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Precarização das relações de trabalho na era digital: uma análise da condição de motorista de Uber no Brasil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO

EDERSON JOSÉ DE JESUS JUNIOR

PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA ERA DIGITAL: UMA ANÁLISE DA CONDIÇÃO DE MOTORISTA DE UBER NO BRASIL

Macaé 2019

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EDERSON JOSÉ DE JESUS JUNIOR

PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA ERA DIGITAL: UMA ANÁLISE DA CONDIÇÃO DE MOTORISTA DE UBER NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé, pertencente à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora:

Prof.a Dra. Clarisse Inês de Oliveira.

Macaé 2019

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Ficha catalográfica automática - SDC/BMAC Gerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecária responsável: Fernanda Nascimento Silva - CRB7/6459 J95p Junior, Ederson José de Jesus

Precarização das Relações de Trabalho na Era Digital : Uma Análise da Condição de Motorista de Uber no Brasil / Ederson José de Jesus Junior ; Clarisse Inês de

Oliveira, orientadora. Macaé, 2019. 83 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito)- Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências da Sociedade, Macaé, 2019.

1. Uberização. 2. Precarização do Trabalho na Era Digital. 3. Reformas e Flexibilizações. 4. Exploração da Força de Trabalho. 5. Produção intelectual. I. Oliveira, Clarisse Inês de, orientadora. II. Universidade Federal

Fluminense. Instituto de Ciências da Sociedade. III. Título. CDD -

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EDERSON JOSÉ DE JESUS JUNIOR

PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA ERA DIGITAL: UMA ANÁLISE DA CONDIÇÃO DE MOTORISTA DE UBER NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé, pertencente à Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovado em 04 de dezembro de 2019.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________ Prof.a Doutora Clarisse Inês de Oliveira (Orientadora)

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________________________ Prof.ª Doutora Priscila Petereit de Paola Gonçalves

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________________________ Prof. Doutorando Julio Cesar Gonçalves Campos Filho

Universidade Nacional de Rosário

Macaé 2019

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. À todas as minorias que lutam por um mundo melhor.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe e minha irmã, por lutarem desde que nasci para que esta jornada se tornasse realidade.

Ao meu companheiro e grande amor, David, por estar sempre ao meu lado, apoiar nas horas mais difíceis e fazer cada pequeno momento da vida se tornar único, afetuoso e especial.

Aos meus gatos Darth Vader e Luke Skywalker, que trazem doçura e carinho nas horas mais inusitadas possíveis.

Aos meus avós de coração Martins e Roci, que entraram na minha vida e trouxeram a ternura e o aconchego de um português batalhador e de uma cearense guerreira.

À minha nova família: Andressa, Juliana, Narrimãn e Natália – apresentadas em ordem alfabética pra não ter ciúmes – que essa faculdade me presenteou e que levarei para toda a vida, compartilhando as alegrias, as dificuldades e as vitórias ao longo dessa jornada.

Aos meus amigos André e Yan, por demonstrarem o verdadeiro significado da palavra amizade em fases delicadas e vulneráveis que surgiram nas ocasiões mais inesperadas.

Às inspiradoras amigas Lorena, Samara, Thaís, Thamires e Raysa Beiro, por sempre torcerem juntas para o sucesso desta conquista.

Ao grande chefe Fabio Jogaib, por todo o apoio, incentivo e compreensão dedicados ao longo da experiência única de estágio, que levarei para toda a vida.

À prof.ª Fabianne Manhães e ao servidor Wallace, que sempre se empenharam ao máximo pelos alunos na coordenação do curso.

Aos professores Júlio Cesar e Priscila Petereit, por aceitarem fazer parte desta banca.

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Quanto mais poderoso o trabalho, mais impotente o trabalhador se torna.

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RESUMO

A popularização das tecnologias de informação e comunicação, em especial, a internet – cujo alcance é potencializado com a amplo acesso aos dispositivos móveis inteligentes, os

smartphones e tablets –– impactou significativamente na maneira pela qual os serviços são

ofertados na sociedade moderna, através de aplicativos disponíveis a qualquer indivíduo conectado à rede, provocando, consequentemente, inúmeras implicações nas relações de trabalho. Conjuntamente aos avanços tecnológicos na sociedade, desenvolvem-se novas formas de alienação e exploração da mão de obra do trabalhador moderno, criando o fenômeno de precarização das relações de trabalho na era digital. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo analisar a condição de motorista da plataforma Uber no Brasil e a sua consequente exploração pelo mercado econômico capitalista. A pesquisa apresentada neste trabalho se deu através de revisão histórico-literária sobre as reformas e flexibilizações na legislação trabalhista por meio dos governos Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer desde a conquista da Consolidação das Leis do Trabalho na Era Vargas; da investigação sobre as formas de operacionalização da plataforma, a análise crítica em torno da exploração pela uberização da força de trabalho dos denominados motoristas parceiros e, por fim, análise jurisprudencial sobre o reconhecimento de vínculo empregatício nos Tribunais Regionais do Trabalho dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, assim como o recente entendimento do STJ – Superior Tribunal de Justiça sobre a temática.

Palavras-chave: Uberização. Precarização do Trabalho na Era Digital. Reformas e Flexibilizações.

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ABSTRACT

The popularization of information and communication technologies, in particular, the Internet - whose reach is enhanced through broad access to mobile devices, smartphones and tablets - has impacted the way services are offered in modern society through applications available anywhere. individual connected to the network, consequently causing several implications on work relationships. In conjunction with technological advances in society, develop new forms of alienation and exploitation of the modern workforce, creating the precarious track record of working relationships in the digital age. Thus, this paper aims to analyze the condition of the Uber platform driver in Brazil and its consequent exploitation by the capitalist economic market. The research presented in this paper brings the historical literary review on reforms and flexibilization in labor legislation through governments Fernando Henrique Cardoso and Michel Temer since the conquest of the Consolidation of Labor Laws in the Vargas Era; the investigation of the ways of operation of the platform, a critical analysis on the exploitation of the workforce of drivers called partners and, finally, a jurisprudential analysis on the recognition of employment in the regional labor courts of the states of Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, as well as the most recent understanding of the Supreme Court of Justice on the subject.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01 – Comparativo entre as reformas do art. 59, §2º da CLT ... 18

Gráfico 01 – Participação de Mercado dos Sistemas Operacionais no Mundo ... 29

Gráfico 02 – Comparativo entre plataformas no mercado mundial ... 29

Figura 01 – Evolução visual da Uber entre 2009 e 2011 ... 32

Quadro 02 – Comparativo de preços entre Uber e o serviço de táxi comum no Rio de Janeiro em 2015 ... 33

Figura 02 – Interface inicial do aplicativo Uber ... 35

Figura 03 – Solicitação da corrida no aplicativo ... 37

Figura 04 – Opção de Cancelamento de Viagem ... 37

Figura 05 – Avaliação da Corrida ... 38

Quadro 03 – Requerimentos exigidos para cada categoria ... 40

Figura 06 – Interface do aplicativo Uber Driver ao iniciar uma corrida ... 41

Figura 07 – Opções de contato com o passageiro e cancelamento da viagem ... 42

Figura 08 – Área 01 – Regiões do subúrbio do Rio de Janeiro e cidades adjacentes. 46 Figura 09 – Área 02 – Regiões nobres da Zona Sul e Zona Oeste do Rio de Janeiro. 46 Quadro 04 – Comparativo entre os valores das tarifas dos motoristas conforme a área e a modalidade do serviço ... 47

