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1º SEMINÁRIO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS ABRI ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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1º SEMINÁRIO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ABRI – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 12 a 13 de Julho – Brasília – FINATEC

WORKSHOP DOUTORAL

ÁREA TEMÁTICA - POLÍTICA EXTERNA

BRASIL E SUA PARTICIPAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES DE GOVERNANÇA ECONÔMICA GLOBAL: A CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA EXTERNA SMART

POWER

DANIELLE JACON AYRES PINTO

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2 Resumo

A estratégia da política externa brasileira na última década evidencia uma vontade latente de projeção internacional e liderança regional. Todavia, os moldes como essa projeção e liderança foram alicerçados revelam uma modificação nos padrões habituais de influência internacional, onde tradicionalmente se privilegia uma imposição da vontade dos atores mais fortes sobre os mais fracos. Nesse sentindo, este artigo pretende trabalhar a idéia de uma nova forma de liderança e influência internacionais que pode ser analisada através do prisma conceitual do Smart Power, e de como essa nova perspectiva pode ser aplicada na política externa brasileira atual. Assim, se pretende com este artigo analisar a primeira década do século XXI na política externa brasileira voltada para a governança econômica mundial e observar se suas diretrizes visam à construção de um bem público global que produza um ganho absoluto na esfera internacional, analisando também, se esses objetivos refletem uma maior e mais influente inserção internacional do Brasil nos foros e processos decisórios mundiais.

Palavras-chave

Política Externa, Brasil, Smart Power, Governança Econômica Global, Ganhos Absolutos, Instituições econômicas globais.

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3 BRASIL E SUA PARTICIPAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES DE GOVERNANÇA ECONÔMICA GLOBAL: A CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA EXTERNA SMART

POWER

Danielle Jacon Ayres Pinto1 1. Introdução

A estratégia da política externa brasileira na última década evidencia uma vontade latente de projeção internacional e liderança regional. Todavia, os moldes como essa projeção e liderança foram alicerçados revela uma modificação nos padrões clássicos de influência internacional, onde tradicionalmente se privilegia uma imposição da vontade dos atores mais fortes sobre os mais fracos.

Nesse sentindo, este artigo pretende trabalhar a idéia de uma nova forma de liderança e influência internacionais que pode ser analisada através do prisma conceitual do smart power criado pelo autor Joseph Nye Jr, e de como essa nova perspectiva pode ser aplicada na política externa brasileira atual.

Faz-se necessário ressaltar que o intuito deste trabalho não é privilegiar a política externa de um governo sobre outro. Mas sim, compreender os caminhos traçados pela política externa brasileira na última década, e entender se seus alicerces foram construídos em bases diferentes da percepção realista de ganhos relativos e imposição da vontade dos países tradicionalmente conhecidos como hegemônicos e líderes mundiais.

Deste modo, pensar a estratégia da política externa brasileira na última década, mas do que um exercício de análise dos fatos da realidade passa por um repensar das teorias das relações internacionais e de como os Estados, principais atores no cenário internacional, adaptaram suas ações para alcançar seus objetivos políticos, econômicos e, também, militares.

2. Smart power: uma nova dinâmica de poder nas relações internacionais Um primeiro conceito importante a se debater quando se fala em política externa é a construção do poder do Estado, e de como a projeção deste poder representa uma importante ferramenta para se conseguir uma influência e relevância

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4 internacional. Logo, poder vai estar diretamente relacionado com o conceito de hegemonia. De acordo com o cientista político Norberto Bobbio, o conceito clássico de hegemonia pode ser entendido como:

A potência hegemônica que exerce sobre as demais uma preeminência não só militar, como também frequentemente econômica e cultural, inspirando-lhes e condicionando-lhes as opções, tanto por força do seu prestígio como em virtude do seu elevado potencial de intimidação e coerção. (BOBBIO ET AL., 1998, p.579)

Complementando este conceito, Bobbio vai dizer que hegemonia não é uma norma jurídica, e sim uma influência interestatal que não necessita de uma regulação para que exista e seja aplicada.

