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MANEJO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE EM ESTABELECIMENTOS VETERINÁRIOS: CARACTERÍSTICAS E IMPLICAÇÕES À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AMBIENTAL

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MANEJO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE EM

ESTABELECIMENTOS VETERINÁRIOS: CARACTERÍSTICAS E

IMPLICAÇÕES À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AMBIENTAL

Health care waste management in veterinary establishments: features and implications for

human health, animal and environmental

Vania Elisabete Schneider 1

Nilva Lúcia Rech Stedile 2

Adriane Carine Kappes 3*

Éverton Carlos Brezolin 4

Mayara Cechinatto 5

Janini Cristina Paiz 6

ABSTRACT

Introduction: Management of Health Services Waste (RSS) generated in assistance to human and animal health is regulated by laws and their non-observance implies risks to human health, animal and environmental. Objective: Characterize waste generated in veterinary establishments and identify the physical, chemical and biological risks resulting from the management of such waste. Methodology: From a total of 262 (100%) registered establishments in Environmental Monitoring of a large city of Serra Gaucha / Brazil, data were collected through three sources: direct observation of local and questionnaire in a sample of 37 (14,1%) establishments and characterization of waste from four of them. The collected data were organized and processed using Microsoft Excel® software. Results: It was observed that the total properties were: clinical 31 (12,2%), a hospital (0,4%), 52 offices (20%), two laboratories (0,8%), 176 (67,2%) other establishments (hotel, bathing and grooming, industry, kennel). The 37 stores (100%) of the sample generate waste of Group A, B, D and E; 28 (75,7%) of the services do not conduct any kind of internal waste treatment before disposal; as the internal transport, only 23 (62,2%) report having defined script; five companies contracted to external collection and transportation of waste, all duly licensed by the competent environmental authorities; two establishments (5,4%) transporting the material improperly the class A and E; as the frequency of collection, waste of Group A are collected every two weeks (20 or 54,1%) which constitutes an inadequacy in relation to the legislation; in relation to Group B, 25 (67,6%) do not report the frequency of collection; Group E has fortnightly collection in 19 (51,4%); Group D waste follow public collection. The result set points to insufficient knowledge on the part of the actors involved on the final destination of waste and increased risks to human, animal and environmental, both internal management issues (such as needle recapping, waste disposal within establishments for longer than allowed, the presence of vectors), for external (how badly segregated chemical waste that end up in the environment). The characterization results show: incorrect infective segregation, chemical or waste sharps, besides the common mixing with the recyclable. Conclusion: The data set can be stated that during the internal management process to the final destination of waste, including transport, many risks to human health, environmental and animal can be identified, which can be minimized through the area of vocational education and monitoring by government agencies.

KeyWords: Health Hazards, Health Services Waste, Veterinary Waste.

1 Instituto de Saneamento Ambiental, Universidade de Caxias do Sul. 2, 3, 4, 5, 6 Instituição de trabalho do autor 1

*Endereço para correspondência: Instituto de Saneamento Ambiental, Universidade de Caxias do Sul. Rua Francisco Getúlio Vargas, Nº 1130 – Bairro Petrópolis, Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul. Código Postal: 95070-560. Brasil. Email: ackappes@hotmail.com.

