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Ano V- N o 46 Fevereiro de 2011 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL PETGeo INFORMATIVO ISSN: X

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Ano V- No46 Fevereiro de 2011

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO

TUTORIAL

PETGeo

INFORMATIVO

ISSN: 1982-517X Editorial

Em fevereiro, mês no qual uma nova grade de aulas se apresenta, uma nova grade de atividades do PET começa a ser estabelecida também. Nós, Petianos e a Tutora, nos envolvemos e nos dedicamos principalmente ao planejamento das atividades de ensino e extensão para 2011 focando no fechamento do cronograma de atividades do SIMGeo e ENAPET-Geo.

Também concluímos mais um material didático, dessa vez para auxiliar os alunos do terceirão da escola Leonor de Barros acerca de algumas atualidades sobre nosso estado entre outros temas recorrentes nos vestibulares. Mais sobre essa atividade apresentaremos um relato nesta edição. Apresentaremos o relato da nossa colega petiana Paula que voltou de viagem da Ucrânia, onde ela participou de um projeto de educação ambiental. Esta edição também contará com o ensaio de uma acadêmica sobre uma cidade fictícia rica de relações sobre o crime urbano: Gothan City, essa mesma, a cidade do Batman. Além dos clássicos PET Indica e uma lista dos eventos mais próximos. Aproveitamos a oportunidade para dar boas vindas aos calouros da geografia. E desejamos sucesso nessa nova fase que se inicia em suas vidas. Será um ano de muito trabalho, dedicação e produção para todos nós!

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Nessa edição:

Página Gothan City:Welcome to the world whithout rules–Alessandra da Silva Ramos… 3 Relato Material Didático: Santa Catarina para Terceirão-Michelle Martins de Oliveira ... 21 Relato do projeto de educação ambiental na Ucrânia-Paula Carvalho de Castro. 21 PET Indica ... 24 Eventos ... 25

PETGeo FAED/UDESC Expediente:

Bolsistas: Ana Paula Esnidei Pereira, Emannuel dos Santos Costa, Gabriela Bassani Fahl, João Garcia Neto, Laura Dias Prestes, Leonardo Lenzi Barbosa, Marcela Gonçalves Werutsky, Maria Carolina Soares, Michelle Martins de Oliveira, Morgana Giovanella de Farias, Paula Carvalho de Castro, Pedro Martins Gomes.

Tutor(a): Vera Lúcia Nehls Dias. Edição: Michelle Martins de Oliveira Revisão: Vera Lúcia Nehls Dias

Impresso pelo Grupo PET-Geografia FAED/UDESC, em tamanho A4, fonte Times New Roman.

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GOTHAM CITY

Welcome to the world without rules1

Alessandra da Silva Ramos¹

“Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra no paraíso e prende-se a suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos

de progresso.”2

Esse indivíduo traumatizado. Insano. Indivíduo que não liga que dali há alguns anos, todos os seus esforços não irão valer de nada. O crime volta, sempre volta. O inimigo de Batman é eterno.

Assim como o texto de Benjamin, o herói Batman emerge no universo das histórias em quadrinho no período pós-primeira guerra3. Ele nasce na origem clássica contada por Bob Kane, a mesma refinada no recomeço que a DC Comics oferece ao herói nos anos 1980, escrito por Frank Miller4 ou a filmada na obra cinematográfica Batman Begins

(2005)5: um garoto, de pais ricos, os vê morrer assassinados por um ninguém. Um marginal perdido naquele mundo catastrófico. Catástrofe que trouxe mais uma catástrofe.

1 “Bem-vindo ao mundo sem regras”. Slogan da campanha publicitária do filme BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Produção: Emma Thomas, Christopher Nolan e Charles Roven. Roteiro: David S. Goyer, Christopher Nolan e Jonathan Nolan. Intérpretes: Christian Bale, Heath Ledger, Michael Caine e outros. São Paulo: Warner Brasil, 2008. Edição especial: DVD duplo (152min) (Figura 1)

1 Acadêmica do curso de História FAED/UDESC

2 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.226

3 “Batman é um super-herói, personagem de histórias em quadrinhos publicadas pela editora norte-americana DC Comics, cuja primeira aparição alguns acreditam ter sido em desenhos de Frank Foster em 1932, e que foi publicado posteriormente na revista Detective Comics #27, em Maio de1939. [...] foi co-criado pelo desenhista Bob Kane e o escritor Bill Finger, embora apenas Kane receba oficialmente os créditos, apesar de seus esforços para dividir os méritos na criação do personagem. Apesar de oficialmente creditado a Bob Kane, os desenhos de Frank Foster II, artista ligado à indústria de publicações de Nova Iorque na década de 1930, foram considerados autênticos pela DC Comics.”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Batman acessado 14/11/2010 as 14:10h

4 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Batman: Ano um. História em quadrinhos. São Paulo: ed. Abril, 2002.

