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(Im) possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos

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PRISCILA PESTANA TESCH

(IM) POSSIBILIDADE DA PRISÃO CIVIL DOS AVÓS DEVEDORES DE ALIMENTOS

Florianópolis 2015

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PRISCILA PESTANA TESCH

(IM) POSSIBILIDADE DA PRISÃO CIVIL DOS AVÓS DEVEDORES DE ALIMENTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Profª. Luciana Faisca Nahas, Drª.

Florianópolis 2015

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Dedico este trabalho aos meus pais, Lucille e Marcos, pelo apoio sincero em todos os momentos da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos pais, Lucille e Marcos, que acreditaram no meu potencial e sempre com muito carinho me incentivaram durante a minha vida.

Aos meus avós, por todo apoio, carinho e dedicação.

À Profª. Drª. Luciana Faisca Nahas, pela orientação e pelos diversos debates enriquecedores que muito contribuírem para a construção do presente trabalho.

Aos mestres da faculdade, por tudo que aprendi durante esses anos de curso. Aos meus parentes e amigos, pelo incentivo prestado durante a realização deste trabalho.

Por fim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que esse trabalho fosse realizado, meu eterno agradecimento.

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“A felicidade não se resume na ausência de problemas, mas sim na sua capacidade de lidar com eles.” (Albert Einstein).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso foi realizado na área do Direito de Família e trata sobre pensão alimentícia, no caso em que os genitores não tendo condições financeiras de sustentar ou manter seus filhos, a obrigação alimentar é transferida para os parentes mais próximos, geralmente para os avós. Tendo como principal objetivo analisar os posicionamentos exarados pelos Egrégios Tribunais a respeito da possibilidade ou da impossibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos. Para isso, foi utilizado o método de abordagem dedutivo. Utilizando-se da técnica bibliográfica, a partir da análise de diversas doutrinas e, também da técnica documental, a partir do estudo da legislação e de jurisprudências. Dessa maneira, após estudar os posicionamentos em relação a essa medida judicial, sejam eles favoráveis ou contrários, observa-se que cada caso concreto é analisado de acordo com suas particularidades, ou seja, verificando sempre o trinômio proporcionalidade-necessidade-possibilidade de cada caso. Assim, conclui-se que a prisão civil, a qual tem o objetivo de coagir os avós a pagarem a pensão alimentícia para seus netos, deverá ser decretada nos casos em que os avós possuem condições financeiras para isso, mas que de alguma maneira são omissos com suas obrigações.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 DOS ALIMENTOS ... 12

2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA ... 12

2.2 CONCEITO ... 16

2.3 NATUREZA JURÍDICA DOS ALIMENTOS ... 18

2.4 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO LEGAL DE ALIMENTOS ... 19

2.4.1 Direito personalíssimo... 19 2.4.2 Irrenunciabilidade ... 20 2.4.3 Incedibilidade ... 21 2.4.4 Incompensabilidade ... 22 2.4.5 Impenhorabilidade ... 23 2.4.6 Irrepetibilidade ... 24 2.4.7 Intransacionável ... 24 2.4.8 Imprescritibilidade... 25 2.4.9 Irretroatividade ... 26 2.4.10 Atualidade ... 26 2.4.11 Variável ... 27 2.4.12 Periodicidade ... 27 2.4.13 Reciprocidade ... 28 2.5 PROPORCIONALIDADE-NECESSIDADE-POSSIBILIDADE ... 29

3 ASPECTOS PROCESSUAIS EM RELAÇÃO AOS ALIMENTOS ... 31

3.1 BREVE HISTÓRICO EM RELAÇÃO AOS ALIMENTOS ... 31

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS ... 32

3.2.1 Alimentos provisórios ... 33

3.2.2 Alimentos provisionais ... 34

3.2.3 Alimentos definitivos ... 35

3.3 DA AÇÃO DE ALIMENTOS ... 36

3.4 DA AÇÃO DE OFERTA DE ALIMENTOS ... 38

3.5 DA AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS ... 39

3.6 DA AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS ... 40

3.7 DA EXECUÇÃO DOS DEVEDORES DE ALIMENTOS ... 41

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3.7.1.1 Desconto em folha de pagamento ... 44

3.7.1.2 Cobrança em aluguéis ou outros rendimentos do devedor ... 45

3.7.1.3 Expropriação de bens do devedor ... 46

3.7.1.4 Prisão civil (coerção) ... 48

4 DA POSSIBILIDADE DA PRISÃO CIVIL DOS AVÓS DEVEDORES DE ALIMENTOS ... 51

4.1 DEVER DE SUSTENTO DOS FILHOS MENORES ... 51

4.2 A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ENTRE OS PARENTES ... 53

4.2.1 A obrigação avoenga ... 56

4.3 A PRISÃO CIVIL DOS AVÓS ... 65

4.3.1 Posicionamentos favoráveis em relação à prisão civil dos avós ... 65

4.3.2 Posicionamentos contrários em relação à prisão civil dos avós ... 67

4.3.3 Possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos ... 69

5 CONCLUSÃO ... 71

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1 INTRODUÇÃO

Um dos temas bastante relevante a ser tratado na área do Direito de Família é a obrigação de prestar alimentos entre os parentes, cônjuges ou companheiros. Assim, este trabalho de conclusão de curso tem como objeto, o estudo da temática dos alimentos, na hipótese em que o genitor não cumpre com sua obrigação principal de manter seus filhos, por não possuir condições financeiras para isso, e a responsabilidade de prestar alimentos ao credor passa para os avós, ficando assim, a problemática da possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos para ser analisada no decorrer do trabalho.

É um tema de grande relevância para a sociedade contemporânea e, portanto, merece ser estudado, uma vez que após as mudanças existentes na sociedade, cada vez mais as pessoas estão buscando amparo através dos dispositivos legais a respeito da pensão alimentícia, no intuito de assegurarem a sua sobrevivência.

Importante ressaltar que com as modificações na sociedade, a Constituição Federal teve que ser alterada para se readequar aos novos padrões da sociedade, motivo pelo qual houve a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual trouxe diversos princípios do direito de família que são relevantes para o estudo da matéria, e merecem, portanto, serem analisados.

Assim, após estudar algumas peculiaridades a respeito da pensão alimentícia, o objetivo geral é justamente verificar a possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos, no caso em que estes deixem de prestar alimentos para os netos.

Demonstrando num primeiro momento o que são os alimentos ante a legislação brasileira, quais são os requisitos necessários para a propositura da ação de alimentos e as formas existentes de execução do devedor de alimentos, caso este se torne inadimplente. E, num segundo momento, será explicado como surge a obrigações avoenga, analisando as controvérsias jurisprudenciais existentes em relação à possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos por se tratar de um tema controverso.

Para isso, o presente trabalho foi dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo teórico será realizada a análise sobre os alimentos, apontando os principais princípios do direito de família que são importantes para a temática dos alimentos, o conceito de pensão alimentícia, a natureza jurídica e as características que são próprias da obrigação alimentar.

No segundo capítulo teórico, por sua vez, tratar-se-á sobre os aspectos processuais em relação aos alimentos, analisando os requisitos necessários para a propositura da ação de

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alimentos, da ação revisional de alimentos, da ação de exoneração de alimentos e por fim, da ação de execução de alimentos, aprofundando no estudo das modalidades de execução existentes, mais especificamente da prisão civil do devedor de alimentos.