Figura 10 – Publicidade do aplicativo Uber na rede social Facebook ... 55

Figura 11 – Publicidade da empresa Uber ... 58

Quadro 05 – Resultados da busca pelo termo uber ... 64

Quadro 06 – Resultados pós-refinamento das buscas ... 65

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

art. artigo

CF Constituição Federal

CLT Consolidação das Leis do Trabalho CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

FHC Fernando Henrique Cardoso

GPS Global Position System

MP Medida Provisória

OIT Organização Internacional do Trabalho

PLR Participação sobre lucros e resultados da empresa

SMS Short Messaging Service

STJ Superior Tribunal de Justiça

TICs Tecnologias de informação e comunicação TJRJ Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TRT Tribunal Regional do Trabalho

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 MODERNIZAÇÃO OU PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO? AS REFORMAS TRABALHISTAS NOS GOVERNOS FHC E TEMER ... 13

1.1 As Reformas Trabalhistas no governo FHC ... 14

1.2 Novas formas de trabalho introduzidas pela Reforma Trabalhista no governo Temer ... 20 2 UBERIZAÇÃO E O NOVO PROLETARIADO DA ERA DIGITAL ... 25

2.1 Crise e Desemprego enquanto ferramentas do Capitalismo ... 25

2.2 Novas Tecnologias e a Plataforma Uber ... 28

2.3 “Motorista parceiro-colaborador” ... 48

3 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL DA CONDIÇÃO DE MOTORISTA DE UBER NO BRASIL ... 59 3.1 Requisitos Legais para formalização do vínculo empregatício ... 60

3.2 Acórdãos nos Tribunais Regionais do Trabalho dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais ... 63

3.2.1 Decisões Favoráveis ao vínculo empregatício ... 66

3.2.2 Decisões Desfavoráveis ao vínculo empregatício ... 69

3.3 Posicionamento do STJ ... 71

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 73

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INTRODUÇÃO

As relações de trabalho estabelecidas pelo homem, ao longo do tempo, passaram por mudanças que refletiam o estado da sociedade de cada época: feudalismo, servidão, o trabalho nos campos, a revolução industrial e o trabalho nas grandes corporações.

Em meados do século XX, o matemático e cientista britânico Alan Turing inventara um artefato que causaria grande impacto na história da humanidade, afetando diretamente a forma com que os indivíduos se comunicam, se integram e se relacionam: o computador, cuja inspiração surge através da evolução de uma máquina decifradora de códigos criada em pleno contexto de segunda guerra mundial.

A ferramenta de estratégia bélica de Turing se tornaria, em tempos posteriores, um dos principais veículos para o surgimento da maior tecnologia de informação e comunicação da atualidade: a internet, capaz de conectar máquinas, indivíduos, serviços e organizações por todo o globo em frações de segundo.

Através desta tecnologia, o mercado econômico capitalista mundial pode se desenvolver a níveis nunca antes imaginados, onde o fenômeno da globalização potencializou o surgimento de novos setores da indústria.

O fim da década de 1970 é marcado pela criação de um novo conceito de utilização desta tecnologia que, até então, possuía o como único mercado as grandes indústrias, corporações e órgãos governamentais: o computador pessoal, amplamente difundido pelo magnata Steve Jobs, que aproximou o público geral de ferramentas primariamente técnicas que, sob uma repaginação e conceitualização de novas funcionalidades, passaram a integrar o cotidiano de cada indivíduo na sociedade.

A popularização do acesso à conexão de internet e dos produtos tecnológicos no século XXI, introduziu um novo ambiente virtual acompanhado de novas formas de interação social, como o sucesso da criação das redes sociais, tornando os indivíduos cada vez mais dependentes das relações estabelecidas pelo meio virtual.

Esta nova era digital é marcada pela mobilidade, transformando aparelhos celulares, antes utilizados exclusivamente para comunicação através de chamadas telefônicas, em dispositivos móveis inteligentes, como os smartphones, tablets e smatwatches.

Os novos aparelhos inteligentes possibilitaram a criação da indústria dos aplicativos, capazes de oferecer novas formas de contratação de serviços, desde a compra e aquisição de produtos até serviços de limpeza e cuidado animal.

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Nesse novo cenário, os serviços de transporte individual de pessoas sofreram grande transformação, onde o corriqueiro ato de aguardar um táxi em um ponto foi substituído por alguns toques na tela de um aplicativo de smartphone. Essa nova proposta de serviço de mobilidade urbana foi popularmente introduzida pela empresa Uber em 2010, conquistando milhões de usuários e motoristas ao redor de diversos países do mundo.

Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo analisar os impactos das transformações das relações de trabalho da plataforma Uber no Brasil, apresentando o controverso ambiente de trabalho criado para os chamados motoristas parceiros.

O primeiro capítulo deste trabalho é dedicado a realizar uma breve revisão histórica sobre as reformas do direito do trabalho introduzidas pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer em combate às conquistas instrumentalizadas pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, criada na era Vargas em 1943, demonstrando as práticas de flexibilização das garantias trabalhistas promovidas pela Constituição Federal de 1988.

A partir de uma abordagem crítica, a primeira parte do segundo capítulo introduz os mecanismos de utilização da crise econômica e, consequentemente do desemprego, como ferramentas para a precarização dos direitos trabalhistas, gerando um falso estado de necessidade-possibilidade, submetendo os trabalhadores a qualquer relação de emprego. A segunda parte do referido capítulo traz um extenso material sobre o funcionamento prático da plataforma Uber, expondo detalhadamente o modo de operacionalidade da ferramenta, viabilizada por meio da pesquisa exploratória dos aplicativos para passageiros e motoristas, apresentação de interfaces destes aplicativos, exposição das particulares das funções disponibilizadas aos condutores e usuários e demonstração dos métodos obscuros de remuneração dos “motoristas parceiros” na empresa.

Sob a leitura fundamentada nos conceitos desenvolvidos pelo filósofo Karl Marx e aprofundados pelos sociólogos Giovanni Alves e Ricardo Antunes, a terceira parte do segundo capítulo consiste na análise crítica da terminologia de “motorista parceiro” da plataforma e suas implicações exploratórias e denegatórias de direitos trabalhistas, revelando as técnicas sofisticadas neoliberais de uso da ideologia da independência e empreendedorismo pessoal para afastar os motoristas da ideia de trabalhadores.

Por fim, o terceiro e último capítulo do trabalho traz a visão do Poder Judiciário em face a demanda pelo reconhecimento do vínculo trabalhista dos motoristas, a partir da análise dos acórdãos proferidos pelos tribunais regionais do trabalho de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, bem como o recente entendimento do STJ sobre a matéria.

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1 MODERNIZAÇÃO OU PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO? AS REFORMAS TRABALHISTAS NOS GOVERNOS FHC E TEMER

O movimento operário nacional, já nas primeiras décadas do Século XX, reivindicava por uma legislação que fosse capaz de garantir os direitos mínimos do trabalho, como férias e redução da jornada de trabalho, liderando a notória Greve Geral de 1917, cujo efeito por parte da República Velha – também chamada de República Café com Leite, se deu através da brutal repressão aos trabalhadores pelo até então governo liderado pelo agronegócio mineiro e paulistano (ANTUNES, 2006, p. 85).

A denominada Era Vargas, iniciada em 1930 pelo ex-presidente Getúlio Vargas no Brasil, impactou significativamente as relações de trabalho no cenário nacional através da regulamentação e formalização de direitos, garantias e obrigações para trabalhadores e empregadoras (ABU-EL-HAJ, 2005, p. 35).