5 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Produção: Emma Thomas, Larry J. Franco e Charles Roven. Roteiro: David S. Goyer e Christopher Nolan. Intérpretes: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson e outros. São Paulo: Warner Brasil, 2005. 1 DVD (134min)

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Mas qual é o propósito desse herói? Vingança? Ele sabe que o crime é impossível de ser detido por completo, ele renasce com o progresso, assim como com trauma de tantos vilões mascarados em suas vestes bizarras ou fisionomias horripilantes. O crime é tão grande quanto os prédios anônimos de Gotham, que expressam uma imagem bonita, afastada daquele chão cheio de criaturas traumatizadas, de lixo ou do “amontoado de ruínas”, como nos diz Walter Benjamin. Essas criaturas só diferem daquelas que estão nas coberturas por seu dinheiro.

O símbolo desse herói não é um morcego por acaso. Ele pronúncia seu propósito: o garoto Wayne tinha medo de morcegos, Batman quer que os criminosos compartilhem desse mesmo medo.

Bruce Wayne existe, ele não emerge do trauma. A partir de um trauma, o Batman surge de Bruce Wayne. Ele é uma máscara. Máscara essa que permite ao garoto Wayne não mais precisar falar, a máscara falará por ele.

Uma criatura feita para ser o guardião de Gotham. Guardar a cidade de seu próprio caos. Caos inscrito em criaturas traumatizadas. Cada vilão tem sua história, seu trauma. Eles não são diferentes de Batman: eles têm um propósito a partir de uma experiência marcante, traumatizante. Exceto aquele que não tem propósito.

Um trauma silenciador

Walter Benjamin conta que os soldados que retornavam da guerra (Primeira Grande Guerra) não voltavam com histórias heroicas. Nem com bonitos contos de heroísmo para seus filhos, seus pais e suas mulheres se orgulharem. Os soldados voltavam calados. Mais pobres de experiências comunicáveis.6

A experiência passa a ser incomunicável em uma sociedade regida pela técnica. Não há mais espaço para narração nesse tempo entrecortado pelo capitalismo. Digo narração, como uma vivência de continuidade e temporalidades. Do pai que repassa aos filhos, do conhecimento ancestral.

Essa sociedade muda, se sujeita a técnica. A um progresso o qual se transforma e transforma as vidas de maneira tão rápida e drástica que não pode ser assimilado através

6 BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.115

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da fala.7 Em uma nova ótica o sujeito perde seu rosto, vira “a massa”, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, perde também sua consciência de coletividade.

O findar da narração tradicional e a transformação da experiência estão diretamente conectados a aceleração da nossa percepção cotidiana, resultante de uma outra dinâmica de mundo, a violência da velocidade que nos impõe a técnica. Passando por não ter paciência de ouvir um velho, depois seus pais ao extremo da repulsa a cumprimentar um “semi-desconhecido” que caminha na rua.

O interno e o externo sofrem um ruptura. A casa, além de abrigo para os objetos que marcam quem ele é, vira uma espécie de refúgio contra aquele mundo hostil e anônimo lá fora. A experiência ganha uma outra natureza, uma natureza que pertence ao privado. Uma experiência de certa forma solitária, daquele que lê seu romance sozinho, trancafiado em seu quarto, imerso em objetos que possuem sua marca.

Esse processo pode ser sintetizado em duas expressões em língua alemã que são equivocadamente traduzidas como “experiência”, mas possuem uma sutil diferença. A

Erfahrung e a Erlebnis. Erfahrung (ou experiência) seria a narração tradicional, a

maneira de passar o conhecimento adquirido através dos anos pela palavra, da comunicação no coletivo. Esta depois de um processo traumatizante, de impacto no cotidiano se torna a Erlebnis (ou vivência), uma experiência transferida para o espaço privado, individualizada do cidadão anônimo em sua ânsia de deixar marcas que falaram por ele.

