambiente envolvente, agentes físicos, químicos e biológicos presentes no trabalho, organização de trabalho, condições pessoais, carga de trabalho. Estes fatores, considerados juntos ou separados, constituem as condições de trabalho que formam parte do contexto de interação do indivíduo.

Para além das características objetivas, os riscos laborais têm dimensões subjetivas e sociais que incidem no funcionamento da empresa em geral, e dos sistemas preventivos, em particular. Cada grupo percebe os riscos do seu modo, que não coincidem necessariamente com os identificados pelos serviços de prevenção da empresa (Freitas, 2008).

Várias são as metodologias possíveis para estimar a gravidade e a probabilidade de um efeito adverso. Contudo, distinguem-se duas vertentes: uma para os riscos objetivamente mensuráveis (os que possuem valores de referência com os quais se podem comparar) e outra para os restantes riscos.

Em vigilância do ambiente de trabalho, consideram-se fatores de risco mensuráveis aqueles que possuem valores limites de exposição (VLE), como por exemplo o ruído; ou possuem valores de referência de exposição, reconhecidos internacionalmente pela comunidade científica, como por exemplo os níveis de iluminância. Estão estabelecidos valores para um número muito limitado de fatores de risco de entre os existentes (Dias, Vicente, Matos, Madeira, Santos, & Simões, 2010).

Nas situações em que os fatores de risco não têm valores de referência atribuídos, a probabilidade de ocorrência e a gravidade do dano devem ser estimadas de forma qualitativa admitindo-se a subjetividade intrínseca, sempre presente nos processos de valoração do risco (Dias et al., 2010), como é o caso das matrizes de risco (métodos semi-quantitativos) nos quais os valores de severidade e probabilidade têm por base descritores qualitativos.

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19

No presente trabalho, foram realizadas avaliações de exposição a riscos de natureza mensurável (exposição a compostos químicos e níveis de iluminação) e não mensurável (avaliação de risco com recurso a matriz simplificada).

5. Exposição a agentes químicos

De entre a grande diversidade de elementos condicionantes da saúde existentes num ambiente de trabalho, as substâncias químicas ocupam o mais extenso grupo de fatores de risco de natureza profissional. O número de substâncias químicas a que se encontram expostos os trabalhadores em ambientes profissionais é cada vez mais elevado, sabendo-se que atualmente existem cerca de 100 000 substâncias químicas com utilização industrial e consideradas agentes de doença profissional (Uva & Prista, 2002; Ahrens, Braun, Gleich, Heitmann, & Libner, 2006).

A produção e comercialização de produtos químicos constituem um importante setor da economia. A maioria dos químicos de uso corrente tem repercussões ambientais e riscos para a saúde humana, em todas as fases do seu ciclo de vida, desde a produção, armazenamento, transporte e utilização até ao seu destino final (Nunes, 2009). A introdução constante de novas substâncias trás mais riscos de exposição a diferentes compostos (Ahrens et al., 2006).

A exposição a agentes químicos é responsável por mais mortes por doenças causadas pelo trabalho, do que por acidentes industriais. Apesar disso, tem sido dada maior importância à segurança dos químicos do que ao processo de exposição e consequências para a saúde (Hassim & Hurme, 2010). Trabalhadores de muitas indústrias modernas tem vindo a ter uma longa exposição a uma grande multitude de perigos químicos para a sua segurança e saúde-alguns deles óbvios, a grande maioria mal/pouco percecionados (Fagotto & Fung, 2002).

No entanto, a importância do processo de avaliação de saúde ocupacional, tem sido gradualmente reconhecido (Hassim & Hurme, 2010). Atualmente a utilização destes produtos encontra-se profusamente regulamentada, uma vez que constitui risco para a saúde dos trabalhadores, em particular. Contudo, a utilização destes produtos contribui para a competitividade das economias, pelo que não é possível a sua erradicação.

