• Nenhum resultado encontrado

Explorações do olhar : ciencia e arte nas fotografias da Comissão Geografica e Geologica de São Paulo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Explorações do olhar : ciencia e arte nas fotografias da Comissão Geografica e Geologica de São Paulo"

Copied!
158
0
0

Texto

(1)

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Artes

EXPLORA(:OES DO OLHAR:

CIENCIA E ARTE NAS FOTOGRAFIAS DA COMISSAO

GEOGIUFICA E GEOLOGICA DE SAO PAULO.

Chiudia Moi

Campinas

2005

--~;-::.-;

- -.-·l

'tl

r .· ·. , ., , .. ·,· ..

_ _ i

~;'~Jrro

·.~.

. ::c.

.1'. ...,_-u;_,,,.~~·,

(2)

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Artes

Mestrado em Multimeios

EXPLORAC::OES DO OLHAR:

CIENCIA E AR TE NAS FOTOGRAFIAS DA COMISSAO

GEOGRAPICA E GEOLOGICA DE SAO PAULO

,rota. Ora. lara Lis Franco

Schiavinattoorientadora

-Claudia Moi

Disserta9ao apresentada no Curso de

Mestrado em Multimeios, do Instituto de

Artes da UNICAMP, como requisito parcial

Para a obten9ao do titulo de mestre em

Multimeios, sob a orienta9ao do

Prof." lara Lis Franco Schiavinatto

Campinas

2005

i ~_: .. : -'

(3)

- - S e -

U~tlf)AI)E

'

-M• t..r.MADA

T

Jf!-l

I

Clljv1

i'

('<\ __ , .... --.

>--v

~

;~~:.~~c't't{

iff

cg

o@

PRECO

J

I '0 t? DATA

<>CE

t -

0 I;

-i:_A,

"rio"''

FICHA CATALOGMFICA ELABORADA PELA BIDLIOTECA DO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP

Biblioteciuio: Liliane Forner-CRB-8' I 6244

Moi, Climdia.

M727e Explora~t6es do olhar: ci&lcia e arte nas fotografias da Comissao Geogritfica e GeolOgica de Sao Paulo. I Clitudia Moi. - Campinas, SP: [s.n.], 2005.

Orientador: lara Lis Schiavinatto.

Disserta~ao( mestrado) - Universidade Estadual de Campinas. Institute de Artes.

L Comissao Geografica e GeolOgica. 2.

Fotogra:fia.

3. Hist6ria. 4. Esh~tica. I. Schiavinatto, lara Lis.

IT.

Universidade Estadual de Campinas. Institute de Artes. III. Titulo.

Titulo em ingles: •The look explorations: science and art in the Geographical and Geological Comission photographs of Sao Paulo"

Palavras-chave em ingles (Keywords):Geographical and Geological Comission -Photograph , History- Esthetic

Titular;iio: Mestrado em Multimeios e Artes Banca examinadora:

ProF Dr. a lara Lis Schiavinatto Prof Dr_ Fernando Cuty de T acca Profa Dr.a Silvana Barbosa Rubino Prof Dr. Jefferson Cano

Prof Dr. Adilson Jose Ruiz

(4)

RESUMO

Esta pesquisa investiga a construyao de significados, usos, fum;Oes e circulayao das

fotografias produzidas pela Comissao Geografica e Geologica durante viagens de

explorayao cientifica ao sertao do estado de sao Paulo entre

OS ailOS

de 1905 e 1920.

Primeiramente, o trabalho discute o Iugar da Comissao Geognifica e GeolOgica

dentro de urn iimbito politico e cultural sobre do sertao panlista. Em fms do seculo

XIX

e

XX

esse sertilo era

concebido no campo imagimirio litenirio e imagetico

como sinOnimo do atraso, da barbaria e do arcaico em oposiyao ao litoral entendido

como o progresso, a

civilizacfio

e a modernidade. Assim sendo, para a elite politica,

econ6mica e letrada da epoca, o

sertao

paulista era uma zona problemiltica, pais

alem de contar com a "incOmoda" presenya indigena, tambem, apresentava uma

"'vergonhosa lacuna" nos mapas do estado de

Sao

Paulo. Por meio

da

cartografia e

da fotografia solucionou se questao com a

ocupa~ao

visual e simb6lica desse

espa~o ~'+

pela missao civilizadora da ciencia.

Ass~

o sertao transfigurado, a "'lacuna" do

&

mapa foi preenchida por uma profusao de imagens de paisagens naturais. Paisagens

'-"

essas descritas e registradas pelos fotografos da CGG, tal como o faziam artistas

-

(I

[

c

viajantes das missOes cienti:ficas do seculo XIX, um misto de ciencia e arte.

Portanto, a pesquisa, busca entender de que maneira, no campo da visualidade do

neste periodo, principios estCticos como as id6ias do sublime, do belo e do pitoresco

migraram da pintura para a fotografia da CGG afmando a

no~ao

de sertao a urna

concep~ao

da visnalidade.

(5)

ABSTRACT

The current research aims to investigate the building of meanings, usages, functions

and the spreading of the pictures produced

by

the "Comissiio Geogr6fica e

Geologica" (Geographical and Geological CommissiOn)

dunng scientific

exploration trips to the backwoods of the Sao Paulo State between years 1905-1920.

Firstly, the current work discuss the situation of the Geographical and Geological

Commission inside the political and cultural atmosphere related to the paulista

backwoods. At the end of the 19'" century and beginning of the 2d" century, this

backwoods were conceived, in the imaginary-literary field and of image in general,

as a synonym of backwardness, of barbarism and of archaic times in opposition to

the seaside, understood as progress, civilization and modernity. Thus, for the

political, economical and learned elite of that time, paulista backwoods were a

problematic region, due to the fact that there was the troublesome indian presence.

Besides that, pau/ista backwoods were a "shameful blank" in the maps of the Sao

Paulo State. Using cartography and photography there was a solution for the issue,

with the visual and symbolic occupation of this blank by the scientific civilizing

mission. Thus, with the backwoods transmuted, the blank in the map was filled by a

profUsion of natural landscapes images, which were described and registered by the

photographers of

CGG,

just as the traveling artists of the 2d" century scientific

missions did, a mixture of science and art. Therefore, the research aims to

understand, in the field of visualization thise at the beginning of the 2d" century, by

which means esthetic principles such as the ideas of the sublime, the beautifUl and

the picturesque migrated from the painting to the photography of

CGG,

tuning the

backwoods conception

to

a traditional conception of the visible

Key-words: photography,

history,

esthetic,

Geographical and Geological

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao Iongo do percurso para a elabora<_;ao e defesa dessa disserta<;ao muitas foram as pessoas que deram estimulo, colaboraqio eo apoio. Desde o inicio das minhas pesquisas conrei como estimulo da minha familia, minha mae sempre presente a me ouvir, minhas irmis Wilma e Cristiane compartilhando emo<;6es, leituras dos rascunhos e, sobretudo, meu cunhado Alfonso, que fez o excdenre DVD parte imporrame dessa pesquisa e tudo fez para que esse rrabalho andasse recnicamente. Dedico a des a minha disserraqao.

A minha oriemadora lara Lis Schiavinatto pela paciencia, leitura criteriosa e dial6gica ao Iongo de todo esse processo, o meu agradecimento.Aos membros da banca examinadora composta pelos professores Fernando de Tacca e Silvana Rubino pela leitura atenta e as instigantes sugest6es.

As

instituiq6es, onde realizei a pesquisa, agrade<;:o acolhida durame a consulra e reproduqao de seus acervos, primeiramenre ao lnstiruto Canogd.fico e GeolOgico- ICG, onde conheci e me afei<;:oei pelas fotografias da Comissao Geogdfica e GeolOgica sou grata

a

diretora Lenir de Cunha e Castro, rodos os funcion<irios e meus ex-colegas de trabalho. Em Neide Carnevalle a sua sempre carinhosa recepqao, a Michel Vitor Cury pelo eficienre e dedicado apoio na pesquisa e a Marina no auxilio a reproduqao forogdfica. No Instituto GeolOgico sou grata a Fernando C. Finipaldi e as biblioted.rias do IG, cominuamente solfdtos e aberros as minhas inUmeras visitas e que me receberam com zelosa atens:ao. Na biblioteca Mario de Andrade, a Hildada mapoteca o acesso aos mapas amigos. A Fernando de Sousa Lima pela editoraqao do texto e imagens, agradeqo pela comperencia e dedicado profissionalismo diante das minhas minuciosas exigencias.

As minhas amigas que colaboraram com incentivo pessoal, como Marli Marcon des, pelas conversas, acolhida e imensa ajuda logistica juntamente com Cassia Denise Gons:alves do Cemro de MemOria da Unicamp, que se mobilizou para localiza<_;:ao de fotografias. A Flavia Fabio pdas trocas e auxilios diame da imensa papelada e das formalidades do processo da dissertaqao. E par fim, agradeqo especialmente o apoio afecivo e imelectual do meu amigo de todas as horas, Marcelo FlOrio, nas dificuldades e nos momenros de descontraqao dando forqa para eu seguir persistemememe e finalizar minha pesquisa, mesmo tendo que conciliar o trabalho e os percalqos da vida coridiana.

