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Aula nº. 28 TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR

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Academic year: 2021

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Curso/Disciplina: Direito do Consumidor

Aula: Direito do Consumidor - 29

Professor(a): Samuel Côrtes

Monitor(a): Sarah Padilha Gonçalves

Aula nº. 28

TUTELA COLETIVA DO CONSUMIDOR

1. Coisa julgada na tutela coletiva do consumidor

Tratando-se de tutela dos direitos individuais homogêneos, após o curso da ação coletiva, haverá a prolatação de sentença genérica, nos moldes do art. 95, CDC.

A partir da sentença cada parte poderá, individualmente, executar provisoriamente a sentença. Importante destacar que o recurso de apelação interposto em face de sentença proferida nos processos coletivos NÃO POSSUIRÁ EFEITO SUSPENSIVO, conforme art. 14 da 7.347/1985.

Tratemos, então, da coisa julgada nas tutelas coletivas do consumidor.

Para Hugo Nigro Mazzili (1998, p.165) COISA JULGADA é a imutabilidade dos efeitos da sentença, obtida através do trânsito em julgado. Diz este mesmo autor que:

“Toda sentença, independentemente de ter transitado em julgado, é apta a produzir efeitos jurídicos; coisa julgada é apenas a imutabilidade desses efeitos, ou seja, uma qualidade que esses efeitos adquirem com o trânsito em julgado da sen-tença, por meio da qual se impede que as partes discutam a mesma causa novamente (1998, p. 165).

No sistema tradicional da coisa julgada, esta se opera com a simples resolução de mérito, independentemente do resultado no caso concreto (pro et contra). Portanto, é irrelevante saber se o pedido do autor foi acolhido ou rejeitado, se houve sentença homologatória ou se o juiz reconheceu a prescrição ou decadência; sendo sentença prevista no art. 487 do Novo CPC, FAZ COISA JULGADA MATERIAL.

A doutrina é tranquila em apontar que a coisa julgada é um dos aspectos mais relevantes na distinção da tutela coletiva da individual. Regras tradicionais presentes na tutela individual, tais como a coisa julgada pro et contra e sua eficácia inter partes, são simplesmente desconsideradas, passando-se a eficácias ultra partes e erga omnes e à coisa julgada secundum eventum probationis e secundum eventum litis.

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Inicialmente, cumpre observarmos o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor, nos seus arts. 103 e 104 do CDC, sobre a coisa julgada:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81; (direitos difusos)

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81; (direitos coletivos)

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81. (direitos individuais homogêneos)

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

1.1. Efeitos materiais da coisa julgada

A extensão SUBJETIVA do julgado nas ações coletivas ocorrerá de acordo com o direito a ela referido: se difuso, coletivo ou individual homogêneo.

O Código de Defesa do Consumidor disciplinou o regramento das ações coletivas em seus artigos 81 a 104, determinando dentre outras coisas, que a extensão dos efeitos da coisa julgada ocorrerá de acordo com o interesse jurídico a ser tutelado, da seguinte forma:

 na hipótese de tutela dos INTERESSES DIFUSOS, a sentença após o trânsito em julgado, produzirá efeitos erga omnes, salvo na hipótese de improcedência da demanda por insuficiência de provas;

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 quando se tratar de INTERESSE COLETIVO, a sentença fará coisa julgada inter partes mas apenas em relação ao grupo ou categoria representada naquela ação;

 quando o interesse for de NATUREZA INDIVIDUAL HOMOGÊNEA, a sentença produzirá efeitos erga omnes em caso de procedência, beneficiando as vítimas ou seus sucessores.

1.2. Efeitos processuais da coisa julgada

1.2.1. Coisa julgada secundum eventum probationis

No tocante aos direitos coletivos e difusos, a coisa julgada, na hipótese de julgamento de improcedência do pedido, tem uma especialidade que a diferencia da coisa julgada tradicional, prevista pelo Código de Processo Civil.

Enquanto no instituto tradicional a imutabilidade e a indiscutibilidade geradas pela coisa julgada não dependem do fundamento da decisão, nos DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS, caso tenha a sentença como fundamento a ausência ou a insuficiência de provas, não se impedirá a propositura de novo processo com os mesmos elementos da ação – partes, causa de pedir e pedido –, de modo a possibilitar uma nova decisão, o que, naturalmente, afastará, ainda que de forma condicional, os efeitos de imutabilidade e indiscutibilidade da primeira decisão transitada em julgado.