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Resumo

Introdução: A gestão dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) gerados na assistência à saúde humana e animal é regulamentada por legislações e a sua não observação implica riscos à saúde humana, animal e ambiental. Objetivo: Caracterizar os resíduos gerados em estabelecimentos veterinários e identificar os riscos físicos, químicos e biológicos decorrentes do manejo desses resíduos. Metodologia: A partir de um total de 262 (100%) estabelecimentos, cadastrados na Vigilância Ambiental em um município de grande porte, situado no estado do Rio Grande do Sul/Brasil, foram coletados dados por meio de três fontes: observação direta dos locais e aplicação de questionário numa amostra de 37 (14,1%) estabelecimentos e caracterização dos resíduos provenientes de quatro deles. Os dados coletados foram organizados e tratados com o uso do software Microsoft Excel®. Resultados: Observou-se que do total de estabelecimentos havia: 31 clínicas (12,2%), um hospital (0,4%), 52 consultórios (20%), dois laboratórios (0,8%), 176 (67,2%) outros estabelecimentos (hotel, banho e tosa, indústria, canil). Os 37 estabelecimentos (100%) da amostra geram resíduos do Grupo A, B, D e E; 28 (75,7%) dos serviços não realizam qualquer tipo de tratamento interno dos resíduos antes da disposição final; quanto ao transporte interno, apenas 23 (62,2%) informam possuir roteiro definido; há cinco empresas contratadas para a coleta e transporte externos dos resíduos, todas devidamente licenciadas pelos órgãos ambientais competentes; dois estabelecimentos (5,4%) transportam indevidamente o material das classes A e E; quanto à periodicidade da coleta, os resíduos do Grupo A são recolhidos quinzenalmente (20 ou 54,1%) o que se constitui numa inadequação em relação à legislação; em relação aos do grupo B, 25 (67,6%) não informam a periodicidade de coleta; o Grupo E possui coleta quinzenal em 19 (51,4%); os resíduos do Grupo D seguem coleta pública. O conjunto de resultados aponta para um conhecimento insuficiente por parte dos atores envolvidos sobre o destino final dos resíduos e um aumento de riscos a saúde humana, animal e ambiental, tanto por questões internas de manejo (como reencape de agulhas, depósito dos resíduos no interior dos estabelecimentos por tempo maior que o permitido, presença de vetores), como por externas (como resíduos químicos mal segregados que acabam no meio ambiente). Os resultados da caracterização mostram: segregação incorreta de resíduos infectantes, químicos ou perfurocortantes, além da mistura de comum com o reciclável. Conclusão: O conjunto de dados permite afirmar que durante o processo de manejo interno até o destino final dos resíduos, incluindo seu transporte, muitos riscos à saúde humana, animal e ambiental podem ser identificados, os quais podem ser minimizados por meio da educação dos profissionais da área e fiscalização por parte dos órgãos governamentais.

Palavras-Chaves: Resíduos de Serviços de Saúde, Resíduos Veterinários, Riscos à Saúde.

Introdução

Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) são aqueles decorrentes das ações de assistência à saúde humana e animal. Esses resíduos são manejados de forma diferenciada, sendo as formas de manejo regulamentadas por leis, resoluções e normas. De uma forma geral, a fiscalização e o controle quanto ao manejo dos resíduos provenientes do cuidado com a saúde humana tem recebido maior atenção se comparado às instituições que lidam com a saúde animal. Disso decorre uma escassez de publicações científicas sobre o tema, um acompanhamento inadequado das formas de manejo, o não cumprimento dos pressupostos legais e legislativos devido à pouca fiscalização pelos órgãos responsáveis, a insuficiência de capacitação dos atores envolvidos com a saúde animal e a quase ausência da temática nos currículos de formação desses profissionais. Como consequência, acabam por oferecer riscos à saúde humana, animal e ambiental. A abrangência desses riscos é proporcional ao número de estabelecimentos e as formas de manejo desenvolvidas nesses.

A identificação dos riscos depende do conhecimento mais preciso das características dessas fontes geradoras, dos tipos e quantidades de resíduos gerados, do que vem sendo feito no processo de gerenciamento, desde a geração até a disposição final e precede decisões sobre o que deve ser feito para minimizar os riscos e melhorar a qualidade de vida e de saúde. Com este intuíto o presente estudo tem por objetivo caracterizar os resíduos gerados em estabelecimentos veterinários e identificar os riscos físicos, químicos e biológicos decorrentes do manejo desses resíduos.