(7)

ABREVIATURAS

AHIG-Arquivo Hist6rico do Institute GeolOgico

AHIGC-Arquivo Hist6rico do Instituto Geognifico e Cartografico APMP-Arquivo Permanente do Museu Paulista

(8)

SUM ARlO

INTRODU<;:AO .. CAPiTULO I

HOMENS DE CIENCIA: A COMISSAO GEOGRAFICA E GEOLOGICA E A ATUA<;:Ao DE UMA ELITE LETRADA EM SAO PAULO ....

A COMISSAO GEOGRAFICA E GEOLOGICA: UMA HIST6RIA ... A PRODU<;::AO DA CGG

CAPiTULO 2

CARTOGRAFIAS LITERARIAS: 0 DEBATE CULTURAL, POLiTICO E CIENTIFICO SOBRE 0 SERTAO PAULISTA ... ... ... . ... .

Uma "mancha" no mapa: a imagem dos territ6rios indigenas ...

CONQUISTA DO SERTAO: A OCUPA<;::AO VISUAL DOS "TERRENOS DESCONHECIDOS" CAPiTUL03

DE SAO PAULO PARA 0 MUNDO: AS FOTOGRAFIAS DA CGG.

ExposiyOes universais e nacionais: vitrine do progresso e das ciencias A imagem da CGG nas exposiv6es ... . ... .

. ... 13 . ... 21 . .. 27 .. 48 .. 53 ... 69 ··---··· ·-- 79 . .. 87 ··· 87

Os escrit6rios da Comissao: fotografias num Gabinete de Curiosidades ... . . ... 90

.. 94

Relat6rios de explorav6es cientificas: a produvao editorial e a circulaqiio das fotografias da Comissao .. EXPLORADORES DO OLHAR: OS FOT0GRAFOS DA COMISSAO GEOGR.AFICA E GEOLOGICA .. CAPiTULO 4 A CGG A CAMPO: AS MISS6ES FOTOGR.AFICAS ... . Amissiio FeioAguapei (1905) ... . A missao Peixe (1905) ... . Missao rio Tiete- Parana e Paranapanema (1905- I 906) ... . ... .. A missiio Rio Grande (191 0) .. ... . ... .. 0 OLHO

v:E 0

MUNDO: 0 ATO DA VER, 0 OBSERVADOR E A VISUALIDADE EM FINS DO SECULO XIX E INfCIO DO XX ... . PAISA GENS CARTOGRAFADAS: AS FOTOGRAFIAS DA COMISSAO GEOGRAFICA E GEOLOGICA .. CONSIDERA<;:6ES FINAlS ... . REFERENCIABIBLIOGRA.FICA ... . APENDICE- AS FOTOGRAFIAS DA CGG NO TEMPO DE DERBY .. . .. 98 . .. 109 .. ... 119 . 126 . ... 128 . ... 130 .. ... 132 .. ... 135 .141 . ... 155 .. ... !59 167 iNDlCE DAS FIGURAS .. .. ... 169

(9)

INTRODUC;:AO

A opc;ao par estudar a Comissao Geogratica e GeolOgica estii relacionada

a

constrw;iio de uma trajet6ria de vida profissional. Ao trabalhar como documentalista no Arquivo hist6rico do Institute Geognifico e Cartogcifico tomei cantata como acervo da Comissao. No tempo que 18. trabalhei, o acervo da Comissao encontrava-se esparso e necessitava de organizayao e a elaborayiio de urn inventario. Hoje, o acervo do CGG

e

mantido pordois Institutes de Pesquisa do Estado de Siio Paulo, como o Institute GeolOgico da Secretaria daAgricultura eo Institute Geogr.ifico Cartogcifico da Secretaria de Planejamento do Estado de Siio Paulo.

Enquanto trabalhavano IGC, a instituiyiio foi con vi dada pel as pesquisadores do Institute Geol6gico, a participarna organizayao da Comissao Comemorativa dos 110 ar10s de criayiio da CGG, visando divulgar e estabelecerum evento que valorizasse a memOria da CGG A Comissao Geogcifica e GeolOgica colaborou na fundayao de v3rios serviyos pUblicos que atualmente ainda sao exercidos pelos atuais Institutes de Pesquisa do Estado de Sao Paulo. 1 Dentre esses Institutes de Pesquisa do Estado que se originaram com

a CGG, destacam-se: Institute Florestal, o Institute Geognifico e Cartogr3fico, o Institute GeolOgico, Institute de Botanica, Centro TecnolOgico de Hidr.lulica e Recurso Hidricos, InstitutoAstron6mico Geo:fisico, bern como, os nllcleos fonnadores de acervos do Museu Paulista e do Museu de Zoologia da Universidade de Sao Paulo.

Este cantata com as fotografias originais da CGG, principalmente o forte apelo estt!tico das panocimicas do "sertao paulista", sensibilizaram-me e despertaram a vontade em investigar, diversas quest5es como: os por ques, os para ques foram feitas estas fotografias. Somada a essa vivencia com a documentayiio, fiz a leitura da dissertayao de Silvia Figueiroa,2 e dai surgiu

a

certeza da possibilidade da pesquisa.

0 objetivo inicial do projeto da pesquisa era estudar o conjunto complete das fotografias da Comissao Geognifica e GeolOgica, a fim de compreendero processo de significayiio dessa produyao

1

A chamada "Comissii.o dos II 0 anos" teve como resultado v<i.rios eventos, urn lant;amento de selo comemorativo pel a empresa dos Correios, uma exposiciio intitulada Pesquisando Siio Paulo: I 10 a nos da Comissao Geogrcijica e GeolOgica

e uma publicat;1i.o, todos ocorridos no dia 27 de mart;o de 1996 no saguiio do Museu Paulista. Destas atividades colaborei na montagem da exposiciio selecionando fotografias e na pesquisa hist6rica publicada num !ivro comemorativo. Esta participaciio incentivou muito para que meu interesse em estudar a CGG

1 Refiro-me aqui a: FIGUEIR6A, Silvia F de Mendont;a.ModernosBandeirantes: A Comissao Geogrbfica e GeolOgica

de Siio Paulo e a exploraqiio cientijica do territ6rio paulista (1886- 1931 ). Sao Paulo: FFLCHI Universidade de Sao Paulo, 1987. ( dissertat;iio de mestrado)

(10)

imag€:tica. Mas a extensiio e a diversidade do acervo, no entanto, niio permitiram esse trabalho numa dissertayiio de mestrado, com a profundidade e rigor necessaries.

A preferencia porum recorte temcitico, paisa gens do sertao paulista realizada nas explorayOes de rios empreendidas pela Comissao Geografica e GeolOgica CGG na primeira d€:cada do XX, vern preencher uma certa ausencia nos estudos referentes as paisagens fotognificas numa €:poca e local tao pouco tratados: interior de Sao Paulo naBelle .Epoque. Portanto, as principais s€:ries documentais, foco da pesquisa, seriio as fotografias impressas e publicadas nos relat6rios de explorayao de rios paulistas e as c6pias de €:poca- vintage prints-dos anos de 1905 a 1910.

A delimitayiio do campo de estudo dessa dissertayii.o, centra-se nas paisa gens naturais produzidas pelos fot6grafos da CGG durante as viagens de explorayJ.o cientifica ao "oeste" paulista, o charnado "sertao". 0 tema "sertao" possui uma importincia crucial na fonnayiio de urn corpus imagktico para a elite letrada de sao Pau1o no inicio do s€:culo XX. Inseridano imaginario especifico da €:poca abordada, essas fotos cumprem a funyiio de uma conquista e ocupayiio visual daregiiio sertaneja paulista. Sertao este, revelado nas fotografias de matas, rios, cachoeiras e dos indigenas. Em relayao

a

delirnitayao do campo da pesquisa

e

necessaria salientarque, lliio seffio objeto de arillise as fotografias das expediyOes ao litoral paulista. Esta opyao se ampara na quanti dade do material e nas caracteristicas divergentes deprodw;:iio das fotos geradas a partir de 1914 como: nos novas tipos de abordagem e significados imag€:ticos destas em relayiio as do sertiio. As fotografias do litoral paulista representam a antitese do que se concebia do Sertao. Aregiiio, densamente ocupada de populayao era traduzida pelos fot6grafos da CGG, atrav€:s de simbolos da "civilizayao". Assim, as fotos enfocavam: as fazendas produtivas, cidades, estradas de rodagem e de ferro, portos e as pessoas em seus afazeres cotidianos.

No que se refere ao periodo escolhido, ha ainda para se destacar a diversidade da produyao fotognifica nas duas fases da hist6ria administrativa da CGG, a saber: de 1887 a 1905 na direyao do ge6logo Orville Derby e na gestiio de Joao Pedro Cardoso entre 1905 e 1931. Esta distinyao se explica atraves dos sentidos atribuidos aos usos e ftmyOes das imagens pelos dais Unicos diretores da instituiyao. Assim, na fase de Derby a utiliza9iio das fotografias se diio como peyas para estudos cientificos, excluidas da circulayao pUblica, servem somente aos engenheiros comissionfl.rios. Ja para Joiio Pedro Cardoso, as fotografias eram o expoente dos trabalhos da Comissao, urn ponto de apoio, concomitante com a publicayao de mapas do estado na elaborayi'io de uma propaganda para a instituiyao. Assim, seriio consideradas para fonte de estudo somente as imagens produzidas e publicadas no periodo de 1905 a 1910.

Essa dissertayiio tern como objetivo utilizar-se do entrecuzamento de fontes documentais: a documentayao textual, cartogr<ifica e fotogr3fica. No trabalho com esses documentos visuais e

(11)

textuais, bus ca-se amp liar a possibilidade de apreensao da historicidade da CGG; na medida em que essas imagens e relat6rios produziram signos e significados.

