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Posterior urethral valve - Clinical and surgical aspects

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Válvula de Uretra Posterior - Aspectos clínicos e cirúrgicos

Ariádna Andrade Saldanha da Silva1, Bernardo Bahia Finotti2, Ana Cristina Simoes e Silva3

1 Acadêmica do Curso de

Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte, MG - Brasil. (Bolsista de Iniciação Científica).

2 Acadêmico do Curso de

Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte, MG - Brasil. (Bolsista de Iniciação Científica).

3 Médica. Pós-Doutorado em

Biologia Molecular. Doutora em Pediatria. Professora Titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte, MG - Brasil. (Professor Titular).

Instituição:

Laboratório Interdisciplinar de Investigação Médica da Faculdade de Medicina, UFMG. Belo Horizonte, Minas Gerais - Brasil.

* Autor Correspondente:

Ana Cristina Simoes e Silva E-mail: acssilva@hotmail.com Recebido em: 18/04/2016. Aprovado em: 12/12/2018.

DOI: http://dx.doi.org/10.5935/2238-3182.20180116

Os avanços tecnológicos têm possibilitado estudo anatômico do

feto, identificando malformações estruturais no pré-natal. Dentre as

malformações congênitas, há o subgrupo das Uropatias Obstrutivas,

do qual faz parte a Válvula de Uretra Posterior (VUP). A VUP é uma

estrutura membranosa localizada no assoalho da porção prostática da

uretra posterior masculina e constitui a causa mais comum de obstruções

congênitas no trato urinário inferior. As VUPs foram classificadas por

Young et al em três tipos: I, II e III. O tipo I ocorre em 95% dos casos.

Esta malformação apresenta etiologia multifatorial, associando-se com

genes relacionados à embriogênese do trato urinário. O diagnóstico de

VUP ocorre, normalmente, no período pré-natal, por meio de exames de

imagem, incluindo, mais comumente, a ultrassonografia e, raramente,

a Ressonância Magnética Fetal, em casos específicos. No entanto, a

confirmação diagnóstica pode ocorrer no período pós-natal imediato ou

durante os primeiros meses de vida. Sua abordagem é variada e complexa,

dependendo da idade, estado geral da criança e integridade do sistema

urinário, sendo a ablação primária da válvula a técnica padrão. Parcela

significativa dos pacientes com VUP, apesar do tratamento médico

adequado, apresentará algum grau de doença renal crônica ainda na

infância, progredindo para doença renal terminal durante a vida. Logo,

faz-se necessário o conhecimento por parte dos profissionais de saúde a

respeito da VUP, para que seja realizado diagnóstico precoce e abordagem

clínica e cirúrgica eficientes, melhorando o prognóstico dos pacientes.

Palavras-chave:

Válvula de uretra posterior, Anomalias congênitas dos

rins e do trato urinário, Hidronefrose, Doença renal crônica.

RESUMO

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fluxo urinário e, consequentemente, há maior potencial de lesão renal.2

As uropatias obstrutivas permanecem como a etiologia mais frequente de doença renal crônica (DRC) na população pediátrica.3 Dentro deste subgrupo, a VUP, estrutura

mem-branosa localizada no assoalho da porção prostática da uretra posterior masculina, é a causa mais comum de obstruções congênitas no trato urinário inferior. Estima-se que a VUP afete de 1:5000 a 1:8000 dos meninos nascidos, podendo sua incidência real ser maior, uma vez que alguns fetos com VUP evoluem para o óbito.4 Apesar de não ser uma causa

comum de malformação congênita dos rins e do trato uriná-rio em recém-nascidos, a VUP assume grande importância pelo fato de evoluir com frequência para DRC em estágio terminal.5 Ressalta-se que de 20% a 60% dos meninos com

VUP apresentam DRC em estágio 3 ainda na infância, dos quais 11% a 51% poderão progredir para DRC terminal nos próximos 20 anos anos, requerendo diálise ou transplan-te renal.5 O presente artigo tem como objetivo revisar os

principais aspectos clínicos e cirúrgicos relacionados à VUP, incluindo sua classificação, etiopatogênese, diagnóstico, pos-síveis abordagens, evolução e prognóstico.