O terceiro capítulo teórico, o qual será intitulado “Da possibilidade da prisão civil dos avós devedores de alimentos”, tem o objetivo principal de analisar o problema do presente trabalho de conclusão de curso. Utilizando-se de posicionamentos jurisprudências a respeito da possibilidade ou não da decretação da prisão civil aos avós devedores de alimentos, para fundamentar a pesquisa.

Dessa forma, foi utilizado o método de abordagem dedutivo.

Utilizou-se a técnica bibliográfica a partir da análise de diversas doutrinas, em especial, doutrinas de direito civil, mais especificamente, doutrinas de direito de família e também doutrinas de direito processual civil.

Também foi utilizada a técnica documental, a partir da análise da legislação e da jurisprudência, sendo consultadas diversas leis para a elaboração do presente trabalho, como por exemplo: Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968 - Lei de Alimentos, Código de Processo Civil de 1973, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, Código Civil de 2002, Código de Processo Civil de 2015, entre outras. Buscando também na jurisprudência, posicionamentos contrários e a favor dessa medida judicial que tem o objetivo de coagir os avós inadimplentes a pagarem a pensão alimentícia para seus netos, nos casos em que os pais não possuam condições financeiras para o encargo.

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2 DOS ALIMENTOS

O presente capítulo tem o objetivo de expor, num primeiro momento, o que vem a ser os chamados alimentos, apontando algum dos princípios norteadores do direito de família que são relevantes para a matéria, seu conceito, natureza jurídica, características particulares da pensão alimentícia e, por fim, o estudo do trinômio proporcionalidade-necessidade-possibilidade na hora de realizar a fixação do valor da pensão alimentícia.

Por ser um instituto jurídico muito amplo, já que diversas pessoas podem ser tanto credoras com devedoras de alimentos, vamos restringir o objeto de estudo para o caso em que o requerente deveria estar recebendo tal assistência de seus genitores, mas por diversos motivos não o está, passando a dívida alimentícia para os parentes mais próximos, geralmente para os avós. Dessa maneira, não será, portanto, objeto de estudo a pensão alimentícia devida entre os cônjuges e companheiros.

2.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA

A presente seção tem o objetivo de introduzir apenas alguns dos princípios do direito de família que são relevantes para a temática dos alimentos, os quais, ao serem analisados, estarão voltados para a relação jurídica entre pais e filhos.

Maria Helena Diniz (2010) explica que o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e dos companheiros, o qual está disposto no art. 226, §5º da Constituição da República Federativa do Brasil, disciplina que atualmente entre marido e mulher ou entre companheiros, os direitos e deveres em relação à sociedade conjugal ou convivencial, serão por eles exercidos igualmente, motivo pelo qual a sociedade patriarcal deixou de existir.

O Código Civil de 2002 seguiu a mesma linha de raciocínio que a Constituição Federal ao declarar no caput do art. 1.567 que “A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.” E ainda, declarou que o sustento, a guarda e educação dos filhos são deveres de ambos os cônjuges, de acordo com o art. 1.566, inc. IV do mencionado dispositivo. (BRASIL, 2002).

Com o fim da sociedade patriarcal, importante destacar que o matrimônio deixou de ter total proteção do Estado como tinha antigamente, passando toda e qualquer entidade conjugal que tivesse o objetivo de constituir família o direito de ser reconhecida. (FARIAS; ROSENVALD, 2014).

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Dessa maneira, Belmiro Pedro Welter (2004, p. 22, grifo nosso) explica como a família passou a ser composta:

Com a Carta Magna de 1988 e o Código Civil de 2002 a família passou a ser composta não apenas pelo casamento, mas também pela união estável (art. 226, §3º) e pela comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, denominada família nuclear, pós-nuclear, unilinear, monoparental, eudemonista ou socioafetiva (art. 226, §4º), transmudando-se “numa comunidade fundada no afeto, cujos membros se unem por um sentimento de solidariedade [...].”

Nesse mesmo sentido, Cristiano Chaves de Farias (2008) afirma que a sociedade contemporânea está sendo inspirada por novos valores, os quais romperam com a tradicional concepção de família. Dessa maneira, a família passou a ter um modelo descentralizado, democrático, igualitário e desmatrimonializado, o qual é regido pelo afeto e tem o objetivo principal de manter a solidariedade social.

Assim, como a família deixou de ter total preocupação do Estado, o indivíduo passou a ter mais importância do que aquela, em razão do princípio da dignidade da pessoa humana, o qual é um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil e está previsto em nosso ordenamento jurídico, no art. 1º, inc. III da CRFB:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana. (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Observa-se que o princípio da dignidade da pessoa humana é um dos mais importantes princípios presentes na Constituição Federal de 1988, uma vez que assegura o direito à vida e é o responsável em nortear os demais princípios.

A respeito do mencionado princípio, Sarmento (2003 apud DIAS, 2015, p. 44, grifo do autor) o conceitua da seguinte maneira:

É o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da Constituição Federal. A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional.

Observa-se que a dignidade da pessoa humana se materializa na questão do sustento, uma vez que para o credor viver dignamente, ou seja, recebendo o mínimo necessário para manter a sua sobrevivência, este deverá ser amparado através da prestação alimentícia devida pelo genitor ou, ainda, em casos excepcionais, devida pelos avós.

O princípio da dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental, uma vez que veio se amoldar às novas concepções de família, passando a garantir proteção de todos os

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seus membros, principalmente em relação à criança e ao adolescente. Nesse sentido, o art. 227, caput, da Constituição Federal, disciplina que é papel da família, da sociedade e do Estado conferir proteção integral e prioridade absoluta em relação à criança e ao adolescente. (FARIAS, 2007).

Assim, outro princípio que merece ser destacado é o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, o qual é definido pela Constituição Federal de 1988, no art. 227, caput, da seguinte maneira:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Nota-se que o referido princípio é muito significativo, uma vez que também está previsto pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a qual dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Código Civil de 2002, e tem o principal objetivo de assegurar e defender os interesses das crianças e dos adolescentes.

Sobre o já citado princípio, Rose Melo Vencelau Meirelles (2006, p. 491, grifo nosso) expõe o seguinte ensinamento:

O princípio do melhor interesse da criança é um princípio de aplicação setorial, decorre da dignidade da pessoa humana, pessoa humana em peculiar condição de

desenvolvimento. Seu emprego tem um campo especial, o dos direitos do menor.

Não um menor abandonado ou delinquente, mas toda a população infanto-juvenil tem reconhecido o seu direito de proteção especial em face da sua condição de pessoa em desenvolvimento. Contudo, se por um lado a sua aplicação é setorial, por outro lado, como corolário da dignidade peculiar da criança como pessoa em desenvolvimento, ele se irradia por todo o ordenamento brasileiro.

Tal princípio possui a finalidade de proteger os direitos das crianças, aquelas pessoas compreendidas entre a faixa etária de 0 até 12 anos de idade incompletos; e dos adolescentes, aquelas entre 12 e 18 anos de idade, como disposto no art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente. (BRASIL, 1990b).

Extrai-se do art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990b).