A fotografia pode ser urn objeto de investigayao ou como fonte para a hist6ria da fotografia, segundo Boris Kossoy, sob duas principals linhas te6ricas; a primeira no estudo sistemitico desse meio de comunica~ao e expressao em seu processo hist6rico ou como instrumento de apoio

a

pesquisa hist6rica vindo a ser meio de conhecimento visual da cena passada3 Nesta linha de pensamento, da

fotografia como fonte hist6rica, as fotos da CGG j<i foram muito bern trabalhadas pelo estudo de Silvia Figueir6a, pesquisadora da hist6ria da ciencias geol6gicas, a qual entendeu essas imagens como portadoras de urn discurso positivista e cientificista penneado pela id€:ia de progresso, desbravamento e domina~ao da natureza pelo trabalho cientifico.4 E tamb€:m, h<i o excelente estudo

da hist6ria e memOria, que Gilmar Arruda faz dos mapas e cartas produzidos pela CGG, inseridos numa problem<itica da €:poca a polariza~ao dos espa~os da cidade e do sertao.5

Esta pesquisa niio ve as fotografias da Comissao Geogr.ifica e GeolOgica como urn documento para o estudo do passado da institui~iio per se, mas, sobretudo trabalha tais imagens enquanto uma

expressiio documental artistica e de comunica~ao de significados de uma detenninada €:poca. Tampouco quertrazer estas fotografias para o campo das "estilisticas" dahist6ria da fotografia, mas como objeto que opera em virios campos: da comunica~ao, da hist6ria, da arte- enfocando a estetica do sublime, do bela e do pitoresco encontrados nas imagens de viagem cientfficas e artisticas e nos .ilbuns de "vistas" de viajantes do s€:culo XIX.

0 forte da pesquisa, portanto, sera a analise das imagens fotogrificas de paisagem do sertiio paulista, discutindo seus significados, seus usos, fun~Oes, sua natureza e est€:tica relacionados com o fazer fotogr<ifico especifico de €:poca. Ao enfocar a fotografia de paisagem, essa disserta~ao n1io busca fazer uma comparaciio entre pintura de paisagem e a fotografia dessa epoca, mas antes sim, compreender quais elementos compositivos e de expressao estetica migram de urn campo a outro de arte. Sendo que a base de anilise dessas fotografias se pautanl : na bibliografia especifica em fotografia, hist6ria cultural e visual, est€:tica, discutidas ao longo da dissertayao.

3 KOSSOY, Boris. Fotograjia & Hist6ria, 2° ediyao, Sao Paulo:Atelie Editorial, 2001. p53.

4 Refiro-me aqui aoestudo publicado sobre as fotografias da Comissao realizado pela pesquisadora em FIGUEIROA, S. F de M. Um exemplo de aplicayao da semi6ticaa Hist6ria da Ciencia atraves da amilise de fotografias de expediyOes geocientificas. Quipu, Mexico, 4 (3): 433-45, set-dez, !987.

5 ARRUDA, Gil mar. Cidades e SertOes: entre a histOria e a memOria. Bauru I sao Paulo: EDUSC, 2000. (coleyao hist6ria)

(12)

lniciarei no Capitulo 1 com uma abordagem da hist6ria administrativa da Comissao Geografica e Geol6gica,6 a fim de buscar compreender desde a sua cria<;iio, mudancas de rumos cientificos e

administrativos e ate a sua extincao, enquanto institui<;iio. A hist6ria da CGG e entendida a qui, nao num sentido de etapas progressivas, mas antes, como uma corrente de mementos hist6ricos advindos de mUltiplas tens6es s6cio-econ6micas com suas hierarquias e tramas de rela<;6es politicas. No que tange a hist6ria da Comissao, sera trabalhado basicamente o vies politico-econ6mico, visando contextualizar quem eram esses homens que ai trabalharam, os fatos, as decisOes, os objetivos, as a<;6es dos dirigentes da CGG e dos lideres politicos govemamentais.

Portanto, tratarei neste capitulo os principals mementos politicos administrativos da Comissao Geogrlifica e GeolOgica de Sao Paulo percorrendo-os de 1886 a 1931. Inicialmente, tratarei dos motives para a cria<;ao da CGG, os objetivos da institui<;iio e seu projeto cientifico, elaborados por Orville Derby. Em seguida buscarei compreendero direcionamento dos trabalhos da CGG e as concep<;Oes de ciencias imprimidas par Derby nos primeiros anos- naturalista e enciclopedico -ate este dire tor ser substituido pelo govemo paulista. Atravi:s de um diilogo com a bibliografia especifica, debaterei os motivos da mudam;a do dire tor da CGG e os novos rumos da Comissao. Assim, logo adentrarei num periodo de 1905 a 1930, elencando as realiza<;Oes do Joiio Pedro Cardoso, segundo e Ultimo diretor da Comissao, a organiza<;5.o das grandes expedi<;Oes de mapeamento do sertiio; os estudos sistemliticos de jazidas de mim!rios, 3gua, petr6leo, a demarcayiio de limites de municipios e das fronteiras do Estado. E por fim, falarei do clima politico e econ6mico e os motivos do poderpliblico para a extin<;iio da CGG Ao final do primeiro capitulo ainda, co loco uma sintese da produyiio da Comissao Geogcifica e GeolOgica abordando quais foram seus estudos, publica<;6es e registros documentais por ela empreendidos, como mapas, fotografias, filmes e doClUllentos.

No capitulo 2, travo urn di3logo com fontes de i:poca, buscando resvalar no debate que ocorreu sabre o "sertiio" em meio a elite letrada paulista (homens de ciencia, fazendeiros, comerciantes, industriais, literates) em fins do si:culo XIX e XX. 0 sertiio era concebido no campo imaginlirio literlirio e imagetico por essa elite, como o sin6nimo do "atraso", da "barbaria" em oposi<;ao ao litoral entendido como o "progresso", a "civiliza<;iio" e a "modemidade". Assim sendo, para a elite politico, econ6mica e letrada da epoca, o sertao paulista configura va-se como uma zona problem3tica, pais ali:m de contar com a "incomoda" presenca indigena, tambem, apresentava uma

(13)

"vergonhosa lacuna" nos rna pas do estado de Siio Paulo. Pormeioda cartografia e cia fotografia solucionou-se questao com a ocupacao visual e simb6lica dessolucionou-se espayo pela "missiio civilizadora da ciencia". Assim, o sertao transfigurado, a "lacuna" do mapa foi preenchida por uma profusiio de imagens de paisagens naturais. Paisagens essas descritas e registradas pelos fot6grafos da CGG, tal como o faziam artistas via jantes das ntissOes cientificas do seculo XIX, urn misto de ci€:ncia e arte.

No capitulo 3 tratarei dos locais e das formas de divulgaciio das fotografias e publicac6es da CGG, veiculo dessas imagens.

Assim iniciarei como urn apanhado sabre os espacos expositivos da epoca - as exposic;Oes nacionais e universais, seus significados, organizayao e finalidades. Seguindo-se ai isso, inserido oeste contexto, falarei da visibilidade das fotografias da CGG atraves das Exposic6es Nacionais de 1908 e 1922, o papel e seu significado para a instituicao eo govemo paulista. No t6pico seguinte, refiro-me a outra forma de exibiyiio dessas fotos da Comissao, as paredes de seus "escrit6rios", misto de museu e gabinete de curiosidade para seus visitantes. Em seguida, seriio estudadas as forrnas de veiculayiio das imagens da CGG por interrn6dio das publica<;Oes da instituiyao- os relat6rios de exploray.1io de rios-o seu frios-ormatrios-o editrios-orial, rios-o circuitrios-o de visibilidade, a sua funyarios-o publicitaria e crios-ontextrios-o de prrios-oduyiirios-o, urna das vias mais importantes de circulayiio das fotos da Comissao. E finalizando esse capitulo 3, fayo urn apanhado swnario sabre quem foram os fot6grafos da CGG, buscando atraves de pequenas pistas entender urn pouco da produyiio e da peculiaridade do oficio nessa epoca e para a Comissao.

No quarto capitulo trayarei urn paralelo entre a forma de registro e percepyao visual das imagens de viagens cientificas e artisticas, no caso a Expediciio Langsdorff, com as da Comissao Geognifica e GeolOgica. Pautando-me na nociio de Missiio fotognijica do seculo XIX, relato

sumariamente como se estabeleceu i ediyiio das imagens da Comissao nos relat6rios e a implicac;:ao disto para a concepciio e significado das viagens de explorayiio "ao extremo sert.lo" paulista. Assim, nesta via de amilise estabeleco categorias tem.iticas que viio pautar meu olhar sobre essas viagens de exploraciio, dividindo-as e concebendo-as por Missi5es de rios. Essas MissOes de rios seriio

tratadas brevemente na sua constituiciio tem.iticas visando embasar e comprovar a hip6tese primeira dessa dissertaciio: a importiincia das paisagens da natureza do "sert:iio" paulista. Seguindo nesse mesmo capitulo, faco uma reflexiio a respeito da visualidade e a concepyao de observador em fins do seculo XIX e inicio do XX, buscando dar apoio te6rico

a

analise das fotos que segue no Ultimo t6pico. Nessa Ultima busco fazer uma interpretac;:ao das fotografias da CGG sob a 6tica da estetica do sublime, do bela e do pitoresco, tiio prOprio da 6poca que este estudo se debrucou.