Com o desenvolvimento da relação entre os Estados no âmbito internacional, o conceito de hegemonia vai sofrer modificações, não em seu cerne, que trata de exercer um poder de liderança, mas sim, na maneira como essa liderança será alcançada e exercida. Segundo João Gomes Cravinho (2002, p.243), hegemonia é o “conjunto de pressões que define os limites aceitáveis para decisões autônomas e que produz, por conseguinte padrões repetidos de comportamento no plano internacional”. A ideia do autor é que a hegemonia se exerce não só no plano militar e econômico, mas também, em um conjunto de forças que não são mensuráveis como as ideias, as ações e as experiências do ator hegemônico, que produzem uma liderança mas sem desestabilizar o sistema internacional. Como argumenta Triepel (apud BOBBIO ET AL.,1998), é uma espécie de influência particularmente forte, exercida sem o recurso às armas e à força, e por isso alicerçada em um certo grau de legitimidade.

Essa duas idéias de hegemonia podem ser relacionadas, respectivamente, com as duas principais teorias clássicas das relações internacionais, o realismo e o liberalismo. Todavia a hegemonia que impõe sua vontade aos outros Estados, não é o tipo de inserção internacional que se visa neste estudo para o Brasil no século XXI, muito pelo contrário, a idéia é perceber a construção de uma nova dinâmica internacional que privilegie a cooptação de aliados através do multilateralismo e da projeção de ganhos absolutos2. É uma hegemonia baseada em padrões multidimensionais (GOODIN ET AL., 2005), na tentativa de influenciar os parceiros,

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5 sem a utilização coerciva da força militar, e sim, levando em conta fatores econômicos e de soft power, que se pode classificar como a projeção das ideias e cultura de um Estado.

Assim, a perspectiva teórica deste artigo não se propõe a apresentar uma proposta de modificação do status quo da ordem mundial, que vê o mundo como anárquico e onde o objetivo do Estado é lutar pela sua sobrevivência, ou seja, manter o seu poder soberano e sua integridade regional, como defendido pelo realismo (WALTZ, 1979). Contrário a isso, a busca é por uma ordem que se baseia na cooperação e na interdependência (PECEQUILO, 2004). Uma visão neo-institucionalista que acredita que regras, normas e instituições3 são os melhores meios de garantir a segurança e a estabilidade no sistema internacional (KEOHANE; NYE JR., 1989).

No sentido da construção do poder internacional de um Estado através da cooperação e interdependência com outros Estados no espaço internacional, o denominado smart power, vai surgir como uma alternativa que irá mesclar dois tipos de poderes, o chamado hard power com o soft power. Esses dois poderes irão sustentar os recursos de poder do Estado em três categorias4: a) estrutural, b) institucional e, c) situacional (PECEQUILO, 2004). Em conjunto, essas categorias de recurso de poder irão formar o que chamamos de smart power, como pode ser observado pela tabela abaixo:

Classificação dos recursos de poder do Estado

Hard Power Soft Power Smart Power

Estrutural X X

Institucional X X

Situacional X X

Fonte: AYRES PINTO, 2009 O smart power é entendido como a integralidade de poder que abrange as vertentes de poder militar e econômico de um Estado, e vai procurar desenvolver outras áreas, no intuito de complementar as duas primeiras vertentes. O desenvolvimento dessas áreas deve se focar em cinco pontos principais: a) alianças, parcerias e instituições; b) desenvolvimento global; c) diplomacia pública; d) integração econômica; e) inovação e tecnologia (ARMITAGE; NYE JR., 2007, p.5).

Para entendermos o papel da Brasil nos organismos de governança econômica global como uma fonte de recursos de poder internacional, nos é

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6 interessante abordar dois pontos do smart power: 1) alianças, parcerias e instituições e 2) integração econômica.

2.1. Aliança, parcerias e instituições

Essa área está relacionada não somente como uma maneira de interagir na esfera internacional, mas como construir uma nova maneira de responder a desafios globais e modificações do status quo do poder no sistema internacional. Alianças, parcerias e instituições são ações que buscam acabar com o isolamento do Estado, que se propõe a dividir tantos os bônus como os ônus de se agir no espaço internacional.