Atenção! Exclui-se da análise os direitos individuais homogêneos porque, nestes, a coisa julgada opera-se secundum eventum litis (que será tratada no próximo tópico) assim, qualquer fundamento que leve à improcedência não afetará os interesses dos indivíduos titulares do direito (art. 103, III, do CDC)

Vejamos novamente o conteúdo do art. 103 do CDC:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do

parágrafo único do art. 81; (direitos difusos)

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas,

nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81; (direitos

coletivos)

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na

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1.3. Coisa julgada secundum eventum litis

Por meio desse sistema, nem toda sentença de mérito faz coisa julgada material, tudo dependendo do resultado concreto da sentença definitiva transitada em julgado. Por vontade do legislador é possível que o sistema crie exceções pontuais à relação sentença de mérito com cognição exauriente e a coisa julgada material.

Segundo previsão do art. 103, § 1.º, do CDC, os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II do mesmo dispositivo legal não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, classe ou categoria, em regra também aplicável ao inciso III.

Art. 103. (...)

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

Significa que, decorrendo de uma mesma situação fática jurídica consequências no plano do direito coletivo e individual, e sendo julgado IMPROCEDENTE o pedido formulado em demanda coletiva, independentemente da fundamentação, os indivíduos não estarão vinculados a esse resultado, podendo ingressar livremente com suas ações individuais.

A única sentença que os vincula é a de procedência, porque esta naturalmente os beneficia, permitindo-se que o indivíduo se valha dessa sentença coletiva, liquidando-a no foro de seu domicílio e posteriormente executando-a, o que o dispensará do processo de conhecimento.

A doutrina denomina este evento de coisa julgada secundum eventum litis in utilibus, porque somente a decisão que seja útil ao indivíduo será capaz de vinculá-lo a sua coisa julgada material

Ex.: Uma empresa petrolífera causa um grande vazamento de óleo em uma determinada baía, o que naturalmente agride o meio ambiente saudável, mas também prejudica os pescadores do local, que têm danos individuais por não mais poderem exercer seu ofício. Havendo uma ação coletiva fundada no direito difuso a um meio ambiente equilibrado e sendo essa ação julgada improcedente, os pescadores poderão ingressar e vencer em ações individuais de indenização contra a empresa petrolífera. Por outro lado, com a sentença de procedência, os pescadores poderão se valer desse título executivo judicial, liquidando seus danos individuais e executando o valor do prejuízo

Exceção à incidência da coisa julgada

Registre-se que esse a incidência da coisa julgada material da ação coletiva pode ser excepcionado em duas circunstâncias:

I. na hipótese de o indivíduo ser informado na ação individual da existência da ação coletiva (fair notice), e em um prazo de 30 dias preferir continuar com a ação individual (right to opt out), não

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Neste caso, as ações individuais foram preservadas pelo legislador, pois os efeitos da coisa julgada

nos direitos difusos e coletivos não prejudicarão os direitos individuais dos envolvidos, podendo os

consumidores ainda intentar ações pelos danos individualmente sofridos, uma vez que se tratam de ações diversas, não só com relação às partes, como também pelo objeto, não induzindo, portanto, litispendência.

Ademais, importante destacar que o Superior Tribunal de Justiça corretamente entende que, não

tendo sido o autor devidamente informado da existência da ação coletiva, de seu resultado se

beneficia, independentemente do desfecho de sua ação individual;

II. nas ações coletivas de direito individual homogêneo, o art. 94 do CDC admite a intervenção dos indivíduos como LITISCONSORTES do autor coletivo, e nesse caso os indivíduos se vinculam a qualquer

resultado do processo coletivo, mesmo no caso de sentença de improcedência.

Atenção!

Em todos os casos de ações coletivas (direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos), a coisa julgada erga omnes ou ultra partes não beneficiará aqueles autores de ações individuais que, mesmo tendo ciência da ação coletiva, deixam de requerer a suspensão no prazo de 30 dias.

É o que prevê o art. 104 do CDC:

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

ANÁLISE DA COISA JULGADA MATERIAL SECUNDUM EVENTUM PROBATIONES NOS DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

Sentença Coisa julgada Direitos difusos Direitos coletivos Procedente Coisa julgada

material

Efeito erga omnes Efeito ultra partes

Improcedente (por outro motivo que não

a insuficiência de provas)

Coisa julgada material

Efeito erga omnes. Obs.: impede somente nova propositura de ação coletiva.