Sob esta ótica a garotinha que na loja de brinquedos causava estranheza na mãe, preferindo o boneco do homem fantasiado de morcego à boneca Barbie, analisa um dos heróis de sua infância. Percebendo que há muito mais por trás da máscara de Bruce Wayne do que suas inocentes fantasias infantis eram capazes de imaginar.

“Nós queremos você aqui no manicômio onde é o seu lugar”8

Ainda muito cedo Bruce Wayne perde os pais e passa a carregar com ele toda a culpa. Mas que culpa é essa? O menino sente a morte, o crime fere aquele que toca, ele foi mais uma de tantas vitimas. Não busca vingança, mas a justiça. Para essa justiça, agora Batman, usa do mesmo símbolo que o apavora para apavorar criminosos. Como

7 GAGNEBIN, Jeanne-Marie,. História e narração em Walter Benjamin. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. p.67

8 Fala do vilão Curinga em MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Asilo Arkham. História em Quadrinhos. São Paulo .Ed. Dc Comics In., 1990 (Figura 2)

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o próprio personagem confessa no filme Batman Begins (2005): “Chegou a hora de meus inimigos compartilharem meu medo”.9

E ele passa a se parecer com o tipo de criatura que combate, depois de perceber que só obterá o controle pelo amedrontamento, o terror.10

Este medo não é somente seu medo infantil. O morcego carrega consigo a própria iconografia do medo. Na cultura popular ele é uma ameaça, um elemento fortemente relacionado ao demônio. A revoada destes pequenos mamíferos representa exatamente o que pretende Batman. Ele é a noite, o caótico, o imprevisível.

A dor se transforma em senso de justiça. Mas “de cara limpa” não é possível fazer justiça. Não há respeito, pois não há medo. Os criminosos não temem e ainda revidam. A sensação de culpa e impotência persiste, até um morcego atravessar a janela da mansão Wayne e trazer nas asas a resposta.

“Pai...eu acho que vou morrer esta noite. Tentei ser paciente. Tentei esperar... mas... eu preciso saber. Como, pai? Como devo agir? O que devo usar...pra que eles tenham medo? Se eu tocar este sino, Alfred vem. Ele pode deter o sangramento a tempo.(...) Sim, pai. Eu tenho tudo... menos paciência. Prefiro morrer... a esperar... mais outra hora. Já esperei... dezoito anos... (...) Desde que minha vida perdeu o sentido. Sem o menor aviso, ele surge...estilhaçando a janela do seu estúdio, agora meu. [um morcego aparece, pousando sobre o busto do pai] Já vi essa criatura antes... em algum lugar. Ela me aterrorizou quando criança... me aterrorizou... Sim, pai. Eu me tornarei um morcego [Bruce toca o sino]”11

Desse momento em diante, através de Batman, os criminosos compartilharão os medos do pequeno Bruce.12

9 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

10 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. In:

Batman: Ano um. História em quadrinhos. São Paulo: ed. Abril, 2002. p. 8-22

11 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. Op. Cit. p. 20-22

(Figura 3)

12 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo quatro: amigo em apuros Op. Cit. p. 78 (Figura 4)

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O assassinato do pai se torna uma desculpa plausível para que Wayne se torne Batman, mais do que sua obsessão pelas criaturas da noite. A lembrança do trauma o invade a toda hora e assim ele escreve seu destino. Analisando através de Benjamin:

“Pensar não inclui apenas o movimento das ideias, mas também sua imobilização. Quando o pensamento pára, bruscamente, numa configuração saturada de tensões, ele lhes comunica um choque, através do qual essa configuração se cristaliza enquanto mônada. [...] Nessa estrutura, ele reconhece o sinal de uma imobilização messiânica dos acontecimentos, ou, dito de outro modo, de uma oportunidade revolucionária de lutar por um passado oprimido.”13

Imobilizando a imagem do passado o herói cria para si uma nova realidade. Realidade essa, onde se faz justiça, onde seu medo, seu ódio, sua raiva podem ser descontados na escória de Gotham. Mas até onde o próprio Batman não faz parte desta escória?