Podemos dividir esta área na busca de três pontos principais: a) renovar o comprometimento do Estado com as instituições internacionais; b) Revigorar as alianças com tradicionais Estados parceiros e; c) Buscar padronizar as ações do Estado frente ao Direito Internacional. (ARMITAGE; NYE JR., 2007)

Quanto ao comprometimento com as instituições internacionais, é preciso rever o compromisso dos Estados em fortalecer de maneira multilateral organismos como ONU, FMI, BM, OIT, OMC, na busca de que estes organismos sejam capazes de atender a necessidade de todos seus membros, trazendo um benefício coletivo.

Nas alianças, se pode pensar este revigoramento do prisma de reproduzir acordos bilaterais ou mesmo multilaterais que sejam efetivos meios de cooperação e benefícios a todos seus participantes, e também que sejam uma maneira de produzir um bem público global. Não faz sentido para o smart power, produzir um ganho entre um grupo específico de Estados, se a conseqüência desse ganho for um prejuízo na esfera global.

Por último, quando se fala de padronização do Estado frente as suas ações no Direito Internacional, o foco é aprofundar a busca por um interesse coletivo global protegido por acordos onde todos estejam presentes. Ou seja, a ideia não é o Estado só ratificar o acordo internacional que lhe seja benéfico ou menos custoso, mais abrir seu leque de interesse pela norma internacional para o prisma da criação de uma rede de proteção efetiva no Espaço Internacional, que não deixará de ser anárquico e com a soberania do ator estatal, mas que terá regras e limites de ação mais claros e efetivos.

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7 2.2. Integração econômica

Esta área é a mais sensível de todas na estratégia de construção do smart power, isto porque está diretamente ligada a manutenção das diretrizes mais ferozes e prejudiciais dos meios capitalistas de produção e de acumulação, o que por sua vez, ao longo do século XIX e XX na política internacional se mostrou uma maneira eficaz de submeter todos atores a vontade de um Estado hegemônico.

Todavia, a realidade dos finais do século XX e início do XXI, traz para cena um aumento da integração econômica mundial. Isto não significa simplesmente maiores áreas de integração econômica (i.e. MERCOSUL, ASEAN, UE e NAFTA), mas sim uma maior dependência entre os atores ao nível comercial global.

Deste modo, a integração econômica visa produzir um cenário que ao mesmo tempo em que atenda as necessidades comerciais de um Estado, se preocupe com a totalidade de benefícios que possam ser gerados para toda a comunidade internacional, e principalmente, para os países mais pobres do globo.

Medidas como diminuir ou eliminar barreiras aos produtos, principalmente, os dos países mais pobres, reavaliar e diminuir os custos dos trabalhadores afetados pelo processo de globalização, fortalecer de maneira equitativa as instituições financeiras e comerciais internacionais são medidas imprescindíveis para se construir um poder alicerçado em ganhos absolutos.

Uma política global de comércio tida como smart, depende do desenho de uma economia que é suficientemente flexível e competitiva para distribuir benefícios econômicos, enquanto consegue minimizar os custos humanos dos processos de globalização e deslocação econômica. (ARMITAGE; NYE JR., 2007)

Importante nessa área é perceber a diferença dessa estratégia para Estados desenvolvidos e em via de desenvolvimento. Estão ambos em lados opostos da “briga” econômica e comercial global. Todavia, ambos têm que buscar uma nova maneira de se inserir no comércio internacional, visando abrir mercados de maneira que sejam sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico como humano. Manter antigos padrões não mais vai fortalecer as economias fortes, e muito menos levar as médias a um patamar mais alto, simplesmente tais padrões irão somente aumentar o fardo dos países subdesenvolvidos e limitar ainda mais a sua capacidade de crescer e se tornar, de alguma forma, competitivo.

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8 Cabe-nos agora detalhar as ações do Brasil dentro dos organismos de governança econômica global, na procura de compreender se suas ações nestas instituições refletem uma tática5 na busca de conquistar mais poder e influência no espaço internacional através do prisma do smart power.

3. Brasil e sua política externa no século XXI

A política externa do Brasil no século XX teve uma direção contínua e sempre a favor de uma posição mais dependente dos grandes centros hegemônicos mundiais, que na sua maioria ditavam as regras a serem seguidas por todos (i.e. Consenso de Washington).