O modelo político nacionalista de Getúlio, responsável por protagonizar, dentre outras conquistas, o desenvolvimento e a consequente potencialização da indústria no Brasil, necessitava de uma nova maneira de se relacionar com a classe trabalhadora nacional, até então marginalizada e distante da agenda do Estado, para efetivar a transformação do universo nacional agrário-exportador (centrado nas oligarquias cafeeiras) ao novo ecossistema urbano-industrial (ANTUNES, op. cit., p. 84-85).

O instrumento normativo materializador da proposta de regulamentação do trabalho no governo getulista foi a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, promulgada em primeiro de maio de 1943 por meio do Decreto-Lei n. 5243, atendendo algumas das principais reinvindicações dos trabalhadores urbanos, como direitos individuais e coletivos, estabelecendo-se como um instrumento de compromisso do Estado com a nova faixa trabalhadora emergente na sociedade brasileira, o proletariado urbano (FRAGA et al, 2013, p. 232-233).

Contudo, desde a promulgação da legislação trabalhista brasileira pioneira, inúmeras foram as políticas dos governos sucessores que visaram a redução dos direitos fundamentais trazidos pela CLT, utilizando como principal motivação a suposta necessidade de adaptação da legislação ao cenário mundial de globalização econômica.

O discurso da modernização das leis de trabalho, portanto, é por diversas vezes utilizado como véu para obscurecer as práticas de precarização dos direitos trabalhistas que permeiam os governos cujas defesas se pautam, necessariamente, nas medidas de enfrentamento de crise e ampliação dos postos de trabalho.

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Os reflexos demonstram que tais práticas de flexibilização de direitos funcionam, portanto, como mecanismos de redução dos direitos sociais e trabalhistas conquistados, ambos alvos de combate incessável por meio de políticas neoliberais, sob a justificativa do Estado mínimo e livre mercado (GALVÃO, 2007, p. 2).

1.1 As Reformas Trabalhistas no governo FHC

O governo do ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso – popularmente conhecido pela sigla FHC, cuja extensão se deu em dois mandatos legislativos quadrienais entre os anos de 1995 a 2002, marcou um intenso período nacional de reformas na legislação trabalhista e, consequentemente, prejuízos nas conquistas da Era Vargas.

O compromisso do governo de Fernando Henrique Cardoso, filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, um dos representantes da direita liberal no cenário brasileiro, consistia na narrativa de modernização da economia brasileira, sendo necessário, para tal objetivo, adequações nas legislações trabalhistas, principalmente na CLT.

Este movimento governamental de adequação das normas trabalhistas deve ser cuidadosamente analisado, tendo em vista que as conquistas ora garantidas na Era Vargas estiveram sob ameaça por parte da flexibilização da legislação do trabalho em prol de um anseio de modernização e globalização da economia nacional, especialmente em face dos direitos individuais dos trabalhadores.

Ainda na condição de candidato, o então ex-chefe do Poder Executivo – através de seu Plano de Governo – assumiu compromissos com uma suposta compatibilização do “princípio da livre negociação com a garantia dos direitos fundamentais dos trabalhadores” (CARDOSO, 1994, p. 135-136), visando promover uma reforma nos direitos individuais em, principalmente, coletivos de trabalho, como modificações na estrutura sindical, visando tornar possível o que chamou de Contrato Coletivo de Trabalho.

No entanto, durante o exercício dos dois mandatos, o governo colocou em segundo plano as pautas dos direitos coletivos e atuou diretamente no desmonte aos direitos individuais trabalhistas, conferindo-os o rótulo de privilégios para certas categorias, sob a justificativa que estas garantias dificultavam o desenvolvimento e o aquecimento da economia nacional (GALVÃO, 2003, p. 227).

Nos três primeiros anos de governo, Fernando Henrique Cardoso direcionou esforços voltados a outras áreas, como reformas administrativas e previdenciárias, tendo em vista dois grandes aspectos: a) a urgência de mudanças nestes setores para atender as diretrizes ordenadas

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pelas grandes corporações; b) as facilidades que o empresariado encontrava em violar os direitos trabalhistas sem que sofresse grandes consequências ou punições, reduzindo a necessidade de priorização das reformas no âmbito do trabalho.

Desta forma, as reformas trabalhistas produzidas por FHC ocorreram de forma gradual, inicialmente através da proposição de Medidas Provisórias, que podem ser definidas como instrumentos jurídicos com força de lei que o Presidente da República pode utilizar para solucionar questões que possuam urgência e relevância (LENZA, 2011, p. 2), conforme dispõe o art. 62 da Constituição Federal de 1988.

A justificativa de privilégios não configura-se como as única estratégia da lógica neoliberal para a retirada de direitos postos e a consequente precarização do trabalho: o aumento do cenário de desemprego e a deterioração dos indicadores socioeconômicos, contribuem diretamente como ferramentas que legitimam as ações de desmonte de direitos por parte do governo, sob a ótica de que os direitos trabalhistas impedem a geração de empregos (GALVÃO, 2003, p. 233).

Portanto, visando promover uma resposta às elevadas taxas de ausência de trabalhadores empregados no Brasil, o governo FHC implementa uma espécie de “pacote antidesemprego” como espécie de resposta ao cenário de amplo desemprego nacional, ampliando o número de reformas na legislação trabalhista.

Ao verificar as ações de flexibilização e precarização dos direitos trabalhistas efetuadas no período FHC, é possível destacar três grandes eixos centrais na ruptura das conquistas da Era Vargas: as reformas no salário, na jornada de trabalho e no direito coletivo dos trabalhadores.

Sob a promessa de fomentar os diversos setores da indústria e ampliar as contratações, o governo de Fernando Henrique Cardoso comprometeu-se com uma política de desvalorização salarial (KREIN, 2004, p. 282-287), onde o Estado se abdicaria do seu dever de garantir o regular reajuste dos salários dos trabalhadores, essencial para a garantia da subsistência das famílias que dependem exclusivamente desta remuneração, visando estabelecer uma descentralização e autonomização para que as partes integrantes da relação trabalhista, empregados e empregadores, negociassem os aumentos sem a tutela estatal.

A concretização desta política governamental se deu através do aproveitamento de um instrumento jurídico que havia sido criado no final do governo de Itamar Franco, em dezembro de 1994, por meio da Medida Provisória de nº 794, reeditada por FHC em janeiro de 1995 na MP 860: a chamada PLR – participação sobre lucros e resultados da empresa.

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Essencialmente, a PLR era explicada pelo governo como uma forma de trazer aos empregados uma espécie de bonificação pecuniária, para que estes pudessem obter uma parte dos lucros obtidos pelas empregadoras.

Contudo, tal verba, além de ser livremente negociada entre as partes, esta não se incorpora ao salário do empregado, ou seja, não gera reflexos para fins de férias e décimo terceiro salário, sendo utilizada, portanto, como ferramenta para desmantelar a política de valorização salarial, substituindo o dever do Estado em garantir que haja efetivo aumento e reajuste no salário dos trabalhadores por uma bonificação que não se incorporaria ao salário dos empregados, trazendo prejuízos à curto, médio e longo prazo nos principais direitos constitucionais trabalhistas de férias e décimo terceiro salário, onde o trabalhador certamente seria desfalcado pela ausência da PLR ou de reflexos de um salário digno.

Como mecanismo de apoio ao fim da política de reajuste salarial por meio do Estado, a Medida Provisória nº 1.053 de 30 de junho de 1995, popularmente conhecida como Plano Real, estabeleceu a desindexação do salário, estabelecendo que o reajuste seria efetuado por meio de livre negociação coletiva, conforme dispõe o art. 10 do texto legal (DAL MOLIN, 2011, p. 164), sendo tal condição alarmante para as condições de vida dos trabalhadores, tendo em vista que o instrumento normativo retirou a vinculação do salário a qualquer índice de reposição da inflação, proibindo cláusulas que estabelecessem o reajuste automático de salários (KREIN, 2004, p. 283).