O justiceiro, dependendo da ótica em que é analisado, não passa de mais uma vítima dessa cidade corrupta e sem controle. Ele compartilha da mesma da loucura de seus arqui-inimigos. O vilão Curinga pode estar certo quando o chama ao Asilo Arkham dizendo que, ali “é o seu lugar”14

ou o convida a dividir um quarto de paredes acolchoadas15. Até onde vai o senso de justiça e começa a insanidade do herói?

Apesar de não ter transformado seu trauma em propósitos maldosos, em crimes, ele está ali. O trauma persiste. Ele precisa da máscara para viver no coletivo. Falar por ele. Não aguenta a palavra, como bem é explorado em O Asilo Arkham de Grant Morrison. Quando em uma teste de Rorschach se nega a dizer o que viu. Mas sabemos que ele viu o morcego, seu trauma.16 Trauma esse que o impossibilita que fale, que na mesma história não aguente uma simples associação de palavras.17

Esse indivíduo se fecha no espaço privado. Na mansão. Na batcaverna. Mansão que como bem diz Vicky Vale ao herói no filme Batman de Tim Burton: “Essa casa não

13 BENJAMIN, Walter. Op. Cit. 231

14 MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit.

15 BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit. 16 MORRISON, Grand; MCKEAN, Dave. Op. Cit. (Figura 5)

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tem nada haver com você”.18 Nessa obra o próprio Bruce não se encaixa naquele lugar imerso em tantas antiguidades e obras de arte. “Nele, o 'interior' obriga o habitante a adquirir o máximo possível de hábitos, que se ajustam melhor a esse interior que a ele próprio.”19

Já pelo seu lado a batcaverna abriga os medos do menino e a técnica de Batman. Ela contrapõe com a mansão e seus artefatos antigos, históricos. Construindo a dualidade do herói. A batcaverna se encontra vazia de futilidades, diferente da mansão, ela serve não mais do que para o bem comum. Para os artefatos que permitem Batman fazer sua justiça.

E diferente de tudo, no segundo Batman de Nolan, Batman Begins (2005)20, Bruce e Batman, ocupam dois espaços. Um apartamento e um esconderijo. Ambos com o mínimo de objetos necessários a sobrevivência, aparentemente vazios, assim como a caverna no subterrâneo da mansão.

“Why so serious?”21

“O Curinga é um caso especial. Muitos de nós acreditam que ele está além de qualquer tratamento. Na verdade, não estamos certos que ele possa ser definido como insano. […] É bem possível que estejamos diante de um caso de super sanidade. Uma nova e brilhante modificação da percepção humana mais adequada à vida urbana do fim do século XX. Diferente de você ou de mim, o Curinga não parece ter controle sobre as informações sensoriais que recebe do mundo externo. Por isso, alguns dias ele é um palhaço infantil. Outros um psicopata assassino. Ele não tem verdadeira personalidade. Ele cria uma diferente por dia. O Curinga se vê como o mestre do desgoverno, e o mundo como um teatro do absurdo.”22

Um vilão sem propósito. É assim que eu definiria o Curinga. No inglês Joker, em uma tradução livre “piadista”. O piadista em cada obra que aparece brinca com a identidade de Batman. E as vezes vai mais fundo, com a de Bruce também. De origem

18 BATMAN. Direção: Tim Burton. Produção: Peter Guber e Jon Peters. Roteiro: Sam Hamm e Warren Skaaren baseado no personagem de Bob Kane. Intérpretes: Michael Keaton, Jack Nicholson, Kim Basinger e outros . São Paulo: Warner Brasil, 1989. 1 DVD (126min)

19 BENJAMIN, Walter. Op. Cit. 118

20 BATMAN Begins. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit.

21 Fala do personagem Curinga no filme BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan Op. Cit.

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incerta até 1988, quando Alan Moore o presenteia com uma23. Esta que apesar de se considerada a “oficial” continua múltipla. Pois origem remete a uma identidade. Mas qual será a do Curinga?