Todavia, no século XXI, na sua primeira década, o que veremos é uma virada na proposta de papel internacional da política externa brasileira, principalmente no que toca a sua posição em relação às decisões mundiais em matéria de economia e comércio, é neste momento que o Brasil vai começar a desenhar a sua posição de Estado Logístico (Cervo; Bueno, 2011), e tanto o presidente Fernando Henrique (FHC) como Luís Inácio (Lula) serão responsáveis por essa mudança.

A inserção internacional do Brasil vai ser pensada com mais rigor no século XXI, propondo a política externa nacional uma virada nos pressupostos de ação internacional, como afirmam Cervo e Bueno (2011, p. 526)

Lula embarcou nesse trem já posto em movimento6 e avançou pelo

caminho da interdependência real. Deixou para trás mecanismo de inserção dependente para situar o Brasil entre as nações que andam por si à busca de seu destino, tendo, porém, o apoio de seus governos, convertidos em agentes logísticos.

A ideia era desconstruir as assimetrias e desigualdades de poder entre os atores estatais, era o que Dupas (2005) identificou como contrapoder e que tinha o intuito de definir as regras da ordem internacional de maneira a produzir benefícios a todos.

Assim, o Estado logístico seria

[...] aquele Estado que não se reduz a prestar serviço, como fazia a época do desenvolvimento, nem a assistir passivamente às forças do mercado e do poder hegemônico, como se portava à época do neoliberalismo. Logísitco porque recupera o planejamento estratégico do desenvolvimento

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9 e exerce a função de apoio e legitimação das iniciativas de outros atores econômicos e sociais, aos quais repassa responsabilidade e poder.

Assim, como relata Parola (2007), Lula vai trazer na sua política externa um componente de uma nova dinâmica de inserção internacional que tem por intuito redistribuir o poder dentro do sistema e, também, inserir um componente moral a essas ações políticas.

Em seu discurso de posse o chanceler Celso Amorim vai enfatizar as prioridades brasileiras

No Governo Lula, a América do Sul será nossa prioridade [...] Nossa política externa não pode estar confinada a uma única região [...] O Brasil pode e deve contribuir para a construção de uma ordem mundial pacífica e solidária, fundada no Direito e nos princípios do multilateralismo. (Amorim, 2003: s/p).

Iniciava-se uma era onde a participação do Brasil no sistema internacional não se entendia apenas como um meio para conseguir vantagens absolutas para o Estado, mas sim, como uma ferramenta para a construção de um ator influente e autônomo. Como afirma Amorim (2008, p.28) “Temos uma inserção internacional que [...] tem muito a ver com nossa política independente, não-confrontacionista, ao mesmo tempo sem pedir licença para fazer as coisas”.

Na prática essa visão política do governo Lula vai produzir um novo paradigma de ação externa que visa dois pontos: a) multilateralismo de reciprocidade e b) internacionalização econômica (Cervo; Bueno, 2011).

4. Brasil e os organismos de governança econômica global

Visto os pilares da política externa do Brasil na primeira década do século XXI, passamos agora a analisar quais foram as ações reais tomada pelos governantes brasileiros para aplicar a sua percepção de uma nova maneira de inserção internacional.

O presidente FHC, vai ao longo de seu mandato pender para os caminhos propostos pelo neoliberalismo, o que vai ter como conseqüência uma clara dependência do Brasil aos países hegemônicos do sistema internacional. Porém, já no seu segundo mandato, FHC, vai iniciar o caminho para que Lula possa mudar o

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10 foco da política externa brasileira. Além dos problemas sérios trazidos pela abertura econômica neoliberal de FHC, Cervo e Bueno (2011) vão argumentar que este processo trouxe alguns benefícios e irá abrir caminho para que Lula possa redesenhar a estratégia de inserção nacional, e colocar como prioridade a ação independente do Estado brasileiro nas relações internacionais.

A primeira ação de Lula nesse sentido será o posicionamento do Brasil na Conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2003, afirmando que ou os emergentes participam de maneira ativa na feitura das regras de comércio internacionais, ou a elaboração destas regras não iram progredir pela não aprovação dos emergentes (Cervo; Bueno, 2011).