Os mencionados dispositivos citados anteriormente, ao discorrerem sobre o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, deixam claro que, por serem

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pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, as crianças e os adolescentes merecem proteção especial por parte do Estado.

Sendo um princípio também muito importante para a temática da pensão alimentícia, uma vez que os alimentos fazem parte do rol de direitos assegurados às crianças, aos adolescentes e aos jovens para manterem sua subsistência, de acordo com o que disciplina a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Por sua vez, o princípio da igualdade jurídica de todos os filhos está previsto na Legislação Civil e também no art. 227, §6º da Constituição Federal, que assim dispõe: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” (BRASIL, 1988).

De acordo com esse princípio, atualmente todos os filhos possuem os mesmos direitos, mas antigamente existia uma classificação em relação aos filhos, a qual estava presente em nosso ordenamento jurídico antes da promulgação da Constituição Federal de 1988. Assim, os filhos classificavam-se em legítimos, legitimados e ilegítimos. E ainda, os filhos ilegítimos eram classificados em naturais e espúrios, e estes, por sua vez, em adulterinos e incestuosos. (DINIZ, 2010).

Sobre o assunto, Maria Helena Diniz (2010, p. 22) afirma que:

Acatado pelo nosso direito positivo, que (a) nenhuma distinção faz entre filhos legítimos, naturais e adotivos, quanto ao nome, direitos, poder familiar, alimentos e sucessão; (b) permite o reconhecimento de filhos havidos fora do casamento; (c) proíbe que se revele no assento do nascimento a ilegitimidade simples ou espuriedade e (d) veda designações discriminatórias relativas à filiação.

Mesmo que por muito tempo houve uma distinção em relação à denominação dos filhos, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e com o surgimento do princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, estes passaram a ter seus direitos reconhecidos.

Assim, após o reconhecimento dos direitos dos filhos pela Constituição Federal, com o princípio da igualdade jurídica de todos os filhos, estes passaram a ter o direito de receber a pensão alimentícia, independentemente de serem filhos havidos ou não fora do matrimônio. Assunto que será analisado no próximo capítulo ao ser realizado um breve histórico a respeito da evolução da pensão alimentícia.

Dessa maneira, com os princípios norteadores do direito de família transcritos acima, percebe-se que eles são muito importantes para o ordenamento jurídico, uma vez que contribuíram com o mesmo, pois refletem a sociedade em que vivemos, levando em consideração as circunstâncias de tempo e lugar.

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2.2 CONCEITO

De suma importância é conceituar o instituto dos alimentos como uma modalidade de assistência, em que o alimentante paga para o alimentando um determinado valor para que este sobreviva de maneira digna, uma vez que o credor não possui condições financeiras para manter-se sozinho, seja pela pouca idade ou pela incapacidade de exercer alguma atividade econômica. (DIAS, 2015; FARIAS; ROSENVALD, 2014).

Assim, destaca-se que o alimentante é aquele que presta os alimentos, ou seja, é o devedor; enquanto o alimentando é aquele que necessita dos alimentos, o credor da ação de alimentos. (TARTUCE; SIMÃO, 2013).

Em relação ao conceito dos alimentos, Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 481) define que:

O vocábulo “alimentos” tem, todavia, conotação muito mais ampla do que na linguagem comum, não se limitando ao necessário para o sustento de uma pessoa. Nele se compreende não só a obrigação de prestá-los, como também o conteúdo da obrigação a ser prestada. A aludida expressão tem, no campo do direito, uma acepção técnica de larga abrangência, compreendendo não só o indispensável ao sustento, como também o necessário à manutenção da condição social e moral do alimentando.

Como mencionado, a pensão alimentícia não abrange apenas a parte da alimentação, mas também assistência com educação, moradia, vestuário, saúde, cultura, lazer, entre outros; ou seja, tudo aquilo para que o credor possa viver de modo compatível com a sua condição social. (DIAS, 2015).

Maria Berenice Dias (2013) declara que por ser um direito que assegura a sobrevivência daquele que o pleiteia, tanto a Constituição Federal como o Código Civil, a Lei de Alimentos, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei Maria da Penha, entre outras leis, asseguram tal direito.

Geralmente, os alimentos são pagos em dinheiro, porém, os mesmos poderão ser pagos in natura, seja com a concessão de hospedagem, sustento, despesas com escola, atividades extracurriculares, plano de saúde, entre outros. (DIAS, 2013).

Sobre o assunto, o Código Civil de 2002, no art. 1.701 disciplina a matéria da seguinte forma:

Art. 1.701. A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor.

Parágrafo único. Compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da prestação. (BRASIL, 2002).

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Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014) afirmam que quando o devedor deixa de entregar o valor da pensão alimentícia em dinheiro, existe a possibilidade de pagar a prestação in natura, a qual consiste em prestar os próprios bens necessários à vida do credor. Por exemplo, ocorre a prestação alimentícia in natura, quando o pai paga a escola e o plano de saúde do filho.

Assim, de acordo com o parágrafo único do art. 1.701 do Código Civil, o juiz é o responsável em fixar a forma em que os alimentos serão prestados, independentemente da vontade do credor. (DIAS, 2013).

Atualmente, a tendência moderna é impor ao Estado o dever de socorro dos necessitados, o qual se desobriga do encargo, por meio de determinação legal, transferindo tal tarefa aos parentes, cônjuge ou companheiro do necessitado, caso aqueles tenham a possibilidade de prestar a ajuda que este necessita. (RODRIGUES, 2008).

De acordo com o nosso ordenamento jurídico brasileiro, o art. 1.694 do Código Civil dispõe que:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. (BRASIL, 2002).

Assim, a pensão alimentícia é um instituto jurídico muito importante atualmente, uma vez que, como mencionado na sessão anterior, a sociedade possui uma nova concepção de família e os parentes poderão vir a serem assistidos uns pelos outros, em razão do princípio da solidariedade.

Em relação aos obrigados a prestarem a pensão alimentícia, é importante ressaltar que existe uma ordem de chamamento, dessa maneira, primeiramente serão chamados os ascendentes (pai, avô, bisavô), depois os descendentes (filho, neto, bisneto), assim, caso não seja possível obter a pensão alimentícia dos parentes em linha reta, chama-se os irmãos (parentes colaterais de 2º grau) e em último caso, o cônjuge ou convivente. Lembrando que na linha reta de parentesco, não existe limitação de grau, uma vez que a mesma é considerada infinita. (DIAS, 2015).

Assim, de acordo com o foco do presente trabalho, observa-se que a pensão alimentícia é considerada como sendo uma prestação periódica que o genitor presta para o seu filho, para que este possa sobreviver de maneira digna, uma vez que não tem condições de se manter sem essa ajuda financeira.

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2.3 NATUREZA JURÍDICA DOS ALIMENTOS

Maria Berenice Dias (2015) afirma que a origem da obrigação é a responsável em determinar a natureza jurídica dos alimentos.

Dias (2015, p. 559, grifo nosso) afirma que:

Obrigações de natureza alimentar não existem somente no direito das famílias. Há dever de alimentos com origens outras: (a) pela prática de ato ilícito; (b) estabelecidos contratualmente; ou (c) estipulados em testamento. Cada um desses encargos tem características diversas e está sujeito a princípios distintos. No âmbito

do direito das famílias, decorre do poder familiar, do parentesco, da dissolução do casamento ou da união estável. Sempre pressupõe a existência de um vínculo jurídico. Quanto mais se alarga o espectro das entidades familiares e se desdobram

os conceitos de família e filiação, a obrigação alimentar adquire novos matizes.