Não impede que os consumidores intentem

Efeito ultra partes. Obs.: impede somente nova propositura de ação coletiva. Não impede que os consumidores intentem

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ações individuais pelos danos individualmente sofridos (art. 103, §1º)

ações individuais pelos danos individualmente sofridos (art. 103, §1º) Improcedente por

insuficiência de provas

Não faz coisa julgada material

Qualquer legitimado do art. 82 poderá intentar novamente a ação coletiva,

bastando possuir nova prova.

Qualquer legitimado do art. 82 poderá intentar novamente a ação coletiva,

bastando possuir nova prova.

ANÁLISE DA COISA JULGADA MATERIAL SECUNDUM EVENTUM LITIS NOS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Sentença Coisa julgada Direitos individuais homogêneos Procedente Faz coisa julgada material Efeito erga omnes, bastando o

consumidor se habilitar na liquidação e promover a execução,

provando o dano sofrido. Improcedente Se o consumidor integrou o processo como

litisconsorte, sofre os efeitos da coisa julgada material

Não poderá intentar a ação individual.

Improcedente Se o consumidor ficou inerte ao processo,

não sofre os efeitos da coisa julgada material

Poderá intentar a ação individual.

Sobre a Coisa Julgada secundum eventum probationis, Flavio Tartuce traz alguns questionamentos: É constitucional o tratamento diferenciado dado à coisa julgada pelo sistema de tutela coletiva do CDC?

Uma CORRENTE MINORITÁRIA vê uma quebra da isonomia em referido sistema e aponta para uma proteção exacerbada dos autores das ações coletivas stricto sensu em desfavor dos réus. Apesar de mais sentida nas ações que tenham como objeto os direitos individuais homogêneos, também nas que tratam de direitos difusos e coletivos haveria uma disparidade de tratamento absolutamente desigual, o que feriria o princípio constitucional da isonomia214.

MAJORITARIAMENTE, entretanto, a doutrina entende pela constitucionalidade da coisa julgada secundum eventum probationis – como também da coisa julgada secundum eventum litis –, afirmando

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que os sujeitos titulares do direito, ao não participarem efetivamente do processo, não poderão ser prejudicados por uma má condução procedimental do autor da demanda

Estaria legitimado o mesmo sujeito que propôs a primeira demanda que foi resolvida de forma negativa por ausência ou insuficiência de provas? Segundo o Prof. Flávio Tartuce, a ausência de qualquer indicativo proibitivo para a repetição do polo ativo nas duas demandas parece afastar de forma definitiva a proibição. Todos os legitimados poderão, com base na prova nova, propor a “segunda” demanda, mesmo aquele que já havia participado no polo ativo da “primeira”.

1.4. Limitação territorial da coisa julgada

Dispõe o art. 16 da Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985)

“Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova” (Redação dada pela Lei nº 9.494/97)

Esse artigo foi alterado pela Lei nº 9.494/97, com o objetivo de restringir a eficácia subjetiva da coisa julgada, ou seja, ele determinou que a coisa julgada na ACP deveria produzir efeitos apenas dentro dos limites territoriais do juízo que prolatou a sentença.

Em outras palavras, o que o art. 16 quis dizer foi o seguinte: a decisão do juiz na ação civil pública não produz efeitos no Brasil todo. Ela irá produzir efeitos apenas na comarca (se for Justiça Estadual) ou na seção ou subseção judiciária (se for Justiça Federal) do juiz prolator.

A doutrina critica bastante a existência do art. 16 e afirma que ele não deve ser aplicado por ser inconstitucional, impertinente e ineficaz.

Resumo das principais críticas ao dispositivo:

 Gera prejuízo à economia processual e pode ocasionar decisões contraditórias entre julgados proferidos em Municípios ou Estados diferentes;

 Viola o princípio da igualdade por tratar de forma diversa os brasileiros (para uns irá "valer" a decisão, para outros não);

 Os direitos coletivos “lato sensu” são indivisíveis, de forma que não há sentido que a decisão que os define seja separada por território;

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 A redação do dispositivo mistura “competência” com “eficácia da decisão”, que são conceitos diferentes. O legislador confundiu, ainda, “coisa julgada” e “eficácia da sentença”;

 O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que, em caso de danos nacional ou regional, a competência para a ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o que indica que essa decisão valeria, no mínimo, para todo o Estado/DF.

