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II. Enquadramento teórico

5. Exposição a agentes químicos

5.4. Monitorização ambiental

A vigilância/monitorização ambiental visa quantificar e controlar o agente químico no ambiente de trabalho, avaliando o risco para a saúde por comparação com referenciais. Baseia-se, assim, na determinação da concentração do tóxico no ambiente de trabalho (dose externa), utilizando como critérios de aceitabilidade os valores máximos admissíveis que representam a maior concentração de uma substância química a que a quase totalidade dos trabalhadores pode estar exposta, ao longo da jornada de trabalho, sem que desta resulte efeito (adverso) para a saúde (Uva. & Prista, 2002). Atualmente tem-se utilizado o Valor Limite de Exposição.

A vigilância biológica da exposição profissional funciona como medida complementar, a maioria das vezes através do sangue e da urina dos trabalhadores expostos, de parâmetros representativos da substância ou dos seus metabolitos ou a umas das modificações bioquímicas provocadas pela ação da substância (Freitas, 2008).

A monitorização ambiental para apreciar a exposição a agentes químicos compreende quatro fases (Cabral, 2010):

 identificar dos agentes químicos presentes e respetivas fontes de emissão;  quantificar a concentração dos agentes químicos encontrados;

 avaliar o risco de exposição com base nos valores obtidos na quantificação por comparação com os de referência, classificando assim a situação quanto ao risco para a saúde;

 estabelecer medidas de prevenção/ controlo adequadas às situações identificadas. Existem diversas metodologias de quantificação. Estas devem ser selecionadas em função das informações obtidas na fase de identificação dos agentes químicos, tendo em conta as suas particularidades.

5.4.1.

Quantificação dos agentes químicos

A exposição, no caso dos agentes químicos, representa a concentração de substância no ar inalado pelo trabalhador, pelo que expressa em unidades de concentração (em massa ou em volume). Contudo, não é necessariamente a concentração da substância no ar de um determinado local. O processo produtivo pode ser contínuo ou o trabalhador pode desenvolver atividades em diferentes locais, o que implica situações ambientais diversas. Deste modo, a exposição por via inalatória será uma média ponderada das concentrações do agente, nas diferentes situações ambientais (Cabral, 2010).

A quantificação de contaminantes presentes no ar do local de trabalho é obtida através de dois processos: métodos diretos e métodos que requerem análise laboratorial (Nunes, 2009).

Os métodos diretos utilizam equipamentos que, de imediato, dão resposta sobre o nível de contaminação do ar no local da medição. Existem diferentes tipos de equipamentos de leitura direta. No caso dos contaminantes químicos, os métodos diretos englobam os aparelhos de leitura direta e os tubos colorimétricos.

Os aparelhos de leitura direta são aparelhos que através de sinal analógico, digital ou ambos, fornecem a concentração em contínuo ou a concentração pontual de um ou mais

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contaminantes específicos (APA, 2009; Cabral, 2010). A qualidade de medição é essencial para o resultado final, como tal deve ser garantida a sua calibração e manutenção.

Os métodos que requerem análise posterior enquadram-se em duas categorias: ativos e passivos. A diferença essencial entre estes dois métodos é o facto da retenção das substâncias ser feita por um processo passivo -por difusão, ou ativamente - forçando o ar a atravessar o coletor onde se encontra o meio de retenção. O processo utilizado para forçar a entrada de ar consiste numa bomba, dotada de medidor de fluxo, o qual também deve estar sempre calibrado, como é possível ver na Figura 1.

Existem vários tipos de coletores, de acordo com o contaminante a qualificar: sólidos, líquidos e filtros.

Figura 1 - Esquema do sistema de colheita de ar.

Fonte: Adaptado de Cabral (2010).

As colheitas devem ser representativas das situações de exposição laboral. A representatividade está dependente do local, do tipo e duração da colheita, do momento em que é efetuada e do número de colheitas recolhidas. O local de colheita deve ser preferencialmente junto das vias respiratórias do trabalhador.

O período de recolha deve estar de acordo com o tempo de execução da tarefa a analisar e deve cumprir os requisitos dos métodos analíticos (caso seja caso disso) (Cabral, 2010).

5.4.2.

Valor Limite de Exposição

Como já foi mencionado anteriormente, a avaliação dos valores obtidos é feita com base na comparação com valores limites de referência, designados valores limite de exposição. O Valor Limite de Exposição (VLE) é definido como a concentração de agentes químicos à qual se considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar expostos, dia após dia, sem efeitos adversos para a saúde.

A fixação de VLE surge da necessidade de prevenir doenças de origem profissional devido à exposição a um determinado contaminante, como forma de reduzir o seu impacto, fixando um limite determinado (Freitas, 2008).