O pai de família desesperado de Alan Moore?24 A criança que tem o rosto retalhado pelo pai alcoólatra? Ou o marido que se auto mutila para confortar a esposa, também mutilada por agiotas que lhe cobravam dividas de jogo?25 Todas essas versões remetem ao amor e sobretudo aos vícios. Duas coisas que ultrapassam o controle “racional humano”. O Curinga assim como o amor e os vícios de suas origens é incontrolável, impulsivo e sem propósitos. Como o próprio se descreve em Batman: O

cavaleiro das trevas (2008):

“Eu tenho mesmo cara de quem faz planos? Sabe o que eu sou? Sou um cão atrás de carros. Não saberia o que fazer se pegasse um. Eu só faço as coisas. A máfia faz planos. Os tiras fazem planos. Gordon faz planos. Eles são cheios de planos, sabe? Fazem planos para controlar o mundinho deles. Eu não faço planos. Tento mostrar a quem faz planos... como realmente são ridículas as tentativas deles de controlar tudo.”26

Ele é o extremo de Batman, o detetive super disciplinado, que quer ter tudo sob controle. Quer a ordem. Seus planos são metodicamente armados para que resultem na limpeza de Gotham, mesmo com meios não muito ortodoxos. Enquanto seu arqui inimigo não quer nada mais além de anarquia. Curinga deseja o caos, o medo. E é nesse jogo de quem provoca mais medo que um completa o outro em uma eterna batalha de cão e gato. Ou morcego e palhaço.

Por que, afinal de contas, segundo uma lenda no mundo das histórias em quadrinhos consumada por Tim Burtom em seu filme de 198927, um criou o outro.

Joker, ou Curinga, era o ladrão que segurava a tremula arma na noite em que só o que

resta ao menino é a luz do único poste da rua em frente ao teatro em que seus pais são mortos, o crime o fere, seu futuro inimigo lhe impõe a situação que cria dentro dele a

23 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Batman – Piada Mortal. História em quadrinhos. São

Paulo: ed. Abril, 1999.

24 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Op. Cit.

25 BATMAN: O cavaleiro das trevas. Direção: Christopher Nolan. Op. Cit. 26 Ibidem.

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ânsia por justiça, o Batman. Assim como o Batman atendendo a apenas mais uma das chamadas noturnas ataca e derruba um criminoso em substancias químicas que legam ao homem o palhaço.

Mas apesar de tudo Curinga está sempre um passo a frente de Batman, ele é a imprevisibilidade. Não há como prever os passos do agente do caos. Eu tenho a resposta para pergunta que martiriza o herói em Piada Mortal: “Como duas pessoas que não se conhecem podem se odiar tanto?”28

Simples. Eles são a dualidade, como as duas faces da moeda de Harvey Dent. O lado que mata e o que mantém a vida. No fundo eles se conhecem melhor do que imaginam.

“Burro e civilizado são a mesma coisa em Gotham City”29

Cidade tomada pelo crime. Suja e corruptível. Perfeita para Batman, que toma como sentido da vida combater o crime. Lá, sua vida nunca mais perderá o sentido. É um círculo vicioso. A cidade se alimenta do medo, da morte, do trauma. Cria sujeitos carregados de marcas dolorosas que em consequência marcam outros. Ela é praticamente um personagem vivo que interfere diretamente em cada trama. Como sugere a fala de alguns personagens que praticamente conversam com a cidade. Curinga do alto de seu sarcasmo: “Gotham City sempre me faz sorrir!”30

. Ou o tenente novato Gordon que em Batman: Ano Um tem de se condicionar como um tira incorruptível e sobreviver a corrupção que consome o lugar.

Gotham se assemelha a casa burguesa da segunda metade do século XIX, descrita pelos “escritores criminais”, como Allan Poe, Conan Doyle. Assim como esta, a cidade parece feita para o crime.31 A disposição do mobiliário da casa se assemelha a disposição das ruas. Em uma perfeita dinâmica para emboscada, elas se fecham em becos escuros e sujos, onde mocinhas indefesas resolvem caminhar durante a noite. É uma “cidade armadilha”. O Asilo Arkham que abriga todos os bandidos psicóticos fica logo ali, nas redondezas e um simples parque de diversão abandonado vira uma arma mortal.32

28 MOORE, Alan; BOLLAND, Brian, HIGGINS, John. Op. Cit. p. 14 (Figura 6)

29 MILLER, Frank, JANSON, Klaus e VARLEY, Lynn. Batman – O cavaleiro das trevas. Vol. 1. História em quadrinhos. São Paulo: ed. Abril, 1987.