Desde sua origem em 1947, ainda enquanto GATT (General Agreement of Tariffs and Trade), a OMC traz em si um processo decisório mais influenciado pelos países hegemônicos, em particular os EUA (Boas; Mcneill, 2003). O objetivo desta instituição era organizar as negociações comerciais para reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias ao comércio, dentro de um escopo multilateral que é uma característica de sua formação. Todavia, como afirma Sato (2006) a dificuldade de expansão das economias periféricas dentro do sistema comercial internacional era evidente, e relatórios da própria instituição traziam essa questão a luz, alegando um baixo índice de exportações dessas economias apesar dos estímulos recebidos pelas agências de desenvolvimento internacionais.

Outro posicionamento do Brasil diante deste cenário da OMC, foi propor e realizar ainda em 2003, a criação do chamado G20 comercial. Segundo discurso de Celso Amorim na II Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional: Criamos o G20 em Cancún, quando os Estados Unidos e União Europeia tentavam impor um acordo injusto, que deixava virtualmente intocados os subsídios agrícolas e pouca ou nenhuma abertura ofereciam a produtos de interesse dos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que exigiam destes concessões desproporcionais.

O G-20 mudou o padrão das negociações no sistema GATT/ OMC. Graças a um esforço constante de coordenação e mobilização política e à busca permanente de entendimento com outros grupos de países em desenvolvimento – países de menor desenvolvimento relativo, países dependentes de preferências, economias pequenas e vulneráveis, etc. – foi possível alterar o rumo das negociações. (CNPEPI, 2008, p. 25 e 26)

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11 Essas ações para Cervo e Bueno (2011) irão construir o que eles reconhecem como multilateralismo de reciprocidade, que tem como pressupostos:

1) a existência de regras para compor o ordenamento internacional, sem as quais irá prevalecer a disparidade de poder em benefício das grandes potências; 2) a elaboração conjunta dessas regras, de modo a garantir reciprocidade de efeitos para que não realizem interesses de uns em detrimentos de outros. (Idem, 2011, p. 531)

Neste sentido, dentro da OMC, os pressupostos da área denominada “aliança, parcerias e instituições” do smart power, estão sendo diretamente utilizada no fortalecimento de um papel atuante e diferenciado do Brasil dentro do sistema internacional. O Brasil não só se reaproximou e fortaleceu o comprometimento multilateral com a OMC, mas o fez de maneira a projetar ganhos absolutos, e não mais, como sendo somente um participante passivo dos processos decisórios. A conseqüência dessa nova maneira de interação, fica evidente na aproximação com Estados tradicionalmente parceiros, como o caso dos países do G20, outro ponto que o smart power considera relevante para uma nova idéia de inserção internacional.

A proposta de modificar o status quo do sistema de poder e decisão econômico global fica claro nas palavras do ex-ministro Amorim, e expõe a necessidade de dar novas respostas ao constante desafio da subjugação decisória que alguns Estados em desenvolvimento sofrem na sua participação dentro dos organismos internacionais, principalmente os econômicos.

Como é fato esta posição do G20 comercial fez com que as negociações tomassem outro rumo, foi identificado um novo padrão de articulação sul-sul que conseguiu sobrepor-se as antigas negociações bilaterais norte-sul, que repercutiam no processo decisório dentro da OMC através de uma agenda propositiva de ações onde os Estados em desenvolvimento pouco podiam alterar. (NARLIKAR, 2005)

A crítica que podemos fazer ao Brasil no processo da Roda Doha da OMC, é sua aceitação ao chamado “pacote Lamy”7, que propunha uma barganha para as reivindicações do G20. No caso dos interesses brasileiros tal pacote se mostrava interessante, já que estava indo de encontro às reivindicações para o fim do protecionismo agrícola dos EUA e UE, mas em contra partida propunha a abertura do mercado industrial dos países em via de desenvolvimento. Todavia essa era uma

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12 posição exclusiva do Brasil e não agradou aos outros dois grandes países do G20, Argentina e Índia, o que teve como conseqüência um enfraquecimento e desmantelamento do G20, com uma clara alegação de descompromisso do Brasil com seus parceiros do sul. (MELLO, 2011)

Essa posição coloca em cheque toda a ação brasileira na tentativa de construir sua inserção internacional nos pilares do smart power, isto porque demonstra ainda a inconstância na promoção dos ganhos absolutos, e uma incapacidade da política externa brasileira em conseguir com sua ação produzir um bem público global. A questão no smart power, ainda mais se tratando de um país em desenvolvimento como o Brasil, é pensar quais anseios individuais de curto prazo terá o Brasil que abandonar para poder projetar sua inserção e poder de uma maneira alicerçada e constante ao longo prazo.