O uso de produtos alergénios, sensibilizantes, carcinogénicos e mutagénicos bem como de produtos capazes de afetar o sistema reprodutivo, tem vindo a ser monitorizado nos países mais desenvolvidos, mas encontra-se fora de controlo efetivo nos países em vias de desenvolvimento. Segundo a Organização internacional do Trabalho (2010), nas últimas décadas, a maioria das indústrias incrementou a utilização de produtos nocivos para a saúde e ambiente, sendo que a sua maioria não foi convenientemente testada. Assim, tal como no passado, continuamos a introduzir produtos químicos nos processos de fabrico, sem que existam suficientes conhecimentos sobre os seus efeitos sobre a saúde dos trabalhadores.

De acordo com o International Programme on Chemical Safety, o incremento das indústrias químicas e a utilização ou produção de substâncias químicas noutras indústrias e tipos de atividade, deverá potenciar os inerentes problemas e efeitos para a saúde. Uma crescente proporção da população estará, assim, exposta a substâncias potencialmente tóxicas, não esquecendo que, no caso da exposição profissional esta representa para os trabalhadores um acréscimo significativo à exposição de qualquer outro cidadão (Prista & Uva, 2003).

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20

Nos termos da legislação europeia, cabe às entidades patronais proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores, através de avaliação do risco, procedendo, quando necessário, a nova avaliação; eliminação do risco ou, quando tal não seja possível, redução do risco; monitorização, com o objetivo de garantir que as medidas de controlo continuem a ser eficazes.

A avaliação de riscos de contaminantes ambientais tem-se expandido muito nas últimas décadas, o número de contaminantes tem aumentado, o conhecimento do seu efeito biológico também (Ragas, 2011). A avaliação da exposição profissional a agentes químicos inclui a determinação da concentração destes agentes no ar dos locais de trabalho e a comparação dos valores de referência que representam níveis de exposição aceitáveis (IPQ, 2007). A forma mais comum de avaliação do risco de exposição é a comparação com os valores limite de exposição (Hassim & Hurme, 2010).

Segundo a Diretiva 98/24/CE, os riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores no local de trabalho que envolvam agentes químicos perigosos devem ser eliminados ou reduzidos ao mínimo mediante:

 a conceção e organização dos sistemas de trabalho no local de trabalho;

 a disponibilização de equipamento adequado para trabalhar com agentes químicos e processos de manutenção que garantam a saúde e segurança dos trabalhadores no local de trabalho;

 a redução ao mínimo do número de trabalhadores expostos ou suscetíveis de estar expostos;

 a redução ao mínimo da duração e intensidade da exposição;  medidas de higiene adequadas;

 a redução da quantidade de agentes químicos presentes no local de trabalho até ao mínimo requerido para o tipo de trabalho em questão;

 processos de trabalho adequados, incluindo disposições para o manuseamento, a armazenagem e o transporte, com segurança no local de trabalho, de agentes químicos perigosos, bem como de resíduos que contenham esse tipo de agentes químicos.

5.1.

Conceitos importantes

No contexto da exposição a agentes químicos, é fundamental ter em conta definições próprias desta área. Seguidamente apresentam-se algumas definições fundamentais. Entende-se por agente químico qualquer elemento ou composto químico, só ou em misturas, quer se apresente no seu estado natural quer seja produzido, utilizado ou libertado, inclusivamente libertado como resíduo, por uma atividade laboral, quer seja ou não produzido intencionalmente ou comercializado (Mendes, 2007).

Este agente químico é considerado perigoso, de acordo com o Decreto-Lei nº24/2012, de 6 de Fevereiro, quando cumpre uma das premissas:

"i) qualquer agente químico classificado como substância ou mistura perigosa de acordo com os critérios estabelecidos na legislação aplicável sobre classificação, embalagem e rotulagem de substâncias e misturas perigosas, esteja ou não a substância ou mistura

Imagem

Figura 2 - Avaliação e controlo de riscos.
Tabela 2 – Apresentação de resultados – Metais (Crómio, Manganês e Níquel).
Tabela 4 – Apresentação de resultados – Acetato de n-butilo.
Tabela 8 – Apresentação de resultados – Ciclohexano.
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Referências

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