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II. Enquadramento teórico

7. Iluminação

Cerca de metade da informação recebida pelo ser humano é veiculada através da visão. Neste sentido, para que as tarefas executadas no local de trabalho possam desenvolver- se de uma forma eficiente é necessária uma boa integração dos dois fatores que se complementam na prossecução de uma boa visibilidade: a iluminação ambiental dos locais de trabalho e a visão dos trabalhadores a eles associados (Nunes, 2009).

Os locais de trabalhos devem portanto dispor de iluminação adequada que assegure o desempenho visual das tarefas e ambiente concordante com as exigências de SHST (Freitas, 2008).

Uma iluminação adequada é uma condição imprescindível para a obtenção de um bom ambiente de trabalho. A inobservância desta premissa resulta em consequências, as quais podem ser mais ou menos gravosas, tais como: danos visuais, menor produtividade e aumento dos acidentes de trabalho (Sajfert, Besic, Damnjanovic, Musicki, & Borko, 2012).

É possível, por exemplo, estabelecer uma relação inversa entre o cansaço decorrente do esforço visual e as condições ou características favoráveis da iluminação adequada. O aumento dos níveis de iluminação resulta na diminuição da fadiga visual. A partir de determinado valor (considerado valor ótimo), o aumento do nível de iluminação é considerado contraproducente, porque é excessivo. (Miguel, 2005)

A iluminação natural, proporcionada pela luz solar, é considerada ideal. Contudo devido ao desenvolvimento das instalações de sistemas informáticos (sistemas com recurso a ecrãs) nas empresas, admite-se que a luz possa vir de qualquer direção, desde que o plano luminoso (plano das janelas ou luminárias) seja perpendicular ao plano do visor (McCluney, 2008; Cabral, 2010; Sajfert et al., 2012).

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Apesar da preferência pela iluminação natural, por razões de ordem prática, nos locais de trabalho esta tem um uso restrito, existindo consequentemente necessidade de ser complementada com iluminação artificial (Miguel, 2005; Cabral, 2010; Comité Europeu de Normalização, 2011).

As necessidades de iluminação são determinadas pela satisfação de três necessidades humanas básicas (Comité Europeu de Normalização, 2011):

 conforto visual, com o qual os trabalhadores têm um sentimento de bem-estar, de uma maneira indireta. Isso também contribui para o maior nível de produtividade e uma maior qualidade do trabalho;

 desempenho visual, no qual os trabalhadores são capazes de realizar as suas tarefas visuais, mesmo sob difíceis circunstâncias e durante longos períodos;

 segurança visual, com a qual os trabalhadores não devem perder a noção da vizinhança e deve manter-se alerta para os perigos.

A qualidade da iluminação de um ambiente de trabalho depende fundamentalmente: da sua adequação ao tipo de atividade prevista, da limitação do encadeamento, da distribuição conveniente das lâmpadas e da harmonização da temperatura de cor da luz com as cores predominantes do local (Miguel, 2005).

Uma iluminação deficiente pode dar origem a riscos para a SHST, designadamente (Freitas, 2008; Nunes, 2009):

 fadiga ocular: irritação, redução da acuidade visual, menor rapidez preceptiva;

 fadiga visual: menor velocidade de reação, sensação de mal-estar, cefaleias e insónias;

 acidentes de trabalho;

 posturas inadequadas de trabalho;  tensão nervosa;

 falta de concentração;  diminuição da eficácia;  diminuição da produtividade;  efeitos psicológicos da cor.

7.1.

Conceitos essenciais

Existe uma série de conceitos que devem ser tidos em conta no panorama da iluminação. A luz é uma radiação eletromagnética que o olho humano percebe como claridade, isto é, a parte do espectro que podemos ver. É definida como cada radiação capaz de causar uma sensação visual direta.

As ondas da luz ocupam somente uma parte muito pequena do espectro das ondas eletromagnéticas (380 nm a 780 nm). Os limites de radiação visível variam de acordo com o indivíduo (Martins, 2007).

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O processo que ocorre quando o olho se ajusta à luminosidade e/ou à cor do campo de visão é denominado adaptação.

A acomodação resulta do ajustamento focal do olho, de modo a conseguir uma acuidade visual máxima a distâncias diferentes. Sendo que a acuidade visual é definida como a capacidade de distinguir os objetos entre si e os detalhes dos objetos situados muito perto uns dos outros.