(14)
(15)

HOMENS DE CIENCIA:

A COMISSAO GEOGRAFICA E GEOLOGICA E AATUA(:AO

DE UMA ELITE LETRADA EM SAO PAULO

A consagrar;:ao da ciiincia positiva como o apancigio do progresso no scicu!o XIX p6s em cena uma nova elite de personagens envo{vidos na sua

gestiio: cientistas, mCdicos, engenheiros. arquitetos, urbanistas,

administradores e t6cnicos. (Nicol au Sevcenko HistOria de Vida Privada

no Brasil: Repziblica da Belle Epoque ci Era do Radio/

Desde final do s6culo XIX a provincia de Sao Paulo supera em produyao de cafe outras regi6es do pais, como Rio de Janeiro e Minas. Com isso evidenciava-se amudanya no equilibria politico-econ6mico do pais. Sao Paulo, entre 1870 e 1920, representava o estado mais dinfunico, nao s6 devido a sua situayao econ6mica privilegiada, como tam bern porter a melhor "integrayi'io intenla'', garantida por sua extensa rede ferroviiiria e de comunicar;ao entre o interior e a capital. 2

A cada ano crescia aceleradamente o sistema de comunica<;Oes, fosse por ferro vias ou telegrafos, que ligava sao Paulo ao resto do pais. Junto ao seu processo de industrializar;3o, abriam-se escrit6rios de comissarios, bancos, grandes e pequenos comercios, fibricas thteis, o que vinha a aumentar as importar;Oes eo comercio intemo. 0 fazendeiro do cafe, geralmente associado

a

elite rural brasileira, assumia posir;Oes empresariais, formando junto com os setores comerciais e financeiros urbanos, a "emergente burguesia regional" .3

Na capital paulista havia urn intenso triinsito de pessoas sem chance de inclusao s6cio econOmica, resultando em urn r3.pido crescimento da miseria e da criminalidade. A situar;ao dos ex-escravos despertava nos segmentos urbanos e de elites, ora sentimentos humanitirios no

' Nicolau SEVCENKO. JntrodUI;iio in HistOria de Vida Privada no Brasil: RepUblica da Belle £poque Q Era do Radio, sao Paulo: Cia das Letras, 1998, v. 2, p. 17.

'Boris FAUSTO, Expansao do Cafe e polltica cafeeira. [n: Hist6ria Geral da Civili:::m:;iio Brasileira. 2" ed., Siio Paulo: Difel, 1977, v.l. t.2, p.l95-216 e Joseph LOVE. A locomoriva: Siio Paulo nafederayiio brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p.132-133

1 Warren DEAN. A industrializa9'ao durante a RepUblica Velha in: HistOria Cera/ da Civilizar;iio Brasileira. 2" ed., Sao Paulo: Difel, 1977. v.l, t.2, p. 251-283.

(16)

senti do de "tutela", ora o temor generalizado da "vadiagem". CompOe ainda esse paine! da sociedade paulistana, um grupo de excluidos, em geral negros e mesti<;os, os mais visiveis na capital.4

Nos campos da literatura e da hist6ria permanecia a imagem de Sao Paulo para outras provincias do pais, tal como nas descri<;6es dos viajantes estrangeiros, como "acanhada, interiorana, isolada ", habitada por gente "atrasada" e apegada a ''costumes antigos".5 Ainda nao haviasido assimilado, no final do seculo

XIX o desenvolvimento da provincia e sua capital na maioria das regiOes do Brasil, de forma a mudar esse vies negative a respeito da capital. Os relates do viajante europeuAuguste de Saint-Hilaire (1818-22) sao urn exemplo des sa compreensao, pais em sua descri<;B.o da capital mostrava uma cidade "boca de sertao", precinia na infra-estrutura, suja, habitada par muitos pobres e alguns ricos estudantes vindos de fora.6

No Rio de Janetro, geralmente, os paulistas eram chamados de "sertanejos" ou "caboclos" e continuavam sendo-lhes atribuidas as caracteristicas dos bandeirantes construidas pelos relates jesuitas: "homens rudes, violentos e ignorantes". E essa imagem da cidade migrou ate mesmo para

os "compendios de historia p<itria" segundo Antonio Celso Ferreira:

}'los compendios de historia piztria, Siio Paulo aparecia apenas como um ponto de passagem. pouco mais que wna boca de sertiio, em contraste com o Rio de Janeiro, ao qual era dado um papel decisivo na vida nacional, e com a Bahia, considerada ben;o da cultura brasileira. Os herOis paulistas ainda niiofiguravam nas narrativas histOricas nacionalistas: eles viriam numfitturo prOximo. como resultado de uma constrw;·Qo textual que apenas se iniciava.7

De 1880 a 1889 cresceu no interior da elite paulista urn debate politico e intelectual de que havia muito a fazer para tamar a posi<;3o de Sao Paulo proeminente no cemirio nacional tal qual sua fon;a econ6mica. Para que esse intento se concretizasse eram necess:'i.rias atuay5es mais intensas no campo nao s6 do poderpolitico provincial, mas tambem a sua proje<;ao cultural, ate entao, concentrada na Corte.8

4

Celia M. Marinho de AZEVEDO, Onda Negra. Medo Branco. 0 negro no imaginG rio das Elites- Si:culo XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1987. cap. 2 e 4 e Lilia M. SCHWARCZ .. Retrafo em Branco e Negro. Jornais. Escravos e

Cidadiios em Siio Paulo no final do sl:culo XIX. Sao Paulo: Cia das Letras, 1987, p. 224-226 e p. 232-240_

0 AntOnio Celso FERREIRA, A Epopt3ia Bandeiran!e: /e(J·ados, instituir;i5es. invenr;iio hist6rica (1870-1940). Slio Paulo: Editora Unesp. 2002. p.52-53.

r. Auguste de SAINT-HILAIRE. Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a Siio Paulo. Sao Paulo:

Editora Nacional, 1932. v.5 (coleylio brasiliana) 'A C. FERREIRA, op.cit., p .. 52-53.

8 Sergio B de H. HOLANDA, 0 Brasil Momirquico in: HistOria geral da civilizar,'iio brasileira. 2" ed., Sao Paulo: Difel. 1983, p.330 eAC. FERREIRA. op. Cit.. p.33-34_

(17)

0 positivismo9 eo evolucionismo darwinistas, 10 transforrnados em padmetros de veracidade no

momenta, confonnavam parte das convicy6es cientificas e politicas no circulo intelectual paulista.11

0 republicanismo ganhava fonna e forya, unindo estudantes e bachareis, ernpreendedores urbanos e fazendeiros. Mas, a respeito de incorporar os discursos cientificistas em que se pautavam as elites, sairiam vitoriosos os ideais liberais (principalmente os forjados pelo Partido Republicano Paulista) na implantayao da RepUblica, os quais continuariam hegem6nicos nas primeiras decadas do seculo XX. 11

Mas era, nessa mesma conjuntura, que surgia em Sao Paulo "novas ideirios politicos, filos6ficos e esteticos". A Faculdade de Direito do Largo Sao Francisco, que recebia alunos de toda provincia desde 1828, preparava as elites politicas e intelectuais, seguia sendo urn centro de elaborac;ao e difusi'io de ideias. 13 E a Academia de Direito marcou a rede de sociabilidade letrada

e culta, tomando se urn centro importante da vida cultural paulistana. 14 Como diz Silvio Lofego

entre 1875 e 1885, em Sao Paulo "ainda se ouviam os ecos das primeiras gerayOes boemias e romantic as que agitaram Sao Paulo desde inicio do seculo XIX."15

~ 0 positivismo passou a predominar no mundo ocidental, sobretudo no Mexico, Brasil e Portugal, como uma corrente de pensamento filos6fico ao final do seculo XIX. A denominavao vern da obra de Augusto Comte: Filosojia Positiva.

Nessa obra, Comte fazuma analise sabre o desenvolvimento de seu pais ao Iongo doseculo, atribuindo

a

elite industrial. grupo esclarecido e capaz pelo progresso econOmico o dever de deter o controle do Estado. Ainda para Comte, caberia a elite govemar, enquanto ao povo trabalhar sem reivindicar, sem se organizar e sem protestar, pois "sO o trabalho em ordem e que pode determinar o Progresso", nascendo dai olema de sua filosofia, que os militares escreveram na ban de ira bmsileira: "ordem e prOgresso". Cf. Jose M. de CARVALHO. Aforma.;:ao das almas. Sii.o Paulo: Cia da Letras, 1986

1

" 0 darwinismo nfio foi a Unica corrente evolucionista do seculo XIX e nem poderia ser considerada a mais 'avanyada'

no periodo. Regina Gualtieri evidenciou que as instituicOes cientiftcas brasileiras do seculo XIX elegeram e incorporaram teorias evolucionistas distintas Essas instituic5es se adaptaram rapidamente as 'novas' disciplinas cientificas que surgiram na epoca . Desta forma, conforrne Regina Gualtieri nao se pode considerar as instituic5es brasileiras cientificas de 'defasadas' ou 'alheias' aos debates da epeca. R C E Gualtieri, Evofucionismo e cil?ncia no Brasil. Muse us. pesquisadores e instituic;Oes. 1870-191. Universidade de Sao Paulo, Sii.o Paulo, 2001. (Tese de doutoramento em histOria)

"Ver L M. SCHWARCZ, 0 espetliculo das ra.;:as: cientislas, instituir;Oes e questiio racial no Brasil (1870-1930).