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Trata-se de um estudo de campo, cujos dados obtidos por meio de três diferentes fontes: 1) entrevista (com os responsáveis pelos resíduos em cada estabelecimento e elaborada com base na legislação); 2) relatórios de observação direta de estabelecimentos veterinários; 3) caracterização de resíduos provenientes de quatro estabelecimentos. Para as observações diretas foi construído um roteiro a partir dos dispositivos legais existentes. Os estabelecimentos veterinários, cadastrados junto à Vigilância Ambiental entre janeiro e setembro de 2013, totalizam 262 serviços em um município de grande porte, situado no estado do Rio Grande do Sul/Brasil. Desse total foram selecionados, de forma aleatória, uma amostra de 37 estabelecimentos para aplicação dos instrumentos de coleta de dados e quatro para a caracterização dos resíduos gerados em uma semana. A caracterização consiste na pesagem do resíduo, análise do conteúdo interno, reclassificação com base na legislação vigente e repetição do processo de pesagem. A seleção da amostra observou os seguintes critérios de inclusão: ser registrado como hospital, consultório ou clínica veterinária e aceitar participar do estudo. Os critérios de exclusão foram: ser apenas serviços de banho e tosa ou agropecuária e não concordar em participar do estudo. As informações coletadas foram organizadas e tratadas em percentuais com o uso do software Microsoft Excel® versão 2010. Neste estudo foram analisados dados relacionados às seguintes variáveis: empresas para realizar a coleta e/ou tratamento dos RSS; tipos de resíduos gerados; fluxo, acondicionamento e transporte interno dos resíduos; coleta interna e externa; tratamento e destino final. Essas variáveis podem ocasionar risco à saúde humana, animal e ambiental.

Resultados

Pelos dados é possível perceber diferentes tipos de estabelecimentos, que geram quantidades e tipos variados de resíduos. O fato de serem esses locais dispersos pelo Município, aumenta riscos devido à acréscimos nas dificuldades para a coleta, transporte e fiscalização. Os estabelecimentos listados pela Vigilância Ambiental do Município em estudo incluíam um total de 262 estabelecimentos, classificados conforme Tabela 1:

Tabela 1. Distribuição dos tipos de estabelecimentos veterinários no Município em estudo

Tipo de Estabelecimento Nº de Estabelecimentos %

Outros 176 67,2

Consultório associado a outros tipos de

estabelecimento 45 17,2

Clínica associada a outros tipos de estabelecimento 21 8,0

Somente clínica 10 3,8

Somente consultório 7 2,6

Laboratório 2 0,8

Hospital 1 0,4

TOTAL 262 100

Fonte: elaborado por autores, com base na análise dos instrumentos de pesquisa, 2015.

Na categoria “Outros” encontram-se estabelecimentos como hotel, banho e tosa, moinho de fabricação de ração para animais, indústria e canil. A amostra selecionada refere-se às categorias elencadas acima excetuando a categoria “Outros”. A Tabela 1 mostra que há uma diversidade de estabelecimentos o que sugere uma diversidade também na tipologia de resíduos gerados.

A totalidade de estabelecimentos gera resíduos dos Grupos A (infectante), B (químico), D (comum e reciclável) e E (perfurocortante), sendo que a maioria destes (75,7%) não realiza tratamento interno, o que aumenta a probabilidade de acidentes químicos, físicos e biológicos no acondicionamento e transporte.

Na Tabela 2 estão os dados referentes à existência de roteiro para a coleta e transporte interno dos resíduos. A importância do roteiro reside no fato de que os fluxos e horários não devem coincidir com a distribuição de medicamentos e alimentos, para redução dos riscos relacionados à contaminação do ambiente de trabalho, dos profissionais, dos proprietários e seus animais que circulam pelo estabelecimento.

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Tabela 2. Distribuição dos estabelecimentos segundo existência de roteiro para transporte interno de resíduos Transporte Interno Nº de estabelecimentos %

Possui roteiro 23 62,2

Não possui roteiro 10 27,0

Possui roteiro incompleto 2 5,4

Não se aplica 2 5,4

TOTAL 37 100

Fonte: elaborado por autores, com base na análise dos instrumentos de pesquisa, 2015.