No âmbito da iluminação é necessário ter em conta a iluminação geral e local. A iluminação geral é a iluminação concebida para se obter um nível aproximadamente uniforme em todo o espaço de trabalho considerado. A iluminação local, por outro lado, é a iluminação especial para o desempenho de uma tarefa específica, em sobreposição à iluminação geral e podendo ser controlada em separado (Fiorentin & Scroccaro, 2011). Outro aspeto a ter em conta é o encadeamento, o qual pode ser direto ou indireto. O encadeamento direto é definido como o desconforto ou alteração da visão que ocorre quando a zona visual se encontra excessivamente iluminada relativamente à luminosidade ambiente. Enquanto, o encadeamento por reflexão resulta do encadeamento devido a reflexões especulares em superfícies polidas ou brilhantes (Freitas, 2008).

7.2.

Grandezas fotométricas

O fluxo luminoso (Φ) é a quantidade de luz emitida por uma fonte luminosa, num intervalo de tempo (t), em todas as direções, medida logo à saída da fonte de luz.

A Intensidade luminosa [ I ] corresponde ao fluxo emitido por uma fonte luminosa numa só direção, ou seja, constitui uma medida do fluxo emitido numa determinada direção, dentro de um ângulo sólido unitário.

Quando a luz emitida por uma fonte atinge uma superfície, ilumina-a. Assim, a iluminância (E) é a medida de quantidade de luz incidente numa superfície, por unidade de área.

A luminância (L) ou brilho de uma superfície é a intensidade luminosa emitida, transmitida ou refletida por unidade de superfície (Philips, 2005).

A iluminância de um dado local deve variar gradualmente. A área onde é desempenhada uma dada tarefa deverá estar iluminada o mais uniformemente possível. A uniformidade da iluminância é definida como a relação entre os valores mínimos e médio de iluminância (International Organization for Standardization, 2002; McCluney, 2008).

7.3.

Distribuição da iluminação

A distribuição de luminância no campo visual controla o nível de adaptação visual, o qual afeta visibilidade da tarefa.

A luminância adequada é necessária para aumentar a acuidade visual, sensibilidade ao contraste (discriminação de pequenas diferenças de luminância) e eficiência das funções oculares (como o acomodação, a contração da pupila, etc.).

A distribuição de luminância no campo visual também afeta o conforto visual. Consequentemente deve evitar-se: luminâncias muito altas, que podem dar origem ao

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brilho, contrastes muito altos de luminosidade que causam fadiga por causa da readaptação constante dos olhos; iluminâncias e contrastes de iluminâncias muito baixos, que resultem num trabalho monótono e ambiente não estimulante (Fiorentin & Scroccaro, 2011).

7.4.

Iluminância

A iluminância e a sua distribuição pelas áreas de trabalho, assim como pelas áreas envolventes, tem um grande impacto na rapidez, segurança e conforto com que as pessoas percecionam e levam a cabo as tarefas visuais.

Para diferentes tarefas são necessários diferentes níveis de iluminância, de modo a atingir conforto visual na performance requerida (Sajfert et al., 2012).

Os níveis de iluminância devem ser aumentados quando: o trabalho visual é crítico, os erros têm custos de retificação, a alta produtividade ou aumento da concentração são de grande importância, os detalhes da tarefa são muito pequenos ou com baixo contraste, a tarefa é mantida por um longo período de tempo ou o trabalhador tem uma capacidade visual abaixo do normal.

Existem outras características visuais que influenciam o desempenho visual, tais como as propriedades intrínsecas das tarefas (propriedades de tamanho, forma, posição, cor e refletância de detalhe e de fundo) e capacidade oftalmológica da pessoa (acuidade visual, perceção de profundidade, perceção cromática) (Comité Europeu de Normalização, 2011).

A adequabilidade da iluminação depende da tarefa desempenhada no espaço de trabalho. Para cada uma existem diferentes necessidades. Existem diversas referências para níveis de iluminação diferentes para os diferentes tipos de tarefas (Comité Europeu de Normalização, 2011). De um modo geral podemos considerar que os níveis de iluminância recomendados para os diferentes ambientes e tarefas oscilam entre 150 e 2000 lx. Estes valores têm em conta o compromisso entre os valores convenientes, mas também as limitações de ordem económica e técnica. (Miguel, 2005)

Como orientação geral é possível considerar o Quadro 4.