A progressividade das reformas trabalhistas no governo FHC também obteve como um dos seus marcos iniciais os conflitos sobre a Convenção de nº 158 da OIT, cuja eficácia no território nacional se deu a partir da promulgação do Decreto n. 1.855, de 10 de abril de 1996, oficializando a sua ratificação.

Durante o final do ano de 1996, a Convenção – que dentre várias cláusulas, possuía como destaque a restrição do poder de dispensa dos trabalhadores pelas empresas, exigindo que a empregadora justificasse a razão pela qual efetuará a rescisão do contrato, apresentando ainda recursos aos trabalhadores para possível reversão da dispensa caso esta não fosse devidamente fundamentada – fora denunciada pelo Presidente da República através da promulgação do Decreto n. 2.100, perdendo efeitos após somente oito meses da vigência, removendo este instrumento que possibilitaria a redução da rotatividade dos trabalhadores nas empresas e aumento da manutenção do emprego, indispensável para a subsistência.

CONVENÇÃO 158 DA OIT – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

(19)

[...]

Art. 4 - Não se dará término à relação de trabalho de um trabalhador a

menos

que exista para isso uma causa justificada relacionada com sua capacidade

ou seu comportamento ou baseada nas necessidades de funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço.

Art. 5 - Entre os motivos que não constituirão causa justificada para o término da relação de trabalho constam os seguintes:

a) a filiação a um sindicato ou a participação em atividades sindicais fora das horas de trabalho ou, com o consentimento do empregador, durante as horas de trabalho;

b) ser candidato a representante dos trabalhadores ou atuar ou ter atuado nessa qualidade;

c) apresentar uma queixa ou participar de um procedimento estabelecido

contra um empregador por supostas violações de leis ou regulamentos, ou

recorrer perante as autoridades administrativas competentes;

d) a raça, a cor, o sexo, o estado civil, as responsabilidades familiares, a

gravidez, a religião, as opiniões políticas, ascendência nacional ou a origem

social;

e) a ausência do trabalho durante a licença-maternidade. [...] (OIT, 1982, p. 3-4) grifo nosso.

O segundo grande eixo de reformas na legislação trabalhista trata sobre as alterações na jornada de trabalho, onde a remuneração pelo tempo do empregado à disposição da empresa constitui-se como um gasto que precisa ser otimizado para que se obtenha mais lucro, sempre com a roupagem governamental de “política de fomento” da indústria.

As empresas em ritmo acelerado de crescimento anseiam, cada vez mais, por maior extração da mão de obra do trabalhador a fim de que este seja maximamente aproveitado pelo capital ao menor custo possível, desejo este que é freado na legislação nacional através de garantias constitucionais, como o estabelecimento da jornada de trabalho de oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, prevista na Constituição Federal de 1988.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

[...]

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e

quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a

redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. (BRASIL, 1988) grifo nosso.

(20)

Prevendo a possível ocorrência de momentos onde o trabalhador seria demandado a ultrapassar esta jornada de oito horas diárias na empresa, a Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 59, o trabalho extraordinário, onde a duração do trabalho poderia ser excepcionalmente ampliada, mediante contraprestação pecuniária por parte da empresa, através da remuneração das horas excedentes trabalhadas.

A redação original do parágrafo segundo do referido artigo 59 da CLT previa uma espécie de compensação de horas extras efetuadas sem que houvesse o acréscimo no salário, desde que tais horas fossem abatidas em outro dia de trabalho durante a mesma semana, de maneira a limitar que o funcionário não excedesse a carga horária semanal de quarenta e quatro horas.

Contudo, através da Lei 9.601/98, dentre outras disposições, o governo efetuou a criação de banco de horas, alterando a redação do art. 59, parágrafo segundo da CLT e adicionando o parágrafo terceiro, para que as horas além da jornada principal de trabalho pudessem ser compensadas com folgas ou redução de jornada em até cento e vinte dias após serem trabalhadas, tornando possível que trabalhadores ultrapassassem a jornada semanal constitucional de quarenta e quatro horas, diminuindo principalmente o gasto do empresariado com horas extras e, consequentemente, ampliando a possibilidade da utilização de jornada extraordinária dos trabalhadores pelas empresas sem quaisquer preocupações, fazendo com que o proletariado permaneça ainda mais tempo no trabalho.

Consequentemente, por intermédio da Medida Provisória nº 1.709/98, o período para a compensação das horas acumuladas no banco de horas aumentou de cento e vinte dias para um ano, fazendo com que o trabalhador, além de não receber em dinheiro o trabalho excepcional desempenhado, permaneça trabalhando por mais tempo em regime de jornada extraordinária sem que possa repousar por meio horas extras acumuladas.

Quadro 01. Comparativo entre as reformas do art. 59, §2º da CLT

Texto Original Lei 9.601/98 MP 1.709/98

Compensação das Horas Extras

Durante a semana da realização

Até 120 (cento e vinte) dias após a realização

Até 01 (um) ano após a realização Permite

ultrapassar 44 horas semanais

Não Sim Sim

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Desta forma, a criação do banco de horas traz para a intensa realidade dos trabalhadores um novo mecanismo que serve prioritariamente aos anseios das empresas, tendo em vista que o fator principal que limitaria o desejo do empresariado pela utilização da força de trabalho excepcional, o dinheiro, seria substituído por uma alternativa muito menos custosa, aumentando a frequência do uso da excepcionalidade e, consequentemente, fazendo com que as horas extraordinárias se tornassem comuns, transformando a exceção em regra.

Os reflexos do aumento da jornada de trabalho são potencialmente danosos à saúde do trabalhador, provocando não só o relevante risco a sofrerem acidentes do trabalho devido ao cansaço pelo labor exaustivo, bem como a propensão a sofrerem complicações através de doenças cardiovasculares, podendo levar à morte (MEDEIROS, 2018, p. 177).

Por fim, o terceiro eixo temático das alterações do FHC se deu através dos direitos coletivos do trabalho, ou seja, dos direitos provenientes das relações de negociação coletiva e conflitos dos trabalhadores com empregadores, historicamente mediado e representado pelas organizações sindicais (LEITE, 2018, p. 646).

No triênio inicial do governo, verificou-se a presença de instrumentos que reduzissem o poder de atuação do Ministério do Trabalho, órgão fundamental para a fiscalização dos direitos trabalhistas no setor da fiscalização, impedindo com que fossem operacionalizadas ações contra empresas que violassem dispositivos da CLT caso tais ilegalidades estivessem validadas em cláusulas contratuais obtidas pela empresa por meio de negociação coletiva sindical – através da Portaria 865/95, abrindo a precedência para o chamado negociado sobre legislado1.

Port. MTE 865/95

Portaria MINISTRO DE ESTADO DO TRABALHO E EMPREGO nº 865 de 14.09.1995

[...] Resolve:

1 O conceito de negociado sobre legislado consiste em prevalecer as condições ajustadas entre trabalhadores e

empregadores, por intermédio (ou não) da força sindical, sobre a legislação. Desta forma, as cláusulas negociadas entre as partes produziriam maior força sobre a própria Lei.

Para mais, ver: SOUTO, Valdete Severo. O negociado sobre o legislado. ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, 2015. Disponível em: < https://www.anamatra.org.br/artigos/1107-o-negociado-sobre-o-legislado>. Acesso em: 20 out. 2019.