Os VLE são estabelecidos para o uso na prática profissional de Higiene no trabalho e constituem apenas linhas orientadoras ou recomendações no controlo dos riscos potenciais para a saúde nos locais de trabalho, tendo em atenção que os níveis de contaminação devem ser sempre o mais baixos possível. Os VLE nunca devem ser utilizados como indicadores de toxicidade nem como linha divisória entre situações perigosas e não perigosas (IPQ, 2007).

Segundo a Norma Portuguesa no 1796: 2007 e a American Conference of Industrial

Hygienists o Valor Limite de Exposição (VLE) divide-se nas seguintes categorias:

Valor Limite de Exposição – Média Ponderada (VLE–MP) – concentração média

ponderada para um dia de trabalho de 8 horas e uma semana de 40 horas, à qual se

. Ar +

contaminante

. Coletor do

contaminante

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considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar expostos, dia após dia, sem efeitos adversos para a saúde.

Valor Limite de Exposição - Curta Duração (VLE-CD) – concentração à qual se

considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar repetidamente expostos por curtos períodos de tempo, desde que o valor VLE-MP não seja excedido e sem que ocorram efeitos adversos. São considerados vários efeitos adversos, tais como: irritação, lesões crónicas ou irreversíveis dos tecidos, efeitos tóxicos dependentes da dose e da taxa de absorção, narcose que possa aumentar a probabilidade de ocorrência de lesões acidentais, auto-fuga diminuída ou reduzir objetivamente a eficiência do trabalho.

O VLE-CD é definido como uma exposição VLE-MP de 15 min que nunca deve ser excedida durante o dia de trabalho, mesmo que a média ponderada seja inferior ao valor limite. Exposições superiores ao VLE-MP e inferiores ao VLE-CD não devem exceder os 15 min e não devem ocorrer mais do que 4 (quatro) vezes por dia. Estas exposições devem ter um espaçamento temporal de 60 min, pelo menos (IPQ, 2007).

Valor Limite de Exposição – Concentração máxima (VLE-CM) – Concentração que

nunca deve ser excedida durante qualquer período da exposição. O VLE-CM é determinado, por amostragem instantânea ou durante o mais curto período de tempo suficiente para detetar exposições ao nível do valor do VLE-CM ou superiores.

5.4.2.1. Efeito aditivo

A maioria dos VLE são desenvolvidos para uma única substância química. Contudo o ambiente de trabalho é muitas vezes composto por diversas substâncias originando exposições múltiplas, quer simultâneas, quer sequencialmente. Este tipo de exposições devem ser analisadas por forma a prevenir a ocorrência de efeitos negativos para a saúde (IPQ, 2007).

Quando dois ou mais agentes perigosos que têm um efeito toxicológico semelhante sobre o mesmo órgão-alvo ou sistema estão presentes, em simultâneo, no ar dos locais de trabalho deve ser considerado o seu efeito conjunto e não o efeito isolado de cada um deles. Na ausência de informação em contrário os efeitos dos agentes presentes devem ser sempre considerados como aditivos (IPQ, 2007). O efeito da exposição a uma combinação de substâncias é igual à soma dos efeitos de cada uma (Nunes, 2009). Para tal a American Conference of Industrial Hygienists (ACGIH), com transposição para a -norma Portuguesa 1796 : 2007, estabelece a seguinte expressão de cálculo de efeito aditivo. Se o somatório:

C1/VLE1+C2/VLE2+C3/VLE3+…+Cn/VLEn >11

Então o valor limite de exposição para essa mistura é considerado excedido. Esta expressão tem aplicação para VLE dos três tipos (MP, CD ou CM).

1 Sendo C1 a concentração atmosférica encontrada para o agente 1, e VLE1 o VLE encontrado

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5.4.2.2. Valor limite de exposição de misturas

Os produtos utilizados resultam da mistura de compostos químicos diferentes. Estes compostos têm efeitos individualmente, mas também como um todo na mistura dos produtos. Tendo em conta o pressuposto anterior é possível estabelecer um valor alarme dos produtos, o qual tem como elementos fundamentais o fator de correlação de misturas de componentes (CFi) e o valor limite de exposição das misturas (VLE mix).

O fator de correlação de misturas tem como fórmula base a soma do número de moles de fração (Xi) de cada componente dividida pelo respetivo fator de correlação (CFi):

CFmix = 1 / (X1/CF1 + X2/CF2 + X3/CF3 + ... Xi/CFi)

O valor limite de exposição para misturas é calculado de maneira similar ao CFmix, mas utilizando o VLE dos compostos:

VLE mix = 1 / (X1/VLE1 + X2/VLE2 + X3/VLE3 + ... Xi/VLEi)

O cálculo do valor alarme dos produtos é calculado dividindo o valor do VLE mix pelo valor do CFmix:

Alarme do produto = VLE mix / CFmix

Estabelece-se o valor mais baixo de VLE como metade do VLE mix, e o valor mais elevado de VLE como o VLE mix (RAE Systems Inc., 2010).

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