novos desafios urbanos
PATRIMÓNIO
Jorge Barbacena Liliana Calado Tomás Rei
01.
introdução
Património é um termo ligado ao conceito de herança (aquilo que se recebeu dos antepassados e o que se transmite a gerações futuras) (Cunha, 2016). Existem vários domínios de património: cultural, natural, material e imaterial. De acordo com a Direção Geral do Património Cultural (DGPC, s.d.), a distinção centra-se entre património imóvel (arquitetónico e arqueológico), móvel
(coleções de museus) e imaterial (tradições, gastronomia e música) com origem antrópica.
Ao património cultural pertencem todos os bens imateriais ou materiais, móveis ou imóveis que representem valor para a identidade social e cultural de uma povoação (Cunha, 2016).
Os bens da natureza são assumidos como património natural, que se distingue por dois tipos: biótico (formações vegetais, espécies raras ou em vias de extinção) e abiótico (património geológico, como o paleontológico, e o património geomorfológico que se associa às formas de relevo), que
apresentam um valor excecional científico, didático e estético (Cunha, 2016). Muitas vezes o património natural ganha destaque e relevância devido às atividades antrópicas e implantação de novo património, maioritariamente antrópico, pois modelam a paisagem e tornam-na única (Cunha, 2016). Neste trabalho, o património está divido entre antrópico (cultural, defesa, civil e religioso) e natural (monumentos naturais, focado no património paleontológico e geológico). Para todo o património antrópico, foi criada uma área de
influência de 50m denominada por Zona Geral de Proteção (ZGP), definida pela Direção Geral (DGPC, s.d.)
Praias das Bicas e do Penedo Capela da Azóia Forte de S. Domingos da Baralha Moinho do Outeiro
Monumento natural da Pedra
do Avelino
Praia da Ribeira do Cavalo
O território em estudo está situado no extremo sudoeste da Península de Setúbal, concelho de Sesimbra, incluido na Área Metropolitana de Lisboa (a cerca de 45 km de Lisboa).
Integra na sua área os povoamentos da Aldeia do Meco e da Azóia e está próximo da vila de Sesimbra, locais, que devido às suas características e proximidade a Lisboa, tendem a ser ocupados sazonalmente como segunda habitação.
Na figura podemos observar os vários patrimónios existentes em toda a área de estudo, concentrados maioritariamente na zona do Cabo Espichel, sendo este o grande foco do trabalho, estando os restantes distribuidos ao longo da costa. Verifica-se também a presença marcante da Reserva Natural da Serra da Arrábida, o qual pertence grande parte do património mencionado ao longo deste trabalho, especificamente o natural.
03.
amostrasOptou-se pela seleção de 3 amostras. A primeira, Praia das Bicas, foi escolhida pela relevância que a praia tem na atração turística.
A segunda amostra, Cabo Espichel, destaca-se pela concentração dos vários tipos de património na sua área de influência, tornando-o no espaço âncora do território.
A terceira e última amostra, Forte do Cavalo, foi escolhida não só pelo património antrópico como também pela proximidade à histórica vila de Sesimbra.
Praia das Bicas
Nesta amostra o elemento principal é a Praia das Bicas, que se encontra exposta aos ventos norte e oeste, sendo propícia para a prática de surf e bodyboard, devido à ondulação. Esta praia é marcada por um património geológico abundante, pelo que têm sido encontrados fósseis preservados. Pelo seu imenso valor geológico, este local tem sido destruído por colecionadores de fósseis (Matos, 2007).
Dentro desta amostra podemos identificar a Praia do Penedo (Norte da Praia das Bicas) que se distingue pela arriba vertical e o extenso areal, constituindo-se um território de grande valor paisagístico (fig. 03).
No topo da arriba, localiza-se o parque de campismo, reflete a procura turística que esta zona tem, localiza-se numa zona muito plana, ideal para a fixação de um parque de campismo e destaca-se por ser o principal acesso a estas duas praias (fig 04), que se prolonga do topo da arriba até ao areal.
Cabo Espichel
fig. 02 Praia das Bicas 1:5000
fig. 03Praia do Penedo (CM Sesimbra, s.d.)
Ermida da Memória Igreja e Santuário da Nossa Srª do Cabo Espichel Casa da Água Farol do Cabo Espichel
O Cabo Espichel está situado no extremo sudoeste da península de Setúbal. É formado por uma vasta plataforma litoral, interrompida junto ao mar por arribas que chegam a atingir os 130 metros (Matos, 2007). A sua área está abrangida pela Zona Especial de Proteção: Conjunto da Igreja de Nossa Senhora do
Cabo, casa dos círios e terreiro (DGPC, s.d.) (fig 06). É nele que se encontra o
Farol do Cabo Espichel, construído em 1790 no reinado de D. Maria I. É o sexto farol mais antigo de Portugal e tem uma altitude 168m (Matos, 2007).