A Tabela 2 mostra que 23 (62,2%) dos estabelecimentos afirmam possuir roteiro e 10 (27%) não possuem o mesmo. O grande número de estabelecimentos que não possuem roteiro ou apresentam o mesmo de forma incompleta sugere que esta não é uma preocupação importante na prática desses profissionais. Uma das exigências do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) é a descrição do roteiro e dos locais de armazenamento interno e externo de resíduos. Após esses resíduos serem gerados, os mesmos são transferidos para o armazenamento externo onde são coletados por empresas contratadas ou públicas, conforme pode ser visualizado na Tabela 3.

Tabela 3. Distribuição das empresas segundo a tipologia

Empresa Tipologia Nº de Estabelecimentos %

1 Privada 35 94,6

2 Pública 37 100

3 Privada 1 2,7

4 Privada 3 8,1

5 Privada 1 2,7

Fonte: elaborado por autores, com base na análise dos instrumentos de pesquisa, 2015.

Segundo a Tabela 3 há cinco empresas responsáveis pela coleta interna, sendo: uma pública responsável pela coleta de resíduos comuns (reciclável e orgânico) na totalidade de estabelecimentos investigados; uma privada contratada para realizar a coleta e o transporte de resíduos dos Grupos A, B e E, além de vidros íntegros, ampolas, cadáveres, químicos líquidos em 35 estabelecimentos (94,6%). Além dessas duas empresas contratadas pela maioria existem outras três que realizam especificamente a coleta de cadáveres (Empresa 3); coleta de químicos (Empresa 4) e outra para a coleta específica de NaOH (Empresa 5). Um aspecto importante a ser destacado e que reduz riscos é o fato destas empresas possuírem licença ambiental para atuação, carros licenciados para transporte pelo órgão governamental competente e motoristas capacitados para direção defensiva e translado de substâncias perigosas. Por outro lado, foi identificado um comportamento potencializador de riscos à saúde humana, animal e ambiental pelo transporte indevido de resíduos especiais em carro próprio entre estabelecimentos.

Um dos fatores importantes e definidos na legislação disponível sobre RSS é a periodicidade de coleta especialmente para resíduos do Grupo A (infectante) e E (perfurocortantes). No caso do Grupo A, conforme RDC 306/04 (BRASIL, 2004), o resíduos deve ser coletado diariamente, o que não ocorre nos estabelecimentos dos estudo, como pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4. Distribuição do número de estabelecimentos por periodicidade e tipologia dos resíduos Grupo Nº de Estabelecimentos Periodicidade %

20 Quinzenal 54,1 A 11 Semanal 29,7 6 Outros 16,2 TOTAL 37 - 100 19 Quinzenal 51,4 E 9 Semanal 24,3 9 Outros 24,3 TOTAL 37 - 100

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Os dados da Tabela 4 permitem destacar: a) os resíduos do Grupo A possuem uma periodicidade de coleta quinzenal em 20 estabelecimentos (54,1%) e semanal em 11 (29,7%), sendo que na categoria “Outros”, encontram-se períodos superior a 15 dias de coleta; b) os resíduos do Grupo E são coletados quinzenalmente em 19 (51,4%) e semanalmente em 9 (24,3%), tendo o mesmo percentual (24,3%) para periodicidade superior a 15 dias. Comparativamente a permanência de resíduos do Grupo A no local de geração aumenta os riscos biológicos na medida em que estes são acondicionados em sacos brancos leitosos e os resíduos do Grupo E deveriam oferecer menos riscos uma vez que a legislação prevê seu acondicionamento em recipientes rígidos e impermeáveis. Cabe destacar, no entanto, que muitos estabelecimentos acondicionam esses resíduos em dispositivos inapropriados o que aumenta significativamente o risco laboral, considerando que a maior parte dos acidentes com profissionais de saúde acontecem com perfurocortantes. A permanência dos resíduos por tempo maior que o recomendado aumenta os riscos de natureza biológica (patogenicidade), química (toxicidade) e física (lesões especialmente por perfurocortantes) (Schneider, 2004).