Sao Paulo: Cia das Letras, 1993, p.l25-132 e Maria Stella M. BRESCIANL 0 Liberalismo: ideologia e controle social (um estudo sobre Sao Paulo de 1850 a 1910), USP- FFLCH, Sii.o Paulo, 1976.

12 Ver Sergio ADORNO, Os aprendizes do poder: o bacharelismo liberal napolitica brasileira. Sao Paulo: Brasiliense, 1988 e Emilia V da COSTA_ Da monarquia G rep{tb!ica: momentos decisivos. 2" ed., Sao Paulo: Ed.UNESP, !999. 11 Sergio ADORNO, op.cit.p.23.

1' Passaram pela Faculdade de Direito os names mais proeminentes na politica como: Prudente de Morais. Campos Salles. Washington Luis, Rodrigues Alves, entre tantos outros. Nas observa~Oes de Richard Morse: '"A vida nas repUblicas de estudantes provocou um rompimento abrupto do austero c6digo do sobrado e da familia. Os estudantes introduziram novas modas no vestmirio, as ca~adas, a na!a~ao, o flerte, as bebidas. as orgias eo habito de se reunirem para discussao e divertimento. Levaram a vida para as ruas, ao ar livre. criaram a necessidade de tavernas, livrarias, e inauguraram o sentimento decomunidade". Cf. Richard M. MORSE. Formayiio histOrica de Sao Paulo: decomunidade a mr::trOpole. Sao Paulo: Difel. 1970.

"Silvio Luiz LOFEGO. MemOria de uma metr6pofe_ Siio Paulo na ohra de Ernani Silva Bruno,

(18)

De acordo com a tradiyao historiogr8.fica fundada em Emani da Silva Bruno a hist6ria politico-cultural paulistana do seculo XIX poderia ser periodizada em tres mementos distintos: de 1554 a

1828- a epoca do An-aria! dos Sertanistas, de 1828 a 1872- correspondente ao burgo de estudantes e de 1872 a 1918- a fase da metr6poledo caj€.16

Entre as decadas de 1880 e 1920 a capital paulistana se transformaria em uma "metr6pole modema". Fazendeiros enriquecidos como cafe, imigrantes com pequenas empresas comerciais e artesanais, grandes empresas estrangeiras realizariam benfeitorias urbanas distribuidas pelas suas areas centrais atribuindo-lhe ares de "moderna" eo "cosmopolita". 17

Em meio a esse novo estilo de vida, considerado "modemo e cosmopolita", o mundo das "elites letradas paulistanas" poderia ser considerado "nem tao provinciano como alguns o acusavam, nem tiio cosmopolitas quanta outros supunham". 18 Essa "elite letrada" era fonnada por grupos

proeminentes econ6mico e politicamente tanto da capital como do interior, Quase todas as familias no interior do estado descendiam ou tinham vinculo, na maioria das vezes, com a agricultura do cafe, da cana-de-ayllcar ou o comercio de gado, em uma au mais gerayOes e os filhos de antigos latifundi8.rios das novas irreas colonizadas dirigiam-se a capital para o estudo. Os neg6cios transitavam entre a capital eo interior, ora fazendeiros abr:iam pequenas empresas nas cidades, ora profissionais liberais compravam fazendas, e assim por diante. 19

As "construy5es discursivas" dos homens letrados do periodo, tanto na forma de texto como nas imagens, enfatizava "as oposiy5es" nas pr6pr:ias expressOes da epoca: "entre dois mundos: urbana e rural, moderno e atrasado, civilizado e caipira". Para Antonio Celso Ferreira, a cren9a da "intelectualidade regional" nessa dicotomia entre o urbana e o rural, demonstrava tambem que havia uma "cultura liteniria" rep leta de "ambigiiidades e tensOes". Assim, ao mesmo tempo em que os "homens de letra" mantinham uma rela9iio de "afeto" e de "preconceito" com suas "raizes culturais", viamrefletidos num "espelho liter8.r:io" imagens e imagimirios opostos: o urbana (modemo e civilizado) eo rural (atrasado e caipira). Nesta dire91ioA.ntonio Celso Ferreira enfatiza:

"' Emani da Silva BRL.i'NO, Hist6ria e lradh;Oes da cidade de Silo Paulo. 5" ed., Siio Paulo: Hucitec. 1991, v.l e v.2.

17 Nicolau SEVCENKO. op.cit. e Silvio L.LOFEGO, op. cit.

'~ Lilia M SCHWARCZ. op. cit., p.l25-132.

'"AntOnio Celso FERREIRA. A epopliia bandeirante: /etrados, instf/uicOes. invel/(;iio histOrica (1870-1940). Si.io Paulo: Editora Unesp, 2002.p.52

(19)

As letras paulistas eram um pouco de tudo isso [urbano e rural] e talvez, par essa razao, tenha sido tela importante para intelectualidade regional. desde cedo, temas como 0 que

e

ser paulista e como a recente modernidade da regiOo poderia conviver com as tipos humanos e os valm·es representados pelos sertOes, ainda em processo de conquista. As figuras que pareciam associadas a estes Llltimos, sendo objeto de comparar;ao aos prot6tipos vislumbrados de homens urbanos e modernos. eram o mameluco da i!poca colonial e o caboclo ou caipira da quadra em pauta. "0

Os grupos de letrados que se preocupavam como "progresso social" inspiravam-se nas filosofias correntes na 6poca, como a aplicayao e introdw;:fio do positivismo na politica, o liberalismo na economia, o darwinismo na compreensiio do social e confiavam no implemento da ciencia e da educagiio como a solugiio para as mazelas do "atraso". Assim, investimentos do govemo republicano de Sao Paulo em obras de saneamento ou qualquer outra area que envolvesse a ciencia e a tecnologia eram elogiadas "euforicamente" por toda a imprensa paulista. 21

A confianca na ciencia como o "motor" que fari Sao Paulo "avancar" e "progredir" em funbitos social, intelectual vir<i a se consolidar tam bern na atuayao politica. De acordo com Sevcenko: "as decisOes com maiores conseqU.encias sabre a vida das pessoas passavam ao controle de uma nova burocracia cientifico-tecnol6gica". 22

0 terrno "burocracia cientifico-tecnol6gica

"e

propiciopara definir parte de uma elite politica-econ6mica paulista- propriet3rios de terras, industriais, comerciantes, engenheiros, medicos e outros - que participavam do govemo desse estado. Para essa elite, que compartilhava da cultura e dos ide<lrios politicos vi gentes na capital federal e do restante do pais, Silo Paulo~ o estado que estava em franco crescirnento- deveria atingir definitivamente o "progresso" e a "civilidade". E isso s6 seria passive! pela via da ciencia. t>

A aberturade espa9os institucionais viria consolidar e expandir essas "idi:ias modemizadoras e conhecimentos cientificos" defendidos pela elite econ6ntico-politica paulista como, porexemplo, a criagao da Comissao Geogr&fica e GeolOgica. Segundo Antonio Celso Ferreira a importancia cia criagiio da CGG em

Ju A C. FERREIRA. op. cit.. p.52-53.

'1 Nico!au SEVCENKO. op.cit. p.35. ~~ Nicolau SEVCENKO, op. cit p.l7.

(20)

1886 se dava per ela proporcionar

a

"elite letrada paulista o cantata com engenheiros, geOlogos e geOgrafos

-do porte de Onrille Derby e Teodoro Sampaio que se tornariam expoentes dessas areas em Sao Paulo.""4 Em decorrencia cia at;ao dessa "elite letrada" ser3o inauguradas institui~Oes nas quais produziriam as atividades cientificas almejadas como: o lnstitutoAgron6mico de Campinas (1887), o Institute Bacterio16gico de Sao Paulo (1892), o Museu Paulistae o Institute Hist6rico e Geogr:ifico de SS.o Paulo ambos em 1893, a reorganizac;ao da Escola Normal em 1894 e a instalac;ao da Escola Polit6cnica em 1895. Assim, de acordo com Antonio Celso Ferreira "os homens Ietrados" que encabec;aram a criac;ao dessas instituic;Oes:

( .. .) compartilhavam da cren~·a na jimr;Go ilwninosa que as ctencias naturais e hwnanas -poderiam exercer no desenvolvimento de Siio Paulo, mas tinham em mira alga que excedia tais expectativas. Servindo-se dos instrwnentos ditados par elas, pretendiam fincar as raizes de um povo, as tradi~·Oes de uma regiiio e um porto seguro na avalanche modernizadora. Para tanto, era essencial buscar o amparo. especialmente. da geografia, da etnografia e da hist6ria ( .. ) Nem par isso, esses homens letrados, poetas de velha data, prescindiriam das substancias e modelos imaginativos litercirios, que hci muito eram suas iincoras mais firmesY

Essas atitudes em favor do desenvolvimento cientifico paulista traduzem a tend@ncia na epoca de compreender a "ciencia" (natural, matem<itica, geogr<ifica e hist6rica) como instrumento e solu<;i.io dos problemas de "moderniza~iio" das politicas pU.blicas, principalmente, o ingresso de Si.io Paulo nos circuitos cientifico-intelectual nacional e intemacional, com forte caniter cosmopolita. A institucionalizac;iio da ciencia em Siio Paulo e a inaugurac;ao de espac;os para suas atividades modifi.cariio em definitivo o cenflrio politico cultural da capital e do interior do estado no fi.mde seculo XIX.26

2

' Orville Derby e Teodoro Sampaio foram s6cios fundadores do Institute Hist6rico Geognifico de Sao Paulo. Segundo Antonio Celso Ferreira o IHGSP tinha ''c\aras ligay6es como poder pUblico regional e ernpresarial de Siio Paulo e circulavam em suas reuni6es no iniclo do sE:culo personalidades de 'prestigio' nos iimbitos privado e pUblico. "t\a rela<;il.o de s6cios do Institu!O constavam names de empres:irios nacionais. estrangeiros. grandes fazendeiros, industriais,

servi~os de infra-estrutura urbana, comE:rcio, financiamento de capitais." verA. C. FERREIRA, op. cit., p. 96 e Lilia M. SCHWARCZ. op. cit., p.\25-133.

