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BRASÍLIA, PATRIMÔNIO VILIPENDIADO E CORROMPIDO

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Academic year: 2021

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BRASÍLIA, PATRIMÔNIO URBANÍSTICO VILIPENDIADO, CORROMPIDO Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

A origem dos esforços para proteger o Plano Piloto do frontal assédio de especuladores e oportunistas, que desejam introduzir, a qualquer custo, os seus negócios na cidade – desejados ou não, oportunos ou não -, alterando seu ordenamento urbano, pode ser claramente localizada no governo de José Aparecido de Oliveira (1985-1988).

Essa origem deveria ser mais estudada e discutida, para que possamos entender como esse título de “Patrimônio da Humanidade”, conferido a esse grande objeto projetado por Lucio Costa, repleto de obras do genial Niemeyer e outros grandes brasileiros, foi literalmente “construído”. Essa “construção do título” desde Aparecido tem aspectos inegavelmente polêmicos: o título de “Patrimônio Cultural da Humanidade” NÃO foi construído com clareza concei-tual nem operacional; NÃO foi associado a NENHUM instrumento concreto de planejamento urbano – ou, ainda mais concretamente, a NENHUM instrumen-to concreinstrumen-to de gestão urbana. Quase beira a “porra-loucura”, como diriam os antigos.

Esse título é uma bem-intencionada bagunça, desde seus primeiros mo-mentos! Uma armadilha para si mesmo, pois nunca se soube como seria ad-ministrado. E acabou numa longa série de deformações, que envergonham o urbanismo brasileiro – a maioria foi perpetrada com a ajuda de urbanistas do próprio governo, até mesmo com sua iniciativa. Fogo Amigo?

Até hoje, o “Patrimônio Cultural da Humanidade” parece ser APENAS um título, um estado de espírito, um devaneio instável e voluntarioso, como outros do período Aparecido de Oliveira, pois não há, verdadeiramente, consisten-temente, oficialmente, um instrumento de GESTÃO dessa condição – tão rara, tão civilizada, tão elevada, que tanto dignifica o Brasil e sua Capital.

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Até agora, o status de “Patrimônio Cultural da Humanidade” (internaci-onal) foi apenas um pouco mais especificado pelo “Tombamento do Conjunto Urbanístico de Brasília” (brasileiro). Daí para que se tenha ALGO como um instrumento de gestão urbana verdadeira, de GESTÃO PATRIMONIAL, vai uma grande distância. E bota distância nisso.

Esclareça-se que o grandioso título de “Patrimônio Cultural da Humani-dade” é concedido por uma organização internacional (UNESCO – United Nati-ons Educational, Scientific and Cultural Organization), pertencente à Organiza-ção das Nações Unidas. Nessa condiOrganiza-ção, estamos ao lado de valiosos tesouros da história humana, como a necrópolis de Tebas, o centro histórico de Roma, o santuário histórico de Machu Picchu, entre outras jóias da humanidade. Não é pouca coisa: é uma valorosa distinção mundial.

Já o Tombamento é um registro público, feito sob a responsabilidade do governo brasileiro, na órbita de responsabilidade de seu Ministério da Cultura (e de seu Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O Tombamen-to Tombamen-torna o bem cultural objeTombamen-to de políticas públicas de preservação e estudos, de um modo, digamos, “variável”: o que acontece nesse fraco vínculo de ges-tão DEPENDE crucialmente do real reconhecimento do valor do bem pela po-pulação “beneficiária”, pela popo-pulação interessada em sua própria memória. Depende do modo como a memória é mesmo “memorável”. Deve haver amor, reconhecimento, cultura, engajamento, paixão pela memória. Senão todo mundo esquece, rapidinho.

Assim, o instrumento do Tombamento “não vale muita coisa”, caso o bem a ser estudado, preservado, promovido, não é compreendido e amado pela própria comunidade que o abriga (ou, no caso esplêndido de uma cida-de, da população que nele se abriga).

PIOR: mesmo que a comunidade seja tão ignorante que desconheça o valor cultural do bem “tombado”, mesmo que a população não se sinta, nem de longe, RESPONSÁVEL por sua preservação, a pior coisa que pode acontecer é quando o próprio governo da cidade vilipendia essa herança cultural, e a vende a quem der o melhor preço.

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Esse parece ser o caso de Brasília, uma Cidade-Patrimônio da Humani-dade que tem uma população culta mas aparentemente ignorante dessa con-dição, culta mas aparentemente ignorante do valor desse reconhecimento mundial (com a exceção de uma elite culta e ciosa desse status) - e que tem uma triste série de governos venais, que ao longo de todo o período de Auto-nomia Política de Brasília (1990 até os dias atuais) tem permitido o que se po-de chamar po-de “CORRUPÇÃO URBANA”, po-de “CORRUPÇÃO do legado urbanísti-co” de Brasília.

Os exemplos de venalidade, de CORRUPÇÃO urbana, são numerosos: eu ressalto, acima de todos, os “puxadinhos” que ocorrem em todos os Setores de Comércio Local da Asa Sul, que deveriam ser totalmente coibidos, em toda a sua extensão, por todo esse tempo, em todas as suas aparições e modalida-des, mas que se tornaram objeto de uma das mais confusas, contraditórias e reveladoras (de nossa venalidade e falta de caráter firme) “NEGOCIAÇÕES” do Governo do Distrito Federal, na década de 2000. Legalizaram a ocupação corrupta do solo de Brasília, na maior cara-de-pau.