I

ntrodução

Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos possibi-litaram detalhado estudo anatômico do feto, identifican-do até 90% das malformações estruturais no pré-natal.1

Atualmente, é frequente que o paciente seja encaminhado ao urologista ou nefrologista pediátrico antes mesmo de seu nascimento, com um diagnóstico presuntivo ao invés de sin-tomas. A hidronefrose fetal apresenta prevalência de 1% a 2% ,2 e persiste no pós-natal em aproximadamente 50% dos

pacientes. A dilatação da pelve renal não associada a uma uropatia identificável tem sido denominada de hidronefrose transitória ou idiopática, sendo encontrada na maioria dos casos.2 Por outro lado, a hidronefrose fetal pode ser

decor-rente de alterações anatômicas que caracterizam as uropa-tias. As uropatias mais frequentemente diagnosticadas são a obstrução da junção ureteropélvica (OJUP), o refluxo vesi-coureteral (RVU), o megaureter primário, o rim displásico multicístico, a válvula de uretra posterior (VUP) e a urete-rocele.2 Entre as uropatias, há um subgrupo denominado de

uropatias obstrutivas em que ocorre obstrução anatômica ao

Technological advances have allowed anatomical study of fetus,

identifying structural defects during the prenatal. Among the congenital

malformations, there is a subgroup of obstructive uropathies, which

includes posterior urethral valve (PUV). PUV is a membranous structure

located on the floor of the prostate portion of male posterior urethra and

it is the most common cause of congenital obstructions of the lower

urinary tract. PUVs were classifiedb y Young et al in three types: I, II

and III. The type I occurs in about 95% of cases. This malformation

has a multifactorial etiology, being associated with genes related to

the embryogenesis of the urinary tract. The diagnosis of PUV usually

occurs during the prenatal period through imaging tests including, more

commonly, ultrasound and, rarely, fetal Magnetic Resonance Imaging in

specific cases. However, the precise diagnosis may occur at the immediate

post-natal period or during the first months of life. Its approach is

complex and varied, depending on the age, the child's general health

and integrity of the urinary system, being the primary valve ablation as

the standard technique. A significant portion of individuals with PUV,

despite adequate medical treatment, will develop some degree of chronic

kidney disease during childhood, progressing to end-stage kidney disease

during life-span, that requires dialysis or transplantation. Therefore, the

knowledge about PUV is necessary for health professionals about, in

order to make early diagnosis and efficient clinical and surgical approach,

improving the prognosis of the patients.

Keywords:

Posterior urethral valve, Congenital anomalies of the kidney

and urinary tract, Hydronephrosis, Chronic kidney disease.

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mecanismos de sinalização molecular em momentos apro-priados.1 Além disso, os genes que têm sido relacionados à

VUP desempenham diferentes papeis ao longo do desen-volvimento do trato urinário, dificultando sua correlação com malformações específicas do trato urinário, como no caso da VUP. Entretanto, dentre alguns genes que já foram relacionados com as anomalias congênitas dos rins e do tra-to urinário (CAKUT) merecem menção os genes GFRA1 e ROBO2, considerando-se que alterações associadas a eles podem estar presentes na VUP.7 Tais genes já foram também

relacionados com o RVU.7 Assim, apesar da literatura não

determinar de forma clara os genes diretamente relacionados com a VUP, se inferir que alterações genéticas pode-riam também estar presentes em pacientes com VUP.