20 A. C. FERREIRA., op. cit., p.97.

~,. L M SCHWARCZ. 0 espe/Gcu!o das rat:;as: cientfstas. instillli(iies e questiio racial no Brasil (1870-1930). Siio Paulo: Cia das Lerras, 1993.p.125-132.

(21)

A COMISSAO GEOGRAFICA E GEOLOGICA DE SAO PAULO:

UMA HIS TO RIA

A Comissao Geogn3.fica e GeolOgica de Sao Paulo foi criada pelo governo imperial brasileiro em 1886, como objetivo de elaborarmapas e ievantar infonnay5es precisas e detalhadas sabre a geografia e a geologia do estado. Com essa instituiy8.o, o govemo, somado aos grupos de fazendeiros, comerciantes exportadores de cafe e industriais, buscava atingir seus pr6prios interesses econ6rnicos na explora<;:iio das riquezas naturais e ocupayiio de "territ6rios desconhecidos" em Sao PauloY

Para o presidente da provincia de Silo Paulo, JoJ.o Alfredo Correa de Oliveira, 28 o objetivo

principal da criayiio da CGG era estudar e obter informayOes precisas, detalhadas sabre geografia, geologia e principalmente a elaborayiio da Carta Cera! do Estado, a fim de evidenciar os recursos

naturais das terras para aagricultura do cafe, subsolo, energiahidroeletrica para a indUstria, a ampliayao de estradas de ferro, a navegabilidade de rios para o escoamento de produyao e desenvolvimento do comercio em Sao Paulo.

Com a realizayiio desses levantarnentos tecnico-cientificos, visava-se promover a colonizayao da provincia de sao Paulo atraves da imigrayiio de europeus, como fim Ultimo de possibilitar o crescimento da cafeicultura.29 Em 15 de fevereiro de 1886, JoiioAlfredo Corr€ajustificou seu projeto de lei para a

criayao da Comissao Geogrifica e GeolOgica com mn discurso naAssembleia Legislativa:

27 Silvia F de Mendon<;:a FIGUEIR6A. As ciiincias geo!Ogicas no Brasil: uma histOria social e institucional,

1875-1934. Sao Paulo: Hucitec, 1997, p.165.

1~ Joiio Alfredo Correa de Oliveira (1835-1919). Nasceu em Pernambuco. fonnou se bacharel em direito e ocupou viirios cargos no Segundo Imperio. Foi deputado provincial e geral, presidente da provincia do Para, ministro do Imperio e na pasta da Agricultura e do Gabinete de Marques de Silo Vicente e do Barfio de Rio Branco. Presidiu a provincia de sao Paulo entre OS anos de 1885-1886. Deu apoio

a

prornulga<;:ii.o das Leis do Ventre Livre e Aurea.

lncentivou a imigra<;:iio estrangeira. Estimu!ou o ensino e a pesquisa de ciencias naturais em favor da crla<;:fio da Escola de Minas de Ouro Preto, da Escola Politi!cnica do Rio de Janeiro e da Comissao GeolOgica do Imperio. Cf. Eugenio EGAS. Ga!eria dos presidentes de Sao Paulo. sao Paulo: Sec<;fio de Obras d' Estado de Sfio Paulo, v.3, 1926, p.615-651.

29 Lei n° 9. de 27/03/1886, Coleqiio de decretos e leis da Provincia deS Paulo, Siio Paulo: Typographia. do Diilrio Official, 1887. p. 296.

(22)

Enrre os embarar;os com que !uta a administrar;ao da provincia para formar um plano geral que atenda as necessidades do seu desenvolvimento, e para estudar com seguranr;:a as questOes que se prendem a Cste nbjeto. obstando tambCm a justa ponderar;ao dos cometimentos da iniciativa particular para dilator o campo das explorar;Oes industrials e agricolas. avulta a ausencia de informar;Oes exaras e minuciosas sObre a geografia, re!Cvo do solo, vias de comunicar;iio, estrutura geolOgica, rique::a mineral e carciter das diversas qualidades das terras.

E

a meu vJr uma das mais urgentes necessidades da provincia o estudo do seu territ6rio-; e

e

fora de dz/vida que os dispJndios que esta notcivel empresa houver de determinar seriio compensados niio s6 pel a expansao que a riqueza pUblica tratarci o aproveitamento de recursos naturais cujo valor }icard conhecido, com tambCm pelos preciosos elementos que eta ministrani a so!U(;Oo do problema da colonizar;ao.3u [grifos nossos]

Os argumentos principais centram~se nas noy6es de "embarayo da administrayao" do poderpUblico ( composto de representantes da elite de fazendeiros e comerciantes de cafe) que deixam de explorar os "recursos naturais" e gerar a "expansao da 1iqueza pUblica" pel a ausencia de estudos cientificos. Atraves da ciencia se solucionaria "definitivamente" o "problema da colonizayao" e/ou ocupayao do territ6rio paulista. A fala dopresidente da provincia revela que a "adm.i.n.istrayao dependiado aumento do conhecimento sobre o territ6r:io para melhor govemar" .31

A insistencia de Joiio Alfredo Correa de Oliveira na criayao da Comissao Geogcifica e GeolOgica, segundo Silvia Figueir6a, justificava-se pelo atendimento direto das necessidades econ6micas dos cafeicultores em realizar com a maior brevidade o aproveitamento das riquezas naturais e a ocupayiio da regiao oeste de Sao Paulo para fins do plantio de cafe. Na esfera do discurso politico, a criayiio de uma instituiyiio que se justificava pelo "o bern da provincia de Sao Paulo como urn todo".31

A explorayiio geogdfica e geolOgica ajudaria a resolver, segundo Silvia Figueir6a, os problemas com a colonizayfi.o, questfi.o da mais alta impo:rtiincia para os cafeicultores paulistas, que estavarn

3

°

C6pia do Relat6rio aAssembleia Legislativa Provincial deS Paulo pelo Presidente Joao Alfredo Correa de Oliveim, 15/02/1886. Valdemar LEFEVRE. Breve noticia sobre a Comissao Geogr3fica e GeolOgica ao transcurso de seu 80° anivers<i.rio. ln 0 IGG: revista do Instituro Geogrcijico e Geol6gico. Sao Paulo, no 1. ano 22, v. 18,jan!mar, 1966, p.30. 31 Gilmar ARRUDA

SertOes e Cidades: enrre a hist6ria e a memOria. Bauru I SP: EDUSC, 2000, p.l20.

·'!Silvia M. F. FIGUEIR6A. Modernos bandeirantes: a Comissiio Geogrcijia e GeolOgica de Siio Paulo e a explorw:;iio cienti[ica do terril6rio paulista (I 886-1931). Sao Paulo: FFLCH!USP, \997 (dissertac;ao de mestrado), p. 38.

(23)

diante do fim da escravid.3.o e da necessidade de expandir a produyao de cafe.33 Por outro lade, essa mesma fala do presidente da provincia, na interpreta~iio de Gilmar Anuda, traduzia o pensamento a respeito do conhecimento cientifico como instrumento de melhoria no modo de govemaro territ6rio paulista.34

Assim, a fonnayiio da CGG estava relacionada

a

valoriza~iio da ci€:ncia, que no periodo foi a tOnica nos discursos da "burguesia" nas sociedades capitalistas Ocidental em fins do seculo XIX e XX. Eric Hobsbawn considerou;

A sociedade burguesa desse perfodo [ seculo XIX] estava con(iante e orguihosa de seus sucessos. Em nenfwm outro campo da vida humana isso era rnais evidente que no avan~·o

do conhecimento, da cir§ncia. Homens cultos deste periodo niio estavam apenas orgulhosos de suas cir'incias, mas preparados para subordinar todas as outras formas de atividade intelectual a e!as. 35

Neste senti do, o presidente da provincia paulistaJoiio Alfredo Correa de Oliveira, en tao, convidou o norte-americana Orville Adalbert Derby36 para a organizayiio e elabora~ao do projeto da CGG 0 plano de exploray.3.o cientifica e mapeamento de S1io Paulo propos to per Derby era inspirado no mesmo modele de organizayao e estudos da Comissao GeolOgica Imperial do BrasiiY

A Comissao Imperial dirigida pelo ge6logo e ge6grafo Charles Frederick Hartt foi a primeira comissiio brasileira a realizar estudos dos recursos naturais financiada pelo govemo brasileiro e com o apoio direto do imperador Dom Pedro II. Essa Comissao, apesar da sua curta duray&o (