O substrato destas formações geológicas, a Norte, é constituído por formações calcárias do Jurássico Superior, o que permitiu identificar pegadas de
dinossauro na sua arriba, classificado como monumento natural em 1997 (Matos, 2007). Existem cerca de 40 pistas definidas que perfazem o Monumento Natural da Pedra da Mua (fig 07) e o Monumento Natural dos Lagosteiros (fig 08) (Matos, 2007).
Entre estes dois monumentos situa-se a Praia dos Lagosteiros, embora de difícil acesso, representa um enorme valor patrimonial devido às arribas que a delimitam.
fig. 05 Cabo Espichel 1:5000
À medida que se avança para Sul desta amostra, observa-se a Ermida da Memória, situada no topo da escarpa sul da Baía dos Lagosteiros e foi erguida devido a lendas e aparições1, em 1410 (fig 09). Assim se edificou esta ermida
para a acolher a imagem da virgem.
1 A mais conhecida conta que
“dois idosos, tiveram o mesmo sonho, no qual uma voz celestial os avisava de que dera ao cabo uma imagem da virgem e que de tal facto deveriam ir dar conta ao local. Tendo encontrado a imagem à beira da falésia, na Pedra da Mua, logo se aperceberam de qua a forma sobrenatural como cada um tinha sido avistado não poderia ser senão um milagre” (Matos, 2007, p. 350).
fig. 07 Monumento Natural da Pedra da Mua (Guia da Cidade, s.d.)
Para além da dinâmica turística marcante do Cabo Espichel ao longo do ano, é durante os dias de celebração religiosa que ganha maior destaque havendo uma grande afluência de visitantes e peregrinos (fig 10).
A grande afluência a este local para devoção da Nossa Senhora do Cabo resultou na construção do Santuário da Nossa Senhora do Cabo Espichel, erguida em 1701 e foi classificado imóvel de interesse público em 1950 e estabelecida Zona Especial de Proteção em 1963 (Matos, 2007) (fig 11). Já se pensa há muito tempo na concretização de um projeto hoteleiro para o Santuário, desde o restauro na década de 60 (Keil do Amaral), e também no início dos anos 2000. Mas só em setembro de 2020 foi lançado para concurso público e a nova unidade hoteleira privada poderá abrir portas em 20252.
2 O objetivo, diz a autarquia em comunicado, é "afetar a exploração destes edifícios para fins turísticos
como estabelecimento hoteleiro por um período de 50 anos, num contrato entre a autarquia e o Turismo de Portugal" (ADN, 2020) (Canelas, 1999).
fig. 09Ermida da Memória (Nogueira, 2017)
Para o abastecimento de água aos romeiros foi construído em 1770 um aqueduto que trazia água desde a Azóia até à Casa da Água (fig 12 e 13).
Estando perante uma sobreposição de património antrópico e espaço rural, verifica-se um contraste que aumenta ainda mais a singularidade deste local, como por exemplo a presença de gado (fig 13). Esta relação potencia ainda a criação de património imaterial focado na gastronomia da região,
nomeadamente o Queijo da Azóia.
fig. 11 Santuário da Nossa Senhora do Cabo Espichel (Nogueira, 2017)
Forte do Cavalo
O Forte do Cavalo (fig 15), também conhecido como Forte de São Teodósio está localizado no extremo oeste da baía de Sesimbra e classificado como Imóvel de Interesse Público e abrangido pela Zona Geral de Proteção: Forte do Cavalo (Serrão & Serrão, 1986). teve a sua planificação iniciada em 1640 pelo padre Simão Falónio, com o intuito da defesa do porto de Sesimbra. A sua construção apenas se materializaria durante o reinado de D. João IV, incluindo na defesa da barra de Setúbal (DGPC, 2011).
Está implantado numa linha superior à linha de costa para desempenhar as funções que outrora detinha e hoje em dia é um foco de atração turística na zona.
A proximidade à vila de Sesimbra atrai visitantes devido ao miradouro que o constitui onde é possível avistar a vila e as formas de relevo que a delimitam (fig 15). O seu Farol vermelho atualmente desempenha funções de
comunicação e é um elemento de valorização patrimonial.
fig. 14 Forte do Cavalo 1:5000
07.
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https://portugalfotografiaaerea.blogspot.com/2010/04/cabo-espichel.html ADN. (2020). Requalificação do Santuário do Cabo Espichel em Sesimbra. ADN
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