(22)

Art. 1º - As Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho, bem como seus respectivos aditamentos, nos termos dos arts. 614 e 615 da Consolidação das Leis do Trabalho, serão recebidos pelo Ministério do Trabalho, através de suas unidades competentes, para fins exclusivamente de depósito, vedada a

apreciação do mérito e dispensada sua publicação no Diário Oficial.

(BRASIL, 1995) grifo nosso.

A referida portaria visa utilizar a chancela da negociação entre as partes como instrumento de importante superioridade, tendo em vista o estabelecimento de norma que a autoriza a violação de dispositivos de uma Lei Federal, como é o caso da Consolidação das Leis do Trabalho, em favor do respeito à livre negociação entre as partes, mesmo que o fruto desta liberdade implique em detrimento de direitos constitucionais trabalhistas.

Ademais, a limitação da atuação do Ministério do Trabalho consistiu em ferramenta clara de perpetuação da violação dos direitos trabalhistas, tendo em vista que uma das maiores vertentes de atuação do órgão ocorria na fiscalização do cumprimento das leis trabalhistas, autorizando, portanto, com que a ilegalidades fossem permitidas em prol de uma suposta valorização da autonomia da vontade das partes, que encontrava somente restrição por meio da Medida Provisória de nº 1.620 de 1998, reeditada sucessivamente, impedindo que tais acordos pudessem ter validade superior ao estabelecido, mesmo que as partes se encontrem em período de negociação, revogando a Lei 8.542/92 (DAL MOLIN, 2011, p. 166).

1.2 Novas formas de trabalho introduzidas pela Reforma Trabalhista do governo Temer

O ex-presidente interino2 Michel Miguel Elias Temer Lulia, popularmente conhecido como Michel Temer, exerceu o cargo de Presidente da República durante o breve período de 31 de agosto de 2016 à 01 de janeiro de 2019, assumindo a chefia do Poder Executivo logo após ao conturbado processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, democraticamente reeleita pela maioria dos brasileiros em 2014, ao qual era vice-presidente.

Em meio ao caos provocado pelo afastamento da ex-presidente, o governo Temer estabelece no Brasil uma forte agenda neoliberal com objetivos de contornos definidos: a

2 O termo presidente interino é utilizado para categorizar indivíduo que ocupa temporariamente o cargo de

Presidente da República, condição esta originária de fato proveniente da transição de poder do presidente primariamente eleito, que ocupava anteriormente a chefia do Poder Executivo.

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privatização das estatais, a preservação da elite burguesa brasileira e finalmente, a degradação dos direitos trabalhistas (ANTUNES, 2018, p. 299), sendo responsável pela maior precarização trabalhista já produzida desde a Era Vargas e a CLT, em 1943.

A Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, nomeada de Reforma Trabalhista, iniciou sua tramitação na Câmara dos Deputados em 23 de dezembro de 2016 pelo Poder Executivo, tramitou em tempo notoriamente acelerado, obtendo aprovação em meados do ano seguinte no Senado Federal somente após 07 (sete) meses de tramitação entre as casas do Congresso.

As informações detalhadas sobre a velocidade e o contexto histórico de ascensão do neoliberalismo brasileiro por meio do contraditório governo interino de Temer consistem em fundamentos necessários para compreender a voracidade da nova legislação, que anulou conquistas significativas dos direitos dos trabalhadores, promovendo uma drástica ruptura cujo lema era a modernização das relações de trabalho.

Assim como no governo de Fernando Henrique Cardoso, a reforma ocorreu sob cenário político conturbado – ainda que FHC não tenha vivo um golpe na democracia como se vivenciou em tempos recentes – sob a justificativa máxima de que o avanço socioeconômico nacional necessário para o enfrentamento da crise geradora de altos níveis de desemprego depende necessariamente da “modernização” (vulgo precarização) da legislação do trabalho.

Através desta ótica de modernizar as relações de trabalho, a Reforma Trabalhista introduziu novas formas de trabalho dissociadas do tradicional contrato de trabalho por tempo indeterminado3: o teletrabalho e o contrato de trabalho intermitente.

O teletrabalho consiste em um novo regime de trabalho, onde o local de prestação de serviços não ocorre no estabelecimento físico de uma tradicional empresa, mas de forma externa e conectada ao empregador através de tecnologias de comunicação, como a internet.

É necessário destacar que o teletrabalho não se limita ao ambiente domiciliar, tendo em vista que não há exigência de determinação de local para o exercício do trabalho, podendo este ser qualquer lugar externo às dependências da empresa, observando que estes trabalhos serão prestados em ambiente virtual (LEITE, 2018, p. 198).

A redação do art. 75 da Consolidação das Leis do Trabalho passou a ter uma nova seção A, tratando das particularidades do contrato de teletrabalho.

3 Em regra geral, os contratos de trabalho regidos pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho são por tempo

indeterminado, ou seja, ele inicia entre trabalhador e empresa em uma determinada data, mas não possui prazo pré-estabelecido para que se encerre.

Sobre o tema, ver: LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 381.

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Art. 75-A. A prestação de serviços pelo empregado em regime de teletrabalho observará o disposto neste Capítulo.

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador para a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho.’

Art. 75-C. A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho, que especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado.

§ 1º Poderá ser realizada a alteração entre regime presencial e de teletrabalho desde que haja mútuo acordo entre as partes, registrado em aditivo contratual. § 2º Poderá ser realizada a alteração do regime de teletrabalho para o presencial por determinação do empregador, garantido prazo de transição mínimo de quinze dias, com correspondente registro em aditivo contratual.’ Art. 75-D. As disposições relativas à responsabilidade pela aquisição, manutenção ou fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e adequada à prestação do trabalho remoto, bem como ao reembolso de despesas arcadas pelo empregado, serão previstas em contrato escrito.

Parágrafo único. As utilidades mencionadas no caput deste artigo não integram a remuneração do empregado.’

Art. 75-E. O empregador deverá instruir os empregados, de maneira expressa e ostensiva, quanto às precauções a tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho.

Parágrafo único. O empregado deverá assinar termo de responsabilidade comprometendo-se a seguir as instruções fornecidas pelo empregador. (BRASIL, 2017)

A presença dominante de tecnologia nesta forma de trabalho traz consigo novas possibilidade para o exercício da subordinação jurídica por parte das empresas: o controle dos trabalhadores pode ser efetuado através de câmeras, sistemas onde são registradas a entrada (login) e saída (logoff) de usuários, chamadas telefônicas por meio da internet, videoconferências online e diversos outros recursos adaptados para garantir o controle das atividades prestadas pelos trabalhadores virtualmente (LEITE, 2018, p. 198).

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Sob o mesmo cenário de inovações trazidas pela Lei 13.467/2017, surge no ordenamento jurídico brasileiro o contrato de trabalho intermitente, introduzido através da alteração da redação do art. 443, bem como da inserção do novo artigo 452-A.

Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados do estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou não.

§ 1º O empregador convocará, por qualquer meio de comunicação eficaz, para a prestação de serviços, informando qual será a jornada, com, pelo menos, três dias corridos de antecedência.

§ 2º Recebida a convocação, o empregado terá o prazo de um dia útil para responder ao chamado, presumindo-se, no silêncio, a recusa.

§ 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do contrato de trabalho intermitente.

§ 4º Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte que descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50% (cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em igual prazo.

§ 5º O período de inatividade não será considerado tempo à disposição do empregador, podendo o trabalhador prestar serviços a outros contratantes. § 6º Ao final de cada período de prestação de serviço, o empregado receberá o pagamento imediato das seguintes parcelas:

I - remuneração;

II - férias proporcionais com acréscimo de um terço; III - décimo terceiro salário proporcional;

IV - repouso semanal remunerado; e V - adicionais legais.