Quadro 4 - Iluminâncias recomendadas para ambiente de trabalho.

a. Mínimo para os locais de trabalho onde se realizem atividades 100 a 150 lx b. Classe I

Tarefas visuais simples, não exigem grande esforço 250 a 500 lx c. Classe II

Observação contínua de detalhes médios e finos 500 a 1000 lx d. Classe III

Tarefas visuais contínuas e precisas 1000 a 2000 lx

e. Classe IV

Trabalho visual muito preciso, exigindo grande esforço Mais de 2000 lx Fonte: Adaptado de Miguel (2005).

Dado que a iluminação é conseguida para suportar as necessidades dos trabalhadores, consequentemente é necessário ter em conta a suscetibilidade individual dos mesmos. Os valores de iluminação tabelados nos referenciais baseiam-se na performance do

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homem médio, sem entrar em linha de conta com a relação entre a idade e o rendimento visual.

Com efeito, à medida que a idade aumenta, maior é a necessidade de luz para o mesmo trabalho visual (Nunes, 2009). Por exemplo, um homem de 40 anos precisa de 3 vezes mais iluminação para ver com a mesma nitidez que uma criança de 10 anos (Miguel, 2005; Nunes, 2009).

Um nível de iluminação muito elevado é geralmente desaconselhado na prática. Níveis superiores a 1000 lx aumentam o risco de reflexões prejudiciais, sombras muito carregadas e contraste excessivo (Miguel, 2005). O encandeamento é a sensação produzida por áreas brilhantes abrangidas pelo campo visual do trabalhador, assim como partes iluminadas, partes das luminárias e janelas ou claraboias. O encandeamento deve ser limitado para evitar erros, fadiga e acidentes (Comité Europeu de Normalização, 2011).

7.5.

Aspetos de cor

As qualidades da cor de uma luz quase branca ou da luz solar têm em conta dois atributos: a aparência da cor da luz e a capacidade de restituição de cor, que afeta a aparência da cor em pessoas e objetos.

A tonalidade da cor aparente da luz refere-se à tonalidade (cromaticidade) da luz a qual depende da temperatura da cor.

Quadro 5 - Correspondência entre temperatura da cor da luz e a sua aparência.

Aparência da cor da luz Temperatura da cor

Quente Abaixo de 3 300 Kelvin

Intermédia Entre 3 300 a 5 000 Kelvin

Fria Acima de 5 000 Kelvin

Fonte: Adaptado de Martins (2007).

Para que a iluminação seja de boa qualidade, terá de existir uma relação entre as temperaturas das cores da luz utilizadas e iluminância no local. A experiência demonstra que ao aumentar o valor da iluminância são preferidas fontes de luz de temperatura de cor mais alta (Miguel, 2005).

A escolha deste parâmetro tem influência em questões de ordem psicológica, estética, e nas conceções humanas do que é considerado natural. A escolha depende do nível de iluminância, cores da divisão e mobília, clima circundante, entre outros (Martins, 2007). Dependendo da sua aplicação e da tarefa visual a realizar, a luz artificial deve proporcionar uma perceção das cores adequada. A capacidade da fonte de luz reproduzir as cores mede-se com o índice de restituição de cor (Ra).

O conceito de restituição de cores de uma fonte de luz define-se, com o aspeto cromático que apresentam os corpos iluminados em comparação com o que apresentam sob uma luz de referência. Uma fonte de luz Ra = 100 mostra todas as cores corretamente.

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Quanto mais baixo é o Ra, pior é a capacidade de restituição de cores (Martins, 2007; Comité Europeu de Normalização, 2011).

7.6.

Enquadramento Legal e Normativo

O direito nacional é escasso no âmbito da proteção dos trabalhadores, no que respeita às condições iluminação nos locais de trabalho. Não existe nenhum diploma legal unicamente direcionado para esta matéria. As menções existentes resumem-se apenas a medidas gerais não quantificáveis que se encontram descritas nos diplomas gerais de SHST. Muitos documentos específicos também referenciam a necessidade de presença de iluminação adequada às tarefas de trabalho nomeadamente, os decretos relativos a locais de trabalho (industriais, comércio e serviços) e da utilização de equipamentos de trabalho dotados de visor.

Fora do âmbito nacional foram definidos valores de referência que podem ser encontrados na ISO 8995:2002 e na EN 12464:2002. Dado a permanência de Portugal no espaço europeu, para avaliação dos níveis de iluminação são seguidos os valores mencionados na Norma Europeia EN 12464-1, de Novembro de 2002 – Light and lighting

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