d

IagnóstIco

Na maioria dos casos, o diagnóstico de VUP ocorre no período pré-natal, mais comumente por meio da ultrasso-nografia ou, em casos específicos, da ressonância magnética fetal.8 A ressonância magnética fetal tem sido utilizada,

des-de 1990, como método alternativo na Pediatria e Medicina Fetal quando há limitações ao uso da ultrassonografia. Por exemplo, em decorrência de posição fetal que dificulta o exame.9 Para confirmação do diagnóstico, a uretrocistografia

miccional deve ser realizada no período pós-natal.. A ure-trocistografia miccional mostra a uretra prostática dilatada, o colo vesical hipertrofiado, pouco fluxo distal e irregulari-dades na bexiga, além de refluxo vésico-ureteral em cerca de metade dos pacientes.6 As cintilografias renais dinâmica

(DTPA) e estática (DMSA) também podem ser úteis duran-te o seguimento dos pacienduran-tes.

Quadropré-natal

A partir da décima segunda semana de gestação, tem iní-cio a produção urinária fetal, possibilitando o diagnóstico, por meio de exames evolutivos, de uropatias obstrutivas.8

Espessamento e irregularidades na parede da bexiga, que se encontra constantemente cheia, oligohidrâmnio, diâmetro ântero-posterior da pelve renal superior a 5mm em qualquer idade gestacional e, em alguns casos, detecção de obstrução ureteral com dilatação da porção prostática da uretra, su-gerem o diagnóstico de VUP, que deve ser confirmado no pós-natal.1

Quadropós-natal

neonato

Retenção urinária, presença de massas palpáveis nos flan-cos, febre como manifestação de infecção urinária, septice-mia, prejuízo do crescimento ou perda de peso, desidratação e, consequentemente, distúrbios hidroeletrolíticos são sinais e sintomas frequentemente observados nos neonatos com VUP que não tiveram seu diagnóstico no período pré-natal. O neonato com VUP também pode apresentar vômitos e diarreia decorrentes de infecção ou insuficiência renal.6

A obstrução grave que a VUP representa ao fluxo uri-nário pode dar origem à displasia renal e hipoplasia pul-monar secundárias, podendo desencadear Síndrome do Desconforto Respiratório Neonatal.1

As VUPs foram classificadas, ainda no início do século XX, com base em achados de necropsia por Young et al., tomando como parâmetros seu aspecto e sua localização em relação ao verumontanum. São dividas em três tipos: tipo I: pregas mucosas que se estendem lateral e distalmente ao ve-rumontanum, presas às paredes anterolaterais da uretra, que se comportam como mecanismo valvar, ou seja, obstruem apenas um sentido do fluxo; tipo II: hipertrofia de pregas coliculares proximais ao verumontanum e tipo III: estenose congênita, obstrução dos dois sentidos do fluxo.1

A presença da válvula obstruindo o fluxo urinário faz com que a uretra prostática se dilate e se alongue devido à escassez de tecido muscular. O tipo I ocorre em cerca de 95% dos casos de VUP. A Figura 1 mostra um desenho es-quemático dos tipos de VUP.

e

mbrIogênesee

g

enétIca

A etiopatogênese da VUP ainda não é totalmente escla-recida. Vários estudos já foram realizados com o intuito de elucidar sua origem e desenvolvimento embriológico.4 Em

1914, Lowsley foi o primeiro a propor uma teoria baseada em estudos microscópicos.4 Esse autor sugeriu que as VUPs

ocorriam devido a uma anormalidade do ducto de Wolff ou do ducto Mulleriano. Essa foi a primeira vez que o desen-volvimento da VUP não foi associado a uma mal formação da uretra. Stephens, em 1955, concluiu que a obstrução da uretra posterior ocorria devido a uma integração anormal do ducto de Wolff com a uretra, levando a formação de uma membrana obstrutiva em seu lúmen.4 Tal teoria, naquela

época, não foi aceita por todos os membros da comunidade de urologia pediátrica, levando à realização de estudos com o intuito de contestar a teoria de Stephens.4 Robertson e