§ 7º O recibo de pagamento deverá conter a discriminação dos valores pagos relativos a cada uma das parcelas referidas no § 6º deste artigo.

§ 8º O empregador efetuará o recolhimento da contribuição previdenciária e o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, na forma da lei, com base nos valores pagos no período mensal e fornecerá ao empregado comprovante do cumprimento dessas obrigações.

§ 9º A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir, nos doze meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado para prestar serviços pelo mesmo empregador.

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Este novo tipo de contrato de trabalho consiste na prestação de serviços pelo trabalhador através de períodos de alternância de atividade e inatividade, onde este será proporcionalmente remunerado pelo serviço que prestar a uma empresa, seja através do pagamento dos meses, dias e/ou até das horas trabalhadas, condicionando o trabalhador à um período de espera onde este poderá permanecer sem efetivamente trabalhar durante horas, dias e até meses, conforme acordarem as partes (LEITE, 2018, p. 395).

A ideia central neste contrato de trabalho é que a força de trabalho de um indivíduo seja unicamente extraída quando for cômodo para o empregador, observando que as empresas que estabelecerem contratos serão responsáveis pela convocação destes trabalhadores quando lhe houver conveniência, não havendo estipulação de prazo para que este seja rescindido.

A verificação da chamada modernização das relações de trabalho podem ser claramente observada neste novo tipo de contrato: os direitos conquistados cedem lugar ao mundo moderno precarizado, que se utiliza da falácia de ter uma legislação defasada da década de quarenta, como a CLT, para inserir a legalização de novas formas de exploração do trabalhador, deixando-o à mercê da conveniência do mercado capitalista.

Sob tal ótica, portanto, as empresas se utilizam nada mais do que a apropriação do bico, termo popular que define trabalhos esporádicos sem qualquer garantia de frequência ou habitualidade, trazendo para a realidade empresarial um excelente negócio de demandas específicas, onde o mero compromisso formal do contrato não onera minimamente as empresas, mas deixa o trabalhador ao relento sem saber quando obterá trabalho novamente.

Pensar na relação de obtenção do salário no trabalhador intermitente significa dizer que um indivíduo que for submetido à versão brasileira do britânico zero-hour contract poderá se encontrar em cenários onde necessitará exercer suas atividades em diversas empresas, sem estabelecer vínculos com nenhum dos trabalhadores, possuir múltiplos contratos de trabalho em sua carteira, para que desta forma, ao final do mês, possa concretizar o salário mínimo, caso consiga ter sorte de conseguir trabalhar durante todos os dias da semana alternando entre diversas empresas.

A formalização deste instituto traz consigo a coisificação do trabalhador, que nada mais servirá do que um mero produto com capacidade de executar determinadas tarefas sempre que for necessário e conveniente para o empresariado, podendo ser descartado a qualquer momento sem que haja impacto para a empresa, violando diretamente os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da função social da empresa e do valor do trabalho, como elucida Leite (2018, p. 397).

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2 UBERIZAÇÃO E O NOVO PROLETARIADO DA ERA DIGITAL

O surgimento de novas tecnologias de comunicação, como a telefonia e, recentemente, a internet, modifica diariamente a maneira com que os diferentes setores da sociedade se relacionam, permitindo com que pessoas se conectem em frações de segundo mesmo estando a milhares de quilômetros de distância umas das outras.

Desta forma, ilógico seria pensar que tais tecnologias de informação e comunicação, conhecidas pelo termo TICs, não influenciaram nas novas formas de organização do capital em meio a nova era digital e o consequente impacto no mundo do trabalho, construindo modernas e precarizadas relações de exploração do trabalhador moderno.

Contraditoriamente, os mitos criados em torno do avanço tecnológico apresentavam uma esperançosa narrativa, onde as novas descobertas científicas, as novas formas de comunicação e as inovações tecnológicas refletiriam em excelentes e confortáveis novos tipos de trabalho, por meio digital, on-line, trazendo benesses aos trabalhadores (ANTUNES, 2018, p. 24).

No entanto, a fantasia de que o novo mundo digital das grandes produções de ficção científica traria esperança e felicidade aos trabalhadores, encontra em sua tentativa de realização a maior das frustrações: o capitalismo global.

A voracidade do capital nas relações de economia e trabalho encontrara na tecnologia o seu novo combustível para a sofisticação da exploração da mão de obra no mundo globalizado, a ferramenta ideal para potencializar a obtenção máxima de lucro.

As tecnologias do imaginário de felicidade são transformadas em avançadas ferramentas de obtenção de lucro, extração maximizada da força de trabalho e aumento exponencial da mais-valia e, consequentemente, a marginalização dos trabalhadores com finalidade de baratear a mão de obra cada vez mais, criando o novo proletariado da era digital.

2.1 Crise e Desemprego enquanto ferramentas do Capitalismo

A lógica de organização capitalista em tempos de globalização, onde o avanço em prol da maximização da obtenção do lucro colide com as crises mundiais econômicas, produz na sociedade uma massa de proletários supérfluos, classificados como excedentes às necessidades de aproveitamento de acumulação do capital (ALVES, 2009, p. 158).

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Com a finalidade de reduzir custos e aproveitar de forma potencializada a mão de obra dos trabalhadores restantes, as grandes empresas realizam uma técnica de racionalização da produção, chamada de downsizing4, um conceito da Administração Empresarial que consiste em efetuar cortes com o objetivo de eliminar a burocracia-coorporativa desnecessária, atingindo principalmente os setores de funcionamento presentes no centro da pirâmide hierárquica das empresas, como gerentes de médio escalão e técnicos com qualificação avançada (ALVES, 2009, p. 158).

Através desta política de cortes que torna mais “enxuto” o quadro de funcionários das empresas, o empresariado busca não somente reduzir gastos na produção, mas também demonstrar aos grandes investidores do mercado financeiro, que estes buscam o aperfeiçoamento da gestão, a fim de buscar mais lucros e melhores resultados líquidos.

Após um intenso período de utilização exacerbada de práticas de downsizing na década de 1990, especialmente na economia norte-americana, observa-se que a técnica que incialmente poderia ser vista como um recurso para contornar períodos de recessão se tornou uma atividade recorrente e incorporada pelo capitalismo moderno.

O abuso na utilização destas práticas de cortes viabiliza o chamado desemprego estrutural, onde o proletariado – inclusive aqueles que possuem cargos de maior prestígio na escala hierárquica das empresas – é forçado a buscar formas alternativas para garantir sua subsistência, sendo alvos de uma mercantilização exacerbada, que aproveita e descarta as forças de trabalho quando bem entenderem.

Em meio ao modelo altamente exploratório do capitalismo do século XXI, já não é mais possível comportar neste sistema socioeconômico a quantidade expressiva de indivíduos na cadeia de produção e acumulação de valor. Consequentemente, a agenda de desinteresse desta mão de obra, que torna supérfluos e dispensáveis inúmeros trabalhadores, atinge não somente àqueles pertencentes aos tradicionais extratos do proletariado, mas também inutiliza os

4 As práticas de corte de custo, chamadas de downsizing, possuem particularidades como a adoção de frases

motivacionais, técnicas de eufemismo para efetivar a rescisão dos contratos de trabalho e outras estratégias que omitem o real processo de demissão, se tornando uma prática tão comum pelos profissionais do setor de recursos humanos que torna-se questionável a mecânica da crueldade velada.