30 BATMAN. Direção: Tim Burton.

31 BENJAMIN, Walter; BARBOSA, Jose Carlos Martins. Rua de mão única. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 14-15

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Essa cidade é carregada de elementos de diversas outras em diversas épocas. A maneira como segrega os mais pobres, operários, prostitutas, parece com Londres do século XIX.33 Semelhante a essa, Gotham também possui seu “East end”.34 Mas aqui seu elo de ligação temporária a “West end” não é o metrô. É Batman. Criatura que circula por esses dois mundos, mas que diferente dos operários, que trabalhavam durante o dia e voltavam para a “periferia” pela noite, Batman trabalha durante a noite.

Em certos aspectos eu vejo na cidade fictícia a Paris no mesmo século. Com suas avenidas largas, que evitariam a possibilidade de as pessoas se aglomerarem e promoverem barricadas ou trancarem as ruas.35 Essas avenidas privilegiam o corpo individual em movimento, a velocidade. Ao mesmo tempo em que quem assiste os pronunciamentos do prefeito faz parte, de certa forma, de uma “massa individual”. As pessoas não param para conversar com um estranho em Gotham, nem para socializar em espaços de lazer. Só se fala com o outro para perguntar preços ou proferir críticas aos atos do homem fantasiado de morcego.

Seus prédios são tão altos quanto os de Nova York no inicio do século XX. Possibilitando a uma elite que se posicione a cima de todo o lixo da cidade. Eles ignoram a escória, fazem questão de ficar literalmente a cima, bem longe do burburinho do lugar.

Misturando tantos elementos a catástrofe de Gotham vai se amontoando. A cidade faz suas vítimas independe de classe social ou profissão. Alimentada pelo trauma, ela consome seus moradores. Do menino rico a secretária solitária, pegando até mesmo o promotor público...

Referências

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

__________. BOLLE, Willi; TIEDEMANN, Rolf. Passagens. Belo Horizonte: Ed. da UFMG; São

Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.

33 SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 272

34 MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Capítulo um: quem sou eu e como vim a ser. Op. Cit. p. 10

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__________. BARBOSA, Jose Carlos Martins. Rua de mão única. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,

1995.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie,. História e narração em Walter Benjamin. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.

VARGAS, Alexandre Link. A morte do homem no morcego. SC, 2007, 132f. (Dissertação de Mestrado). Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, UNISUL. SENNETT, Richard. Carne e pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Informações de internet

http://pt.wikipedia.org/wiki/Batman acessado 14/11/2010 as 14:10h

http://en.wikipedia.org/wiki/Gotham_City acessado 16/11/2010 as 23:45

http://www.entrecomics.com/ acessado 16/11/2010 as 23:45 Histórias em Quadrinhos

MILLER, Frank. O cavaleiro das trevas. História em quadrinhos (4 vol.). São Paulo: ed.

Abril, 1997.

MILLER, Frank; MAZZUCCHELLI, David. Batman: Ano um. História em quadrinhos. São

Paulo: ed. Abril, 2002.

MOORE, Alan; BOLLAND, Brian. A piada mortal. História em quadrinhos. São Paulo: ed.

Abril, 1999.

MORRISON, Grant; MCKEAN, Dave. Asilo Arkham. História em quadrinhos. São Paulo:

Panini comics, 2003. Filmografia

BURTON, Tim. Batman – edição especial. [DVD]. Warner home video, 2005.

____________. Batman o retorno – edição especial. [DVD]. Warner home video, 2005.

NOLAN, Christopher. Batman begins – edição especial. [DVD]. Warner home video, 2005.

(13)

________. Batman: O cavaleiro das trevas – edição especial [DVD]. Warner home video, 2008.

SMITH, Steven. Batman desmascarado: A psicologia do cavaleiro das trevas. History Chanel, 2008

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Figura 1

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(16)
(17)
(18)

Anexo II – Panorama de Gotham

(19)

Batman (1989) Batman: O retorno (1992)

(20)

Batman Begins (2005) Batman Begins (2005)

(21)

Asilo Arkham Piada Mortal

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______________________________________________________________________

Relato Material Didático: Santa Catarina para Terceirão.