Hayes, após um estudo detalhado e em larga escala da anato-mia e da microscopia da VUP, chegaram à conclusão de que a anomalia possui origem extra ureteral, ou seja, consiste em uma bainha de tecido conjuntivo proveniente da inserção anormal do ducto de Wolff na uretra posterior.4 Tal estudo,

publicado em 1969, corrobora a teoria de Lowlsey, porém coloca em cheque a nomenclatura de válvula, já que con-siste em uma única estrutura membranosa, não possuindo morfologia bicúspide como proposto, em 1919, por Young et al.4

Atualmente, acredita-se que a VUP apresente etiologia multifatorial, associando-se com múltiplos genes relaciona-dos à embriogênese.6 Padrões hereditários não são comuns,

entretanto existem casos descritos na literatura.6 Durante a

embriogênese, a parte caudal do ducto de Wolf penetra a clo-aca primitiva, no local do futuro verumontanum da uretra posterior. Em indivíduos normais, a estrutura remanescente desse processo são as dobras ureterais, chamadas de plicae

colliculi. A VUP se desenvolve durante a quarta semana de

gestação, concomitante com a fusão do ducto de Wolff com a cloaca primitiva. Quando a inserção do ducto mesonéfrico na cloaca é anômala ou muito anterior, a migração dos duc-tos é comprometida, levando a formação de sulcos ou pregas anormais, o que se acredita ser a origem de 95 % das VUPs.6

Os outros 5% consistem em uma membrana do tipo anel, distal ao verumontanum. A causa desse tipo de válvula é a dissolução incompleta da membrana urogenital.6

(4)

crIanças maIores

Nas crianças maiores que permaneceram sem diagnós-tico, observam-se alterações miccionais caracterizadas por incontinência urinária, retenção urinária, enurese, disúria, jato fino e gotejamento.10 Dependendo do grau de

obstru-ção ao fluxo urinário, os pacientes podem apresentar doença renal crônica precocemente, sobretudo quando não foram devidamente abordados nos períodos pré-natal e neonatal.10

A Figura 2 esquematiza as formas de diagnosticar a VUP em cada faixa etária.

a

bordagem

A abordagem médica aos pacientes com diagnóstico pré-natal de VUP, confirmada após o nascimento, visa so-lucionar a obstrução do trato urinário e prover os cuidados necessários aos problemas decorrentes dessa alteração.6 Esse

processo deve incluir uma equipe multidisciplinar composta por diversos profissionais, como neonatologistas, pediatras, urologistas pediátricos e nefrologistas pediátricos.

abordagemneonatalImedIata

Após exame clínico inicial, ultrassonografia e adequada fluidoterapia, deve ser realizada a uretrocistografia miccio-nal. A drenagem vesical temporária é obtida por meio de uma sonda transuretral, procedimento que deve ser realiza-do sob assepsia rigorosa. O períorealiza-do após o alivio realiza-do trato urinário normalmente é seguido por uma diminuição dos níveis séricos de creatinina. A melhora da função renal mui-tas vezes se associa à diminuição da hidronefrose, mesmo em pacientes que apresentam RVU.6

Muitos dos recém-nascidos com VUP podem apresentar desidratação e desequilíbrio eletrolítico, uremia, acidose, in-fecção, problemas nutricionais e dificuldade respiratória, ge-ralmente causada por hipoplasia pulmonar.6 A estabilização

clínica do recém-nato é prioridade nesse momento. Uma vez que a condição clínica da criança encontre-se estável e a propedêutica esteja completa, o tratamento definitivo pode ser planejado, considerando-se a ablação primária da válvula como primeira alternativa.6

ablaçãoendoscópIcaprImárIa

As múltiplas formas de ablação da VUP em neonatos e lactentes refletem a dificuldade de instrumentação uretral e o risco de lesão e estreitamento da uretra.3 Em crianças

está-veis, nascidas a termo, o procedimento se inicia calibrando e dilatando suavemente a uretra com cateter uretral plástico, depois de adequada lubrificação. Esse procedimento permite acomodar o cistoscópio ou ressector pediátrico. A cauteriza-ção das válvulas deve ser completada nas posições póstero--laterais e, quando necessário, anteriormente, para assegurar o completo alívio da obstrução.3 O tempo de pós-operatório