No âmbito do direito de família, para que os alimentos possam ser prestados para aqueles que deles necessitam, é necessário haver um vínculo jurídico entre as partes, seja em relação ao poder familiar, ao parentesco e a dissolução do casamento ou da união estável. (DIAS, 2015).

Dessa maneira, o novo Código Civil, no art. 1.694, caput, menciona a diferença existente entre os alimentos da seguinte maneira: “Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.” (BRASIL, 2002).

Assim, de acordo com a natureza jurídica dos alimentos, os mesmos são classificados em naturais ou necessários e civis ou côngruos. Dessa forma, os alimentos necessários à subsistência da pessoa são considerados como sendo os naturais, ou seja, compreendem o indispensável à vida, como a alimentação, a cura, o vestuário, entre outros. Por outro lado, são considerados como alimentos civis aqueles que servem para manter a condição social do credor de alimentos, aqueles que atendem as necessidades de nível intelectual ou moral. (COLTRO; TELLES, 2008).

Para o autor Sérgio Gilberto Porto (2003), na mesma linha de pensamento, os alimentos naturais são definidos pela doutrina como aqueles utilizados com as despesas relativas ao sustento, vestuário e casa, ao passo que, os alimentos civis são aquelas despesas referentes à educação e instrução.

Por fim, a distinção entre alimentos civis e naturais é explicada por Maria Berenice Dias (2015, p. 560, grifo do autor) da seguinte maneira:

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A diferenciação entre alimentos civis e naturais adotada pelo Código Civil dispõe de nítido caráter punitivo. Parentes, cônjuges e companheiros podem pedir alimentos uns aos outros para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de educação (CC 1.694). Todos os beneficiários – filhos, pais, parentes, cônjuges e companheiros – têm assegurado o padrão de vida de que sempre desfrutaram. Merecem alimentos civis independentemente da origem da obrigação. No entanto, limita a lei o valor do encargo sempre que é detectada

culpa do alimentando (CC 1.694 §2º). Quem, culposamente, dá origem à situação de

necessidade faz jus a alimentos naturais, isto é, percebe somente o que basta para manter a própria subsistência.

Explicada a diferenciação existente entre os alimentos naturais e civis, a qual basicamente determina que os primeiros são aqueles indispensáveis para sobrevivência daquele que pleiteia os alimentos e, os segundos são aqueles que servem para manter o padrão social que o credor possuía anteriormente, a seguir serão expostas as principais características da obrigação alimentar.

2.4 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO LEGAL DE ALIMENTOS

Segundo Flávio Tartuce (2014), a obrigação alimentar e o direito a alimentos possuem características únicas, motivo pela qual é uma obrigação diferenciada das demais.

Dessa maneira, diversas são as características da obrigação legal de alimentos, dentre elas, os alimentos poderão ser considerados como sendo personalíssimos, irrenunciáveis, incessíveis, incompensáveis, impenhoráveis, imprescritíveis, entre outros, os quais serão explicados detalhadamente a seguir.

2.4.1 Direito personalíssimo

O direito a alimentos é considerado como sendo personalíssimo, uma vez que é estipulado para determinada pessoa que deles necessita, sendo assim, somente ela é titular de receber os alimentos. Não podendo, portanto, os alimentos serem transferidos para outra pessoa, uma vez que serve para garantir a subsistência daquele que os pleiteia. (GONÇALVES, 2010).

Sobre o direito personalíssimo, Rodrigo da Cunha Pereira (2007, p. 5) afirma que:

Os alimentos consubstanciam-se em um direito personalíssimo, ou seja, sua titularidade não pode ser transmitida a outrem. Podemos arriscar e dizer que trata-se de direito de personalidade, visto que imanente ao direito à vida, sem o qual ela não se torna materialmente possível.

E por fim, Flávio Tartuce (2014) explica que o direito aos chamados alimentos é considerado como sendo personalíssimo, visto que o credor somente poderá pleitear os

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alimentos ao devedor, caso mantenha alguma relação de parentesco, seja casado, ou ainda, viva em união estável com este.

2.4.2 Irrenunciabilidade

Como os alimentos servem para manter a subsistência do alimentando, este não pode renunciar ao direito mencionado, principalmente se for alimentos decorrentes do parentesco, mais especificamente, do poder familiar.

Dessa maneira, o princípio da irrenunciabilidade do direito a alimentos está previsto em nosso ordenamento jurídico no art. 1.707, caput, do Código Civil, que assim disciplina: “Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a

alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.”

(BRASIL, 2002, grifo nosso).

Sobre a irrenunciabilidade a alimentos, Orlando Gomes (2002, p. 432, grifo nosso) afirma que:

Não se pode renunciar o direito a alimentos. A proibição decorre do caráter necessário da prestação alimentar, sendo supérflua, por conseguinte, a sua expressa declaração na lei. A irrenunciabilidade atinge o direito, não seu exercício. O que ninguém pode fazer é renunciar a alimentos futuros, a que faça jus, obrigando-se a não reclamá-los, mas, aos alimentos devidos e não prestados, o alimentando pode fazê-lo, pois lhe é permitido expressamente deixar de exercer o direito. A renúncia posterior é, portanto, válida.

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014) explicam que mesmo com a redação do art. 1.707 do Código Civil, quando os alimentos forem fixados em favor de incapazes é que serão considerados irrenunciáveis, ao passo que, a renúncia aos alimentos somente será admitida entre cônjuges, companheiros e parceiros homoafetivos, quando do término do casamento, da união estável ou da união homoafetiva respectivamente. Como a relação jurídica familiar já se extinguiu, é vedada a cobrança posterior dos alimentos.

Sobre a possibilidade de renúncia ao direito a alimentos, o Enunciado nº 263 da III Jornada de Direito Civil dispõe que:

O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da “união estável”. A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista vínculo de Direito de Família. (JORNADA DE DIREITO CIVIL, 2012).

Todos aqueles alimentos devidos e não pagos, podem ser renunciados, devido ser permitido o não exercício do direito a alimentos. (GONÇALVES, 2010).

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Flávio Tartuce (2014) explica em sua obra que, atualmente, em relação à divergência existente entre a irrenunciabilidade ou renunciabilidade aos alimentos, existem três projetos de lei com o intuito de alterar a redação do art. 1.707 do Código Civil e acabar com esse debate. Mencionados projetos possuem a mesma essência e tem o objetivo de seguir a mesma linha de raciocínio que a doutrina majoritária, ou seja, considerar renunciáveis os alimentos na dissolução da união estável e no divórcio e, irrenunciáveis nas relações decorrentes do parentesco.

Em razão do foco do trabalho ser alimentos devidos para descendentes, não se aprofundou no estudo da renunciabilidade dos alimentos, já que estes devem ser irrenunciáveis.

2.4.3 Incedibilidade

Os alimentos são considerados incessíveis, ou seja, não podem ser objeto de cessão de crédito em decorrência do seu caráter personalíssimo, uma vez que é inseparável da pessoa que os pleiteia. (GONÇALVES, 2010).