Para o Grupo B (químicos), a maioria dos estabelecimentos (25 ou 67,6%) não informa a periodicidade de coleta. Na observação direta e na caracterização desses resíduos foi possível constatar que os mesmos são segregados junto aos perfurocortantes ou infectantes. Pelo fato dos químicos exigirem tratamento diferenciado, que não têm ocorrido, aumenta-se com essa forma de agir os riscos relacionados ao mesmo.

Para o Grupo D (recicláveis e orgânicos) a coleta é pública com periodicidade conforme a demanda da localidade.

A caracterização dos resíduos é importante para confrontar os resultados obtidos com as percepções dos indivíduos pesquisados e seus comportamentos. Nesse sentido os resultados mostram que muitos estabelecimentos segregam incorretamente seus resíduos, infectantes, químicos e perfurocortantes. Há também dificuldades de segregação entre comuns e recicláveis. Alguns exemplos são ilustrativos dessas inadequações: material perfurocortante tais como agulhas quebradas manualmente, agulhas reencapadas, material biológico (frascos de vacinas) junto a perfurocortantes, mistura de perfurocortante com infectante, além de medicamentos junto a infectante e perfurocortante. Em todas as categorias examinadas na caracterização foram encontrados graus de heterogeneidade variáveis para cada estabelecimento, contudo, houve mistura em todos locais da amostra.

Esses dados mostram que há risco ocupacional relacionado ao manejo inadequado dos resíduos. Esses riscos, de natureza física, biológica e química apontam para a necessidade de implementação de medidas de autocuidado (uso de EPIs, uso de dispositivos de acondicionamento adequados, formas de transporte, entre outros) e heterocuidado (formas de transporte externo, tratamento na fonte geradora, segregação adequada, destino final conforme legislação, entre outros).

Esses riscos também podem afetar a saúde dos animais atendidos. Inadequações na etapa de segregação também foram encontradas em seis (50%) das 12 clínicas veterinárias de um estado do nordeste brasileiro, que participaram do estudo de Jerônimo e Araújo (2012). Em outro estudo realizado na encosta do nordeste do estado gaúcho/Brasil (Oliveira et al., 2013), as quatro clínicas veterinárias analisadas não realizam a segregação de recicláveis e a geração de 70kg/mês de resíduos são coletados pela prefeitura municipal e encaminhados para a estação de transbordo da cidade, ou seja, sem qualquer tratamento prévio, fato este é uma diferença importante da realidade apresentada pelo presente estudo. Sendo a segregação responsabilidade intransferível do profissional que gera o resíduo quando presta assistência, erros nesta etapa estão relacionados ao conhecimento insuficiente desses profissionais. Corrêa et al. (2005) realizaram um estudo numa Instituição Federal de Ensino Superior no sul do Brasil, no qual participaramcoordenadores de colegiados dos cursos de Medicina Veterinária, Medicina, Enfermagem e Odontologia, três professores, sendo dois de disciplinas específicas que desenvolvem o tema RSS e 14 acadêmicos dos respectivos cursos de graduação. O trabalho mostrou que os profissionais possuem dificuldades de problematizar a realidade onde estão inseridos e que a disciplina que abordou a temática teve enfoque no tratamento e disposição final, deixando de contemplar as demais etapas do gerenciamento de RSS, as quais esses profissionais possuem uma responsabilidade maior, uma vez que se o gerenciamento possui falhas na segregação (primeira etapa), todo o restante do processo fica comprometido. Conclusões

O conjunto de dados permite afirmar que o processo de manejo do RSS em estabelecimentos veterinários, desde a geração até o destino final, apresentam inadequações que proporcionam aumento dos riscos potenciais à saúde

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humana, animal e ambiental. À saúde humana, especialmente para os profissionais e proprietários que os frequentam; à saúde animal uma vez que estes ficam expostos a patógenos e substâncias tóxicas comprometedoras da qualidade de vida; ao meio ambiente, sobretudo nas fases de transporte e disposição final, nos quais pode haver contaminação da água e do solo.