1875-3

' Gllmar ARRUDA. op.cit.p.l25

15 Eric HOBSBA\VN. A era do capital. Sao Paulo: Paz e Terra, 1982, p.261. 3

" Orville Adalbert Derby (185!-1915) nasceu em Kelloggsville no estado de New York- EUA, onde se graduou em Geologia. Veio ao Brasil com 18 anos, ainda estudante, para acompanhar o seu mestre e amigo Charles Frederick Hartt na Expedir,:io Morgan ( 1871 ). Voltou ao seu paise terminou os estudos. En tao, Derby foi convidado para prestar servir,:os :i. Comissiio GeolOgica do Imperio do Brasil (1875-77) e depois ao Museu Nacional. Passou de 1887 a 1904

a

frente da CGG e depois entre 1905 e 1906; reorganizou o Servir,:o de Terras e Minas do Estado da Bahia. Logo apOs, montou o Servir,:o GeolOgico e MineralOgico do Brasil -SGMB. onde permaneceu entre 1907 e 1915 ate sua morte por suicidio no Rio de Janeiro. Segundo alguns bi6grafos, cometeu tal ato pelo desgosto com a dissolur,:iio do SGMB. Escreveu vli.rios artigos para a revista do Institute Hist6rico e Geogrci.fico Brasileiro e o IHGSP do qual foi membra ativo. Teve inllmeras publicar,:Oes cientificas no Brasil e no Exterior. Pierluigi TOSATTO. Orville A Derb.v. o pai da Geologia do Brasil. Rio de Janeiro: DNPM I CPRM I Museu de Ciencias da Terra. 2001.

(24)

1877), conseguiu reunir uma diversificada colec;:iio de espi:.cime.~·38 de botanica, zoologia, geologia e

etnognifica. Atualmente, essa Comissao Imperial e muito lembrada pela fonnac;:iio de parte do acervo do Museu Nacional e, principalmente, pelaobra fotognifica realizada por Marc Ferrez, wn dos mais significativos fot6grafos de "vistas'' e panoramas do seculo XIX no Brasil. 3~

Segundo a historiografia da ch~ncia no Brasil, as comissi5es cientfjicas podem ser compreendias em do is momentos significativos: o primeiro compreendendo as explorac;:Oes cientificas dos viajantes estrangeiros de 1810 a 1870 financiadas par governos de outros paises, mas com ganhos cientificos-culturms para o govemo brasileiro; e urn segundo periodo de 1870-1940, quando houve a criac;ao das chamadas comissi5es governamentais constituidas tanto par cientistas estrangeiros como nacionais, caracterizadas par uma fonna sistematica de pesquisa com resultados de voltados diretamente para o

poderpllblico.~0

As principals comiss6es cientificas no Brasil, financiadas pelo govemo brasileiro ocorreram entre fins do s6culo XIX e inicio do XX: a Comissao GeolOgica do Imperio, a Comissao de Linhas Telegnificas de Matogrosso ao Amazonas- mais conhecida como Comissao Rondon; a viagem de pesquisa do Instituto de Manguinhos

a

AmazOnia, o Serviyo GeolOgico e MineralOgico do Brasil, a Inspetoria de Obras contra as Secas e a Comissao da Carta Geral do Brasil a serviyo do Exercito do Estado Maior (esta Ultima como objetivo de fazer o levantamento topognifico geral de todo territ6rio

;s Os espicimes das quais referimo-nos sii.o cole<;:Oes de elementos da natureza recolhidos em campo como: exsicatas (plantas secas), animais (empalhados), minerios, f6sseis e artefatos indigenas (cestos, armas, ceriimica e qualquer outros vestigios). Marcus Vinicius de FREITAS. Hartt: Expedir;Oes pelo Brasil Imperial 1865-1878, Sao Paulo: Metalivros, 2001, p.224-225

39 M. V de FREITAS, op. cit., p.224-225.

·~ Segundo Nelson Sanjad a decada de 1870

e

considerada urn marco, sob uma vertente historiognifica da ciencia constituida principalmente por estudiosos como Marcus Vinicius de Freitas, Silva Figueir6a e Margaret Lopes, que consideram a partir dessa epoca instaurayii.o se urn novo tipo de viagem cientifica pautada no Darwinismo e com os naturalistas viajantes mostrando se mais articulados a sociedade e ao poder pUblico brasi!eiro. Ainda segundo a leitura de Sanjad, as autoras Margaret Lopes e Silvia Figueir6a preocuparam-se em especificar o surgimento eo funcionamemo das instituiy6es cientfficas e com isso a "constitui<;:iio de campos cientificos, de acordo com urn marco interpretati\'o que valoriza as instituiy6es como pontes centrais da expans1io da cultura cientifica no Ocidente." Assim Nelson Sanjad afirma: "esse procedimento implicaria necessariamente urn olhar sabre as dinftmicas locais, sabre a recepyao e interaylio desses visitantes com a sociedade local. enfim, sobre aspectos ate agora muito pouco considerados pe!a historiografia dos viajantes. Como, por exemplo, as redes sociais e relay6es cientificas, quase sempre omitidas dos estudos cujos vetores principals sejam a re!ay1io metr0pole-col6nia, a narrativa de viagem ou as contribuiyi5es para esta ou aquela disciplina cientifica." Nelson SANJAD. Charles Frederick Hartt e a institucionalizay1io das ciencias naturais no Brasil. Hist6ria ci.?ncia e saUde-Mangu.inhos. [online]. maio/ago. 2004, vol. II, n. 2 [consultado em I 0 Junho 2005]. p.449-455 Disponivel em http://www.scielo.br/scielo.

(25)

brasileiro ).41

E

neste campo de interesse, entre o saber cientifico e administrayao pUblica, em que se

insere o projeto e a criayao da Comissao Geognifica e GeolOgica de Sao Paulo.

Logo, aprovada a formayao da Comiss3.o Geogn'!.fica e GeolOgica com unanimidade pelaAssemb!eia Legislativa a 27 de maryo de 1886, Orville Derby tomou-se o seu diretor, cargo que exerceu de 1886 a 1904. Inicialmente, Derby reuniu uma pequena equipe de trabalho composta pelo engenheiro civil encarregado dos estudos geognificos Teodoro Sampaio,~2 os engenheiros de minas Luis Felipe Gonzaga

Campos, Francisco de Paula Oliveira, a cargo dos estudos de geologia, o naturalista sueco Alberto LOefgren, respons<'tvel pelos estudos de botinica e climatologia. E, dais anos depois, vindo a completar o quadro de funciomirios da CGG o desenhistaAnt6nioAve Lallemant, com quem Derby havia trabalhado no Museu Nacional.43

Em abril de 1886, Derby e sua equipe iniciaram as explora<;6es geogcificas e geol6gicas na regia a do rio Paranapanema. Em seguida, a CGG empreendeu levantamentos em regi6es onde havia maier urbanizayiio, cobertura da malha ferro vi aria e de alta produtividade agricola saindo das areas mais povoadas ate as menos ocupadas.

A Comissao contava em 1886, com duas ireas de estudos: a Secc;:iio de Geograjia conduzida

par Teodoro Sampaio e a de Geologia por Francisco de Paulo Oliveira. E a partir de 1890 a Seq:iio de Botdnica e Meteorologia passa a ser oficializada e chefiada pelo naturalista Alberto

LOefgren, que exercia tais funy6es informalmente.4~ 0 naturalista foi o responscivel nao somente pelas atividades de bot&nica e estudos meteorol6gicos na comissao, mas tomou a frente da tutela da Colec;:iio Major Sert6rio. LOefgren, em correspondencias ao govemo paulista relata sabre a

importancia da Colec;:iio Major Sert6rio para "o desenvolvimento da ciencia e pesquisa", que ate entilo

• 1 Sabre esse assunto ver o verbete ExploraqOes Scientificas por Rodolpho GARCIA in: Dicciontirio geographico e

etnographico do Brasil. Rio de Janeiro: lmprensa Nacional/ IHGB, 1922, v.1, p. 910.

'" Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937) nasceu na Bahia, filho da escrava Domingas da Paixo e do Padre Manuel Fernandes Sampaio. Em 1877 diplomou-se na primeira turma de engenheiros civis da Escola Polit6cnica do Rio de Janeiro. Em 1875. ingressou no Museu Nacional, como encarregado de servivos graficos. Em 1879 e nomeado engenheiro na Comissiio Hidniulica na Bahia. Em 1881 foi engenheiro naconstrur;loda ferrovia Bahia ao Siio Francisco. De 1886 a 1892 fez parte dos levantamentos cartognificos e geogr:lficos da CGG como tamb6m exerceu outras atividades como engenheiro no saneamento da capital, da Cia Can tare ira. consultor tecnico, chefe do servir;o de <iguas e esgotos da Capital. Em 1903 retorna a Bahia, onde faz parte da administrayao pUblica. servir;os de <iguas e esgoto da capital. Foi presidente do Institute HistOrico da Bahia, publicou diversos livros e artigos, foi vereador de Salvador ativo como intelectual e homem pUblico ate seus 82 anos. F. G. EDELWEISS. Biobib!iografia de Teodoro Sampaio In: Teodoro SAMPAIO, 0 Tupi na Geogra_(ia Naciona!, 5 "ed., Sao Paulo: N"aciona!; Brasilia: INL 1987, p.350-353. •> V LEFEVRE. op. cit., p.30-31 e S. F. de M. FTGUEIR6A. Urn seculo de Pesquisa em Geociincias, Sao Paulo: Secretaria de Agricu!tura e Abastecimento I Institute GeolOgico, 1985, p.16.