Levando em conta as peculiaridades do caso analisado, ou seja, a necessidade daquele que pleiteia os alimentos e a possibilidade daquele que os presta no momento da fixação do quantum debeatur, esse direito não pode ser transferido. (PEREIRA, 2007).

Nosso ordenamento jurídico prevê tal característica no art. 1.707 do Código Civil, o qual já foi exposto no presente trabalho e, ainda, no art. 286 do mesmo diploma, o qual disciplina:

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. (BRASIL, 2002).

Sobre o assunto, Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 501) expõe:

No entanto, somente não pode ser cedido o direito a alimentos futuros. O crédito constituído por pensões alimentares vencidas é considerado um crédito comum, já integrado ao patrimônio do alimentante, que logrou sobreviver mesmo sem tê-lo recebido. Pode, assim, ser cedido.

Dessa maneira, percebe-se que essa característica é muito importante para o instituto dos alimentos, não só pelo fato de vedar a transferência do crédito para outra pessoa, mas também por estar vinculado apenas à pessoa que deles necessita.

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2.4.4 Incompensabilidade

Outra característica dos alimentos que se extrai do art. 1.707 do Código Civil é a incompensabilidade dos alimentos, a qual determina que a obrigação alimentar não se compensa e também está prevista em nossa legislação no art. 373, inc. II do mesmo diploma:

Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: I - se provier de esbulho, furto ou roubo;

II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;

III - se uma for de coisa não suscetível de penhora. (BRASIL, 2002, grifo nosso).

Segundo Flávio Tartuce (2014), é vedado ser objeto de compensação, a pensão alimentícia. A respeito da compensação, o autor explica que a mesma é realizada entre pessoas que são credoras e devedoras entre si e tem o objetivo de realizar o pagamento e consequentemente, a extinção de dívidas mútuas e recíprocas.

Uma vez que a pensão alimentícia tem o objetivo de assegurar o sustento dos credores de alimentos, a vedação legal da incompensabilidade tem o objetivo de preservar a vida daquele que pleiteia os alimentos, a qual é possibilitada pelo pagamento da pensão. Porém, caso a dívida não fosse de alimentos, ou seja, caso fosse uma dívida comum, a compensação poderia ser realizada. (PEREIRA, 2007).

Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da Silva (2012, p. 548) afirmam que:

Os alimentos destinam-se à subsistência da pessoa alimentada, que não dispõe de recursos para viver, nem pode prover às suas necessidades pelo próprio trabalho. Permitir compensação com dívida de outra natureza seria privar o alimentado dos meios indispensáveis a sua manutenção, condenando-o a inevitável perecimento.

Importante destacar que na jurisprudência encontram-se casos em que é possível a compensação dos alimentos pagos, ou seja, somente haverá compensação caso o devedor pague a mais do que devia, o que é viável em razão da proibição do enriquecimento sem causa. (TARTUCE, 2014).

Dessa maneira, a dívida da pensão alimentícia não pode ser compensada com a dívida de outra obrigação, uma vez que estaria privando o credor de alimentos de obter a pensão de que necessita para sua sobrevivência.

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2.4.5 Impenhorabilidade

A característica da impenhorabilidade da pensão alimentícia está prevista no art. 1.707 do Código Civil, quando no mencionado dispositivo declara que o respectivo crédito é insuscetível de penhora.

Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da Silva (2012) afirmam que as prestações alimentícias são impenhoráveis, uma vez que tem o objetivo de não retirar o indispensável à sobrevivência daquele que pleiteia os alimentos. Dessa maneira, o credor da pessoa que recebe a pensão alimentícia não pode fazer com que a penhora recaia sobre os alimentos recebidos para adimplir com as dívidas deste.

Por sua vez, o Código de Processo Civil, declara sobre o assunto no art. 649, inc. IV:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis: [...]

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo. (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014, p. 720), afirmam que existem algumas exceções à regra da impenhorabilidade dos alimentos, ou seja, em alguns casos específicos, existe a possibilidade de penhorar a pensão alimentícia, explicando que:

Em primeiro plano, admite-se a penhora dos alimentos para pagamento de outra obrigação de mesma natureza (alimentícia). Assim, já se percebe a possibilidade de penhorar pensão previdenciária para o pagamento de verba alimentar.

Noutro caso, é possível penhorar os bens adquiridos com o valor recebido a título de alimentos, desde que não protegidos pela impenhorabilidade da Lei nº 8.009/90 – Lei do bem de família.

Dessa maneira, a Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990, a qual dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família, no seu art. 3º, inc. III afirma:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

[...]

III - pelo credor de pensão alimentícia. (BRASIL, 1990a).

Por fim, observa-se que essa característica é bastante relevante para o instituto dos alimentos, uma vez que determina que a penhora não pode recair sobre a pensão alimentícia, pelo fato de que estaria privando o alimentando de manter seu sustento.

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2.4.6 Irrepetibilidade

Os alimentos possuem a característica da irrepetibilidade, pois uma vez pagos, não devem ser devolvidos já que servem para garantir a sobrevivência daquele que os pleiteia. (DIAS, 2015).

Atualmente, em nossa legislação brasileira não existe nenhum dispositivo de lei que disciplina a regra da irrepetibilidade dos alimentos, desta maneira, esta tem sido um princípio baseado na doutrina e jurisprudência vigente. (MADALENO, 2013).

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014) afirmam que mesmo que o título que serviu de base para a prestação alimentícia for desconstituído, por exemplo, no caso de uma negativa de paternidade, não caberá a restituição dos alimentos já pagos, em razão do princípio da irrepetibilidade.

A respeito dos casos em que poderá haver a restituição dos alimentos, Maria Berenice Dias (2015, p. 569, grifo do autor) expõe que:

Admite-se a devolução exclusivamente quando comprovado que houve má-fé ou postura maliciosa do credor. Em nome da irrepetibilidade, não é possível dar ensejo ao enriquecimento injustificado (CC 884). É o que se vem chamando de

relatividade da não restituição.

E ainda, em caso de erro no pagamento de alimentos, caberá a hipótese de restituição, dessa maneira, quem prestar os alimentos achando que era o obrigado, poderá exigir a devolução do montante pago daquele que era na realidade o obrigado. (DINIZ, 2010). Por fim, importante destacar que, salvo as exceções expressas acima, uma vez pagos os alimentos, os mesmos não poderão ser objeto de restituição, já que servem para garantir a mantença daquele que os pleiteia.

2.4.7 Intransacionável

O direito a alimentos não pode ser objeto de transação, uma vez que o art. 841 do Código Civil dispõe que a transação é permitida somente em relação a direitos patrimoniais de caráter privado. (BRASIL, 2002).

Segundo Flávio Tartuce (2014, p. 495): “A obrigação alimentar não pode ser objeto de transação, ou seja, de um contrato pelo qual a dívida é extinta por concessões mútuas ou recíprocas.”

A referida regra vale somente para o direito de pedir alimentos, uma vez que a jurisprudência não aplica essa regra para o quantum das prestações, sejam elas vencidas ou

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vincendas. Sendo comum uma ação terminar em acordo visando prestações atrasadas ou até mesmo futuras. Constituindo título executivo judicial a transação feita entre as partes dentro da ação de alimentos. (GONÇALVES, 2010).

Para Yussef Said Cahali (2006), não é possível realizar a transação de alimentos futuros, no sentido de que caso fosse feito o acordo, o alimentando gastaria o valor acordado e viria novamente a passar por necessidades.