Dentre as inadequações que apresentam riscos destaca-se:

1) segregação de perfurocortantes fora dos dispositivos recomendados, o que é responsável por acidentes laborais com resíduos de serviços de saúde;

2) acondicionamento de resíduos por períodos maiores que o estipulado pela legislação vigente, tornando-se risco potencial de infecção devido a proliferação de microrganismos patógenos e de vetores (Schneider, 2004); 3) transporte interno sem a definição de um roteiro diferente entre a coleta interna de resíduos e a distribuição de fármacos e alimentos aos animais, o que também pode ocasionar risco de infecção aos mesmos, principalmente àqueles que possuem patologias que os torna vulneráveis para tal;

4) transporte externo de resíduos realizado entre estabelecimentos veterinários com o uso de veículo inadequado para tal atividade, o que denota a falta de auto e heterocuidado;

5) manejo inadequado dos químicos, o que confere uma acentuada probabilidade de contaminação e impacto ambiental.

Outro ponto a ser destacado é a dispersão dos estabelecimentos pela cidade e que também ocasiona riscos ocupacionais, principalmente se a segregação é deficitária, devido ao percurso e a quantidade de pessoas que são expostas a esses resíduos, desde a coleta externa até a disposição final, o que torna imprescindível a utilização de EPIs, conforme a NR 6 (Brasil, 2009), em todo o processo.

A inserção da educação ambiental de forma mais intensa nos currículos acadêmicos poderia despertar uma responsabilidade maior por parte dos profissionais veterinários, uma vez que estes por não conhecerem o processo de gerenciamento de resíduos na sua totalidade e os potenciais riscos tanto para a saúde humana, animal e ambiental, os permite negligenciar esta temática no seu âmbito de trabalho. Por fim, a fiscalização por órgãos competentes aos estabelecimentos que prestam assistência à saúde é de fundamental importância, tanto para orientação quanto à punição, quando esta se faz necessária, visando assim, com estas medidas a redução destes riscos.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio oferecido pela Secretaria do Meio Ambiente de Caxias do Sul, ao Instituto de Saneamento Ambiental da Universidade de Caxias do Sul e, aos órgãos de incentivo à pesquisa, CNPq e FAPERGS.

Referências

Araújo, A. B. A.; jerônimo, C. E. M. (2012) Gestão dos resíduos de clínicas veterinárias: um estudo de caso na cidade de Mossoró-RN, Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental [online], Santa Maria, 7 (7), p. p. 1461-1493, mar./ago., Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/reget/article/view/ 4988/3627>. Acesso em: 20 mar. 2015.

Brasil – Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (2004) Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 306/04. Dispõe sobreo regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília (DF).

Brasil (2009) Norma Regulamentadora (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego. NR-6 - Equipamento de Proteção Individual. Brasília (DF).

Corrêa, L. B. et al. O saber resíduos sólidos de serviços de saúde na formação acadêmica: uma contribuição da educação ambiental. Interface - Comunicação, Saúde, Educação [online], 9 (18), p. p. 571-584, set./dez. 2005. Disponível em < http:/www.scielo.br/pdf/icse/v9n18/a08v9n18.pdf >. Acesso em: 20 mar. 2015.

Oliveira, C. R. D. A. R. et al. Proposta para um plano de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde nos estabelecimentos assistenciais de saúde de Guaporé/RS. Revista CIATEC – UPF [online], 5 (1), p.p.1-12, 2013.

Disponível em: <http://www.upf.br/seer/index.php/ciatec/article/view/3116/2380>. Acesso em: 20 mar. 2015. doi: 10.5335

Schneider, V.E. 2004. Sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos de serviços de saúde: contribuição ao estudo das variáveis que interferem no processo de implantação, monitoramento e custos decorrentes. Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como requisito parcial para a obtenção do título Doutor de Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. Porto Alegre: Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) /UFRGS.

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