é bastante variável, podendo durar de alguns dias a semanas. Essa variação se deve às possíveis complicações decorrentes da cirurgia e às diferentes anormalidades que possam estar associada à VUP. Aproximadamente dois terços dos pacien-tes tem a ablação da válvula bem sucedida após apenas um procedimento. No entanto, como um terço dos pacientes dependem de uma nova intervenção cirúrgica para atingir o resultado, é recomendado repetir a uretrocistografia um ou dois meses após o primeiro procedimento, com o intuito de avaliar e tratar qualquer obstrução remanescente.11

VesIcostomIa

A vesicostomia é uma técnica útil no manejo de pacien-tes acometidos pela VUP, porém deve ser utilizada em casos específicos, pois não existem estudos consistentes capazes de comprovar sua maior eficácia em reduzir danos renais, mortalidade e complicações pós-operatórias frente à abla-ção primária da válvula.12,13 Além disso, segundo estudos,

a modalidade de tratamento não afetou o crescimento so-mático no primeiro ano de vida.12,13 Dentre os critérios de

escolha para realização da vesicostomia, os mais citados pelos diversos autores são o alivio da pressão no trato urinário, enquanto a ablação não é possível, a ocorrência de episódios repetidos e sintomáticos de infecção urinária e a presença de redução da função renal acompanhada de distúrbios meta-bólicos e associada à dilatação acentuada do trato urinário superior.14 A derivação vesical pós-ablação primária deve ser

considerada quando o resíduo pós-miccional é elevado, es-pecialmente em presença de acentuada uretero-hidronefrose e/ou perda da função renal (creatinina > 1,8 mg/DL).15 Tal

procedimento também deve ser considerado em crianças com RVU bilateral de alto grau associado à piora da função renal.3 As derivações supravesicais têm sido indicadas com

precaução. Embora existam relatos corroborando a ideia de que estas derivações preservariam a função renal em crianças com obstrução acentuada,16,17 acredita-se que os altos índices

de displasia renal nesta população limitariam qualquer be-nefício durável além da infância.18 Assim, deve-se considerar

a vesicostomia cutânea como derivação urinária temporária de eleição em crianças portadoras de anomalias obstrutivas infra-vesicais, com uretero-hidronefrose acentuada e infec-ção urinária de repetiinfec-ção, cursando com comprometimento significativo da função renal.14

abordagenssecundárIas

A abordagem secundária normalmente é realizada com o intuito de aumentar o volume de armazenamento da bexiga, reduzir as altas pressões no trato urinário, preservar a função renal e melhorar a qualidade de vida do paciente, conside-rando-se a possibilidade de aliviar sintomas, como a incon-tinência urinaria. Uma das principais técnicas utilizadas é a ampliação vesical, a qual está indicada para pacientes que possuem altas pressões na bexiga mesmo após o uso de me-dicamentos anticolinérgicos. O procedimento normalmen-te é realizado utilizando-se um segmento do íleo, innormalmen-testino grosso ou estomago. As implicações do procedimento devem ser esclarecidas ao paciente e seus familiares, levando-se em consideração a necessidade de cateterismo intermitente para o resto da vida e as possíveis complicações pós-operatórias, como ruptura de bexiga e distúrbios hidroeletrolíticos. A de-rivação urinária externa continente do tipo Mitrofanoff, que consiste na colocação de um conduto de fluxo unidirecional conectando a bexiga à pele como caminho alternativo para drenagem da urina6, também é um dos principais

procedi-mentos de escolha.