Em outra esfera econômica mundial a participação brasileira também se mostrou diferenciada, estamos falando do G20 financeiro. Este vai surgir após a eclosão da crise internacional de 2008, e será fruto da ampliação do G8, objetivando a inclusão de economias emergentes, entre elas Brasil e China (MELLO, 2011). A primeira participação brasileira nessa esfera, ainda se dá em 2003. Como país convidado ao Fórum Econômico de Davos, onde acontecia a reunião do G8 (8 maiores economias do mundo) Lula (2003, s/p) pode fazer a seguinte declaração: “Queremos o livre comércio, mas um livre comércio que se caracterize pela reciprocidade”. A reafirmação dessa idéia demonstra a constante virada da política externa do Brasil, e a possível inserção de suas estratégias no conceito de smart power.

Todavia, mesmo com a crise os países mais ricos do G8 não abandonam seu instinto de auto-defesa, e apesar da existência do G20, o G8 se rearticulam em 2010 com o propósito de pensar qual será seu papel no futuro. Mas o diferencial desse fórum econômico neste momento é a insegurança que os bancos centrais dos países desenvolvidos em crise têm da multilateralidade, o que os leva a tomar medidas individuais na busca de sua própria proteção.

Essa posição vai gerar algumas reações, a do Brasil será conforme Cervo e Bueno (2011, p. 535) demonstram: “[...] reforço da coalização ao sul com o fim de

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13 alcançar a reforma do sistema financeiro internacional, do FMI e do Banco Mundial e repasse de dez bilhões de dólares ao FMI para o aumento de suas disponibilidades”. Essa posição vai de encontro a área denominada de integração econômica no smart power, isso porque mais do que incentivar e promover blocos econômicos, está ação almeja ao mesmo tempo que atende as necessidades comerciais dos Estados, produzir benefícios para toda a comunidade internacional, principalmente para os países mais pobres do globo.

Neste sentido, a reação do Brasil pode ser considerada um passo na direção da sua inserção internacional através do smart power, a reforma do sistema financeiro internacional e a colocação do Brasil como país doador de recursos ao FMI ao invés de devedor, reflete uma posição pró-ativa na busca de uma mudança de paradigma nas relações financeiras e comerciais internacionais.

Todavia, apesar do esforço da política externa brasileira visto acima, a crítica que devemos fazer a esse papel do Brasil parte da idéia de que não é possível ignorar que nesse cenário países desenvolvidos e em via de desenvolvimento estão em lados opostos do embate econômico e comercial global. Modificar esse status quo, parte da própria ação de não somente injetar dinheiro no sistema, mas, sobretudo mudar as regras do sistema que anteriormente foram aplicadas de maneira opressora e que resultam em um cenário de completa dependência dos países mais pobres. Em outras palavras, mais do que doações é preciso um trabalho de base para o perdão de dívidas e para reconstrução das políticas comerciais e financeiras dentro do sistema internacional.

Esta ideia se reafirma na argumentação de Mello (2011, p. 25) sobre as responsabilidades que o Brasil assume quando efetiva sua participação nesses fóruns econômicos internacionais:

Em primeiro lugar, caberia buscar garantir que, para os países desenvolvidos, o G20 assumirá características de instância permanente, ainda que informal, ao invés de um mero recurso invocado a posteriori em contexto de crise. Em segundo lugar, também caberia a um país que se percebe como mediador entre desenvolvidos e em desenvolvimento no sistema internacional garantir que os direitos desses últimos estejam adequadamente representados pela participação dos países em desenvolvimento que são membros desse foro. Especialmente no que se refere a grupos informais que não estão ligados a instituições formais, como é o caso do G20, existe o risco, para o Brasil, de que sua

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14 participação acarrete o compromisso com os custos que serão compartilhados na coordenação de políticas sem por isso lograr a capacidade de efetivamente influenciar o processo decisório e sem contar com o amparo jurídico e as salvaguardas vigentes nas instituições formais.