O gigantesco, epidêmico episódio dos “PUXADINHOS” dos setores de Comércio Local implica na discussão de princípios fundamentais do plano ur-banístico de Brasília, especialmente da concepção de sua SUPERQUADRA e de sua Unidade de Vizinhança (reconhecida no conjunto formado por 4 Super-quadras e pelos equipamentos que as servem, localmente).

Os puxadinhos INVADEM a área verde e pública, inalienável, das Super-quadras. Os puxadinhos DEFORMAM sua configuração de espaços urbanos, de um modo grosseiro, brega, desqualificador. A proliferação dos puxadinhos ocorreu, contudo, dentro da VIGÊNCIA do instrumento de Tombamento do Pla-no Piloto de Brasília, dentro da VIGÊNCIA desse status de Patrimônio Cultural da Humanidade, na cara de governos “democráticos”, mas populistas. São uma das provas mais clamorosas de que o Governo do Distrito Federal “NÃO vale o que lhe pagam”, NÃO vale os ricos recursos transferidos para preser-var, manter, promover a Capital da República.

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Nesse sentido, o GDF é um claro exemplo de Depositário Infiel de uma responsabilidade pública – e de recursos vultosos – que não honra, ao contrá-rio. Deveria receber MENOS dinheiro para ter MAIS responsabilidade.

Para começo de conversa, antes de entrarmos em outros exemplos, essa CORRUPÇÃO perpetrada na “permissão” de que os Setores de Comercio Local invadissem as áreas verdes e públicas das Superquadras, é um dos maiores desqualificadores de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. As Superquadras são a mais brilhante “gema urbanística” dentro dessa imensa jóia do Plano Piloto; as Superquadras são o fundamento da concepção de Ci-dade-Parque, algo essencial para tornar Brasília uma cidade ÚNICA: é a ÚNI-CA cidade do mundo onde se vê um “solo vivo”, onde se vê a onipresença do verde, das árvores, dos gramados, das grandes copas a sombrear o solo ur-bano, exposto e permeável, belíssima exposição. Para começo de conversa, desde o espaço sideral, desde a órbita da Terra, as Superquadras imperam.

Brasília, no entanto, caminha a passos largos para a sua desqualificação como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Isso não aconteceria se nossos governantes fossem letrados, alfabetiza-dos patrimonialmente, preparaalfabetiza-dos para a Missão-Brasília.

Se nossos governantes LESSEM, se nossos governantes ESTUDASSEM, se nossos governantes ENTENDESSEM o que se passa à sua volta – especialmente quando, às custas de nosso Dinheiro Público, visitam a Europa, a América, a extraordinária Ásia: que o mundo globalizado não perdoa a breguice dos cor-ruptos, dos relaxados. A civilização global é tremendamente auto-consciente de seu valor e não vai perdoar a leviandade dos negócios de ocasião. Somos parte importante dessa civilização. Não devemos perdoar o falso brilho dos especuladores sem cultura (que, por sua vez, não duvidam da CORRUPTIBILI-DADE dos governos de Brasília, algo consistente, desgraçadamente), que des-graçam a nossa cidade.

Para aspirar a um status de país civilizado não precisamos, governantes e governados, COPIAR BESTIALMENTE os outros países, mas valorizar o que é

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nosso, de forma ponderada, estudiosa, pois temos cultura. E também temos dinheiro, como nunca “na História Deste País”.

Vejam só: somos “ORÇAMENTARIAMENTE” mais ricos que os Estados Unidos da America do Norte à época em que construíram seus maiores tesou-ros comunitários e culturais, nos vinte anos do pós-guerra (1950 a 1960). So-mos mais ricos (ORÇAMENTARIAMENTE) que “aquela” França que construiu o Louvre, a Torre Eiffel, a Ópera, e tantas instituições da cultura e civilização planetária, que visitamos, emocionados mas verdadeiramente estrangeiros. Somos um país orçamentariamente rico, capaz de “comprar mudanças” a nós mesmos.

Orçamento não é tudo. Sem Cultura, nosso gordo e invejado Orçamento é apenas o “caldo dos corruptos”, à espera do próximo assalto.

Não há prova maior de nossa indigência cultural que essa negligência com o Patrimônio Cultural da Humanidade, um título muito mais raro e digno que o desejado numa Copa do Mundo de Futebol – um evento que está a me-recer BILHÕES DE REAIS, com um esforço estupendo de intervenção estatal. Sou professor, e sei que essa Copa não deixa NADA para o que realmente in-teressa, no meu trabalho de educação. Choro e deploro essa prioridade, pelo menos no tamanho, na força, na distinção que tem. Copa é Burrice, gramada e apitada, para “inglês ver”.

Há muito “dever de casa” a ser feito, Brasília, para que continuemos e desenvolvamos essa nova fronteira de “Patrimônio da Humanidade”. Como veremos, o que os nossos corruptos governos não fazem, a população, revolto-sa, vai fazer – espero.

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