abordagemantenatal

A decisão de se realizar uma intervenção antenatal de-pende de fatores como idade gestacional, volume de liquido amniótico e função renal do feto.6 A intervenção em fetos

com um prognóstico bom não se justifica, em decorrência das altas taxas de mortalidade nesse tipo de procedimento. A definição de quais fetos se beneficiariam com esse tipo de in-tervenção é um processo complexo. Caso seja demonstrada

(5)

rioração da função renal fetal, sugere-se tal intervenção.6 As

principais técnicas utilizadas são a derivação vesico amnió-tica, a vesicostomia e a ablação endoscópica da válvula.6 A

Figura 3 apresenta um esquema com as principais formas de abordagem da VUP.

e

VoluçãoeprognóstIco

Parcela significativa dos indivíduos com VUP, apesar do tratamento médico adequado, apresentarão algum grau de doença renal crônica ainda na infância, progredindo para doença renal terminal durante a vida, com necessidade de diálise ou transplante.5 O grau de acometimento do rim ao

nascimento é irreversível, sendo o principal determinante para a função renal e o crescimento da criança. Já a preserva-ção da funpreserva-ção renal depende do momento em que foi reali-zada a intervenção para alívio efetivo da obstrução.6 Quando

mais precoce, melhor o prognóstico. A VUP demanda acompanhamento nefrológico em longo prazo, com consul-tas e exames constantes visando à manutenção das melhores condições clínicas possíveis com a intenção de postergar a evolução da doença renal.19

fatores prognóstIcos

Creatinina sérica superior a 1 mg/dl após a ablação da válvula, presença de refluxo vesico-ureteral bilateral, disfun-ção da bexiga, destacando-se a ocorrência da bexiga de vál-vula, perda do mecanismo pop-off, que tem como objetivo a preservação da função renal,20 e incontinência urinária são

alguns dos fatores de mau prognóstico dos pacientes com VUP. Dentre eles, o nível de creatinina sérica é o mais utili-zado atualmente, embora sua medida varie em decorrência da massa muscular e do metabolismo individuais e não tra-duza danos renais agudos até que a taxa de filtração glomeru-lar (TFG) tenha declinado cerca de 30% a 40%.21

Neste contexto, recentemente alguns autores têm sugeri-do como marcasugeri-dor prognóstico mais fidedigno a medida da reserva de função Renal (RFR).5 Apesar de muitos estudos

terem mostrado uma boa associação entre a TFG e lesões no parênquima renal, a sua interpretação isolada na tentativa de traduzir o estado de saúde renal pode tender ao erro, já que tal taxa é uma medida dinâmica, dependente da alimentação e que pode ser modificada por alterações hemodinâmicas transitórias do corpo. Por outro lado, a RFR leva em conta a TFG, já que é calculada a partir da diferença entre a TFG basal, tomada quando o rim está em seu estado de filtração basal e a TFG estimulada máxima, que é medida estimulan-do-se o rim a partir da administração de proteína de forma oral ou pela infusão de aminoácidos.22 Pelo fato de a RFR

ser o resultado de uma diferença, seu valor acaba por ser indicador da carga de trabalho por néfron, constituindo-se em um parâmetro útil, mais fiel e mais precoce para avaliar a extensão e a progressão de dano renal. Alguns trabalhos demonstraram que maiores taxas de RFR após uma carga de proteína ou aminoácido estão associadas a melhores prog-nósticos.23,24 A Figura 4 mostra um esquema dos fatores

ge-rais e específicos relacionados à abordagem da VUP.

Como mensagem final, enfatiza-se a importância do diagnóstico pré-natal nos casos de VUP, que é capaz de pos-sibilitar intervenção precoce e acompanhamento nefrológico em longo prazo, fatores importantes para melhorar o prog-nóstico. Além disso, ressalta-se a necessidade de pesquisas para que se possa entender as reais bases genéticas da doença, possibilitando, assim, a detecção de novos biomarcadores, capazes de predizer o prognóstico.

Agradecimentos: Os autores agradecem o suporte fi-nanceiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).

r

eferêncIas

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