Assim, mesmo que existam controvérsias em relação ao assunto, dizemos que o direito de pedir alimentos é intransacionável, uma vez que este não pode ser objeto de transação. O que pode ser objeto de transação seriam as prestações alimentares propriamente ditas, sejam elas vencidas ou futuras.

2.4.8 Imprescritibilidade

Carlos Roberto Gonçalves (2010) afirma que é imprescritível o direito de postular em juízo o pagamento de pensões alimentícias, mesmo que esse não tenha sido exercido por um longo lapso temporal. O que prescreve é o direito de cobrar as pensões já fixadas em sentença ou estabelecidas extrajudicialmente, as quais não foram pagas no período de 2 anos, a contar da data em que venceram.

Tal característica está prevista em nosso ordenamento jurídico no art. 206, §2º do Código Civil, que assim dispõe: “Prescreve: [...] § 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.” (BRASIL, 2002).

Extrai-se da obra de Belmiro Pedro Welter (2004, p. 40-41) o seguinte ensinamento a respeito dos casos em que não ocorre a mencionada prescrição:

A prescrição não corre: 1. Entre ascendentes e descendentes e durante o poder familiar (art. 197, II, do CC); 2. Contra os seguintes incapazes (arts. 198, I, e 4º, I a III): a) menores de 16 anos de idade; b) os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; c) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade; 3. Entre cônjuges ou conviventes, na constância da entidade familiar (art. 167, I); 4. Entre tutelados ou curatelados e seus tutores e/ou curadores, durante a tutela ou curatela (art. 197, III); 5. Contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios (art. 198, II); 6. Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra (art. 198, III); 7. “I – pendendo condição suspensiva; II – não estando vencido o prazo; III – pendendo ação de evicção” (art. 199 do novo CC).

Por fim, é importante ressaltar que o credor após propor a ação de alimentos, assim que for fixado o valor pelo juiz, possui o prazo de prescrição de dois anos para poder cobrar as prestações não pagas, pois não o fazendo durante esse prazo, perde o direito de cobrar os atrasados.

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2.4.9 Irretroatividade

Os alimentos são considerados irretroativos, uma vez que retroagem apenas a partir do momento da citação, de acordo com o art. 13, §2º da Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968, a qual disciplina a chamada Lei de Alimentos:

Art. 13 O disposto nesta lei aplica-se igualmente, no que couber, às ações ordinárias de desquite, nulidade e anulação de casamento, à revisão de sentenças proferidas em pedidos de alimentos e respectivas execuções.

[...]

§ 2º. Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. (BRASIL, 1968).

Sobre o assunto, Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da Silva (2012, p. 549-550) afirmam que:

Esta é outra regra que merece interpretação condizente com o percebimento ou não de alimentos provisórios ou provisionais no curso da ação de alimentos. Assim, se numa ação de alimentos, como sói acontecer, a sentença é proferida muito tempo após a citação, levando em consideração o momento da fixação e não o da propositura da ação, a retroatividade da pensão que majora a pensão provisória, pode acarretar débito incompatível com a obrigação de alimentos, resultando em enriquecimento indevido do credor e no empobrecimento descabido do devedor.

Assim, os alimentos são considerados como irretroativos, pois não retroagem desde o momento em que o credor estava passando por necessidades, e sim, do momento da citação do devedor na ação de alimentos.

2.4.10 Atualidade

Maria Helena Diniz (2010) explica que o direito aos alimentos está fundamentado nas necessidades atuais ou futuras do credor e não nas passadas; portanto, o alimentando nunca poderá requerer a pensão alimentícia baseada nas dificuldades, por ele tidas, no passado.

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014, p. 706) afirmam que:

Há uma lógica: se os alimentos tendem à manutenção da integridade física e psíquica do alimentando, devem servir-lhe no tempo presente e futuro, mas não no passado. Ou seja, se que os recebe já se manteve, não há justificativa para a concessão dos alimentos no pretérito.

Assim, verificou-se que o direito aos alimentos é considerado atual, pois atende as necessidades atuais e futuras daquele que os pleiteia.

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2.4.11 Variável

A pensão alimentícia é considerada como sendo variável, uma vez que é possível realizar revisão, redução, majoração ou exoneração da obrigação alimentar, caso fique demonstrado que houve alteração econômica por parte do devedor, ou ainda, alteração na necessidade do credor. (DINIZ, 2010).

A característica mencionada está prevista no art. 1.699 do Código Civil, o qual afirma: “Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.” (BRASIL, 2002).

A pensão alimentícia é considerada variável, porque as situações do alimentando e do alimentante podem sofrer alterações durante o passar do tempo, ou seja, a mesma poderá ser aumentada caso melhore as condições financeiras daquele que presta os alimentos ou ainda, ser diminuída ou até mesmo extinta, se tais condições reduzirem.

2.4.12 Periodicidade

A obrigação alimentar geralmente é cumprida sob a forma de uma quantia em dinheiro, a qual geralmente é efetuada em parcelas denominadas pensão alimentar. Dessa maneira, a pensão alimentícia deve ser paga em prestações periódicas, ou seja, prestações mensais, trimestrais, semestrais ou até mesmo quinzenais. (CAHALI, 2006).

Sobre a periodicidade dos alimentos, Borghi (1999 apud WELTER, 2004, p. 44-45) afirma que:

Os alimentos não podem ser pagos de uma única vez, e sim prestados periodicamente, mês a mês, visto que, “quem os recebe (alimentando), poderia gastá-los desordenadamente e continuaria deles necessitando, dependendo sempre e cada vez mais de quem os presta (alimentante). Daí por que todos os autores mencionam a circunstância dessa obrigação ser prestada por períodos, geralmente mensais.

Sobre o assunto, Maria Berenice Dias (2015) explica que independentemente da periodicidade da prestação, seja ela mensal, quinzenal, semanal ou semestral, esta deverá ser acordada pelas partes, ou pelo devedor que irá comprovar, de acordo com sua necessidade, de ser realizada a prestação de tal maneira.

Assim, o pagamento dos alimentos deve ser periódico, geralmente a obrigação alimentar é paga mensalmente, mas nada impede que seja estabelecida entre as partes outra periodicidade. (DIAS, 2015).

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Importante salientar que sempre serão analisadas as particularidades do caso concreto, uma vez que o binômio necessidade-possibilidade poderá ser alterado e, consequentemente, a periodicidade das prestações alimentícias também.

2.4.13 Reciprocidade

Atualmente, na legislação brasileira está prevista a característica da reciprocidade da obrigação alimentar no art. 1.696 do Código Civil, o qual afirma que: “O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.” (BRASIL, 2002).

A obrigação alimentar é considerada recíproca tanto entre os parentes, como entre os cônjuges ou companheiros. De acordo com a situação fática, o obrigado a prestar os alimentos hoje, em outra relação jurídica poderá pleitear alimentos daquele que os exigiu em outra oportunidade, apenas invertendo-se o polo ativo e passivo. (NADER, 2013).

A reciprocidade dos alimentos está baseada no dever de solidariedade, uma vez que o dever de assistência é mútuo, levando em consideração as necessidades de um e as possibilidades do outro. Dessa maneira, quem hoje assume o papel de credor na relação jurídica alimentar, amanhã poderá estar assumindo a função de devedor e vice-versa. (DIAS, 2013).