Michelle Martins de Oliveira¹1

Os vestibulares das universidades catarinenses têm costumeiramente feito perguntas relacionadas aos últimos acontecimentos referentes ao nosso estado. Dentre os fatos mais importantes do fim da década de 2000 e início da década de 2010 estão os deslizamentos e mais recentemente o processo erosivo que a Praia da Armação – Florianópolis sofreu. Para estimular a preocupação com o meio ambiente, além de ajudar com o vestibular e ajudar nos estudos do terceirão nós do PET-Geografia fizemos um apanhado com questões pontuais dos últimos acontecimentos catarinenses mais comentados. Além de toda a preocupação com os últimos fatos no nosso estado fizemos alguns mapas atrativos para facilitar a percepção da regionalização de fatores humanos e físicos de Santa Catarina. Buscando auxiliar os alunos para as provas que poderão decidir seus caminhos acadêmicos também buscamos despertar a valorização do curso de geografia ainda dentro de um colégio no qual o ensino das geociências ainda encontra-se em dissonância com a nossa realidade que se mostra cada vez mais dinâmica. Esperamos que nosso trabalho seja incorporado e sirva de estímulo tanto aos professores quanto aos alunos do colégio Leonor de Barros onde tal material, e os demais que serão produzidos serão aplicados.

Relato do projeto de educação ambiental na Ucrânia

Paula Carvalho de Castro2

1 Bolsista PET-Geografia 2

Bolsista PET-Geografia

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PET- Indica

Livro:Labyrinth - Kate Mosse 2005.

Os símbolos de uma cidade são construídos quando seus objetos perdem suas funções práticas iniciais, mas permanecem com valor simbólico cuja riqueza imaterial transcende a importância de funcionalidade. O livro Layrinthy de Kate Mosse pinta a importância desses símbolos para a comunicação, e mostra um pouco do quanto se perde por acreditar que apenas os nossos símbolos são dotados de cientificidade, de uma inteligência superior em relação aos nossos antepassados. O livro retrata uma França medieval e uma atual, mostrando contrastes e aproximações dos dois tempos.

Filme: Salade Russes – 1993

Um pouco de como foi à sociedade russa em transição do socialismo para o capitalismo. Russos indo de encontro à França, por um portal, invadem a casa de uma francesa, que também acaba conhecendo um pouco de São Petersburgo-Rússia. Salada russa em Paris ou Janela para Paris é um excelente filme recheado de humor inteligente que estampa muitos contrastes sociais e políticos além de nos agraciar com belíssimas músicas. Além de colocar o patriotismo em evidencia e a luta por uma nação melhor, também nos encanta por colocar a educação das crianças como chave para um futuro melhor, como no discurso emocionante do professor de música: “Nascemos num lugar e numa época errados, vivemos num país pobre, mas se não estivermos lá não vamos conseguir fazer nada pra mudar isso”. É uma obra com densidade histórica e misturas intelectuais fascinantes.

Filme: Kirikou et la sorcière - 1998

A História é baseada em uma lenda da África Ocidental. Um menino que nasce falante e sem ajuda de médicos, o qual enfrenta tudo e todos, inclusive a Karabá (feiticeira), mas sem querer machucar. Ele “esvazia” o mal, e quer entender o porquê das mazelas sociais. Com muita curiosidade o valente garoto salva crianças, esquilos e até a própria feiticeira do mal. Uma animação riquíssima de detalhes culturais africanos, tal como canções em seus rituais, como de morte, e de vitória. Mostra uma natureza diferente, nada harmônica. Aliás, essa natureza serve para propósitos humanos e o homem tornar-se objeto de controle, e para controle.

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Eventos

XIX Encontro Nacional dos Estudantes de Geografia (XIX ENEG) 6 a 12 de fevereiro, Vitória, ES

VII Congresso Internacional GEOMATICA 7 a 11 de fevereiro, Havana, Cuba

IAG/AIG Regional Conference on Geomorphology: Geomorphology for Human Adaptation to Changing Tropical Environments

18-22 fevereiro, Addis Ababa, Etiópia

XI Encontro Nacional de Práticas de Ensino de Geografia – ENPEG Goiânia-GO

17 a 21 de abril de 2011

Evento: 1st Conference on Spatial Statistics - Mapping Global Change University of Twente, Enschede, The Netherlands

Referências

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