Para mais sobre o tema, ver: PILOPAS, Ana Luisa Vieira Pilopas; TONELLI, Maria José. Doces práticas para

matar: demissão e downsizing na perspectiva de demissores e profissionais de recursos humanos. Revista

Organização e Sociedade, v. 14, n. 42. Salvador, 2011. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1984-92302007000300007&script=sci_arttext#back>. Acesso em: 24 out. 2019.

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profissionais com carreiras e cargos de gerência, os chamados “proletários de classe média”, como classificou Alves (2009, p. 159).

Fundamentalmente, o capital possui como essência a criação de valor, atribuindo valores a todos os tipos de coisas e seres, mercantilizando os indivíduos como produtos e coisas, com o propósito de extrair ao máximo a força de trabalho pelo menor valor disponível, como conceitua Marx na obra O Capital (2013, p. 382).

O capital é trabalho morto, que, como um vampiro, vive apenas da sucção de trabalho vivo, e vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga.

O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou do trabalhador. Se este consome seu tempo disponível para si mesmo, ele furta o capitalista.

O capitalista se apoia, portanto, na lei da troca de mercadorias. Como qualquer outro comprador, ele busca tirar o maior proveito possível do valor de uso de sua mercadoria. (MARX, 2013, p. 382).

Sobre a lógica do aperfeiçoamento das práticas do capitalismo, Marx conceitua que s mecanismos de acúmulo de capital, a medida com que se tornam cada vez mais desenvolvidos, tendem a substituir do chamado trabalho vivo – a força de trabalho de cada operário – por trabalho morto, sendo este o próprio capital, podendo ser representados nas relações práticas de trabalho como o maquinário, assim como novas técnicas ideológicas que projetam no proletariado o dever de trabalhar ainda mais por cada vez menos, de ter capacidades de realizar multitarefas, sob pena de desemprego (MARX, 2013, p. 835-958).

Este movimento de substituição da força de trabalho vivo ao trabalho morto do capital, como identificado por Marx, seja ele através das máquinas ou por meio dos cortes de gastos, produz uma grande massa de uma população alheia ao mercado de trabalho, indivíduos excedentes ao funcionalismo, uma “superpopulação relativa” produzida através da precarização do trabalho, que demite trabalhadores para desqualificar a mão de obra, explorar intensamente os trabalhadores restantes e criar uma espécie de exército industrial de reserva (ALVES, 2009, p. 161).

Desta forma, esta superpopulação relativa, que é compreendida pelos trabalhadores renegados ao sistema de produção capitalista, que não mais os utiliza enquanto indivíduos que vendem sua mão de obra e os torna excedentes ao mercado de trabalho, atende a uma função sistêmica: desvalorizar a força de trabalho, ou seja, o trabalho vivo, através da propagação da política-cultural do desemprego, que gera essa massa excedente e marginalizada, cujo olhar da sociedade é refletido em medo e desprezo.

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A força de trabalho, enquanto objeto mercantilizado e precificado, é alvo de constante esforço do capital para que se deprecie exponencialmente, aumentando consequentemente o lucro por parte da sua exploração. Significa dizer, portanto, que desvalorizar a mão de obra representará em menor gasto com esta mercadoria, ampliando a margem de acúmulo de capital extraído pela dominante burguesia.

A produção do medo pelo desemprego reflete diretamente nos trabalhadores, especialmente nos desempregados e integrantes da superpopulação relativa, na necessidade de trabalhar por mais tempo ganhando muito menos, sendo cada vez mais suscetíveis sob qualquer forma de emprego, a qualquer salário, a qualquer condição que consiga garantir o sustento pessoal e de suas famílias, sendo reféns da livre escolha do capitalismo.

2.2 Novas Tecnologias e a Plataforma Uber

As novas formas de tecnologia e comunicação impactaram diretamente nas formas de organização social, trazendo novas criações que modificam a forma com que a população se expressa, seja de forma verbal, escrita ou audiovisual, assim como a maneira com que se relaciona com os seus afetos e desafetos, se manifesta perante aos acontecimentos diários, se informa sobre as transformações da sociedade e, consequentemente, como produz.

A popularização de um dos meios de comunicação predominantes no Brasil e no mundo, a internet, possibilitou a criação de novas ferramentas de integração social, permitindo com que indivíduos pudessem se conectar e desenvolver novas formas de conviver na sociedade moderna.

Os dispositivos de consumo criados pelas grandes empresas de tecnologia mundial, que estão em sua maioria concentradas em sedes na famosa região do Vale do Silício na Califórnia - EUA, como a gigante de cupertino Apple Inc. – responsável pela criação do iPhone, um dos primeiros celulares com o conceito de smartphone , um aparelho celular inteligente que conseguiu a atenção do mercado mundial e se tornou febre em diferentes regiões do planeta (SILVA, 2019), sendo um dos mais vendidos até a atualidade – tornaram-se parte do cotidiano de uma expressiva faixa dos brasileiros.

A criação deste dispositivo móvel inteligente, capaz de executar tarefas como navegar na internet sem a necessidade de utilizar um computador, tirar fotografias e ainda reunir todas as funções básicas de um celular – como calculadora e calendário, despertou a atenção de uma das maiores empresas do ramo tecnológico mundial, a Google LLC, que realizou a criação do sistema operacional móvel mais utilizado no mundo, o Android, que foi o único capaz de

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ultrapassar a marca da Microsoft Corporation – criadora do Windows, o sistema mais utilizado em computadores e notebooks – como sistema operacional mais utilizado globalmente.

Gráfico 01: Participação de Mercado dos Sistemas Operacionais no Mundo

Fonte: GLOBALSTATS, 2019. Elaboração e tradução do autor. Gráfico 02: Comparativo entre plataformas no mercado mundial

Fonte: GLOBALSTATS, 2019. Elaboração e tradução do autor. Android Windows iOS OS X Outros Google LLC 38,13 % Microsoft Corporation 36,34 % Apple Inc. 13,80 % Apple Inc. 6,36 % 5,37 %

Período: Outubro de 2018 à Outubro de 2019

S is te m a s O p e ra ci o n a is

PARTICIPAÇÃO DE MERCADO DOS

SISTEMAS OPERACIONAIS NO MUNDO

Dispositivos móveis Desktop Outros Smartphones e Tablets 52,97 % Computadores e notebooks 46,92 % 0,11 %

Período: Outubro de 2018 à Outubro de 2019

COMPARATIVO ENTRE PLATAFORMAS

NO MERCADO MUNDIAL

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Os dados estatísticos apontam o domínio do uso das plataformas em dispositivos móveis, ou seja, através de smartphones e tablets, sobre os computadores e notebooks, demonstrando que mundialmente a população tende a optar por utilizar celulares e tablets, seja pela praticidade de mobilidade, pela multifuncionalidade de entretenimento ou pelos recursos digitais disponíveis, como jogos, aplicativos e redes sociais.

O fenômeno da globalização gerou que tecnologias, como os smartphones, se tornassem cada vez mais populares e acessíveis, fazendo com que uma grande parte da população mundial possa ter acesso a esses dispositivos e se integrar com as ferramentas presentes neles.

A facilidade do transporte destes produtos, que em sua grande maioria possuem tamanhos que cabem no bolso, fazem com que os indivíduos na sociedade moderna possam se conectar à internet e usufruir de suas tecnologias a qualquer momento e em qualquer lugar, seja em casa, no trabalho, nas ruas, nas escolas, nos bancos, nas universidades: basta que haja um

smartphone e uma conexão de internet para adentrar ao meio digital.