Sobre o assunto, Sérgio Gilberto Porto (2003, p. 29) expõe que:

Os integrantes da relação jurídica de direito material – que representam as partes de eventual relação jurídica de direito processual alimentar – estão obrigados entre si, tudo dependendo da situação fática que, no momento, se apresente, pois aquele que estiver em melhor situação financeira, diante de eventual necessidade de seu parente, deverá pensioná-lo. Poderá, contudo, ao depois, em face da mudança da situação fática de suas vidas, vir a postular alimentos do primitivo pensionado. Isto, a toda evidência, em razão de nova situação de riqueza ou de pobreza.

Assim, ao dizer que os alimentos possuem a característica da reciprocidade, quer dizer que o atual devedor de alimentos poderá ser o credor futuramente e vice-versa, apenas assumindo polos diferentes na relação jurídica.

Considerando as características próprias dos alimentos, para a fixação do valor da pensão alimentícia deverão ser observados alguns requisitos, os quais serão apresentados na sequência.

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2.5 PROPORCIONALIDADE-NECESSIDADE-POSSIBILIDADE

Primeiramente, para fixar o quantum alimentício, deverá ser observado o trinômio proporcionalidade-necessidade-possibilidade, pois é de acordo com esse trinômio que o valor da pensão alimentícia será fixado, ou seja, o juiz deverá levar em conta a necessidade daquele que pleiteia os alimentos, a possibilidade daquele que os presta e, por fim, a proporcionalidade existente entre necessidade e possibilidade. (FARIAS; ROSENVALD, 2014).

Maria Berenice Dias (2015) afirma que, tradicionalmente, recorre-se ao binômio necessidade-possibilidade, informando as necessidades do credor e as possibilidades do devedor ao determinar o valor da pensão alimentícia. Dessa maneira, respeitando o princípio da proporcionalidade, alguns doutrinadores passaram a denominar o binômio como trinômio proporcionalidade-possibilidade-necessidade.

Nesse contexto, o valor da pensão alimentícia será fixado nos termos do §2º do art. 1.694 do Código Civil, o qual é explicado por Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 216) da seguinte forma:

Para serem devidos alimentos compatíveis com a condição social do alimentado, assim, é necessário, em primeiro lugar, que o alimentante não tenha que se sacrificar injustamente para pagá-los. A inexistência de culpa é outro requisito para se constituir o direito aos alimentos compatíveis com a condição social do alimentado. Se o próprio alimentado arruinou culposamente seu patrimônio ou, podendo trabalhar, não se anima a fazê-lo por preguiça, o valor dos alimentos será fixado em patamar mínimo, isto é, pelo montante indispensável à subsistência dele (art. 1.694, §2º, CC).

Importante salientar que ao fixar o valor da pensão alimentícia, o juiz irá analisar cada situação de acordo com as particularidades do caso concreto, uma vez que não existe nenhum percentual fixado em lei sobre o assunto. Destacando o fato que ao modificar a necessidade daquele que pleiteia os alimentos e a situação econômica daquele que os presta, poderá ocorrer a exoneração, redução e até mesmo majoração da pensão alimentícia.

É o que determina o art. 1.699 do Código Civil: “Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.” (BRASIL, 2002).

Nessa linha de raciocínio, Flávio Tartuce (2014, p. 471) afirma que:

O princípio da proporcionalidade ou da razoabilidade deve incidir na fixação desses alimentos no sentido de que a sua quantificação não pode gerar o enriquecimento sem causa. Por outro lado, os alimentos devem servir para a manutenção do estado

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anterior, visando ao patrimônio mínimo da pessoa humana. O aplicador do direito deverá fazer a devida ponderação entre princípio para chegar ao quantum justo. De um lado, leva-se em conta a vedação do enriquecimento sem causa; do outro, a dignidade humana, sendo esses os pesos fundamentais da balança. Em situações de dúvida, compreende-se que o último valor, de tutela da pessoa humana, deve prevalecer.

Sabe-se que o juiz é o responsável em fixar o valor da pensão alimentícia, levando em conta as necessidades daquele que pleiteia e as possibilidades daquele que presta os alimentos, porém, caso seja difícil para o credor provar os rendimentos do genitor, o juiz irá fixar o valor da pensão alimentícia baseado no princípio da aparência, o qual está previsto nos arts. 334 e 335 do Código de Processo Civil, observando os indícios que demonstram o padrão de vida que o genitor costuma ter. (DIAS, 2015).

Ao fixar o quantum alimentício, o juiz deverá estar atento para o princípio da proporcionalidade, o qual deve ponderar entre a necessidade do credor de alimentos e a possibilidade do devedor. E ainda, importante ressaltar que o juiz não precisa deferir o valor requerido pelo autor, podendo arbitrar qualquer valor de acordo com o seu entendimento, motivo pelo qual, no direito de família, não existe decisão ultra nem extra petita, quando referentes ao valor arbitrado da pensão alimentícia. (DIAS, 2015).

Uma vez fixada a pensão alimentícia, não poderá haver o enriquecimento sem causa por parte daquele que pleiteia os alimentos, muito menos obrigar aquele que os presta, a pagar uma pensão maior do que pode suportar.

Assim, após analisar todos os aspectos dos alimentos, observa-se que, pelo fato da obrigação alimentar possuir características próprias, tal obrigação merece ser tratada de maneira diferenciada. Motivo pelo qual a ação de alimentos possui um rito específico, o qual é mais simplificado e mais célere, uma vez que está lidando com o direito à vida do credor, o qual necessita urgentemente da tutela do Estado para poder sobreviver de modo digno.

Dessa maneira, a seguir serão apresentados os diversos aspectos processuais relativos à pensão alimentícia.

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3 ASPECTOS PROCESSUAIS EM RELAÇÃO AOS ALIMENTOS

O presente capítulo tem o objetivo de apresentar, num primeiro momento, um breve histórico a respeito da pensão alimentícia em nosso ordenamento jurídico, ressaltando posteriormente, os requisitos necessários para a propositura da ação de alimentos.

Dessa maneira, por ser os alimentos indispensáveis para a vida humana, a pensão alimentícia possui um rito diferenciado dos outros tipos de ações, o qual é mais célere e simplificado, uma vez que serve para garantir o sustento e a dignidade daquele que os pleiteia, tal demanda não pode demorar para ter sua pretensão atendida.

Mostrando também outros possíveis tipos de ações relacionadas aos alimentos, como a ação de oferta de alimentos, a ação revisional de alimentos, a ação de exoneração da pensão alimentícia e, por fim, como ocorre a execução da ação de alimentos, destacando a possibilidade de aplicação da medida coercitiva da prisão civil do devedor de alimentos.

3.1 BREVE HISTÓRICO EM RELAÇÃO AOS ALIMENTOS

O presente tópico tem o objetivo de realizar um breve histórico em relação à pensão alimentícia, mostrando como era tal instituto antes da Constituição Federal de 1988 e do Código Civil de 2002 e como passou a ser após a promulgação dos mencionados dispositivos.

De acordo com os ensinamentos de Maria Berenice Dias (2015), é importante ressaltar que o Código Civil de 1916 não reconhecia como filhos aqueles tidos fora do casamento, os quais eram chamados de filhos ilegítimos, dessa maneira, os mesmos não tinham o direito de receber a pensão alimentícia.