(26)

permanecia fechada e sem conservayao nos por6es da casa do Conselheiro Mayrink.45 A coley3o conhecida

como Museu do Sert6rio era fonnada porum conjunto de peyas para estudo de Hist6ria Natural, objetos indigenas, moedas,jomais, manuscritos, gravuras, quadros, litografias, annas indumentitria, cadeirinha, cama da marquesa de Santos e espada do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.46

Em 1891, o en tao presidente da provincia de Sao Paulo, America Brasiliense nomeou L6efgren diretor interino responsavel pela Coler;:iio, aJem de contratarpara organizil-la naturalistas-ajudantes.47

A partir de 1892, seria criado o Museu do Estado, nova denominayao para a Coler;:iio Sert6rio, que passara a ficar sob a responsabilidade, verbas e mesmo pn~dio da Comissao Geogrifica e Geol6gica.48

Ainda em 1892, Orville Derby contra tau o zoologista alemiio Hermann von lhering49 para dirigir a

recem criada Secc;G.o de Zoologia na CGG, que depois viria a alimentar o acervo do Museu do

Estado. Num relat6rio de Derby, aparecia o interesse desse diretor em desligar o Museu da Comissao,

com a intenc;ao de que este tivesse autonomia cientifica e de verbas para a execuc;i'i.o da classificac;iio e conservayiio de seus acervos.50

J:3. em 1893, o Museu foi desvinculado da CGG e passou a seruma instituic;llo diretamente ligada ao gabinete da Secretaria do Interior e denominado Museu Paulista sendo seu diretor Hermann von Ihering.51

4

' Estas correspondencias s:io transcritas parcialmente no relat6rio do naturalista ajudante de LOefgren ver HUMMEL, Alexandre, Primeiro Relat6rio sabre as actuaes condir;Oes do Museu do Estado, apresentado ao Dire/or do Mesmo.

Sao Paulo, outubrO de I 891. manuscrito (APMP,Cole~ii.o Alexandre Hummel)

46 Em fins de 1890 o Conselheiro Mayrink doou ao governo da provincia uma cole!fii.O que pertenceu a urn colecionador, o Major Sert6rio. Alexandre HUMMELop.cit

"VivianeTESSITORE e Vilnia C de CARVALHO (coord.). Evolur;Qo Jnstitucional do Museu Pau!ista (1891 a 1963).

Sao Paulo: Museu Paulista I FAPESP, I 992. (digitado), p.35-36

4~ Atraves do decreta n° 21. de 11 de fevereiro de 1892 definiram-se cargos e gratifica~Oes para o

Museu do Estado

Hermann Von !HERING. Hist6ria do Monumento do lpiranga e do Museu Paulista. In: Revista do Museu Paulista.

Sao Paulo: Hennies & Innii.os, 1895, v. 1. p.9-31.

49.Herman von Ihering (1850-1930) nasceu em Giessen na Alemanha onde formou-se em Medicina e Ciencias Naturais. Em 1876 doutorou-se como especialista em molusculos. Em 1880 veio ao Brasil para estudos ligados

a

antropologia fisica, fixando residencia no Rio Grande do Sui. Neste periodo trabalhou como naturalista correspondente do Museu Nacional pesquisando a flora, a faunae os povos indigenas da regiao. A convite de Derby, em 1892 muda-se para Sao Paulo para exercero cargo de zo6logo na Comissao Geogcifica e GeolOgica. Em 1893 com a funda~ao do Museu Paulista passa a ser o diretor efetivo da instituiy8.o perrnanecendo ate 1916. Ap6s essa data, retoma a Alemanha onde tomou-se professor hononirio da Universidade de Giessen. Publicou vilrios estudos na Revista do Museu. dos Institutes Hist6ricos de Sao Paulo, Rio de Janeiro e em diversos peri6dicos intemacionais. Herbert BALDUS, Revista do Museu Paulista.I93J, t.27, p.553-556.

)U 0. A DERBY. RelatOrio apresentado ao s1: Dr Alfredo Maia, Secreta rio de Estado dos Neg6cios da Agricu!tura.

Commercia e Obras Publicas, Siio Paulo. CGG, 1892.

)LA lei n~ 200 de 29 de agosto de 1893 regulamentou cargos, vencimentos e fun~Oes como ode diretor, naturalista viajante preparador. amanuense e servente. In !HERING, Hennann Von. RelatOrio apresentado ao digno Secretcirio do Interior Dr. Cesilrio Molla Jr. Siio Paulo: typographia do Di<i.rio Official, 1894.

(27)

Assim na CGG; a gesti'io de Derby, possibilitou a criayJ.o de outra instituic;ao cientifica de grande porte como o Museu Paulista, a! em de dar continuidade aos estudos da Comissao nas seguintes ireas: Geografia, Geologia e Hist6ria Natural ( abarcando Botfulica, Climatologia, Zoologia, Arqueologia e Etnografia). Com exploray5es de campo, a CGG realizou entre ( 1886~ 1904) no periodo deste diretor, e ate posteriormente, a col etas de amostras de solo, fauna, flora, f6sseis, artefatos indigenas, bern como a prodw;:fio de fotografias sobre os trabalhos, rna pas topogr3ficos e levantamento de dados meteorol6gicos.52

Havia nas pesquisas de Derby uma concepc;iio de ciencia ditada pel a Hist6ria Natural em voga na epoca. A Hist6ria Natural abrangia vilrias areas do conhecimento que atualmente sao consideradas aut6nomas ou como especialidades: a Geologia, a Botiinica, a Climatologia, a Paleontologia, aArqueologia, a Etnografia e a Zoolo gia e a prOpria Geografia com enfase na Cartografia, no estudo das populac;Oes e da economia local. 53

0 conceito de Hist6ria Natural fimda-se no conhecimento cientifico pautado no "Enciclopeclismo". No

verbeteHistoire naturelle daEncyclopf:die ou Dictionnaire Raisonne de Diderot e D 'Alembert,54 esta ciencia era composta das disciplinas concementes 8.Astronornia, a Botanica, aAgricultura, aZoologia, a Medic ina e a Geologia.Assim,a Hist6ria Natural abarcava como objetode esttxio o universe e a natureza como urn todo: os astros, oar, os animais, os vegetais e os minerais do globo terrestre na superficie e em sua profundidade. E tambem, os hom ens na Hist6ria Natural eram seres passiveis de estudo com a classificayiio e comparayao no que tangiaao seu comportamento, sua linguae costumes incluidos nesteliltimo os est'igios da civilizw;ao.lmp:>rtante destacar que, ainda nesta concep~o de HistOriaN atural, o colecionismo ou a formayao de cabinets de curiosite

servia a esses estudos e consrituia-se num metodo comparative dos objetos coletados em campo e em via gens a paises ditos "distantes".55

s1 Estas atividades na gest1io de Derby resultaram em publicayOes citadas no item deste mesmo capitulo -A

produy1io da CGG

;:; Para Silvia Figueir6a, a visao de ciencia e a atitude de Derby na direyao da CGG seguiam uma linha cientifica denominada pela autora de "naturalista", inversa a linha de Joao Pedro Cardoso, seu substitute na chefia da Comissao, a quem a aut ora chama de "pragmatico'·. S. F. de FIGUEIR6A. As ciincias geofOgicas no Brasil: uma histOria social e insti!ucional (1875-1934), Sao Paulo: Hucitec, 1997, p.l67

54 Diderot e D' Alembert. Histoire nature!le. In: Encydopridie ou Dictiomwire rais01mi: des sciences des arts et des

m<iriers. nouvelle impression em fac-simile de Ia premiere edition de 1751-1780. Stuttgart: Bad Cannstatt I Friedrich Frommann Verlag, 1967. v. 8, p.225-230.

" A guisa de exemplo. na "economia vegetal" como era chamada agricultura no periodo incluiam-se os estudos e pniticas da educa91io de animais, cultivo de flares e ervas: na zoologia era seu atributo o estudo de animais e do homem pela medicina e na geologia os estudos dos minerios, suas propriedades, cataloga~ao e descriyiio quimica. Histoire naturelle. In: Diderot e D'Alembert, Enc_vclopidie ou Dictionnaire raisonnl! des sciences des arts e£ des metiers _ nouvelle impression ern fac-simile de Ia premiere ectnion de 1751-1780. Stuttgart: Bad Cannstatt I Friedrich Frommann Verlag, 1967. v. 8. p.225-230.

Referências

Documentos relacionados

Obedecendo ao cronograma de aulas semanais do calendário letivo escolar da instituição de ensino, para ambas as turmas selecionadas, houve igualmente quatro horas/aula

A Parte III, “Implementando estratégias de marketing”, enfoca a execução da estratégia de marketing, especifi camente na gestão e na execução de progra- mas de marketing por

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

Neste panorama, o principal objetivo desse estudo é entender a importância da competitividade de destinos turísticos pontuando quais políticas tem sido adotadas

Após extração do óleo da polpa, foram avaliados alguns dos principais parâmetros de qualidade utilizados para o azeite de oliva: índice de acidez e de peróxidos, além

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

Sobretudo recentemente, nessas publicações, as sugestões de ativi- dade e a indicação de meios para a condução da aprendizagem dão ênfase às práticas de sala de aula. Os

São eles, Alexandrino Garcia (futuro empreendedor do Grupo Algar – nome dado em sua homenagem) com sete anos, Palmira com cinco anos, Georgina com três e José Maria com três meses.