Desenvolveu-se no mundo inteiro a espetacularização para a grande venda em massa destes aparelhos tecnológicos, seja através da hipervalorização destes dispositivos por meio de exuberantes propagandas de recursos atraentes, como câmeras com qualidade de fotografia profissional, desbloqueio através de leitura de impressão digital na própria tela, como pela cultura de dependência do uso de redes sociais para sentir-se indivíduo no mundo, para estar dentro e conectado com ele, refletindo em cenários consumistas exacerbados como no Brasil, onde existem mais smartphones do que habitantes no país, cuja estimativa projeta ultrapassar 420 milhões de aparelhos até o final do ano (MEIRELLES, 2019, p. 23).

Numericamente, verifica-se que o cenário de adoção destas tecnologias por parte da população brasileira é de um fenômeno de grande sucesso, no país que possui não somente mais aparelhos digitais do que indivíduos, mas também é dotado da quinta população que mais utiliza celulares diariamente no mundo inteiro (VALENTE, 2019).

A partir desta nova tecnologia de smartphones, os telefones inteligentes que realizam multitarefas e possuem capacidade de processamento que pode ser equiparada até a computadores avançados, surgem novas ferramentas que utilizam os diversos componentes e sensores dos dispositivos móveis para criar produtos digitais com inovadores, desde

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plataformas que disponibilizam mais de 35 milhões de músicas5 (FERNANDES, 2019), até serviços de aluguel de patinetes elétricos (SOUSA, 2019): instaura-se a era dos aplicativos.

Desta forma, visando desfrutar deste novo universo digital viabilizado através destes pequenos aparelhos formados por fragmentos de plástico, vidro, alumínio e diversos outros componentes, responsável por atrair inúmeros indivíduos a embarcarem nesta nova camada criada dentro de um local virtual, jovens empresas no mercado econômico, conhecidas como

startups, iniciam projetos visando a produção de conteúdo e serviços para uso e consumo

através de meios digitais, criando instrumentos do mundo moderno que modificam drasticamente as relações na sociedade.

Por meio desta febre atrativa tecnológica, surge a empresa Uber Technologies Inc., fundada no ano de 2009 pelos executivos Garrett Camp e Travis Kalanick, cuja ideia de criação surgiu em dezembro de 2008, quando os criadores não conseguiram encontrar um táxi em uma noite de inverno na cidade de Paris e acabaram por gastar 800 dólares com serviço de transporte particular (SHONTELL, 2014).

O aplicativo consiste, essencialmente, em uma plataforma digital, que opera por meio de aplicativo para dispositivos móveis, como smartphones e tablets, responsável por interligar indivíduos que desejam se locomover para determinados lugares, chamados de usuários, a motoristas que dirigem carros particulares e recebem as demandas das corridas através de um aplicativo, recebendo por cada corrida efetuada.

Inicialmente, os empresários desenvolveram no ano de 2010 um aplicativo chamado de

UberCab, cujo público alvo se concentrava em empresários e executivos do alto escalão da

cidade de São Francisco - EUA, que solicitavam as viagens por meio do aplicativo e eram atendidos por motoristas que dirigiam automóveis de alto padrão, como modelos de luxo das empresas Mercedes-Benz e Lincoln Motor Company (RAO, 2011).

Os resultados iniciais do aplicativo, que custava em torno de 50% (cinquenta por cento) mais caro do que os táxis tradicionais, atraiu o público geral e o mercado financeiro pela facilidade de uso que proporcionava aos interessados em fazer viagens, sendo necessário poucos toques para solicitar um veículo, o que possibilitando a expansão para outras cidades dos Estados Unidos, como Nova Iorque e Chicago (HARTMANS, LESKIN, 2019).

5 Criado em 2008, o serviço de reprodução musical por meio da internet Spotify tornou-se um dos mais populares

mundialmente, disponibilizando mais de 35 milhões de músicas, podcasts e audiolivros que podem ser acessados pelos usuários por meio de aplicativos para Android, iOS, Windows, Mac OSX e também pelo website online.

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Poucos meses após a estreia de sucesso do aplicativo UberCab, em outubro de 2010 a empresa estabelece uma parceria com os investidores Jason Calacanis, Chris Sacca e Shawn Fanning, arrecadando mais de 1 (um) milhão de dólares, levando a empresa a alterar o conceito visual e adotar somente o nome de Uber nos meios digitais.

Em fevereiro de 2011, após fechar um novo acordo de financiamento de 11 (onze) milhões de dólares, que trouxe para a direção da companhia o empresário Bill Gurley, a Uber atinge o valor de mercado de 60 milhões de dólares, representando o início de uma série de expansões internacionais da empresa, que no final do mesmo ano iniciara na cidade de Paris, na França, logo após uma nova rodada de investimentos de 32 milhões de dólares, financiada por líderes de grandes empresas, como o fundador e presidente da multinacional Amazon Inc., Jeff Bezos (TSOTSIS, 2011).

Após identificar um grande potencial que a popularização do serviço poderia trazer, em julho de 2012 a empresa inaugura o novo projeto chamado “UberX”, cujo alvo seria na oferta de corridas por preços mais acessíveis – chegando a custar até 35% (trinta e cinco por cento) mais barato do que as viagens com os veículos de luxo, instaurando uma nova fase da empresa, marcada pela chegada não somente nos segmentos mais populares de usuários na sociedade, assim como atraindo motoristas que possuem veículos de baixo custo. Neste período, a plataforma marcou o novo projeto através de uma mudança visual, trazendo os elementos mais sólidos e removendo as características originais, como a fonte e a cor vermelha.

Figura 01: Evolução visual da Uber entre 2009 e 2011

Fonte: FERREIRA, 2016. Adaptado pelo Autor.

Com o ritmo acelerado de expansão, a empresa inicia suas atividades na Índia e nos países do continente africano em agosto de 2013, juntamente à uma nova rodada de investimentos – a maior já recebida pela empresa até então – no valor de 258 (duzentos e cinquenta e oito) milhões de dólares através do departamento de investimentos da Google

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Ventures, atualmente chamada de GV, refletindo na valorização da Uber no mercado

econômico, atingindo a avaliação de $3,76 bilhões de dólares.

A chegada da empresa no Brasil ocorreu em maio de 2014, período que antecedeu ao grande investimento do mercado chinês na companhia, injetando mais de 1,2 bilhões de dólares na empresa, tornando-a expressivamente valiosa no mercado financeiro, ultrapassando outras eminentes empresas do cenário tecnológico, como a chinesa Xiaomi Corporation e a americana

Dropbox Inc., alcançando a avaliação econômica de 17 (dezessete) bilhões de dólares

(LAWLER, 2014).

Iniciando na cidade do Rio de Janeiro em 15 de maio de 2014 e, posteriormente, em São Paulo em 26 de junho de 2014, a estreia do aplicativo Uber no Brasil foi marcada, em estágio primário, com um número pequeno de motoristas que utilizavam carros do seguimento de luxo, sendo a modelo Alessandra Ambrósio a primeira passageira a utilizar os serviços da plataforma em solo brasileiro (G1, 2014).

Inevitavelmente, em um curto período de tempo, iniciaram as comparações entre os preços do quilômetro rodado utilizando o aplicativo Uber e o tradicional serviço particular de táxi, trazendo dados onde o valor cobrado pela nova plataforma online era consideravelmente inferior aos serviços dos taxistas em grandes cidades como o Rio de Janeiro, conforme demonstrado no artigo de Higa (2015) para o site especializado em tecnologia Tecnoblog.

Quadro 02: Comparativo de preços entre Uber e o serviço de táxi comum

no Rio de Janeiro em 2015

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