O ordenamento jurídico daquela época dispensava tal tratamento para os filhos havidos fora do casamento, sempre no intuito de proteger a família resultante do matrimônio, a qual tinha total proteção do Estado e possuía um perfil conservador e patriarcal, uma vez que era indiscutível a autoridade paterna. (DIAS, 2015).

Somente anos mais tarde, com a Lei nº 883, de 21 de outubro de 1949, a qual dispunha sobre o reconhecimento de filhos ilegítimos, mas que atualmente já foi revogada, que esses filhos tiveram o direito de receber a pensão alimentícia do genitor. Porém, para isso, era preciso ingressar com uma ação de investigação de paternidade, a qual era proposta em segredo de justiça, não para serem reconhecidos, mas apenas para receberem o direito aos

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alimentos, uma vez que os filhos somente poderiam ser reconhecidos caso o casamento do genitor tivesse sido dissolvido. (DIAS, 2015).

Em 1968 surgiu a chamada Lei de Alimentos, a Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968, a qual passou a dispor sobre os requisitos necessários para a propositura da ação de alimentos e outras providências.

No Código de Processo Civil de 1973, o qual está vigente na data deste trabalho, encontra-se a parte processual em relação aos alimentos, detalhando os procedimentos utilizados para realizar a execução dos alimentos, entre eles, a prisão civil dos devedores de alimentos.

Dessa maneira, após diversas modificações na sociedade, houve uma reforma no ordenamento jurídico brasileiro, o qual necessitava enquadrar-se às novas concepções da sociedade e, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, surgiram diversos princípios que passaram a nortear o direito de família, os quais já foram estudados anteriormente.

O Código Civil de 2002, do art. 1.694 até o art. 1.710, trata sobre a temática dos alimentos, o qual é aplicado juntamente com a Lei de Alimentos, uma vez que tal lei continua vigente até os dias de hoje.

Importante ressaltar que foi aprovado o Código de Processo Civil de 2015, o qual entrará em vigor apenas em março de 2016, mas a título de conhecimento, foi exposto no presente trabalho um tópico que fala como a prisão civil dos devedores de alimentos passará a ser tratada daqui para frente. Porém, o presente trabalho foi realizado a partir da análise do Código de Processo Civil de 1973, o qual ainda está em vigência.

Dessa maneira, após o breve estudo a respeito da evolução da pensão alimentícia, a seguir será exposta a classificação doutrinária utilizada, atualmente, para definir os alimentos de acordo com o momento processual em que eles são concedidos.

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS

Observa-se que, para fins doutrinário, os alimentos foram classificados em provisórios, provisionais e definitivos, ou seja, tal classificação se dá em razão do momento procedimental em que os alimentos são concedidos.

Sabe-se que a ação de alimentos pode ser cumulada com outros tipos de demandas como, por exemplo: divórcio, separação de corpos, reconhecimento de união estável e

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investigação de paternidade. Dessa maneira, os alimentos podem ser deferidos tanto no início da lide, como incidentalmente e até mesmo na sentença. (DIAS, 2004).

Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz Tavares da Silva (2012, p. 554) afirmam que: “Os alimentos provisionais e provisórios constituem medida preventiva, por via da qual o interessado reclama fornecimento de provisão alimentícia, até que se julgue o pedido de alimentos definitivos.”

3.2.1 Alimentos provisórios

Alimentos provisórios são aqueles concedidos por decisão interlocutória, logo no início da demanda, quando verificada a real necessidade do credor em recebê-los antes de serem concedidos os alimentos definitivos.

Para Maria Berenice Dias (2015), os alimentos provisórios são aqueles que estão previstos no Código Civil e na Lei de Alimentos e, reproduzindo os ensinamentos de Gelson Amaro de Souza, os mesmos são considerados como “tutela antecipada de caráter satisfativo.” Ou seja, para que os mesmos sejam deferidos liminarmente na ação de alimentos, é preciso que exista prova pré-constituída em relação ao parentesco ou obrigação de prestar alimentos, não precisando os mesmos serem requeridos, o juiz poderá deferi-los de ofício.

É o que determina o art. 4º da Lei de Alimentos:

Art. 4º Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge, casado pelo regime da comunhão universal de bens, o juiz determinará igualmente que seja entregue ao credor, mensalmente, parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor. (BRASIL, 1968).

Em relação ao arbitramento do valor dos alimentos provisórios, o juiz deverá levar em conta os elementos constantes na petição inicial e que indicam a profissão do devedor, sua posição social e econômica, entre outros fatores. (FARIAS; ROSENVALD, 2014).

Assim, observa-se que os alimentos provisórios podem ser concedidos na relação entre pais e filhos, uma vez existente prova pré-constituída dessa relação jurídica é possível deferir os alimentos antes de proferida a sentença de procedência.

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3.2.2 Alimentos provisionais

Os alimentos provisionais podem ser requeridos de acordo com o exposto no art. 852 do Código de Processo Civil, sendo concedidos provisoriamente, uma vez que são deferidos antes ou durante o curso da ação principal.

Sendo assim, tal artigo disciplina que:

Art. 852. É lícito pedir alimentos provisionais:

I - nas ações de desquite e de anulação de casamento, desde que estejam separados os cônjuges;

II - nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial; III - nos demais casos expressos em lei.

Parágrafo único. No caso previsto no no I deste artigo, a prestação alimentícia

devida ao requerente abrange, além do que necessitar para sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda. (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Como destacado no mencionado dispositivo, tal medida tem o objetivo de garantir o sustento daquele que pleiteia os alimentos, e ainda, vale ressaltar que mesmo tendo a denominação de medida cautelar nominada, os alimentos provisionais não possuem tal natureza assecuratória. Tal afirmação decorre do fato de que os alimentos provisionais não têm o objetivo de assegurar o resultado do processo principal, servem apenas para entregar ao credor os alimentos que ele necessita para sobreviver. (FARIAS; ROSENVALD, 2014).

Sobre o assunto Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2014, p. 765) afirmam que:

Serão concedidos os provisionais quando o interessado não tiver prova pré-constituída da existência da obrigação alimentar, não podendo pleitear alimentos provisórios em sede de ação de alimentos. Então, poderá ajuizar uma ação cautelar, preparatória ou incidental, requerendo alimentos provisionais, demonstrada a presença dos requisitos genéricos das cautelares (isto é, periculum in mora e fumus

boni juris), para garantir sua sobrevivência, enquanto promove uma outra demanda,

na qual demonstrará a existência da obrigação alimentar. Esta ação principal pode ser, por exemplo, uma ação de dissolução de união estável, de investigação de parentalidade ou mesmo uma ação de alimentos.

Expostas as particularidades dos alimentos provisórios e dos alimentos provisionais, os quais são deferidos provisoriamente até que sejam deferidos os alimentos definitivos, importante ressaltar que a principal diferença entre eles é a existência ou não de prova pré-constituída, comprovando a obrigação alimentar entre as partes, motivo pelo qual os alimentos serão provisórios quando existente tal prova e, provisionais quando não existente. Ambos os casos são muito parecidos, uma vez que visam assegurar que o credor receba os alimentos de que necessita antes de proferida a sentença.

Referências

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