5. Considerações Finais

Tendo em vista o debate traçado neste artigo, podemos constatar que a partir da primeira década do século XXI, a política externa brasileira toma rumos mais independentes e com aspirações de influenciar cada vez mais o sistema internacional e conseguir um papel diferenciado dentro dele.

As ações tanto no G20 comercial como no financeiro são uma clara tentativa de demonstrar um novo foco do Brasil dentro das instituições internacionais de governança econômica. A busca por ganhos absolutos, a aproximação aos países dito do sul e a tentativa de produzir ganhos públicos globais dentro do cenário internacional, é um evidente avanço da política externa brasileira na construção de uma inserção internacional baseada no smart power.

Porém, a dicotomia entre interesse individual do Brasil e a construção de um poder de longo prazo dentro do sistema internacional, leva a que em muitos momentos o Brasil coloque seus interesses pontuais acima de uma estratégia mais alargada de construção de poder e influência no cenário internacional, haja vista o caso do “pacote Lamy”.

Neste sentido, devemos levar em consideração que o caminho para a construção do poder e influência do Brasil no sistema internacional, passa pela assunção das responsabilidades inerentes a um papel de liderança, e isso pode em alguns momentos significar priorizar ganhos futuros em detrimentos a resultados pontuais. A política externa brasileira já iniciou seu processo de transformação para uma posição mais independente, agora os passos seguintes vão na direção de uma maior responsabilização, e por conseguinte, um maior planejamento para que o papel do Brasil dentro dos organismos de governação econômica global reflitam ganhos absolutos, e um real comprometimento na construção de um contrapoder, porém em moldes totalmente diferenciados das atuais forças existentes.

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15 II CNPEPI - Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional (2 : Rio de Janeiro : 2007) : o Brasil no mundo que vem aí. – Brasília : Fundação Alexandre de Gusmão, 2008.

AMORIM, Celso. Discurso proferido pelo Embaixador Celso Amorim por ocasião da Transmissão do Cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores. Disponível em:

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______________. Entrevista concedida aos reporters Beto Almeida, Carlos Setti, Mylton Severiano In: Revista Caros Amigos, nº 143, p. 28-31, 2008.

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16 MELLO, Flávia de Campos. O Brasil e o Multilateralismo contemporâneo. Texto para discussão – IPEA, 2011.

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WALTZ, Kenneth N. Theory of International Politics. Nova Iorque: McGrawhill, 1979.

1Doutoranda em Ciência Política – área de Relações Internacionais na UNICAMP, mestre e graduada

em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra – Portugal. Atualmente professora do curso de Relações Internacionais do IESB-PREVE/Bauru, lecionando as disciplinas de Política Externa Brasileira e Teoria das Relações Internacionais. CV lattes -

http://lattes.cnpq.br/2355082477420964.

2 Consideram-se ganhos absolutos a distribuição equitativa de ganhos no relacionamento entre os

Estados, ou seja, a simetria entre os beneficios gerados pela cooperação. Os ganhos relativos seriam o inverso, ou seja, desproporcionalidade entre esses ganhos, sendo que um Estado ganharia mais com a cooperação do que o outro.

3 Segundo o institucionalismo histórico e seus teóricos, instituições podem ser definidas como: “de

modo global, como procedimentos, protocolos, normas e convenções oficiais e oficiosas” (Hall e Taylor, 2003: 196), ou seja, não são somente regras formais, jurídicas, de controle da estrutura, mas também, convenções de comportamento que moldam a estrutura.

4 A categoria estrutural é referente ao que Keohane (1984) classifica como recursos de poder

tradicionais, que são o território, as forças armadas, a população, e a localização geográfica; já o institucional é a criação de normas e organismos que possam reger a relação entre os Estados de forma cooperativa, e por último, o fator situacional que é a habilidade do Estado em projetar suas ideias e princípios para os outros atores (Pecequillo, 2004).

5 A perspectiva de estratégia e tática é retirada da idéia de Carl Von Clausewitz, para saber mais

consultar sua obra “Da Guerra”, editora Martins Fontes.

6

Aqui os autores fazem alusão a uma virada da política externa brasileira que já foi iniciada por FHC, mas que será alicerçada por Lula.

Referências

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