 A previsão legal é uma clara afronta a todas as tentativas legislativas voltadas à diminuição no número de processos, o que em última análise geraria uma maior celeridade naqueles que estiverem em trâmite, sendo também uma agressão clara ao próprio espírito da tutela coletiva.

Assim se manifestou Ada Pellegrini Grinover:

“Limitar a abrangência da coisa julgada nas ações civis públicas significa multiplicar demandas, o que, de um lado, contraria toda a filosofia dos processos coletivos, destinados justamente a resolver molecularmente os conflitos de interesses, em vez de atomizá-los e pulverizá-los; e, de outro lado, contribui para a multiplicação de processos, a sobrecarregarem os tribunais, exigindo múltiplas respostas jurisdicionais quando uma só poderia ser suficiente”.

Sobre a polêmica previsão do art. 16 da LACP, bem doutrinaram os professores de Luiz Guilherme Marinoni e Sergio Cruz Arenhart:

“Quem examinar adequadamente a regra, detendo um mínimo de conhecimento a respeito da teoria da coisa julgada, concluirá com tranquilidade que a previsão é, em essência, absurda, ou por ser ilógica, ou por ser incompatível com a regência da coisa julgada.

Como já se viu inúmeras vezes, a coisa julgada representa a qualidade de indiscutibilidade de que se reveste o efeito declaratório da sentença de mérito. Não se trata- também já foi observado, com a crítica de Liebman – de um efeito da sentença, mas sim de qualidade que se agrega a certo efeito.

Ora, pensar que uma qualidade de determinado efeito só existe em determinada porção do território, seria o mesmo que dizer que uma fruta só é vermelha em certo lugar do país. Ora, da mesma forma que uma fruta não deixará de ter sua cor apenas por ingressar em outro território da federação, só se pode pensar em uma sentença imutável frente à jurisdição nacional, e nunca em face de parcela dessa jurisdição. Se um juiz brasileiro puder decidir novamente causa já decidida em qualquer lugar do Brasil (da jurisdição brasileira), então é porque não existe, sobre a decisão anterior, coisa julgada. O pensamento da regra chega a ser infantil, não se lhe podendo dar nenhuma função ou utilidade”

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ATENÇÃO!

O STJ profefiu decisão recente afastando a limitação territorial à coisa julgada coletiva imposta pelo art. 16 da Lei de Ação Civil Pública:

A eficácia das decisões proferidas em ações civis públicas coletivas NÃO deve ficar limitada ao território da competência do órgão jurisdicional que prolatou a decisão. (STJ. Corte Especial. EREsp 1134957/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/10/2016 (não divulgado em Informativo).

Interessante também transcrever trecho do voto do relator Min. Luis Felipe Salomão, no REsp 1.243.887/PR (STJ. Corte Especial, julgado em 19/10/2011):

“A bem da verdade, o art. 16 da LACP baralha conceitos heterogêneos - como coisa julgada e competência territorial - e induz a interpretação, para os mais apressados, no sentido de que os "efeitos" ou a "eficácia" da sentença podem ser limitados territorialmente, quando se sabe, a mais não poder, que coisa julgada - a despeito da atecnia do art. 467 do CPC - não é "efeito" ou "eficácia" da sentença, mas qualidade que a ela se agrega de modo a torná-la "imutável e indiscutível".

É certo também que a competência territorial limita o exercício da jurisdição e não os efeitos ou a eficácia da sentença, os quais, como é de conhecimento comum, correlacionam-se com os "limites da lide e das questões decididas" (art. 468, CPC) e com as que o poderiam ter sido (art. 474, CPC) - tantum judicatum, quantum disputatum vel disputari debebat.

A apontada limitação territorial dos efeitos da sentença não ocorre nem no processo singular, e também, como mais razão, não pode ocorrer no processo coletivo, sob pena de desnaturação desse salutar mecanismo de solução plural das lides.

A prosperar tese contrária, um contrato declarado nulo pela justiça estadual de São Paulo, por exemplo, poderia ser considerado válido no Paraná; a sentença que determina a reintegração de posse de um imóvel que se estende a território de mais de uma unidade federativa (art. 107, CPC) não teria eficácia em relação a parte dele; ou uma sentença de divórcio proferida em Brasília poderia não valer para o judiciário mineiro, de modo que ali as partes pudessem ser consideradas ainda casadas, soluções, todas elas, teratológicas.

A questão principal, portanto, é de alcance objetivo ("o que" se decidiu) e subjetivo (em relação "a quem" se decidiu), mas não de competência territorial.”

Referências

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